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A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos naturais e espontâneos do ser humano

que desde muito cedo aprende a mamar, falar, andar, pensar, garantindo assim, a sua sobrevivência.
Com aproximadamente três anos, as crianças são capazes de construir as primeiras hipóteses e já
começam a questionar sobre a existência.

A aprendizagem escolar também é considerada um processo natural, que resulta de uma complexa
atividade mental, na qual o pensamento, a percepção, as emoções, a memória, a motricidade e os
conhecimentos prévios estão envolvidos e onde a criança deva sentir o prazer em aprender.

O estudo do processo de aprendizagem humana e suas dificuldades são desenvolvidos pela


Psicopedagogia, levando-se em consideração as realidades interna e externa, utilizando-se de vários
campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. Procurando compreender de forma global e
integrada os processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos que
determinam à condição do sujeito e interferem no processo de aprendizagem, possibilitando situações
que resgatem a aprendizagem em sua totalidade de maneira prazerosa.

Segundo Maria Lúcia Weiss, “a aprendizagem normal dá-se de forma integrada no aluno (aprendente),
no seu pensar, sentir, falar e agir. Quando começam a aparecer “dissociações de campo” e sabe-se que
o sujeito não tem danos orgânicos, pode-se pensar que estão se instalando dificuldades na
aprendizagem: algo vai mal no pensar, na sua expressão, no agir sobre o mundo”.

Atualmente, a política educacional prioriza a educação para todos e a inclusão de alunos que, há pouco
tempo, eram excluídos do sistema escolar, por portarem deficiências físicas ou cognitivas; porém, um
grande número de alunos (crianças e adolescentes), que ao longo do tempo apresentaram dificuldades
de aprendizagem e que estavam fadados ao fracasso escolar pôde freqüentar as escolas e eram
rotulados em geral, como alunos difíceis.

Os alunos difíceis que apresentavam dificuldades de aprendizagem, mas que não tinha origens em
quadros neurológicos, numa linguagem psicanalítica, não estruturam uma psicose ou neurose grave, que
não podiam ser considerados portadores de deficiência mental, oscilavam na conduta e no humor e até
dificuldades nos processos simbólicos, que dificultam a organização do pensamento, que
consequentemente interferem na alfabetização e no aprendizado dos processos lógico-matemáticos,
demonstram potencial cognitivo, podendo ser resgatados na sua aprendizagem.

Raramente as dificuldades de aprendizagem têm origens apenas cognitivas. Atribuir ao próprio aluno o
seu fracasso, considerando que haja algum comprometimento no seu desenvolvimento psicomotor,
cognitivo, lingüístico ou emocional (conversa muito, é lento, não faz a lição de casa, não tem
assimilação, entre outros.), desestruturação familiar, sem considerar, as condições de aprendizagem que
a escola oferece a este aluno e os outros fatores intra-escolares que favorecem a não aprendizagem.

As dificuldades de aprendizagem na escola, podem ser consideradas uma das causas que podem
conduzir o aluno ao fracasso escolar. Não podemos desconsiderar que o fracasso do aluno também pode
ser entendido como um fracasso da escola por não saber lidar com a diversidade dos seus alunos. É
preciso que o professor atente para as diferentes formas de ensinar, pois, há muitas maneiras de
aprender. O professor deve ter consciência da importância de criar vínculos com os seus alunos através
das atividades cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e positivos.

O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes começa a
apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade, agressividade, etc. A dificuldade acarreta
sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade própria.

Durante muitos anos os alunos foram penalizados, responsabilizados pelo fracasso, sofriam punições e
críticas, mas, com o avanço da ciência, hoje não podemos nos limitar a acreditar, que as dificuldades de
aprendizagem, seja uma questão de vontade do aluno ou do professor, é uma questão muito mais
complexa, onde vários fatores podem interferir na vida escolar, tais como os problemas de
relacionamento professor-aluno, as questões de metodologia de ensino e os conteúdos escolares.

Se a dificuldade fosse apenas originada pelo aluno, por danos orgânicos ou somente da sua inteligência,
para solucioná-lo não teríamos a necessidade de acionarmos a família, e se o problema estivesse apenas
relacionado ao ambiente familiar, não haveria necessidade de recorremos ao aluno isoladamente.

A relação professor/aluno torna o aluno capaz ou incapaz. Se o professor tratá-lo como incapaz, não
será bem sucedido, não permitirá a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento. Se o professor,
mostrar-se despreparado para lidar com o problema apresentado, mais chances terá de transferir suas
dificuldades para o aluno.

Os primeiros ensinantes são os pais, com eles aprendem-se as primeiras interações e ao longo do
desenvolvimento, aperfeiçoa. Estas relações, já estão constituídas na criança, ao chegar à escola, que
influenciará consideravelmente no poder de produção deste sujeito. É preciso uma dinâmica familiar
saudável, uma relação positiva de cooperação, de alegria e motivação.

Torna-se necessário orientar aluno, família e professor, para que juntos, possam buscar orientações
para lidar com alunos/filhos, que apresentam dificuldades e/ou que fogem ao padrão, buscando a
intervenção de um profissional especializado. Dicas para os pais:

1. Estabelecer uma relação de confiança e colaboração com a escola;


2. Escute mais e fale menos;
3. Informe aos professores sobre os progressos feitos em casa em áreas de interesse mútuo;
4. Estabelecer horários para estudar e realizar as tarefas de casa;
5. Sirva de exemplo, mostre seu interesse e entusiasmo pelos estudos;
6. Desenvolver estratégias de modelação, por exemplo, existe um problema para ser solucionado,
pense em voz alta;
7. Aprenda com eles ao invés de só querer ensinar;
8. Valorize sempre o que o seu filho faz, mesmo que não tenha feito o que você pediu;
9. Disponibilizar materiais para auxiliar na aprendizagem;
10. É preciso conversar, informar e discutir com o seu filho sobre quaisquer observações e
comentários emitidos sobre ele.

Cada pessoa é uma. Uma vida é uma história de vida. É preciso saber o aluno que se tem, como ele
aprende. Se ele construiu uma coisa, não pode-se destruí-la. O psicopedagogo ajuda a promover
mudanças, intervindo diante das dificuldades que a escola nos coloca, trabalhando com os
equilíbrios/desequilíbrios e resgatando o desejo de aprender.

Questões do Passado e do Futuro no momento Presente.

A experiência que envolve ensinar e aprender integra dois sujeitos que assumem simultaneamente os
papéis de mestre e aprendiz, sendo assim, por excelência, rica e desafiante.

O Coordenador Pedagógico tem a missão de articular com a equipe os saberes necessários no campo do
autoconhecimento e na análise crítica das inúmeras teorias pedagógicas que tentam dar conta de
explicar o complexo processo de como o sujeito aprende e qual a melhor maneira de ensinar. Logo, os
saberes necessários na formação do Psicopedagogo se fazem presentes e necessários na atuação da
Coordenação Pedagógica.
É interessante transitar nas idéias de Freud e Vygotsky na tentativa de entender melhor sobre a
aprendizagem e o sujeito que aprende. Vários estudiosos afirmam que o século XX não teria sido o
mesmo sem Freud e a Psicanálise. Suas idéias ultrapassaram o território da psicologia e invadiram as
ciências humanas e sociais. Trouxeram idéias ao universo humano e expressões como: recalque,
inconsciente, sexualidade, pulsão, libido e complexo de Édipo.

Vygotsky sistematizou uma abordagem nova sobre a construção do conhecimento Para ele, o
desenvolvimento não depende apenas da maturação, como defendiam os inatistas, sobre o processo de
desenvolvimento do pensamento. Ao falar sobre as funções cognitivas complexas de um sujeito
contextualizado e histórico, deu destaque à linguagem, que se interpõe entre o sujeito e o objeto de
conhecimento. Pretendeu, assim, construir uma nova psicologia sobre a interpretação marxista*.

Mas, o que fazer com tanta teoria (informação) ao exercer a arte de ensinar? Como esses educadores /
teóricos entram em minha sala de aula? Freud, a princípio, com a teoria da Psicanálise, teve a intenção
desenvolver uma psicoterapia das neuroses. Porém, o que não foi muito difundido diz respeito a sua
preocupação com a educação, os processos que envolvem a aprendizagem o que ela é capaz de produzir
no sujeito. Freud explica que a educação transmite uma moral que julga o sujeito.

Quanta complexidade envolve o Humano no processo ensino-aprendizagem! Somos o produto de vários


fatores (Bio- Psico- Social) que nos acompanham desde a mais tenra idade. Somo seres em permanente
estado inacabado, quer educandos ou educadores.

* Para Marx, filósofo Alemão (1818-1883), não existe o indivíduo formado fora das relações sociais. Ela
enfatiza esse ponto ao afirmar: "A essência humana (...) é o conjunto das relações sociais". (MARX,
Karl. Teses sobre Feuerbach.)

O profissional que trabalha com o que chamamos de “problemas de aprendizagem”

Ao refletir um pouco sobre a Aprendizagem, podemos dizer que, desde o momento em que nascemos,
iniciamos o processo de aprendizagem. Neste processo, o ser humano constrói sua estrutura de
personalidade na trama de relações sociais na qual está inserido.

A aprendizagem vai ocorrendo na estimulação do ambiente sobre o indivíduo maturo, onde, diante de
uma situação/problema, se expressa uma mudança de comportamento, recebendo interferência de
vários fatores – intelectual, psicomotor, físico, social e emocional. Enquanto transforma a realidade a
sua volta, ele constrói a si mesmo, tecendo sua rede de saberes, a partir da qual irá interagir com o
meio social, determinando suas ações, suas reações, enfim suas práticas sociais.

Desde o nascimento, o indivíduo faz parte de uma instituição social organizada – a família - e depois, ao
longo da vida, integra outras instituições. Nessa interação vai se construindo uma rede de saberes, onde
todos os membros da sociedade são parceiros possíveis, contribuindo cada um com seus conhecimentos,
suas práticas, valores e crenças. Estas contribuições não são estáticas, se encontram em permanente
mudança. Portanto, o conceito de rede de saberes constrói-se a partir do princípio de movimento, de
articulação e de co-responsabilidade.

Nossa rede de conhecimentos vai se formando dentro de instituições e assim cada vez mais é necessário
inserir a psicopedagogia para estudar como ocorrem as relações interpessoais nestes ambientes. Além
da Escola, a Psicopedagogia está cada vez mais presente nos hospitais e empresas. Seu papel é analisar
e assinalar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma
instituição. Propõe e auxilia no desenvolvimento de projetos favoráveis às mudanças educacionais,
visando evitar processos que conduzam as dificuldades da construção do conhecimento.
O Psicopedagogo é o profissional indicado para assessorar e esclarecer a escola a respeito de diversos
aspectos do processo de ensino-aprendizagem e tem uma atuação preventiva. Na escola, o
psicopedagogo poderá contribuir no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como
causa apenas deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares, tais como:

 Organização da instituição
 Métodos de ensino
 Relação professor/aluno
 Linguagem do professor, dentre outros

Ele poderá atuar preventivamente junto aos professores:

 Explicitando sobre habilidades, conceitos e princípios para que ocorra a aprendizagem


 Trabalhando com a formação continuada dos professores
 Na reflexão sobre currículos e projetos junto com a coordenação pedagógica
 Atuando junto com a família/alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, apoiado em
uma visão holística, levando-o a aprender a lidar com seu próprio modelo de aprendizagem,
considerando que esses problemas podem ser derivados:
 das suas estruturas cognitivas
 de suas questões emocionais
 da sua resistência em lidar com o novo
 ou outra derivação que possa se apresentar.
DISLEXIA: ATENÇÃO E CUIDADO NO PROCESSO EDUCACIONAL

5/6/2008

“Quando leio, somente escuto o que estou lendo e sou incapaz de lembrar da imagem visual da palavra
escrita” - Albert Einstein

A dislexia é um transtorno específico da leitura, caracterizado por dificuldades de reconhecimento de


letras, decodificação e soletração de palavras. Tais alterações são decorrentes de um comprometimento
no desenvolvimento de habilidades fonoaudiológicas. A dislexia causa grande dificuldade na leitura e
problemas na escrita. Essas dificuldades provocarão prejuízos, desde a alfabetização infantil, até a idade
adulta e, por isso, merecem atenção especial de educadores e pais.
O diagnóstico deve ser feito por uma equipe multidisciplinar (psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo e,
se necessário, neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista, geneticista e pediatra). Juntos, esses
profissionais determinarão o que está comprometendo o processo de aprendizagem e farão o
encaminhamento adequado.
Fique alerta se a criança apresentar alguns desses sintomas:

 Atraso no desenvolvimento da fala e na linguagem;


 Fraco desenvolvimento na coordenação motora;
 Falta de interesse por livros impressos;
 Desatenção e dispersão;
 Dificuldades em copiar de livros e do quadro;
 Dificuldade na coordenação motora fina (desenhos, pinturas, etc.) e/ou grossa (ginástica,
dança, etc.);
 Desorganização geral - exemplos: constantes atrasos na entrega de trabalhos escolares e perda
de matérias;
 Confusão entre direita e esquerda;
 Dificuldades em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas, etc.;
 Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou sentenças longas e vagas;
 Dificuldade na memória de curto prazo, como instruções, recados, etc.;
 Dificuldade em decorar seqüências, como meses do ano, alfabeto, tabuada, etc.;
 Dificuldade na Matemática e no Desenho Geométrico;
 Dificuldade em nomear objetos e pessoas;
 Troca de letras na escrita;
 Depressão, timidez excessiva ou o “palhaço da turma”;
 Inventa, acrescenta ou omite palavras ao ler e ao escrever;
 Esquece aquilo que aprendeu em poucas horas, dias ou semanas;
 Tem mais facilidade ou só é capaz de transmitir o que sabe por meio de exames orais;
 Baixa auto-estima;
 Não gosta de ir para a escola;

É importante ressaltar que o fato de apresentar alguns desses sintomas não indica
necessariamente que a criança seja disléxica. Há outros fatores a serem observados.

Porém, com certeza, é um quadro que pede maior atenção e/ou estimulação.

As causas da dislexia são neurobiológicas e genéticas. A dislexia é herdada e, portanto, uma criança
disléxica tem algum pai, avô, tio ou primo também disléxico.
Quanto mais cedo identificados, menores serão os prejuízos acadêmicos e sociais aos quais a criança
estará exposta.
O tratamento é baseado em programas fonoaudiológicos associados à psicoeducação e as aulas de
reforço (caso haja prejuízos pedagógicos). O grau de melhora dependerá da gravidade dos sintomas e
das condições de estimulação e do apoio oferecidos à criança ou ao adolescente com dislexia.

Fonte de Pesquisa e sugestão de livro: “Transtornos Comportamentais na Infância e Adolescência” - Dr.


Gustavo Teixeira // www.dislexia.com.br

O QUE DISLEXIA

Entender como aprendemos e o porquê de muitas pessoas inteligentes e, até, geniais


experimentarem dificuldades paralelas em seu caminho diferencial do aprendizado, é
desafio que a Ciência vem deslindando paulatinamente, em130 anos de pesquisas. E com o
avanço tecnológico de nossos dias, com destaque ao apoio da técnica de ressonância
magnética funcional, as conquistas dos últimos dez anos têm trazido respostas significativas
sobre o que é Dislexia.
A complexidade do entendimento do que é Dislexia, está diretamente vinculada ao
entendimento do ser humano: de quem somos; do que é Memória e Pensamento-
Pensamento e Linguagem; de como aprendemos e do por quê podemos encontrar
facilidades até geniais, mescladas de dificuldades até básicas em nosso processo individual
de aprendizado. O maior problema para assimilarmos esta realidade está no conceito
arcaico de que: "quem é bom, é bom em tudo"; isto é, a pessoa, porque inteligente, tem que
saber tudo e ser habilidosa em tudo o que faz. Posição equivocada que Howard Gardner
aprofundou com excepcional mestria, em suas pesquisas e estudos registrados,
especialmente, em sua obra Inteligências Múltiplas. Insight que ele transformou em
pesquisa cientificamente comprovada, que o alçou à posição de um dos maiores
educadores de todos os tempos.
A evolução progressiva de entendimento do que é Disléxia, resultante do trabalho
cooperativo de mentes brilhantes que têm-se doado em persistentes estudos, tem
marcadores claros do progresso que vem sendo conquistado. Durante esse longo período
de pesquisas que transcende gerações, o desencontro de opiniões sobre o que é Dislexia
redundou em mais de cem nomes para designar essas específicas dificuldades de
aprendizado, e em cerca de 40 definições, sem que nenhuma delas tenha sido
universalmente aceita. Recentemente, porém, no entrelaçamento de descobertas realizadas
por diferentes áreas relacionadas aos campos da Educação e da Saúde, foram surgindo
respostas importantes e conclusivas, como:
que Dislexia tem base neurológica, e que existe uma incidência expressiva de fator
genético em suas causas, transmitido por um gene de uma pequena ramificação do
cromossomo # 6 que, por ser dominante, torna Dislexia altamente hereditária, o que justifica
que se repita nas mesmas famílias;
que o disléxico tem mais desenvolvida área específica de seu hemisfério cerebral lateral-
direito do que leitores normais. Condição que, segundo estudiosos, justificaria seus "dons"
como expressão significativa desse potencial, que está relacionado à sensibilidade, artes,
atletismo, mecânica, visualização em 3 dimenões, criatividade na solução de problemas e
habilidades intuitivas;
que, embora existindo disléxicos ganhadores de medalha olímpica em esportes, a maioria
deles apresenta imaturidade psicomotora ou conflito em sua dominância e colaboração
hemisférica cerebral direita-esquerda. Dentre estes, há um grande exemplo brasileiro que,
embora somente com sua autorização pessoal poderíamos declinar o seu nome, ele que é
uma de nossas mentes mais brilhantes e criativas no campo da mídia, declarou: "Não sei
por que, mas quem me conhece também sabe que não tenho domínio motor que me dê a
capacidade de, por exemplo, apertar um simples parafuso";
que, com a conquista científica de uma avaliação mais clara da dinâmica de comando
cerebral em Dislexia, pesquisadores da equipe da Dra. Sally Shaywitz, da Yale University,
anunciaram, recentemente, uma significativa descoberta neurofisiológica, que justifica ser a
falta de consciência fonológica do disléxico, a determinante mais forte da probabilidade de
sua falência no aprendizado da leitura;
que o Dr. Breitmeyer descobriu que há dois mecanismos inter-relacionados no ato de ler:
o mecanismo de fixação visual e o mecanismo de transição ocular que, mais tarde, foram
estudados pelo Dr. William Lovegrove e seus colaboradores, e demonstraram que crianças
disléxicas e não-disléxicas não apresentaram diferença na fixação visual ao ler; mas que os
disléxicos, porém, encontraram dificuldades significativas em seu mecanismo de transição
no correr dos olhos, em seu ato de mudança de foco de uma sílaba à seguinte, fazendo
com que a palavra passasse a ser percebida, visualmente, como se estivesse borrada, com
traçado carregado e sobreposto. Sensação que dificultava a discriminação visual das letras
que formavam a palavra escrita. Como bem figura uma educadora e especialista alemã, "...
É como se as palavras dançassem e pulassem diante dos olhos do disléxico".

A dificuldade de conhecimento e de definição do que é Dislexia, faz com que se tenha


criado um mundo tão diversificado de informações, que confunde e desinforma. Além do
que a mídia, no Brasil, as poucas vezes em que aborda esse grave problema, somente o
faz de maneira parcial, quando não de forma inadequada e, mesmo, fora do contexto global
das descobertas atuais da Ciência.
Dislexia é causa ainda ignorada de evasão escolar em nosso país, e uma das causas do
chamado "analfabetismo funcional" que, por permanecer envolta no desconhecimento, na
desinformação ou na informação imprecisa, não é considerada como desencadeante de
insucessos no aprendizado.
Hoje, os mais abrangentes e sérios estudos a respeito desse assunto, registram 20% da
população americana como disléxica, com a observação adicional: "existem muitos
disléxicos não diagnosticados em nosso país". Para sublinhar, de cada 10 alunos em sala
de aula, dois são disléxicos, com algum grau significativo de dificuldades. Graus leves,
embora importantes, não costumam sequer ser considerados.
Também para realçar a grande importância da posição do disléxico em sala de aula cabe,
além de considerar o seríssimo problema da violência infanto-juvenil, citar o lamentável
fenômeno do suicídio de crianças que, nos USA, traz o gravíssimo registro de que 40
(quarenta) crianças se suicidam todos os dias, naquele país. E que dificuldades na escola e
decepção que eles não gostariam de dar a seus pais estão citadas entre as causas
determinantes dessa tragédia.
Ainda é de extrema relevância considerar estudos americanos, que provam ser de 70% a
80% o número de jovens delinqüentes nos USA, que apresentam algum tipo de dificuldades
de aprendizado. E que também é comum que crimes violentos sejam praticados por
pessoas que têm dificuldades para ler. E quando, na prisão, eles aprendem a ler, seu nível
de agressividade diminui consideravelmente.
O Dr. Norman Geschwind, M.D., professor de Neurologia da Harvard Medical School;
professor de Psicologia do MIT - Massachussets Institute of Tecnology; diretor da Unidade
de Neurologia do Beth Israel Hospital, em Boston, MA, pesquisador lúcido e perseverante
que assumiu a direção da pesquisa neurológica em Dislexia, após a morte do pesquisador
pioneiro, o Dr. Samuel Orton, afirma que a falta de consenso no entendimento do que é
Dislexia, começou a partir da decodificação do termo criado para nomear essas específicas
dificuldades de aprendizado; que foi elegido o significado latino dys, como dificuldade; e
lexia, como palavra. Mas que é na decodificação do sentido da derivação grega de
Dislexia, que está a significação intrínsica do termo: dys, significando imperfeito como
disfunção, isto é, uma função anormal ou prejudicada; e lexia que, do grego, dá
significação mais ampla ao termo palavra, isto é, como Linguagem em seu sentido
abrangente.
Por toda complexidade do que, realmente, é Dislexia; por muita contradição derivada de
diferentes focos e ângulos pessoais e profissionais de visão; porque os caminhos de
descobertas científicas que trazem respostas sobre essas específicas dificuldades de
aprendizado têm sido longos e extremamente laboriosos, necessitando, sempre, de
consenso, é imprescindível um olhar humano, lógico e lúcido para o entendimento maior do
que é Dislexia.
Dislexia é uma específica dificuldade de aprendizado da Linguagem: em Leitura,
Soletração, Escrita, em Linguagem Expressiva ou Receptiva, em Razão e Cálculo
Matemáticos, como na Linguagem Corporal e Social. Não tem como causa falta de
interesse, de motivação, de esforço ou de vontade, como nada tem a ver com acuidade
visual ou auditiva como causa primária. Dificuldades no aprendizado da leitura, em
diferentes graus, é característica evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos.
Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de aprender; reflete a
expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até genial, mas que
aprende de maneira diferente...

Disgrafia é uma inabilidade ou atraso no desenvolvimento da Linguagem Escrita,


especialmente da escrita cursiva. Escrever com máquina datilográfica ou com o computador
pode ser muito mais fácil para o disléxico. Na escrita manual, as letras podem ser mal
grafadas, borradas ou incompletas, com tendência à escrita em letra de forma. Os erros
ortográficos, inversões de letras, sílabas e números e a falta ou troca de letras e números
ficam caracterizados com muita frequência... Ler mais sobre>

Discalculia - As dificuldades com a Linguagem Matemática são muito variadas em


seus diferentes níveis e complexas em sua origem. Podem evidenciar-se já no aprendizado
aritmético básico como, mais tarde, na elaboração do pensamento matemático mais
avançado. Embora essas dificuldades possam manifestar-se sem nenhuma inabilidade em
leitura, há outras que são decorrentes do processamento lógico-matemático da linguagem
lida ou ouvida. Também existem dificuldades advindas da imprecisa percepção de tempo e
espaço, como na apreensão e no processamento de fatos matemáticos, em sua devida
ordem...Ler mais sobre>

Deficiência de Atenção - É a dificuldade de concentrar e de manter concentrada


a atenção em objetivo central, para discriminar, compreender e assimilar o foco central de
um estímulo. Esse estado de concentração é fundamental para que, através do
discernimento e da elaboração do ensino, possa completar-se a fixação do aprendizado. A
Deficiência de Atenção pode manifestar-se isoladamente ou associada a uma Linguagem
Corporal que caracteriza a Hiperatividade ou, opostamente, a Hipoatividade...Ler mais
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Hiperatividade - Refere-se à atividade psicomotora excessiva, com padrões


diferenciais de sintomas: o jovem ou a criança hiperativa com comportamento impulsivo é
aquela que fala sem parar e nunca espera por nada; não consegue esperar por sua vez,
interrompendo e atropelando tudo e todos. Porque age sem pensar e sem medir
conseqüências, está sempre envolvida em pequenos acidentes, com escoriações,
hematomas, cortes. Um segundo tipo de hiperatividade tem como característica mais
pronunciada, sintomas de dificuldades de foco de atenção. É uma superestimulação
nervosa que leva esse jovem ou essa criança a passar de um estímulo a outro, não
conseguindo focar a atenção em um único tópico. Assim, dá a falsa impressão de que é
desligada mas, ao contrário, é por estar ligada em tudo, ao mesmo tempo, que não
consegue concentrar-se em um único estímulo, ignorando outros...Ler mais sobre>

Hipoatividade - A Hipoatividade se caracteriza por um nível baixo de atividade


psicomotora, com reação lenta a qualquer estímulo. Trata-se daquela criança chamada
"boazinha", que parece estar, sempre, no "mundo da lua", "sonhando acordada".
Comumente o hipoativo tem memória pobre e comportamento vago, pouca interação social
e quase não se envolve com seus colegas...Ler mais sobre>
UM POUCO DA HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA

Simaia Sampaio
Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em 1946, por J
Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes Centros uniam
conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, onde tentavam
readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no
lar e atender crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de serem
inteligentes (MERY apud BOSSA, 2000, p. 39).

Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as idéias sobre psicopedagogia


na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis brasileira) – encontra-se,
entre outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga francesa que apresenta
algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas
idéias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro
médico psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as primeiras tentativas de
articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução dos
problemas de comportamento e de aprendizagem (BOSSA, 2000, p. 37)

Esperava-se através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia, conhecer a


criança e o seu meio, para que fosse possível compreender o caso para determinar
uma ação reeducadora.
Diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem inteligentes, daqueles que
apresentavam alguma deficiência mental, física ou sensorial era uma das
preocupações da época.
Observamos que a psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo
inicialmente um caráter médico-pedagógico dos quais faziam parte da equipe do
Centro Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos.
Esta corrente européia influenciou significativamente a Argentina. Conforme a
psicopedagoga Alicia Fernández (apud BOSSA, 2000, p. 41), a Psicopedagogia
surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi em Buenos Aires, sua capital, a
primeira cidade a oferecer o curso de Psicopedagogia.
Foi na década de 70 que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de Saúde Mental,
onde equipes de psicopedagogos atuavam fazendo diagnóstico e tratamento. Estes
psicopedagogos perceberem um ano após o tratamento que os pacientes
resolveram seus problemas de aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios de
personalidade como deslocamento de sintoma. Resolveram então incluir o olhar e a
escuta clínica psicanalítica, perfil atual do psicopedagogo argentino (Id. Ibid., 2000,
p.41).
Na Argentina, a psicopedagogia tem um caráter diferenciado da psicopedagogia no
Brasil. São aplicados testes de uso corrente, “alguns dos quais não sendo
permitidos aos brasileiros...” (Id. Ibid., p. 42), por ser considerado de uso exclusivo
dos psicólogos (cf. BOSSA, p. 58). “... os instrumentos empregados são mais
variados, recorrendo o psicopedagogo argentino, em geral, a provas de inteligência,
provas de nível de pensamento; avaliação do nível pedagógico; avaliação
perceptomotora; testes projetivos; testes psicomotores; hora do jogo
psicopedagógico” (Id. Ibid., 2000, p. 42).
A psicopedagogia chegou ao Brasil, na década de 70, cujas dificuldades de
aprendizagem nesta época eram associadas a uma disfunção neurológica
denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período,
servindo para camuflar problemas sociopedagógicos (Id. Ibid., 2000, p. 48-49).
Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e tratados por
médicos na Europa no século XIX e no Brasil percebemos, ainda hoje, que na
maioria das vezes a primeira atitude dos familiares é levar seus filhos a uma
consulta médica.
Na prática do psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no consultório crianças
que já foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por
iniciativa da família, devido aos problemas que está apresentando na escola (Id.
Ibid., 2000, p. 50).

A Psicopedagogia foi introduzida aqui no Brasil baseada nos modelos médicos de


atuação e foi dentro desta concepção de problemas de aprendizagem que se
iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de especialistas em Psicopedagogia
na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, com a duração de dois anos (Id.
Ibid., 2000, p. 52).
De acordo com Visca, a Psicopedagogia foi inicialmente uma ação subsidiada da
Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como um conhecimento
independente e complementar, possuída de um objeto de estudo, denominado de
processo de aprendizagem, e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos
próprios (VISCA apud BOSSA, 2000, p. 21).
Com esta visão de uma formação independente, porém complementar, destas duas
áreas, o Brasil recebeu contribuições, para o desenvolvimento da área
psicopedagógica, de profissionais argentinos tais como: Sara Paín, Jacob Feldmann,
Ana Maria Muniz, Jorge Visca, dentre outros.
Temos o professor argentino Jorge Visca como um dos maiores contribuintes da
difusão psicopedagógica no Brasil. Foi o criador da Epistemologia Convergente,
linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da
integração de três linhas da Psicologia: Escola de Genebra - Psicogenética de Piaget
(já que ninguém pode aprender além do que sua estrutura cognitiva permite),
Escola Psicanalítica - Freud (já que dois sujeitos com igual nível cognitivo e
distintos investimentos afetivos em relação a um objeto aprenderão de forma
diferente) e a Escola de Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière (pois se
ocorresse uma paridade do cognitivo e afetivo em dois sujeitos de distinta cultura,
também suas aprendizagens em relação a um mesmo objeto seriam diferentes,
devido às influências que sofreram por seus meios sócio-culturais) (VISCA, 1991, p.
66).

Visca propõe o trabalho com a aprendizagem utilizando-se de uma confluência dos


achados teóricos da escola de Genebra, em que o principal objeto de estudo são os
níveis de inteligência, com as teorizações da psicanálise sobre as manifestações
emocionais que representam seu interesse predominante. A esta confluência, junta,
também, as proposições da psicologia social de Pichon Rivière, mormente porque a
aprendizagem escolar, além do lidar com o cognitivo e com o emocional, lida
também com relações interpessoais vivenciadas em grupos sociais específicos
(França apud Sisto et. al. 2002, p. 101).

A análise do sujeito através de correntes distintas do pensamento psicológico


concebeu uma proposta de diagnóstico, de processo corretor e de prevenção,
dando origem ao método clínico psicopedagógico.

...quando se fala de psicopedagogia clínica, se está fazendo referência a um


método com o qual se tenta conduzir à aprendizagem e não a uma corrente teórica
ou escola. Em concordância com o método clínico podem-se utilizar diferentes
enfoques teóricos. O que eu preconizo é o da epistemologia convergente (VISCA,
1987, p. 16).

Visca implantou CEPs no Rio de Janeiro, São Paulo, capital e Campinas, Salvador, e
Curitiba. Deu aulas em Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo,
Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu e muitas outras. (Cf.
BARBOSA, 2002, p. 14).
Muitos outros cursos de Psicopedagogia foram surgindo ao longo deste período até
os dias atuais e este crescimento não pára de acontecer o que indica uma grande
procura por esta profissão. Entretanto, é importante ressaltar, que esta demanda
pode proliferar cursos precários distribuindo diplomas e certificados a profissionais
inadequados. Esta proliferação se agrava mais ainda pelo fato da profissão não
estar ainda legalizada.
Existe, porém, em nosso país há 13 anos a Associação Brasileira de Psicopedagogia
(ABPp) que dá um norte a esta profissão. Ela é responsável pela organização de
eventos, pela publicação de temas relacionados à Psicopedagogia.
Devemos, portanto, escolher com muito cuidado a Instituição que desejamos fazer
o curso de Psicopedagogia. Tenho conhecimentos de cursos que no período do
estágio abandonam seus alunos sem a devida orientação.
Existe, em nosso país há 13 anos a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp)
que dá um norte a esta profissão. Ela é responsável pela organização de eventos,
pela publicação de temas relacionados à Psicopedagogia, cadastro dos profissionais.
Qualquer dúvida sobre o curso que deseja fazer procure a sessão da Abpp em seu
estado.
DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM: UMA ABORDAGEM
PSICOPEDAGÓGICA

Rosita Edler Carvalho

Introdução
O título deste trabalho já contém, em si mesmo, a mensagem de que o tema pode ser
examinado sob vários enfoques. Não se pretende, apenas, apresentar o elenco de
dificuldades na aprendizagem que os sujeitos experimentam e sim, com ênfase para a
abordagem psicopedagógica, considerar o modo como elas serão analisadas e tratadas,
independentemente de sua manifestação ser na leitura, na escrita, na resolução de
problemas ou outra.

Inúmeras são as teorias para explicar a aprendizagem humana e qualquer bom livro
sobre o tema descreve o pensamento de vários autores que nos apresentam suas
concepções sobre o processo de aprender. Elas vão desde o comportamentalismo, que
prevaleceu no início do século passado, até o construtivismo que despontou no final do
século e ocupa, até hoje, lugar de destaque.

Dentre as teorias de aprendizagem foram destacadas, neste artigo, as behavioristas, as


cognitivistas, as da mediação e as humanistas. A importância de conhecê-las vai além
do enriquecimento da bagagem conceitual e das relações entre as idéias que apresentam,
pois, subjacentes a qualquer uma delas estão “sistemas de valores aos quais se pode
chamar de filosofias ou visões de mundo” (Moreira, 1999)1. Mudanças na ‘visão’
(concepção) de como a aprendizagem se dá acarretam mudanças nas explicações acerca
das dificuldades enfrentadas pelos alunos. E, dentre essas explicações, as da
psicopedagogia representam importantes contribuições, seja para compreender as
dificuldades, seja para propor a intervenção adequada.

O que se segue traduz um esforço de resumir cada um desses sistemas de valores,


buscando relacioná-los, sumariamente, com as contribuições dos teóricos que
escreveram sobre dificuldades de aprendizagem para, a seguir, contextualizar e
conceituar a abordagem psicopedagógica, objeto central deste texto.


Mestre em Psicologia, Doutora em Educação. Detentora da Medalha de Honra ao Mérito Educativo.
1
MOREIRA, M.A. Teorias de Aprendizagem. São Paulo. EPU, 1999.
Contextualizando a abordagem psicopedagógica a partir das concepções sobre
aprendizagem humana.
 Nas filosofias behavioristas, a aprendizagem pode ser observada (e mensurada)
pelos comportamentos manifestos pelos sujeitos, após terem sido estimulados,
intencionalmente.
Segundo esse paradigma, caso as condutas definidas nos objetivos comportamentais
não se manifestem é porque houve um problema, geralmente atribuído ao próprio
aprendiz, por algum déficit que apresente ou por sua incapacidade de reagir
adequadamente aos estímulos que lhe foram oferecidos. Nas explicações
behavioristas para as dificuldades de aprendizagem não há referências sobre o
funcionamento da mente ou sobre as emoções do aprendiz.

Serve como exemplo dessa filosofia a contribuição de Valett (1972)2 para quem “os
dados essenciais para a identificação de problemas de aprendizagem são obtidos a partir
da observação sistemática do desempenho de uma tarefa pelo aluno...” (p.1).

 Nas filosofias cognitivistas - das quais o construtivismo faz parte -, ao contrário


do comportamentalismo, toda a ênfase deve ser colocada nos processos mentais
superiores (percepção, processamento de informações, resolução de problemas,
compreensão, atribuição de significados, armazenamento de informações, uso
dos saberes construídos, etc.) que permitem aos sujeitos conhecer o mundo e
construir suas estruturas cognitivas, ou atualizar potenciais latentes.

As dificuldades de aprendizagem, segundo esse paradigma, podem ser explicadas pelas


limitações dos sujeitos em processar ou utilizar, adequadamente, as informações que
recebem do meio, mostrando-se como ‘incapazes’ de aprender, de compreender, de ler,
escrever, calcular, de conservar, reunir, ordenar, classificar, abstrair, etc.
Mesmo sem levar a extremos a contribuição das neurociências e, nelas, o papel do
cérebro,
alguns teóricos cognitivistas relacionam as dificuldades de aprendizagem a disfunções
cerebrais, enquanto que outros levantam hipóteses distintas e que se afastam das lesões
ou disfunções. Apelam para imaturidade, para o atraso no desenvolvimento de certas
habilidades como: as perceptivo-motoras; as responsáveis em manter a atenção seletiva;
2
VALETT,R.E. Tratamento de distúrbios da aprendizagem. S. Paulo: EPU, 1977.
a memória; o processamento das informações ou à existência de potencial intelectual
médio ou baixo, dentre outras habilidades.

Cabem aqui, algumas importantes ressalvas a respeito do construtivismo, erradamente


confundido como método e relacionado, unicamente, à epistemologia genética
piagetiana. Na verdade: (a) não existe um método construtivista e sim teorias
construtivistas segundo as quais os aprendizes são considerados como agentes da
construção do seu saber; (b) há outros pensadores que apresentam visões construtivistas
sobre a aprendizagem, além de Piaget, certamente o mais famoso e (c) tampouco é
correto pensar que as ações do sujeito sobre os objetos do conhecimento se reduzem a
manipulações e/ou a seus movimentos.

Em relação a estas duas filosofias de aprendizagem, segundo França (1996) 3, os


defensores da abordagem comportamental preferem a utilização da expressão distúrbio
de aprendizagem, enquanto que os construtivistas se referem a dificuldades de
aprendizagem, porque o distúrbio está mais ligado aos aspectos médicos e as
dificuldades estão mais relacionadas a fatores natureza psicopedagógica e/ou sócio–
culturais, extrínsecos ao aprendiz.

Reforçando esta concepção, cumpre citar a contribuição de Collares e Moyses (1992)4,


na medida em que esclarecem que a expressão distúrbios de aprendizagem, segundo a
etimologia do termo /distúrbio/, tem o significado de “anormalidade patológica por
alteração violenta na ordem natural da aprendizagem”, obviamente localizada em quem
aprende. Está implícito o sentido de anormalidade e de patologia que acarreta
comprometimentos no indivíduo, decorrentes causas orgânicas (na maioria
neurológicas). Trata-se de uma visão clínica, médica, que atribui o problema a uma
doença que acomete o aluno em nível individual e orgânico.

3
FRANÇA, C. Um novato na Psicopedagogia. In: SISTO, F. et al. Atuação psicopedagógica e
aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
4
COLLARES,C.A,L. e MOYSÉS. M.A.A. A história não contada dos distúrbios de aprendizagem.
Cadernos CEDES, No 28, Campinas: Papirus, 1993.
 Algumas breves referências à teoria da mediação que tem em Vygotsky (1988)5
sua expressão maior. Para este autor, diferentemente de Piaget que se referia à
“equilibração como princípio básico para explicar o desenvolvimento humano, o
desenvolvimento cognitivo não ocorre independente do contexto histórico,
social e cultural”...nem se organiza em estágios, pois o desenvolvimento,
incluindo-se os processos mentais, tem origem e natureza sociais (Moreira,
op.cit. p.109).

Segundo a concepção teórica de Vygotsky, parece-nos que as dificuldades de


aprendizagem podem ser explicadas segundo a lei da dupla formação, cuja explicação
é: no desenvolvimento dos indivíduos qualquer função mental aparece duas vezes,
primeiro em nível social e depois em nível individual. Em outras palavras, primeiro
entre pessoas (daí a importância da mediação) e depois no interior do próprio aprendiz
(pela internalização do conhecimento construído).

Com base nessas premissas, as dificuldades podem ser geradas desde fora do sujeito, na
mediação (que inclui a inadequação dos instrumentos ou signos utilizados) ou, ainda, no
interior do próprio aprendiz, devido a algum problema biológico ou conseqüência
psicológica das suas relações com o ambiente.

 Quanto à filosofia humanista, o aprendente é percebido como um todo,


valorizado em suas ações, em seu intelecto e em seus sentimentos, isto é, ele é
percebido como pessoa.
O professor americano Novak (1981)6, inspirado no humanismo e nas concepções de
Ausubel (1968) sobre a aprendizagem significativa, apresenta uma proposta mais ampla
chegando a formular uma teoria de educação, entendida como um conjunto de
experiências cognitivas, afetivas e motoras que contribuem para o ‘empoderamento’ do
sujeito.

Segundo Moreira (op.cit. p.168) “a premissa básica da teoria de Novak é que os seres
humanos fazem três coisas: pensam, sentem e atuam” e qualquer proposta de educação
com vistas à aprendizagem deve levar em conta esses aspectos. Do mesmo modo, ele

5
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes 1988
6
Novak, Joseph, D. Uma teoria de educação. Trad. de Marco Antônio Moreira. S.Paulo: Pioneira 1981.
refere-se a cinco elementos que estão intimamente envolvidos nos fenômenos
educativos: aprendiz; professor, matéria de ensino, matriz social e avaliação.

Numa tentativa de relacionar essas idéias com as dificuldades de aprendizagem parece


que, se ocorrem, é porque uma, duas ou as três ‘coisas’ que todos os seres humanos
fazem estão bloqueadas e/ou porque os elementos do fenômeno educativo
(isoladamente ou no seu conjunto) geram as dificuldades.

Feita essa breve revisão e lembrando-nos que a psicopedagogia tem ocupado um espaço
significativo tanto no processo de diagnóstico, como também na intervenção educativa,
cabe a pergunta: onde situar a abordagem psicopedagógica acerca do que sejam as
dificuldades de aprendizagem?

Sem que se possa localizá-la, exclusivamente, numa das filosofias sobre o processo de
aprender acima relatadas, parece-nos que ela mais se aproxima da concepção humanista,
na medida em que esta valoriza a pessoa, em suas todas as suas dimensões, sem
privilegiar qualquer delas como a mais importante.

Sob o enfoque psicopedagógico, as dificuldades de aprendizagem representam uma


questão extremamente complexa e, qualquer tentativa de explicação que atribua suas
origens a uma única causa, será insuficiente e falha.

Geralmente, as explicações unicausais encontram no aprendiz o lócus das dificuldades


e, de pronto, rotulam-no, seja como deficiente, retardado, disléxico, hiperativo,
desatento, preguiçoso, imaturo...

Não restam dúvidas de que estados emocionais graves, estados depressivos e de forte
ansiedade interferem no processo de aprendizagem, assim como transtornos de atenção
e de concentração, além das deficiências visuais, auditivas, e intelectuais, localizadas no
aluno. Mas, o que aprendemos na psicopedagogia é que a criança não é a única e
solitária responsável pelos problemas que enfrenta. Tampouco se justifica deslocar da
criança para seus pais, irmãos, para os professores ou para o sistema educacional a
responsabilidade por seu fracasso. Não é a busca de ‘ culpados’ que permitirá encontrar
as soluções.
As críticas que se fazem às teorias unicausais referem-se ao fato destas não
considerarem o conjunto de fatores que se dinamizam em torno do aprendiz e que, além
das pessoas com as quais interage inclui, também, o ambiente social, o ambiente escolar
e o contexto sócio-econômico e cultural em que se insere.

A mais significativa contribuição da abordagem psicopedagógica reside, portanto, em


nos mostrar as evidências de que as dificuldades de aprendizagem que levam ao
fracasso escolar não dependem de uma única causa e que, apenas conhecê-las não será o
bastante para resolver a questão.

Aprender e não-aprender dependem de um conjunto nada trivial de fatores que se


interligam, dinamizando aspectos subjetivos dos aprendentes e dos ensinantes além dos
fatores objetivos do contexto familiar e educacional escolar, incluindo-se nestes os
pedagógicos e as relações que se estabelecem entre pessoas e com os objetos do saber.

Dizendo de outro modo, sob a abordagem psicopedagógica, as dificuldades de


aprendizagem são analisadas sob a dimensão plurifatorial, implicando em
interdisciplinaridade, na medida em que várias áreas do saber oferecem conhecimentos
indispensáveis para entender a aprendizagem humana, quando bem sucedida ou não.
Muito além da reunião entre Pedagogia e Psicologia, como erradamente se supõe ser a
estrutura teórica da psicopedagogia, a psicanálise, a antropologia, a sociologia, dentre
outras áreas do conhecimento compõem o seu referencial de estudos.

Pedro Demo(1997)7 define a força e a importância da interdisciplinaridade:


[...] como arte do aprofundamento, com sentido de abrangência, para dar conta, ao
mesmo tempo, da particularidade e da complexidade do real. Precisamente porque este
intento é complexo, a interdisciplinaridade leva a reconhecer que é melhor quando
praticada em grupo, somando qualitativamente as especialidades. (p. 97-98).

Mas, para haver a interdisciplinaridade não bastam os múltiplos olhares, os múltiplos


saberes. Estes precisam ser compartilhados por meio de relações dialógicas nas quais as
falas do Outro, ainda que diferentes da minha fala, precisam ser ouvidas e reconhecidas
como contribuições que garantam o meu saber no saber do outro e vice-versa. O
conhecimento ‘ novo’ surgirá fortalecido porque constituído na interação.

7
DEMO, P. Conhecimento moderno. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
Para esclarecer a respeito do que se entende por abordagem psicopedagógica, considero
a contribuição da Dra Sara Paín (1989)8 uma das mais significativas. Partindo de
reflexões sobre o processo de aprendizagem humana, apresenta-nos ela quatro
dimensões do aprender: biológica, cognitiva, social e a função do /eu/.

Ela nos ensina que, no processo de aprendizagem coincidem um momento histórico, um


organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito, o que implica na
contribuição teórica do materialismo histórico, da epistemologia genética de Piaget e da
psicanálise freudiana e que dizem respeito, à ideologia, à operatividade e ao
inconsciente, respectivamente.Está aí o sujeito integral e integralizado no seu ambiente.

Sob a dimensão biológica, ele se traduz como corpo e organismo, com ênfase para seu
cérebro.

Na cognitiva e com base no desenvolvimento da inteligência segundo Piaget, o sujeito


epistêmico pode apresentar diferentes tipos de aprendizagem, destacando-se a estrutural,
porque está vinculada às estruturas lógicas do pensamento que permitem organizar a
realidade pela equilibração das estruturas cognitivas.

A dimensão social da aprendizagem é retratada como um dos pólos do processo de


ensino-aprendizagem, qualquer que seja o ensinante que veicule informações e cultura.
Cumpre destacar a sagacidade de Paín quando afirma que “a transmissão da cultura é
sempre ideológica, na medida em que é seletiva e é própria da conservação de modos
peculiares de operar e, portanto, serve à manutenção de estruturas definidas de poder”
(op. cit. p.18).

Quanto à aprendizagem como função do /eu/, ela implica nas pulsões e na dinâmica das
relações entre a realidade psíquica do sujeito e a realidade externa, gerando experiências
emocionais para a aceitação do real.

Com base nas dimensões do processo de aprender, a autora refere-se a um conjunto de


fatores que podem explicar os problemas de aprendizagem e que serão objeto de
considerações, no próximo item deste artigo.

Fatores que intervêm na aprendizagem


Os fatores que podem levar ao fracasso escolar têm sido examinados por vários autores
que
8
PAÍN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas,
1989.
os categorizam de diferentes maneiras. Neste texto apresento a contribuição de
Pamplona (2002)9, de Sara Paín(op.cit) e de Alícia Fernández (1991)10.

Pamplona considera que os fatores que podem levar ao fracasso (ou sucesso) escolar
podem ser divididos em: psicológicos, pedagógicos, neurológicos, oftalmológicos,
audiológicos, culturais, econômicos, fonoaudiológicos, lingüísticos e biológicos,
alertando que possibilitam uma visão ampla e total do ser humano, a partir de aspectos
individuais, isto é subjetivos articulados com fatores contextuais, objetivos.

Estudos e pesquisas evidenciam que, sob a influência do modelo médico de


conceituação das deficiências e incapacidades, prevalece a crença de que é, no terreno
individual, que se localizam as verdadeiras causas do fracasso. Se o aluno não aprende,
ele deve ter limitações decorrentes de alguns problemas pessoais, subjetivos, seja uma
lesão, seja uma disfunção que o incapacita ou outro problema, que exige diagnóstico
clínico.

Do elenco de fatores apresentados por Pamplona, sob a ótica do subjetivismo e na


unidirecionalidade de uma análise que considera o aprendiz como um ser a-histórico,
poderiam estar comprometidos os aspectos psicológicos, neurológicos, oftalmológicos,
audiológicos, fonoaudiológicos e biológicos do aprendiz, separada ou
concomitantemente.

Apesar das críticas que se fazem às teorias que ressaltam os fatores individuais, porque
não consideram as influências dos fatores externos como os pedagógicos, culturais e
lingüísticos, além dos sócio-econômicos, a maioria de nossos educadores ainda situa no
aprendente a única responsabilidade das dificuldades de aprendizagem que manifesta. E,
quando educadores ou familiares decidem procurar ajuda, a queixa, geralmente, vem
acompanhada de um pseudodiagnóstico traduzido por expressões do tipo: tenho quase a
certeza de que ele tem alguma deficiência e por isso não aprende; ou, tenho notado
umas reações esquisitas no fulano(a). Acho que ele (ela) é portador(a) de alguma
patologia. Também constam do anedotário: não sou médica, mas posso afirmar que
esse menino (a) tem a tal da hiperatividade, tão irrequieto e desatento que ele (a) é. Só
falta o laudo de um médico para confirmar o que penso ou “ já fiz de tudo para ele

99
PAMPLONA A. M. Distúrbios de aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica . 8ª Ed. rev. e
ampl. São Paulo, Edicon, 2002.
10
FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada. Abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua
família.2ª ed.. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
(ela) aprender, sem o menor resultado. Não posso fazer nada se ele for imaturo ou
doente e precisar de tratamento, pois eu sou, apenas, professora.

Certamente é bem mais cômodo localizar no aluno e apenas nele as dificuldades


manifestas, numa espécie de descompromisso e, como reação de Pilatos, lavando-se as
mãos.

De modo geral, as pessoas com dificuldades de aprendizagem ou com outras limitações


são representadas no imaginário social por suas ‘marcas’, tomando-se a parte pelo todo.
Valoriza-se a dificuldade e perde-se a Pessoa em sua dimensão de integralidade. Criam-
se os preconceitos e os estereótipos que desencadeiam discriminações, alicerçadas em
juízos de valor, geralmente dicotômicos e que inscrevem as pessoas nas categorias de
boas ou más, de melhores e piores, de contributivas ou dependentes e assim por diante.
As baixas expectativas em relação às potencialidades desses sujeitos também refletem o
imaginário coletivo inspirado, erradamente, na idéia da dificuldade de aprendizagem
como característica definitiva que os colocará, quando se tornarem adultos, como
cidadãos de segunda classe.

Ultimamente e pela crescente importância que tem sido atribuída ao modelo social de
conceituar as deficiências e as incapacidades, o foco tem se deslocado da subjetividade
para a objetividade, conferindo-se maior importância aos fatores decorrentes das
condições sócio-econômicas, culturais e pedagógicas que envolvem o aprendiz e que
são externos aos sujeitos.

Sem pretender banalizar ou negar as dificuldades de aprendizagem de origem


individual, endógena, o modelo social, que surgiu na década de 1960, desloca do
indivíduo para sua interação na sociedade a concepção das incapacidades, nem tanto
decorrente de condições pessoais, quanto resultantes do que experimenta, percebendo-se
e sendo percebido como alguém que não aprende.

Não se trata aqui de apelar para sentimentalismos ou para moralismos abstratos, sempre
em busca de culpados, permitindo que as pessoas com dificuldades de aprendizagem
saiam da condição de ‘vilãs, para assumirem o papel de ‘vítimas’, como num
movimento de libertação, concomitante ao de acusação aos fatores extrínsecos,
escolares ou sociais. A questão é muito mais complexa e vai exigir de todos nós
desalojar o estatuído para que possamos analisar a problemática fora da ótica binária: ou
indivíduo ou sociedade, nela incluída a família. Seria como criar uma segunda pele, em
substituição à que temos...

A abordagem psicopedagógica rompe com essa concepção binária (ou isso ou aquilo),
pela multiplicidade de focos que são valorizados, em suas incessantes e dinâmicas
interações. E, dentre os fatores externos, sem dúvida, os aspectos pedagógicos merecem
atenção especial, considerando-se a urdidura das relações de toda a ordem que se
estabelecem no interior das escolas, influenciadas pelo grau de satisfação pessoal e
profissional dos educadores, da valorização de seu papel social e de sua profissão, em
termos das condições em que trabalha e de seus salários, inclusive.

Passemos agora a sintetizar a valiosa contribuição de Paín (op.cit) que considera que a
não aprendizagem não é o reverso ou o oposto da aprendizagem e sim um processo
diferente. A dificuldade para aprender é um sintoma com uma função positiva tão
integrativa como a do aprender e que pode ser determinada por:

1. Fatores orgânicos, relacionados com a dimensão biológica, com ênfase


para o corpo que precisa ter integridade anatômica com bom funcionamento dos órgãos
dos sentidos, do sistema nervoso central e das glândulas. De modo sutil, a autora afirma
que, mesmo sem serem causa suficiente para explicar as dificuldades de aprendizagem,
são causa necessária, pois as perturbações orgânicas podem trazer como conseqüência,
dentre outros, problemas cognitivos mais ou menos graves.

2. Fatores específicos: mais relacionados à dimensão cognitiva, incluem


transtornos na adequação perceptivo-motora, não são passíveis de constatação orgânica,
mas podem manifestar-se na área da leitura, da escrita, na atribuição de significados, ou
na organização espacial e temporal, etc.

3. Fatores psicógenos: relacionados com a dimensão que considera a


aprendizagem como função de /eu/ e que pode explicar a diminuição das funções
implícitas no aprender ou a transformação dessas funções, gerando inibições na
aprendizagem ou sintomas de dificuldades, respectivamente. A não-aprendizagem
como sintoma supõe uma repressão de algo relacionado ao significado da operação de
aprender sendo, portanto, um fenômeno inconsciente. A inibição, por sua vez, traduz
uma retração intelectual do ego, provocando diminuição das funções cognitivas e que
acabam por acarretar problemas para aprender. Seguindo Paín a inibição aparece como
particularidade do fenômeno neurótico.
4. Fatores ambientais: relacionados à dimensão social, referem-se às
possibilidades reais que o ambiente oferece ao indivíduo em termos da quantidade e da
qualidade, freqüência e abundância de estímulos, facilitando ou não sua aprendizagem.

Passarei à contribuição de Fernández (op.cit.) que nos ensina que: “a partir do estudo da
patologia na aprendizagem, começam a ser encontrados os pontos de contato entre as
duas teorias que tratam separadamente a inteligência por um lado, e o inconsciente por
outro: a teoria de Piaget e a psicanálise (p.69).

Esta afirmativa explicita os dois eixos sobre os quais construiu sua valiosa contribuição
psicopedagógica: o construtivismo piagetiano e a contribuição de Freud e de seus
seguidores.

Justifica seu ponto de vista e aponta com clareza a abordagem da psicopedagogia


quando escreve (p.68-69):

“a um piagetiano que estuda o modelo normal de desenvolvimento da


inteligência, não se apresenta como inevitável a inclusão da afetividade, assim
como um psicanalista pode muitas vezes realizar sua tarefa sem encontrar-se
com a urgência de responder sobre temas que tenham a ver com a inteligência.
Porém um psicopedagogo, cujo objeto de estudo e trabalho é a problemática da
aprendizagem, não pode deixar de observar o que sucede entre a inteligência e
os desejos inconscientes”.
Inspirada em Paín, também considera as dificuldades de aprendizagem como sintomas
ou “fraturas” no processo de aprendizagem que podem ser examinados em quatro
níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, tanto para a aprendizagem bem
sucedida, quanto para as dificuldades que podem ocorrer ao longo do processo,

Para a autora, baseada em sua vasta experiência, o fracasso na aprendizagem, numa


primeira aproximação, pode ser atribuído a duas ordens de causas que podem sobrepor-
se: (a)as externas á estrutura familiar e individual do sujeito com dificuldades na
aprendizagem e (b) as internas à estrutura familiar e individual.

Tomando-se essas duas ordens de causas como base e sintetizando o pensamento da


autora temos:

1. As causas externas à estrutura familiar e individual originam dificuldades de


aprendizagem reativa, que afetam o aprender, mas não ‘aprisionam’ (bloqueiam) a
inteligência e, geralmente, surgem do confronto entre o aluno e a instituição
(particularmente a escola);
2. Quanto às causas internas à estrutura familiar e individual, originam sintoma e
inibição, “afetando a dinâmica de articulação entre os níveis de inteligência, o desejo, o
organismo e o corpo, redundando num aprisionamento da inteligência e da corporeidade
por parte da estrutura simbólica inconsciente” (p.82). Neste casos é requerida uma
intervenção psicopedagógica adequada, com vistas a libertar a inteligência e a facilitar a
circulação patológica do conhecimento no grupo familiar.

Em outras palavras, a inteligência e o desejo de aprender ficam prisioneiros, por razões


ligadas ao inconsciente do aprendiz, diminuindo ou anulando sua motivação (inibição)
ou transformando as relações entre significantes e significados, trazendo de volta o que
foi reprimido,mas com outra configuração. Com propriedade Paín afirma que o sintoma
alude e ilude ao conflito.

A aprendizagem e seus desvios, para Fernández, compreendem uma multiplicidade de


fatores que, isoladamente considerados, empobrecem a compreensão das dificuldades e
do sofrimento que gera para todos, aprendiz, família e educadores.

Muitas vezes a criança renuncia ao seu saber e assume modalidades de aprendizagem


que fogem aos padrões estabelecidos como normais, provocando na família (nos pais,
principalmente) e nos seus professores, diferentes reações. Lamentavelmente, a maioria
dessas reações, bem intencionadas, por certo, produzem efeitos perversos, complicando
as manifestações da natureza das dificuldades e contribuindo negativamente para a auto-
estima dos aprendizes.

Ao tratar da avaliação, Fernández aponta a utilidade de realizar diagnósticos diferenciais


(sintoma-inibição-problema de aprendizagem reativo-oligofrenia- oligotimia11) com
vistas à melhor compreender, para melhor encaminhar a intervenção requerida.

A abordagem da psicopedagogia, pela multiplicidade de olhares que se integram,


permite que educadores e familiares modifiquem suas atitudes frente às dificuldades de
aprendizagem de qualquer pessoa, analisando-as a partir da incessante dialética entre o
equipamento heredo-biológico, materializado num corpo e num organismo e os
ambientes nos quais o aprendiz vive e se constitui como um ser de desejos, de
pensamentos e de ações.
11
O termo oligofrenia tem sido usado para referir a deficiência mental, enquanto Oligotimia, termo usado
pelo Dr. E. Pichón Riviere para diferenciar das oligofrenias, aplica-se quando a criança tem seu
desenvolvimento emocional comprometido devido a carências afetivas, sem apresentar retardo mental ou
qualquer outra deficiência. Trata-se de uma dificuldade de natureza médica, educacional e social.
Finalizo este artigo com a contribuição de Scoz (1994)12, por considerar que sintetiza a
mensagem que tentei compartilhar:

(...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas


ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso
compreendê-los a partir de um enfoque multidimensional, que amalgame
fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos
dentro das articulações sociais. Tanto quanto possível, a análise, as ações
sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais
amplo de luta pela transformação da sociedade (p.22).
Espera-se que a abordagem da psicopedagogia permita melhor compreensão das
dificuldades de aprendizagem, sem penalizar os sujeitos, mas buscando-se a melhor
ajuda para todos.

12
SCOZ,B. A psicopedagogia e a realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Rio de
Janeiro:Vozes, 1994.

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