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Ganapati

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Ecologia - Vegetarianismo - Ética - Espiritualidade

JULHO 2010 Nº10

DUAS COSMOLOGIAS EM CONFLITO. Leonardo Boff

O
prêmio Nobel em economia truição em massa, capazes de
Joseph Stiglitz disse recentemen- eliminar toda vida humana. O
te: “O legado da crise ecônomico- efeito final é o desequilíbrio do
financeira será um grande debate de idéias sistema-Terra que se expressa
sobre o futuro da Terra”. Concordo plena- pelo aquecimento global. Com
mente com ele. Vejo que o grande debate os gases já acumulados, até 2035
será em torno das duas cosmologias pre- fatalmente se chegará a 2 graus
sentes e em conflito no cenário da histó- Celsius, e se nada for feito, se-
ria. gundo certas previsões, serão no
Por cosmologia entendemos a visão do final do século 4 ou 5 graus, o
mundo - cosmovisão - que subjaz às idéias, que tornará a vida, assim como a
às práticas, aos hábitos e aos sonhos de conhecemos hoje, praticamente
uma sociedade. Cada cultura possui sua impossível.
respectiva cosmologia. Por ela se procura A predominância dos interes-
explicar a origem, a evolução e o propósito ses econômicos especialmente espiral de necessidades de mudanças que,
do universo e definir o lugar do ser huma- especulativos, capazes de reduzirem paises não sendo implementadas, nos conduzirão
no dentro dele. à mais brutal miséria e o consumismo tri- fatalmente ao caos coletivo e que assumi-
vializaram nossa percepção do risco sob o das, nos poderão elevar a um patamar mais
qual vivemos e conspiram contra qualquer alto de civilização. É neste momento que a
mudança de rumo. nova cosmologia se revela inspiradora. Ao
Em contraposição, está comparecendo invés de dominar a natureza, nos coloca no
cada vez mais forte, uma cosmologia al- seio dela em profunda sintonia e sinergia.
ternativa e potencialmente salvadora. Ela Ao invés de uma globalização nivelado-
já tem mais de um século de elaboração e ra das diferenças, nos sugere o bioregio-
ganhou sua melhor expressão na Carta da nalismo que valoriza as diferenças. Este
Terra. Deriva-se das ciências do universo, modelo procura construir sociedades au-
da Terra e da vida. Situa nossa realidade tosustentáveis dentro das potencialidades
dentro da cosmogênese, aquele imenso e dos limites das biorregiões, baseadas na
processo de evolução que se iniciou a par- ecologia, na cultura local e na participação
A nossa atual é a cosmologia da con- tir do big bang, há cerca de 13,7 bilhões das populações, respeitando a natureza e
quista, da dominação e da exploração do de anos. O universo está continuamente se buscando o “bem viver” que é a harmonia
mundo em vista do progresso e do cres- expandindo, se auto-organizando e se au- entre todos e com a mãe Terra.
cimento ilimitado. Caracteriza-se por ser tocriando. Seu estado natural é a evolução O que caracteriza esta nova cosmolo-
mecanicista, determinística, atomística e e não a estabilidade, a transformação e a gia é o cuidado no lugar da dominação,
reducionista. Por força desta cosmovisão, adaptabilidade e não a imutabilidade e a o reconhecimento do valor intrínseco de
criaram-se inegáveis benefícios para a vida permanência. Nele tudo é relação em redes cada ser e não sua mera utilização humana,
humana mas também contradições perver- e nada existe fora desta relação. Por isso o respeito por toda a vida e os direitos e a
sas como o fato de que 20% da população todos os seres são interdependentes e co- dignidade da natureza e não sua explora-
mundial controlar e consumir 80% de to- laboram entre si para coevoluirem e garan- ção.
dos os recursos naturais, gerando um fosso tirem o equilíbrio de todos os fatores. Por A força desta cosmologia reside no fato
entre ricos e pobres como jamais havido detrás de todos os seres atua a Energia de de estar mais de acordo com as reais neces-
na história. Metade das grandes florestas fundo que deu origem e anima o universo sidades humanas e com a lógica do próprio
foram destruidas, 65% das terras agricul- e faz surgir emergências novas. A mais es- universo. Se optarmos por ela, criar-se-á a
táveis, perdidas, cerca de 5 mil espécies petacular delas é a Terra viva e nós huma- oportunidade de uma civilização planetária
de seres vivos anualmente desaparecidas nos como a porção consciente e inteligente na qual o cuidado, a cooperação, o amor,
e mais mil agentes químicos sintéticos, a dela e com a missão de cuidá-la. o respeito, a alegria e espiritualidade ga-
maioria tóxicos, lançados no solo, no ar e Vivemos tempos de urgência. O con- nharão centralidade. Será a grande virada
nas águas. Construiram-se armas de des- junto das crises atuais está criando uma salvadora que urgentemente precisamos.
01
A arte de conviver Maria Lúcia Lauria Chiappetta

O
s gestos de gentileza, expressando fraternidade, sempre violência com a fraternidade.
foram e serão um sinal de civilização e aculturação. Dig- A razão de tal comportamento parece residir em causas mais
nificam, portanto, não só aqueles que os recebem, mas, e profundas: o homem não se conhece, não se contesta, não se in-
sobretudo, são uma característica de quem os distingue. daga e, como decorrência, não se revê. Os seus gestos – até os
Ao homem atual, parece obsoleto ou estranha a utilização mais refinados-- são cumpridos ocasionalmente, a partir de um
desta linguagem. Esquecido de uma linha de ação que lhe confira interesse imediato de uma motivação externa fortuita, jamais ad-
respeito, requinte, harmonia, no relacionamento humano, apres- vindos do seu íntimo que o levaria a comunicar-se, com polidez,
sa-se apenas em atingir ilimitados graus de aperfeiçoamento nas com o seu semelhante, o que deveria se constituir ponto de partida
pesquisas científicas, no avanço tecnológico, nas artes, nos em- para qualquer empreendimento, a que se pretenda alcançar. Vivem
preendimentos – alguns, nas relações restritas aos familiares – e apenas em um mundo unidimensional, no dizer de Marcuse.
dispensam de modo sumário, níveis de relativa permuta no campo E os gestos de cortesia, mesmo quando feitos superficialmen-
do comportamento humano em geral que, palidamente, poder-se- te, inserem-se de qualquer forma na vontade de erguer-se vertical-
ia nomear cortesia. Não atentam sequer à interação consciente mente, como um ser racional consciente.
dentro da própria sociedade, onde se encontram inseridos. Vale referir que há neste deserto inóspito da convivência, ver-
O problema atinge proporções tão graves que as pessoas atu- dadeiros oásis: pessoas distintas, amáveis e requintadas que nos
antes – e as mais sensíveis – permanecem no seu “habitat” natural, comovem e surpreendem, porém, como se constituem em uma
a fim de não se sentirem desenraizadas e, muitas vezes, marginali- minoria!
zadas por este processo de desumanização. Na incursão deste pensamento, a arte de conviver é uma forma
E a falta de delicadeza é dispensada a todos: na rua, dentro oportuna e necessária à sociedade atual, em que o desrespeito atin-
de casa, entre amigos, no ambiente de trabalho, enfim em qual- ge a graus imprevisíveis, formando-se uma característica comum
quer lugar em que se impõe a presença de um grupo, exigindo a todas as classes sociais, sem distinção, como se fosse sinal de
o relacionar-se. E esta é a época da comunicação e da interação superioridade ou modernidade, desmerecerem-se os demais.
humanas! Pensemos, reflitamos, se não é de bom alvitre rever as nossas
Para alguns, a cortesia apresenta-se como maneirismo “snob”, atitudes impensadas no trato destas relações de convívio.
sem o menor sentido, a ser exclusivamente expresso em ocasiões Elejamos as palavras mágicas: cortesia, delicadeza!
formais, quando não é possível dispensá-lo. Que nossas consciências atinjam ou pretendam atingir um si-
E alguns são adeptos da rudeza, da agressão ou de uma descon- nal imponderável de Deus dentro de nossos propósitos de vida.
tração excessiva que lhes parecem maneiras mais transparentes de
Maria Lúcia Lauria Chiappetta - pernambucana, nascida na cidade de Reci-
agir, percebendo a gentileza no conviver, apenas como meio de fe. Editou três livros de poesia: “Destinos em Dragões”, “Corcéis da Espreitada
se camuflarem os sentimentos mais negativos. No entanto, entre Noite” e “A Colheita do Silêncio”. Como contista participou de várias antologias.
os escritores, citemos Sartre quando afirma que só se combate a Pertence à geração 65 e é filiada à UBE – Pernambuco.

Mente Criadora Trigueirinho

“A mente humana precisa ser educada, e isso se realiza pela persistência na aspiração a unir-se com o centro da própria cons-
ciência e na intenção de não se deixar conduzir só pelo mecanismo dedutivo intelectual. Uma das funções da mente é a de elevar a
vibração das células cerebrais, o que resulta da convergência dos pensamentos para temas elevados. Tendo cumprido essa função,
deve renunciar ao predomínio sobre a pessoa, a fim de não se tornar obstáculo ao conhecimento intuitivo, que vem de plano de
consciência superior.
A mente, com seu poder de análise e dedução, vê tanto o positivo quanto o negativo, e então julga. Mas é quando enfocamos
os lados mais positivos de alguma pessoa ou dos fatos da vida que somos auxiliados na correta formação da mente. É assim que
aprendemos a transcendê-la rumo a uma nova percepção. É assim que a agudeza e a capacidade crítica se transformam no dom
de captar a Realidade.
O nascimento de uma nova consciência inclui reestruturar a mente. Isso não significa apenas reordená-la, mas sobretudo
transmutá-la, e torna-se possível pela concentração no mundo interior e pelo serenamento do raciocínio.
Para ter paz, a mente precisa reconhecer algo superior que a possa ampliar. Precisa deixar de ser complacente com as ten-
dências que em geral cultiva. Sua capacidade de concentração nasce da renúncia voluntária ao que a atrai e dispersa. É fruto da
vontade, da decisão de manter-se em vibrações superiores, decisão de selecionar a faixa de energias em que a consciência deve
polarizar-se.
Ainda que a mente seja campo de conflito para o homem de hoje, pode transformar-se em campo de serviço. Conforme lei
bem conhecida, “a energia segue o pensamento”. Essa lei contém a semente do processo criador-destruidor no mundo material
para o homem. E no cosmos, para as entidades espirituais.
A mente racional é incapaz de transcender a si mesma. Mas quando tocada por energias maiores, pode com elas co-criar.”

Extraído do boletim Sinais de Figueira, de Trigueirinho. Irdin Editora | www.irdin.org.br | www.vigiliapermanente.org


Palestras do autor poderão ser ouvidas, gratuitamente, no site: www.irdin.org.br

02
Comer carne é cultural Luis Felipe Valle

S
ujeitar os animais a situações incrivelmente horrorosas
usando como justificativas fatores “biológicos”, “evoluti-
vos”, e “nutricionais” é tão válido cientificamente quanto
os argumentos que justificaram por séculos (e ainda persistem
em alguns lugares) a escravidão dos negros, a perseguição aos
judeus, a descriminação das mulheres, a proibição religiosa da
doação de órgãos, medula, transfusão de sangue, métodos con-
traceptivos, etc...
Comer carne é cultural. Dá ao ser humano, que antes era
limitado ao branco, europeu, rico (tudo no masculino), a sen-
sação de controlar as outras espécies que compartilham a vida
neste planeta. A mesma sensação que sustenta os fanatismos re-
ligiosos, a opressão de regimes absolutistas e surtos de histeria
coletiva que acabam em manchetes sangrentas e escandalosas
no nosso dia-a-dia de banalização moral.
O corpo humano foi desenvolvido para alimentar-se de pra-
ticamente tudo que existe no planeta. Isso é adaptação. Signifi-
ca que se um ser humano precisar matar e alimentar-se de outro ciente para alimentar a população humana da América Latina. Os
para sobreviver, será possível. Possível, não necessário. Em certas pastos usados tanto na criação de gado de corte quanto no cultivo
culturas isso é cotidiano. Tem sentido próprio e reconhece que agrícola para alimentá-los seriam mais do que o necessário para
a fisiologia humana é muito mais adaptada a dietas vegetarianas garantir que todo brasileiro tivesse um pedaço considerável de
(faça a comparação entre as mandíbulas, intestinos, PH estomacal, terra para morar – ou continuariam a exercer seu vital papel no
mãos, faro, glândulas digestoras e hábitos sociais de um leão e de equilíbrio ambiental do planeta como florestas tropicais. Da água
um cavalo). doce que se encontra disponível para uso do ser humano no pla-
Comer carne não se limita a comer carne. Seria como concor- neta (menos de 0,03% da água superficial da Terra), 80% é usada
dar com as profecias bíblicas que condenam 90% dos costumes para fins agrícolas. Escovar os dentes com a torneira aberta não é
ocidentais e sair por aí matando em nome de Deus, dizendo que nada, nada mesmo, comparado a comer carne.
não se trata de assassinato, mas de “fé”. Comer carne é cultural. E reflete a cultura de um povo que
Aliás, deixar de comer carne também é cultural. Em grande pensa a curto prazo, usando indiscriminadamente recursos natu-
parte dos lugares onde não existe o hábito de alimentar-se de ani- rais, condenando o futuro e falsificando consciência sustentável,
mais mortos (ou vivos), existe um surpreendente teor de consciên- revelando-se completamente egoísta, alheio às necessidades das
cia ecológica e respeito à vida. Em outros lugares, como é o caso pessoas ao redor.
do Brasil (o maior exportador de carne de todo o mundo), vai ser A violência é cultural. Animais que se alimentam de carne são
difícil alcançar esse nível, mas ele não é necessário, porque a outra violentos, territorialistas, hostis ao convívio próximo de outras
parte de não comer carne trata-se mais de inteligência do que de espécies. Ou dominam ou são dominados. A sobrevivência dos
cultura. animais carnívoros depende disso. A sobrevivência do ser humano
Enquanto ficamos por aí debatendo sobre a reforma agrária, as não!
invasões do MST, o latifundiarismo, a miséria, a fome, a subnutri- Como esperar que um povo compreenda o absurdo de con-
ção, a devastação das florestas, as queimadas, a concentração de denar milhões de vidas inocentes à dor e sofrimento? É cultural.
renda, a capitalização internacional de riquezas e o descaso com o Soa cármico. Em algum lugar deve estar escrito, sob assinatura
meio ambiente, esquecemos de que o consumo de carne está por de forças divinas, que quem não tem dinheiro (e isso inclui ani-
trás disso. mais humanos e não-humanos) nasceu fadado e condenado à gula
A população bovina no Brasil (cerca de 200 milhões) é maior mercenária desse estranho animal que mata e deixa morrer por
que a população humana (cerca de 190 milhões), isso sem contar prazer.
as aves, suínos e caprinos “cultivados” para corte. Os cereais usa-
dos para alimentar este rebanho colossal seria mais do que sufi- Luis Felipe Valle - Colaborador do Instituto Nina Rosa. http://www.institutonina-
rosa.org.br/

03
Junte-se aos bons: Vegetarianos de Hollywood

Casey Affleck é ator, irmão do também maior organização de defesa dos direitos dos animais do
ator Ben Affleck, ficou conhecido por mundo, empresta seu nome ativamente em prol da cam-
atuar nos filmes “Onze Homens e Um panha. Ele narrou o filme “Terráqueos”, um documen-
Segredo”, “Doze Homens e Um Ou- tário estadunidense sobre a absoluta dependência da
tro Segredo”, “Treze Homens e Um humanidade nos animais e a forma cruel como essa de-
Novo Segredo.” pendência é saciada e que a mesma - dependência - deve
“Quando me perguntam o porque de não ser revertida. Em 2005, ele foi premiado com o “Prêmio
comer carne ou qualquer outro produto de Humanitário”, no Festival de San Diego, pelo seu traba-
origem animal,eu digo que não são saudáveis, e são pro- lho e contribuição para “Terráqueos”.
dutos de uma industria desumana e violenta.”
O ator norte-americano Richard
Alicia Silverstone, atriz norte-ameri- Gere, seguidor da religião budista há
cana, dos filmes “As Patricinhas de 35 anos, sempre engajado em causas
Beverly Hills”, “Batman e Robin” , ligadas à paz, aos direitos humanos
hoje é uma das ativista mais dedica- e aos direitos dos animais em todo o
das em defesa dos animais e do meio mundo. Atualmente incentiva a trans-
ambiente. Tornou-se vegan em 1998, forma da cidade em que Buda alcançou
quando participou de uma reunião sobre sua iluminação em uma região totalmente vegetariana .
os direitos dos animais. “Como zeladores do planeta, é nossa responsabilidade li-
“Me tornei vegana por compaixão aos animais.... Come- dar com todas as espécies com carinho, amor e compaixão.
cei a pensar: Por que razão salvo um animal e continuo a As crueldades que os animais sofrem pelas mãos dos ho-
comer outros? Como posso adorar estas criaturas e conti- mens estão além de nossa compreensão. Por favor, ajudem
nuar a comer carne? Entendi que se não estou pronta para a parar com esta loucura.”
comer um cão, não devia comer carne”.
Alyssa Milano, atriz reconhecida por
Natalie Portman, atriz norte-ameri- seu papel na sitcom “Who’s the
cana nascida em Israel, vegetariana Boss?” (1984 – 1992) e nas séries
desde dos oito anos e vegana desde “Charmed” (1998 - 2006) e “Ro-
que leu o livro “Eating Animals” de mantically Challenged” (2010), é
Jonathan Safran Foer. vegetariana e aparece em inúmeras
“Há certas coisas sobre as quais pode- campanhas do PETA em prol do vege-
mos ter opiniões diferentes, mas há outras, tarianismo, com o tema “Let Vegetarianism Grow On
como torturar animais, que simplesmente são erradas” You” (em português, “Deixe o Vegetarianismo Crescer
em Você”), e chegou a ser declarada a vegetariana mais
Constance Marie, atriz americana sexy do mundo.
mais conhecida pelo seu papel Angie
na série “George Lopez”. Jorja Fox, atriz do filme “Amnésia”, é
“Sou vegetariana... Parei de comer car- vegetariana e ativista.
ne há, mais ou menos, seis anos, quando “Investiguem os fatos, a cada ano 27
estava filmando “Selena”. Durante as fil- bilhões de animais são mortos nos
magens, tive que segurar uma galinha por EUA paara serem consumidos. Junte-
cinco horas. Se você a segura e sente seu coraçãozinho se a mim para tentar baixar esse nú-
bater por horas, você não pode mais pensar em comê-la”. mero”

Kim Basinger é vegetariana desde a James Cromwell, ator norte america-


adolescência e ativista ferrenha do no de cinema e televisão indicado ao
PETA (People for the Ethical Treat- Oscar por melhor ator coadjuvante
ment of Animals), entidade proteto- em “Babe - O Porquinho Atrapa-
ra de animais. lhado”, é bastante ativo na defesa
“Se você pudesse ver ou sentir o sofri- de causas liberais ativista, se tornou
mento, você certamente não pensaria duas vegetariano após uma experiência no
vezes. Devolva a vida. Não coma carne.” Texas, e um vegan durante as gravações de “Babe”.
Frequentemente, ele se engaja em campanhas contra a
Joaquin Phoenix ator de sucessos crueldade com animais, principalmente sobre o trata-
como “Gladiador” e “Johnny e mento dos porcos. “ Os animais merecem respeito, consi-
June”, vegetariano desde os três deração e justiça- não terror, tortura e morte violenta. Eu
anos de idade. Membro da PETA, acredito em dar o primeiro passo em favor deles cada vez
que me sento para uma refeição.”

04
Apenas uma cesta básicaConceição Cavalcanti
Conceição Cavalcanti

U
ma cena digna de filme de terror e barbárie aconteceu no alemão, em suas reflexões sobre a pedagogia afirmava que “Quem
município de Igrejinha no estado do Rio Grande do Sul. não tem cultura de nenhuma espécie é um bruto; quem não tem
Um agricultor espancou a pauladas um cachorro e com o disciplina ou educação é um selvagem”. O que nos diferencia dos
animal ainda vivo fez uma fogueira e o jogou. Infelizmente, não animais selvagens? Temos a linguagem, o raciocínio, a capacida-
estamos falando de fogueiras que alegram nossas noites de São de de refletir sobre nós mesmos, de criar, recriar, de pensar e re-
João. Este acontecimento bizarro praticado por um senhor de 73 pensar o mundo, sua relação conosco, nossa condição humana e o
anos ocorreu diante de seu neto de 14 anos. Como educar para um poder de transformar. Prover um povo de educação e cultura deve
mundo melhor quando crianças ou jovens em pleno séc. XXI são ser objetivo de toda nação que deseja atingir seu desenvolvimento
testemunhas de atos como estes? A situação piora quando temos a pleno. O homem é um animal que necessita ampliar-se, desenvol-
impunidade como aliada. A sanção aplicada será apenas uma cesta ver suas competências e habilidades, seu intelecto e seu espírito. É
básica. Esta é a punição para tamanha violência. Muitos poderão através da educação e da cultura que o mundo se torna civilizado.
até dizer: “foi só um cachorro, a vida humana é violada todos os O pensador Edgar Morin diz: “A cultura é constituída pelo conjun-
dias e nada se faz”. Você concorda com esta afirmação? De fato, to dos saberes, fazeres, normas, proibições, estratégias, crenças,
a vida humana tem sido banalizada e o horror transformado em ideias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se
espetáculo. Mas, ter posições simplistas e fatalistas como estas... reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade
é perigoso. A questão em jogo vai mais além. Se uma ação insana e mantém a complexidade psicológica e social.” Refletir nestas
e perversa é amenizada e justificada dessa forma, corremos um palavras pode ajudar a pensar sobre o que nossa cultura atual tem
sério risco de matarmos de vez o humano que existe em cada um. oferecido e como tem colaborado para o cultivo de gerações ins-
A aceitação de fatos dessa ordem em seres considerados “inferio- truídas e capazes de se organizarem em sociedades justas e felizes.
res” só facilitará o caminho para uma barbárie sem precedentes. O que dizer da cultura atual? Das leis que não se cumprem, das
Na história da humanidade temos exemplos de genocídios, massa- regras que não se seguem, do vandalismo que se multiplica, da im-
cres, violações dos direitos humanos, torturas e promoção da mi- punidade que liberta quem oprime e aprisiona o inocente? Como
séria em favor de uma minoria ou de fanáticos movidos pelo poder numa cena surrealista a cesta básica – a pena aplicada para muitos
e por ideais nem sempre elevados. A cultura e a educação possuem casos - pode estar recheada de pedaços humanos.
um papel fundamental na lapidação do ser humano. Kant, filósofo Colaboradora Ganapati: conceicaocavalcantii@gmail.com

Código de Moral e Ética estabelecido pelo


sistema do Yoga - Sutras de Patanjali Jeanine Japiassu

“ A Ciência do Yoga é a ciência do autoconhecimento, aplicada Patãnjali e considerados básicos para a prática das outras seis
ao mundo subjetivo, para libertar progressivamente a nossa pró- restantes.
pria consciência.”(I. K. Taimni)”. O propósito comum de Yama (os cinco mandamentos) e Nya-
Os Yoga – Sutras de Patãnjali é um tratado com 196 aforis- ma (as cinco regras) parece ser a transmutação da natureza infe-
mos ou sutras, que representam a síntese da filosofia e método do rior para as necessárias mudanças no caráter do praticante.
Yoga, que significa União – União consciente com a Alma Divina, Yama ou Auto-Restrições, representam preceitos ou discipli-
através da liberação consciente das prisões da ignorância e das ilu- na externa, morais e proibitivas, enunciadas a seguir: abstenção
sões, o que favorece o desenvolvimento dos verdadeiros poderes de violência ou inofensividade (Ahimsa), abstenção de falsidade
da alma (Satya), abstenção de roubo (Asteya), abster-se da incontinência
O Sistema de Yoga baseado nos Yoga -Sutras de Patãnjali (Brahmacharya) e abster-se da cobiça, avareza ou a não-posses-
(presume-se que 600 a.C.) possui oito partes, que podem ser con- sividade (Aparigraha).
sideradas independentes, ou como etapas que acontecem numa Nyama ou Observâncias, representam regras disciplinares e
sucessão natural. São elas: Yama ou Auto-Restrições, Nyama ou construtivas, apresentadas a seguir: pureza ou purificação inter-
Observâncias, Postura, Prãnãyãma ou controle consciente sobre na ou externa; contentamento ou a capacidade de manter-se em
as correntes prânicas do duplo etérico, Pratyãhãra ou abstração, equilíbrio, “aconteça o que acontecer”; austeridade ou aspiração
Dhãranã ou concentração, Dhyãna ou contemplação, Samãdhi ardente; auto–estudo e auto-entrega ou submissão a Ishivara, ou
ou êxtase. Deus.
Vamos tratar aqui das duas primeiras partes, Auto-Restrições Continuação da matéria na próxima edição.
ou Yama, e Observâncias ou Nyama, que representam o Código Colaboradora Ganapati: jeaninejapiassu@uol.com.br
de Moral e Ética estabelecido pelo Sistema do Yoga-Sutras de Fontes pesquisadas: I. K. Taimni – A Ciência do Yoga; Rohit Mehta – Yoga a Arte
da Integração;Alice A. Bailey – A Luz da Alma.

Deixe Acumular Se você usa máquina de lavar louça ou roupas, acione-as apenas quando tiver uma carga completa.
Encontre uma forma prática de acumular as roupas ou as louças e economize assim energia, água e detergentes.

05
11 ações (in)significantes que podem
salvar o Planeta.

N
as questões amplas das mudanças climáticas ao nível 6. Separar o Lixo.
global, degradação dos ecossistemas em escala plane- Todas as cidades deveriam ter coleta seletiva de lixo, porém, uma
tária e poluição, as pessoas tendem a permanecer em minoria conta com este serviço. Naquelas cidades que recolhem o
atitude passiva julgando que primeiro os grandes devam dar os lixo reciclável, poucas pessoas dispõem um pouco do seu tempo
primeiros passos. Enquanto todos permanecem neste imobilismo para separá-lo. Infelizmente, enquanto cada um não for respon-
contemplativo bovino, o aquecimento global se apresenta como sabilizado criminalmente pelo seu próprio lixo, dependeremos de
uma realidade catastrófica demais para ser ignorada. iniciativas solidárias das pessoas.
Contudo, há muita coisa a ser feita por nós, as pessoas co-
muns, mais precisamente pequenas ações que sozinhas parecem 7. Racionalização dos deslocamentos e viagens.
representar uma gota no oceano. Assim, mesmo que as ínfimas Se pararmos para pensar, podemos chegar à conclusão de que
ações aqui listadas produzam pouco estardalhaço, elas represen- muitas saídas de carros e viagens poderiam ser minimizadas se
tam uma mudança de atitude com o planeta e isto é o que faz a houvesse um planejamento decente. Portanto, evite, ou diminua
diferença. as suas viagens em meios de transporte terrestre ou de avião e o
planeta agradece.
1. Usar as próprias sacolas retornáveis no supermercado. Não
se fie nas chamadas sacolas biodegradáveis, pois a filosofia 8. Trocar com menos frequência as utilidades domésticas e
que as anima fere o princípio da redução de consumo. eletro-eletrônicos.
Por que as pessoas conscientes ecologicamente devem pagar pe- A troca ávida de roupas, computadores, celulares, móveis e outras
los alienados que continuam optando pelas sacolas descartáveis? bugigangas, representa mais um dente na cadeia de indústrias de-
Não seria a hora dos políticos em Brasília acordarem e instituírem votadas ao consumismo compulsivo.
a Lei da Sacola Descartável Paga?
9. Desligar lâmpadas e eletrodomésticos quando não estão
2. Não deixar a torneira aberta. sendo usados.
Por incrível que pareça, muita gente ainda escova os dentes, lava O simples ato de, ao abandonar um recinto, não deixar lâmpadas
a louça e toma banho com a torneira aberta o tempo todo, sem e aparelhos ligados, normalmente é subestimado em seu poder de
falar nas donas-de-casa que varrem as calçadas com água... combater as mudanças climáticas. No entanto, quem consegue
apagar uma simples lâmpada em nome da causa planetária, já
3. Parar de fumar. começou a fazer a diferença.
O vício do cigarro é uma ação categoricamente antiecológica, já
que empesta o ar das outras pessoas, suja a cidade com os rejeitos 10. Optar por ter menor número de filhos, ou não ter filhos.
não biodegradáveis das bitucas e onera o sistema de saúde. Uma das grandes pressões sobre os ecossistemas é exercida pelo
crescimento populacional desordenado, que exige cada vez mais
4. Ir a pé, de bicicleta ou de transporte público. espaços para se proliferar. Tenha certeza de que o mundo que
Quem se dispõe a renunciar de vez em quando ao comodismo você esta deixando de herança para os seus filhos será muito pior
do transporte individual, descobre em pouco tempo que a saúde do que o seu.
agradece.
11. Diminuir o consumo de bens supérfluos.
5. Diminuir o consumo de carne. Todas as leis econômicas atuais foram constituídas levando em
Mesmo que você não se converta ao vegetarianismo, pode con- conta um cenário de recursos naturais infinitos. Por isso, os gesto-
tribuir para o planeta se engajando na campanha da Segunda sem res públicos continuam falando em manter “a economia aquecida”
Carne. Esta pequena atitude já faz a diferença, pois as criações e estimulando o hiperconsumo. Porém, temos que desenvolver a
de animais para abate são uma das maiores contribuidoras para o consciência de que não há solução mágica para o aquecimento
aquecimento global. global, pois só a redução das emissões dos gases de efeito estufa
poderá provocar efeitos benéficos a longo prazo, mas isto impli-
cará necessariamente na redução do consumo mundial de bens.

Momento de Reflexão

“ Todos pensam em deixar um planeta melhor para


nossos filhos... Quando é que pensarão em deixar filhos
melhores para o nosso planeta? ”

06
Tratados como “animais” ?Sônia T. Felipe

H
umanos são libertados de um campo de trabalho forçado, seu próprio modo.
uma colheita de erva-mate no oeste catarinense, numa Uma das formas mais primárias de manter-se saudável é a
ação do ministério do trabalho. Os cortadores de erva- higiene. Cada animal, seguindo os padrões de sua própria espé-
mate haviam sido alojados num chiqueiro, onde não havia ins- cie, mantém uma atividade de auto-higienização diária, sem a
talação alguma que pudesse oferecer a eles conforto e bem-estar qual seu corpo seria tomado por todo tipo de parasita ou bactéria.
após um dia de trabalho. Eles não tinham carteira de trabalho, Ser animal significa ter a responsabilidade de limpar-se a todo
eram escravizados. Não tinham qualquer autonomia ou proteção momento. Cada espécie tem suas próprias estratégias de auto-
para fazer com que as leis que regem os atos de prestação e con- prestação desse serviço. Se tiramos de um animal a liberdade de
tratação de serviços ou de trabalho fossem respeitadas. prover a higiene de seu corpo a seu modo, tiramos dele parte da
A imprensa noticiou, com fotos, as condições do “alojamen- autonomia prática relativa aos cuidados de si. Quando privamos
to” no qual se instalavam para cozinhar e dormir, nos seguintes um animal disso, “deixamos de tratá-lo como a um animal”. Era
termos: “tratados como animais”. Para um leitor desavisado, a esse o ponto ao qual eu queria chegar.
tradução do que foi feito a esses trabalhadores parece justa: “tra- Ao indignar-se com os maus-tratos sofridos pelos trabalha-
tados como animais”. O que isso significa? Que o tratamento de dores da empresa de produção de erva-mate, e ao traduzir a in-
ser jogado, à noite e no horário de cozinhar a comida, num chi- justiça praticada contra eles, definindo-a como tratamento que se
queiro, rebaixa os humanos, porque somente com animais é que dispensa a animais, a imprensa erra, ao passar ao leitor a ideia de
se pode fazer isso? Se alguém concluir pelo sim, está raciocinan- que animais, seja lá de quais espécies forem, podem ser aloja-
do sobre falsas premissas. dos em chiqueiros, sem que isso cause indignação, como se fosse
Primeiro, é preciso que se diga que os lugares nos quais os confortável para os animais serem forçados a viver no mesmo
animais são confinados pela indústria da carne, laticínios e ovos lugar onde defecam, a comer no mesmo ambiente onde defecam,
não são dignos dos “animais”. Explico. Os animais são um tipo a dormir no mesmo ambiente onde defecam, a descansar no mes-
de ser que, ao nascerem, têm o suprimento cortado. Nascer, por- mo ambiente onde defecam. O chiqueiro é a forma mais brutal de
tanto, representa, para todas as espécies animais, uma ruptura do- violência contra a mente dos porcos, porque eles, naturalmente,
lorosa. Ela tem dois tons: por um lado, a dor de não ser mais nu- não comem no mesmo lugar onde defecam.
trido e higienizado naturalmente pelo ambiente placentário. Por Tratar qualquer animal, não humano ou humano, como se
outro lado, a libertação que o rompimento do fornecimento de nu- “fosse um animal”, tirando dele tudo o que é necessário para que
trientes representa, que constitui a base sobre a qual cada animal sua vida alcance o nível de bem-estar e do estar bem nela que sua
começa a formar seu espírito. Esse espírito ou mente responde espécie possibilita, é algo indigno do animal. Quem o faz tira de
agora, após o nascimento, pelo aprendizado do autoprovimento e si a dignidade de ser aquele animal que entende o valor da liber-
da higiene específica, sem a qual não há saúde nem longevidade. dade física para prover-se a si e aos seus de modo limpo, salutar
Enjaular, acorrentar, cercar um animal, não importa a espécie e prazeroso. Somos todos animais. E ninguém merece ser tratado
à qual ele pertença, representa, para ele, o pior tormento. Sem de modo a que essa condição, a de termos um corpo do qual te-
a liberdade de buscar com seu corpo e no seu próprio ritmo os mos que cuidar com alegria e gratidão, pois é ele que permite que
meios dos quais seu organismo depende para manter-se saudável, nos sintamos gratos por estarmos vivos, seja justamente a fonte
o animal fica privado da autonomia prática, justamente aquela de toda dor e sofrimento. Nem os porcos, galinhas, vacas, bezer-
que lhe dá chance de formar a mente que acompanhará a manu- ros, nem os trabalhadores braçais merecem ser tratados como se
tenção de seu corpo até o momento da morte. Mas, para poder seu corpo nada representasse para eles.
prover-se livremente, é preciso que o animal possa viver no am- Os escravizados pela ervateira não foram tratados como ani-
biente propício à sua espécie. mais. Animais precisam de liberdade para prover-se e cuidar de
Para poder ter saúde e alegria de viver, o animal precisa ter si. Eles sequer foram tratados como máquinas cortadeiras de
os meios para prover a limpeza diária do seu corpo. O corpo é a erva-mate, porque estas, com certeza, ao final da jornada são hi-
ponte que liga o ser vivo ao ambiente, recebendo deste a matéria gienizadas e mantidas, alojadas contra intempéries, têm o óleo
alimentar da qual se nutre, e o religa a esse mesmo ambiente, trocado, as engrenagens lubrificadas. Eles foram tratados como
quando excreta os resíduos após o aproveitamento. Se o que entra coisas desprezíveis, descartáveis quando findasse a colheita da
deve ser livre de contaminação, para que não se perca a saúde, o erva-mate. Nem os humanos, nem animais de qualquer outra es-
lugar onde se deposita a matéria excretada não pode ser o mesmo pécie merecem ser considerados apenas em sua materialidade,
no qual se introduz a matéria alimentar. Se não houvesse distinção como se fossem meros vivos-vazios, para uso e descarte alheio.
necessária, nosso tubo digestivo teria apenas uma das duas aber-
turas. Temos duas aberturas, e um espaço razoável separando-as, Sônia T. Felipe - é��������������������������������������������������������������
doutora em Teoria Política e Filosofia Moral, com pós-douto-
justamente para que não nos confundamos. Isso não é privilégio rado em Bioética-Ética Animal, co-fundadora do Núcleo de Estudos Interdiscipli-
do corpo de um humano. Somos todos animais. nares sobre a Violência, ex-voluntária do Centro de Direitos Humanos da Grande
A produção de animais em escala industrial se faz levantando- Florianópolis, co-autora de “A violência das mortes por decreto” (Edufsc), “O
corpo violentado” (Edufsc), “Justiça como Eqüidade” (Insular) e “Por uma
se paredes ou instalando-se cercados, baias, currais, chiqueiros, questão de princípios” (Boiteux), “Ética e experimentação animal: argumentos
gaiolas, nos quais centenas, milhares de animais são colocados abolicionistas” (Edufsc), colaboradora nas coletâneas, “O utilitarismo em foco”
juntos, porque mantê-los dispersos encareceria o preço do pro- (Edufsc), “Éticas e políticas ambientais (Univ.Lisboa), “Filosofia e Direitos Hu-
duto final ao qual sua vida foi destinada. Ao se proceder desse manos” (Edufce), “Tendências da Ética Contemporânea” (Vozes), “Instrumento
modo, tira-se do animal o ambiente natural no qual seu corpo e Animal” (Canal 6). É professora e pesquisadora dos Programas de graduação e
pós-graduação em Filosofia, e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Huma-
sua mente poderiam desenvolver-se e viver bem, cada espécie a nas, da UFSC. Fonte: ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais.

07
Olhar Literário

O HOMEM HUMANO
Adélia Prado

Se não fosse a esperança de que me aguardas


com a mesa posta
o que seria de mim eu não sei.

Sem o Teu Nome


a claridade do mundo não me hospeda,
é crua luz crestante sobre ais.

Eu necessito por detrás do sol


FESTA DOS DEUSES do calor que não se põe e tem gerado meus sonhos,
Maria Lúcia Lauria Chiappetta na mais fechada noite, fulgurante lâmpadas.

Revesti-me da menina Porque acima e abaixo e ao redor do que existe permaneces,


com sementes de ousadia eu repouso meu rosto nesta areia
e deixei campos em vãs promessas. contemplando as formigas, envelhecendo em paz
como envelhece o que é de amoroso dono.
Revesti-me da moça inquieta
indecisa, a percorrer vias O mar é tão pequenino diante do que eu choraria
e te festejei, príncipe, se não fosses meu Pai.
amordacei dúvidas Ó Deus, ainda assim não é sem temor que Te amo,
e, ao amanhecer, evoquei nem sem medo.
que me envolvesse
no véu dos teus consolos. Fonte: In: Adélia PRADO. Terra de Santa Cruz. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986, p. 77.

Surpreendi-me mulher,
mas percebi, por estranha solitude,
que me deste um acolher de corpo,
Você sabia?
a alma sedenta permaneceu. - Por cada tonelada de vidro reciclado, poupa-se em média, mais de uma tonelada
de recursos (603 Kg de areia, 196 Kg de carbonato de sódio, 196 Kg de calcário e
Gritei na madureza dos anos 68 Kg de feldspato). Além disso, por cada tonelada de vidro novo produzido, são
que só e apenas o teu corpo tépido, gerados 12,6 Kg de poluição atmosférica, pelo que, o vidro reciclado reduz em 15 a
escudando o meu, 20% essa poluição.
e faríamos a festa dos deuses
- Estima-se que em cada ano se extinguem de 17000 a 25000 espécies de seres vivos
mas esta união que soou estranha, em todo o Mundo. Só na Europa há cerca de 1500 plantas em risco de extinção ou
acordou em ti desejos de felino, já extintas.
a buscar-me fêmea enfeitiçada.
- Cerca de 98% da superfície da Terra é coberta de água, mas apenas 2,5% é água
doce e só menos de 1% está disponível ao ser humano.
Tal pássaro ferido, aqui estou
porque, o de que necessitava - Enquanto um americano gasta cerca de 600 litros de água por dia, em certos países
era o calor da tua alma única de África cada indivíduo só tem acesso a 10 litros diários.
a ultrapassar o ressoar da madrugada.

08
Vegetarianismo contra o
aquecimento global Paula Schuwenck

A
tualmente muitas pessoas falam sobre aquecimento glo- um dos causadores mais significativos dos problemas ambientais
bal. Infelizmente nem sempre abordado pelos meios de mais sérios da atualidade”. E não para por aí. O relatório também
comunicação como deveria. Porém, serei um tanto oti- prova que 64% do total de amônia, principal causadora de chuvas
mista em dizer que ao menos vem sendo muito mais debatido e ácidas, também vêm da pecuária e prejudica, entre outros, os oce-
que mais pessoas buscam saber o que podem fazer para reduzirem anos – estes que também possuem papel fundamental para a saúde
seu impacto. Podemos afirmar que, ao adotar e praticar a dieta ve- do planeta e estão em processo de degradação pela irresponsabili-
getariana, você está colaborando muito. Não é o suficiente. Todos dade humana. “Os oceanos absorveram 48% do C02 emitido por
devem estar atentos e pesquisar para, cada vez mais, praticar ações nós para a atmosfera nos últimos 200 anos”, afirma Christopher
por uma vida sustentável e cautelosa a fim de minimizar seus efei- Sabino, do National Oceanic Atmospheric Administration, autor
tos maléficos ao clima, mas o vegetarianismo é uma imensa co- de um artigo sobre o tema publicado no jornal Science. Vege-
laboração pela ótica do consumo responsável, ético e consciente, tarianos também colaboram imensamente para o clima por não
em diversos aspectos. alimentarem a indústria pesqueira. Atualmente, 75% dos peixes
comercializados vêm da pesca predatória, ameaçando a existência
de várias espécies como atum e linguado. Os corais estão se dete-
riorando pela acidez das águas e, como não poderia ser diferente,
pela pesca – especialmente a realizada em águas profundas, a qual
chega a destruir corais de centenas de anos. Para que a recupera-
ção das vidas marinhas fosse viável, as águas precisariam estar
limpas, o que está cada vez mais distante da realidade. Novamente
a dieta vegetariana ganha força, já que uma das grandes causado-
ras da poluição das águas é a pecuária e, com grande eficiência, a
criação de porcos.
Dados da Sociedade Vegetariana Brasileira mostram que uma
criação média de porcos produz a mesma quantidade de excre-
mentos quanto uma cidade de 12 mil habitantes. Até reservas sub-
terrâneas de água são contaminadas, como o aqüífero Guarani.
Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina realiza-
ram um estudo em 2004 e descobriram que o risco de contamina-
Sabemos, com comprovação científica pelo IPCC (Painel In- ção das águas, vindo do depósito de fezes e urinas da suinocultura,
tergovernamental para Mudanças Climáticas), que o aquecimento é extremamente preocupante.
global é a conseqüência do uso de recursos naturais de forma exa- O último relatório do IPCC trouxe diversas previsões assusta-
gerada e irresponsável – os gases que prejudicam nosso clima e doras para nosso planeta – como fome, falta de água, inundações
potencializam o efeito estufa, ocasionando o aquecimento exage- e extinções. E, cabe enfatizar, previsões essas para todas as espé-
rado da Terra, são provenientes das utilizações de bens materiais cies.
altamente poluidores e hábitos errôneos, inclusive alimentares, Contudo, é momento de nos enxergamos por outra ótica, dei-
arraigados ao cotidiano dos seres humanos. xarmos de inferiorizar os outros animais e de supervalorizar o ser
No Brasil, a prática que mais libera dióxido de carbono (CO2) humano.Com bases científicas a favor do planeta, é hora de divul-
– um dos piores gases - é o desmatamento na Amazônia. E por que garmos os benefícios do vegetarianismo como nunca!
desmatam? Para plantar soja e outros grãos, a maior parte desti-
nada à ração animal e não à alimentação humana como muitos
pensam, para extrair madeira - ilegal em grande quantidade, para
carvão e, principalmente, para dar espaço aos bois - a perversa
e cruel pecuária. Segundo Gilney Vianna, secretário de políticas
para o desenvolvimento sustentável do Ministério do Meio Am-
biente, “75% das áreas desmatadas na Amazônia são ocupadas
pela pecuária”, onde vivem torturados e infelizes 70 milhões de
bois.
Além de acarretar problemas com desmatamento, a pecuária
também produz, por meio do processo digestivo dos animais e
seus dejetos, outro gás altamente perigoso e danoso ao clima, o
metano. Cerca de 35% a 40% vêm da pecuária bovina. Sendo o
metano 21 vezes mais prejudicial que o CO2.Estudo realizado pela
ONU - FAO (Organização das Nações Unidas para a agricultura
e alimentação), diz que o setor pecuário é pior que os transportes
para o clima, já que o CO2 liberado na atmosfera é ainda superior
ao emitido por carros. Além do dióxido nitroso, que possui poder Paula Schuwenck - redatora publicitária, vegana e mãe do Pedro. Sonha em unir
aquecedor 296 vezes maior que o CO2. Henning Steinfeld, um dos sua profissão aos seus ideais de vida, atuar por um mundo melhor, disseminar o
autores deste estudo, o concluiu da seguinte forma: “A pecuária é veganismo e os direitos dos animais. - ANDA.
paulaschuwenck@anda.jor.br

09
Do consumo crítico à crítica
dos nossos lixos. Marcelo Barros

P
oderosos de Brasília descobrem que o lixo de suas casas eles e se tornam lixo.
e escritórios não é apenas objeto de interesse por parte de A ONU tem mediado acordos entre nações ricas do Norte e
gente pobre que vive da reciclagem. Em alguns casos, re- países pobres da África e da América Latina que ganham dinheiro
ciclam-se não apenas papéis e metais, mas histórias e transações, para acolher navios cheios de lixo químico e quinquilharias do
jogadas no lixo, para não ser recordadas. progresso que países da Europa não querem mais ter em seus ter-
Enquanto o Congresso brasileiro revê documentos mal expli- ritórios. Alguns destes produtos se reciclam, como pneus velhos.
cados e trazidos à tona contra o seu próprio presidente, toda a Outros simplesmente se enterram, como se a Terra fosse uma
sociedade passa a se preocupar mais com o lixo que produz. Nas imensa lixeira. Houve até quem sugerisse fazer depósitos de lixo
cidades maiores, os resíduos sólidos da sociedade se constituem em naves espaciais jogadas como lixeiras no espaço sideral.
como uma das mais rentáveis fontes de lucro para empresas que os A parte mais sadia da humanidade sabe que este problema só se
exploram. Milhares de pessoas empobrecidas, que antes viviam, resolverá se for enfrentado a partir de suas raízes mais profundas.
de forma desorganizada, nos lixões da vida, agora, ou se organi- Desde a conferência internacional sobre o ambiente em Esto-
zam em cooperativas de reciclagem, ou são excluídos até do lixão colmo (1972) e, sucessivamente, no Rio de Janeiro (1992) e Nai-
que lhes restava para sobreviver. róbi (2002), a ONU vem insistindo que, para garantir o futuro da
Para quem visita, na África, cidades como Nairóbi (Quênia), vida no planeta Terra, os países ricos têm de rever seu estilo de
o mais espantoso é ver a experiência dos mukuru em imensas li- vida e transformar seus hábitos de consumo, assim como toda a
xeiras públicas como a favela de Korogocho onde moram 120 mil humanidade é chamada a viver uma relação de maior justiça e
habitantes abandonados à própria sorte em uma área de 2 km2 de amor com a Terra, os animais e toda a natureza. Uma pesquisa da
lixão. São milhares de crianças, mulheres e homens adultos que Universidade de British Columbia, no Canadá, revelou que, para
recolhem de tudo e reciclam qualquer coisa que tenham em mãos. garantir seu modo de viver em um planeta habitável, os cidadãos
Formam uma cooperativa dos EUA precisariam ter
na qual tudo se recicla, um território quatro vezes
quase como um milagre maior do que têm. Con-
de criatividade humana forme este estudo, pu-
e capacidade de resistên- blicado noLiving Planet
cia. No Brasil, os cata- Report, seriam necessá-
dores de materiais reci- rios três planetas e meio
cláveis se organizam em para sobreviver ao atual
cooperativas e formam modelo sócio-econômico
um grande movimento vigente e o lixo que ele
nacional. acarreta.
De qualquer forma, À medida que tais
a crise ecológica que o informações são veicula-
mundo enfrenta veio re- das e as pessoas vão per-
velar um problema mais cebendo as conseqüên-
profundo que não depen- cias trágicas e já vigentes
de apenas da organização do aquecimento global,
de coleta e reciclagem conseqüência do nosso
dos resíduos sólidos que modelo de sociedade,
a sociedade joga fora. uma consciência nova
Para o futuro, não basta apenas separar os diversos materiais do se espalha pelo mundo todo. O economista francês Serge Latou-
lixo e reciclá-lo, se se continua a consumir descontroladamente che propõe à ONU um método que corrija as distorções do atual
todo tipo de bugigangas para depois de descartar, de alguma for- modelo econômico. Trata-se do caminho dos 6 R: re-avaliar, re-
ma, reaproveitar. estruturar, re-distribuir, reduzir, re-utilizar e reciclar. Alguns des-
Lixo é resultado de um modelo de sociedade. Somente os se- tes itens dizem respeito ao modelo social e econômico, enquanto
res humanos produzem lixo, no sentido próprio do termo, isto é, outros se referem mais diretamente ao tratamento dos objetos de
resíduos sólidos que não são reciclados pela natureza, como ocor- consumo.
re com os dejetos animais e as folhas secas que apodrecem para Nos mais diversos países, grupos e organizações sociais or-
tornar a terra mais fecunda e a vida renovada. Só a sociedade dita ganizam um amplo movimento pelo consumo crítico e por um
moderna produz um tipo de lixo que não se reincorpora no ciclo modelo novo de economia alternativa, solidária e eticamente res-
da vida. Mesmo as comunidades tradicionais que já lidavam com ponsável.
objetos de consumo e artefatos não facilmente degradáveis não Na Europa, há cidades, como Treviso e Pádua, na Itália, cujas
poluíam a terra com seus resíduos. prefeituras afirmam que de 2005 a 2007, este problema foi, de
O lixo começou a gerar problema quando a sociedade começou tal forma, trabalhado com a população local, que a produção de
a produzir o plástico, produtos eletrônicos e seus derivados, como lixo diário diminuiu em 30%. São cidades que fazem a coleta de
pilhas e baterias. Comumente, menos de um terço da humanidade porta em porta. As famílias ganham redução de impostos à medida
compra esses produtos e dois terços os recebem em herança quan- que conseguem diminuir a sua cota de lixo cotidiano. Entretanto,
do não prestam mais. Os proprietários não sabem o que fazer com novamente, não se diminui o lixo sem rever as compras e avaliar

10
as necessidades comuns de consumo. Desde algum tempo, na Es-
panha, Itália e outros países, o supermercados deixaram de forne-
cer sacos plásticos. Ou o cliente traz de casa cesta ou sacolas, ou O Jornal Também Canta
cada sacola de plástico que precisar, custa na caixa um euro (2, 66
reais). Isso evidentemente reduz substancialmente o plástico que
cada dia vai para o lixo e contribui sim com a ecologia.
Grupos mais conscientes da opressão que vigora no mundo re- Se eu quiser falar com Deus
cordam que tênis de tal marca são fabricados com mão de obra in- Gilberto Gil
fantil semi-escravizada de países do sudeste asiático e comprá-los
Se eu quiser falar com Deus / Tenho que ficar a sós
é colaborar para que esse sistema de opressão continue. Produtos
Tenho que apagar a luz / Tenho que calar a voz
de laticínio europeus são responsáveis pela falência dos produtos
Tenho que encontrar a paz / Tenho que folgar os nós
similares africanos e pela fome e miséria de multidões em vários
Dos sapatos, da gravata / Dos desejos, dos receios
países pobres. Cada consumidor é convidado a exigir que o produ-
Tenho que esquecer a data / Tenho que perder a conta
to comprado seja produzido em condições de mais justiça social e
Tenho que ter mãos vazias / Ter a alma e o corpo nus
cuidado com a natureza.
Se eu quiser falar com Deus / Tenho que aceitar a dor
Grupos espirituais de todas as religiões relêem o apelo de
Tenho que comer o pão / Que o diabo amassou
Buda para o desapego pessoal, as palavras de Jesus Cristo que
Tenho que virar um cão / Tenho que lamber o chão
convocam para a pobreza de coração não no sentido de simples-
Dos palácios, dos castelos / Suntuosos do meu sonho
mente não possuir nada, mas de assumir a sobriedade na vida e
Tenho que me ver tristonho / Tenho que me achar medo-
no consumo como caminho concreto para que outro modelo de
nho / E apesar de um mal tamanho
sociedade seja possível. Em uma época como a nossa, o consumo
Alegrar meu coração / Se eu quiser falar com Deus
crítico e eticamente responsável se torna requisito indispensável
Tenho que me aventurar / Tenho que subir aos céus
de conversão interior, amor ao próximo e respeito pela criação que
Sem cordas pra segurar / Tenho que dizer adeus
é obra do amor divino.
Dar as costas, caminhar / Decidido, pela estrada
Marcelo Barros de Sousa - é um monge beneditino, escritor e teólogo brasileiro. Que ao findar vai dar em nada / Nada, nada, nada, nada
Em1969 foi ordenado padre por Dom Hélder Câmara e, durante quase dez anos,
Nada, nada, nada, nada / Nada, nada, nada, nada
de 1967 a 1976, trabalhou como secretário e assessor de Dom Hélder para assun-
tos ecumênicos. Do que eu pensava encontrar.

Pelo direito de viver Roberta Lima


roberta_lima@hotmail.com

Assim como você, eu já comi muita carne, porém sempre tive meus momentos onde eu parava e questionava sobre tudo:
sobre eu mesma, sobre o comportamento das pessoas, sobre o mundo, etc. As pessoas que me conhecem mais de perto sabem a
paixão que tenho pelos animais desde pequena. Ainda criança, quando eu via uma rede de pesca sendo arrastada para areia, eu
chegava junto e, discretamente, pegava os peixinhos que “escapavam” da rede e jogava no mar, afinal, lá é a casa deles. Nesta
época eu achava que amava os animais, mas como eu poderia amá-los salvando aqueles peixes indefesos e ao mesmo tempo na
hora da refeição eu comer um “ peixinho ” frito? Quando a gente nasce, nos ensinam que é “certo” comer carne, mas você já
parou para se informar, refletir e procurar saber o que está por trás daquele bife que está no seu prato? Hoje tenho 32 anos. Há
uns dez, deixei de comer frango e carne vermelha, apenas comia (parei final do ano passado) peixe e camarão. Comia na minha
ignorância pensando que eles não sofriam tanto quanto um boi, um porco, etc. Depois que soube que o número de terminações
nervosas que o peixe possui ao redor da sua boca equivale ao número de terminações nervosas que o homem possui em seus
testículos, passei também a não comer mais peixes.
Hoje graças a minha busca, graças às minhas reflexões, graças aos meus questionamentos, eu não como mais nenhum tipo de
animal. Virei vegetariana!!!
Quando falo em vegetarianismo não estou me referindo apenas à culinária. O vegetarianismo vai muito além do prato. É uma
forma de ver o mundo de forma mais justa, ética e principalmente sem violência, dando a cada animal o direito de viver o tempo
que for necessário, com dignidade sem proporcioná-lo dor e sofrimento (sentimento que nenhum de nós gostamos de sentir, não
é?). Sinto-me extremamente feliz, liberta e em paz! Chega um momento das nossas vidas que não dá pra gente ficar de braços
cruzados. É preciso “gritar”, tomar partido e é por isso que estou escrevendo para vocês. Não venho aqui “converter” ninguém,
mas venho pedir que vocês leiam, se informem e vejam o que realmente significa “ser vegetariano” (eu mesma tinha uma ima-
gem deturpada) e quanto poderão ajudar não só a você, o nosso mundo, o mundo dos nossos filhos, netos, etc. e o principal de
tudo: não causar sofrimento aos nossos seres indefesos. Se nós não falarmos por eles, ninguém o fará. Já ouvi muitas piadinhas,
sei que vou ouvir outras tantas, mas isso não importa. Há uma frase de Émile Zola que expressa bem o que sinto: “O destino dos
animais é muito mais importante para mim do que o medo de parecer ridículo.”
Hoje sei de informações que jamais saberia através do dia a dia. São os fatos da cruel realidade que nos é vedada por causa
da ganância do homem pelo dinheiro, pelo lucro e pela máquina consumista. Não sou 100% sábia sobre o vegetarianismo, nem
100% ecologicamente correta, mas estou procurando fazer o que posso.
É muito fácil viver superficialmente, não abrir os olhos e não mergulhar na verdade dos fatos. É muito fácil quando não sa-
bemos nada, mas as coisas se tornam difíceis quando temos que encará-las de frente e quando tomamos consciência.
Sinto-me na obrigação de fazer algo por nossos irmãos indefesos que não podem falar, mas que tenho certeza que clamam
em seu coração pelo direito de viver, assim como todos nós.
11
Por que lutar por jaulas vazias?
Maria de Nazareth Agra Hassen

M
acacos, gatos, carneiros, porcos, lagartixas, ratos: mui- res”, quando o opressor é que deveria se justificar. Cabe pergun-
tas diferenças há entre estas espécies e a humana. De- tarmos por que razão ciência, religião e cidadãos pacatos, pobres e
pendendo do critério comparativo que se adote, a su- ricos, todos se unem em torno de um ponto comum: a exploração
perioridade pende para umas em detrimento de outras. Ninguém animal? Por que ainda se matam animais para comer, havendo
duvida de que o faro de um cão é superior ao de um sapo, ou que a alternativas alimentares, saudáveis, ecológicas e econômicas? Por
visão do cavalo é inferior à do lince. Ninguém duvida de que a ca- que ainda se caçam animais, havendo tantas formas de lazer e até
pacidade de produzir tecnologia de ponta é infinitamente superior reproduções da prática de caçar em meios tecnológicos? Por se
nos humanos. Por maiores que sejam as diferenças entre as espé- mantêm animais em gaiolas, quando se pode adornar uma casa
cies, nem a biologia nega uma verdade a alguns ainda chocante: com quadros e esculturas e ouvir os cantos em aparelhos de som?
somos todos animais. Por que cientistas não buscam alternativas ao uso de animais em
Nos últimos milhares de anos, a história do planeta pode ser pesquisas? Quando ciência e religião ficam tão próximas que não
contada a partir da escravização das espécies não humanas pelos sabemos quem é mais fundamentalista, temos aí um grave proble-
humanos. Poderíamos dizer também que a história tem se cons- ma. Nem todo progresso é ético, nem todo progresso eleva. Contra
truído pela dominação do forte sobre o indefeso, e isso mesmo a ética, nenhum progresso se justifica.
internamente à espécie humana, tanto é que o fenômeno da es- O ano de 2008, na contramão da escravização animal, con-
cravidão aconteceu e acontece em diferentes países, refletindo a solida a luta pelos seus direitos, defendendo algo maior do que o
mesma lógica. Entretanto, a evolução dos aspectos morais fez o bem estar animal, a sua definitiva libertação. Quando Tom Regan
homem reconhecer que essa possibilidade natural – a supemacia escreve o livro Jaulas Vazias, está defendendo a ideia da liberta-
do forte sobre o fraco – não se sustentava do ponto de vista ético. ção animal e repudiando o chamado “bem-estarismo”, pelo qual
Pelo contrário, a ética tratou de apontar ao homem a necessidade alguns protetores de animais preconizam melhores tratamentos,
de proteger os seres mais vulneráveis: idosos, crianças, doentes, aceitando, porém, a idéia da escravidão. Algo como um senhor
dentro do princípio da tutela do fraco. O mesmo ainda não se es- de escravos generoso. O abolicionismo repudia qualquer forma
tendeu à consideração das espécies mais fracas. Se a dominação de esravidão, e alguns teóricos do abolicionismo chegam a atestar
das espécies mais fracas está justificada pelo princípio do estado que o “bem-estarismo” consolida e protela a escravidão animal
de natureza em que o forte domina o fraco, não deveria estar na eternamente.
égide da racionalidade e moralidade humana. Alegar o estado de
Maria de Nazareth Agra Hassen - �����������������������������������������
é filósofa, antropóloga e doutora em Edu-
natureza nos levaria a re-adotar uma série de hábitos e de visões cação brasileira. É graduada em filosofia, tem mestrado em antropologia social
que fomos abandonando pelo uso da razão e da ética. O homem, a e doutorado em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É
despeito disso, segue explorando os animais. pesquisadora e professora titular de filosofia, antropologia e antropologia jurídica
Os Defensores dos Direitos Animais (DDAs) costumam ser do Centro Universitário Ritter dos Reis nos cursos de Pedagogia e Direito. Entre
suas áreas de interesse estão a antropologia urbana, a antropologia jurídica e
abordados e forçados a justificar sua defesa de espécies “inferio-
direitos animais.

matemática
1
2 exercitando
3 a
4
independência

Fone: 81 3427.1765 | 9939.5600 jeaninejapiassu@uol.com.br

12
O mundo é feito de retalhos Henri Kobata

O
lhando assim o globo terrestre girando, essas placas de as cidades estão com trânsito exacerbado, quando não existem
terra boiando fragilmente sobre o oceano, e pensando mais condições de construir casas? A história da humanidade foi
sobre alguns poucos milhares de anos que existe a orga- desenhada sempre com base nessa visão, de que a referência do
nização social humana, é inevitável pensar sobre os descaminhos mundo é das pessoas que fazem parte do grupo dos perfeitos.
da humanidade. Sempre acho que é saudável um pouco de silên- A questão é que o mundo não é tecido de forma homogênea, e
cio para reencontrar o fio da vida. nunca será. É feito de retalhos. É constituído de diversos mundos.
Pois olhando esse globo terrestre como se eu fosse um gigante É formado por mundos de histórias e culturas diferentes. Pelo
que olha o planeta de fora, resolvi listar algumas razões prová- mundo das pessoas que acreditam no capitalismo, das que creem
veis desses descaminhos que jogam hoje a humanidade contra no socialismo, ou em qualquer outra coisa. Pelo mundo dos sur-
a parede, que se paralisa perplexa a cada demonstração de força dos. Dos cegos. Dos que não andam. Dos que não tem nenhum
da natureza. Um sopro dos mares e somos jogados de um lado a movimento. Dos que acreditam ou não acreditam em Deus, ou
outro e morremos afogados. Um espirro de fogo subterrâneo e que têm deuses diferentes. Pelo mundo dos animais. Por diversos
somos cobertos por cinzas, perdemos o sol e ficamos sem visão mundos, cada um com suas características e todos imperfeitos.
para voar de um lugar para o outro. Quando vejo o globo terrestre e recordo de todas as suas his-
A lista das prováveis origens dos descaminhos da humanida- tórias, tenho a certeza de que os descaminhos da humanidade são
de é grande e é discutível, dependendo de que lado se está. Dos todos patrocinados pela visão de que o mundo não é feito de reta-
perdedores, ou dos vencedores. Dos colonizadores ou dos colo- lhos. A trágica história do nazismo não foi um acidente, foi ape-
nizados. Dos homens, ou dos bichos. Mas uma coisa me chamou nas um fato maior que tornou transparente o que se esconde no
a atenção, como a origem de tudo. A cotidiano da humanidade, mas que se
visão de como é feito o mundo. revela insistentemente em pequenas
De como se percebe a forma atitudes.
como é tecido o mundo, faz toda Se parece que isso não é bem
a diferença. É o ponto de referên- verdade, então me diga, não chama-
cia para todo o resto, para todas as mos de deficientes os que não se en-
ações e reações, para todos os fatos caixam no que consideramos modelo
da antiguidade, até hoje. Se o ponto de perfeição? Não consideramos os
de partida é a ideia de que o mundo bichos como deficientes de inteli-
é feito de iguais, quem não é igual gência e de educação, ao chamar as
é considerado deficiente em alguma pessoas grossas, deseducadas, de
coisa. Quem não é igual passa a ser animais?
estranho, menor, por melhor e edu- Não é comum ouvirmos cam-
cado que seja a nomenclatura que se panhas aparentemente civilizatórias
invente para eles. Se eu considero que pregam a tolerância com os dife-
que o ponto de partida é o mundo dos rentes? Não ouvimos com frequência
iguais, decido se faço concessões ou a ideia, por exemplo, dos direitos dos
não aos deficientes, aos imperfeitos. deficientes, dos animais, dos homos-
E os imperfeitos são todos que não sexuais, das mulheres? Tudo isso,
podem andar, ou pensar, ou ver, ou porque ainda não nos atentamos que
falar, ou ouvir, incluindo os bichos o mundo não tem dono, muito menos
que considero deficientes na capaci- que não é dividido entre os perfeitos
dade de planejamento e no alcance e os imperfeitos. Menos ainda, de
cognitivo. que no mundo feito de retalhos não
É uma questão de escolha circunstancial se quero ser genero- tem nenhum que tem mais direito do que os outros.
so, ou não. Se num certo momento, quero ser generoso, então dei- E se isso é verdade, e eu acredito firmemente que sim, não há
xo os bichos ocuparem parte do meu espaço contanto que não me nenhuma generosidade a ser exercitada, a não ser a devolução do
atrapalhem, faço rampas de acesso para as pessoas que não an- que foi roubado pelos saqueadores. É preciso isso, para não con-
dam, invento programas de inclusão dos deficientes físicos, audi- tinuarmos nos descaminhos, tomando rotas loucas, aquelas todas
tivos, aos deficientes visuais. Mas, se não quero, ou não posso ser que só levam à destruição de uns e outros e, finalmente, de nós
tão generoso assim, pela escassez de espaço, pela falta de dinhei- mesmos.
ro, de comida, de água, passo naturalmente a priorizar os iguais Depois de pensar nisso tudo, quando volto a ver o globo ter-
que têm os mesmos direitos, pois são os perfeitos os que fazem a restre, só consigo ver os continentes e as ilhas como retalhos que
referência do mundo. Não é à toa que numa guerra, os soldados cobrem fragilmente o mundo redondo das águas. Quem sabe,
feridos são deixados para trás. Que as cidades são construídas essa imagem se torne um grude e faça alguma diferença em cada
sem pensar nas pessoas que não andam, que não enxergam, que um de nós.
não ouvem. Que as cidades são fundadas sem pensar nos animais
que já vivem naquele espaço, que elas decidam reduzir o número Henri Kobata - é jornalista e especialista em Gestão de Pessoas. Tem formação
de vidas animais, quando são considerados em número inadequa- em música erudita e em administração organizacional. Foi Diretor de Serviços
do. Por que não se pensa em reduzir as vidas humanas, quando Editoriais da Editora Abril e Diretor de Gestão de Pessoas e Radiobrás. Fonte:
Agência ANDA

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