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EM BUSCA DA GRANDE REPORTAGEM:

UM OLHAR SOBRE A REVISTA REALIDADE

Aluiz Henrique Marques Linhares

Objetivo

Objetivando discutir a importância da reportagem como instrumento de ação social do


jornalismo, este trabalho avalia o impacto da produção em massa de notícias e o
desaparecimento da chamada grande reportagem. Procuraremos compreender a relação deste
fato com os mecanismos que hoje alimentam a propagação da informação como bem de
consumo. Acreditando que o jornalismo tem por função ser um dos formadores de opinião e
crítica, identificaremos as características que diferenciam a notícia da reportagem. Em seguida
avaliarmos as matérias da revista Realidade, considerada até hoje uma das melhores
publicações brasileiras do gênero e ganhadora de diversos prêmios entre eles o Esso. Através
deste processo não só propomos um debate sobre os efeitos do excesso de informação, como
também da valorização das reportagens e, consequentemente, do jornalismo.

Justificativa

O jornalismo tem como um de seus princípios básicos permitir que as pessoas


percebam e compreendam o mundo ao seu redor. Esse princípio faz com que as sociedades se
avaliem e progridam. A reportagem especial aprofunda esse aspecto, fazendo despontar o
jornalismo em sua essência. A prática de se produzir matérias bem escritas, que convidem à
reflexão, analisem e interpretem os fatos, ao invés de simplesmente jogá-los sobre a
população, dá aos veículos o respeito e credibilidade junto a seus leitores.

O abandono da produção de reportagens especiais pode significar uma completa perda


de personalidade ao jornalismo e, conseqüentemente, a ausência de referentes sobre o qual a
sociedade possa se apoiar na busca pela interpretação dos fatos que a cercam. Essa ausência,
em sentido crescente, pode, ao longo da história, alimentar a descrença, o desinteresse pelo
que é social e produzir gerações de conformistas e céticos.

Esse projeto tem como propósito semear a reflexão sobre o que é a reportagem
especial e como sua produção tem sido rapidamente descartada pelas empresas jornalísticas. É
também uma análise sobre o quanto à chamada sociedade da informação se torna contraditória
ao fazer com que uma ferramenta tão importante como a reportagem especial, se torne algo
enfadonho e dispendioso aos olhos daqueles que produzem a notícia.

Ao contrário do que se promove pelos quatro cantos do mundo, o excesso de


informação mal produzida mostra-se pernicioso para a construção de sociedades esclarecidas.

1
A discussão sobre o resgate da reportagem especial e sua defesa junto a futuros profissionais é
um passo para que o banal e o corriqueiro não sejam os únicos elementos a compor as
manchetes da grande imprensa.

Quadro teórico

A reportagem especial, em outros tempos, era utilizada para garantir a credibilidade


dos veículos e conquistar prestígio frente à sociedade e aos anunciantes. Outro importante
aspecto da reportagem especial é sua capacidade de diferenciar um veículo do outro com seu
texto mais elaborado e assuntos de grande repercussão. Porém, observa-se que esses aspectos
tem sido desconsiderados pelos veículos os quais esse projeto pretende tomar como centro de
discussão do tema apresentado.

Para traçar uma linha de pensamento que possa esclarecer os pontos mais importantes
que levaram o jornalismo especial a entrar em decadência e praticamente desaparecer das
pautas das redações devemos nos aprofundar nos estudos de pensadores como Walter
Benjamin e Georg Lukács. Outros pesquisadores como Nilson Lage, Muniz Sodré, Sylvia
Moretzsohn e Bernardo Kucinski complementarão os estudos apontando os caminhos que
tornaram a reportagem especial um tipo de produção jornalística que se perde a cada dia.

Em seu livro Jornalismo em “tempo real” a professora Sylvia Moretzsohn expõe de


forma ainda mais nítida a rotina jornalística que tem transformado a figura do repórter em
simples instrumento de repetição de fatos. Essa figura mecanizada, sem tempo para refletir
sobre aquilo que será noticiado, tem cometido erros de julgamento (como no famoso caso da
Escola Base) e privilegiado somente o “dar a notícia” e não o “informar”.

“Assim, torna-se natural a afirmação, recorrente no meio profissional, de que o


jornalista “não tem tempo para pensar”. A frase é particularmente significativa quando
pronunciada em palestras para estudantes: ‘Vocês aproveitem para pensar enquanto
estão na universidade, porque, quando forem trabalhar em jornal, não vão ter mais
tempo para isso’. O jornalista diz a frase displicentemente, em meio a conselhos e
relatos de causos interessantes e aventuras apaixonantes.” 1

Essas palavras nos levam a crer que algo se perdeu no jornalismo. Estaria o amor pela
profissão relevado ao último plano? Ao percebermos que o próprio profissional avalia sua
função como algo que não o permite pensar, refletir, traçar considerações sobre o que escreve
como podemos considerar o jornalismo ainda como ferramenta da democracia?

Por esse ponto de vista a sociedade, também vítima de dezenas de opções de


informação, perde um importante aliado que poderia agir como um arauto, chamando a
atenção para fatos importantes que passam despercebidos no meio do caos.

1
MORETZSOHN, Sylvia. Jornalismo em “tempo real”. Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 163.

2
A crise da reportagem especial na sociedade da informação, tema deste projeto, parece
se consolidar quando os profissionais parecem finalmente estar depondo as armas,
entregando-se a constatação de que essa é a nova “regra do jogo”. Os novos jornalistas,
vindos das faculdades, já sabendo que não há espaço para o romantismo e, consequentemente,
que não há mais espaço para a produção das grandes reportagens, adotam a postura padrão e
se dedicam a cumprir seu expediente sem arriscar grandes experimentações. É sobre a rotina
desse novo jornalista que Kucinski comenta:

“Mas nas empresas jornalísticas, o fazer tornou-se mais importante que o saber fazer. A
quantidade tornou-se o critério da aprovação do trabalho, e as pautas deixaram de ser
um exercício de criatividade para se tornar uma ordem de trabalho. O jornalista comum,
hoje, é um trabalhador de uma linha de montagem, cuja esteira corre com velocidade
cada vez maior, não deixando tempo nenhum para a individuação. Logo que pode, ele
larga a profissão”.2

Os pontos defendidos pelos pesquisadores aqui citados servem para identificar


importantes questões que estão levando o jornalismo especial a desaparecer das páginas dos
grandes jornais.

Metodologia

Os estudos que comporão este projeto serão abordados através de pesquisa


bibliográfica, explicativa e descritiva. Através delas avaliaremos as características do
jornalismo especial na Revista Realidade e traçaremos um perfil da atual situação deste tipo
de publicação frente o modelo que privilegia a notícia e confrontaremos os modelos aos
pontos abordados pelos teóricos citados.

Resultados

Através deste trabalho encontramos as principais características que diferenciam a


notícia da reportagem. Estabelecemos alguns conceitos que nos permitiram identificar os
elementos que os jornalistas utilizam para compor seus trabalhos e apresentar ao público os
acontecimentos do mundo.

Definimos que a reportagem tem características distintas da notícia, como a


predominância da forma narrativa, a humanização do relato e o uso do texto impressionista.
Ambos os estilos se aproximam quando se trata da responsabilidade de ser fiel aos fatos
apresentados.

2
KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo na era virtual. : ensaios sobre o colapso da razão ética. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo: Editora UNESP, 2005. p. 104.

3
Em maior ou menor grau, os elementos identificados, quando aplicados na construção
de uma reportagem, permitem ao jornalista tecer uma linha de texto no qual surge a
aproximação do leitor com a realidade do tema abordado. De acordo com a construção deste
texto o leitor poderá se emocionar, se indignar, torcer, ou ainda se posicionar contra ou a
favor de algo. Difícil será ficar totalmente impassível diante do que lê. Ainda assim as
chamadas “grandes reportagens” perdem espaço no jornalismo diário para uma estrutura de
produção onde o elemento chave são as notícias.

Essa estrutura de produção está relacionada com a propagação da informação como


elemento imprescindível no mundo moderno. Através dos estudos realizados concluímos que
a sociedade contemporânea voltou-se para a busca da informação transformando-a em
mercadoria em detrimento a valorização da experiência. Essa busca, cuja disparada, segundo
Walter Benjamin, se deu com o início da industrialização, hoje é alimentada por mudanças
sociais como a globalização e o advento de novas tecnologias (principalmente a Internet).

A informação tornou-se um produto altamente disputado e consumido em escala


global. Hoje o conhecimento abrangente dos fatos é considerado um símbolo de valor, de
competência e de glamour. Motiva avaliações escolares, entrevistas de emprego e as relações
comerciais.

Para atender a esta cultura do sempre novo e o de relatar o maior número de fatos
possível a imprensa fez da notícia o seu produto principal. Para sustentá-la criaram-se normas
editoriais, manuais de redação e normas de conduta para os jornalistas, visando o
cumprimento de prazos e garantindo a competição entre os veículos.

E seria possível utilizar os elementos da reportagem para questionar uma sociedade


cujo discurso se massificou e ainda dar aos atores desprovidos de voz uma chance de repensar
o status quo? A revista Realidade provou que sim.

Suas primeiras edições nasceram em um período obscuro de nossa história e, ainda


assim, utilizando-se de elementos textuais ousados a revista conseguiu tornar-se um marco
referencial na história jornalística brasileira.

Os repórteres de Realidade não apenas apresentavam o cotidiano. Eles refletiam sobre


ele, lançavam mais dúvidas sobre os temas e mostravam as sombras que se escondiam nos
porões de uma sociedade congelada entre uma ditadura militar e um moralismo retardatário.

Nas páginas de Realidade o jornalista muitas vezes deixava de ser um observador e se


tornava o elemento chave da matéria. Prova disso são as reportagens de José Hamilton
Ribeiro sendo que uma das mais expressivas (Eu estive na guerra) compôs a base para nossas
considerações sobre o texto impressionista.

4
Realidade deixou o repórter “ser” repórter. Ele saia das redações e desaparecia,
voltando depois com um trabalho que atingia os leitores da revista em cheio, resultando em
vendagens expressivas e incentivando a linha editorial a se aprofundar no modelo escolhido.

Em suas páginas encontramos a comprovação do que Walter Benjamin descreveu


como uma das principais características da narrativa: a de tornar seus relatos atemporais.
Basta relembrarmos algumas de suas pautas, que visitavam a dor da África, a violência, a
fome, as revoluções sexuais e da juventude, para percebermos que mais de quarenta anos após
sua publicação as reportagens de Realidade mantém um surpreendente (e por quê não dizer
incômodo?) ar de atualidade.

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