018902-8, de Papanduva Relator: Des. Jorge Luiz de Borba
EMBARGOS À EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA
LASTREADA EM CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO FIXO UTILIZADO PARA A QUITAÇÃO DE OUTROS DÉBITOS. CONVERSÃO DO JULGAMENTO EM DILIGÊNCIA PARA A DEVIDA INSTRUÇÃO DO FEITO COM OS CONTRATOS E EXTRATOS DAS DEMAIS AVENÇAS. MANDAMENTO NÃO CUMPRIDO NO PRAZO ASSINALADO. PROSSEGUIMENTO DO JULGAMENTO. MANUTENÇÃO DA NULIDADE DA EXECUÇÃO DECRETADA NO JUÍZO A QUO. EXEGESE DOS ARTS. 616 E 618, I, DO CPC. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. "A não juntada dos contratos anteriores pelo credor, apesar de devidamente intimado para tanto, acarreta a extinção do processo executivo sem julgamento do mérito. Agravo no recurso especial a que se nega provimento (AgRg no REsp. n. 988699/SC, ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 6-3-2008)" (AC n. 2005.034752-5, de Gaspar, rel. Des. Jorge Schaefer Martins, j. 31-8-2009).
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.
2004.018902-8, da comarca de Papanduva (Vara Única), em que é apelante Banco do Estado de Santa Catarina S/A - Besc e apelada Miriam Andrea Alves Massaneiro Carelli ME:
ACORDAM, em Segunda Câmara de Direito Comercial, por votação
unânime, conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Custas legais.
RELATÓRIO
Miriam Andrea Alves Massaneiro Carelli ME opôs embargos à
Execução por Quantia Certa movida por Banco do Estado de Santa Catarina S/A - Besc, lastreada no Contrato de Abertura de Crédito Fixo n. 95/638, celebrado em 4-12-1995. Aduziu a nulidade da execução em virtude da renegociação de débitos em conta corrente n. 002.277-4, a ilegalidade da capitalização mensal de juros e da prática de taxa de juros acima do permitido pela Constituição da República, bem como a irregularidade do demonstrativo de evolução do débito. O banco embargado impugnou os embargos, sustentando que o contrato seria título líquido, certo e exigível (fls. 14-15). Réplica às fls. 21-22. Sobreveio sentença de mérito, que julgou antecipadamente a lide, contendo o seguinte dispositivo: Ante o exposto, em razão da ausência de título executivo, porquanto o Contrato de Abertura de Crédito Fixo, quando divorciado dos demais contratos que o antecederam, carece dos requisitos de liquidez e certeza, JULGO PROCEDENTE os embargos opostos por MIRIAN ANDRÉA ALVES MASSANEIRO CARELLI ME à execução movida por BANCO DO ESTADO DE SANTA CATARINA S/A BESC e, por conseguinte, decreto a nulidade e a extinção da execução em apreço, o que faço com fundamento no artigo 267, IV e VI, e no artigo 618, inciso I, ambos do Código de Processo Civil. Condeno o embargado ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios do procurador do embargante, estes arbitrados em 10% sobre o valor atribuído à execução, devidamente corrigido, na forma do artigo 20, § 4º, do Código de Processo Civil. Translade-se cópia desta decisão para os autos da execução (fl. 58). Irresignada, a instituição financeira interpôs recurso de apelação, suscitando a exequibilidade do contrato de abertura de crédito fixo e a inocorrência da novação. O prazo para contrarrazões esvaiu-se in albis (fl. 71). Os autos ascenderam a esta Superior Instância e o julgamento foi convertido em diligência, sendo determinado que o apelante, no prazo de 20 (vinte) dias, procedesse à juntada "dos contratos vinculados ao cadastro da apelada, dos respectivos extratos até a assinatura do instrumento executado e do demonstrativo de débito atualizado, sob pena de manutenção do indeferimento da inicial da execução" (fl. 82). No juízo a quo, as partes foram intimadas sobre o retorno do processo da segunda instância (fl. 84), permanecendo ambas as partes inertes (fl. 86). O Banco do Brasil S/A requereu a substituição processual da parte embargada (fls. 87-92). O pleito de susbtituição foi deferido, sendo ordenado que o substituído cumprisse, no prazo de 20 (vinte) dias, a determinação prolatada na Segunda Instância, para a juntada dos demais documentos relacionados à conta corrente em litígio (fl. 94). O prazo transcorreu in albis e o magistrado singular determinou o retorno do processo a esta Corte (fl. 105). Posteriormente, a casa bancária requereu a juntada de extratos dos negócios celebrados entre as partes.
VOTO
O presente julgamento foi convertido em diligência para a instrução do
Gabinete Des. Jorge Luiz de Borba
feito com os contratos e extratos referentes aos negócios celebrados entre as partes, no prazo de 20 (vinte) dias, e retornou para o seu prosseguimento. Dizem os artigos 616 e 618, I, do CPC: Art. 616. Verificando o juiz que a petição inicial está incompleta, ou não se acha acompanhada dos documentos indispensáveis à propositura da execução, determinará que o credor a corrija, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de ser indeferida. [...] Art. 618. É nula a execução: I - se o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (art. 586); Segundo a jurisprudência dominante, cujo entendimento este Relator acompanha ainda que respeitosamente discordando, os contratos de confissão de dívida devem vir acompanhados de documentos (contratos, extratos, títulos) que demonstrem a licitude dos negócios previamente celebrados e da evolução do débito, sob pena de carecer a obrigação de certeza e de liquidez. O mandamento de emenda não foi atendido pela parte insurgente no lapso processual concedido. Logo, deve ser confirmada declaração de nulidade da execução. Colhe-se da jurisprudência do Pretório Catarinense: EMBARGOS À EXECUÇÃO. Confissão de dívida. Origem e evolução da dívida questionados. Conversão em diligência. Desatendimento. Transparência. Indeferimento da inicial. Extinção sem resolução do mérito. Questionada a gênese de débito renegociado em confissão de dívidas, imprescindível a juntada de demonstrativo de evolução da dívida desde sua gênese, para aferição da liquidez, certeza e exigibilidade da obrigação (AC n. 2004.003133-5, de Criciúma, rel. Des. Subst. José Inácio Schaefer, j. 20-10-2009). E desta Câmara: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DO DEVEDOR. CONTRATO DE CAPITAL DE GIRO. AUSÊNCIA DE NOVAÇÃO. INTIMAÇÃO EM PRIMEIRO GRAU DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA PARA A JUNTADA DOS CONTRATOS RENEGOCIADOS E DOS RESPECTIVOS DEMONSTRATIVOS DA EVOLUÇÃO DO DÉBITO DESDE O SEU INÍCIO. ORDEM DESCUMPRIDA. CONSEQÜÊNCIAS. EXTINÇÃO DA AÇÃO DE EXECUÇÃO. ARTIGOS 618, I, 614, II, E 267, IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRECEDENTES. - A confissão de dívida é título hábil para a execução, ainda que oriundo de contrato de abertura de crédito, novado ou não, goza de plena liquidez, certeza e exigibilidade, constituindo-se, portanto, título executivo extrajudicial. - A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores" (Súmula n. 286/STJ). - Questionada, todavia, a legalidade das cláusulas do contrato originário, pode haver o debate do valor devido, ainda que renegociado, e, em tal caso, precedentemente à extinção do processo, deve ser oportunizada ao credor a juntada daquele pacto e do demonstrativo de evolução dele advindo, nos termos do art. 616 do CPC. Precedentes. - A não juntada dos contratos anteriores pelo credor, apesar de devidamente
Gabinete Des. Jorge Luiz de Borba
intimado para tanto, acarreta a extinção do processo executivo sem julgamento do mérito. Agravo no recurso especial a que se nega provimento (AgRg no REsp. n. 988699/SC, ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. em 6-3-2008) (AC n. 2005.034752-5, de Gaspar, rel. Des. Jorge Schaefer Martins, j. 31-8-2009). Dessarte, deve ser mantida a declaração de nulidade da execução.
DECISÃO
Ante o exposto, à unanimidade, decidiu a Segunda Câmara de Direito
Comercial conhecer do recurso e negar-lhe provimento. O julgamento foi realizado nesta data e dele participaram a Exma. Sra. Des.ª Rejane Andersen e o Exmo. Sr. Des. Subst. Robson Luz Varella. Florianópolis, 31 de maio de 2010 Jorge Luiz de Borba PRESIDENTE E RELATOR