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4. A concepção de verdade
Não existe mais um fundo ontológico em relação a verdade, pois a realidade
é uma ilusão. Para o ultramoderno, a única verdade seria a ausência de verdade, o
único bem a ausência de bem, e assim por diante. Cada um tem a capacidade de
decidir sobre como viver, o que fazer, e assim por diante. A verdade passa a ser
interna a cada homem, não mais exterior e transcendente, pois cada homem possui a
verdade dentro de si (panteísmo) e faz parte de um todo (Holos) que se percebe
necessariamente no imanente.
5. A mentalidade imediatista
A ultramodernidade forma uma mentalidade imediatista no homem. O seu
lema é: "Aproveitar o máximo o presente e não se preocupa com o que vem depois,
que pode ser a morte”. Para o homem pós-moderno existe apenas um propósito
subjetivo: “acima de tudo experimentar fortes sentimentos de prazer, e
secundariamente evitar o desprazer”.
Enquanto a modernidade se baseia no ideal de trabalho (surgido
principalmente após a "Revolução Industrial"), que garantiria o futuro, e na
racionalidade científica, a ultramodernidade nega o interesse pelo futuro e procura a
sensibilidade ao invés da racionalidade.
6. O pacifismo consensual ultramoderno
Não havendo pelo que lutar ou o que defender (tudo é relativo, até mesmo
aquilo em que eu suponho acreditar), a Ultramodernidade gera uma sociedade
pacifista e consensual. Trata-se de um pacifismo onde todos não lutam pelo que
acreditam, ou não acreditam no que lutam, pois toda ideologia é falsa.
Não há uma objetividade de juízo sobre os seres, logo, não há como lutar por
coisas incertas, muito menos matar ou morrer por alguma coisa que não vale a pena.
7. A apatia política
No campo político-social, a ultramodernidade se traduz por uma profunda
apatia e desinteresse, explicado pela própria ausência de ideais, de verdades pelas
quais lutar, de ideologias, de certezas e objetivos.
8. O adeus a tradição e a autoridade
O homem ultramoderno não é mais o homem que sofre a ruptura entre o
passado e o presente, entre o ante e o depois, mas o homem que carrega em si
mesmo a ruptura como o mesmo de sua vontade. Será criador aquilo que rompe com
o passado.
9. A tecnologia
A tecnologia entra como elemento que proporciona a humanidade uma vida
melhor, está sempre superando a si mesma. As inovações que, antigamente, exigiam
o trabalho de várias gerações têm lugar atualmente em só geração. Através da
técnica o homem ultrapassa seus próprios limites, cria sempre algo que o ajude a
viver mais, a progredir na vida. Desse modo, a tradição se torna inútil, um monte de
lixo da história.
10. No campo religioso: Retorno ao Sagrado
Alguns propósitos e referências que guiaram a humanidade durante muito
tempo desapareceram nesta virada de século. A fé que tanta gente fazia na razão
humana para programar, projetar alternativas e resolver as grandes questões
humanas não satisfez as expectativas da grande maioria. Assim, deduz-se que o
projeto da modernidade – este período governado pela deusa ciência e pela técnica –
faliu. Por esse motivo, vive-se um momento caracterizado pela carência de projetos
concretos e coletivos. Já que não é possível encontrar respostas satisfatórias na razão
humana para resolver os dramas pessoais e coletivos, procura-se, então, na
experiência religiosa - marcada pela sua pluralidade - uma resposta eficiente para
compensar as crises existenciais.
Percebe-se, então, uma emergência do Sagrado, desde suas formas pagãs, até
as manifestações conservadoras e fanáticas. Essa busca é caracterizada pela
experiência emocional e pela valorização a subjetividade e tudo aquilo que diz
respeito aos sentimentos. É um retorno ao Sagrado, mas um sagrado que nega a
exigência da fé comunitária, os conteúdos doutrinais e as religiões
institucionalizada, colocando em destaque uma experiência pessoal extremamente -
epidérmica - íntima e sincretista, onde o culto a estética, ao corpo e a aparência é
uma constância. Trata-se de uma fé sentimentalista que acaba na própria
individualidade e que faz com que as pessoas provem todas as coisas, sem qualquer
tipo de distinção. A satisfação prazerosa é o princípio que justifica tudo o que se
faz.
O Sagrado vem sanar, em nível individual, as carências, necessidades e
feridas que a sociedade altamente tecnificada tem produzido: o horror de duas
guerras mundiais neste século, os artefatos bélicos atômicos capazes de destruir
várias vezes toda a vida no planeta, a péssima distribuição da renda a nível mundial,
com a espantosa diferença entre o assim chamado "primeiro mundo" e o "terceiro
mundo". E hoje, seja no "primeiro", como no "terceiro" mundo, a "globalização da
economia" que traz consigo o espectro do desemprego. Já não se pode confiar na
razão instrumental, técnica, científica, pois ela continua devastando a natureza,
destruindo a cada dia inúmeras espécies de vida, poluindo as águas, os ares, o solo e
o subsolo, desgastando os relacionamentos humanos. Enfim, impõem-se o medo, a
angústia, a falta de sentido, subprodutos do desenvolvimento. Entregue à frieza da
técnica, à carência de sentido, o homem reage buscando o oposto: a harmonia, a
emoção, a intuição, a razão fruitiva e comunicativa. Rasga-se então enorme espaço
para o surto religioso de todo tipo: esoterismo, promessas de curas, práticas de
ocultismo mágico, passagens pelo fogo, saunas hindus, a fé na virada do tempo para
uma Nova Era do homem aquariano. Assim, é místico também, se matar em nome
de um deus ou de uma verdade religiosa, como é justificável todos os problemas
pela religião.
Considerações Finais
A onda mística destes últimos anos reflete forte dose compensatória da
carência existencial. O olhar desvia-se do sagrado como valor absoluto em si e, por
isso, normativo, para concentrar-se no indivíduo necessitado de conforto. O sagrado
vem consolar, resolver os problemas imediatos. Portanto, o homem se volta para a
religião em busca de paz e de bem estar para resolver os seus problemas espirituais -
é uma maneira de compensar e preencher as lacunas do seu mundo vazio e solitário,
cheio de descrença e ilusão. Por esse motivo, muitos procuram experiências
religiosas mais adequadas ao novo contexto: esoterismo, astrologia, quiromancia,
cultos afros e seitas pentecostais, que obedecem a uma fórmula de muita emoção e
pouca razão. É um verdadeiro “mélange” ecumênico, onde cada um faz o que quer e
o que lhe agrada.
Por outro lado, a busca do Sagrado não é um fenômeno religioso tipicamente
negativo, pois demonstra a sede que todo homem tem de encontrar-se consigo
mesmo e com Deus. Alguns pontos merecem destaque, pois nos permite a valorizar
e a respeitar mais a subjetividade do indivíduo, rompendo com os esquemas
tradicionais; ajuda-nos, assim, a cultivar mais o elemento místico, através da oração
pessoal e da contemplação.
BIBLIOGRAFIA
CONTRIN, Gilberto. História e consciência do mundo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1993.
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética e racionalidade moderna. São Paulo: Loyola,
1993.
REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia. 2ª. ed. São Paulo: Paulus,
1991. Col. Filosofia.