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ESCOLA PÚBLICA
EM TEMPOS DE TECNOCRACIA
CONTRA A EDUCAÇÃO
QUEM SOMOS
Evidentemente, na escolha de uma (municipais, estaduais ou federais), os
carreira profissional não é apenas o professores são apontados sistemática
salário ou a expectativa dele o que e continuamente como os principais
“ (...) nos discursos das autoridades oficiais
(municipais, estaduais ou federais), os
professores são apontados sistemática e
continuamente como os principais responsáveis
pela crise que a escola pública atravessa (...) “
responsáveis pela crise que a escola que teríamos definido e deliberado
pública atravessa, culpados pelos para nós mesmos essa “ocupação”.
resultados sofríveis nas diversas Ou porque, com o correr dos anos,
avaliações a que seus alunos são tenhamos nos arrependido de uma má
submetidos, ora porque seriam mal escolha.
formados ou incompetentes, ora mal Ou ainda, o que pode ser bem o caso,
intencionados, faltosos, irresponsáveis. ocupemo-nos com isso por força das
Nestas condições tão adversas, circunstâncias, em um mercado de
não surpreenderia que fossem raros trabalho sem melhores alternativas
os que pretendem ser professores, acessíveis e mais rentáveis, e por acaso,
que pretendam tomar parte deste por acidente, tornamo-nos professores.
cenário crítico e, além disso, que se Não deixa de ser irônico que essa
identifiquem com a imagem que se profissão, a despeito da histórica e
veicula dos que atuam na profissão. constante queixa aos baixos salários,
Entretanto, contrariando as seja ainda assim “rentável”.
evidências, não se tem notícia de Ou, por outro lado, àqueles que
que algum concurso público para o prestam um concurso, trata-se
magistério fosse cancelado por falta de principalmente da “segurança” de um
candidatos. emprego público, a estabilidade em
um mundo instável e precário?
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categórica talvez nos desconcerte, por elemento importante a considerar em
não mais reconhecermos o dia em qualquer análise mais geral do quadro
em que nos afundamos. título de “valorização do magistério”
Então, a opção é nada senão um em relação ao “mérito” — ventiladas
conformismo, uma acomodação à a quatro cantos, nos governos
precariedade do mundo, em que a municipais, estaduais e federal, à
identidade profissional se perde. Já esquerda e à direita — longe de
não nos será possível um processo de resolver a crise, é apenas uma de suas
identificação com a escola e com o manifestações. A premiação do “mérito”
seu dia-a-dia, nem qualquer realização traduz a ideia de que os professores, a
profissional, vale dizer, a realização de maior parte deles, são os responsáveis
um projeto de vida, da imagem que se pela crise; a premiação é um estímulo
quer construir para si mesmo. a professores desestimulados, e por
Quando nos encontrarmos nesse extensão, a essa gente encostada
pé, já não nos reconheceremos mais e de má vontade que compõe o
como professores, a não ser vestindo a magistério. Trocando em miúdos,
carapuça, assumindo de nós mesmos trata-se do coroamento do processo
imagem negativa e estigmatizada de dessolidarização entre colegas de
veiculada pela imprensa ou pelos profissão, fazendo prevalecer a política
governantes. Ou, por outro lado, do “cada um por si”, separando o joio
rejeitando a carapuça, em uma postura do trigo.
autodefensiva, aceitando o discurso de Tudo isso serve, de fato, para que se
que os professores são incompetentes, fortaleçam estratégias de cabresto
desde que se refira aos “outros”, em um que nos são impostas e para que as
processo de dessolidarização com os resistências sejam inócuas.
colegas de profissão.
O nome da crise
Soluções contrárias Se alguém decide ser professor e quer
Diante deste cenário, é evidente realizar-se profissionalmente, põe em
que muita propaganda não chega a jogo o que de melhor há em si mesmo:
resolver problema algum. É necessário a identidade que forjou ao longo de
e urgente uma efetiva valorização do sua formação e de sua experiência.
magistério, a começar pela elevação Professores, uma espécie em extinção
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da carreira docente. nada recordam uma opção necessária
Por outro lado, que é o mesmo lado, sobre o sentido da educação. E a crise
as iniciativas recentes que vêm a permanecerá sem solução.
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Ainda, a crise da educação
Acusar a crise é portanto identificar soluções que se apresentam e o que
um obstáculo à realização de um elas projetam para o futuro? De quem
determinado projeto de sociedade. é essa crise?
Todos fomos levados a crer na do capital e ao enfraquecimento da
existência de uma crise educacional, organização dos trabalhadores.
assumindo-a como se fosse “nossa”,
despendendo energias para superá- As diretrizes do capital:
la — sem nos darmos conta que a contenção orçamentária
caracterização da crise e as soluções Quem pauta o que é “qualidade”
que se apresentam a ela, veiculadas na educação e administra os meios
nos discursos da imprensa e das de promovê-la são os interesses
autoridades, não é a mesma crise que de acumulação, concentração e
efetivamente experimentamos no preservação do capital. Senão,
nosso dia-a-dia; assim, nossos esforços vejamos: todo esforço em conquistar
deixarão intactas as razões mais íntimas mais recursos para a educação, sob a
de nossa própria crise, embora possam forma do financiamento público, vai
eventualmente até “resolver” a crise do em sentido contrário às diretrizes do
lado deles. Com efeito, o projeto deles capital, que tem força suficiente para
caminha e avança. barrar a partilha dos fundos públicos
destinados a políticas de efetivação de
A crise deles e a nossa direitos sociais.
Há dois projetos antagônicos de O caso mais emblemático disso
sociedade: um em que permanecerá está nos vetos ao Plano Nacional de
prevalecendo os interesses do capital Educação (PNE), ainda no governo
e do mercado; e outro, o dos socialistas FHC, apagando qualquer menção à
– para quem a crise, aqui entendida ampliação de recursos à educação.
como os obstáculos ao seu projeto A expectativa era de que o governo
de sociedade, é bem maior do que Lula, quando eleito, revertesse os vetos
divulgam e, por outro lado, é crise que – expectativa que transformou-se em
nem se tem notícia, quando a crise amarga nostalgia. O que se mantém,
responde pelo nome: luta de classes. como lógica ordenadora das ações
E quando chamamos a verdadeira governamentais, é a drenagem dos
crise pelo seu nome, nos acusarão de recursos públicos ao pagamento dos
pretendermos “politizar o debate”, pois juros da dívida pública, em detrimento
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adotadas pelos governos municipais, que estabelecia a jornada de trabalho
estaduais e pelo federal. A falta de de um terço para atividades extra-
dissenso é correlata à hegemonia classe esteja suspensa por causa da
movimentação de governos estaduais acima de qualquer suspeita, opera para
junto ao Supremo Tribunal Federal: tal realizar as diretrizes do capital.
dispositivo representaria mais dinheiro Despolitizam a sociedade,
para a educação, mais contratação de conformada assim com as
professores, mais gastos sociais – e avaliações quanto à viabilidade das
menos para o pagamento da dívida. transformações possíveis. No entanto,
as transformações necessárias são
A lógica do menor custo: consideradas “tecnicamente inviáveis”
a racionalidade tecnocrática porque pressupõem a partilha dos
Não se trata apenas da simples fundo públicos – ou seja, é uma
contenção do orçamento ou do racionalidade avessa à transformação
barateamento dos investimentos do real, cuja regra é otimizar a relação
sociais. A crise se manifesta na máxima de “custo e benefício”, ou seja, conter
exploração da força de trabalho, os gastos e constranger qualquer
extraindo dela o máximo rendimento ou possibilidade de mudança efetiva.
produtividade que dela o patrão espera:
a clássica contradição entre capital e Democracia x tecnocracia
trabalho e a criação de mecanismos de Com efeito, com a despolitização da
controle sobre a produção. sociedade, é a democracia que fica
Tais padrões de racionalidade restrita. O poder se concentra e escapa às
destituem a política de seu lugar, vicissitudes da democracia, que encolhe.
quando transpõe critérios próprios A política se dissolve em “pesquisas de
de gestão empresarial e privada opinião”, sem enfrentarem o espaço
para definição dos rumos a serem público aberto ao debate contraditório.
seguidos, em questões de natureza Uma vez que as opiniões sejam
política. Os novos “mestres da verdade”, aferidas e os especialistas devidamente
os detentores do saber técnico, consultados, as decisões são tomadas e
desautorizam qualquer desejo, qualquer cumpre a todos obedecer.
projeto de transformações profundas, Embora já em curso há algum tempo,
que escapassem ao seu controle. foi no governo Serra que o projeto
Em nome da racionalidade, tecnocrático para educação ganhou
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projetos e chega ao modo de pensar: professores que ainda ingressarão
é quando o saber dos “técnicos”, cuja na rede, dificultando ainda mais a
racionalidade “eficiente” e “isenta” estaria resistência.
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Tecnocracia contra
a educação
A tecnocracia arranca de cada um
de nós a definição dos rumos a serem
tomados, das decisões de como e
porque fazer. Define por critérios
“técnicos” aquilo que deveria passar
pelo debate político. A tecnocracia
objetiva ainda uma gestão totalitária,
isto é, que controle cada gesto e
Pedagogia da competência
imponha o “padrão” e, para tanto, cria
A adoção das apostilas nas escolas
diversos mecanismos de controle.
estaduais é o ponto culminante de
Na educação – e com grande
um longo processo de destituição dos
visibilidade no governo paulista,
saberes e das práticas dos que atuam
mas também no governo federal
no magistério.
– temos assistido a uma crescente
Não mais nos reconheceremos no
intervenção no ambiente escolar e nos
trabalho que realizamos, pois apenas o
procedimentos pedagógicos, sem que
executamos – mas não o planejamos.
os professores tenham espaço para
Apenas seguimos as ordens, a ordem
debater os rumos a serem seguidos.
da apostila, cuidadosamente elaborada
Fizeram crer que os professores nem
pelos especialistas, destituindo os
sabem o que fazer e precisam de quem
professores do seu saber-fazer.
saiba por eles.
A despeito do que o professor
Portanto, tais intervenções terceirizam
pense como melhor caminho a ser
nossa responsabilidade quanto ao
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avaliações, onde demonstrará sua
cadernos de atividades que os alunos
competência.
receberam ao longo do ano e sucessivas
Se é verdade que a formação inicial
avaliações dão o tom da imposição.
tem alguma importância, ela se torna de classe em virtude do processo de
quase indiferente: a competência do dessolidarização, a possibilidade de
professor está antes em “consumir a ganhos salariais a partir do esforço e
apostila” no tempo preestabelecido, do mérito individuais é um indutor
seguindo o roteiro do caderno do poderoso de comportamento coletivo
professor – e também aí, desde que – não faltar jamais, seguir a cartilha,
sigam as orientações “técnicas”, torna- obedecer ao superior, preparar os
se absolutamente indiferente qual alunos para as avaliações, responder o
professor esteja em sala de aula, pois os que se espera nas provas e provinhas
destituíram de sua própria identidade. – numa espécie de “adesão voluntária
à imposição”, o que equivale dizer o
O trabalho alienado aniquilamento do exercício autônomo
Quando se perde a identidade que da docência e da própria identidade,
forjamos através da experiência, bem como da autonomia da escola.
o cotidiano escolar torna-se uma
experiência sem sentido, ou melhor, A sanha avaliativa
cujo sentido foi extorquido. O trabalho Para controlar, uniformizar,
que realizamos se torna alheio a nós padronizar. A uniformização dos
mesmos – e já não resistimos. currículos escolares, a despeito de
Porque essa extorsão fere nossa qualquer diferença sensível entre as
identidade, porque nega qualquer escolas e o público que atendam, visa
projeto diferente que tenha nos apenas tornar o desempenho dos
levado a optar por sermos professores, alunos comparáveis, isolando-o de
porque ao não nos reconhecermos todo o contexto e da multiplicidade
no trabalho, também não nos de variáveis que incidem sobre o
realizaremos profissionalmente, ou por rendimento escolar.
que, ao assumir a carapuça, sentimo- Aparentemente trata-se de avaliações
nos incapazes de corresponder às técnicas, isentas, mas que não
expectativas e tememos ansiosos conseguem aferir com justeza o que
o resultado da avaliação — tudo se passa no dia-a-dia da sala de aula.
leva a um “mal estar”, resultando São antes mecanismos de controle, de
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diante da prolongada precarização “medir” certas competências e
da carreira no magistério e do baixo habilidades dos alunos. Estabelecem
grau de politização e de consciência então expectativas de aprendizagem
(expectativas de quem?) para que psíquico?
o desempenho possa ser medido e Dizem ainda que os salários de
graduado entre abaixo do adequado e professor nem são tão baixos assim.
avançado. Mas como, se o orçamento doméstico
O que está implícito aí é a ideia de sempre aperta?
que o desempenho dos alunos possa Dizem as pesquisas que o número
sofrer melhoras pela competitividade de alunos em sala de aula não é uma
entre as escolas ou sistemas de ensino, variável que tenha qualquer influência
quer pela divulgação dos resultados na qualidade da educação. Mas como
em um ranking que induziria a a educação poderia melhorar se o
mudança na atitude dos gestores, professor mal conhece seus incontáveis
quer pela premiação, gratificação ou o alunos, se eles mal se acomodam na
que o valha para aqueles com melhor sala de aula, se a mesma cena se repete
desempenho. em outras tantas turmas para as quais
No entanto, isso chega a escola com ele leciona?
sinal invertido. Porque a avaliação é Dizem as pesquisas, inclusive, que os
externa e estranha ao próprio professor, gastos com a educação são suficientes,
e porque também será avaliado por mas são mal empregados. Mas como,
isso, seu ensino se converte em um se não há verbas para aumento de
adestramento dos alunos à realização salário, tampouco para compor a
das provas. O que se torna central na jornada de trabalho com mais tempo
política é a “avaliação”, não como meio para atividades extra-sala de aula?
para corrigir percursos, mas como
um fim em si mesmo, que orienta de Máxima exploração do trabalho
antemão o que fazer e em que ritmo. Todas reivindicações tomadas como
corporativas e de gente mal informada,
Ardis do pensamento tecnocrático nos serão assim negadas, pois
Tudo isso sempre parece isento, contrariam as pesquisas, divorciadas
muito ponderado em pesquisas e que são da realidade concreta das
demonstrado em gráficos e estatísticas, escolas. Pois em cada pesquisa uma
contrariando nossa a experiência variável é isolada, desconsiderando-
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Em defesa da escola pública
investimentos.
Tampouco há solução,
programa ou receita mágicas,
como querem nos fazer crer
os que confundem política
educacional com peça de
campanha publicitária, que
não passe pelo debate e
compromisso de todos e,
em especial, dos educadores
diretamente envolvidos com os
quefazeres da educação.
Educação e direito
Por certo, a disputa se faz
A crise da qualidade – quando além da questão dos recursos para a
a “qualidade” também é assim educação: resgatar as lutas históricas,
apresentada, sem considerar diversos as formulações e experiências
fatores que danam a experiência acumuladas e avançar nelas. Resistir
concreta das salas de aula – deixa ainda mais à assimilação de padrões de
intocadas as causas reais do problema, racionalidade, competência e eficiência
as questões do “chão da escola” – infra- que são avessos à transformação
estrutura escolar, redução de aluno por do real. E também com o dever de
sala, redução de salas por professores, propor e construir uma outra visão de
jornada, etc. mundo, em que não sejamos meros
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o comprometimento dos fundos direito, que antes era privilégio de
públicos voltados à educação e não poucos.
há prioridade se ela não se traduz em A universalização do direito à
educação pública é uma das condições Se contamos entre as nossas
indispensáveis para existência de uma conquistas a recente universalização
sociedade igualitária, livre de opressões, do ensino fundamental, é preciso
socialista – direito que somente se reconhecer que já fomos mais fortes
efetivará como conquista dos de baixo e e que, na última década, acumulamos
jamais como uma concessão das classes mais derrotas do que vitórias.
dominantes. É que, se o acesso ao ensino foi
A melhor escola que podem eles nos massificado, as perspectivas históricas
oferecer é esta que já temos, em que e democráticas de que era portador
alunos estão sem saber muito bem o foi fechado, frente a uma conjuntura
porquê de estarem ali; vão à escola mais adversa. As repercussões nas salas de
por “obrigação” do que por direito. E aula, nós as conhecemos no dia-a-dia:
toda obrigação é um tanto enfadonha, minam as possibilidades de satisfazer
e a relação que se estabelece lá entre as melhores condições de trabalho e
professor e aluno, se não superar o ensino.
enfado, se não soubermos como superar É outra a escola necessária e para a qual
o enfado, não faz desta experiência ser lutamos. O campo de disputa em que
proveitosa, criativa — viva. se conquistam direitos é a democracia,
Estes são os limites da escola, da escola em que o Estado deve ser o garantidor
burguesa, ou seja, da escola em uma deles, à revelia das classes dominantes.
sociedade controlada pela burguesia e, Uma escola que tenha como princípio
por extensão, dominada pelos valores e educativo a experiência viva dos que
interesses burgueses. Estes são os limites nela estão e que se reconheçam como
de uma escola moribunda. Se não se participantes (e não como espectadores)
sabe como superar o enfado, e nem do direito à educação. Ou seja, porque
sempre o superamos, a escola apenas a tecnocracia é avessa a ampliação da
fará reproduzir fórmulas vazias que os democracia, lutar contra ela é ainda
alunos irão engolir nas aulas e regurgitar lutar pela radicalização dos meios
na hora da prova. democráticos de gestão, como eleição Coletivo Apeoesp na Escola e na Luta
ou o resultado dela, e é isto que faz a sim atores e autores que pretendem
diferença entre um professor e outro, construir um outro mundo possível.
entre uma aula e outra. Tal “conteúdo” Não restringimos, portanto, a
ganha uma “forma”, que é a forma que luta em defesa da educação e por
demos com nossa experiência e em igualdade social aos espaços sindicais
nosso discurso em sala de aula. e às manifestações de rua. Lutamos
Discordamos da visão que encara também, e antes de tudo, no dia-a-dia
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a escola pública apenas como um da escola. Somos professores porque
aparelho ideológico do Estado somos lutadores. Por isto defendemos
burguês, onde o que caberia ao uma Apeoesp na Escola e na Luta.
NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI
como um foco de germes
Eduardo Alves da Costa capaz de me destruir.
Assim como a criança Olho ao redor
humildemente afaga e o que vejo
a imagem do herói, e acabo por repetir
assim me aproximo de ti, Maiakóvski. são mentiras.
Não importa o que me possa acontecer Mal sabe a criança dizer mãe
por andar ombro a ombro e a propaganda lhe destrói a consciência.
com um poeta soviético. A mim, quase me arrastam
Lendo teus versos, pela gola do paletó
aprendi a ter coragem. à porta do templo
e me pedem que aguarde
Tu sabes, até que a Democracia
conheces melhor do que eu se digne a aparecer no balcão.
a velha história. Mas eu sei,
Na primeira noite eles se aproximam porque não estou amedrontado
e roubam uma flor a ponto de cegar, que ela tem uma espada
do nosso jardim. a lhe espetar as costelas
E não dizemos nada. e o riso que nos mostra
Na segunda noite, já não se escondem: é uma tênue cortina
pisam as flores, lançada sobre os arsenais.
matam nosso cão,
e não dizemos nada. Vamos ao campo
Até que um dia, e não os vemos ao nosso lado,
o mais frágil deles no plantio.
entra sozinho em nossa casa, Mas ao tempo da colheita
rouba-nos a luz, e, lá estão
conhecendo nosso medo, e acabam por nos roubar
arranca-nos a voz da garganta. até o último grão de trigo.
E já não podemos dizer nada. Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Nos dias que correm Dizem-nos que é preciso
a ninguém é dado defender nossos lares
repousar a cabeça mas se nos rebelamos contra a opressão
alheia ao terror. é sobre nós que marcham os soldados.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum E por temor eu me calo,
com os senhores do mundo, por temor aceito a condição
por temor nos calamos. de falso democrata
e rotulo meus gestos
No silêncio de meu quarto com a palavra liberdade,
a ousadia me afogueia as faces procurando, num sorriso,
e eu fantasio um levante; esconder minha dor
mas amanhã, diante de meus superiores.
diante do juiz, Mas dentro de mim,
talvez meus lábios com a potência de um milhão de vozes,
calem a verdade o coração grita — MENTIRA!
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