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SISTEMA SOLAR

Denilton Carlos Gaio


Sistema Solar

LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA - UAB - UFMT

Cuiabá , 2011
Instituto de Ciências Exatas e da Terra (ICET)
Av. Fernando Correa da Costa, s/nº
Campus Universitário
Cuiabá, MT - CEP.: 78060-900
Tel.: (65) 3615-8737
www.fisica.ufmt.br/ead
Sistema Solar

Autor

Denilton Carlos Gaio


Instituto de Física / UFMT
C o p y ri g ht © 2011 UAB

Corpo Editorial

• D e n i s e Va r g a s
• C a r l o s R i n a l d i
• I r a m a i a J o r g e C a b r a l d e Pa u l o
• M a r i a L u c i a C a va l l i N e d e r

P r o j e t o G r á f i c o : Pau L o H . Z . A rru d a / E d uar d o H . Z . A rru d a


R e v i s ã o : D enise V ar g as
S e c r e ta r i a : N euza M aria J o r g e C abral
F elipe F o rtes

FICHA CATALOGRÁFICA

G142s Gaio, Denilton Carlos.


Sistema Solar / Denilton Carlos Gaio. Cuiabá: UFMT/UAB,
2009.

1.Ciências Naturais. 2.Sistema Solar. 3.Sol. 4.Terra.


5.Planetas. I.Título.

CDU - 523

ISBN: 978-85-67819-75-0
P r e fá c i o

O C E U P R E - H I STo R IC o

S e havia razões práticas para o homem pré-histórico dirigir seu olhar de modo sistemático ao céu
noturno, é difícil dizer. O que se sabe, e disso há registros, é que o fez. Na Inglaterra, no condado de
Wiltshire, ergue-se imponente um monumento megalítico1 da Idade do Bronze, conhecido como Stonehenge
– datado de 3100 a.C. (FIGURA 1). Esse círculo de pedras de 97,54 metros de diâmetro foi, provavelmente,
projetado para permitir a observação de fenômenos astronômicos, tais como os solstícios2 de verão e inverno
e os eclipses3 (Ronan, 2001).

Figura 1 - Observatório astronômico pré-histórico de Stonehenge – Inglaterra.


Fonte: Wikipedia, 2009a

O círculo de Goseck, na Alemanha, é o mais antigo instrumento de observação do céu da Europa e data
de 4100 a.C. (FIGURA 2), antes mesmo da invenção da escrita, que se deu na Mesopotâmia e no Egito, apro-
ximadamente, em 4000 a.C..
Essas construções talvez tenham sido erigidas apenas pelo fascínio ao céu estrelado, ou talvez para o culto
de deuses, mas não há como negar sua utilidade. Ao desenvolvimento da astronomia4 segue-se o do calendário
e o das atividades humanas que dele dependem, como a pesca e a agricultura. O céu estrelado é sempre fonte
de inspiração ao artista ou ao poeta que pode até ouvir estrelas.
1 Monumento pré-histórico feito de grandes blocos de pedra.
2 Solstício é a época do ano em que o Sol possui a sua maior declinação. Quando é ao norte (austral) temos solstício de verão no hemisfério norte. As noites
são curtas e os dias mais longos, e de inverno no hemisfério sul (noites longas e dias curtos). Quando a maior declinação solar é ao sul (boreal), dá-se o solstício de verão
no hemisfério sul e de inverno no hemisfério norte. Declinação solar de cada ponto sobre a superfície da Terra é o menor ângulo formado entre as direções vertical e
da posição solar (o que acontece ao meio-dia verdadeiro a cada dia). Já o equinócio é a época do ano em que se registra igual duração do dia e da noite. Pode ser de
primavera ou de outono. Quando é primavera no hemisfério norte, é outono no sul e vice-versa.
3 Eclipse: fenômeno em que um astro deixa de ser visível, totalmente ou em parte. Nos eclipses solares, a Lua se inter-põe entre o Sol e a Terra. Nos eclipses
lunares, a Lua deixa de ser iluminada ao colocar-se no cone de sombra da Terra.
4 Ciência que estuda os astros, isto é, os objetos celestes naturais. Sua constituição, posições e movimentos no céu.

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UAB| Ciências e Matemática | Origem
e Matemática do Universo
| Sistema |
Solar| VII
B
B
A A

(a) (b)
Figura 2 - Circulo de Goseck. No solstício de inverno, os raios de Sol entram pelos portões late-
rais (A e B) ao amanhecer e ao entardecer.
Fontes: (a) STORIAL, 2005; (b) WIKIPEDIA, 2009.

A indissiocibilidade entre o encantamento e a praticidade da ciência tem nos acompanhado e quando o


tema é o céu, não há limites. Esperamos que assim se dê com seu aprendizado sobre a Terra e o Sistema Solar.
Neste fascículo estudaremos o Sol e a dinâmica dos corpos que a ele orbitam. O estudo da astronomia tem se
revelado um espelho: quanto mais observamos o céu, mais entendemos o planeta em que vivemos. Deixe-se ar-
rebatar pelo fascínio de um céu estrelado e, ao mesmo tempo, procure desenvolver referenciais espaço-temporais
de localização da Terra no espaço e dos espaços sobre a Terra; da marcação do tempo e o entendimento das
forças que regem o movimento dos corpos do Sistema Solar.

Figura 3 – Céu estrelado – Tela do pintor holandês, Van


Gogh, de 1889. Pintava Vênus, e outros planetas, como es-
trelas com grandes halos amarelos.
Fonte: Esteves, 2001.

VIII
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Sumário

1. I n t r o d u ç ã o 1
2. Sol 11
3. C ar ac ter ístic as G er ais dos P l a n e ta s 19
4 . T e r r a 25
5. O s O u t r o s P l a n e ta s R o c h o s o s 53
6. O s p l a n e ta s g a s o s o s 61
7. P l a n e ta s anões 75
8 . P e q u e n o s C o r p o s 79
Conclusão 93
Referências Bibliográficas 95

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Sistema Solar| IX


1
I ntro duç ão

1.1. A T e r r a é esférica

O primeiro a propor a esfericidade da Terra foi Parmênides (514-450 a.C.) e a situou no centro
do Universo. Se acertou na sua forma, não foi por questões geométricas ou astronômicas, mas
sim por preferência à simetria e ao equilíbrio. Para os gregos, a esfera é a forma mais perfeita do Universo.
Para muitas crianças é difícil entender a esfericidade da Terra. Se a Terra é esférica, onde estamos
nós? Na superfície ou dentro dela? Se estamos sobre a superfície, por que quem está no hemisfério sul não
cai da Terra?5 Graças à gravidade, uma força que mantém a todos sobre a superfície do planeta.
Um fio de prumo define uma reta vertical na direção do centro da Terra porque o corpo
na ponta do fio é, para lá, atraído. Por isso nós não caímos da Terra e sim para a Terra. Todos
os corpos pesados6 ou graves, como eram chamados na antiguidade, caem em direção ao solo,
porque são atraídos pela Terra. Assim, esta força é chamada gravitacional porque age sobre os
“graves”. Os corpos que ascendem na atmosfera, como
a fumaça de uma fogueira, eram chamados de leves
A força gravitacional age sobre todos os cor-
pos. Uma bexiga cheia de gás também é atraída
pela Terra, mas sofre uma força para cima maior
que seu peso, devido estar “mergulhada” na atmosfera.
O nome dessa força é empuxo e foi estudada pela primeira
vez por Arquimedes, que, quando a entendeu saiu à rua
gritando eureka, que em grego quer dizer
descobri. Todos nós já a experimenta-
mos. Ao mergulharmos em uma piscina
com os pulmões cheios de ar, é fácil ficar
boiando na superfície da água.

Figura 4 - O sentido vertical para cima aponta (em todos


os pontos sobre a superfície da Terra) do centro da Terra
para as estrelas no alto de nossas cabeças.

5 Alguns modelos mentais alternativos sobre a forma da Terra


são resistentes e sobrevivem até no adulto (Vosniadou e Brewer,1992).
6 O correto é dizer: os corpos mais densos que o ar descem e os UAB| Ciências Naturais e Matemática | Sistema Solar|  1
menos densos que o ar ascendem na atmosfera.
A força gravitacional nos fornece uma primeira referência espacial: para cima e
para baixo (FIGURA 4) Como sabemos qual é a direção vertical e os sentidos para
cima e para baixo, mesmo de olhos fechados? Na nossa cabeça, no ouvido interno, há
um sistema de equilíbrio que funciona com base na força gravitacional (Na plataforma,
há uma leitura complementar a respeito desse sistema).
A Terra formou-se da aglutinação de matéria a partir do seu centro, devido a atra-
ção gravitacional, simetricamente em todas as direções. Assim, é também a gravidade,
que determinou a esfericidade da Terra.
Com estas certezas: a Terra é esférica e toda estaca inserida verticalmente no chão
apontará para o centro do planeta, Eratóstenes mediu o raio da Terra. Se tiver dúvidas,
reveja, no Fascículo 1 – Idade Antiga e Primitiva (PAULO, 2009), os detalhes dessa
impressionante medida realizada por esse grego, que viveu em Alexandria entre 275 e
194 a.C.
A força gravitacional modelou também outos astros: o Sol e a Lua também são
esféricos. Mais que isso: a força gravitacional é a interação entre os corpos celestes
responsável pela arquitetura do Universo: Galáxias, Nebulosas, Sistemas Es-
telares possuem a forma de discos, enquanto que estrelas, planetas e
satélites são esféricos. Foi Sir Isaac Newton quem formulou a
Lei da Gravitação Universal. O que é uma lei física? Segun-
do o Aurélio (2004), lei natural é uma “fórmula geral
que enuncia uma relação constante entre fenômenos
de uma dada ordem”. No caso, a lei da gravitação é
universal por ser uma regra que se aplica a todos os
corpos do Universo.
Para nós, atualmente, parece óbvio, mas
não era assim antes de Newton. Pensava-se que
os corpos abaixo da Lua tinham um comporta-
mento diferente daqueles que estavam acima da
Lua. No fascículo sobre a ciência na antiguidade
você pode acompanhar um pouco essa transição
da ciência aristotélica para a ciência newtoniana.

Figura 5 - Representação pictórica do campo gra-


vitacional da Terra. A direção radial e o sentido
convergente das flechas indicam a direção e o sentido
da força que a Terra exerce sobre os corpos. A intensidade
da força é representada pelo comprimento das flechas, isto é,
quanto mais próximo da superfície da Terra, mais intenso é o campo
gravitacional. [Créditos do autor]

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1. 2 . A T e r r a gira em torno do Sol

Se você pensa que antes de Copérnico (1473-1543),


toda a humanidade acreditava no geocentrismo, enganou-
se “redondamente”. Na antiga grécia, vários foram os sábios
que estavam certos de que a Terra gira ao redor do Sol e
sobre si mesma. Dentre eles, vale citar Pitágoras de Samos,
que viveu entre 580 e 500 a.C. Em sua cosmogonia, ���������
as estre-
las seriam imóveis; a Terra, a Lua, o Sol e os cinco planetas
giravam em torno de um fogo central, localizado no centro
do Universo. O número perfeito de dez esferas seria comple-
tado pela Antiterra, a qual, assim como o foco central não
se podia ver (MARTIN, 2009). Também Aristarco em 280
a.C. defendia o sistema heliocêntrico (PAULO, 2009)
Não apenas a Terra, mas um sistema com milhões de
objetos astronômicos giram ao redor de uma estrela alaran-
jada com 4,5 bilhões de anos. Desses objetos, os principais
Retrado de Copérnico, em
são os oito planetas e seus satélites, os cinco planetas anões atualmente conhe- Torun - Polônia, 1580
cidos, podendo chegar a uma centena; cometas e as nuvem de meteoros – todos
descritos neste fascículo. Qual a razão para que todos esses corpos mantenham-se uni-
dos, girando em torno de um ponto? A força gravitacional os mantém unidos. O Sol
está no centro do sistema desde a sua formação a partir da nebulosa primordial e tem a
maior concentração de massa também devido a força gravitacional.
Todos os corpos giram ao redor do Sol e em torno de si mesmos, como um peão.
Você pode perguntar: esses corpos, assim como o peão, vão parar de girar? A resposta
é: a velocidade de rotação está diminuindo. Todos os corpos estão dissipando a energia
cinética de rotação. Porém, muito lentamente.
O movimento de todos os corpos depende, sobretudo, da interação gravitacional
entre eles e, lógico, de suas velocidades, isto é, de suas energias cinéticas7. A partir da
Lei da Gravitação Universal e da informação dos períodos orbitais é possível determi-
nar sua posição em cada instante. Mas não foi assim que aconteceu com respeito ao
conhecimento humano. Primeiro foi necessário uma grande catalogação das posições
de cada astro no céu, até que Newton pudesse determinar essa lei do movimento (gra-
vitação). Essa história você já conhece um pouco: Baher, Kepler, Copérnico, Galileu e
Newton. Todavia, o primeiro capítulo deu-se na antiguidade com o advento do calen-
dário.

1. 3. C a l e n d á r i o

Ano é o período de tempo necessário para que a Terra dê uma volta em torno do
Sol. Se pudéssemos olhar de fora do Sistema Solar seria bem mais fácil cronometrar
as voltas que a Terra dá. Todavia, o calendário, esse sistema de contagem de tempo,
foi inventado com base no movimento aparente do Sol e das estrelas, sem empregar
qualquer teoria a respeito da posição do Sol e da Terra.
7 Além da energia, também os momentos, linear e angular, são grandezas físicas chamadas de condições dinâmicas do
sistema, pois regem o movimento de qualquer sistema de partículas. Isso você verá em um fascículo futuro.

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Os calendários podem ser lunares ou solares. Os primeiros sincronizam os meses
com os ciclos da Lua e os segundos sincronizam o ano com o ciclo do Sol. Há calen-
dários que combinam os dois anteriores, chamados Luni-Solares, e os arbitrários, para
os quais não há sincronias, nem com o Sol, nem com a Lua. A palavra calendário tem
origem no termo latino calendae que era a denominação do primeiro dia do mês roma-
no. No ocidente o calendário que utilizamos é chamado gregoriano, pois foi adotado a
partir de uma bula do Papa Gregório VII.

O P r i m e i r o C a l e n d á r i o

Foram os sacerdotes-astrônomos do antigo Egito, apesar do foco da astronomia


egípcia ser o entendimento da vida pós-morte, que elaboraram o mais sofisticado ca-
lendário do mundo antigo. Os documentos egípcios antigos que descreviam o céu,
continham uma representação puramente simbólica do universo, povoado por deuses
e deusas. No papiro Greenfield, como é chamado o papiro funerário da princesa Nesi-
tanebtashu, datado de aproximadamente 970 a.C., o céu, que é o corpo da deusa Nut
é sustentado pelo deus do ar, Chu, e embaixo o deus Geb, deitado de lado representa
a Terra. A pouca relação dos desenhos com o aspecto físico do céu revelam o real in-
teresse dos egípcios pela astronomia. As constelações, no entanto, eram usadas para se
determinar o movimento aparente do Sol através do céu no decorrer do ano.
Dado que o Sol percorre 360 graus em 365 dias, a cada dia, o Sol avança aproxi-
madamente um grau nesse movimento.

Figura 6 - Papiro Green-


field. Museu Britânico -
Papiro funerário da princesa
NesitanebtashRu, datado
de aproximada-mente 970
a.C. O céu, que é o corpo da
deusa Nut é sustentado pelo
deus do ar, Chu e embaixo o
deus Geb, deitado de lado
representa a Terra.
Fonte: Museu Britânico
(www.britishmuseum.org).

Existe um mito egípcio que podemos recorrer para lembrar desse fato. ���������
Shu e Te-
fnut, os filhos de Rá, geraram a deusa do céu (Nut) e o deus da terra (Geb). No início
dos tempos, quando o ano tinha 360 dias, céu e terra estavam unidos em um grande
abraço. Por ciúmes, o grande deus Rá lançou, sobre Nut, um castigo pelo qual a deusa

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não poderia procriar em nenhum mês ou ano: fez com que Chu (o ar) a se-
gurasse nas alturas com seus braços. Nut permitia que as estrelas passeassem
por seu ventre, para que pudesse ficar visível para Geb, o seu amado, e por
isso o céu é estrelado.
O deus Thot, que governa o tempo, em um jogo com a Lua, cujas fases
ritmam os dias e as noites, ganhou-lhe cinco dias, acrescentou-os aos trezen-
tos e sessenta dias do ano. Dessa forma Nut pode gerar filhos. No primeiro
dos novos dias nasceu Osíris, pai da humanidade.
O conhecimento do período exato que corresponde a um ano era de
fundamental importância para a economia egípcia regida sobretudo pelas
cheias anuais do Nilo. Os egípcios antigos observaram que “a inundação anu-
al do Nilo coincidia (...) com o aparecimento, antes da alvorada, no horizonte
oriental, de Sirius (conhecida pelos egípcios como Sotis), a mais brilhante
estrela do céu (...). Este nascimento helíaco8 de Sirius veio a se chamar ‘O
Iniciador do Ano’ e o calendário civil foi a ele associado” (Ronan, 2001:24).
Algumas construções egípcias monumentais alinhavam-se com Sirius. Cons-
truído em 54 a.C., o eixo sagrado do templo de Hathor em Dendera é dado
pela orientação de Sirius.
Thot, o deus da lua em sua
A observação do nascimento helíaco de Sirius, após alguns anos, per- forma com cabeça de íbis.
mitiria facilmente a determinação do ano de 365 dias. Porém, o ano solar Fonte: http://www.ancient-
egypt.org/index.html
exato é de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos, e o fato de os egíp-
cios ignorarem essas horas fazia com que o calendário se atrasasse aproxi-
madamente um dia a cada quatro anos. Hoje, nós sabemos como corrigir esse erro.
Basta introduzir um dia extra a cada quatro anos. Mas os egípcios não o fizeram e o
calendário civil gradualmente deixava de acompanhar as estações.
Além do calendário civil, havia o calendário lunar, em que o ano era dividido em
12 meses com 29 e 30 dias intercalados de modo a acompanhar, a cada dois meses, o
ciclo das fases da Lua de 29 dias e meio. Porém, tem-se assim apenas 254 dias. Acres-
centava-se um mês adicional de 11 dias a cada ano, ou de 22 dias a cada dois anos ou
ainda de 33 dias a cada três anos para se fazer coincidir os dois calendários.

Calendário Romano

O calendário romano data da fundação de Roma, cerca de 753 anos a.C. Inicia-se
com um ano de 304 dias, divididos em 10 lunações (ou meses). Foi Numa Pompílio,
segundo rei de Roma, quem fez a primeira reforma do calendário por volta de 713 a.C.,
baseando-se no calendário grego. Adicionou os meses de Januarius (29 dias) e Febru-
arius (28 dias), aumentando o seu tamanho para 355 dias, transformando-o em um
calendário luni-solar, mantendo os inícios dos meses coincidindo com os inícios das
fases da Lua. Para completar o ano solar, assim como os egípcios, adicionava um mês
extra, chamado Mercedonios, de 11 dias a cada ano, ou 22 dias de dois em dois anos.

8 Nascimento helíaco de um astro é o aparecimento (nascimento) simultâneo do astro e do Sol no horizonte leste.

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Os meses romanos são: Martius (em celebração ao deus Marte, pai de Rômu-
lo e Remo – o ano começava em 15 de março), Aprilis (Segundo a hipótese mais
plausível, tem origem em aphro, a espuma do mar – grego –, que deu origem a deu-
sa Aphrodite), Maius (deusa Maia), Iunius (deusa Juno – mãe dos deuses), Quinti-
lis, Sextilis, September, October, November, December (quinto a décimo mês),
Januarius (deus Jano de duas faces, representando o início e o fim) e Febru-
arius (mês dos festejos de fertilidade da deusa Februa, sobrenome de Juno).
Na Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Dias_da_semana), encontram-se os
significados dos nomes dos dias da semana. Era natural que os nomes dos dias
da semana na antiguidade fossem em homenagem aos deuses representados pelos
astros, afinal as senanas marcam as fases da Lua.
Os anos bissextos só foram introduzidos no ano 46 a.C em Roma, por Júlio César.
Adotou-se um ano solar de 365 dias, dividido em 12 meses de 30 ou 31 dias. Assim
como é hoje, a exceção é fevereiro que possui 28 dias ou 29 nos anos bissextos de 366
dias a cada quatro anos, de forma que o ano médio era de 365,25 dias. Júlio César
mudou o nome do quinto mês para Julius e, seu sucessor Otávio Augusto, nomeou o
sexto mês para Augustus em sua própria homenagem. Também cuidou para que agosto
tivesse o mesmo número de dias que o mês de julho.
Como o ano trópico é de 365,2422 dias – e não os exatos 365,25 – em 577, o equi-
nócio da primavera no hemisfério norte dava-se em 11 de março em vez de 21, como
tinha sido fixado pelo concílio de Niceia, para base da determinação da Páscoa. Em
1582, o papa Gregório XIII, aconselhado pelos mais esclarecidos astrônomos de seu
tempo, em especial, pelo astrônomo e médico de Verona, Luigi Lílio, obteve o acordo
dos principais soberanos católicos e, por meio da Bula Inter Gravíssimas, de 24 de feve-
reiro, decretou a reforma do calendário, que passou em sua homenagem, a chamar-se
gregoriano, utilizado até hoje no mundo ocidental.
“Esta reforma devia coordenar a duração do ano civil com a do astronômico, de tal
forma que os dias da mesma denominação, correspondessem, termo médio, às mesmas
temperaturas e que os trabalhos agrícolas pudessem ser sempre regulados pelas datas
do ano civil.” (Almanaque de Ciência Popular, 1956).

1. 4 . O S i s t e m a S o l a r e o e x p l e n d o r d o e s pa ç o s i d e r a l

Nos livros, as imagens do Sistema Solar mostram o Sol e os planetas com suas tra-
jetórias denotadas por uma linha curva, igual a da FIGURA 7. É uma linda imagem,
mas é claro que não é isso que vemos quando olhamos para o céu.
Da Terra, a olho nú, só vemos o Sol e a Lua; uma infinidade de estrelas, das quais,
cinco peregrinam no pano azul noturno, onde estão, todas as outras, fixas. São elas os
cinco planetas9 visíveis a olho nú: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.

9 A palavra planeta, em grego, quer dizer estrela errante, isto é, que se movimenta com relação ao fundo do céu.
Existem as estrelas fixas, que são realmente estrelas: grandes massas de gases em combustão atômica. A palavra sideral refere-se a
todas as estrelas, fixas ou errantes.

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São essas estrelas que formam as oitenta e oito constelações. O que são constela-
ções? São agrupamentos aparentes10 de estrelas. Os antigos astrônomos deram nomes
para elas de acordo com a semelhança com figuras de objetos, pessoas, animais ou
seres míticos. Sem luneta ou telescópio, é possível ver 1000 a 1500 estrelas em uma
noite escura. Cada estrela pertence a alguma constelação. Também podemos chamar
de constelação, a região do céu que esses agrupamentos de estrelas ocupam. Separar o
céu em porções menores nos auxilia a nos orientar. O Cruzeiro do Sul, por exemplo,
nos permite determinar a posição do Polo Sul Celeste. Além da direção vertical de-
terminada pela gravidade, temos duas outras orientações – essas, sobre a superfície da
Terra: norte-sul e leste-oeste. A rosa dos ventos é um instrumento de navegação, no
qual os pontos cardeais, isto é, as direções fundamentais, formam ângulos retos entre
si [FIGURA 8].
Assim como fazemos com a Terra, podemos, a partir do equador celeste, dividir
o céu em dois hemisférios: norte e sul.
Lu

Net u
a

Uran

no
Mar te

Plutão
Ter ra

Sat urno
Vênus
Mercú

Cometas
SOL

Júpiter
rio

Figura 7 – O Sol, seus oito planetas e Plutão, que até 2007, ainda era consi-
derado um planeta. Hoje, está na categoria de planeta-anão. Fonte: NASA

O equador celeste é uma prolongação do equador terrestre. De acordo com a


posição no céu, as constelações podem ser Austrais, quando estão no hemisfério sul
celeste, ou Boreais, no hemisfério norte. Algumas constelações estão no equador celeste
e são chamadas de equatoriais. Porém, treze constelações são especiais: Áries, Touro,
Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Serpentário, Sagitário, Capricórnio,
Aquário e Peixes. Com exceção do Serpentário, são conhecidas como zodiacais.
Os antigos povos do fértil do Nilo, da Mesopotâmia e do Mediterrâneo observa-
10 Duas estrelas podem estar distantes uma da outra, e parecerem muito próximas por estarem na mesma linha de
visada.

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ram que ao olharmos para o céu, encontramos o Sol, a Lua e os planetas sempre sobre
algumas dessas constelações. As constelações zodiacais formam uma faixa por onde
passa o Sistema Solar. Para esses povos, as luzes no céu são expressões dos deuses e
desta forma devem nos dizer alguma coisa. Assim pensavam e criaram a astrologia,
que pretende, a partir da posição dos planetas no céu, prever o futuro de pessoas ou
países11. O significado atribuído a cada constelação está relacionado com a época do
ano em que se dá o seu nascimento helíaco. As constelações são, portanto, não apenas
uma referência espacial, mas também temporal. A constelação de Touro, por exemplo,
marcava o início das chuvas no hemisfério norte, assim, o Touro em vários mitos gre-
gos está ligado às águas.
As relações Céu-Terra – presentes na cosmogonia12 de diversos povos – têm fun-
ção não apenas mítica, mas garantem explicações para fenômenos terrenos. Explanam,
sobretudo, as mudanças climáticas devido ao movimento aparente do céu (causado pelo
movimento periódico da Terra em torno do Sol). No artigo Sociedade e Natureza: da
Etnociência à Etinografia de Saberes e Técnicas, o físico Marcio Campos (1995: pp
48 a 51) relata o mito Kuikúru (Alto Xingu), do Caminho da Siriema, que trata das
mesmas estrelas principais do mito grego de Touro e do mesmo fenômeno climático: a
chegada das chuvas.

M i t o G r e g o : O R a p t o de E u r o pa

Europa, filha de Teléfassa e Agenor, rei da Fenícia, era tão bela e alva, que suspei-
tavam que uma das aias de Hera (Juno para os romanos) houvesse roubado a maquiagem
da deusa para dá-las a Europa.
Um dia, quando brincava à beira-mar com suas companheiras, Zeus a viu e se en-
cantou com sua beleza. Determinado a conquistá-la, transformou-se em um touro branco
de cornos semelhantes à Lua Crescente. Zeus deitou-se aos pés de Europa com um ar
doce e carinhoso. A princesa assustada, porém, encantada com o animal, ornou-o de
guirlandas e sentou-se sobre o seu dorso. Imediatamente, o touro lançou-se ao mar, che-
gando até a ilha de Creta.
Retornado à forma humana, Zeus “desposou” Europa, com quem teve três fi-
lhos. O Touro que seduziu Europa tornou-se uma constelação colocada entre os signos
do Zodíaco.
Os outros mitos referentes às constelações zodiacais podem ser encontrados em
livros de uranografia. O sítio Uranometria Nova (2009) contém suas versões mais co-
nhecidas (Oliveira, 2009). Esses mitos são fonte de interesse para os alunos e, portanto,
de motivação. O mito de virgem, em especial, é uma alegoria ao movimento orbital da
Terra.
11 Você já deve ter prestado atenção ao seu horóscopo. Por exemplo, “você que nasceu com Júpiter em Áries é um ser
otimista e extrovertido”. Algumas pessoas acreditam nessas previsões. Porém, não há qualquer trabalho científico que comprove
sua eficácia, o que também não proíbe ninguém de acreditar.
12 Palavra de origem grega que significa origem do universo. A cosmogonia de um povo é a sua forma de explicar a origem
do mundo.

8  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


M a q u e t e do Sistema Solar

Um instrumento didático importante para o entendimento do movimento, com


relação às estrelas fixas, dos planetas do sistema solar é a maquete13. Existem duas
possibilidades de construção da maquete. A primeira consiste de um anel com as ima-
gens das constelações zodiacais e, no interior do anel, o Sol (ao centro) e os planetas
desenhados em plaquetas ou representados por esferas suportadas por pequenas hastes
que saem de uma base que representa o plano da eclíptica14. Na plataforma há uma
explicação de como construir esse planetário.
Na FIGURA 9 há um esquema do mecanismo da segunda forma do planetário:
sistema de eixos e engrenagens de modo que as órbitas dos planetas, bem como as dis-
tâncias relativas, estejam em escala. Na FIGURA 10, tem-se a fotografia de um desses
planetários do século XIX.

Saturno e Urano e
Netuno e oito luas Marte e Jípter quatro luas
Vênus
uma lua Terra duas luas e nove
Lua
luas
Mercúrio
Sol

Manivela Mecanismo de Figura 10 – Planetário


engrenagens utilizado no séc. XIX para
o ensino da astronomia.
Fonte: LIPPICOTT, 1995.

Terra Eixo metálico móvel com


centro na Terra

Sol

Figura 9 – Esquema dos mecanis-


mos utilizados para demonstrar
o movimento da Terra e da Lua.
Eixo de madeira móvel
com centro na Terra

13 Há quem chame a maquete de planetário. De fato, planetário é um anfiteatro em forma de abóbada, dotado de
mecanismo de projeção do movimento dos astros.
14 Plano da órbita da Terra. Tem esse nome porque quando a Lua cruza este plano, podem acontecer os eclipses.

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1. 5. A n o I n t e r n a c i o n a l da A s t r o n o m i a : 20 09

Há 400 anos a única forma de se observar o céu era a olho nu. To-
davia, um homem revolucionou o modo de se observar o céu e, com isso,
mudou também o modo da humanidade ver o mundo e a si própria: o
italiano Galileu Galilei (1564-1642).
Galileu soube da notícia que, em outubro de 1608, o fabricante de
lentes holandês Hans Lippershey (1570-1619) patenteou um aparelho con-
stituído de uma combinação de lentes, que fazia com que objetos distantes
parecessem mais próximos. No mesmo ano, construiu seu próprio instru-
mento que aumentava nove vezes e, em 1609, construiu outro cujo aumento
Logotipo oficial do era cerca de 30 vezes. Com essa luneta, Galileu descobriu um universo
Ano Internacional da inimaginado para a época. Descobriu as crateras e montanhas da Lua; que
Astronomia a Via-Láctea, não era um gás ou um líquido espalhado pelo céu, mas se
consistia em milhares de estrelas e que o céu possuía muito mais estrelas do
que se podia ver a olho desarmado. A luneta de Galileu também revelou que os planetas
Mercúrio e Vênus apresentavam fases assim como a Lua. Segundo o próprio Galileu,
entretanto, seu maior feito foi a descoberta de “novos planetas” ao redor de Júpiter. Se
apontarmos uma simples luneta para Júpiter veremos quatro de seus satélites: Io, Euro-
pa, Ganimedes e Calisto. Esses são chamados de galileanos por terem sido descobertos
e nomeados por Galileu.
Na época, a discussão entre os defensores do heliocentrismo e os do geocentrismo
estava acalorada. A tese da Igreja é que o homem, criado à semelhança de Deus, deve
estar no centro do Universo, portanto, todo o Universo deve girar ao seu redor. A desco-
berta das luas de Júpiter colocava em cheque o geocentrismo.
Em março de 1610, Galileu publicou um pequeno livro: Sidereus Nuncius – “O
mensageiro das estrelas”, reunindo suas descobertas astronômicas.
A defesa que Galileu fez de suas ideias e do heliocentrismo, o levou a ser per-
seguido pela Igreja. No tribunal da Santa Inquisição, foi obrigado a abjurar suas ideias
e ficou em prisão domiciliar pelo resto de sua vida. Há uma lenda que diz que, ao se
levantar, após ter negado tudo que tinha defendido durante a vida, Galileu murmurou:
“E pur, si muove!” – “e, no entanto, ela se move!”, referindo-se à Terra. Morreu aos 78
anos em Florença, Itália, completamente cego, em 8 de janeiro de 1642 (Oliveira, 2009)
Para comemorar os 400 anos das primeiras observações de Galileu, a ONU de-
clarou 2009, o Ano Internacional da Astronomia.

10  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


2
Sol
“ Mas renova-se a esperança. Nova aurora15 a cada dia
E há que se cuidar do broto. Pra que a vida nos dê flor e fruto”.
Coração de Estudante - Milton Nascimento

N o centro do Sistema Solar há uma estrela: o Sol. Com idade de cerca de 4,5 bilhões de anos.
Sua massa é 333 mil vezes a da Terra (2 trilhões de toneladas). E seu diâmetro é 1.400.000 km,
que lhe confere um volume cerca de 1.300.000 vezes o da Terra e uma densidade média de 1,41 g/cm3. O
campo gravitacional é 28 vezes o terrestre.
No início do século XX, astrônomos do observatório de Harvard classificaram as estrelas de acordo
com sua luminosidade16.
O Sol caracteriza-se por ser uma estrela anã amarela com temperatura em torno de
6000 K ( .5723 ºC). Por isso, é considerada da classe espectral G2, com magnitudes17 aparente igual a
–26,86 e absoluta de + 4,71. A luminosidade da superfície é 4 x 1026 W/m2.
Na mitologia grega, é Hélios, o deus que tudo sabe e tudo vê. Filho do titã Hipérion e da titânia
Téia, é o mais belo e amável dos deuses, protetor da poesia, da eloqüência, das artes e da medicina. Ao
amanhecer, é precedido por sua filha Aurora. Diariamente transporta o carro do SOL para o alto dos
céus em sua carruagem puxada por seus quatro cavalos (Pyrois, Eos, Aethon e Phlegon) e, ao anoitecer, o
guarda atrás das montanhas. Cada mês, seu carro visita um dos doze palácios que compõem um círculo ao
redor da Terra – as doze casas zodiacais.

Alguns Dados Orbitais:


1. Rotação: nos pólos de 34 dias e no equador de 24 dias e 6 horas;
2. Inclinação do eixo em relação à eclíptica: 7º 15’
3. Posição na Galáxia: 28.000 anos-luz distante do centro da galáxia;
4. Revolução na Galáxia: 225 milhões de anos;
5. Velocidade na Galáxia (aproximadamente): 250 km/s;

15 O Sol é simbolo de vida e o seu nascimento, todas manhãs, é sinônimo da mais plena renovação.
16 Na plataforma, há conteúdo complementar sobre essa classificação.
17 Magnitude aparente de um astro é uma escala de comparação do seu brilho com uma estrela de primeira grandeza. Sirius, a alfa da constelação do
cão maior

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2 .1. C e n t r o d e m a ss a d o Sistema Solar

Devido a massa tão grande do Sol, todos os corpos do Sistema Solar giram ao seu
redor. Para ser exato, todo o sistema gira em torno de um eixo que passa pelo centro
de massa.
O que é o centro de massa? Vamos fazer uma atividade que nos permita observar
algumas das propriedades deste ponto especial de um corpo rígido. Prenda, nas ex-
tremidades de uma haste, duas esferas de massas diferentes. As esferas podem ser de
madeira, massa plástica, metal etc. Amarre um cordão no meio da haste (letra a). Po-
nha o sistema para girar em torno do cordão (para isso, basta, com a outra mão, torcer
o cordão). As trajetórias dos centros das esferas formarão dois círculos horizontais: um
sobre o outro (letra b).

Figura 11 – Observan-
do o centro de massa
[Créditos do autor] Há um ponto sobre a haste, em que o cordão a sustentará, no qual a haste ficará na
horizontal (letra c). Diz-se: o sistema está em equilíbrio. Posto o sistema para girar em
torno do cordão, os centros das esferas estarão sempre em um mesmo plano (horizon-
tal). Este ponto da haste, em que o cordão está preso, é o centro de massa do sistema
(CM). Se você, por exemplo, soltar o cordão da haste e atirar o sistema para cima, irá
observar que o sistema irá girar em torno desse ponto (letra d). Observa-se também que
quanto maior for a massa de uma das esferas, em comparação com a outra, o centro de
massa será mais próximo da esfera mais pesada.
Em resumo: (i) um sistema isolado (aqui no caso, sem o cordão) irá girar em torno
do centro de massa; (ii) o centro de massa está mais próximo da esfera de maior massa;
(iii) se a esfera de maior massa for grande o suficiente, o centro de massa poderá estar
no seu interior (à semelhança do que acontece com o sistema solar, no qual, o Sol pos-
sui 99% da massa de todo o sistema e, portanto, todo o sistema gira em torno de um
ponto muito próximo do centro do Sol).

2.2. Estrutura do Sol

O Sol em seu interior possui três camadas: núcleo, zona radioativa e zona con-
vectiva. No exterior solar, além da superfície (fotosfera), a atmosfera solar é dividida
também em duas camadas: cromosfera e coroa solar.

12  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Proeminências
Zona
O interior não pode ser observado de Convectiva

forma direta. O que se conhece é obtido


Zona
por meio de modelos teóricos ou observa- Radioativa
ções indiretas, principalmente por meio
da heliosismologia. A produção de energia
no núcleo faz com que existam ondas sís- Núcleo
micas18 percorrendo o Sol até a superfície.
Pode-se conhecer seu interior da mesma
maneira que o estudo sismos na Terra per-
mitem conhecer o interior do nosso pla-
neta.
A superfície solar é facilmente obser- Manchas
Labareda
Solares
vada, dada que a atmosfera solar é pouco
densa. Para se observar a atmosfera solar
Fotosfera
é necessário instrumentos especiais ou Coroa
aguardar-se um eclipse total do Sol, quan-
Cavidades da Coroa Cromosfera
do a Lua esconde a fotosfera revelando a
cromosfera e a coroa solar.
Figura 12 – Estrutura Solar
[Fonte: SOHO - Observatório Solar e Helio-
sférico - colaboração ESA – Agência Euro-
2 . 2 .1. N ú c l e o S o l a r péia Aeroespacial – e NASA – Agência Aeroes-
pacial dos Estados Unidos da América]
(Termos traduzidos pelo autor)
A grande quantidade de massa solar também deter-
mina que, no interior do Sol, haja uma fornalha atômica. O
livro “Colapso do Universo” do físico russo naturalizado norte americano, Isaac Asi-
mov (1982) é um bom título para quem quer entender um pouco mais sobre o grande
poder da força gravitacional. O peso das camadas sobre o núcleo solar é tão grande
que comprime átomos de hidrogênio contra átomos de hidrogênio, fundindo-os em
átomos de hélio19. Nessa fusão atômica sobra energia na forma de radiação gama 20 ,
que é irradiada para as camadas mais externas do Sol e posteriormente para o espaço
interplanetário.
O núcleo é constituído de 81% de Hidrogênio, 18% de Hélio e o 1% de outros
elementos químicos mais complexos, que servem como catalizadores nas reações
termonucleares. Em 1938, Hans Albrecht Bethe (1906-2005) nos Estados Unidos
e Karl Friedrich von Weizsäker (1912-), na Alemanha, simultânea e independente-
mente, descobriram um grupo de reações nucleares (atualmente chamada de cadeia
18 Ondas mecânicas (semelhantes ao som) que percorrem a Terra (ou outros astros, como o Sol), devido à liberação de
uma grande quantidade de energia em um ponto, foco do sismo.
19 O hidrogênio e o hélio são os dois elementos químicos mais simples que existem. O hidrogênio é composto de um
próton e um elétron ligados por forças elétricas, enquanto que o hélio possui um núcleo com quatro partículas (2 prótons e 2
nêutrons) e dois elétrons em sua eletrosfera. Próton é uma partícula elementar de carga elétrica +1, enquanto que o nêutron não
possui carga. Uma partícula alfa é o núcleo do átomo de hélio.
20 A luz, assim como todas as radiações eletromagnéticas, são a propagação dos campos de força elétrico e magnético
simultaneamente na forma de ondas. Ao conjunto completo das radiações eletromagnéticas dá-se o nome de espectro
eletromagnético. Radiação Gama é a faixa mais energética do espectro, com freqüências da ordem de 10-12 Hz.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  13


de Bethe), que transformam 0,7% da massa dos prótons colidentes em fótons21 de
alta energia. A energia produzida mantém o equilíbrio do núcleo solar: a pressão das
camadas sobre o núcleo é compensada pela pressão devida à expansão do gás a alta
temperatura, que chega a aproximadamente 15 milhões de kelvin 22.
Como acontece no núcleo de todas as estrelas, as altas temperaturas mantêm os
átomos totalmente ionizados. Essa matéria degenerada, chamada de plasma 23, é, no
caso do núcleo do Sol, composta basicamente por prótons (1H) – partícula elementar
de carga elétrica positiva, que são os núcleos de hidrogênio – e de partículas alfa (a)
– que são os núcleos de hélio – além dos elétrons (partículas elementares de carga
elétrica negativa) desses elementos químicos que vagueiam livres.

2 . 2 . 2 . Z o n a R a d i o at i va

Essa camada possui uma espessura aproximada de 350 mil km. Sua temperatura
cai de 7 mil kelvin (região próxima do núcleo) para 2 mil kelvin (região próxima da
camada convectiva). Apesar da grande variação de temperatura, não há movimento de
massas, de modo que a energia flui predominantemente na forma de radiação. Apesar
da luz no vácuo viajar à velocidade de 300 mil quilômetros por segundo, nesta camada,
a velocidade da luz é muito pequena. Um fóton de luz leva em média um milhão de
anos para atravessá-la.

2 . 2 . 3. Z o n a C o n v e c t i va

Com uma espessura de aproximadamente 200 mil km, a região convectiva ca-
racteriza-se pelo movimento do plasma. A
convecção se dá de maneira semelhante a que
Fotosfera ocorre com água em uma panela em um fogão.
Os gases mais quentes próximos à zona radioa-
tiva (2 mil K) ascendem até chegar à superfície
Zona Convectiva
solar que possui temperatura da ordem de 5800
K. Essa massa resfriada retorna ao interior so-
Zona Radioativa lar formando células de convecção: vórtices ou
redemoinhos, em que a matéria sobe, por estar
Núcleo mais quente que as camandas exteriores e de-
pois, ao esfriar, retorna ao interior do Sol.

Figura 13 – Ilustração esquemática mostrando os vórti-


ces de transporte de matéria na zona convectiva no inte-
rior do Sol.
21 Partícula elementar associada ao campo eletromagnético. É o “quantum” de luz, isto é, a quantidade mínima de energia
das propagações do campo eletromagnético.
22 Unidade de temperatura do Sistema Internacional, o kelvin recebeu este nome em homenagem ao físico e engenheiro
norte-irlandês William Thomson (Lorde Kelvin). O zero absoluto de temperatura (menor temperatura de um sistema físico)
coincide com a temperatura de 0 K (zero kelvin).
23 Plasma: é um estado da matéria similar a um gás, porém, devido às altas temperaturas, nele a matéria está degenerada,
isto é, os elétrons não estão ligados através das forças colombianas com os núcleos atômicos – como acontece na matéria ordinária.

14  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


2 . 2 .4. Fotosfer a

Acima da região convectiva encontramos a fotosfera, a camada visível do Sol.


Dada a sua temperatura de aproximadamente 5.800 K, a emissão da luz acontece com
maior intensidade na região da luz visível. A fotosfera é uma camada extremamente
fina (100 km de espessura) com uma densidade de 1014 a 1015 partículas por cm³. Po-
dem ser observadas diversas estruturas sobre a fotosfera:

(a) Grãos de arroz: a superfície solar apresenta-se granulada. Esses grânulos são
os topos das células de convecção. Possuem um diâmetro de 500 a 1.500 km,
com um curto período de vida (15 minutos);

(b) Fáculas: são regiões de tamanho variado, mais luminosas que a superfície so-
lar, e surgem em uma determinada região, geralmente antes do aparecimento
das manchas solares. São mais facilmente detectáveis nas proximidades dos
bordos do disco solar;

(c) Manchas Solares: regiões mais frias da superfície solar (4.000 K) que por-
tanto, parecem mais escuras e estão associadas a intensos campos magnéticos
ou perturbações desses campos. O total de manchas solares e da atividade
relacionada varia entre um mínimo e um máximo num ciclo de onze anos. As
manchas foram registradas na China já no ano 28 a.C. Seu estudo científico,
entretanto, iniciou-se com Galileu, que utilizava um telescópio para projetar
a imagem do Sol.��������������������������������������������������������
Sempre
�������������������������������������������������������
aparecem aos pares, onde, cada mancha correspon-
de a um pólo do campo magnético solar, o qual é aproximadamente 50 mil
vezes maior que o campo no pólo terrestre. São formadas por duas regiões: a
umbra, no interior da mancha, é bem mais fria que as partes que a circunda,
a penumbra.

(a) (b) (c)


Figura 14 - Fotografias da superfície solar (a) Imagem de alta resolução de uma mancha solar.
[Fonte: NSO/AURA/NSF] (b) Disco solar em 07.06.1992, apresentando algumas manchas solares
[fonte: NASA]. (c) Protuberâncias Solares [Fonte: http://ct1uttec.blog.com/1292140/]

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M i n i - I d a d e do Gelo

A Baixa atividade solar (presença de poucas manchas) está relacionada com períodos
de temperaturas mais baixas. Em 1684, o astrônomo real Inglês, John Flamsteed,
descreveu uma única mancha solar desde dezembro de 1676. O mais penoso frio
registrado no norte da Europa no milênio passado, coincidiu com o período de 1645 a
1715, conhecido por Mini-idade do Gelo ou “mínimo de Maunder”, pois o astrônomo
Maunder descobriu que praticamente não houve manchas solares neste período.

2 . 2 . 5. C r o m o s f e r a

A primeira camada da atmosfera solar é a cromosfera. Durante um eclipse total


do Sol, em que o disco solar fica obscurecido pela presença da Lua, aparece um arco
brilhante de coloração predominantemente alaranjada, motivo pelo qual é chamada de
cromosfera (cromus significa cor, em grego). A análise das raias de emissão indica a pre-
sença de cálcio, hélio e hidrogênio. Possui uma espessura de aproximadamente 2.000
km e sua temperatura aumenta de 6.000 K nas proximidades da superfície até acima
de 60.000 K. Os astrônomos supõem que esse fenômeno deve-se à parte da energia
que deixa a fotosfera ser acústica. Isto é, sai da fotosfera como um ruído, semelhante
ao que é produzido por água ao ferver. Ao atingir a cromosfera, essa energia sonora é
absorvida e transformada em energia térmica. Os gases nessa região são muito rarefei-
tos, de modo que a energia dissipada é suficiente para elevar a temperatura a dezenas
de milhares de graus. Outra explicação possível é o transporte da energia por meio de
campos magnéticos, que no Sol são intensos.
Existem algumas estruturas próprias da cromosfera, dentre elas, as protuberâncias
solares que são nuvens relativamente frias e densas de plasma que partem da superfície
solar quente em direção à fina coroa. Estas erupções podem chegar ao nosso planeta
e causar danos a satélites e outros dispositivos de comunicação. Para exemplificar, em
1994, tempestades solares causaram danos aos satélites de comunicação canadenses
Anik E1 e E2, e ao satélite da AT&T Telstar 1, de TV e dados. Cada satélite tem custo
acima de 100 milhões de dólares.

2 . 2 .6. Coroa Sol ar

A camada mais externa chama-se coroa solar. Sua


temperatura pode atingir milhões de kelvin. Com uma
densidade extremamente pequena, que diminui com a
distância do sol, a coroa se estende por todo o sistema solar.
É a camada do Sol vista nos eclipses solares totais, como o da
FIGURA 15.

Figura 15 - Eclipse solar de 1999 visto da França. Ob-


serva-se a coroa solar. [Crédito: Luc Viatour]

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Ve n to S o l a r

O Sol emite um fluxo contínuo, em todas as direções, de partículas carregadas:


elétrons e prótons. Detectado na década de 70 pela sonda 24 MARINER, o vento solar
foi previsto no final dos anos 50. A ação gravitacional do Sol não é suficiente para
deter as partículas que escapam de sua superfície com altas velocidades.
O vento solar está associado às linhas de campo magnético e estende-se para além
de Plutão. Como a atividade magnética solar é variável, a velocidade das partículas e
sua densidade também variam constantemente. O vento solar é o responsável pela cau-
da dos cometas e das auroras, boreal e austral, na Terra.

L u z do Sol

A energia que chega ao nosso planeta é apenas uma pequena fração da radiação
solar, isto é, da radiação eletromagnética emitida pelo Sol.
Praticamente todos os processos que acontecem na Terra são devidos a energia
solar. Com exceção de uns poucos seres vivos que utilizam energia geotérmica ou da
produzida em reações químicas provenientes de substâncias que emergem do solo, toda
a rede alimentar dos seres vivos é suportada pela luz solar, permitindo assim a existên-
cia do ciclo do carbono. A luz solar também é a responsável pelos ciclos do ar e da água.

At i v i d a d e
Faça uma interpretação da letra da música Luz do Sol (trechos abaixo), do compositor
baiano Caetano Veloso. Somente após isso, leia a interpretação, por nós sugerida na página
da plataforma.

1. Que a folha traga e traduz em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força, em luz...
2. Céu azul que venha até onde os pés tocam a terra e a terra inspira e exala seus azuis...
3. Reza, reza o rio. Córrego pro rio. Do rio pro mar. Reza correnteza.
4. Roça a beira. Doura areia...
5. Marcha o homem sobre o chão. Leva no coração uma ferida acesa. Dono do sim e do não, diante
da visão da infinita beleza... Finda por ferir com a mão, essa delicadeza. A coisa mais querida. A
glória, da vida...

24 Sonda espacial é um veículo espacial não tripulado contendo instrumentos de observação.

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2 . 3. O bs e r va ç õ e s do Sol

Sondas

As sondas pioneiras na observação do Sol, foram as Helios 1 e 2 lançadas em


1974 e 1976, respectivamente. Foi uma missão da República Federal da Alemanha em
conjunto com os EUA. A sonda Helios 1 levava 8 instrumentos e investigou o vento e
os campos elétrico e magnético solar. Helios 2 levava 11 instrumentos e chegou mais
próximo ao Sol, a apenas 44 milhões de quilômetros.
As sondas Ulisses e Soho, missões da parceria NASA-ESA, foram lançadas res-
pectivamente em 1990 e 1995. A sonda Ulisses estuda o vento solar. A sonda Soho,
colocada em um ponto de equilíbrio gravitacional entre o Sol e a Terra (chamado equi-
líbrio lagrangeano), possui 12 instrumentos científicos que enviam dados a respeito da
estrutura e da dinâmica interna do Sol, do vento e da coroa solares25.

O c u i d a d o pa r a a o bs e r va ç ã o a o l h o n ú

Evite a observação do Sol a olho nú, olhando diretamente para ele ou com a
utilização de superfícies refletoras ou equipamentos de aumento, sem filtros espe-
ciais. Principalmente, nos eclipses solares, quando há redução da luminosidade, a
observação direta torna-se ainda mais perigosa.
A imagem da FIGURA 16 mostra o dano à retina causado a um jovem inglês
que ficou cego (sem sentir dor), ao observar o Sol sem proteção adequada. A parte
brilhante da foto é o disco ótico e a área escura, a mácula, uma área rica em célu-
las especialmente capazes de detectar detalhes e cores, chamadas cones. A visão
periférica é realizada por células chamadas bastonetes, que estão concentradas na
periferia da retina e são capazes de detectar luz fraca, po-
rém não detectam cores. Por essa razão que a capacidade
de detectar luz fraca e periférica pode ficar intacta com a
mácula queimada pela luz solar. Exposições mais longas
que 15 segundos à luz solar direta já queimam a mácula.

Figura 16 – Dano à retina causado por exposição


[Fonte: http://astro.if.ufrgs.br/eclipses/olho.htm]

25 Se você deseja um relato detalhado da conquista do espaço, acesse a página do Grupo de Dinâmica Orbital e
Planetologia da UNESP, acessível em http://www.feg.unesp.br/~orbital/sputnik /sputnik.html. O livro “A Conquista do Espaço
do Sputnik à Missão Centenário” está à disposição para download. Para obter informações das missões da NASA acesse http://
www.nasa.gov/missions/index.html (em inglês).

18  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


3
C ar ac ter ístic as
G e r a i s d o s P l a n e ta s

3.1. A d e f i n i ç ã o at u a l

D esde que Galileu apontou sua luneta astronômi-


ca para o céu, foram descobertos muitos astros
no Sistema Solar. Além das observações terrestres, o lança-
mento de sondas e telescópios espaciais vem obrigando os
homens a redefinir esses objetos. Em 24 de agosto de 2006,
em Praga, a XXVI Assembleia Geral da União Astronômica
Internacional definiu que um planeta é um astro que:
(a) não seja uma estrela (não ter qualquer reação nu-
clear ou possibilidade de vir a ter reações nucleares
em seu interior), (b) esteja em órbita de uma estrela,
(c) tenha massa suficiente para ser esférico e estar em
equilíbrio hidrostático26 e (d) seja totalmente do-
minante na sua região, ou seja, que tenha limpa-
do a área em seu entorno, por acresção27 ou colisão.
As condições “a” a “c” são satisfeitas também
por Plutão e outros corpos. A quarta condição,
no entanto implica na existência de apenas oito
planetas no sistema solar.
Os planetas podem ser classificados em ro-
chosos ou terrestres (semelhantes à Terra) e gasosos ou
jovianos (semelhantes à Júpiter). São rochosos: Mercúrio, Vênus, Terra e
Marte. São gasosos: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno28.

26 Equilíbrio entre a força gravitacional aplicada na direção vertical e sentido do centro do astro e a força devida a
pressão em sentido contrário à força gravitacional, de modo que é nula a resultante sobre todas as partículas do astro.
27 Processo de crescimento de um astro pelo acréscimo de matéria devido à força gravitacional. A teoria da acresção,
proposta por Laplace em 1796, supõe a existência de uma nuvem primordial de gás e poeira. Esse material foi se agregando
ao centro formando o Sol e, posteriormente, em porções menores, em outros pontos formando os planetas.
28 Do extenso material didático disponível na internet, destacamos o resumo interativo em flash no endereço http://
www.ibge.gov.br/ibgeteen/atlasescolar/apresentacoes/universo.swf.

Figura 17 – Fotografia do Telescópio Espacial


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Hubble dos oito planetas do sistema solar. [Fonte: NASA]

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Temperatura
(Celsius) Os planetas terrestres são menores (diâmetro equatorial semelhante ao da Ter-
ra) e densos (massa específica da ordem de 5 g/cm3), enquanto que os jovianos são
grandes (diâmetro equatorial de 5 a 12 vezes o diâmetro terrestre) e pouco densos
(próximo a 1 g/cm3). A diferença fundamental da constituição desses dois tipos
deu-se na formação do Sistema Solar. As altas temperaturas devido à proximi-
dade do Sol impediram a acresção de material volátil aos planetas rochosos.
Diferentemente, o material volátil predomina nos jovianos, pois esses gases
Vênus
eram mais abundantes que o material rochoso na formação do Sistema Solar.

Mercúrio 3. 2 . A at m o s f e r a e a t e m p e r at u r a d a s u p e r f í c i e

A temperatura da superfície do planeta depende basicamente de sua dis-


tância ao Sol e de sua atmosfera. A temperatura média da Terra, desconsideran-
do a atmosfera é aproximadamente 260 K (13º C negativos).
Tendo a Terra como padrão, podemos estimar a temperatura média sem at-
mosfera dos planetas29: T = 260/ R . Em que R – distância do Sol ao planeta – é
dado em U.A.30
A atmosfera de um planeta pode alterar significativamente sua temperatura.
A análise espectral31 da luz solar refletida por um planeta, a qual atravessou parte
da sua atmosfera, permite determinar sua composição. As moléculas do gás na
atmosfera absorvem luz de comprimentos de onda específicos. O espectro da
Terra luz refletida pelo planeta apresentará, portanto, linhas escuras32 que não apare-
cem no espectro solar e permite identificar os gases que as produziram, assim
como a pressão e temperatura da atmosfera.
Marte A evolução da atmosfera de um planeta depende de sua massa e de seus
constituintes químicos, desde sua formação. Os grandes planetas, dada a força
gravitacional intensa, conseguiram reter o gás presente na época da formação
do Sistema Solar. Predominam gases leves, especialmente hidrogênio e
hélio.
Júpiter
Dos planetas terrestres, Mercúrio não possui atmosfera devido seu
fraco camplo gravitacional e sua proximidade ao Sol. As atmosfera de
Vênus, Terra e Marte não do material da formação do Sistema Solar.
Saturno
Suas atmosferas foram formadas ao longo do tempo a partir, prin-
cipalmente, de gases emitidos de seu interior. Dentre esses gases, os
Urano principais são: gás carbônico, amônia e vapor d´água.
A presença desses gases faz com que a temperatura aumente, de-
vido ao efeito estufa33. Dois planetas possuem efeito estufa significativo:
Netuno Terra e Vênus. A temperatura superficial de Vênus é maior que a de Mer-
(Os planetas não estão cúrio, embora esteja muito mais distante do Sol do que este. Na Terra,
em escala) a vida modelou nossa atmosfera, reduzindo a quantidade de dióxido de
carbono ejetado pelo vulcanismo.
29 A dedução dessa expressão encontra-se na plataforma.
30 U.A. (unidade astronômica) é a distância média Sol-Terra e equivale a aproximadamente 149598 mil
quilômetros.
Figura 18 – Temperatura média 31 Ao se fazer passar uma radiação eletromagnética por um prisma, essa se decompõe nas suas diversas
planetária. [Fonte: NASA] componentes. Pode-se assim observar quais freqüências estão presentes e quais estão ausentes em seu espectro.
(Tradução do autor). Na faixa do visível, a decomposição nos fornece as cores do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul,
anil e violeta.
20  | Ciências Naturais e Matemática | UAB 32 Aparece uma linha escura em um determinado ponto do espectro porque quando a faixa
correspondente foi absorvida pelo gás que a radiação atravessou.
Zona de água líqui da do Sistema Solar

A temperatura média do planeta Terra sem atmosfera estaria em torno de 13 ºC


negativos. Porém, certas regiões apresentariam condições de ter água líquida com tem-
peraturas entre 0 ºC a 40 ºC, em toda a faixa verde da FIGURA 19. Essa região é cha-
mada de zona de água líquida porque acima de 0 ºC há água líquida e abaixo de 40 ºC
não há degradação de proteínas. Alguns autores chamam de zona habitável, por ser a
existência de água líquida a condição mais importante para a vida como a conhecemos.

Marte Terra Mercúrio Vênus Zona Habitável

Figura 19 – Representação (fora de escala) da zona de água líquida do Sistema Solar.


Conhecida também por região habitável (faixa verde).

3. 3. P r o p r i e d a d e s : m a ss a e d i â m e t r o

Mercúrio Vênus Terra Marte Júpiter Saturno Urano Netuno


Diâmetro (1) 4878 12100 12756 6786 142984 120536 51108 49538
Massa (2) 0,055 0,815 1 0,107 317,9 95,2 14,6 17,2

(1) Diâmetro equatorial em km – observe que o menor planeta é Mercúrio e o maior é Júpiter,
seguido por Saturno. Com base nessa tabela, veja na plataforma o roteiro para a construção
de um móbile que pode decorar uma sala de aula.
(2) Massa em unidades de massa da Terra – note que os rochosos (Mercúrio, Vênus e Marte)
possuem menor massa que a Terra.

3. 4 . A s L e i s de Kepler do Movimento dos P l a n e ta s

Todos os corpos que orbitam outros (cometas que orbitam o Sol ou satélites, natu-
rais ou artificiais, em torno de planetas, desde que tenham órbitas fechadas34) obedecem
às leis de Kepler35:

33 Há uma atividade na plataforma a respeito do efeito estufa.


34 Órbitas elípticas e circulares são fechadas, enquanto que parábolas e hipérboles são abertas. Logo, em órbitas abertas,
o movimento não é periódico. Um cometa que possua uma órbita aberta passa próximo ao Sol, apenas uma vez. As leis de Kepler
tratam apenas de corpos que possuem órbitas fechadas, já a Lei da Gravitação de Newton também explica o movimento de objetos
com órbitas abertas.
35 Johannes Kepler (1571-1630), astrônomo alemão, descobriu as leis dos movimentos dos planetas.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  21


I. As órbitas são elipses nas quais o Sol ocupa um dos focos. Deste modo, existe
um ponto de maior aproximação (periélio) e de maior afastamento (afélio).
Para os planetas a diferença é relativamente pequena, sendo grande para co-
metas.
II. A linha que liga o planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais.
III. Os quadrados dos períodos de revolução dos planetas são proporcionais aos
cubos dos eixos maiores de suas órbitas.

Uma elipse é uma figura plana fácil de ser construída, conforme mostra a FI-
GURA 20: (a) pegue um pedaço de barbante com aproximadamente um metro de
comprimento; (b) fixe suas extremidades no quadro negro com uma distância de 60
cm (distância entre os focos); mantendo sempre o barbante esticado, trace a figura com
um giz.

t Figura 20 – Construção de uma elip-


A2
se no quadro negro usando apenas

um pedaço de barbante, fita adesiva e


A1 = A2
t giz. Para a=50 cm e b=40 cm (semi-ei-

A1 xos maior e menor, respectivamente),


Sol e = 0,6. [Créditos do autor]

Planeta

Uma propriedade da elipse pode ser obtida dessa técnica de construção: a soma do
comprimento dos raios vetores (distância do foco até a curva) é sempre constante (no
caso, igual ao comprimento do barbante: 1m).
A excentricidade da elipse, dada por e = 1 - ^ b/ah2 , determina se ela se
aproxima de uma circunferência (e=0; focos unidos) ou de uma reta (e=1; distância
focal máxima).

22  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


3. 5. P r o p r i e d a d e s o r b i ta i s

Mercúrio Vênus Terra Marte Júpiter Saturno Urano Netuno


Distância (1)
0,387 0,723 1 1,524 5,203 9,539 19,18 30,06
Órbita (2) 7° 3,4° 0° 1,9° 1,3° 2,5° 0,8° 1,8°

Revolução (3) 87,9d 224,7d 365,25d 686,98d 11,86a 29,46a 84,04a 164,8a

e(4) 0,206 0,0068 0,0167 0,093 0,048 0,056 0,046 0,010

Rotação (5) 58,6d -243d 23h56m 24h37m 9h48m 10h12m 17h54m 19h6m

Eixo (6) 0,1° 177° 23° 27’ 25° 59’ 3° 05’ 27° 44’ 98° 30°

(1) Distância média ao Sol em unidades astronômicas.


(2) Plano das órbitas: Todos os planetas orbitam em torno do Sol
em planos muito próximos, uns dos outros, de modo que o
Sistema Solar se assemelha a um grande prato. Os ângulos
aqui são medidos com relação ao plano da eclíptica, isto é, ao Mercúrio
plano da órbita da Terra. 0,1° Terra
23,5°
(3) Período de Revolução em torno do Sol, em anos (a) e em Vênus
dias (d). 177°
(4) Excentricidade da órbita – Mercúrio e Vênus são os planetas Marte
que possuem a órbita mais e menos excêntrica, respectiva- 25°
mente.
(5) Período de Rotação em dias (d), horas (h) e minutos (m). A
proximidade do Sol de Mercúrio e Vênus faz com que esses
planetas sejam freados em sua rotação. O período de Vênus
é negativo, pois é o único que gira no sentido contrário ao Júpiter
sentido de translação do Sistema Solar. 3°
(6) Inclinação do eixo. Observe na figura 21 as inclinações dos
eixos dos planetas com relação à perpendicular aos planos das
órbitas. Os eixos de Mercúrio e Júpiter quase não possuem
inclinação. O de Urano é quase perpendicular ao plano da
órbita.

Satuno
27°

Urano
98° Netuno
30°

Figura 21 – Inclinações dos eixos dos Planetas


UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  23
3. 6 . O s nomes dos P l a n e ta s

Terra primeiro pariu igual a si mesma


Céu constelado, para cercá-la toda ao redor
e ser aos Deuses venturosos sede irresvalável sempre.
Teogonia, Hesíodo

“A disseminação do conhecimento tende a seguir as vias do comércio e da guerra.


Quando os grandes impérios se expandiram, levaram consigo seus deuses, costumes
e cultura. As primeiras civilizações acreditavam que as estrelas e os planetas eram
governados por seus deuses. Os babilônios batizaram cada planeta com o nome do
deus que tinha mais atributos em comum com as características desse planeta. Os gre-
gos e os romanos adaptaram o sistema babilônico, usando os nomes de seus próprios
deuses. Todos os nomes planetários podem ser rastreados diretamente até os deuses
babilônicos dos planetas: Nergal tornou-se Marte e Marduk converteu-se em Júpiter”
(LIPPINCOTT, 1995).
O planeta Urano foi descoberto acidentalmente por Sir William Herschel (1738-
1822), músico e astrônomo amador, em 13 de março de 1781, quando catalogava, com
seu telescópio de 15 cm, estrelas de magnitude 8. Seu nome vem da mitologia greco-
romana. A partir de Marte, o deus da Guerra, temos seu pai Júpiter (Zeus para os
gregos). A seguir Saturno (Cronos), pai de Júpiter. Assim, Herschel escolheu Urano,
pai de Saturno, além de o planeta apresentar cor azul celeste. Os astros descobertos
posteriormente receberam os nomes dos irmãos de Júpiter: Netuno e Plutão (Poseidon
e Ades, para os gregos).
Vasta é a bibliografia que relata os mitos gregos e romanos. Para quem quer ter
acesso às fontes, os versos de Hesíodo em Teogonia relatam o surgimento do Caos e do
Cosmo (a desordem e a ordem); da Terra e do Céu (Gaia e Urano); de Júpiter e Saturno
(Zeus e Cronos) e podem ser encontrados em “Teogonia: a origem dos deuses”, estudo
e tradução de JAA TORRANO (1995).
Os deuses não emprestam apenas seus nomes, mas também suas características
aos astros correlatos. Mercúrio é o mensageiro dos deuses romanos, em especial de
Júpiter, seu pai. Possui sandálias aládas, o que lhe pe����������������������������������
rmitia ser muito rápido. Provavel-
mente por isso, o planeta Mercúrio recebeu seu nome: o mais rápido a se movimentar
no céu.
O nome da mãe Terra (Gaia, Gêia ou Gê para os gregos) é utilizado como prefixo
para designar as ciências relacionadas ao estudo do nosso planeta como, por exemplo,
geologia. O planeta anão Ceres recebeu o nome da deusa da agricultura; deusa da se-
meadura dos grãos, da qual surgiu a palavra cereal.
Os cometas levam geralmente o nome de seu descobridor. Neste século, os plane-
tas anões Makemake e Haumea também recebem nomes de deuses, porém não mais
da cultura greco-romana.

24  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


4
Te r r a
Na minha pobre linguage, a minha lira servage
Canto o que minha arma sente e o meu coração incerra,
As coisa de minha terra e a vida de minha gente.
Aos poetas clássicos – Patativa do Assaré36

E m português, o significado da palavra terra, não é único: é o terceiro planeta, em afastamento do


Sol (a Terra); o solo sobre o qual se anda, se planta, se colhe e se vive. É sinônimo de pátria, nossa
terra natal ou de nossos ancentrais. Traz a nós a forte emoção de pertencimento e confunde-se com a gente
que nela vive.
Há 6,4 bilhões de quilômetros, essa nossa casa, é apenas um “pálido ponto azul”, como vista em 14
de fevereiro de 1990 pela Voyager 1 (FIGURA 22a).
Rigorosamente a Terra é um esferóide rugoso. Esferóide porque tem a forma próxima de uma esfera, porém
é ligeiramente abaulada devido ao movimento de rotação que faz com que o diâmetro no equador seja maior
que o diâmetro nos pólos. A diferença é de 42,6 quilômetros entre os diâmetros. Isto equivale a 3 milionésimos
do diâmetro terrestre. Essa forma é chamada de geóide, porém, a Terra não é um geóide perfeito porque não é
lisa. A altitude do monte Everest, o ponto mais alto do planeta é cerca de um milésimo do diâmetro terrestre
(8850 m / 12735 km). É preciso se considerar que sua forma se altera em um período muito curto. As
marés fazem com que o diâmetro no equador altere-se aproximadamente 30 cm a cada doze horas sobre
o continente e mais de 2 m sobre os oceanos. Todavia, comparativamente, a Terra é uma esfera lisa, mais
esférica e lisa que uma bola de bilhar.

(a) (b)

Figura 22 – (a) A “Pálido Ponto Azul” é uma fotografia tirada a partir dos confins do
Sistema Solar pela Voyager 1, após ter completado sua missão principal. A Terra cir-
culada em azul, aparece em um raio de Sol. (b) Imagem da Terra construída a partir de
fotografias de um conjunto de satélites do NOA. A Terra é redonda. Fonte: NASA.

36 Poeta cearense Antônio Gonçalves da Silva (1909-2002). Texto extraído de livreto de cordel.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Sistema Solar|  25


4 .1. C o m o localizar um ponto
s o b r e u m a e s f e r a?

Como podemos localizar lugares sobre a Ter-


ra? Uma forma é o endereço postal. É bem prático!
Todos os locais do mundo pertencem a algum país,
estado ou província, município, bairro ou distrito,
etc. Prático para o serviço de postagem, todavia,
não o é para se entender as diferenças de clima, ve-
getação, insolação.
Figura 23 – Mapa da idade Uma outra forma é fazer um mapa e conside-
do bronze de Bedolina na rar não apenas as casas e os prédios de apartamento, mas também os morros,
Itália. Fonte: Oliveira, os campos, os rios, etc.
1971.
Os primeiros mapas datam da pré-história, isto é, mesmo antes do ho-
mem saber escrever, já sabia representar, com desenhos, a região onde morava. A FI-
GURA 23 mostra o impressionante mapa de Bedolina, no Vale do Pó, região do norte
da Itália, datado de metade do segundo milênio a.C. “No mapa, são vistos os homens,
o gado, a caça (veado), as casas, bem como os depósitos de cereais (casas menores); os
campos de cultura e sua distribuição que indica uma reunião de famílias, os caminhos
etc.; o sistema de drenagem, com o arrôio principal, na parte superior do desenho e,
o que é mais interessante ainda, o poço em cada campo de cultura, de cujo ponto flui
sempre um pequeno curso d’água” (Oliveira, 1971).
É impossível se fazer um mapa completo da Terra em folha de papel sem distorcer
a imagem, afinal a Terra tem a forma de uma esfera quase perfeita, enquanto que uma
folha de papel é plana. O processo de representar partes da superfície da Terra em uma
superfície plana chama-se projeção, o que permite representar a superfície terrestre em
uma folha de papel. Planisfério é a projeção de todo o globo terrestre. Existem diversas
formas de projetar uma superfície esférica sobre um plano: cilíndricas e cônicas. A mais
utilizada é a projeção cilíndrica conforme atribuída a Gerhardus Mercator em 1569, na
qual os ângulos das formas dos
continentes são mantidos idênti-
cos (na esfera e no plano), porém
as áreas são deformadas (FIGU-
RA 24). Por ser excelente para a
navegação e colocar a Europa no
centro do mapa (Eurocentrismo)
é a projeção mais utilizada. A
grande vantagem da projeção de
Mercator é que ela deixa os pa-
ralelos e os meridianos equidis-
tantes. Mas o que são paralelos e
meridianos?

Figura 24 – Carta do Mundo


de Mercator.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
26  | Ciências Naturais e Matemática | UAB Ficheiro:Mercator_1569.png
Coordenadas geográficas

Se imaginarmos um plano perpendicular ao eixo da Terra, que a corte em dois


hemisférios, isto é, em duas meias esferas, a linha de intersecção deste plano com a
superfície terrestre é chamada Linha do Equador ou simplesmente Equador (FIGU-
RA 25). O raio do Equador é cerca de 6378 km, o que corresponde um perímetro
de 40075 km. Nos equinócios de primavera e outono, o Sol estará no Zênite sobre
o equador. Isto é, quem mora sobre a Linha do Equador irá ver o Sol exatamente na
vertical, passando sobre sua cabeça.
Linhas, sobre a superfície da Terra, paralelas ao equador, tanto ao norte quanto
ao sul são chamadas de Círculos Paralelos ou simplesmente Paralelos. As que nascem
em um pólo e morrem em outro são chamadas de Meridianos.
A latitude de um lugar é a sua distância angular do equador. Todos os pontos
que estejam sobre a superfície da Terra em um Círculo Paralelo ao Equador terão a
mesma latitude. Destes, destacam-se o Trópico de Câncer a 23,45º Norte do Equador
e o de Capricórnio a 23,45º Sul. Outros paralelos importantes são os Círculos Polares
Ártico a 66,55º Norte e Antártico a 66,55º Sul. A importância desses círculos está
na marcação das regiões sobre o globo que possuem condições ambientais, de acordo
com as estações do ano.
A longitude de um lugar, por sua vez, é a distância angular de um lugar com
relação ao Meridiano de Greenwich (o primeiro meridiano). Este meridiano passava
sobre o Observatório Astronômico Real, localizado em Greenwich, um distrito da
cidade de Londres.
O observatório foi construído em 1794 e a aceitação do Meridiano de Greenwich
como referência mundial, deu-se n������������������������������������������������
a Conferência Internacional do Primeiro Meridia-
no, realizada na cidade de Washington D.C., nos Estados Unidos, em 1884.

Hemisfério
Norte

Sentido da
rotação
Primeiro Meridiano
0° de longitude

Equador
0° de latitude

Equador

Hemisfério Figura 25 – Paralelos e


Sul Eixo de
rotação Meridianos Terrestres.

Veja na plataforma um instrumento astronômico muito antigo: a esfera armilar. A


palavra latina armilla quer dizer argola. Esse instrumento permite ler as coordenadas
celestes de uma estrela em função das coordenadas locais.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  27


F u s o H o r á r i o

Toda criança sabe que quando no Brasil é dia, no Japão é noite e vice-versa. O Sol
ilumina todos os pontos da superfície da Terra, porém não ao mesmo tempo e nem com
a mesma intensidade. Para entendermos a convenção utilizada a respeito das horas do
dia, vamos considerar, durante o equinócio de primavera, dois pontos sobre a Linha do
Equador: a cidade de Macapá, Capital do Estado do Amapá (longitude aproximada:
51º O) e o monumento Quitsato no Equador (longitude aproximada: 70º). Agora é
meio-dia em Macapá. O Sol está a pino? Em Quitsato, que horas são e que horas marca
o relógio de Sol?
Antes de 1884, cada lugar escolhia a sua marcação de hora. A referência era o
meio-dia, no qual o Sol está mais alto no céu e algumas vezes exatamente sobre a
cabeça do observador.
Em 1883, a Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) adotou uma
única hora legal. Em 1884, apenas passado um ano, foi realizada a Conferência Inter-
nacional que padronizou o uso de um sistema internacional de fusos. São 24 faixas ou
fusos horários centrados nos meridianos das longitudes múltiplas de 15 graus a contar
do Meridiano de Greenwich. A lógica é muito simples: o Sol leva exatamente 24 horas
entre um nascer e outro seguinte (dia civil). Logo, ele percorre, em 24 horas, 360 graus
no céu, o que equivale a 15 graus a cada hora.
Porém, as linhas que separam os fusos horários não seguem exatamente os me-
ridianos, ajustam-se ao mapa político do planeta, como pode ser visto no mapa da
FIGURA 27.
(a) (b)

Figura 26 – Dois pontos sobre o Equador: (a) Estádio Zerão. A Linha do Equador corta o estádio ao meio. Fonte: http://
www.skyscrapercity.com/show thread.php?t=632344. (b) A Linha do Equador passa exatamente sobre o monumento “Reloj
del Sol Quitsato”. As palavras Quitsa e To são da língua Tsafiqui (etnia Tsáchilas da costa equatoriana), significam meta-
de e mundo, respectivamente. Fonte: http://www.quitsato.org/espanol

Regressando às perguntas formuladas anteriormente. O Sol está a pino ao meio-


dia em Macapá? Não, porque Macapá (e toda a região em verde escuro no mapa da
América do sul) tem o mesmo horário civil (FIGURA 27) e o Sol estará a pino (marca-
do com um Sol no mapa) exatamente sobre o meridiano médio do fuso horário GMT+3

28  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


(em azul). O fuso é a faixa entre as linhas vermelhas, verticais sobre o oceano, porém
se ajustam ao mapa político. Essas linhas aparecem no mapa da FIGURA 28, distin-
guindo as regiões de cores diferentes. Em Quitsato são duas horas da tarde porque está
no fuso GMT+5. Os horários solares locais são ligeiramente diferentes. A diferença
longitudinal da cidade de Macapá ao meridiano médio do fuso horário GMT+3 é seis
graus (51º- 45º). Se a cada hora corresponde quinze graus de distância longitudinal, a
seis graus corresponde 24 minutos (seis quinze avos de hora). Por isso que em Macapá
o Sol estará no Zênite às 12h24 nos equinócios de primavera e outono37.
Com base no meridiano que fica a 180 graus de Greenwich está a Linha Internacional
de Mudança de Data ou simplesmente Linha de Data. Se a leste desta linha é dia 31 de
dezembro, a oeste é o dia 1º de janeiro. Isto é, ao cruzar essa linha de leste para oeste soma-
se um dia no calendário. Ao contrário, ao passar de oeste para leste subtrai-se um dia.
Para ilustrar as diferenças de horários de cada lugar na Terra, transcrevemos
abaixo um dos trechos finais do memorável Volta ao Mundo em Oitenta Dias, de
Júlio Verne38:
Phileas Fogg tinha, “sem dúvida”, ganho um dia sobre seu itinerário – e isto uni-
camente porque tinha feito a volta ao mundo indo para leste, e teria, pelo contrário,
perdido este dia indo no sentido inverso, ou seja, para oeste.
Com efeito, andando para o leste, Phileas Fogg ia à frente do Sol, e, por conse-
guinte, os dias diminuíam para ele tantas vezes quatro minutos quanto os graus que
percorria naquela direção. Ora, temos trezentos e sessenta graus na circunferência
terrestre, e estes trezentos e sessenta graus, multiplicados por quatro minutos, dão
precisamente vinte e quatro horas — isto é, o dia inconscientemente ganho. Em ou-
tros termos, enquanto Phileas Fogg, andando para leste, viu o Sol passar oitenta vezes
pelo meridiano, seus colegas que tinham ficado em Londres só o viram passar setenta
e nove vezes. Eis porque, naquele dia, que era sábado e não domingo, como supunha
Mr. Fogg, eles o esperaram no salão do Reform Club. E é o que o famoso relógio de
Passeportout — que tinha sempre conservado a hora de Londres — teria constatado
se, ao mesmo tempo que os minutos e as horas, tivesse marcado os dias!39

Figura 27 - Fusos horários GMT+3 a GMT+5. A cidade de Macapá e o monumento Reloj del Sol estão marcados por
alfinetes verde e azul, respectivamente. Marcado com a imagem do Sol está o ponto sobre a superfície da Terra, onde
o Sol nos equinócios estará no Zênite quando for meio-dia civil em toda a região verde escura. Marcado com um
círculo vermelho preenchido em azul claro a posição em que o Sol estará no Zênite de duas horas depois. A linha
tracejada laranja e azul marca o meridiano no qual se baseia a divisão dos fusos GMT+3 e GMT+5. Porém, são as
linhas vermelhas que fazem essa divisão. [Créditos do Autor]

37 Veja na plataforma uma atividade de pesquisa sobre o assunto.


38 Baixe o livro completo no endereço http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_
action=&co_obra=3527.
39 Tradução para eBooksBrasil.com de Teotônio Simões

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  29


Figura 28- Planisfério com os fusos horários. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/e/e7/ Timezones2008.png. Acesse para obter em melhor resolução.

A s e s ta ç õ e s d o a n o

Inverno, primavera, verão e outono. Essas são as estações do ano. No inverno,


os dias são mais curtos que as noites, enquanto que, no verão, o inverso acontece. É
um erro comum associar-se o inverno, estação mais fria do ano, ao maior afastamento
da Terra com relação ao Sol. É só lembrar que quando é verão no hemisfério norte, é
inverno no hemisfério sul. Na seção 3.4 fizemos uma atividade que mostrava que um
disco em rotação mantém a direção do seu eixo de rotação. As estações do ano são
devidas a isso: o eixo de rotação da Terra mantém-se inclinado de 23,45º com relação à
reta perpendicular ao plano da eclíptica, durante o percurso de sua órbita.

Verão
Outono

Primavera
Inverno
Figura 29 – O eixo de rotação da
Terra mantém sempre a mesma dire-
40 Segundo o modelo de Safronov (1972). ção, a qual faz um ângulo de 23,7°
com a reta perpendicular ao plano
30  | Ciências Naturais e Matemática | UAB da eclíptica.
4.2. Estrutura da Te r r a

Há quatro bilhões e meio de anos, a condensação da nebulosa em resfriamento,


possibilitou a formação de pequenos corpos sólidos a uma temperatura de aproxima-
damente 1.700 K. A força gravitacional agregou esses pequenos corpos na formação
do protoplaneta. O aumento da massa promoveu a acresção de corpos maiores – pla-
netésimos – devido à ação gravitacional, até atingir o tamanho próximo ao atual40. O
estágio seguinte, de fusão planetária, deveu-se a energia da desintegração de grande
quantidade de isótopos radioativos, somada à energia liberada na colisão dos planeté-
simos. O resfriamento superficial permitiu a formação de uma crosta sólida, porém, as
camadas internas ainda mantêm grande parte da energia da formação, devido à crosta
ser péssima condutora calorífica. A existência de fontes de energia radioativas permite a
manutenção das altas temperaturas no interior do planeta. Assim, o material abaixo da
crosta é líquido, com exceção do núcleo interno, que é sólido devido às altas pressões.

4 . 2 .1. I n t e r i o r

Como se pode saber a respeito dessas camadas geológicas? Diretamente, por meio
de perfuração; analisando o magma que sai dos vulcões; a gravidade em cada ponto e o
campo magnético também revelam a estrutura do interior da Terra e, principalmente,
por meio da sismologia, isto é, estudando os terremotos.
Desde 1970, tem-se perfurado um poço na península de Kola, no Ártico Russo.
Em 1984, o poço já tinha 12 quilômetros de profundidade. A temperatura que aumen-
ta entre 30 a 40 graus Celsius a cada quilômetro perfurado e a pressão das camadas de
terra, que força o buraco a se fechar, são algumas das dificuldades da perfuração, de
modo que não se espera alcançar profundidade superior a 15 quilômetros. A pesquisa
revelou a existência de água a uma profundidade considerada anteriormente impossí-
vel. Também foi encontrada uma zona anômala de rochas metamórficas desagregadas,
abaixo do basalto, que ocorre a 9000 metros (Kozlovskii, 1984). A perfuração de poços
deve auxiliar a interpretação dos dados sísmicos.
Os tremores de terra, que causam tanta destruição na superfície, dão uma ótima
imagem do interior da Terra. As ondas sísmicas, ao se propagarem, variam de veloci-
dade e de trajetória em função das características do meio em que trafegam. É possível,
assim, supor, com base nas leis da física, sobre o estado dessas estruturas internas. As
diferenças de pressão e temperatura impõem diferenças de rigidez e de composição
química, o que implica em dois critérios de classificação das camadas, segundo a ri-
gidez (também chamado modelo físico) ou segundo a composição (modelo químico),
como mostra a FIGURA 30. A crosta é a camada mais externa da Terra. Sua espessura
varia de 10 a 35 km, alcançando 65 km de espessura, nas regiões montanhosas.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  31


Crosta Litosfera
Manto Superior Astenosfera
Manto Inferior
Mesosfera
Núcleo Externo

Núcleo Interno Endosfera

Figura 30 – Dois modelos da estrutura de camadas da Terra: (a) Baseado na composição mate-
rial e (b) baseado na rigidez do material do interior da Terra.

O Manto constitui aproximadamente 80% do volume do planeta. É grosseira-


mente homogêneo, dividindo-se em superior e inferior. Da profundidade de 2900 km
até o centro do planeta encontramos o núcleo com aproximadamente 1/3 da massa ter-
restre.  Sua alta densidade resulta da sua composição ser praticamente metálica (ferro
e níquel). Observa-se sua divisão em núcleo interno sólido onde as ondas propagam-se
bem e núcleo externo, onde são fortemente atenuadas devido ser uma camada líquida
de metal fundido. Veja detalhes das características de cada uma dessas camadas na
plataforma, assim como algumas atividades.

4.2.2. A superfície da Te r r a

A crosta terrestre não é uniforme. As diferentes irregularidades apresentadas na


crosta terrestre constituem o seu relevo. O relevo é a forma assumida pelo terreno,
que sofreu mudanças impostas pelos agentes internos e externos. Os agentes externos
ou erosivos são as chuvas, os ventos, rios, geleiras, o homem, etc. Os agentes internos
são as forças geodinâmicas que se originam do movimento das placas tectônicas (mo-
vimentos orogenéticos41, terremotos e vulcanismo). O relevo pode ser continental ou
submarino.
A lt i t u d e

Aproximadamente, três quartos da superfície terrestre são cobertos por oceanos.


Devido à força gravitacional, a água dos oceanos fica, em média, a uma mesma distân-
cia do centro da Terra. Este nível é denominado nível médio do mar ou simplesmente
nível do mar. As principais flutuações devem-se ao efeito de maré42.
41 Movimentos que determinam a formação de montanhas.
42 Causado pela força gravitacional da Lua sobre a Terra.

32  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Figura 31- A cordilheira
do Himalaia e o Planal-
to do Tibet. Em tons
castanhos, com vários
lagos profundos, em azul
escuro, o planalto tem
elevação média de 4880
m. Também conhecido
como o "Teto do Mun-
do", o Himalaia possui
as montanhas mais altas
do planeta, culminando
com o Everest (8850 m).
(fonte: NASA).

A altitude é a terceira coordenada geográfica. Corresponde à distância de um


lugar, em metros, medida na vertical, ao nível médio das águas do mar.
As formas do relevo dependem dos agentes modeladores que podem ser internos
ou externos. São exemplos de agentes internos o vulcanismo e os abalos sísmicos. As
geleiras, os ventos e o homem são exemplos de agentes externos. Há, na plataforma
material para leitura complementar sobre os diversos tipos de relevo, tanto continental
como submarino, bem como dados a respeito dos continentes e de sua formação no
decorrer das eras geológicas.

4 . 2 . 3. H i d r o s f e r a

A hidrosfera compreende toda a água da crosta terrestre, contida nos rios, lagos,
mares, águas subterrâneas e glaciais. A hipótese mais aceita da origem da água na
Terra é extraterrestre, tendo ocorrido em um período de constantes bombardeios de
cometas e asteróides ricos em água. Com uma massa aproximadamente de 1,38 x 1018
toneladas de oceanos e mares e 3,8 x 1016 toneladas de águas continentais, a hidrosfera
corresponde a cerca de 1/4400 da massa total da Terra.
Três são os oceanos do mundo. O Pacífico, o Atlântico e o Índico, com cerca de
189, 106 e 75 milhões de km², respectivamente. Os mares são porções desses oceanos
em parte contidas pelos continentes. O mais importante é o Mediterrâneo que banha
o sul da Europa, o Norte da África e o Oriente Médio.
Sobre os continentes correm rios, que formam as bacias hidrográficas definidas
como a região por onde correm um rio principal e seus afluentes. A água evapora de-
vido, principalmente, à energia solar. A atmosfera contém também grande parte da
água do planeta, a qual retorna à superfície na forma de chuvas, que irão formar os rios.
Esses últimos correm de altitudes maiores para menores, desaguando no mar, em lagos
ou outros rios que, finalmente, vão desaguar no mar. Esse ciclo, chamado hidrológico
ou da água é um pouco mais complexo, pois inclui as águas subterrâneas, as nevadas,
as geleiras, a transpiração das plantas e animais, etc.
O maior rio do mundo é o Rio Amazonas, em volume de água e em extensão
(6.992 km). O Rio Nilo é o segundo com 6.852 km de extensão. A Bacia Amazônica é
a maior do Mundo, assim como também a Floresta Amazônica é o maior ecossistema
do planeta.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  33


4 . 2 . 4 . A t m o s f e r a Te r r e s t r e

A atmosfera é uma camada de gases, de vapor d’água e de partículas sólidas mui-


to pequenas (aerossóis) que, devido ao campo gravitacional, envolve nosso planeta. É
relativamente fina: cerca de 99% da massa da atmosfera está contida numa camada de
aproximadamente 32 km de espessura (0,25% do diâmetro da Terra).
Se não houvesse atmosfera não haveria vida em nosso planeta. Ela age como um
escudo protetor da radiação solar ultravioleta; contém os gases necessários aos proces-
sos de respiração celular e de fotossíntese; permite o ciclo da água que a purifica e a
disponibiliza por toda a superfície do planeta; eleva a temperatura do planeta a níveis
adequados para manutenção da vida; reduz consideravelmente a queda de meteoritos
sobre a superfície, dentre outras propriedades.
A composição do ar seco e limpo é relativamente estável. Próximo ao nível do
mar a análise de ar registra a
seguinte composição aproxi-
mada: 78,08% de Nitrogênio,
20,95% de Oxigênio e 0,93%
de Argônio. O dióxido de
Carbono (CO2) está presente
na atmosfera com uma con-
centração de aproximadamen-
te 370 partes por milhão (ou
0,037%). Apesar da pequena
percentagem, sua importância
é enorme: é ingrediente essen-
cial à fotossíntese e ao efeito
Figura 32 – Composição do ar seco. A área à direita é uma ampliação da pequena
faixa do gráfico de pizza e representa a concentração dos gases minoritários: estufa. A concentração de to-
CO2, Neônio etc. (menos de 1% da concentração dos gases da atmosfera). Também dos os outros gases somados
há traços de óxidos de nitrogênio (NO, NO2 e N2O), monóxido de carbono (CO),
ozônio (O3), amônia (Nh2), dióxido de enxofre (SO2) e sulfeto de hidrogênio não ultrapassa 0,005%.
(H2S), dentre outros.
[Créditos do Autor]

Camadas da At m o s f e r a

A atmosfera terrestre, quanto à temperatura, divide-se em quatro camadas:


(1) Troposfera (do grego, tropos quer dizer movimento): é a camada mais próxi-
ma da superfície. O topo da troposfera está aproximadamente a 16 km de al-
titude, podendo variar, conforme a latitude, de 6 (pólos) até 20 km (equa-
dor). Nela que se formam as nuvens, os ventos, chuvas, relâmpagos, etc. Seu
aquecimento acontece a partir do solo. A superfície absorve radiação solar
e a irradia, aquecendo as camadas próximas de ar, que aquecem as imedia-
tamente acima, que transferem energia para a próxima camada e assim suces-
sivamente. Por isso, a temperatura na troposfera diminui de baixo para cima.

34  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


(2) Estratosfera: camada em que o
ar é bastante rarefeito (aproxi-
madamente 50 km de altitude
do topo da camada). É nela que
se concentra a maior quantida-
de de ozônio, sendo chamada
de camada de ozônio, ou ozo-
nosfera, contendo cerca de 90%
desse gás da atmosfera. Esse gás
absorve radiações ultravioletas,
nocivas aos organismos vivos.

(3) Mesosfera: camada em que o


ar volta a se esfriar, chegando a
-90 ºC em seu topo (estende-se
até 85 km de altitude). É nesta
camada que os meteoros se in-
cendeiam em sua entrada na at-
mosfera terrestre. Na sua base
está a camada (4) Termosfera:
camada de ar extremamente ra-
refeito que absorve fortemente a
radiação solar nas faixas do ul-
travioleta, raios X e gama, pela
presença do oxigênio atômico
e molecular, de modo que sua
temperatura pode chegar a 2000
K. Estende-se para além dos 650
km de altitude. Acima disso é
chamada de Exosfera. Figura 33 – Perfil da Atmosfera. Devido a diferenças na absorção e reemissão
da radiação solar, a temperatura diminui com a altitude, na troposfera e na me-
sosfera, e aumenta com altitude, na estratosfera e na termosfera. A densidade
no entanto cai exponencialmente com a altitude chegando a níveis muito baixos
no topo da estratosfera. A 100 km de altitude, na termosfera está a linha de
Karman, início do espaço astronáutico.
[Créditos do Autor]

Entre uma camada e outra, existem as “pausas”, camadas nas quais a temperatura
permanece constante antes da sua inversão.
A ideia de definir uma altitude, acima da qual está o espaço exterior, partiu de
Theodore Von Karman, físico húngaro-americano. Karman calculou que acima de 100
Km de altitude, o ar é tão rarefeito que não há como utilizar o efeito da diferença de
pressão sobre as superfícies das asas (como acontece com um avião) para manter a nave
em voo. A essa altitude a nave deve ter velocidade acima da sua velocidade orbital. A
linha Karman separa os espaços nacionais (aéreos) do espaço exterior (astronáutico).

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  35


P r e ss ã o at m o s f é r i c a

É a pressão (força por unidade de área) exercida pelo ar contra uma superfície. A
pressão atmosférica é medida, por meio de um equipamento conhecido como barôme-
tro, geralmente em unidades de atmosferas (atm), milímetros de mercúrio (mmHg),
quilopascal (kPa) ou milibar (mbar). O valor medido sofre influência da temperatura
e da umidade do ar, dentre outras variáveis meteorológicas. Ao nível do mar, a pressão
atmosférica é aproximadamente 1 atmosfera, o que equivale a 101,325 kPa ou 760
mmHg. Para se ter uma ideia, 100 kPa é equivalente à pressão exercida por um qui-
lograma de matéria em um quadrado de 1 cm de lado. A pressão atmosférica diminui
exponencialmente com a altitude, como mostra o gráfico da FIGURA 33.

4 . 2 . 5. A i o n osfe r a e o c am po m ag n é ti co da Te r r a

Basta uma pequena agulha magnética para se perceber que o planeta se comporta
como um ímã, que tem o pólo sul magnético próximo do pólo norte geográfico e com o
pólo norte magnético próximo ao sul geográfico. A agulha da bússola por interagir com
o Campo Magnético Terrestre - ���������������������������������������������������
CMT - é utilizada desde a antiguidade para orienta-
ção. Não apenas o homem, mas também os animais, como vários pássaros migratórios,
por exemplo, orientam-se pelo CMT.
A teoria do dínamo auto-sustentável é a mais aceita sobre como é formado o
CMT. Correntes de convecção no núcleo externo, bastante turbulentas por estarem
associadas à diferença de velocidade de rotação do núcleo externo e interno, produzem
correntes elétricas e por consequência um campo magnético intenso.
A interação do vento solar com o campo magnético terrestre gera estruturas cha-
madas cinturões de Van Allen (FIGURA 34), assim denominadas em honra ao seu
descobridor. Consiste em regiões com partículas de alta energia capturadas pelo CMT,
situadas a uma altura de 3.000 e 22.000 km sobre o equador. Essas regiões são compri-
midas no lado voltado para o Sol e alongadas no lado oposto, devido ao fluxo do vento
solar. A região de ionização (ionosfera) situa-se entre os cinturões (magenta) e é preen-
chida por um plasma ‘frio’ originário da interação do vento solar com a atmosfera. As
linhas vermelhas mostram o caminho traçado pelos raios, tal como a emissão de ondas
de rádio saindo da ionosfera. A potência da radiação é tal, que os cinturões são evitados
pelas missões espaciais tripuladas, dado que poderiam aumentar o risco de câncer nos
astronautas e prejudicar gravemente os dispositivos eletrônicos.

A u r o r a s bo r e ais e austr ais

As auroras boreais e austrais são fenômenos luminosos das noites polares. O vento
solar colide com átomos da alta atmosfera ionizando-os. O campo magnético terres-
tre canaliza as partículas ionizadas, para os pólos. Quando os íons se descarregam
emitem luz.

36  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


As auroras boreais de cores verde-amareladas e vermelhas são resultado do choque
do vento solar com átomos de oxigênio. As azuis se devem aos íons das moléculas de
hidrogênio.
Em homenagem à deusa romana do amanhecer Aurora e ao seu filho Bóreas, re-
presentante dos ventos nortes, Galileu Galilei batizou esse fenômeno que acontece no
pólo norte. Aurora austral foi o nome dado por James Cook, quando acontece no Pólo
ao Sul.
Até o fim dos anos 70, eram possíveis descrições incompletas do CMT a partir do
tratamento matemático dos valores registrados nos Observatórios Magnéticos. Atual-
mente, há um número significativo de satélites artificiais colocados em órbita terrestre
equipados com magnetômetros. Cita-se os satélites da série POGO (Polar Orbiting
Geophysical Observatory) e o satélite MAGSAT (MAGnetic field SATellite) que per-
mitem uma cobertura significativa do globo e uma precisão suficiente para uma descri-
ção das diferentes componentes do CMT.

Aurora Boreal

Figura 34 - O campo magnético


terrestre interage com o
vento solar.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  37


4. 2.6. Biosfera

A vida na Terra surgiu há cerca de 3,8 bilhões de anos. Por que no sistema solar
ela existe apenas na Terra? A base da vida são os átomos de Carbono, Hidrogênio, Oxi-
gênio e Nitrogênio. Todos os seres vivos têm moléculas com esses elementos químicos
formando proteínas. A energia solar além de permitir a existência de água líquida,
também fornece energia para os vegetais sintetizarem matéria orgânica. A temperatura
em nosso planeta também não é tão intensa que degrade as proteínas.
Os seres vivos dependem do meio ambiente e uns dos outros, inclusive o homem.
O termo Biosfera foi introduzido em 1875 pelo geólogo austríaco Eduard Suess, é o
conjunto de todos os ecossistemas do planeta. Inclui portanto parte da litosfera, da
atmosfera e da hidrosfera. Os seus limites vão dos fins das mais altas montanhas até às
profundezas das fossas abissais marinhas.
A grande dificuldade enfrentada hoje pelo homem é conciliar o desenvolvimento
tecnológico e o crescimento demográfico (hoje somos sete bilhões de humanos sobre a
Terra) com a finitude dos recursos naturais. Infelizmente, o avanço da ocupação huma-
na sobre os mais diversos ecossistemas, tem rompido o equilíbrio ecológico. A partir da
década de 1980 tem-se intensificado os esforços para minimizar a ação humana sobre
a biosfera terrestre.

A T e r r a é azul

Yuri Gagarin foi o primeiro ser humano a fazer um voo orbital. Nascido na loca-
lidade de Klushino43, região a oeste de Moscou, Rússia, parte da então União Soviéti-
ca, entrou para a escola de aviação militar de
Orenburg em 1955. Em 12 de abril de 1961,
Gagarin completou uma volta em órbita ao
redor do planeta. A missão que durou 118
minutos inaugurou a Era Espacial.
Lançada da base de foguetes de Baiko-
nur, Vostok I fez um voo totalmente automá-
tico. Após a reentrada na atmosfera, Gagarin
ejetou-se e desceu de paraquedas, como pla-
nejado. A 315 km de altitude, ao olhar pela
janela da nave, Gagarin constatou fascinado:
“A Terra é azul!”
Figura 35- Yuri Gagarin e a
cápsula em que efetuou sua ida Filhote do Filhote44
ao espaço. Jean/Paulo Garfunkel

Moro numa linda bola azul que flutua pelo espaço


Tem floresta e bicho pra chuchu, cachoeira, rio, riacho
Acho que é um barato andar no mato vendo o verde
Ouvindo o rock’n’roll do sapo ensaiando
43 Em 1968, após sua morte, foi rebatizada de "Gagarin" em sua homenagem. Informações obtidas
em http://pt.wikipedia.org/wiki/Iuri_Gagarin.
44 Um vídeo com essa música pode-se encontrar em
youtube.com/watch?v=MqkQPXR9FG4&feature=related.
38  | Ciências Naturais e Matemática | UAB
De manhã cedinho os passarinhos
Dão bom dia pro sol cantando
Terra, leste, oeste, norte, sul, natureza caprichosa
Tem macaco de bumbum azul, tem o boto cor-de-rosa
Árvores, baleias, elefantes, curumins
E o mundo inteiro está com a gente vibrando
A nossa torcida é pela vida
E a gente vai conseguir cantando
Cuida do jardim pra mim, deixa a Terra florescer
Pensa no filhote do filhote que ainda vai nascer.

4 . 3. A L u a
Lua, espada nua, boia no céu imensa e amarela
Tão redonda lua, como flutua
Vem navegando o azul do firmamento e no silêncio lento
Um trovador cheio de estrelas.
Luíza, Tom Jobim45

A Lua, com seu brilho prateado, tem exercido grande deslumbramento sobre o
homem. Apesar de ter sido o objeto de maior foco da exploração espacial em meados
do século passado, não perdeu esse fascínio: ainda hoje a Lua é dos poetas e dos na-
morados.
Na mitologia de todos os povos tem lugar privilegiado. Para alguns é esposa do
Sol, para outros sua irmã ou seu irmão.

Lenda Esquimó: A O rigem do Sol e da Lua

Há muitos e muitos anos, em uma pequena aldeia da costa, viviam um homem e sua
mulher. Depois de um longo período, o casal teve dois filhos: um menino e uma menina. Os
irmãos se davam muito bem, para alegria dos pais. Um não se separava do outro. O tempo foi
passando e as crianças crescendo. Quando os dois irmãos se tornaram adultos, aconteceu algo
surpreendente: eles não paravam de brigar. Os pais dos jovens ficaram tristes e espantados.
Não conseguiam entender como os filhos, de uma hora para outra, tornaram-se inimigos.
Na verdade, quem se transformou foi o filho, que tinha inveja da beleza da irmã e por
isso vivia a perseguí-la. A menina, por sua vez, já estava cansada das implicâncias do irmão e
não sabia mais o que fazer para escapar de suas maldades.
Mas um dia ela teve uma ideia:
- Vou fugir para o céu. Só assim escaparei do meu irmão.
A menina então se transformou em Lua.
Quando o rapaz descobriu que a irmã tinha fugido, ficou muito triste e arrependido.
- Se ela foi para o céu, eu irei também. Não posso ficar sem a minha irmã.
E foi isso que aconteceu. O rapaz conseguiu ir para o céu, só que em forma de Sol, e não
parou de correr atrás da menina. Às vezes, ele a alcança e consegue abraçá-la, causando então
um eclipse lunar46.

45 Antônio Carlos Brasileiro Jobim. Músico e Compositor Brasileiro.


46 Lenda esquimó, publicada no livro O Cru e o Cozido, de Claude Lévi-Strauss (1991). Adaptação livre originalmente
publicada em Ciência Hoje das Crianças, de Daniele Castro (ano).
UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  39
4 . 3.1. O n d e e s tá a L u a?

A medida da distância Terra-Lua já era conhecida por Hiparcos no segundo sé-


culo antes de Cristo. Com base na medida do tempo de um eclipse lunar, Hiparcos
obteve um valor entre 62 e 74 vezes o raio da Terra (R), não muito diferente do atual-
mente aceito.
Hoje, graças a missão Apollo XI, que instalou equipamentos na sua superfície
para reflexão de raio laser, podemos medir com precisão essa distância: 384405 km
(de centro a centro), isto equivale a cerca de 1,255 segundo-luz. Com esse valor é fácil
medir o diâmetro lunar: 3.476 km.
A Lua tem aproximadamente o mesmo ângulo de visada que o Sol. Por isso,
apesar de seu raio ser muito menor que este, aparecem como discos de aproximada-
mente o mesmo tamanho. Sua gravidade é 1/6 da terrestre, devido a sua massa ser
aproximadamente 81 vezes menor que a da Terra. Essa pequena força gravitacional
lhe impede de ter uma atmosfera. Apresenta apenas uma pequena quantidade de gases
leves, próximos à superfície, com uma pressão de um milionésimo da terrestre ao nível
do mar. Entretanto, é o maior satélite do Sistema Solar em comparação com o planeta
que orbita.

Características físicas
Diâmetro equatorial 3.474,8 km
Área da superfície 3,793 x 10 7 km²
Volume 1,6×1010 km³
Massa 7,349 x 1022 kg
Densidade média 3,34 g/cm³
Gravidade equatorial 1,6 N/kg

A origem da Lua

A análise das amostras recolhidas pelas missões Apollo, mostrou ser a composição
da superfície lunar bastante semelhante à da Terra e diferente a de outros objetos side-
rais. Isto sugere que a Lua, ou o seu precursor, tenha tido origem na mesma distância
do Sol que a Terra. Tal fato refutou as teorias que sugeriam a Lua como um objeto
capturado pela força gravitacional da Terra. Se assim fosse, a Lua e a Terra teriam
distintas composições isotópicas47. Outra característica que deve ser considerada em
qualquer teoria que procure explicar a formação da Lua é o fato dela ter um pequeno
núcleo ferroso. Se a Lua tivesse sido criada por acresção, como a Terra, deveria ter um
núcleo metálico maior.
A teoria do Big Splash (grande colisão) postula que a Lua foi criada a partir da
colisão, com a Terra, de um planeta com aproximadamente o tamanho de Marte, co-
nhecido como Theia.
Segundo o matemático francês do século XVIII, Joseph-Louis de Lagrande, exis-
tiu, na formação do Sistema Solar, outros pontos de acresção de matéria, à mesma
distância do Sol. Foi em um desses pontos que se pensa que se formou outro planeta,
47 Um mesmo elemento químico pode ter átomos com diferentes números de nêutrons em seu núcleo. Esses núcleos são
chamados de isótopos desse elemento químico. A concentração de isótopos é uma característica da idade do material.

40  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


em competição com a Terra.
Antes de colidir, os dois planetas tiveram tempo de criar uma estrutura, mesmo
que incipiente, de núcleo, manto e crosta.
Quando Theia cresceu e adquiriu uma dimensão comparável à de Marte, sua ór-
bita tornou-se instável e a colisão foi inevitável. A colisão não foi frontal, de modo que
parte do material dos dois planetas, principalmente das crostas, foi ejetada formando a
Lua. O restante do material de Theia, substancialmente seu núcleo, afundou na Terra e
foi incorporado ao núcleo terreste. O pouco que restou do núcleo de Theia estabilizou
sua órbita em torno da Terra a 22.000 km de distância, o material resultante do im-
pacto disperso foi acreccionado às sobras do núcleo de Theia. A Lua como satélite foi,
pouco a pouco, se formando.

4,5 bilhões de anos 20 - 30 milhões de anos depois... Impacto!

Figura 36 – A origem da Lua


[fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:BigSplash.png]

4 . 3. 3. M o v i m e n t o O r b i ta l da Lua

Obedecendo as Leis de Kepler, a Lua gira em uma órbita elíptica em


torno da Terra. Todavia, o sistema Terra-Lua gira em torno do Sol, de
modo que os dois movimentos combinados fazem com que a trajetória
da Lua com relação ao Sol, seja próxima de um espirógrafo, isto é, uma
figura construída quando uma circunferência desliza ao longo de ou-
tra circunferência, o que ficaria parecida com a da FIGURA 37. Na
página da Internet “Espirógrafo Interativo” (2009), você encontra
Após duas
um miniaplicativo para construir espirógrafos. Escolha 22 para o Lunações
raio do círculo fixo e -24 para o círculo móvel (não são iguais porque
o movimento da Lua é muito pequeno comparado com a distância
do sistema Terra-Lua do Sol). A curva também não é fechada. Se
assim fosse, o número de lunações em um ano seria inteiro. É pró-
ximo de 12, por isso que se adota 12 meses: cada mês correspon- Lua Cheia
dendo a uma lunação, aproximadamente.
Figura 37 – A trajetória
da Lua assemelha-se a uma
ciclóide curvada sobre uma
elipse (Crédito do autor)

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  41


M ê s sinó dico e sider al

O período de tempo para que a Lua dê uma volta completa em torno da Terra em
relação às estrelas, é chamado de mês sideral (dura aproximadamente 27,3 dias). Difere
ligeiramente do mês sinódico ou lunação, que é o período de tempo entre duas luas
novas consecutivas. LANG DA SILVEIRA (2001) apresenta, para o período entre
1984 e 2006, a duração média de 29,5 dias,
variando entre 29,26 e 29,80 dias.
O período sinódico da Lua é um pouco
maior que o período sideral (2,25 dias maior)
27,32 d
porque a Terra se desloca aproximadamente 1
~27° a grau a cada dia com relação ao Sol, de modo
ov
a N que nos 27,32 dias em que a Lua faz uma volta
Lu
completa em relação às estrelas, aparentemen-
te o Sol se desloca aproximadamente 27°. Por-
~27°
Lua Nova tanto, são necessários mais 2 dias para a Lua
se colocar novamente na posição em relação ao
Sol, que define a fase. A cada dia, a Lua nasce
aproximadamente 50 minutos depois do que
no dia anterior.
Figura 38 – Mês Sinódico e Sideral. (Crédito do autor)

A s fa s e s d a Lua

O albedo48 da Lua é relativamente baixo, isto é, apenas 12% da Luz do Sol que
incide sobre sua superfície é refletida, mesmo assim, devido sua proximidade, é um
“farol” nas noites de Lua Cheia.
A Lua apresenta fases: Nova, Crescente, Cheia e Minguante. Ela, assim como a
Terra, está sempre semi-iluminada pelo Sol (com exceção dos eclipses). Porém, nem
sempre a face iluminada está voltada completamente para a Terra. Quando isso acon-
tece, da face iluminada estar completamente visível, temos Lua Cheia. Ao contrário,
quando a face iluminada é a face oculta da Lua, temos Lua Nova, nos períodos in-
termediários temos Quarto Crescente e Quarto Minguante, assim chamados porque
vemos apenas um quarto da superfície lunar. A Lua Cheia é visível do anoitecer até ao
amanhecer. Já a Lua crescente é visível desde o começo da tarde, quando nasce, até o
meio da noite, quando se põe. A Lua minguante nasce no meio da noite e se põe no
final da manhã. A Lua Nova está no céu durante o dia, nascendo e se pondo aproxi-
madamente junto com o Sol.
Lua Azul: Quando em um mesmo mês ocorrerem duas Luas Cheias, o que acon-
tece a cada 2,7 anos, a segunda Lua Cheia chama-se Lua Azul.

48 Índice de reflexão da superfície lunar.

42  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Figura 39 - As fases da Lua vistas
nos Hemisférios Norte (acima) e
Sul (abaixo): Cheia, Crescente, um
dia após a Lua Nova e Minguante.

Crescente

Figura 40 – Movimento da Lua Nova Cheia


visto a partir de um ponto abaixo
do pólo Sul geográfico. Tanto o
movimento de rotação da Terra
como o movimento de translação
da Lua em torno da Terra, dão-se Minguante
em sentido horário.

E c l i p s e s

A palavra eclipsar é sinônimo de ocultar. Quando os três astros (Sol, Terra e Lua)
estão alinhados, pode ocorrer de a Lua fazer sombra sobre a Terra, encobrindo a visão
do Sol ou a Terra fazer sombra sobre a Lua. Isso nem sempre ocorre, pois o plano de
translação da Lua em torno da Terra possui um ângulo de 5º com relação ao plano
da eclíptica. Esses planos, no entanto, se cruzam. A reta de intersecção destes planos
é chamada de linha dos nodos. Quando essa reta coincide com a linha que liga o Sol
e a Terra, teremos um eclipse. Isso ocorre duas vezes no ano. Na Figura 41, isso está
ocorrendo durante os equinócios, isto é, ocorrerão eclipses durante a primavera e o
outono. Isso muda a cada ano. Em cada uma dessas posições deve ocorrer, no mínimo,
um eclipse solar. Ao ano serão, no mínimo, quatro eclipses e no máximo sete.
Se o plano da órbita lunar fosse fixo, os eclipses ocorreriam sempre na mesma
época do ano. A figura 41 ilustra a ocorrência durante os equinócios. Por influência
gravitacional do Sol, o plano da órbita da Lua gira com período de cerca de 18 anos,
11 dias e 8 horas. Esse é o Período de Saros e o fenômeno é conhecido como regressão
dos nodos.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  43


Condições propícias para ocorrência de eclipses

Alinhamento
dos Solstícios Cheia
Órbita da
Linha dos Terra
nodos
Nova

Cheia
Figura 41 – O plano
Sol da órbita lunar
não coincide com
Nova Linha dos o da órbita terres-
tre. Se coincidisse
nodos
Linha dos
nodos
todo mês teríamos
Nova dois eclipses: um
Nova
da Lua e outro do
Sol. Apenas quando
Cheia estão alinhados
Sol, Terra e Lua (na
Cheia Linha dos figura esse alinha-
nodos mento ocorre nos
Alinhamento dos equinócios), podem
equinócios (nodos)
ocorrem eclipses.

E c l i p s e S o l a r

A Lua e o Sol apresentam quase o mesmo diâmetro angular. Há porém variações,


dado que as distâncias entre esses astros e a Terra também variam. Umbra, penumbra e
antumbra são as três diferentes partes da sombra de uma fonte extensa, como o Sol. Na
umbra, a Lua obstrui completamente a luz do Sol, enquanto que nas regiões de penum-
bra e antumbra, apenas de modo parcial. A observação da penumbra nos dá um eclipse
parcial, enquanto que na posição de antumbra, tem-se um eclipse anular. A FIGURA
42 apresenta um esquema das possíveis observações dos eclipses. Na letra a, o disco
lunar aparecerá menor que o solar e, portanto teremos um eclipse anular para quem
estiver na posição marcada com um ponto amarelo. Com o disco lunar angularmente
maior, letra b, a Lua, na fase máxima, encobrirá totalmente o Sol: Eclipse Total para
quem estiver na posição marcada com um ponto azul claro. Há também situações em
que, nem a umbra, nem a antumbra caem sobre a superfície terrestre. Nesse caso, só
haverá eclipse parcial (letra c). Em todos os casos, porém, haverá locais em que, mesmo
na fase máxima, ainda restará regiões em que o eclipse não poderá ser visto (marcadas
por pontos vermelhos).
A totalidade dos eclipses solares é de no máximo sete minutos e alguns segundos.
O eclipse mais longo depois do ano zero foi em 27 de Junho de 363 e durou 7 minutos
e 24 segundos.

44  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Penumbra

(a)
Umbra
Posições de
Observação

(b) Total
Penumbra Anular
Parcial
Não Visível
(c)
Umbra

Figura 42 – Umbra, penumbra e antumbra, as três diferentes partes da sombra


de um objeto iluminado por uma fonte extensa. (Crédito do autor)

Cu i dados n a o bs e r va ç ã o d o s e sc l i p s e s s o l a r e s

Em geral, é muito difícil observar o Sol a olho nú. Sua luminosidade intensa nos
faz instintivamente evitar uma focalização direta. Porém, quando ocorre o eclipse, há
uma redução ou mesmo quase extinção da luz visível, fazendo a pupila dilatar-se, dei-
xando mais luz chegar à retina. Como a luminosidade é baixa, não se sente desconforto
em observar o Sol durante um eclipse. Isso não quer dizer que cessem as emissões.
Ao contrário, a coroa solar emite grande quantidade de radiação ultravioleta que fere
a retina, podendo até queimá-la. Há diversos casos registrados de cegueira durante a
observação de eclipses a olho desarmado.
A melhor forma para observar um eclipse parcial é a sua projeção com uma câ-
mara escura. Para a observação direta, o instrumento adequado são filtros especial-
mente confeccionados para tal uso. Muito semelhantes ao filtro de soldador. O uso de
qualquer outro instrumento, como vidro esfumaçado ou chapas de raios-X dobradas,
é inadequado. Não há como garantir que não haja algum ponto não esfumaçado no
vidro ou não completamente velado na chapa de raios-X. Cuidado especial tem que se
ter com crianças que, naturalmente, ainda não compreendem os riscos da observação
direta de um eclipse.
Mesmo com equipamento adequado, uma regra de bom senso é limitar o tempo
de observação a, no máximo, vinte segundos por vez, com pausas não inferiores a trinta
segundos entre as observações.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  45


E c l i p s e L u n a r

Nos eclipses lunares, quando a Lua atravessa a penumbra, pouco se


notará, pois há pouca modificação de seu brilho. Todavia, ao atravessar a
umbra, a Lua fica avermelhada e o eclipse, que pode durar até 1 hora e 40
minutos, é visto de todos os lugares da Terra em que a Lua esteja acima
(a) do horizonte, independe da posição do observador. A tonalidade da Lua
pode ir do vermelho escuro ao marrom, devido ao espalhamento da luz
solar que, antes de atingir a Lua, passa pela atmosfera da Terra.

Figura 43 – (a) Eclipse Lunar de 16 de julho de 2000 e


(b) Sombra da Lua em um Eclipse Solar visto da
(b) estação espacial MIR.

E c l i p s e s : M e d o s e mitos.

O medo da noite gerou muitas lendas e mitos. Na pré-história, o homem ob-


servou que, com uma fogueira, podia prolongar o dia e afastar os animais selvagens.
Porém, se a noite começasse, não com o Sol no horizonte, mas no meio do céu? Devia
ser assustadora essa imprevisibilidade. Para alguns povos, era necessário assustar o
monstro (dragão, lobo, serpente), que devorava o Sol. Será que Deus ou os deuses esta-
vam zangados? Era necessário se fazer sacrifícios?
Heródoto escreveu que Tales de Mileto previu um eclipse que aconteceu em 28 de
maio de 584 a.C. Os Lídios e os Medos, povos que habitavam a Ásia Menor, estavam
em guerra quando se deu o eclipse solar. Supondo um sinal divino, ambos os lados
abaixaram suas armas e negociaram a paz.
Em 1504 na Jamaica, Colombo e sua tripulação estavam quase morrendo de fome.
Os nativos recusavam-lhes comida. Colombo sabia que um eclipse da Lua ocorreria
naquela noite. Ameaçou, caso não lhes dessem alimentos, fazer a Lua sumir. Quando
o eclipse se iniciou, os indígenas atenderam ao seu pedido prontamente.

M a r é s

Segundo o Aurélio, Maré é o “movimento periódico das águas do mar, pelo qual
elas se elevam ou se abaixam em relação a uma referência fixa no solo. É produzido pela
ação conjunta da Lua e do Sol, e, em muito menor escala, dos planetas; a sua amplitude
varia para cada ponto da superfície terrestre, e as horas de máximo (preamar) e mínimo
(baixa-mar) dependem fundamentalmente das posições daqueles astros”.
Que “ação conjunta” é essa que trata o dicionário? São as forças gravitacionais do
Sol e, principalmente, da Lua sobre a Terra. A explicação das marés foi um dos gran-
des triunfos da Teoria da Gravitação Universal. Quem explicou as marés foi o próprio

46  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Newton.
A atração gravitacional da Lua é diferenciada, como mostra a FI-
GURA 44-a. No lado da Terra voltado para a Lua, a atração é maior,
enquanto que é menor no lado oposto. Isto causa um alongamento na (a)
direção da reta que une os dois astros. Observa-se uma elevação das águas
nesses dois lados. Com o movimento de rotação da Terra, tem-se, em cada
ponto de sua superfície, duas marés altas diárias: quando está no lado
próximo e quando está no lado oposto. No entanto, enquanto a Terra dá
uma volta sobre si mesma, a Lua continua em seu movimento orbital em
torno da Terra. De modo que são necessárias 24h e 50 minutos para se
ter duas marés altas e duas baixas.
A altura das marés depende de vários fatores, principalmente a fase
da Lua. As marés também são causas pela atração gravitacional do Sol.
Quando a Lua, a Terra e o Sol estão em conjunção (lua nova) ou oposição
(lua cheia) as marés são mais intensas – chamadas de Marés Vivas – porque se (b)
somam às forças gravitacionais. Nas fases crescente e minguante, quando
Figura 44 – (a) Força no lado próximo
o Sol, a Terra e a Lua estão em quadratura, ocorrem as Marés Mortas, é maior que a força no lado distante,
por serem as diferenças entre a alta e a baixa pequenas e às vezes inexis- causando o efeito de maré. (b) Relógio
de Marés. Depois de sincronizada a pri-
tentes. O Sol tem muito mais massa que a Lua, mas em compensação meira maré é só movimentar o ponteiro
está muito mais distante. Disso resulta ser sua influência sobre a maré da Lua uma casa, enquanto o ponteiro da
um terço da influência da Lua. Terra dá uma volta a cada 24 horas.

As marés podem chegar a 15 m, na baía de Fundy, no Canadá.


Porém, têm em geral 1,5 m. No Maranhão ocorrem as amplitudes mais
altas do Brasil com cerca de 5 metros. Os efeitos de maré ocorrem tam-
bém na atmosfera e nas áreas continentais. Estes são, no entanto, muito
pequenos, podendo chegar a 1,5 mm.

A c o p l a m e n t o de Maré e o l a d o o c u lt o d a Lua

Um dos efeitos da maré é a tendência dos oceanos, crosta e atmosfera acompa-


nharem o movimento orbital da Lua, devido à atração gravitacional ser maior na face
voltada para esta. Essa força gravitacional diferenciada provoca uma desaceleração do
movimento de rotação da Terra em cerca de 0,002 segundos por século. A redução
de energia da rotação é compensada pelo afastamento da Lua em 3,5 cm por ano, em
média.
Esse efeito de desaceleração do movimento de rotação já aconteceu com a Lua,
que atualmente exibe sempre a mesma face para a Terra. Isto é, os períodos de rotação
e translação são os mesmos. Como o movimento orbital da Lua é elíptico49, e a veloci-
dade de rotação é constante, não há sincronismo perfeito entre esses dois movimentos.
Esse fato é chamado de libração da Lua e permite que se observe da Terra 59% da face
da Lua.
49 Portanto sua velocidade de translação não é constante.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  47


4 . 3. 4 . G e o l o g i a lunar

A Lua possui a crosta com espessura média de 69 km, manto sólido e, possivel-
mente, núcleo de ferro pouco significativo. O centro de massa da Lua está cerca de
2 km mais próximo da Terra que o seu centro geométrico (possivelmente devido ao
acoplamento de maré).
A Lua é cheia de crateras, formadas pela colisão de meteoros. A maior parte da
superfície é coberta de regolito, uma mistura de pó fino e resíduos rochosos produzidos
por esses impactos. A superfície lunar apresenta áreas claras e escuras. As áreas claras,
terrae, são planaltos bastante antigos (4 a 4,3 bilhões de anos) e densamente crateri-
zados com altitude entre 4 e 5 km acima do nível médio. As áreas escuras, maria ou
mare (mar)50, são planícies relativamente suaves e mais jovens (3,1 a 3,8 bilhões de anos) e
correspondem a cerca de 16% da superfície lunar. São áreas baixas, aproximadamente 2 km
abaixo do nível médio, formadas do derremamento de lava após a colisão de grandes meteoros.
É ainda um mistério, porque um maior número de maria está localizado no lado visível, sendo
o lado oculto mais exposto. A FIGURA 45 é uma fotografia do lado visível da Lua. O Mar
de Tranquilidade foi onde os primeiros astronautas pousaram. O maior de todos os Mares é o
das Chuvas, com 1.100 km de diâmetro.
50 Secas, apesar do nome.

Latim Português
MARE FRIGORIS MARE SERENITATIS
Mare / Oceanus Mar / Oceanos
Plato
Tranquillitatis Tranquilidade MARE
MARE TRANQUILLITATIS
Crisium Tormentas IMBRIUM MARE
Foecunditatis Fecundidade CRISIUM
Copernicus
Nectaris Nectar
Vaporum Vapores
Nubium Nuvens
Procellarum Tormentas
OCEANUS
Imbrium Chuvas PROCELLARUM
Frigorius Nuvens
MARE
FOECUNDITATIS
MARE MARE
HUMORUM NECTARIS
Figura 45 - Estão marcadas MARE NUBIUM MARE
três crateras: Tycho, Tycho VAPORUM
Copernicus e Plato.

Figura 46 - No lado oculto encontram-se: próximo


ao Pólo Sul – Aitken – a maior bacia de impacto do
Sistema Solar, com 2.250 km de diâmetro e 12 km
de profundidade; no bordo ocidental – Orientale
– esplêndido exemplo de uma cratera de múltiplos
anéis.

48  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


4 . 3. 5. E x p l o r a ç ã o E s pa c i a l

UR SS

A primeira sonda a sobrevoar a Lua foi a LUNA, em Janeiro de 1959. Naquele


ano, a União Soviética estava à frente na corrida espacial. Também foram conquistas
soviéticas: a primeira sonda a pousar na superfície (missão Luna 2 – setembro/1959);
primeira fotografia do lado oculto (Luna 3 – outubro/1959); primeira sonda a alunissar
(Luna 9 – 1966).
A missão Luna também coletou amostras da superfície lunar (Luna 16 – 1970;
Luna 20 – 1974 e Luna 24 – 1976). As sondas soviéticas Zond (5 e 6 – 1968; 7 – 1969 e
8 – 1970) também sobrevoaram a Lua, imageando sua superfície e retornaram à Terra.
No entanto, segundo o físico russo Alexander Sukhanov, citado por Nogueira
(2005), o projeto russo de levar o homem à Lua era falho e muito arriscado. Em 23 de
abril de 1967 a nave Soyuz-1 partiu ao espaço com o astronauta Vladimir Komarov
para testar sua operacionalidade. Após um voo cheio de problemas, o veículo teve de
ser dirigido manualmente de volta à atmosfera. A nave espatifou-se no chão devido
a não abertura dos paraquedas. Essa primeira morte do programa soviético impôs a
decisão de que as naves seriam testadas extensivamente sem tripulação, antes de serem
habilitadas a transportar humanos. Os avanços eram lentos. Em 1969, 13 dias antes da
partida da Apollo 11, os soviéticos lançaram a gigante nave N-1, que deveria levar o
homem à Lua. Ainda em fase de testes não tripulados, depois de 50 segundos de voo,
ficou fora de controle e teve de ser destruída no ar.

USA

“Eu acredito que a nação deva se comprometer para alcançar o objetivo,


antes do fim da década, de ´aterrissar´ o homem na Lua e fazê-lo voltar em
segurança para a Terra.”51

Essas foram as palavras proferidas por John F. Kennedy, em 1961. Desafio al-
cançado por Neil Armstrong em 20 de Julho de 1969. Para Kennedy, a importância
da corrida espacial era muito mais política que científica. No entanto, assim como nas
missões soviéticas, grandes foram os resultados científicos das missões americanas.
A agência espacial dos EUA, a NASA, responsável por coordenar todo o esforço
estadunidense de exploração espacial foi criada em julho de 1958. O primeiro projeto
foi o Mercury, cuja importância foi testar as condições dos astronautas e do equipa-
mento. Seguiu-se o Projeto Gemini e, finalmente, o Projeto Apollo. Veja na plataforma
fatos marcantes de algumas das missões Apollo, que culminaram com a ida do homem
à Lua.

51 Na plataforma está um arquivo de áudio com esse trecho do discurso original: "I believe this nation should commit
itself to achieving the goal, before this decade is out, of landing a man on the moon and returning safely to Earth."

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  49


Um p e q u e n o pa ss o pa r a u m h o m e m

Às 23 horas e 56 minutos (horário de Brasília) do dia 20 de julho de 1969, o


astronauta Neil Armstrong desceu os oito degraus da águia metálica e pousou seu pé
esquerdo sobre o solo lunar: tornou-se o primeiro homem a andar na Lua. “Um peque-
no passo para o homem; um gigantesco salto para a humanidade” foram suas palavras.
O foguete Saturno V partiu às 09h32min da manhã de quarta-feira, 16 de julho,
do Centro Espacial Kennedy – Cabo Canaveral – Flórida. Era um foguete de três es-
tágios, cuja função era lançar a espaçonave Apollo 11, a qual carregava em seu bico. Os
dois primeiros estágios continham tanques de querosene como combustível e oxigênio
líquido que alimentavam cinco jatos propulsores e colocavam a espaçonave às altitudes
de 57,2 e 162,5 km e velocidades de 2,752 e 6,932 km/s, respectivamente, antes de se
separarem do restante do veículo. O terceiro estágio continha tanque de hidrogênio
líquido como combustível, além do tanque de oxigênio e um único jato propulsor. Foi
esse estágio que colocou a Apollo 11 em órbita da Terra. Uma vez em órbita, os moto-
res desligaram temporariamente e reiniciaram após algumas voltas ao redor da Terra,
quando a espaçonave estava corretamente alinhada em trajetória lunar. Após essa se-
gunda ignição separava-se da espaçonave, descartando consigo o adaptador do módulo
lunar, que ligava o foguete à nave.
A Apollo 11 era formada de três módulos: comando (Columbia), serviço e lunar
(Eagle – Águia em inglês). O Columbia era a única seção da espaçonave projetada
para retornar intacta à Terra. O módulo de serviços continha os sistemas vitais para a
maioria das operações, dentre eles o sistema de propulsão e os tanques de combustível
e oxigênio.
Após entrar em órbita lunar, Armstrong e Aldrin transferiram-se para o módulo
lunar, vedaram o módulo de comando e o módulo lunar, desacoplaram e iniciaram
uma jornada para a superfície da Lua. O módulo lunar era dividido em dois estágios:
de subida (superior) e descida (inferior). Os dois desceram à Lua, com a seção de des-
cida controlando o pouso. Quando os astronautas deixaram a Lua, a seção de descida
serviu como plataforma de lançamento e foi deixada no solo lunar.
O transponder52 do Columbia transmitiu informações referentes às suas posições e
velocidades para o módulo lunar, para que pudessem se acoplar. Após o acoplamento e
transferência de tripulação e amostras de material coletado do solo lunar, vedaram-se
e desacoplaram-se os veículos. O impacto da colisão do módulo lunar com a superfície
da Lua, foi medido por instrumentos deixados no solo, como parte de um projeto de
pesquisa sísmica.
Ligados os propulsores do módulo de serviço, a Apollo 11 dirigiu-se à Terra para
uma reentrada sobre o Pacífico. Pouco antes da reentrada na atmosfera terrestre, os astro-
nautas desacoplaram o módulo de serviço e ajustaram a inclinação do Columbia para que
a base ficasse voltada para a superfície da Terra. A temperatura da superfície do módulo
chegava a 1515 ºC, mas a blindagem contra aquecimento dissipava a energia ao vaporizar
protegendo a estrutura interna. Por alguns segundos a espaçonave ficava sem comuni-
cação, enquanto a atmosfera agia como um sistema de freio. Três grandes paraquedas
abriram e o Columbia pousou em segurança no Oceano Pacífico sob o olhar de mais
de um bilhão de pessoas.

52 O termo é uma abreviatura das palavras em inglês: transmissor e receptor. Transponder é um dispositivo de comunicação
sem fio de controle e monitoramento, que responde automaticamente aos sinais recebidos.

50  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


(a)

(b)

(c)

(d)
Figura 47 – (a) O Foguete Saturno V na platafor- (e)
ma de lançamento. (b) Aldrin ao lado do Módulo.
(c) A pegada eternizada na superfície lunar. (d)
Neil Armstrong, comandante da missão; Michael
Collins, piloto do MC e Edwin Aldrin, piloto do ML e (e) Concepção artística da
reentrada do MC na atmosfera terrestre.
Fonte: NASA - http://www.nasa.gov/mission_pages/apollo/index.html

F i m da C o r r i d a E s pa c i a l

Do fim da Segunda Guerra Mundial (1945) à extinção da União Soviética, as


duas superpotências do globo, EUA e URSS (1991), empreenderam uma guerra. Nun-
ca ocorreu um embate militar direto, porém as duas potências alimentaram guerras em
outros países, como, por exemplo, Coreia e Vietnã. O objetivo era ampliar a influência
política, econômica e ideológica. A corrida espacial era apenas uma das esferas desse
enfrentamento. Do lançamento do primeiro Sputnik à chegada do homem à Lua, fo-
ram 12 anos em que a URSS estava à frente. A partir daí, a corrida espacial começou
a se tornar secundária. Em 17 de julho de 1975, as naves Apollo e Soyuz acoplaram
em órbita. Fato considerado o marco do fim da corrida espacial. A Guerra Fria ainda
duraria 16 anos.

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Figura 48 - Concepção artística do encontro da Apollo (à esquerda) com a Soyuz (à direita). Ao
fundo as bandeiras dos EUA e da URSS. Observe os módulos de comando, serviço e lunar da nave
Apollo e as placas solares de captura de energia da nave Soyuz.
Fonte Wikipédia, Autor: Charlie Fong. Domínio público.

4 . 4 . S at é l i t e s A r t i f i c i a i s

Os artefatos que o homem constrói e coloca em órbita da Terra são chamados


de satélites artificiais.53 O primeiro satélite artificial da Terra foi o Sputinik-1, satélite
soviético que ficou em órbita por 3 meses. O primeiro satélite artificial americano foi
o Explorer I. O homem já lançou algo em torno de 5.000 satélites, dos quais, pouco
mais da metade ainda está em funcionamento. O restante constitui-se lixo espacial.
Atualmente, não só os EUA e a Rússia têm lançado satélites ao espaço. Fazem parte do
grupo: Japão, China, Índia e países da União Europeia (Inglaterra, França, Itália, Su-
écia). O Brasil se consorciou à China para lançar seus satélites. Assim também Israel,
Irã, Malásia, Paquistão, África do Sul, Turquia, Canadá e Austrália, procuram ocupar
espaço nessa sempre estratégica corrida espacial.
Várias são as funções que um satélite pode desempenhar, dentre elas, destacam-
se as militares, de comunicação, de navegação, meteorológicas e de estudo científico.
Para uso militar ficou famosa a proposta dos EUA de um Sistema Nacional de Defesa
Anti-Mísseis, chamado pelo Greenpeace de Guerra nas Estrelas. A proposta era mon-
tar um sistema de radares e satélites que informaria o lançamento de mísseis contra os
EUA. O sistema nunca foi implantado, porém já gastou 120 bilhões dos contribuien-
tes norte-americanos. Os satélites de telecomunicações são em geral geoestacionários.
A Copa de 70 foi a primeira a ser transmitida ao vivo via satélite. No Brasil, a con-
quista do tricampeonato foi vista em preto e branco. Dos sistemas de navegação, o
norte-americano GPS (sigla em inglês para Sistema de Posicionamento Global) é o
mais difundido, tanto para uso militar, como civil. As aplicações científicas são inú-
meras: astronomia, microgravidade, estudo do geomagnetismo, meteoritos, atmosfera
superior e ambiente interplanetário próximo, são alguns exemplos. Os meteorológicos
fornecem informações valiosas para o entendimento da atmosfera com uso imediato na
agricultura e no estudo das mudanças climáticas.
53 Quando em órbita de outro planeta é chamado de satélite artificial do planeta. Se orbita um satélite natural é chamado
de subsatélite.

52  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


5
Os Outros
P l a n e ta s R o c h o s o s

5.1. M e r c ú r i o

D e difícil observação e exploração devido a sua proximidade com o Sol, Mercúrio mantém-se
ainda em mistérios. Visto da Terra, alcança a máxima distância angular do Sol de apenas
28 graus. Por isso, só pode ser visto logo antes do nascer do Sol ou imediatamente após o pôr-do-Sol 54.
Com uma distância média do Sol de 57.910.000 km e raio equatorial de 2.439,7 km, Mercúrio é o
mais próximo do Sol e o menor dos planetas. É um planeta sem satélite. Sua atmosfera é composta prin-
cipalmente de hélio (42%), sódio (42%), oxigênio (15%). Potássio e outros elementos químicos chegam a
1% de concentração. A temperatura máxima à superfície alcança 427 ºC (lado exposto ao Sol) e a mínima
chega a -173 ºC (lado escuro).

A E x p l o r a ç ã o de Mercúrio

A primeira observação por meio de um telescópio foi realizada pelo próprio Galileu Galilei, em 1610.
Durante a década de 1880, Giovanni Schiaparelli concluiu que Mercúrio deveria estar “preso” ao Sol de
modo a acompanhar o seu movimento, mostrando a este sempre a mesma face. Esta crença durou até 1962,
quando radio-astrônomos estudando as emissões de rádio de Mercúrio, concluíram que o lado escuro é
quente demais para estar preso. Deveria ser muito mais frio que o observado se estivesse sempre virado para
o lado oposto ao Sol. Acredita-se que o período de rotação de Mercúrio já foi de 8 horas. Porém, a intensa
influência da gravidade solar fez com que Mercúrio fosse diminuindo sua velocidade de rotação. A relação,
hoje, entre os períodos de rotação e orbital é 3 para 2 (87,97 dias por 56,64 dias, respectivamente). Isto é,
Mercúrio roda três vezes para cada duas voltas que dá em torno do Sol.

54 Uma bonita fotografia da conjunção da Lua e de Mercúrio no dia 03/04/2003 pode ser obtida no sítio Pátio da Astronomia, do astrônomo amador
Luís Carreira (fotografada com uma câmera Canon G1 em Capuchos – Leiria – Portugal). Para ver, acesse: http://www.astrosurf.com/carreira/obs2003_04.
html. Você também poderá encontrar neste mesmo sítio, fotos do trânsito de Mercúrio (quando este passa na frente do Sol e é visto como um ponto negro).

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A primeira exploração por sonda
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de Mercúrio foi reali-
zada pela Mariner 10, em 1974 e 1975. Manobras arriscadas
em parte do hemisfério iluminado, em 3 sobrevoos sobre
o planeta, permitiram alcançar a resolução de aproxima-
damente 1,5 km, com a análise de sua superfície reco-
brindo aproximadamente 45%. A foto da página posterior
resultou de um recente reprocessamento desses dados.
Em 2008, a sonda Messenger ampliou em 30% o ma-
peamento da superfície de Mercúrio. As suspeitas de que
há atividade vulcânica no planeta, trazidas pela Mariner 10,
(a) foram fortemente corroboradas.

Figura 50 – Superfície de Mercúrio, (a)


foto da Mariner 10, em 1975. Observam-se
cicatrizes geradas por impactos de me-
teoros. As faixas lisas são regiões onde
a sonda não coletou dados. (b) Cratera
Brahms com 75 km de diâmetro. Nome dado
em homenagem ao músico clássico ale-
mão, que viveu no século XIX. Pode-se ver
(b) também algumas outras crateras de menor
dimensão e, entre elas, desfiladeiros. Fon-
te: NASA.

Figura 51 – Fotos tiradas pela Sonda Messenger. (a) A cratera


Machaut, de aproximadamente 100 km de diâmetro, foi fotogra-
fada durante o segundo sobrevoo em Mercúrio, em 06 de outubro
de 2008. O nome é uma homenagem ao poeta e compositor francês
Guillaume de Machaut. As sombras dos raios oblíquos do Sol
revelam numerosas pequenas crateras e intrincada estrutura.
A maior cratera dentro da Machaut parece ter sido inundada
por lava, assim como a maior parte do piso. (b) "The Spider" –
uma estrutura com mais de cem depressões estreitas, superficiais,
partindo de uma cratera central de 40 km de largura.
(a)
Crédito: NASA/Johns Hopkins University Applied Physics Labo-
ratory/Carnegie Institution of Washington.
Disponível em: http://www.nasa.gov/mission_pages/messenger/
multimedia/index.html

(b)

5. 2 . V ê n u s
A estrela d’alva. No céu desponta.
E a lua anda tonta. Com tamanho esplendor.
“Pastorinhas” de Noel Rosa

De fácil observação é, em certas épocas do ano, o mais brilhante astro do céu, de-
pois do Sol e da Lua, evidentemente. Há ocasiões em que Vênus é a primeira “estrela”
a aparecer no céu vespertino e, há outras, em que é a última a desaparecer no céu ma-

54  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


tutino. Quando está perto de seu ponto mais brilhante, pode
ser visto, inclusive, à luz do dia, atingindo uma magnitude
aparente de -4,6.
Seu afastamento angular máximo do Sol é de 48
graus, o que equivale a pouco mais de três horas antes
do nascer ou após o pôr-do-Sol. Em raras situações, Vê-
nus pode ser visto na manhã e à tarde no mesmo dia.
Isto acontece quando Vênus se encontra em sua máxima
separação da eclíptica e ao mesmo tempo na conjunção
inferior; daí então de um dos nossos hemisférios se pode
ver em ambos os momentos. Esta oportunidade apresentou
recentemente para os observadores do hemisfério Norte du-
rante alguns dias a partir de 29 de março de 2001, e o mesmo
sucedeu no hemisfério Sul em 19 de agosto de 1999. Estes eventos
se repetem à cada oito anos de acordo com o ciclo sinódico do planeta.
A rotação de Vênus é contrária a dos demais planetas e dura 243 dias Figura 52 - Visão global de cober-
tura de Vênus durante o primeiro
terrestres, período superior ao ano venusiano, que corresponde a 224,7 dos ciclo de mapeamento da sonda

nossos dias. Magellan, completado com su-


cesso em 1991. A sonda continuou
a coletar dados até outubro de
1994. Créditos: NASA - NSSDC's
E s t r u t u r a e At m o s f e r a Planetary Image Archives.

A estrutura de Vênus é semelhante a da Terra. Possui um núcleo de ferro de 3.000


km de raio; um manto rochoso que forma a maior parte do planeta, crosta sólida e
atmosfera. Está vulcanicamente ativo, o que implica na emissão de CO2 e de lava que
inunda a superfície. Diferentemente da Terra, no entanto, Vênus não tem tectônica de
placas, isto é, a crosta não possui movimento das suas partes, o que impede a incorpo-
ração do CO2 no subsolo.
Vênus, às vezes, é chamado de “planeta irmão” da Terra, porque lhe é semelhante
em tamanho, massa e composição. No entanto, sua atmosfera é extremamente densa.
A pressão atmosférica ao nível do solo é de 92 atmosferas terrestres. Como não há
incorporação do carbono em biomassa (não há vida) ou em novas rochas (não há tectô-
nica de placas), a atmosfera é composta em sua maior parte por dióxido de carbono eje-
tado pela crosta. Essa enorme quantidade de CO2 provoca um forte efeito estufa que
eleva a temperatura da superfície do planeta a um valor médio de 464 °C. Resumindo,
Vênus é extremamente quente em todos os pontos da superfície, motivo pelo qual não
há qualquer possibilidade da vida acontecer.
A intensidade energética solar no topo da atmosfera venusiana55 é 2.613,9 W/m².
No entanto, apenas 1.071,1 W/m² alcançam a superfície do planeta. As densas cama-
das de nuvens refletem a maior parte da luz do Sol, o que contribui para ser Vênus, a
“estrela” mais brilhante do céu.

55 No topo da atmosfera terrestre, chegam 1367 Joules por segundo por metro quadrado, o que equivale a metade do que
chega no topo da atmosfera venusiana.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  55


Campo mag nético

Campo magnético de Vênus é muito fraco comparado ao de outros planetas do


Sistema Solar, provavelmente devido a sua lenta rotação. Como resultado, o vento solar
atinge fortemente a atmosfera. Supõe-se que a atmosfera de Vênus tinha tanta água
como a Terra. A incidência do vento solar dissociou na alta atmosfera a água em hi-
drogênio e oxigênio. O hidrogênio, por causa da sua baixa massa molecular, escapou
ao espaço.

Superfície

A densa atmosfera de Vênus faz com que a grande maioria dos meteoritos se de-
sintegre rapidamente na sua descida à superfície. Apenas os maiores, quando têm ener-
gia cinética suficiente, podem chegar à superfície, originando crateras com diâmetro
não inferior a 3,2 quilômetros. Por essa razão, sua superfície apresenta poucas crateras.
Sobre uma grande planície, elevam-se duas mesetas principais em forma de con-
tinentes: ao Norte, a meseta Ishtar Terra contêm os Montes Maxwell56 , a maior mon-
tanha de Vênus (aproximadamente dois quilômetros mais alta que o Monte Everest),
Ishtar Terra tem o tamanho aproximado da Austrália. No hemisfério Sul se encontra
Aphrodite Terra, maior que Ishtar e com o tamanho equivalente ao da América do Sul.
Entre estas mesetas existem algumas depressões do terreno, que incluem Atalanta Pla-
nitia, Guinevere Planitia e Lavinia Planitia.

H i s t ó r i a da O bs e r va ç ã o de Vê n u s

Um dos mais antigos documentos, que sobreviveram da biblioteca babilônica de


Assurbanípal, datado de 1600 a.C. é o registro de 21 anos de observações de Vênus.
Os primeiros astrônomos pensavam que se tratava de dois planetas. Era chamado
Vesper, quando aparecia ao entardecer próximo ao pôr-do-Sol e quando aparecia na
Alvorada, na direção leste, próximo ao nascer-do-sol era chamado de Lúcifer (do latim
Lux fero, que quer dizer portador da Luz, por que antecede a aparição do Sol). Porém,
já no século III a.C., Pitágoras afirmava ser o mesmo astro. No Brasil é chamado de
Estrela D´Alva. O Aurélio consigna o termo como primeiro alvor da manhã.
Com a invenção da luneta astronômica, diversas características deste planeta pu-
deram ser observadas. Galileu Galilei foi a primeira pessoa a observar as fases de Vê-
nus, em dezembro de 1610. Em 1639, os astrônomos Jeremiah Horrocks e William
Crabtree observaram pela primeira vez o trânsito de Vênus. O planeta ao se colocar
entre a Terra e o Sol, tem-se a visão, a partir da Terra, de o planeta transitar sobre o
Sol. Esses eventos astronômicos são relativamente raros.
Nos anos cinquenta, as observações de rádio permitiram conhecer a respeito de
muitas características físicas do planeta. As observações com microondas de C. Mayer
et al em 1956, por exemplo, indicaram temperaturas superficiais de 600 K.
Em fevereiro de 1961, a sonda soviética Venera 1 foi a primeira a visitar Vênus e a
primeira sonda lançada para outro planeta. Devido a avarias sofridas após o lançamen-
to, não chegou a completar a missão. Em 1962, a sonda americana Mariner 2 obteve
fotos do planeta. A missão Venera mantém outros recordes como ser o primeiro pouso
com êxito na superfície de Vênus (Venera-7 em 15 de Dezembro de 1970).
56 Os únicos acidentes geográficos que não possuem nomes de mulheres mitológicas.

56  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


s
d e Vênu
ta
Órbi
Sol

Terra

(a) (b) Figura 53 – (a) Trân-


sito de Vênus de 8
Nas décadas de 70 e 80, várias foram as missões americanas para Vênus. Além de junho de 2004. (b)
Fases de Vênus.
da Mariner 2, visitaram Vênus as sondas Pionner Venus, Magellan e Vega, desven-
dando muito de sua superfície e atmosfera.
A partir da década de 90, várias sondas espaciais em rota para outros destinos,
usaram o método de sobrevoo orbital de Vênus para incrementar a sua velocidade me-
diante o impulso gravitacional. Isto inclui as missões Galileo, a Júpiter e a Cassini-
Huygens, a Saturno.
A Agência Espacial Europeia enviou uma missão a Vênus, chamada Venus Ex-
press, que está estudando a atmosfera e as características da superfície de Vênus em ór-
bita. A missão foi lançada no dia 9 de novembro de 2005 pelo foguete Soyuz e chegou
a Vênus no dia 11 de abril de 2006, depois de aproximadamente 150 dias de viagem. A
Agência Espacial Japonesa (JAXA) planeja também uma missão a Vênus entre 2008
e 2009.

Figura 54– (a) Monte Maxwell


( JPL-NASA).
(b) A sonda Mariner 10 (NASA)
(b)
(a)

O M i s t e r i o s o s at é l i t e d e Vê n u s

Hoje sabemos que Vênus não possui nenhum satélite, no entanto, importantes
astrônomos, nos quatro últimos séculos, registraram a presença de um astro, aparente-
mente próximo de Vênus, que julgaram ser um satélite deste planeta.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  57


5. 3. M a r t e

“Aqueles que nunca viram um marciano vivo, mal podem conceber


o horror que causa a sua estranha aparência. A característica
boca em forma de V, o lábio superior pontiagudo, a ausência de
rugas na testa e o queixo debaixo do lábio inferior cuneiforme,
a agitação incessante da boca, os gorgóneos grupos de tentácu-
los, a respiração tumultuosa dos pulmões numa atmosfera que
lhes era estranha, a lentidão e custo evidente dos movimentos
por causa da maior energia gravitacional da Terra – sobretu-
do, a extraordinária intensidade dos olhos imensos, tudo isto era
simultaneamente vital, intenso, inumano, mutilado e monstruoso.”
H. G. Wells – Guerra dos Mundos

Esse clássico da ficção científica do escritor inglês H. G. Wells já fascinou


e assustou a raça humana. A adaptação radiofônica com boletins jornalísticos de
Orson Welles, em 30 de outubro de 1938, nos Estados Unidos, levou ao pânico
Figura 55 - Acima, Visão glo- cerca de um milhão dos seis milhões de ouvintes que acompanharam o programa.
bal de Marte - NASA/JPL/
Malin Space Science System Como será o primeiro contato da espécie humana com seres extraterrestres?
Abaixo, a sonda Spirit, Será que uma raça superior nos ensinará como sermos “humanos”? Ou serão mons-
no 1.871º dia da missão
(08/04/2009). Pode-se ver ao tros a nos devorar? Em 1938, muitos cientistas acreditavam na possibilidade de
fundo o Monte Von Braun a vida em Marte. Se os marcianos existissem e fossem iguais aos homens, provavel-
160 metros de distância.
Crédito: NASA/JPL-Caltech mente seriam conquistadores.
Se houve ou há vida em Marte, ainda é uma pergunta sem resposta. Em
1984 foi encontrado um meteorito batizado de ALH84001, que se acredita ter
sido arrancado de Marte por colisões de asteróides. Em agosto de 1996, cien-
tistas da NASA anunciaram evidências indiretas, neste meteorito
marciano, de possíveis fósseis microscópicos que poderiam ter se
desenvolvido em Marte há 3,6 bilhões de anos. Em 1997, a son-
da Sojourner da missão Mars Pathfinder, comprovou que a com-
posição química das rochas marcianas é de fato muito similar à
composição do meteorito ALH84001. Entretanto, outros cientis-
tas argumentam que os “nanofósseis” são na realidade partes de
superfícies de cristais de piroxeno e carbonatos.

P l a n e ta V e r m e l h o

Quarto planeta em distância do Sol, recebeu o nome de Mar-


te em homenagem ao deus romano da guerra57, provavelmente por
sua cor avermelhada. Marte está relativamente próximo da Terra e
mais distante do Sol que esta. Esse fato, somado a uma atmosfera
muito rarefeita, nos permite observar a sua superfície com relativa
facilidade. A superfície acastanhada, que pode ser vista com um
simples telescópio, deve-se a grande concentração de óxido de fer-
ro. Em suma: Marte é coberto com ferrugem.

57 Ares, para os gregos.

58  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Figura 55 - Imagem de microscopia
eletrônica de alta resolução. A estru-
tura em forma de tubo, com largura
inferior a um centésimo da espessura
de um cabelo humano, foi interpretada
como um fóssil de um microorganismo
marciano.

Crédito: D. McKay (NASA /JSC), K.


Thomas-Keprta (Lockheed-Martin),
R. Zare (Stanford), NASA.

Seu período de rotação é semelhante ao da Terra, assim como sua inclinação


(25,19º), apresentando estações do ano. Sua temperatura varia de -130 ºC no inverno
polar a 27 ºC no lado iluminado pelo Sol durante o verão. Nas calotas polares há água
e dióxido de carbono congelados.
Devido à baixa gravidade, a pressão da atmosfera atual do planeta à superfície é
muito baixa: 0,0063 atm.

O M o v i m e n t o R e t r ó g r a d o de Marte

Os babilônios faziam observações com propósitos religiosos e o chamavam de


Nergal, Estrela da Morte. Todavia, foram os gregos os primeiros a identificar Marte
como uma das cinco estrelas errantes (planetas). Hiparco (160 - 125 a.C.) observou
que Marte nem sempre se move de oeste para leste com relação às estrelas fixas, como
fazem os outros planetas. Ocasionalmente, inverte sua trajetória para depois voltar a
deslocar-se normalmente. Esse movimento retrógrado desafiou os astrônomos da anti-
guidade, pois era contrário à teoria vigente de que a Terra era o centro do universo. As
anotações acuradas das observações a olho nú, que procedeu Tycho Brahe das posições
de Marte, permitiram a Johannes Kepler descobrir as leis do movimento dos planetas
e explicar o movimento de Marte.
de Ma
ita rt
rb e
Ó
7 7 7
6
6 3
5
5
4
4 4 6
2
Ó 3
rb 3 5
i ta ra
da Ter 2
2 1
1 1

(a)
(b)
Figura 57 – Posições Aparentes de Marte. (a) Em vermelho, sete posições de Marte em sua órbita. Em azul,
as sete posições da Terra correspondentes. Em preto, como vemos, a partir da Terra, o movimento de Marte
projetado na abóbada celeste. A partir da posição aparente (3), Marte parece retornar, para depois seguir em
frente a partir da posição (5).(b) Esquema das trajetórias com o movimento retrógrado.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  59


Geologia marciana

A missão Mars Global Surveyor não encontrou campo magnético em Marte, o


que significa que o interior do planeta é frio, não tendo fluxos de lava que possam dar
origem a um campo magnético global. No entanto, encontrou rochas magnetizadas
em diferentes direções, o que mostra que Marte já teve um campo magnético que se
invertia de tempos a tempos, como ocorre na Terra. Também não há mais atividade
vulcânica ou tectônica de placas. Uma superfície bastante antiga, datando da época
de formação do Sistema Solar, apresenta várias crateras, antigos vulcões, planícies,
antigos leitos de rios secos e desfiladeiros. Essas formações
indicam que fracas são as forças de erosão. A maior mon-
tanha do Sistema Solar está em Marte, o Olympus Mons
(Monte Olimpo), um vulcão extinto com 25 km de altura,
600 quilômetros de diâmetro na base e uma caldeira de 60
quilômetros de largura.

Deimos
M a r t e tem duas luas

Marte tem dois pequenos satélites naturais, de formas


irregulares, com diâmetros médios de 22,2 km e 12,6 km.
Possivelmente asteróides carbonácios capturados pelo pla-
neta, Fobos e Deimos (Medo e Terror), são os nomes gregos
de dois filhos do deus Ares (Marte).
Ambos os satélites possuem acoplamento de maré,
apontando sempre a mesma face para o planeta.

Phobos Figura 58- À esquerda, os satélites de Marte.

60  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


6
O s P l a n e ta s G a s o s o s

D ois dos quatro gigantes gasosos já eram conhecidos desde a antiguidade (Júpiter e Satur-
no). Os outros dois foram descobertos no século XVIII (Urano) e XIX (Netuno). Porém,
a partir da década de 1970, nosso conhecimento sobre esses planetas e seus satélites foi ampliado signifi-
cativamente a partir das informações colhidas pelo telescópio Huble e, particularmente, pelas sondas es-
paciais que visitaram essa região do Sistema Solar. Confirmaram-se ou descobriu-se novas características
comuns, tais como composição e estrutura, clima, novos satélites e a presença de anéis.

6 .1. J ú p t e r

Júpiter é o maior planeta do Sistema Solar. Compara-


do com a Terra, é maior onze vezes em diâmetro e 318
vezes em volume. Conhecido desde a antiguidade, para
os gregos era Zeus, pai dos deuses olímpicos. Em seu
Sidereus Nuncius, publicado em 1610, Galileu relata
suas observações de Júpiter e das suas quatro luas mais
brilhantes: Io, Europa, Ganimedes e Calisto. É, algu-
mas vezes, o mais brilhante objeto celeste. Isso pode
acontecer quando está em oposição58 e, portanto é mais
fácil de ser observado. Seu período de translação é de
12 anos (4331,57 dias). Possui 63 satélites naturais e uma
temperatura média na superfície de 165 K (-118 ºC).
Marte tem dois pequenos satélites naturais, de formas
irregulares, com diâmetros médios de 22,2 km e 12,6 km.
Possivelmente asteróides carbonácios capturados pelo planeta,
Fobos e Deimos (Medo e Terror), são os nomes gregos de dois filhos
Figura 59 - Primeira foto em
cores, de Júpiter, tirada pela
do deus Ares (Marte).
sonda Cassini, em 30.12.2006 Ambos os satélites possuem acoplamento de maré, apontando
às 21h30. Fonte: NASA/JPL. sempre a mesma face para o planeta.

58 Quando a Terra fica entre Júpiter e o Sol.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Sistema Solar|  61


R o ta ç ã o diferenciada

Júpiter é o planeta com menor período de rotação. Em 1690, o astrônomo Gian


Domenico Cassini descobriu que as regiões do equador do planeta rodam ligeiramente
mais rápido que as regiões polares: 9 horas, 50 minutos e 281 segundos, contra 9 horas,
55 minutos e 41 segundos. Essa rápida rotação resulta em um alargamento no equa-
dor e permite inferir que, assim como o Sol e diferentemente dos planetas terrestres,
Júpiter não é um corpo rígido. Júpiter é um gigante “gasoso”, majoritariamente líquido.
Com densidade média de 1.326 kg/m3, pouco maior que a da água, que é 1.000 kg/
cm3.

E s t r u t u r a de Júpiter

A atmosfera de Júpiter é muito similar à composição da nebulosa solar original. A


composição em volume é dada por 86% de hidrogênio, 14% de hélio e traços de outras
substâncias (metano, vapor de água, amônia).
O planeta está sempre coberto por nuvens que se deslocam, em grupo, seguindo
as correntes de vento que podem chegar a 5.000 km/h e cuja circulação causa fortes
tempestades e turbulências. Sua atmosfera bastante ativa possui um furacão, cujo di-
âmetro é quase duas vezes maior que o diâmetro da Terra, chamado Grande Mancha
Vermelha, facilmente visível com telescópio. Esta tempestade já dura há pelo menos
três séculos. As tempestades não se dissipam, pois não há superfície sólida para atenuar
os ventos por fricção.

Núcleo
Rochoso
Gelo
fundido

Hidrogênio
metálico
líquido

Gases de
hidrogênio
e hélio (a) (b) (c)

Figura 60 - (a) Estrutura interna, (b) Júpiter fotografado pela sonda Cassini-Huygens. (c) Fotografia obtida
pela Voyager 1, enquanto estava a uma distância de mais de 40 milhões de quilômetros.

A atmosfera joviana tem uma espessura de apenas 100 km. As cores das nuvens
resultam das diferentes temperaturas e consequente profundidade: castanhas são mais
quentes e mais profundas; vermelhas, mais altas e frias e as brancas têm temperaturas
intermediárias. Sabe-se que nuvens frias são mais profundas, mas não se sabe qual
a natureza do corante. Abaixo da atmosfera, aumentam a temperatura e a pressão.

62  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Júpiter possui um núcleo rochoso com oito vezes a massa da Terra.
Todavia, devido à grande pressão, 70 milhões de atmosferas terrestres
e temperatura da ordem de 30.000 K, esse núcleo tem um diâmetro
de 11 mil km (pouco menos que o diâmetro terrestre). A essa tem-
peratura, o interior de Júpiter emite uma quantidade de energia, na
faixa do infravermelho, superior àquela que o planeta recebe do Sol.
Essa fonte de energia tem origem em uma lenta compressão gravi-
tacional. No colapso da matéria, energia gravitacional é convertida
em energia térmica. Esse fenômeno é chamado de mecanismo de
Kelvin-Helmholtz. Júpiter, porém, não produz energia por fusão
nuclear. Precisaria de 100 vezes mais massa para que isso ocorresse.
Sobre o núcleo, há uma camada de “gelo fundido” de 3.000 km
de espessura. Acima, há uma camada de 56.000 km de hidrogênio
líquido, mas que devido à alta pressão, comporta-se com um metal,
isto é, tem os seus elétrons livres para percorrer o material. As-
sim, em consequência de sua grande velocidade de rotação, o campo
magnético joviano é gigantesco, 14 vezes mais forte que o terrestre.

P a n o r â m i c a das M i ss õ e s N o r t e -A m e r i c a n a s a
Júpiter

Pioneer 10 – lançada em 1972, é a primeira missão a explorar o


gigante gasoso. Em 3 de dezembro de 1973, passou a 130 mil km da
superfície de Júpiter. Sua missão era, entre outros estudos, mapear o
campo magnético do planeta. Figura 61 - Fotos dos aneis
de Júpiter feitas pela
Voyager 1.
Voyager 1 e 2 – lançada em 1977 e 1978. A Voyager 1 chegou a Júpi-
ter em 1983 e tirou fotografias impressionantes do planeta e de suas luas.
Grande surpresa foram as fotografias dos anéis de Júpiter, compos- (a)
tos por pequenas partículas rochosas, que pouco refletem a luz solar,
sendo invisíveis para a observação com telescópio a partir da Terra.
A Voyager 2 descobriu novas luas de Júpiter.

Cassini-Huygens – lançada em 1997, chegou a Júpiter em 27


de fevereiro de 2004. Tirou milhares de fotos, dentre as quais se
destacam as dos anéis.

Galileo, lançada em 18 de outubro de 1989.

New Horizons – em 2007 fotografa Io e observa mudanças


em sua superfície.

Figura 62 - (a) New Horizons observa mudança na super-


fície de Io. (b) Galileo. Dentre outras belas fotos, essa (b)
tirada em 13 de outubro de 1998, mostra emissões lumino-
sas nas tempestades do planeta.
http://photojournal.jpl.nasa.gov

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  63


O s s at é l i t e s d e Júpiter

As quatro primeiras luas de Júpiter foram descobertas por Galileu, em 1610.


Amalteia foi o quinto satélite de Júpiter a ser descoberto por observação direta (Edward
Barnard, em 1892). Algumas descobertas posteriores foram: Himalia (1904), Elara
(1904), Pasife (1908), Sinope (1914), Lisiteia (1948), Carme (1938), Ananke (1951),
Leda (1974) e Temisto (1975).
Júpiter tem pelo menos 63 satélites identificados, classificados em seis grupos:

Galileanos

Os quatro maiores são conhecidos como Galileanos, porque foram observados


pela primeira vez por Galileu há quatro séculos.

• IO

É a lua mais próxima de Júpiter e a quarta em tamanho. A atividade vul-


cânica de Io é a maior do Sistema Solar . As erupções azuis dos seus vulcões
liberam, a diferentes temperaturas, compostos sufurosos que fazem da super-
fície uma aquarela de tons brancos, amarelos, laranjas, vermelhos e negros. A
região equatorial de Io é de tons laranja-escuro e os pólos são mais escuros e
avermelhados.

• E u r o pa

Após Marte, apresenta-se como o local, no Sistema


Solar, mais provável da existência de vida, pois um mar
de água líquida é protegido por uma camada de gelo.
A superfície é toda riscada. Alguns riscos podem atingir
1.000 km de comprimento e várias centenas de largura.
Figura 64 - Cratera Pwyll. Tem cerca
de 40 km de diâmetro. O choque com um

• Calisto meteorito abriu uma cratera na capa de


gelo. O gelo estilhaçado está coberto
por gelo liso e recente.

Terceiro em tamanho do Sistema Solar (segundo de Júpiter), é coberto


de crateras.

• G a n i m e d e s

É a maior lua do Sistema Solar. É tão grande, que em condições favorá-


veis, é visível a olho nú por pessoas de boa visão (está no limite da percepção
humana).

Figura 63 – As maiores
luas de Júpiter. [NASA]
64  | Ciências Naturais e Matemática | UAB
G r u p o A m a lt e i a

É composto pelos quatro primeiros satélites de Júpiter em aproximação do pla-


neta: Métis, Adrasteia, Amalteia e Tebe. As outras três luas foram descobertas pelas
sondas espaciais.

Grupo Himalia

Satélites de órbitas irregulares de movimento progressivo: Leda, Himalia, Lisiteia


e Elara.

Grupos Ananke, Carme e Pa s i f e

São compostos por satélites irregulares retrógrados, isto é, o movimento é con-


trário ao de rotação do planeta. Acredita-se que cada grupo é formado por satélites de
origem comum.
Alguns satélites de Júpiter, recém-descobertos, ainda não possuem nome oficial,
como por exemplo S/2003 J 15, descoberto em 2003, pertencente ao grupo Ananke. É
um satéllite de forma irregular.
Alguns satélites não estão agrupados: Temisto, Carpo, S/2003 J 12 e S/2003 J 2.

6. 2 . S at u r n o
... os pacotes de compras, os lenços com pequenas economias,
aonde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes?
Não sabes? Vão parar nos anéis de Saturno, são eles que formam,
eternamente girando, os estranhos anéis desse planeta misterioso e amigo.
Objetos Perdidos - Mario Quintana

Do que são feitos os anéis de Saturno? As sondas espaciais descobriram que ape-
sar de, vistos da Terra, parecerem contínuos, os anéis de Saturno são formados por
milhares de partículas de diferentes tamanhos, variando de centímetros a
vários metros.
Dos planetas conhecidos desde os tempos pré-históricos, Satur-
no é o mais distante. É o segundo maior do Sistema Solar (diâme-
tro igual a 84% do de Júpiter). Porém, apesar de seu diâmetro ser
menor que o de Júpiter e raio orbital quase duas vezes

Figura 65 - Visão global de Saturno.


Os anéis de Saturno formam um UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar| 
sistema 65
tão grande que cobririam o espaço entre
a Lua e a Terra. – JLP/NASA
maior que este (9.54 UA), Saturno é um planeta bem visível no céu a olho nú, isto
porque reflete bem a luz do Sol (albedo na faixa do visível de aproximadamente 47%).
Obedecendo a terceira lei de Kepler, a uma distância tão grande, Saturno demora cerca
de 29,5 anos terrestres para dar a volta ao Sol.
Deus da agricultura na mitologia romana. Corresponde ao deus grego Kronos,
filho de Urano e Gaia e pai de Zeus (Júpiter)
O primeiro a observá-lo por telescópio foi Galileu em 1610, mas foi somente em
1659 que Christian Huygens deduziu corretamente serem as formações luminosas late-
rais, anéis que envolvem o equador do planeta. Até 1977, terem anéis era uma caracte-
rística única de Saturno, pois não havia instrumento capaz de observar essas formações
em outros planetas. Todavia, apesar de todos os gigantes gasosos terem anéis, a beleza
e luminosidade dos de Saturno são um espetáculo único e “misterioso”.
Possui um período de rotação diferenciado e bastante curto, apenas 10 horas e
39 minutos no equador. Isto lhe confere o maior achatamento entre os planetas: o di-
âmetro polar (108.728 km) é aproximadamente 10% menor que o diâmetro equatorial
(120.536 km). Semelhante a todos os outros planetas gasosos, tem baixa densidade
média. É, no entanto, o único planeta com densidade média menor que a da água (0,69
g/cm3).
Saturno foi visitado pela primeira vez pela Pioneer 11, em 1979 e, mais tarde,
pelas sondas Voyager 1 e Voyager 2. Atualmente está sendo observado pela missão
Cassini-Huygens, projeto cooperativo da NASA e das Agências Espaciais Europeia e
Italiana.

A t m o s f e r a

A atmosfera é principalmente composta por hidrogênio (97%) e hélio (3%). A


coloração amarela enevoada de Saturno é marcada por largas faixas, que demonstram
uma atmosfera bem ativa, semelhante a Júpiter, porém mais fraca. É alta a velocidade
dos ventos. No equador atinge 500 m/s. A temperatura média das nuvens está em -125
°C. Em Saturno, as camadas de nuvens têm espessura de até 300 km; menos densas
que em Júpiter, devido ser menor a força gravitacional. Saturno, assim como Júpiter,
também apresenta nuvens de longa duração.

E s t r u t u r a

Semelhante a Júpiter, Saturno tem composição similar a da Nebulosa Solar pri-


mordial: 75% hidrogênio e 25% hélio, com traços de água, metano, amônia e poeira.
Seu interior consiste em um núcleo rochoso pequeno (10% do raio, aproxima-
damente). Recobrindo o núcleo, uma camada de gelos de água, amônia e metano. A
seguir, uma camada de hidrogênio molecular líquido sob grande pressão, o que lhe
confere a propriedade de ser condutor elétrico, chamado assim de hidrogênio metálico,
responsável pelo seu forte campo magnético.
O núcleo de Saturno é quente, está a 12.000 K. De modo semelhante a Júpiter e

66  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Netuno, o planeta irradia mais energia para o espaço do que recebe do Sol. Esse fenô-
meno deve-se em parte ao mecanismo de Kelvin-Helmholtz. Porém, outros mecanis-
mos devem existir para que se possa explicar a grande emissão de Saturno.

Sistema de Anéis

Com espessura não superior a 200 metros, a largura total do sistema alcança 360
mil quilômetros. A composição dos anéis é praticamente de água congelada. Em nú-
mero menor encontram-se partículas formadas de rocha, recobertas por gelo. A origem
dos anéis é ainda desconhecida. A teoria mais aceita propõe a sua formação a partir do
material residual do impacto de cometas e meteoróides sobre satélites do planeta. Os
anéis mais brilhantes são chamados A e B e estão separados pela Divisão de Cassini,
descoberta por Giovani Cassini, em 1675. Os anéis A e B e um anel mais fraco C, po-
dem ser vistos com telescópio da Terra. Em 1837, Johann Encke descobriu uma peque-
na divisão no anel A, batizada posteriormente com seu nome. O anel F é constituído de
dois anéis implexos. Estreitos e brilhantes, possuem pontos nodais visíveis. Supõe-se
que os nós possam ser aglomerados de matéria, ou pequenas luas.
Estrutura de anéis identificados pelas sondas:

Nome Distância* (km) Largura (km)


D 67.000 km 7.500 km
C 74.500 km 17.500 km
Divisão de Maxwell 87.500 km 270 km
B 92.000 km 25.500 km
Divisão de Cassini 117.500 km 4.700 km
A 122.200 km 14.600 km
Divisão de Encke 133.570 km 325 km
Divisão de Keeler 136.530 km 35 km
F 140.210 km 30 - 500 km
G 165.800 km 8.000 km
E 180.000 km 300.000 km

D
C
B
A
F
G

Anel E não
aparece nesta
imagem

Figura 66 - Imagem real dos anéis de Saturno obtida pela Voyager 2. As diferenças
de tonalidade foram digitalmente exageradas. Variações de cor indicam ligeiras
diferenças na composição química.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  67


S at é l i t e s

A primeira lua conhecida de Saturno foi Titan, descoberta por Huygens em 1655.
Com as sondas, hoje são 53 luas com nomes oficiais. Há outros satélites não confirma-
dos (aproximadamente 7), encontrados por sondas como Voyager e Cassini e pelo teles-
cópio espacial Hubble. É o segundo em número de satélites naturais, perdendo apenas
para Júpiter. Os nomes dos satélites de Saturno têm origem no mito grego de Kronos
(e@d). Com tantos satélites, há uma diversidade de tipos e comportamentos: Saturno
possui satélites que se formaram junto com o planeta e satélites que foram capturados
posteriormente à sua formação; satélites em condição co-orbital; uns possuem órbitas
regulares, outros não; esféricos ou com forma irregular. Alguns satélites são chamados
de pastores porque limitam a extensão dos anéis. Assim como pastores de ovelhas que
impedem que os animais ultrapassem uma determinada linha, os satélites limitam o
material dos anéis a determinadas faixas. A complexa estrutura dos anéis resulta em
parte dos efeitos gravitacionais desses satélites. Vamos descrever alguns desses satélites.

• T i ta n
A maior lua de Saturno, Titan (5.150 km de diâmetro) é o único satélite do
Sistema Solar que possui uma atmosfera densa (10 vezes mais densa que a da
Terra). Acredita-se que o estudo de Titan pode nos trazer luz sobre a origem da
vida, pois sua atmosfera é rica em matéria orgânica (compostos carbônicos). Pos-
sui uma geologia complexa, apresentando tectônica de placas, erosão, ventos e,
quem sabe, vulcanismo. A sonda Cassini executou 45 voos orbitais sobre Titan
em julho de 2009 (a foto ao lado foi obtida neste período).

• R h e a
Segunda maior Lua de Saturno, porém seu diâmetro (1.528 km) é um terço
do diâmetro de Titan.

• H i p e r i o n
É o maior objeto irregular conhecido no Sistema Solar (410 x 260 x 220 km).
Provavelmente é o resultado de um impacto que destruiu uma lua maior. Possui uma
órbita fortemente excêntrica e uma rotação caótica. A sonda Cassini mostrou detalhes
de sua superfície que parece uma grande esponja, por ter um número muito grande de
crateras profundas.

• J a p e t o e F e b e
Febe e Japeto são as duas únicas luas que orbitam fora do plano do equador de
Saturno. Japeto possui uma face com alta refletividade e outra completamente escura,
por isso é chamado de satélite yin/yang. Japeto foi descoberto por Giovanni Cassini,
em 1671 e Febe foi descoberto por William Pickering, em 1898. O raio orbital de Febe
é quase 13 milhões de quilômetros, aproximadamente quatro vezes o do seu vizinho
mais próximo, Japeto (aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros de Saturno).

68  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


• Pa n , At l a s , P r o m e t e u e M i m a s
São satélites pastores que limitam a extensão dos anéis. Pan é a lua mais próxima
do planeta, localizada na Divisão de Encke. Atlas limita a extensão exterior do anel A
e Prometeu, a extensão interior do anel F. Mimas parece ser a responsável pela reduzida
quantidade de material na divisão de Cassini.

• Janus e Epimeteu
São dois satélites quase co-orbitais, isto é, ocupam quase a mesma órbita. Acredi-
ta-se que devem ter se originado a partir da quebra de uma única lua, fato que deve ter
ocorrido no início da formação do Sistema Solar, pois ambos os satélites têm grande
número de crateras em sua superfície.
Os dois satélites têm um período orbital de aproximadamente 17 horas. Janus e
Epimeteu são o quinto e sexto satélites em distância de Saturno, com uma diferença
de raio orbital de 50 km (151.500 e 151.550 km, respectivamente). Das leis de Kepler
deduz-se que Epimeteu tem um período orbital ligeiramente maior, de modo que, a
cada quatro anos, os dois se aproximem estando na mesma direção radial do planeta. A
próxima aproximação ocorrerá em 2010. A interação gravitacional entre eles e o Plane-
ta Júpiter fará com que os dois satélites mudem de posição, ficando Janus mais distante
que Prometeu a partir dessa data. Prometeu irá se aproximar 80 km de Júpiter e Janus
se afastará 20 km, mantendo a diferença de raio orbital de 50 km. A órbita de Janus
muda apenas um quarto da de Prometeu, porque Janus é quatro vezes mais massivo
que Prometeu.

• M e t o n e , Pa l l e n e e A n t h e
São três minúsculos satélites situados entre Mimas e Enceladus. Possuem 3 km, 4
km e 2 km de diâmetro, respectivamente. Acredita-se que podem ter surgido a partir
de Mimas (a interação gravitacional deste sobre eles, causa fortes irregularidades em
suas órbitas).

• C a ly p s o , T e l e s t o t r o i a n o s d e T é t i s . H e l e n e , P o l i d e u c e s t r o i a n o s d e
Dione
Calypso e Telesto são troianos de Tétis. Assim como Hele e Polideuces são troia-
nos de Dione. Troianos são satélites que compartilham da mesma órbita da lua maior,
60 graus à frente ou seguindo a lua maior também a 60 graus. Esses pontos são cha-
mados de Lagrangeanos (L4). Tétis e Dione são luas pequenas, 1.066 e 1.123 km de
diâmetro, respectivamente, porém bem maiores que seus troianos. Telesto está a 60
graus à frente e Calypso está a 60 graus seguindo Tétis. Helene está à frente e Polideu-
ces segue Dione. Tétis é uma lua esférica pequena, descoberta por Cassini, em 1684.
Dione tem a característica de estar distante de Saturno, tão distante quanto a nossa
Lua está da Terra.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  69


• E n c e l a d u s
É um dos objetos que mais refletem a luz do Sol
(praticamente 100%) devido ser completamente recober-
to com água congelada. Devido a isso, sua temperatura é
de 201 ºC. Em 24 de junho deste ano, a NASA publicou
um artigo em que afirma que, com base em imagens pro-
duzidas pela sonda Cassini, cientistas localizaram jatos a
partir da superfície de Enceladus, de partículas de gelo,
vapor d’água e traços de compostos orgânicos. Parte des-
se material escapa à gravidade da lua e da forma ao anel
exterior de Saturno. Esses jatos indicam a presença de
um reservatório de água salgada líquida – talvez um oce-
ano – sob a superfície do satélite.

Figura 67 – Jatos de partículas de gelo na superfí-


cie de Enceladus [Cassini – NASA]

6 . 3. U r a n o

A descoberta de Urano somente aconteceu 172 anos após as pri-


meiras observações astronômicas com o telescópio. Apesar de ter sido
descoberto, em 1781, por William Herschel, um músico alemão da cor-
te do rei Jorge III da Inglaterra, quem propôs seu nome foi o astrônomo
também alemão Johann Elert Bode, seguindo o costume da adoção de
nomes relativos à mitologia grega. Foi também William Herschel quem
descobriu duas das suas luas, Titânia e Oberon, em 1787.
A dificuldade em observá-lo está na sua grande distância ao Sol:
é aproximadamente o dobro da distância de Saturno (2,8 milhões de
quilômetros em média). A essa distância, Urano tem um período bem
longo de translação, 84 anos terrestres. Sua rotação, em compensação,
é curta, cerca de 18 horas. O aspecto mais interessante de sua rotação é
o eixo ter uma inclinação de 98º com a normal ao plano da sua órbita.
Provavelmente essa estranha inclinação resultou de uma colisão
do planeta com um objeto de grandes proporções. Como consequência
do eixo de rotação inclinado, cada um dos pólos de Urano fica 42 anos
sem iluminação solar. Sua temperatura, no entanto é bastante homo-
Figura 68 - Urano fotografado gênea, entorno de -218 ºC. Deve haver, portanto, mecanismos eficazes
em 2005, pelo telescópio espacial de condução de calor pela atmosfera.
Hubble. Observa-se seu sistema Não há fonte de energia interna relevante em Urano. Medições
de anéis de frente e a impressio-
nante cor azul-esverdeada de sua
no infravermelho registram que a energia liberada para o espaço, é a
atmosfera. Crédito: NASA, ESA, mesma que a recebida pelo Sol. Essa ausência de fonte de energia in-
e M. Showalter do Instituto terna explica a menor agitação atmosférica comparativamente a Júpiter
SETI.
e Saturno.

70  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


A sonda Voyager 2 confirmou
que a atmosfera de Urano é com-
posta principalmente de hidrogênio
(82,5%) e hélio (15,2%). No entan-
to, diverge um pouco da atmosfera
dos outros dois gigantes gasosos,
Júpiter e Saturno, pela presença de
metano (2,3%) e maior percentagem
de elementos pesados. Essa compo- Normal ao
plano da
98º
sição indica que Urano deve ter se órbita
formado em região mais próxima do
Sol (entre 4 e 10 UA), tendo poste-
riormente migrado para a sua órbita
atual devido às perturbações gravi-
tacionais de Júpiter e Saturno. Figura 69 – Rotação de Urano [Créditos do Autor]

E s t r u t u r a I n t e r n a

Assim como os outros planetas jovianos, Urano tem um pe-


queno núcleo rochoso, uma camada de gelo fundido recobrindo
o núcleo e, sobre essa, uma camada de hidrogênio e hélio
líquidos. Porém, diferentemente de Júpiter e Saturno, o hi-
drogênio líquido não é metálico, pois as pressões não são
suficientes.
Núcleo
rochoso

A n é i s de Urano gelo
fundido

Descobertos em 1977, os anéis de Urano Hidrogênio e


são muito estreitos e se estendem de 42.000 a hélio líquidos

52.000 km do centro do planeta. São denomina-


Figura 70 – Estrutura interna de Urano.
dos, na ordem de distância do planeta: Seis, Cinco,
Quatro, Alpha, Beta, Eta, Gamma, Delta, Lambda,
Epsilon e Ni. Há um segundo sistema de anéis a aproxi-
madamente 100.000 km (Mi).

Figura 71 - Os anéis de Urano


(a) foto da Voyager 2 que reve-
lou ao menos 11 anéis de par-
tículas ao redor de Urano. (b)
esquema dos anéis e satélite.
Credito: wikimedia.org

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  71


S at é l i t e s

Os cinco maiores satélites de Urano são Miranda com 240 x 234,2 x 232,9 km,
Ariel com 581,1 x 577,9 x 577,7 km, Umbriel (584,7) Titânia, o maior satélite com
788,9 km e Oberon com 761,4 km. Possuem movimentos de rotação e de translação
sincrônicos.
Os outros satélites são menores e possuem raios que não alcançam uma centena de
quilômetros. O maior deles é Puck, com 81 km e os menores são Mab e Cupido, com
5 km. Seus nomes, diferentemente de outros astros, são shakespearianos: Cordelia (o
mais próximo do planeta), Ophelia, Bianca, Cressida, Desdemona, Juliet, Portia, Ro-
salind, Belinda, Perdita, Francisco, Caliban, Stephano, Trinculo, Sycorax, Margaret,
Prospero, Setebos e Ferdinand (o mais distante do planeta). Dos nove últimos, apenas
Margaret não possui movimento retrógrado.

Figura 72 – Cinco Luas de Urano – Da esquerda para a direita e de cima para baixo. Fotografias
obtidas pela Voyager 2 (data da fotografia): Miranda (30/10/1998), Ariel (05/12/1998), Umbriel
(31/01/1996), Titânia (29/01/1996), e Oberon (13/10/1998).
Créditos: NASA.

6.4. Netuno

O astrônomo inglês John Couch Adams e o astrônomo francês Urbain-Jean-Jo-


seph Le Verrier, a partir do cálculo de irregularidades da órbita de Urano, fizeram in-
dependentemente uma previsão da existência de Netuno,
com base na mecânica newtoniana. Em 4 de agos-
to de 1846, o planeta foi observado por James
Challis (Inglaterra), a partir das predições
de Adams, porém, este não o reconhe-
ceu. Sua identificação só se deu em 23
de setembro de 1846, pelo astrônomo
alemão Johann Gottfried Galle, com
base nos cálculos de Le Verrier.

Figura 73 - Esta foto de Netuno foi enviada


pela espaçonave Voyager 2 em 20 de agosto
de 1989.
72  | Ciências Naturais No centro
e Matemática | UABda imagem vemos a Grande
Mancha Negra. (NASA: Calvin J. Hamilton).
Netuno está a 30 UA do Sol e demora 165 anos para
dar uma volta completa em torno da sua órbita. Assim
como os outros gigantes gasosos tem um período de
rotação curto, apenas 16 horas.
Netuno possui semelhanças com Urano quanto
a sua composição: sua atmosfera é composta por 80%
de hidrogênio, 19% de hélio e traços de metano, o
que sugere que também este deve ter sido formado
em região mais interna a que está hoje. É a camada
de metano, assim como em Urano, que lhe confere a
cor azulada. Ambos também têm aproximadamente
o mesmo diâmetro. Semelhantemente, sua estrutura
é formada por um núcleo rochoso, uma camada de
gelo e, sobrepondo-se a esta, outra de hidrogênio e hé-
lio líquidos, não metálicos, como acontece com Júpiter e
Saturno. Há um campo magnético, detectado pela Voya-
ger 2, não alinhado com o eixo de rotação do planeta e ex-
cêntrico a esse (assim como em Urano). Provavelmente gerado
Figura 74 - A Voyager
por correntes de íons de amônia que se formam no manto, constituído 2 observou em 1989 uma
majoritariamente por água no estado líquido, um bom condutor. grande mancha negra
em Netuno.
No entanto, Netuno possui semelhanças com Júpiter e Saturno, com respeito à
dinâmica de sua atmosfera. Netuno tem uma atmosfera ativa, com padrões de nuvens
visíveis e até tempestades de longa duração. A Voyager 2 observou em 1989 uma gran-
de mancha negra em Netuno. Em 1994, quando esta zona do planeta foi observada
pelo telescópio Hubble, esta tempestade já tinha desaparecido. Entretanto, outra man-
cha (tempestade) apareceu em 1995. Nuvens brancas formam-se do metano trazido
das regiões mais fundas da atmosfera, que se condensa no topo mais frio, na forma de
cristais de gelo. A razão dessa atmosfera ativa é a massa de Netuno ser maior (quase um
quinto maior) que a de Urano. Essa diferença de massa é suficiente para fazer com que
Netuno ainda hoje seja um planeta com um núcleo que apresenta energia térmica, que
é transportada para a superfície e é motor de sua atmosfera. Tal como Júpiter e Saturno,
Netuno emite mais energia do que recebe do Sol.

S at é l i t e s de Netuno

São 13 as luas conhecidas de Netuno.


• T r i tã o
Descoberto por William Lassell em 1846, Tritão é o sétimo e o maior satélite do
último planeta do Sistema Solar. Com diâmetro de 2.700 km, é a maior lua do Sistema
Solar com movimento retrógrado, isto é, seu movimento orbital tem sentido contrário
ao da rotação do planeta. Outra característica orbital de Netuno é que o plano de sua
órbita faz um ângulo de 23º com o plano do equador de Netuno. Acredita-se, em razão
desses fatos, que Tritão não tenha se formado junto com Netuno. Provavelmente tenha

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  73


sido capturado pela força gravitacional do planeta, posteriormente à
sua formação. O fato de sua superfície exibir poucas crateras, também
é uma evidência dessa captura. Provavelmente, após a captura do sa-
télite, as forças de maré entre Netuno e Tritão desencadearam intensa
atividade geológica. A Voyager 2 detectou vulcões de gelo (provavel-
mente nitrogênio líquido, poeira, ou compostos de metano), indicando
que ainda há atividade geológica no interior de Tritão. A existência de
uma atmosfera tênue (cerca de 0,01 milibar) que se estende a altitudes
de 5 a 10 km, também foi detectada pela Voyager 2.

Figura 75 – Foto de Tritão


feita pela Voyager 2. JPL/
NASA
O u t r a s L u a s

Satélite Descobridor, data Tamanho - Característica


Nereida Kuiper, 1949 170 km de raio
Despina Forma Irregular (Dimensões: 90 x 74 x 64 km3)
Galateia (Dimensões: 102 x 92 x 72 km3)
Larissa Voyager, 1989 (Dimensões: 108 x 102 x 84 km3)
Proteu (Dimensões: 220 x 208 x 202 km3) objeto escuro
Náiade O mais próximo do planeta
Talassa (Dimensões: 54 x 50 x 26 km3)
Halimede 30 km de raio
Sao Holman,Kavelaars, 20 km de raio
Grav,Fraser,Milisavljevic
Laomedeia em 2002 20 km de raio
Neso 30 km de raio
Sheppard, Jewitt e
Psámata 20 km de raio
Kleyna

A n é i s de Netuno

Netuno possui seis anéis, assim denominados:


Galle, LeVerrier, Lassel, Arago e Adams. Entre Ara-
no e Adams há um anel sem nome por ser indistinto.
O anel Adams possui cinco arcos assim denominados:
Courage, Liberté, Egalité 1, Egalité 2 e Fraternité59.

59 Não há necessidade de se conhecer muito de francês ou da Revolução


Francesa para saber o significado dos nomes desses arcos.

Figura 76 - Anéis de Netuno fotografados pela


Voyager 2 em 29/10 e 08/08 de 1999.
74  | Ciências Naturais e Matemática | UAB
7
P l a n e ta s A n õ e s

CRÔ NIC A: O DRAMA DO RE BAIX AMENTO

E m 24 de agosto do ano de 2006, Plutão foi condenado por falsidade ideológica. Dizia-se plane-
ta, mas não o era. Nunca fora. Era apenas um planeta-anão disfarçado de Deus Grego. Dizem
que já vendeu sua história para Hollywood. De 1930, quando foi descoberto pelo astrônomo norte ame-
ricano Clyde Tombaugh, até 2006, data da reunião da União Astronômica Internacional, que o rebaixou,
será interpretado por Schwartzneger. Na segunda fase do filme, a partir da queda de categoria até os dias
de hoje, será interpretado por Devito. É um excêntrico. Um planeta pequeno, porém com grande talento
quando se trata de perturbar seus vizinhos: Urano e Netuno. É pequeno, mas não é dois: são quatro. Seu
companheiro inseparável, Caronte, que já foi seu único satélite, reivindica ser tratado como igual. Sem
problemas, descobriu-se que Plutão tem dois outros satélites. Com tanto carisma, será que realmente Plu-
tão nunca foi um planeta?
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Figura 77 – Os planetas anões.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Sistema Solar|  75


Em 2006, a União Astronômica Internacional (IAU) decidiu por considerar uma
nova categoria de astros. Os planetas anões são astros que apesar de terem massa sufi-
ciente para ter uma forma esférica, essa não é suficiente para que esse limpe sua vizi-
nhança da órbita de outros objetos. Esse fato foi desencadeado pelo descobrimento de
Éris, um astro maior que Plutão. Outro objeto que foi considerado planeta anão, foi
Ceres, no cinturão de asteróides. Essa classificação permite incluir diversos outros as-
tros já descobertos e outros que venham a ser. Duas são as regiões em que podem exis-
tir esses corpos: o cinturão de asteróides, entre Marte e Júpiter e o cinturão de Kuiper,
uma faixa localizada além de Plutão. Assim, com exceção de Ceres, todos os outros
planetas anões até agora descobertos, são também chamados de transnetunianos.

7.1. P l u tã o

A partir de 1880, os astrônomos procuraram pelo planeta X,


que explicaria as perturbações encontradas na órbita de Urano. Du-
rante décadas, o astrônomo Percival Lowell dedicou-se totalmente
a busca desse planeta, sem alcançar sucesso. Meio século depois, em
13 de março de 1930, Clyde Tombaugh localizou o novo planeta a
apenas 6 graus da posição presumida por Lowell. Ironicamente, os
astrônomos descobriram posteriormente dois fatos a respeito dessa
busca: que Plutão fora fotografado 16 vezes antes da sua descoberta
e que as divergências com relação à órbita de Urano baseavam-se
em dados incorretos de Netuno, corrigidos pela Sonda Voyager 2.
O novo astro recebeu o nome de Plutão, Deus Romano do mundo
inferior e da morte, por estar em perpétua escuridão. Esse nome
também buscou homenagear Percival Lowell (PL).
O raio orbital de Plutão é muito variável. Vinte anos, dos 249
do seu período orbital, Plutão está mais próximo do Sol que Ne-
tuno. O que impede de colidirem é a forte inclinação do plano da
(a) sua órbita: 17º com o plano da eclíptica (plano da órbita da Terra)60.
Por isso está muito acima ou abaixo do plano da órbita de Netuno.
Em 1978, a descoberta de seu satélite, Caronte, permitiu a
determinação da massa do sistema por meio da lei da gravitação
universal. Caronte é o barqueiro que leva as almas para o Inferno.
A massa de Plutão é cerca de 1,3 x 1022 kg (um quinto da massa da
Plutão Nix Lua) e a de Caronte é um sétimo da de Plutão. O raio de Plutão
Hydra é de 1.137 km, enquanto que o de Caronte é aproximadamente de
Caronte
586 km. Comparativamente, Caronte é o maior satélite do Sistema
Solar.
O estudo por espectroscopia da luz refletida na sua superfície,
(b)
revela a presença de metano sólido, o que indica uma temperatura
Figura 78 – (a) Clyde Tombaugh em inferior a 70 K. Plutão tem uma densidade entre 1,8 e 2,1 g/cm3, o
1930. (b) Os satélites de Plutão -
60 Para comparação, os planetas que possuem maior inclinação do plano da órbita
Caronte, Nix, Hydra. com relação ao plano da eclíptica são Mercúrio e Vênus, com 7º e 3,4º, respectivamente. Veja
a tabela da página 31, para os períodos orbitais.
76  | Ciências Naturais e Matemática | UAB
que nos permite inferir que a sua composição é uma mistura de rocha
e gelo, monóxido de carbono e nitrogênio.
Dois novos satélites foram descobertos em 2005. Os nomes das
luas de Plutão são associados ao deus romano do mesmo nome. Na
mitologia, Nix é a deusa da escuridão e da noite, mãe de Caronte. Hi-
dra, por seu turno, é um monstro com o corpo de uma serpente e nove
cabeças. Nix e Hydra são 5.000 vezes menos luminosos que Plutão e
encontram-se em órbitas que se situam a duas e três vezes a distância
da órbita de Caronte.

7. 2 . É r i s

Com cerca de 3.000 km de diâmetro equatorial é o maior dos


planetas anões e o segundo na subcategoria plutônicos, isto é, objetos
em que Plutão é o protótipo. Possui uma órbita bastante excêntrica,
com raio orbital variando de 35 a 97 Unidades Astronômicas e perí-
odo orbital de aproximadamente 557 anos. Descoberto por Michael Figura 79 - Em Fevereiro de 2006, a
Brown recebeu a designação provisória de 2003 UB313. Posterior- NASA lançou a missão New Ho-
rizons, a nave mais veloz até hoje
mente ficou conhecido como Xena. Nomes não oficiais. Em 14 de
construída pelo homem, que em
setembro de 2006, a União Astronômica Internacional anunciou os 2015 irá passar próximo de Plutão
nomes de Éris, para o planeta anão, e Disnomia para o seu satélite. O e observará também o cinturão de

nome foi proposto por Mike Brown (Caltech, E.U.A.), em nome da Kuiper.
equipe da descoberta.
Éris é a deusa grega da discórdia e dos conflitos. Ela atiça o ciúme e a inveja.
Conta o mito que no casamento de Peleus e Thetis, os pais do herói grego Aquiles,
todos os deuses, com exceção de Éris, foram convidados. Furiosa com sua exclusão,
Éris atirou entre os convivas um pomo de ouro (o pomo da discórdia) com a inscrição
“à mais bela”. Juno, Minerva e Vênus reclamaram a maçã ao mesmo tempo. Júpiter,
esquivando-se de decidir sobre tão delicado assunto, mandou-as ao Monte Ida, onde
Páris pastoreava seus rebanhos. A ele, Juno prometeu poder e riqueza, Minerva, glória
e fama nas guerras e Vênus, a mais bela das mulheres: Helena, esposa de Menelau, rei
de Esparta. Páris escolheu Vênus e as outras duas deusas tornaram-se suas inimigas.
Protegido por Vênus, Páris é recebido por Melenau, em Esparta. Não demorou em
conquistar Helena que foge com ele – “raptada” – para Tróia. Foram dez anos de guer-
ra. A vitória dos gregos só foi possível graças à ideia astuciosa de Ulisses de presentear
os troianos com um cavalo “recheado” de guerreiros. Disnomia é a filha de Éris, deusa
do caos e da anarquia.

7. 3. C e r e s

Em 1801, quando descoberto pelo astrônomo italiano Giuseppe Piazzi, foi con-
siderado um planeta. Porém, foram descobertos posteriormente corpos celestes seme-
lhantes na mesma área. Assim, Ceres foi considerada um asteróide e a região entre

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  77


Marte e Júpiter foi chamada de cinturão de asteróides. O seu diâmetro equatorial é
cerca de 950 km e seu período orbital é aproximadamente 4,6 anos. Ao contrário de
outros planetas anões, a sua órbita é pouco excêntrica, varia entre 2,5 e 3,0 UA do Sol.
É o único planeta anão que não se encontra no cinturão de Kuiper.
Seu nome é uma homenagem à deusa grega da agricultura, mãe de Cora61. Em
2015, a sonda espacial Dawn deverá sobrevoar Ceres.

7. 4 . M a k e m a k e

Em 19 de julho de 2008, a União Astronômica Inter-


nacional deu o nome Makemake ao objeto anteriormente
conhecido como 2005 FY9. O objeto, descoberto em 2005
por uma equipe do Instituto de Tecnologia da Califórnia,
liderada por Mike Brown, é o quarto planeta anão do nosso
Sistema Solar e o terceiro plutóide.
Esse planeta anão é de cor avermelhada e os astrôno-
Figura 80 - Ilustração do mos acreditam que sua superfície esteja coberta por uma
planeta anão Makemake, camada de metano congelado. Seu tamanho é da ordem de 2/3 do tamanho
fonte: International As-
de Plutão. Visualmente, é o segundo mais brilhante objeto plutônico, depois
tronomical Union. Visita-
do em 07/07/2009. http:// de Plutão. É suficientemente brilhante para ser visto através de um telescópio
www.iau.org/public_press/ amador high-end.
news/release/iau0806/
Makemake é o criador polinésio da humanidade e o deus da fertilidade na
mitologia do Pacífico Sul, da ilha Rapa Nui ou Ilha de Páscoa.

7. 5. H a u m e a

Em 17 de setembro de 2008, a União Astronômica Internacional anunciou a no-


meação de Haumea, quinto planeta anão do Sistema Solar, para o objeto anteriormente
conhecido como 2003 EL61.
Haumea é o nome da deusa da fertilidade e do parto na mitologia
havaiana. O seu diâmetro é aproximadamente o mesmo do planeta anão
Plutão, porém, possui forma oblonga, provavelmente devido a sua rápida
rotação, cujo período é de quatro horas. O raio orbital varia de 35 UA a
50 UA. Sua composição é excepcionalmente diferente, sendo o planeta
anão quase totalmente composto de rocha com uma crosta de gelo puro.
Possui dois satélites que se acredita que tenham, no passado, sido
detritos de impactos sofridos pelo objeto e posteriormente capturados.
Foram denominados Hiiaka, a deusa havaiana nascida da boca de Hau-
mea e Namaka, um espírito aquático nascido do corpo de Haumea.

Figura 81 – Ilustração de Haumea. Crédito NASA

61 Veja o mito da constelação de Virgem.

78  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


8
Pequenos Corpos

C om dimensões menores que os planetas anões, temos os asteróides, os cometas e os meteo-


róides.
Os asteróides são objetos rochosos do Sistema Solar com dimensões inferiores a dos planetas anões.
Com diâmetro da ordem de centenas de quilômetros, em média, não possuem massa suficiente para ter
forma esférica (ou quase esférica). Possuem órbitas heliocêntricas muito instáveis, devido à perturbação
gravitacional causada pelos planetas.
Os cometas são objetos formados em grande parte por uma mistura de gelo, gases congelados e po-
eira, também com órbitas heliocêntricas que, ao se aproximarem do Sol, descongelam parte desse mate-
rial, formando uma cauda brilhante. Um cometa após gastar o seu material volátil, transforma-se em um
asteróide.
Os meteoróides são objetos menores que os asteróides e os cometas, que vagueiam pelo espaço, isto
é, não possuem órbita definida. Podem ter origem na colisão entre asteróides, nas ejeções de cometas ou
mesmo ser um objeto da criação do Sistema Solar. Quando entram em contato com a atmosfera terrestre,
se incendeiam e são chamados meteoros.
Finalmente, há objetos tão pequenos, do tamanho de átomos e moléculas, até grãos de poeira inter-
planetária.

8 .1. A s t e r ó i d e s

A palavra deriva das palavras gregas aster para estrela e óide para semelhante. Também chamado de
planetóide, isto é, semelhante a um planeta.
Concentram-se em três regiões do Sistema Solar: o cinturão interno de asteróides, localizado entre
Marte e Júpiter; o cinturão de Kuiper, além da órbita de Netuno e a nuvem de Oort, para além do cinturão
de Kuiper. Há alguns com órbitas excêntricas que aproximam-se do Sol, chegando até a órbita de Mercú-
rio. Há outros, com órbitas que se aproximam da Terra, que merecem nossa atenção.

UAB| Ciências Naturais e Matemática | Sistema Solar|  79


Cintur ão Inter no de Asteróides

A teoria mais aceita sobre sua formação diz que os asteróides foram formados
no início da criação do Sistema Solar, por acresção gravitacional da nebulosa solar
original. Não conseguiram, no entanto, aglomerar toda a matéria do cinturão de sua
órbita, para formar um planeta, devido às perturbações gravitacionais provocadas pelo
gigantesco planeta próximo: Júpiter.
O raio orbital médio varia de 2,1 a 3,3 unidades astronômicas. No entanto, há
diversas faixas que estão praticamente vazias, conhecidas como Lacunas de Kirkwood,
que correspondem a zonas de ressonância, onde a atração gravitacional de Júpiter im-
pede a permanência de qualquer corpo celeste.
Desde 1801, quando descoberto, até 2006, considerava-se Ceres, com 1.000 km
de diâmetro, o maior deles. Têm-se catalogados cerca de duas dezenas de asteróides
com diâmetro superior a 240 km. Lançado em Novembro de 1995, o Observatório Es-
pacial de Infravermelhos - ISO - foi uma missão da Agência Espacial Europeia (ESA)
com a participação das agências espaciais do Japão (JAXA) e dos EUA (NASA). Sua
missão científica durou até maio de 1998 e obteve dados que permitiram (além de pes-
quisa em outras áreas de estudo sobre o Sistema Solar) avaliar em cerca de dois milhões
o número de asteróides existentes com um diâmetro superior a um quilômetro.
Os asteróides segundo a composição são classificados em três categorias:

• Tipo C: São a grande maioria dos existentes (75%). São essencialmente com-
postos por condrites. São extremamente escuros, resultando em difícil obser-
vação.

• Tipo S: (17%). Compostos por silicatos de magnésio, níquel e ferro. São mais
claros que os tipo C.

• Tipo M: (8%). São compostos por níquel-ferro e são extremamente brilhantes.

Os primeiros descobertos, após Ceres, foram: Palas em 1802, por Heinrich Wil-
helm Mathias Olbers (1758-1840), Juno em 1804, por Karl Ludwig Harding (1765-
1834) e Vesta também, por Olbers em 1807. Vesta é um asteróide quase esférico, de
530 km de diâmetro.
Há asteróides que possuem satélites. Ida e seu satélide Dáctilo foram o primeiro
sistema duplo descoberto. Atualmente sabe-se que há grande número desses sistemas,
inclusive triplos e de maior número. Na mitologia grega, Ida era uma ninfa que cuidou
de Zeus quando menino e Dáctilos eram seus filhos com o próprio Zeus, segundo um
dos relatos do mito. Ida tem uma forma bastante irregular (58 km x 10 km x 23 km),
enquanto Dáctilo é surpreendentemente redondo para um asteróide tão pequeno (en-
tre 1,2 e 1,6 km de diâmetro). Ida foi o segundo dos dois únicos asteróides que foram
observados de perto por uma sonda espacial (Galileo, em 1993). Gaspra foi o primeiro.

80  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Troianos

Hidalgo

al
Pr incip Palas
Fa i xa

Ceres Marte
Vesta
Júpiter Terra

Juno

Apolo Sol

Ícaro

Troianos

Figura 82 - Em escala a órbita dos planetas: Terra (1 UA), Marte (1,6 UA) e Júpiter (5,2 UA),
do planeta anão Ceres (2,8 UA), do cinturão de asteróides e dos grandes asteróides Palas,

Juno, e Vesta, os primeiros descobertos. As famílias de asteróides Troianos, Apollo, Ícaro e


Hidalgo.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  81


Dássito

Vesta

Ida

Gaspra

Ceres

Figura 83 – Da esquerda para direita e de cima para baixo: Vesta; Ida e seu satélite
Dáctilo; Gaspra e Ceres. Fonte: NASA.

A s t e r ó i d e s P r ó x i m o s da Te r r a

O estudo de asteróides que orbitam fora do cinturão e cuja órbita passa próximo
a da Terra, chamados de NEA (Near Earth Asteroid), é de grande importância, visto
que existe uma possibilidade de colisão com o nosso planeta. Podem ser classificados
em:
Amor: situam-se entre as órbitas da Terra e de Marte. Podem cruzar ocasional-
mente a órbita de Marte, nunca cruzam a órbita da Terra, embora possam se aproximar
bastante desta. Exemplo: 1036 Ganymed.

Apollo: também situam-se entre as órbitas da Terra e de Marte. No entanto, seu


periélio é inferior ao afélio da Terra, isto é, cruzam as órbitas da Terra. Exemplo: 4581
Asclepius.

Atenas: situam-se aquém da órbita da Terra, todavia, têm órbitas cujo afélio
é superior ao periélio da Terra. Significa que também cruzam as órbitas terrestres.
Exemplo: 99942 Apophis, cujo comprimento está em torno de 300 m e tem massa da
ordem de 50 milhões de toneladas.

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| Ciências
Naturais
Naturais
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99942 A pophis 13 de A bril, 2029

Lua

Terra

Terra
Distância da Terra: 0,0049 UA
Distância do Sol: 1,005 UA

Figura 84 – O asteróide 99942 Apophis (NEA-Aten) passou muito próximo da Terra, a apenas
0,0049 unidades astronômicas, no dia 13 de abril de 2009. Fonte: NASA.

A NASA dispõe62 de uma lista de 1065 asteróides potencialmente perigosos


(PHA - Potentially Hazardous Asteroids).

Q u a s e - s at é l i t e s ou Tr o i a n o s

Dentre os que não estão no cinturão de asteróides, destacam-se os Troianos, aste-


róides que seguem e antecedem Marte, Júpiter e Netuno em sua órbita. São chamados
de quase-satélites porque, como os satélites de um planeta, têm período orbital em
torno do Sol igual ao do planeta, porém, diferentemente de um satélite, não o orbitam.
Os quase-satélites de um planeta são planetóides que orbitam o Sol na mesma trajetória
do seu planeta.
A Terra também possui quase-satélites: os asteróides 3753 Cruithne e 2002
AA29. Descoberto em 9 Janeiro de 2002 pelo LASS (Linear Automated Sky Survey
Project – Projeto de Investigação Linear Automatizada do Céu), o 2002 AA29 mede
aproximadamente 100 metros de diâmetro. Os astrônomos classificam o 2002 AA29
como o primeiro objeto verdadeiramente co-orbital, pois é o único que compartilha
totalmente o caminho da Terra ao redor do céu.
Em 8 de janeiro de 2003, o asteróide chegou muito próximo da Terra: aproxi-
madamente 5,9 milhões de quilômetros. Foi a sua maior aproximação em quase um
século. O asteróide segue uma órbita em forma de “ferradura”, que o leva, a cada 95
anos muito próximo da Terra.
A análise de seu movimento revelou que, de tempos em tempos, o asteróide é cap-
turado pela Terra, tornando-se uma segunda Lua. Este fato aconteceu no ano 550 d.C,
porém, não pôde ser observado, pois os astrônomos da época não tinham o equipa-
mento necessário. Essa captura do asteróide pela Terra acontecerá novamente nos anos
2600 e 3880. Por um período de 50 anos, continuará sendo uma segunda lua da Terra.
Os astrônomos da Universidade de Princeton, J. Richard Gott e Edward Bel-
bruno, têm explorado a hipótese de o 2002 AA29 ter sido formado juntamente com
a Terra e a Theia (veja a formação da Lua). A órbita do asteróide é de tal ordem que
seria relativamente fácil para uma nave espacial obter amostras de rocha e levá-las para
a Terra para análise.
62 No sítio http://neo.jpl.nasa.gov/orbits/ há informações de cada um desses objetos.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  83


Sol
Terra 2002 AA29

Figura 85 – A Terra e um companheiro de viagem

Cintur ão de Kuiper e Nuvem Oort

Em 1950, Jan Hendrik Oort, a partir de cálculos das órbitas dos cometas, deduziu
a existência de uma região com um grande número de objetos (da ordem de um trilhão)
com raio orbital em torno do Sol de 30.000 UA até um ano-luz ou mais. Essa região
de forma esférica envolveria todo o Sistema Solar (com maior concentração no mesmo
plano das órbitas dos planetas). Esses objetos, quando perturbados pela gravidade dos
gigantes gasosos, dirigiriam-se para as regiões internas do Sistema Solar, adquiririam
órbitas bastante elípticas, com periélio nas regiões internas do Sistema Solar e afélio
nas externas, tornando-se assim cometas de longo período (que duram mais de 200
anos).
No ano seguinte, o astrônomo norte-americano de origem holandesa Gerard Kui-
per, sugeriu que os cometas de curto período, deveriam se originar de uma região bem
mais próxima (30 a 100 UA do Sol), concentrada em uma faixa contínua, com elíptica
no mesmo plano das órbitas dos planetas do Sistema Solar e início próximo à órbita do
planeta Netuno.
Em 1992, deu-se a descoberta de um objeto chamado 1992QB1 com 240 km de
diâmetro e à distância prevista por Kuiper. Outros objetos com dimensões similares
foram encontrados nos anos seguintes, confirmando os cálculos de Kuiper. Dentre
esses: Éris, Makemake e Haumea, formalmente reconhecidos como planetas anões.
Outros: SC1993A, 1996TL66, 2001KX76 (Ixion)
ep le r
de K são menores e não se enquadram na definição de
tu r ão
Cin planeta anão, são portanto asteróides. Há, no en-
Júp S at u
r no tanto, aqueles que aguardam maiores estudos da
te r
União Astronômica Internacional, como o objeto
Sol
Ura
no 2002 LM60 (Quaoar) com 1.250 km de diâmetro
(350 km maior que Ceres), Varuna e Sedna. Até
u no o momento, a União Internacional de Astronomia
ão Ne t
Plut
só declarou como planetas anões, os plutônicos
1 Bilhão maiores que Plutão. Estima-se que o Cinturão de
de KM
Kuiper seja constituído por volta de 10.000 objetos
Figura 86 – O cinturão de Kuiper. com mais de 300 km de diâmetro e uma infinidade

84  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


de objetos menores.
São objetos remanescentes da nebulosa da qual todo o Sistema Solar foi formado.
Ocasionalmente, a órbita de algum objeto do Cinturão Kuiper será perturbada por
interações dos planetas gigantes. Isto causará seu encontro com algum dos planetas
gasosos ou em seu deslocamento para uma órbita fora do Sistema Solar ou para seu
interior, possibilitando a visão de mais um cometa.

C e n ta u r o s

Há uma família de asteróides, dos quais Quiron e Asbolus são os principais rep-
resentantes, que orbita entre Saturno e Netuno. O nome Centauros é uma referên-
cia aos seres mitológicos
Distribuição dos Centauros - 50 M aiores
com torso e cabeça hu-
mana e corpo de cavalo.
Os asteróides centauros
se tiverem suas órbitas
perturbadas de modo a se
Diâmetro (km)

aproximar do Sol, serão


cometas. Quiron, em seu
periélio, apresenta coma
e tem aproximadamente
170 km de diâmetro (20
vezes maior que o Come-
ta Halley), portanto, se for
perturbado em sua órbita
e se aproximar do Sol, será
Distância média do Sol
um espetacular cometa. (milhões de km)

Figura 87 - Gráfico de distribuição entre distância e diâmetro dos 50 maiores asterói-


des tipo Centauro. Esses asteróides estão distribuídos principalmente entre Saturno e
Netuno (mostrados em vermelho), sendo que alguns (como Chiron) também podem ser
classificados como cometas. (Crédito Leucinas Louis).
8 . 2 . C o m e ta s

Data de 1705, a primeira publicação de “Uma Sinopse da Astronomia dos Come-


tas”, do físico inglês Edmund Halley, no qual analisa a órbita de 24 cometas aparecidos
entre 1337 e 1698. Ao aplicar a teoria newtoniana da gravitação universal a esses come-
tas, concluiu tratar-se do mesmo astro, cuja órbita heliocêntrica tem período aproxima-
do de 76 anos. Halley ainda previu seu retorno para dezembro de 1758. Infelizmente,
o grande astrônomo inglês faleceu em 1742 e não pôde ver sua previsão confirmada. O
cometa Halley, como passou a ser chamado, reapareceu exatamente em dezembro de
1758 (no Natal), atingindo o periélio em 13 de março do ano seguinte.
Nem todos os cometas possuem órbitas periódicas elípticas, há alguns com ór-
bitas parabólicas ou hiperbólicas, que após uma única aparição, retornam aos confins

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  85


do Sistema Solar. Mesmo as órbitas elípticas dos cometas periódicos possuem forte
excentricidade. Quando está próximo, sua velocidade é muito grande, porém quando
se afasta, sua velocidade diminui, obedecendo a segunda lei de Kepler. Por isso que um
cometa como o Halley, que demora 76 anos para reaparecer, fica visível no céu apenas
por uns poucos meses.

E s t r u t u r a d e u m c o m e ta

Cauda de pó Os cometas ao se aproximarem do


Sol, ficam expostos à radiação solar, que
10 5 faz com que o material volátil do inte-
k m rior do cometa vaporize e seja ejetado do
núcleo. Esse material, junto com a po-
eira por ele carregada, formam a coma,
Ca
ud
ad uma enorme, brilhante e extremamente

on
s
tênue atmosfera em torno do núcleo. O
vento solar arrasta parte desse material
Direção formando duas longas caudas, uma de
do Sol poeira e outra de gás ionizado, que sem-
pre aponta para longe do Sol. A cauda
100 km de poeira tem cor amarelada por refletir
Núcleo
10 km a luz solar, enquanto que a cauda de gás
Direção ionizado tem tons azulados, revelando
do Cometa a sua composição, contendo em geral, a
presença de água (hidrogênio e oxigê-
nio ionizados).
Figura 88 - A estru-
tura de um cometa
A vida na Te r r a

Antes de Halley, a passagem de um cometa era um acontecimento imprevisível


e sinônimo de mau presságio (acreditava-se serem maus espíritos). Posteriormente à
previsão de sua órbita, o medo migrou para a possibilidade de sua colisão com a Terra.
Acredita-se que, na formação do Sistema Solar, muitos cometas devem ter colidido
com a Terra, trazendo grande quantidade de água para o nosso planeta. Vários astrô-
nomos acreditam que a vida na Terra foi semeada por um desses cometas ricos em
aminoácidos.

C o m e ta H a l l e y

Até hoje foram registradas 29 aparições do Cometa Halley: de 239 a.C. a 1985.
Em todas foi visível a olho nú. Calcula-se que perca 0,1% de sua massa total a cada
aparição. O núcleo, que atualmente mede 11 km de diâmetro, tinha 19 km quando foi
capturado pelo campo gravitacional de Júpiter, há aproximadamente 200 mil anos e
deverá ainda ter uma cauda brilhante por mais 300 mil anos, antes de transformar-se
em um asteróide.

86  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Figura 89 - A Tapeçaria de Bayeux, obra de arte bordada entre 1070-1080, representa cenas do cotidiano dos nobres do
final do século XI e retrata a vitória normanda na batalha de Hastings (1066), que teve como consequência a poste-
rior conquista normanda da Inglaterra. Neste trecho, o qual é parte das cenas 16 e 17, podemos observar, à esquerda,
Haroldo, coroado rei da Inglaterra; ao centro, algumas pessoas observam aterrorizadas o Cometa Halley; a seguir
um homem informa a Haroldo (no trono) a passagem do cometa. Na barra inferior há sombras das embarcações nor-
mandas que logo invadiriam o reino - o cometa seria então um presságio funesto do futuro que aguarda o novo rei.
(Stein, 2009).

Em 1910, o Halley fez uma aparição belíssima. Registra-se que era visível durante
o dia. Calcula-se que nessa aparição teve a cauda mais longa. Em 19 de maio de 1910
sua cauda teve uma amplitude angular de 105º (75º acima e 30º abaixo do horizonte).
Infelizmente, semeou pânico: as pessoas acreditavam que se a cauda do cometa encos-
tasse na Terra, seus gases venenosos matariam a todos. A aparição de 1985 não foi tão
impressionante, infelizmente, pois só retornará em 2061.

(a) (b)

Figura 89 - Imagens do Cometa Halley de 1985: (a) Da sonda Giotto da ESA - Agência
Espacial Europeia. (b) A olho nú (NASA).

8 . 3. M e t e o r ó i d e s , M e t e o r o s e Meteoritos

Meteoróides são os menores objetos do Sistema Solar. Ao atravessar a atmosfera


terrestre em alta velocidade, esses objetos se incendeiam e ionizam as camadas superi-
ores, que brilham. Podem apresentar cores variadas ou ainda persistência, dependendo
da velocidade e da composição do meteoróide. A esse fenômeno luminoso dá-se o
nome de meteoro ou estrela cadente.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  87


A maioria dos meteoros tem diâmetro entre meio milímetro e meio centímetro.
Os micrometeoritos, com dimensões inferiores a um décimo de milímetro, são ref-
reados pela atmosfera, porém, não aquecem suficientemente para serem queimados,
chegando até à superfície da Terra.
Meteoróides até 5 cm de diâmetro são completamente vaporizados na atmosfera.
Entretanto, aqueles com diâmetro maior que 5 cm não são completamente vaporizados
e podem chegar até o solo. Esse resíduo, não vaporizado, é chamado meteorito.

Composiç ão dos meteoritos

As partes internas de meteoróides, com diâmetros maiores que cerca de 25 cm,


normalmente chegam intactas ao solo, o que nos permite estudar sua composição e sua
origem. Aqueles com diâmetros intermediários, entre 5 e 25 cm, têm as crostas fundi-
das e podem ter ou não sua parte interna intacta ao chegar ao solo.
Os geólogos e astrônomos estudaram a composição de cerca de 1.500 meteoritos,
classificando-os em três grupos:

• Aerólitos: são meteoritos compostos por mate-


riais rochosos.
• Sideritos: metálicos, compostos quase exclusiva-
mente por ferro e níquel.
• Siderólitos: mescla de material rochoso e metá-
lico.
A pequena quantidade de material radioativo con-
tida em todos os meteoritos, permite sua datação, situ-
ando entre 4,2 e 4,7 bilhões de anos os meteoritos que
foram assim datados. Os meteoritos podem ser coleta-
dos sem risco, pois, apesar de conter material radioativo,
o nível de radiação é muito baixo para ser nocivo à vida.

Figura 90 - O maior meteorito já descoberto C h u va s de Meteoros


no Brasil é o Bendegó, descoberto na Bahia, em
1784. Ele pesa 5.360 kg e está em exposição no
Museu Nacional no Rio de Janeiro. Quando Al- Os meteoros podem ser esporádicos, quando en-
bert Einstein esteve no Brasil em 1925, visitou o tram na atmosfera isoladamente. São, geralmente, frag-
Bendegó. mentos de asteróides.
Quando vários meteoros, em um curto espaço de tempo, provém de um mesmo
ponto do céu, têm-se as chuvas de meteoros. Isto resulta da passagem da Terra por uma
região com muitos meteoróides.
Os cometas, por exemplo, ao ejetarem gases também ejetam detritos, os quais
ficam no rastro do cometa. Durante o ano, periodicamente, a Terra cruza com a órbita
de alguns cometas, produzindo chuvas de meteoros sempre na mesma época do ano.

88  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


Radiante

O radiante é o ponto de onde pare-


cem surgir os meteoros. Os meteoros, na
verdade, entram na atmosfera em diversos
pontos, porém descrevem trajetórias para-
lelas, por isso parecem surgir de um mesmo
ponto. Efeito semelhante ao que se observa,
em uma autoestrada, de convergência das
faixas paralelas, de acostamento e de sepa-
ração das mãos, por exemplo.
As chuvas de meteoros recebem os
nomes dos seus radiantes. O sítio da Organização Internacional de Meteoros (www. Figura 91 – Radiante
de um cometa
imo.net) fornece um calendário detalhado dessas chuvas. As mais intensas são:

Nome Mês Constelação


Quadrântidas Jan Bootes
Líridas Abr Lyra
Eta-Aquáridas Mai Aquarius
Delta-Aquáridas Jul Aquarius
Perseidas Ago Perseus
Oriônidas Out Orion
Táuridas Nov Taurus
Leônidas Nov Leo
Gemínidas Dez Gemini

Perseidas é uma chuva de meteoros, cujo radiante está em Perseu e é associada ao


cometa Swift-Tuttle. Seu nome deve-se aos seus descobridores, os astrônomos norte-
americanos Lewis Swift e Horácio Tuttle, em 1862. Mas foi o astrônomo italiano,
Giovanni Schiaparelli, quem observou que os perseídeos vinham do rastro desse co-
meta.
Esse cometa ficou famoso em 1993, pois as previsões que se tinha,
é que seu bólido chocaria-se com a Terra no ano de 2112. Felizmente,
a luz e o vento solares afastam o cometa da suposta rota de colisão com
a Terra.
Leônidas é uma chuva de meteoros com radiante em Leão. Todo
novembro, a taxa de estrelas cadentes pode ultrapassar 60 por hora.
A maior chuva de meteoros ocorrida na história foi uma chuva de le-
onídeos, que ocorreu em 13 de novembro de 1833, a qual pôde ser
observada essencialmente em quase todo o hemisfério norte.

Figura 92 - Fotografia de um leonídeo, obtida em 18 de no-


vembro de 2001, por Dennis Mammana em San Diego – Cali-
fórnia. Mesmo atrás de uma fina nuvem Cirrus, este meteoro
é suficientemente brilhante para exceder a luminosidade de
registro do filme (fonte: NASA).

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  89


C r at e r a s

Anualmente penetram na atmosfe-


ra cerca de dez mil toneladas de matéria.
Apenas 20% desse total chega ao solo. A
formação de crateras de impacto é um fe-
nômeno muito raro. Formações resultan-
tes de grandes impactos, como a Cratera
de Barringer no Arizona, Estados Uni-
dos, e a de Araguainha, no Brasil, é um
fenômeno ainda mais raro. Barringer foi
a primeira cratera de impacto terrestre a
ser reconhecida. Na década de 1920, frag-
mentos do impacto do meteorito dentro
da cratera foram identificados.
Figura 93 – Crate-
ra escavada por um
Entre as cidade de Araguainha e Ponte Branca, na divisa dos Estados de Goiás e
grande meteoro. Mato Grosso, está a cratera de um bólido que caiu na Terra a cerca de 300 milhões de
anos. A cratera tem 40 km de diâmetro.

E x t i n ç ã o d o s d i n o ss a u r o s

Em 1982, uma publicação do físico estadunidense Luis Walter Alvarez, vence-


dor do Prêmio Nobel de Física de 1968, e de seu filho Walter Alvarez, propôs que a
extinção em massa, ocorrida a 65,5 milhões de anos, se deu em função do impacto
de um asteróide com a Terra. Já havia uma evidência desse fenômeno catastrófico: em
1978 descobriu-se que o irídio, elemento raro no planeta Terra, mas encontrado com
frequência em asteróides e cometas, está presente nas rochas que se formaram no fim
do período Cretáceo. A descoberta de uma cratera, com cerca de 180 quilômetros de
diâmetro, soterrada em Chicxulub, na península de Iucatã, México, constituiu-se em
uma segunda evidência a favor dessa teoria.
A série de fatos que se seguiram ao impacto, prevista pela teoria, levaram à extin-
ção de um grande número de espécies: uma grande quantidade de detritos foi arremes-
sada ao espaço e entrou na órbita da Terra, ficando lá por longo tempo antes de cair;
esses detritos impediam a luz do Sol de chegar até a superfície terrestre, diminuindo
a produção fotossintética (vários herbívoros foram extintos por essa razão). Aos herbí-
voros, sucederam-se os carnívoros, como consequência do desequilíbrio da teia trófica.
Incêndios em escala global, aumento de gases do efeito estufa, longos períodos de
chuva ácida, o aumento da acidez e da temperatura dos oceanos, foram outras conse-
quências prováveis da queda de tão grande bólido.
Estudos mais recentes indicam que a extinção pode ter ocorrido mais de 300 mil
anos após o impacto de Chicxulub, colocando em cheque a teoria do grande impacto.
Apesar disso, ainda é a mais aceita.

90  | Ciências Naturais e Matemática | UAB


8.4. O e s pa ç o i n t e r p l a n e tá r i o

O espaço interplanetário está permeado por poeira e gás ionizado, além de radia-
ção eletromagnética e das magnetosferas do Sol e dos planetas.
A poeira interplanetária, composta por partículas microscópicas, tem uma den-
sidade muito baixa: 5 partículas por centímetro cúbico nas proximidades da Terra,
diminuindo com o quadrado da distância do Sol. O gás ionizado (plasma) provém do
vento solar e é composto basicamente por prótons e elétros. A radiação eletromagnética
é composta desde raios cósmicos a ondas de rádio.
As interações dos campos magnéticos solares e dos planetas com o vento solar
são intrincadas. São essas interações, por exemplo, como foi visto, as responsáveis pela
formação das belas auroras nos pólos do planeta Terra.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  91


Co nclusão

N ossa viagem pelo Sistema Solar chega ao fim.


Mesmo que, algumas vezes, não possamos compreender de imediato que importância pode ter
aquilo que aprendemos sobre o Universo, somos uma espécie em busca de conhecimento.
Conhecer o Sistema Solar nos permite entender a Terra: seus movimentos, características e po-
tencialidades. Esse conhecimento deu ao homem sistemas de contagem de tempo, que permitiram o
desenvolvimento da agricultura, da pecuária… A aeronáutica melhorou os sistemas de comunicação
e de previsão do tempo. Conhecer o Sol nos permite prever tempestades magnéticas e sua influência
sobre esses sistemas de comunicação.
Mas, principalmente, urge conhecer sobre a fragilidade do planeta frente à ação antrópica. A
presença humana sobre a Terra pode estar por um fio, devido à queda de um meteoro ou à devastação
das florestas. Ou, por outro lado, pode ser que estejamos no início de uma nova era. Uma era em que
os avanços tecnológicos promovidos pela astronomia e aeronáutica, possam permitir não apenas uma
melhoria nos meios de comunicação, mas uma comunicação fraterna entre os homens e o entendi-
mento de nossas responsabilidades frente ao planeta.

UAB| Ciências Naturais e Matemática |Sistema Solar|  93


Referências Bibliográficas

ASIMOV, I. Colapso do Universo; tradução: Donaldson M. Garschagen. Rio de Janeiro. Fran-


cisco Alves Editora. 1982.

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