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Doenças gastrintestinais em potros: etiologia e tratamento

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DOENÇAS GASTRINTESTINAIS EM POTROS:


ETIOLOGIA E TRATAMENTO

Ubiratan Pereira de Melo,1 Cíntia Ferreira2 e Maristela Silveira Palhares3

1. Médico veterinário, mestre, professor assistente da Faculdade de Castelo (FACASTELO) / Castelo – Espírito Santo.
E-mail: Ubiratan_melo@yahoo.com.br
2. Médica veterinária, mestranda, Escola de Veterinária da UFMG/ Belo Horizonte, Minas Gerais.
3. Professora associada, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Escola de Veterinária da UFMG/ Belo Horizonte, Minas Gerais

Resumo

As doenças do trato gastrintestinal ocorrem em da palpação transretal, por causa de seu pequeno tamanho.
conseqüência a um número de síndromes clínicas incluindo No entanto, confere vantagem quando da realização da
distensão, injúria isquêmica e inflamatória. A falha desse radiografia e ultra-sonografia abdominal. Esse artigo dis-
sistema orgânico pode manifestar-se como diarréia, íleo cute os métodos utilizados para avaliar potros com doença
adinâmico, dor abdominal, compactação e perda de peso. O gastrintestinal, ressaltando as diferenças entre idades, além
exame do trato gastrintestinal dos potros segue os mesmos de descrever os princípios iniciais de tratamento.
procedimentos realizados nos eqüinos adultos, à exceção

PALAVRAS-CHAVES: Dor abdominal, íleo, tratamento, potro, trato gastrointestinal.

Abstract

GASTROINTESTINAL DISEASE IN THE FOALS: ETIOLOGY AND TREATMENT

Gastrointestinal disease occurs as a consequence size limits the ability to perform a rectal examination, but
of a number of clinical syndrome in the foals including ofers an advantage during ultrasonographic and radiogra-
ischemic, distention, and injury inflammatory. Failure of phic examination of the abdomen. This article considers the
this organ system may manifest as diarrhea, adymanic ileus, methods used to assess foals with gastrointestinal disease
abdominal pain, impaction and weight loss. Examination of and highlights age-related differences. The principles of
the gastrointestinal tract in the foal follows the same pro- initial treatment of foals with gastrointestinal disease are
cedures as in adult; one the main difference is size. Small also discussed.

KEY-WORDS: Abdominal pain, foal, gastrointestinal tract, ileus, treatment.

Introdução BERNARD, 2003). A maioria das alterações gas-


trintestinais pode ser tratada clinicamente, com
Os distúrbios gastrintestinais que causam pequeno número de potros (menos de 1%) neces-
dor abdominal nos potros são comuns, e em certos sitando de intervenção cirúrgica (SEMRAD &
aspectos os potros representam um desafio para SHAFTOE, 1992). Embora essas anormalidades
o clínico que busca estabelecer a causa da dor e sejam, muitas vezes, transitórias e autolimitantes,
o melhor protocolo de tratamento (CUDD, 1990; a dor abdominal pode anunciar o início de uma

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desordem fatal, que necessita de intervenção ci- cólon menor proximal ou cólon maior (COHEN
rúrgica imediata (CUDD et al., 1987). & CHAFFIN, 1994).
Os potros possuem baixo limiar de dor Os sinais clínicos da compactação por
quando comparados aos eqüinos adultos, exi- mecônio incluem diminuição da eliminação
bindo sinais de dor mais rapidamente do que os do mecônio, atitude ou esforço para defecar,
últimos. A rápida diferenciação entre condições freqüentes contrações da cauda, distensão abdo-
clínicas e cirúrgicas é essencial para a sobrevida minal, agitação que progride para depressão e
do potro, pois esses dispõem de poucas reservas rolamento, e diminuição da atividade e amamen-
para resistir às alterações cardiovasculares e tação. Taquicardia e taquipnéia são observadas
metabólicas que acompanham a disfunção gas- concomitantemente ao desconforto abdominal. A
trintestinal grave. compactação colônica por mecônio é muitas vezes
Este artigo tem por objetivo revisar as acompanhada por dor abdominal mais severa do
principais desordens que acometem o trato gas- que a compactação retal. A auscultação e a per-
trintestinal dos potros, bem como os tratamentos cussão podem revelar timpanismo colônico antes
clínicos disponíveis no momento. que a distensão abdominal seja óbvia (SEMRAD
& SHAFTOE, 1992; KOTERBA, 1993; COHEN
REVISÃO DA LITERATURA & CHAFFIN, 1994; EDWARDS, 1997).
As alterações laboratoriais são mínimas
No eqüino adulto, a avaliação clínica, a nos estágios iniciais da doença. Como o potro
palpação transretal e a abdominocentese são diminui sua ingestão oral e transpira em virtude
utilizadas para diagnosticar distúrbios abdomi- do desconforto abdominal, ocorrem desidratação
nais e determinar a necessidade da intervenção e azotemia pré-renal. Leucograma de estresse
cirúrgica. Dentre essas, a palpação transretal é, na pode se tornar evidente. Leucopenia com desvio
maioria das vezes, a mais importante (SINGER & à esquerda, alterações tóxicas nos leucócitos e
SMITH, 2002). O exame do trato gastrintestinal aumento da celularidade do fluido peritoneal,
(TGI) do potro segue os mesmos procedimen- associado com aumento da concentração de
tos realizados no adulto, à exceção da palpação proteína, ocorrem nas obstruções mais graves
transretal, em decorrência do seu tamanho (BER- (SEMRAD & SHAFTOE, 1992).
NARD & REIMER, 1994). O diagnóstico é feito com base na falha da
eliminação do mecônio, sinais clínicos e exame
Retenção de mecônio digital retal. A radiografia abdominal contrastada
pode definir a extensão da obstrução, o grau de
A compactação por mecônio é a causa mais acúmulo de gás, bem como descartar outras cau-
comum de desconforto abdominal nos potros sas de obstrução luminal (ORSINI, 1997).
neonatos. O mecônio é formado por secreções A administração de enemas é o método
glandulares do TGI, fluido amniótico e debris preferido de tratamento das compactações por
celulares. Normalmente, o mecônio é trans- mecônio e a retirada manual do mecônio deve
portado através do TGI para dentro do cólon e ser evitada por causa dos riscos de laceração
reto antes do nascimento (KOTERBA, 1993). A retal. A irritação da mucosa retal e a subseqüente
ingestão do colostro promove aumento na moti- inflamação podem causar tenesmo, que pode ser
lidade gastrintestinal, auxiliando na eliminação confundido com tentativas de eliminação do me-
do mecônio dentro das primeiras três horas de cônio (COHEN & CHAFFIN, 1994).
vida (EDWARDS, 1997). O mecônio possui O enema pode ser realizado com água mor-
coloração castanho-escura a negra e consistência na e sabão, solução salina a 0,9% e óleo mineral
variando de pastosa a firme. A compactação por diluído em água morna. Aproximadamente 500
mecônio localiza-se mais comumente no reto e ml de uma das soluções deverão ser administrados
cólon menor distal, ocasionalmente ocorrendo no através de sonda flexível por fluxo de gravidade.

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A superdistensão do reto, a utilização de soluções porém ocorre mais freqüentemente em machos


irritantes e a manipulação retal excessiva podem e, aparentemente, a grande elevação da pressão
provocar trauma e atonia retal. Se não for observa- intraluminal nos machos durante o parto parece
da nenhuma resposta clínica após dois ou quatro ser a causa. O diâmetro uretral menor dos machos
enemas, deve-se considerar outra abordagem produz grande resistência ao fluxo passivo de
terapêutica (SEMRAD & SHAFTOE, 1992). urina, ao contrário da uretra das fêmeas (COHEN
Enemas comerciais fosfatados podem ser úteis. & CHAFFIN, 1994; FENGER, 2000).
No entanto, dado o risco de hiperfosfatemia, não O uroperitôneo pode resultar também da
deverão ser utilizados mais do que duas vezes. A ruptura do úraco, secundária à avulsão do cordão
aceltilcisteína (8 g diluído em 200 mL de água umbilical, durante ou após o nascimento, parti-
contendo 20 g de bicarbonato de sódio) é outra cularmente se a égua pariu em estação, ou após
alternativa (MADIGAN & GOETZAN, 1990; infecção umbilical e posterior necrose do úraco
EDWARDS, 1997). (HARDY, 1998). Geralmente o defeito já apare-
Podem ser administrados 200 mL de óleo ce ao nascimento, embora os potros acometidos
mineral via sonda nasogástrica para ajudar no inicialmente sejam normais ao nascimento e
amolecimento das fezes. Os laxantes orais são desenvolvam o quadro clínico em 48 a 72 horas.
100% efetivos no alívio da compactação, quan- Estrangúria é o primeiro sinal clínico observado.
do administrados antes que a motilidade do TGI O estímulo para a micção nesses potros geralmen-
diminua, em decorrência da distensão gasosa. te é a distensão abdominal, porque a bexiga não
Laxantes adstringentes como sulfato de mag- está distendida. A presença de um jato de urina
nésio devem ser evitados. A compactação pode não descarta a presença do uroperitônio, porque
ser também amolecida pela administração de o potro pode ser capaz de acumular alguma urina
fluidoterapia intravenosa ou oral. Desequilíbrios na bexiga e evacuá-la parcialmente (FENGER,
eletrolíticos incluindo hipocalcemia, hipocale- 2000).
mia e hipomagnesemia deverão ser corrigidos Os sinais clínicos incluem depressão, dis-
para promover o retorno da motilidade intestinal tensão abdominal, além de episódios ocasionais
(SEMRAD & SHAFTOE, 1992). de dor abdominal leve. Alguns potros desen-
Analgésicos podem ser indicados, se a fonte volvem edema prepucial e escrotal em virtude
do desconforto abdominal tenha sido determina- da presença de urina na túnica vaginal (BART-
da. Por causa do risco de ulceração gástrica, os MANN et al., 2002). O esforço para urinar deve
antiinflamatórios não esteroidais deverão ser uti- ser diferenciado do esforço para defecar, o qual
lizados criteriosamente (SEMRAD & SHAFTOE, pode ocorrer na mesma idade, em decorrência da
1992; COHEN & CHAFFIN, 1994). compactação por mecônio (HARDY, 1998; FEN-
Muitos casos de retenção de mecônio res- GER, 2000). Naqueles casos em que a ruptura do
pondem ao tratamento clínico com enemas, flui- úraco resulta em extravasamento de urina para o
doterapia e laxantes, mas, se o tratamento clínico tecido subcutâneo, o potro apresentará edema,
não resolver o caso ou se os sinais de desconforto em vez de sinais clínicos sistêmicos. Nos casos
abdominal persistirem, o tratamento cirúrgico é de defeitos do ureter, o acúmulo retroperitoneal
indicado (ORSINI, 1997). de urina resulta em edema perineal ou perivaginal
(HARDY, 1998).
Uroperitôneo Com a evolução do uroperitônio, outros
sinais clínicos notados incluem depressão, de-
O uroperitôneo é causa freqüente de sidratação, anorexia e dor abdominal modera-
distensão e desconforto abdominal nos potros da. Embora o conteúdo total de água do corpo
neonatos. A ruptura da bexiga é a causa mais possa estar aumentado, hipovolemia pode estar
comum, ocorrendo em aproximadamente 0,05% presente e se manifestar por extremidades frias,
a 1% dos potros. Qualquer sexo pode ser afetado, TRC aumentado, mucosas congestas e qualidade

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de pulso ruim. As anormalidades laboratoriais direcionado para estabilizar o paciente e corrigir


típicas incluem hiponatremia, hipocloremia, hi- qualquer desequilíbrio eletrolítico ou ácido-base,
posmolaridade, hipercalemia, acidose metabólica além de fornecer a reposição de fluidos. Solução
e azotemia (COHEN & CHAFFIN, 1994). Nos salina (NaCl 0,9% ou 0,45%) deverá ser utiliza-
casos de hiponatremia grave, podem ser obser- da até que os resultados laboratoriais do estado
vados sinais neurológicos incluindo apreensão, eletrolítico estejam disponíveis. Níveis de po-
hiperestesia, demência e andamento espástico tássio acima de 5,5 mEq/L devem ser corrigidos
(HARDY, 1998). rapidamente. A hipercalemia deve ser corrigida
Casos clínicos diagnosticados precocemen- pela administração IV de 0,5 g/kg de dextrose e
te podem não apresentar sinais de desequilíbrio 0,1 UI/kg de insulina. A hipercalemia pode ser
ácido-base e eletrolítico. Potros que desenvolvem controlada pela drenagem peritoneal para ajudar
uroperitôneo durante a hospitalização e que estão a remover a fonte de potássio (HYMAN, 2001;
sob regime de fluidoterapia endovenosa podem BARTMANN et al., 2002).
não evidenciar desequilíbrio eletrolítico, dada A reposição de fluidos deve ser igual à
a composição dos fluidos administrados, que quantidade removida, para prevenir um quadro
podem compensar ou mascarar o desequilíbrio de hipotensão aguda provocada pela expansão
(HYMAN, 2001). O diagnóstico do uroperitônio é dos vasos previamente colapsados. A drenagem
baseado nos sinais clínicos e dados laboratoriais, abdominal pode também melhorar a ventilação e
e o início da sintomatologia depende do tamanho diminuir o trabalho da respiração pela diminuição
e localização do defeito. Grandes lacerações da da pressão no diafragma. A acidose metabólica
bexiga apresentam-se na idade de um a dois dias, pode ser tratada através da administração de bicar-
enquanto pequenas lacerações podem ocasionar bonato de sódio, que ajuda também a diminuir a
sinais clínicos em quatro a cinco dias. A determi- hipercalemia, mediante o favorecimento do influxo
nação da proporção concentração de creatinina no de potássio para dentro das células (BARTMANN
fluido peritoneal: concentração sérica de creati- et al., 2002). A hiponatremia deve ser corrigida de
nina é útil no estabelecimento do diagnóstico, e forma lenta. Uma vez que o paciente esteja clini-
proporções > 2:1 indicam uroperitôneo (BART- camente estabilizado, ele deverá ser encaminhado
MANN et al., 2002). a um centro cirúrgico de referência para correção
A radiografia abdominal revela acúmulo da laceração (HYMAN, 2001).
de fluido no interior do abdome, com perda do
contraste intestinal, e o acúmulo de urina pode Ulceração gastroduodenal
estender-se para dentro da cavidade torácica. A
cistografia contrastada retrógrada é útil para diag- A síndrome da úlcera gástrica eqüina é
nosticar o local da ruptura da bexiga. Esse mé- comum em eqüinos de performance e altamente
todo, no entanto, pode produzir resultados falsos prevalente nos potros. Nos potros, úlceras graves
negativos se um volume inadequado de contraste podem se desenvolver aos dois dias de idade
é utilizado e/ou o defeito é muito pequeno e locali- (BUCHANAN & ANDREWS, 2003; MURRAY,
zado dorsalmente. A abdominocentese não revela 2003). As úlceras gastroduodenais são comuns
peritonite e a urina geralmente é estéril, exceto em potros de todas as idades, particularmente
nos casos em que um uraco infectado antecede o naqueles tratados com drogas antiinflamatórias
uroperitônio e, nesses casos, a cultura do fluido não esteroidais ou submetidos a várias formas
peritoneal é indicada (HYMAN, 2001). Cristais de estresse (desmame, doença), podendo causar
de carbonato de cálcio podem ser identificados sinais clínicos que são indistinguíveis dos sinais
no fluido coletado (MORLEY & DESNOYERS, clínicos de cólica recorrente ou crônica (FISHER,
1992). 1997).
O uroperitônio deve ser tratado como As úlceras gástricas e duodenais resultam
emergência médica. O tratamento inicial deve ser do desequilíbrio entre os fatores protetores e

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agressores da mucosa. Os fatores protetores são ou alimentação (STONEHAM, 1996; MURRAY,


responsáveis pela manutenção da higidez do 2003).
TGI e incluem a manutenção de fluxo sangüíneo As úlceras perfurantes resultam em perito-
na mucosa, produção de muco e bicarbonato, nite difusa, profunda depressão, colapso cardio-
produção de prostaglandina E2 e fator de cres- vascular, taquipnéia, taquicardia, dor e distensão
cimento epitelial, inervação gástrica aferente, abdominal. A síndrome final está associada a
reposição das células epiteliais e motilidade lesões da mucosa gástrica que se estendem do
gastroduodenal. Os fatores agressores incluem piloro ao duodeno. Essas lesões resultam em
o ácido gástrico, sais biliares, pepsina e várias estenose do piloro e são seqüelas da cicatrização
enzimas (ANDREWS et al., 1990; BARR, das úlceras. Os potros geralmente têm mais de um
2001). mês de vida e podem apresentar grande volume
A acidez gástrica no potro é elevada, prin- de refluxo (BARR, 2001).
cipalmente entre os intervalos de amamentação. Algumas das lesões erosivas ou ulcerativas
Potros com um dia de vida possuem pH gástrico adjacentes a margo plicatus no potro podem di-
relativamente alto, raramente menor que 4,0 e por fundir-se em áreas de ulceração maiores ou mais
volta de uma semana de vida pode ser menor que profundas. Nesse ponto, pode ocorrer hemorragia
2,0. A amamentação está associada com rápido associada às lesões. Na maioria dos potros, con-
aumento no pH gástrico e, conseqüentemente, o tudo, as lesões da mucosa escamosa resolvem-se
pH gástrico torna-se mais ácido quando o potro sem tratamento e sem causar problema clínico.
permanece longos períodos sem mamar (BAR­ Em alguns potros ocorre crescimento insatisfató-
KER & GERRING, 1993; SANCHEZ et al., rio, pelagem áspera e/ou um aspecto “barrigudo”
1998). em conjunto com ulceração grave da mucosa
Os sinais clínicos nos potros diferem da- escamosa. Nos potros mais velhos, as lesões tor-
queles demonstrados pelos adultos e a síndrome nam-se mais prevalentes na mucosa escamosa que
da ulceração gastroduodenal pode ser classificada circunda o cárdia e ao longo da pequena curvatura
em quatro categorias clínicas: (1) silenciosa ou entre o cárdia e o piloro (MURRAY, 2000).
subclínica, (2) úlcera ativa ou clínica, (3) úlcera O diagnóstico da ulceração gastroduodenal
perfurante e (4) úlceras associadas com obstrução baseia-se na presença de sintomatologia clínica
do esvaziamento gástrico secundária a estenose relacionada à idade, achados endoscópicos e
pilórica (MURRAY, 1999; BARR, 2001). resposta ao tratamento. No entanto, o diagnós-
As úlceras subclínicas são achados de tico definitivo só é realizado mediante o exame
necropsia, e a maioria regride sem problemas gastroendoscópico (MURRAY, 2000).
clínicos aparentes. As úlceras clinicamente ativas A base racional do tratamento das úlceras
podem ocorrer tanto na porção escamosa quanto baseia-se no alívio da dor, na diminuição da aci-
glandular do estômago, podendo ser primárias dez gástrica, na melhora na proteção da mucosa,
ou secundárias. A apresentação clínica clássica no estímulo da cicatrização das lesões, na preven-
dos potros inclui bruxismo (odontoprise), ptialis- ção de complicações secundárias e reincidivas. Os
mo e decúbito dorsal. O bruxismo e o decúbito potros com risco de desenvolvimento de úlceras
dorsal provavelmente refletem algum grau de podem ser tratados com antagonistas do receptor
desconforto abdominal, não sendo específicos de histamina H2, antiácidos, inibidores da bomba
para a ulceração gastroduodenal. O ptialismo está de prótons ou com o sucralfato (FENGER, 2000;
diretamente associado com a esofagite resultante BUCHANAN & ANDREWS, 2003).
do refluxo gastroesofágico que ocorre secunda- Os antagonistas do receptor de histamina do
riamente à ulceração grave. Muitos potros com tipo 2 incluem a ranitidina, a cimetidina e a fa-
ulceração gastroduodenal podem exibir episódios motidina. Esses compostos bloqueiam a interação
recorrentes de diarréia, febre e refluxo gástrico. A da histamina com os receptores de histamina do
dor abdominal pode piorar após a amamentação tipo 2 nas células parietais resultando na inibição

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dose-dependente da secreção do ácido gástrico. O tos, desenvolvendo-se geralmente dos sete aos
bloqueador H2 mais comumente utilizado é a rani- sete dias de idade. A diarréia é transitória e branda.
tidina, administrada na dose de 4,4 a 8,8 mg/kg por O estado mental e a atitude são mantidos com o
via oral a cada oito ou doze horas. Quando admi- animal apresentando vivacidade e responsividade
nistrada na dose de 6,6 mg/kg a cada seis horas, a durante as formas brandas de diarréia e nenhum
ranitidina suprime a liberação ácida e mantém um tratamento específico está indicado (FENGER,
pH estomacal médio de 4,6 (FENGER, 2000). 2000).
O sucralfato (20 mg/kg via oral a cada 6 Causas predisponentes para a diarréia do
horas) forma uma camada aderente que, diante da cio do potro incluem alterações na composição
exposição ao suco gástrico, recobre a superfície da do leite, cio da égua, má absorção de carboidra-
úlcera. O sucralfato estimula a liberação de prosta- tos, infecção parasitária e super-alimentação. A
glandina E2 (PGE2), que possui um efeito citoprote- síndrome reflete, mais provavelmente, o estabe-
tor, na mucosa local (BORNE & MAcALLISTER, lecimento da flora normal do intestino grosso e
1993). No entanto, o sucralfato é indicado somente amiúde segue-se a coprofagia das fezes maternas
para úlceras na região glandular e duodenal, não pelo potro. Possivelmente, a síndrome não tem
possuindo efeito algum na cicatrização das úlceras nenhuma correlação com a condição hormonal da
na região aglandular (ORSINI, 2000). égua ou com a infecção por Strongyloides westeri
O uso dos inibidores da bomba de prótons (COHEN & CHAFFIN, 1995; LESTER, 2001).
oferece muitas vantagens sobre os antagonistas A infecção por S. westeri, que ocorre via
H2. O omeprazol é a única droga dessa classe transmamária, foi considerada como possível
com uso liberado para eqüinos, demonstrando-se causa da diarréia do cio do potro. A prevalência
eficaz numa dose de 4 mg/kg por via oral a cada da infecção pelo S. westeri em potros antes da
24 horas (BUCHANAN & ANDREWS, 2003). O disponibilidade do tiabendazol e, mais tarde, da
tratamento das úlceras perfurantes é frustrante, e ivermectina, era cerca de 90%, o que fez deste
a peritonite difusa tem prognóstico ruim. Quando nematóideo o principal suspeito da diarréia do
a úlcera estiver contida pelo omento, a ressecção cio do potro. Entretanto, o uso de anti-helmínticos
da porção do estômago pode ser bem-sucedida, eficazes diminuiu a prevalência da infecção para
mas a intervenção cirúrgica bem-sucedida nestes cerca de 6% sem diminuição da correspondente
casos é rara (FENGER, 2000). diarréia (FENGER, 2000). A causa definitiva da
diarréia do cio do potro permanece indefinida
(SEMRAD & SHAFTOE, 1992; COHEN &
Diarréias CHAFFIN, 1995; FENGER, 2000; LESTER,
2001).
A diarréia é o distúrbio gastrintestinal mais
comum nos potros jovens. Cerca de 80% dos Rotavírus
potros apresentam pelo menos um episódio de
diarréia durante os primeiros seis meses de ida- Os potros são susceptíveis às diarréias virais
de, e a maioria dos episódios é leve e transitória. durante o período perinatal, neonatal e de ama-
Os potros afetados devem ser constantemente mentação, pelo fato de serem imunologicamente
monitorados quanto à presença de depressão, imaturos (SLOVIS, 2003), e o rotavírus infecta
desidratação, desconforto abdominal e outros potros neonatos de muitas formas diferentes. O
sinais de comprometimento sistêmico. rotavírus parece ser um patógeno significativo
dos potros, sendo encontrado em 28% a 80%
Diarréia do cio do potro dos potros com diarréia até os três meses de vida
em todas as regiões do mundo, podendo ocorrer
A diarréia do cio do potro é considerada a em surtos ou casos esporádicos (COHEN &
causa mais comum de diarréia nos potros neona- CHAFFIN, 1995; FENGER, 2000). Os surtos de

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diarréia associada ao rotavírus podem ser um pro- menos comuns. Potros que se recuperam podem
blema nas áreas de reprodução intensiva durante ter taxas de crescimento diminuídas (COHEN &
a estação de monta (STONEHAM, 1996). CHAFFIN, 1995; STONEHAM, 1996; FENGER,
A doença é observada nos potros com 2000).
menos de seis meses de idade, e levantamentos O diagnóstico é baseado no histórico, nos
sorológicos demonstraram que quase 100% dos sinais clínicos e no isolamento do vírus nas fezes.
eqüinos adultos apresentam algum título para O rotavírus não é eliminado em grandes quanti-
rotavírus, atuando dessa forma como portadores. dades nas fezes de potros com diarréia. Portanto,
O rotavírus pode ser eliminado pelos adultos o nível de detecção de qualquer teste diagnóstico
portadores, pelos potros assintomáticos (sadios simples é só de 33% dos potros reconhecidos
ou portadores pré-clínicos) e potros com (ou como infectados. Há três métodos de diagnós-
recuperando) diarréia. A eliminação tem sido ob- tico: (1) Elisa; (2) microscopia eletrônica e (3)
servada desde dois dias antes de os sinais clínicos eletroforese. Os métodos de diagnóstico devem
manifestarem-se até seis dias depois da resolução, ser aplicados a múltiplos potros acometidos com o
e o microrganismo pode permanecer no ambiente propósito de confirmar um surto, ou vários méto-
por até nove meses (SEMRAD & SHAFTOE, dos precisam ser usados para confirmar a doença
1992; COHEN & CHAFFIN, 1995). em um único potro (COHEN & CHAFFIN, 1995;
A extensão da infecção na propriedade é FENGER, 2000).
determinada em parte pelo número de animais O tratamento dos potros que apresentam
susceptíveis, pelo grau de contaminação da diarréia por rotavírus é dirigido para a manuten-
propriedade, por fatores predisponentes como ção da hidratação, para o equilíbrio eletrolítico
manejo deficiente e superpopulação, níveis de e ácido-básico, para a redução do desconforto
anticorpos colostrais adquiridos pelo potro e abdominal ou irritação intestinal, para a pre-
medidas feitas para conter o surto (SEMRAD & venção da infecção bacteriana secundária e da
SHAFTOE, 1992). disseminação da infecção para outros potros.
Há diversos mecanismos de diarréia as- Os potros levemente afetados e que continuam
sociados à infecção pelo rotavírus. O rotavírus a alimentar-se podem não necessitar de outras
replica-se dentro das células epiteliais intestinais, intervenções além da observação e isolamento
resultando na desnudação das vilosidades intesti- (SEMRAD & SHAFTOE, 1992).
nais. Uma vez que as vilosidades possuem função A desidratação e o desequilíbrio eletrolítico
absortiva e as criptas função secretória primária, são corrigidos pela administração de soluções
o resultado é que a secreção excede a absorção. eletrolíticas orais. Nos potros com perda da
Além disso, o rotavírus interfere na produção de capacidade absortiva intestinal, a administração
dissacarídeos, incluindo a lactase. O co-tranpor- de fluido endovenoso é necessária. As soluções
tador de sódio-glicose fica também prejudicado, eletrolíticas poliônicas balanceadas são geral-
resultando na falha da absorção de açúcares e mente adequadas, a menos que o potro esteja
diarréia osmótica (FENGER, 2000). severamente acidótico, hiponatrêmico, hipocal-
Potros clinicamente afetados demonstram cêmico ou hipoglicêmico. Nos potros acidóticos
anorexia, depressão, febre, timpanismo abdominal e hiponatrêmicos, a administração de bicarbonato
e desidratação. Esses sinais clínicos são seguidos de sódio pode ser necessária. Potássio e glicose
por diarréia em 12 a 24 horas. Podem-se observar podem ser adicionados aos fluidos para correção
dor abdominal leve e hipomotilidade intestinal. da hipocalemia e hipoglicemia, respectivamente
A diarréia resolve-se dentro de três a cinco dias. (COHEN & CHAFFIN, 1995; STONEHAM,
Como em todas as síndromes diarréicas, desequi- 1996; SEAHORN & SEAHORN, 2003).
líbrio eletrolítico é comum durante a infecção pelo Os protetores intestinais têm sido indicados
rotavírus. Hiponatremia e hipocloremia são mais como método auxiliar no tratamento da diarréia
comuns, enquanto que hipocalemia e acidose são por rotavírus (SEMRAD & SHAFTOE, 1992).

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740 MELO, U. P. de et al.

Essa modalidade de tratamento é dividida em três ferentes formas clínicas na qual a doença pode
categorias: manutenção da flora colônica, manu- ocorrer, variando de infecções subclínicas a sur-
tenção da saúde colônica e redução da inflamação. tos de colite grave que causam alta mortalidade
Diversos agentes são utilizados como protetores (SPIER, 1993).
intestinais, a exemplo dos probióticos, prebió- O achado hematológico mais consistente
ticos, caolin, pectina e subsalicilato de bismuto nos casos de salmonelose é neutropenia. As al-
(TILLOTSON & TRAUB-DARGATZ, 2003). terações hematológicas refletem a resposta do
Preventivamente, os potros com diarréia de- hospedeiro à endotoxemia. Nos casos graves, o
vem ser isolados de outros potros e eqüinos adul- leucograma demonstra desvio à esquerda dege-
tos, os tratadores devem utilizar roupas protetoras nerativo e alterações tóxicas nos neutrófilos. A
e sapatos que possam ser lavados e desinfetados contagem de leucócitos pode ser menor que 1500/
adequadamente após seu uso. As mãos devem μL com presença de neutropenia e linfopenia. A
ser lavadas completamente por um mínimo de concentração de fibrinogênio varia enormemente,
trinta segundos com um sabão desinfetante eficaz variando desde concentração baixa resultante de
após o manejo dos potros diarréicos. As roupas coagulopatias (< 100 mg/dL) a valores elevados
contaminadas utilizadas em uma baia não devem que estão associados a alterações inflamatórias
ser utilizadas em outra baia. Pedilúvios devem (1.000 mg/dL). O hematócrito pode estar elevado
ser usados regularmente e devem conter um devido à hemoconcentração (secundária a desi-
desinfetante que destrua o rotavírus. Os agentes dratação) e contração esplênica. A concentração
ideais são os compostos fenólicos. Compostos da proteína plasmática aumenta inicialmente em
de amônia quaternária e hipoclorito de sódio não virtude da hemoconcentração e logo após diminui,
destroem o rotavírus e são inativados pela matéria como resultado da perda entérica de proteínas
orgânica (LESTER, 2001). decorrente da lesão mucosa e aumento do dano
epitelial. A hipoproteinemia e o desenvolvimento
Salmonelose de edema após transfusão de plasma são sinais
desfavoráveis à sobrevida (SPIER, 1993).
A infecção por Salmonella é a causa mais Os princípios da terapia da salmonelose
comum de diarréia aguda nos potros (JONES & incluem reposição das perdas de líquidos e eletró-
SPIER, 2000), havendo quatros síndromes clí- litos, controle da inflamação colônica e redução
nicas documentadas clinicamente: (1) infecções da secreção líquida, controle da endotoxemia e
inaparentes com estados de portador latente ou da sepse e restabelecimento da flora normal. O
ativo; (2) depressão, febre, anorexia, neutropenia tratamento com antibióticos em eqüinos com sal-
sem diarréia ou cólica; (3) enterocolite fulminante monelose é controverso. Não se considera que os
ou superaguda com diarréia; e (4) septicemia. A tratamentos com antibióticos alterem o curso da
diarréia pode não ser observada durante dias, mas enterocolite. O uso dos antibióticos, embora con-
em geral ocorre 24 a 48 horas antes do pico febril, troverso, é de importância fundamental no contro-
perdurando por vários dias. A característica das le da septicemia ou em pacientes neutropênicos.
primeiras fezes diarréicas usualmente é aquosa A susceptibilidade dos sorotipos de Salmonella
com partículas de substâncias indigeríveis, odor associados aos antibióticos varia amplamente
fétido e coloração verde-amarelada (DUIJKE- (DUIJKEREN et al., 1995; 2002).
REN et al., 1995) O cloranfenicol e a gentamicina são os dois
A salmonelose pode produzir surto de antibióticos mais utilizados no tratamento da
bacteremia, diarréia, choque séptico e morte, salmonelose (DUIJKEREN et al., 1995; JONES
especialmente em potros mais jovens que oito & SPIER, 2000). O cloranfenicol pode ser utili-
dias de idade. O diagnóstico, o tratamento e o zado na dose de 20 a 50 mg/kg, a cada seis horas,
manejo da salmonelose representam um desafio por via oral ou intramuscular; já a gentamicina
ao veterinário. As dificuldades surgem pelas di- pode ser utilizada na dose 2,2 mg/kg a cada seis

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Doenças gastrintestinais em potros: etiologia e tratamento 741

horas, pela via intramuscular ou intravenosa. da submucosa do íleo, do ceco e do cólon ventral.
O ceftiofur também é um dos antibióticos mais Cerca de duas semanas após a ingestão das larvas
eficazes atualmente no controle da salmonelose, infectantes (L3), as larvas migrantes L4 atingem a
com sensibilidade de até 97% (DUIJKEREN et artéria mesentérica cranial. Depois desse ponto,
al., 2002). O florfenicol (20mg/kg) por via intra- os sinais clínicos refletem a cólica tromboembóli-
muscular a cada 24 horas se demonstrou eficaz no ca. Leucocitose periférica, acompanhada de neu-
controle de um surto de salmonelose (OLIVEIRA trofilia e eosinofilia, além de hipoalbuminemia e
et al., 2004). A manutenção da flora bacteriana e hiperglobulinemia, são achados consistentes com
o antagonismo de bactérias patogênicas como a a migração larvária. Como o período pré-patente
Salmonella no TGI são importantes mecanismos do S. vulgaris é de cerca de seis meses, o exame
de defesa na prevenção da colonização por bacté- de flutuação fecal é de pouco valor diagnóstico
rias patogênicas. Preparados probióticos e outros nos potros (FENGER, 2000).
destinados ao restabelecimento da flora normal no Os anti-helmínticos eficazes contra S.
trato gastrointestinal são utilizados clinicamente vulgaris migrantes incluem a ivermectina (200
para encurtar o curso da salmonelose com resul- µg/Kg VO), o oxfendazol (2 doses de 10 mg/Kg
tados variáveis (PARRAGA et al., 1997; JONES VO em dias alternados), o fenbendazol (10 mg/
& SPIER, 2000). Kg VO durante cinco dias) e o tiabendazol (440
mg/Kg VO durante dois dias).
Parasitose gastrintestinal
Doenças obstrutivas
A diarréia provocada por parasitoses gas-
trintestinais é relativamente incomum no potro, Quase todas as formas de distúrbios gas-
porém deve ser considerada, se outras causas de trintestinais obstrutivos, que são identificados
diarréia forem excluídas do diagnóstico. nos eqüinos adultos, são descritas nos potros
A prevalência da diarréia associada ao Stron- (COHEN & CHAFFIN, 1994). A doença gas-
gyloides westeri pode chegar a 90%, e a condição trointestinal obstrutiva pode ser classificada
é rara na ausência de infecção maciça. Um quadro como mecânica ou funcional. A ocorrência de
discreto de enterite pode se desenvolver nos potros acidentes intestinais nos potros é relativamente
infectados, predispondo-os à infecção por outros baixa, à exceção da intussuscepção e vólvulo do
patógenos entéricos. Embora a via mais comum de intestino delgado. Essas condições são geralmente
infecção seja a ingestão de leite contendo larvas in- secundárias à diarréia. Outras causas de obstru-
fectantes, a larva pode penetrar diretamente a pele. ção e desconforto abdominal são a torção cecal,
Infecções patentes podem ser diagnosticadas via colônica e as hérnias encarceradas (SEMRAD &
exame de flutuação fecal, no entanto, a correlação SHAFTOE, 1992).
entre OPG e diarréia é baixa. O tratamento anti- A intussuscepção pode causar quadros de
helmintico da égua dias antes da data prevista do cólica aguda que são difíceis de se distinguir de
parto diminui a incidência da infecção nos potros quadros de dor proveniente de vólvulo, sendo
(COHEN & CHAFFIN, 1995). comuns em potros de duas a cinco semanas de
Os anti-helmínticos mais eficientes e que idade, variando de uma semana a seis meses. A
podem ser utilizados nos potros diarréicos que etiologia da intussuscepção é desconhecida, e
estão eliminando S. westeri incluem a ivermectina existem três formas: (1) aguda; (2) subaguda e
(200 µg/Kg VO), o fenbendazol (10 mg/Kg VO (3) crônica. A forma aguda é caracterizada por
durante cinco dias), o febantel (6 mg/Kg VO) e o dor abdominal grave de início súbito, que tem
tiabendazol (440 mg/Kg VO durante dois dias). comportamento progressivo. Na forma subaguda
A diarréia em potros jovens, provocada por ocorrem anorexia, depressão e dor persistente
Strongylus vulgaris, resulta primariamente da (MOORE & MOORE, 1994; BARTMANN et
migração do estágio larvário L4 pelas arteríolas al., 2002).

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Conclusão 2004.

A dor abdominal é um sinal inespecífico que BARTMANN, C. P; FREEMAN, D. E.; GLITZ,


se origina do sistema gastrintestinal ou de outro F. et al. Diagnosis and surgical management of co-
sistema orgânico, e o exame físico completo pode lic in the foal: literature review and a retrospective
vir a auxiliar no diagnóstico da causa da dor. A study. Clinical Techniques in Equine Practice,
etiologia específica primária da desordem gastrin- Philadelphia, v. 1, n. 3, p. 125-142, 2002.
testinal não possibilita, contudo, ser identificada
apenas pela realização do exame físico, ainda que BERNARD, W. V.; REIMER, J. M. Examination
completo, necessitando de outros métodos de diag- of the foal. Veterinary Clinics of North Ameri-
nóstico. Essa afirmação é particularmente válida no ca: Equine Practice, Philadelphia, v. 10, n. 1, p.
abdome agudo dos potros, onde ultra-sonografia, 37-66, 1994.
radiografia, abdominocentese e perfil bioquímico
são tão importantes quanto um completo exame BERNARD, W. V. Assessment of Abdominal Pain
físico para diferenciar a etiologia da enfermida- in Foals. In: CONGRESS ON EQUINE MEDI-
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importante nos casos de abdome agudo, que é a International Veterinary Information Service.
palpação transretal, não pode ser realizada. Inde- Disponível em: <www.ivis.org>. Acesso em: 24
pendentemente das várias etiologias e do desafio jun. 200}.
em diagnosticar a provável causa do abdome agudo
no potro, o clínico deverá tentar classificar a desor- BORNE, A. T.; MAcALLISTER, C. G. Effect of
dem gastrintestinal pelo processo patofisiológico sucralfate on healing of subclinical gastric ulcers
desencadeado e direcionar seu diagnóstico para a in foals. Journal American Veterinary Medical
causa mais provável, assim como determinar o pla- Association, Schaumburg, v. 202, n. 9, p. 1465-
no terapêutico mais adequado na ocasião, baseado 1468, 1993.
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Protocolado em: 26 abr. 2006. Aprovado em: 5 mar. 2007.

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