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Fascismo é uma doutrina totalitária desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919 e durante seu governo
(1922–1943 e 1943–1945). A palavra "fascismo" deriva de fascio, nome de grupos políticos ou de militância que
surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas também de fasces, que nos tempos do Império
Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do
Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela expressão "camisas negras", em
Definição
O fascismo é uma corrente prática da política que ocorreu na Itália, opondo-se aos
diversos liberalismos, socialismos e democracias. Surgiu no período entre guerras, e abriu caminhos para o surgimento
A palavra fascismo com o tempo foi associada a qualquer sistema de governo que, de maneira semelhante ao
de Benito Mussolini, exalta os homens e usa modernas técnicas de propagandae censura, fazendo uma severa
arregimentação econômica, social e cultural, sustentando-se no nacionalismo e em alguns casos até na xenofobia,
privilegiando os nascidos no próprio país, apresentando uma certa apatia ou indiferença para com os imigrantes.
Benito Mussolini, professor primário e mais tarde jornalista, fundou o Partido Nacional Fascista, originário de um
movimento paramilitar que ele mesmo criara para combater as agitações e as greves organizadas por outros
socialistas e movimentos de esquerda. O Fascio di Combatimento, ou Esquadra de Combate, que deu origem ao
fascismo, buscou seu nome na expressãofascio, que significa feixe de varas. O feixe de varas, simbolizando união e
força, vem do latim fesce, um feixe de varas que, junto com uma machadinha, era levado pelo litor, uma espécie
deoficial de justiça que, na Roma Antiga, seguia os magistrados para executar as decisões da justiça, com poderes
O fascismo italiano assumiu que a natureza do Estado é superior à soma dos indivíduos que o compõem e que eles
existem para o Estado, em vez de o Estado existir para os servir. Todos os assuntos dos indivíduos são assuntos do
Estado.
No totalitarismo, as liberdades do indivíduo eram suprimidas e o povo era subordinado ao poder sem limites do Estado.
órgãos representativos como sindicatos, pelos corporativos, comandados por representantes dos empresários, dos
trabalhadores e reuniam-se para dirigir e planejar a economia. O nacionalismo afirmava que a nação era a forma
suprema de desenvolver as comunidades humanas. O militarismo tinha na guerra um tipo de seleção dos mais fortes e
capazes e um instrumento de fortalecimento e e regeneração dos povos. O expansionismo tinha como ideia principal a
sindicatos nacionais subordinados ao Estado. No seu modelo corporativista de gestão totalitária, as várias funções do
Estado podiam ser desempenhadas por entidades particulares, sem que fossem nacionalizadas, mas cabia ao Estado
planejar e inspecionar a sua ação. A atividade privada era deste modo empregue pelo Estado, o qual podia decidir
suspender a suas atividades se não atuasse de acordo com as instruções e os planos superiormente estabelecidos. É
o Estado quem define a utilidade e a direção de todas as atividades da Nação, seja no campo político, económico,
social ou cultural.
O fascismo surgiu em tempo de crise, nas dificuldades económicas e sociais do primeiro pós-guerra, e na grande
depressão dos anos 1930, quando as elites políticas se mostravam incapazes de integrar as massas através da
fórmula democrática parlamentar ou quando existia um crescimento socialista ou comunista paralelo assustando
as classes médias.
A composição social dos movimentos fascistas foi historicamente a de pequenos negociantes, burocratas de nível
baixo e as classes médias. O fascismo também encontrou sucesso nas áreas rurais, especialmente entre agricultores,
e na cidade entre as classes trabalhadoras. Um aspecto importante do fascismo é que ele usa os seus movimentos de
massa para atacar as organizações que se reivindicam das classes trabalhadoras - partidos operários e sindicatos.
O líder fascista foi em regra um ator exagerado, procurando seduzir as massas populares para o seu papel messiânico.
Benito Mussolini, num discurso proferido na Câmara dos Deputados no dia 26 de maio de 1927, disse uma frase que
define concisamente a ideologia do fascismo: "Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado".[nota 1][1][2]
Mais tarde, num artigo da Enciclopedia Italiana, de 1931,[3] escrito por Giovanni Gentile e Benito Mussolini, o fascismo
é, além de explicitado nas suas principais linhas filosóficas, descrito como uma doutrina cujo "fundamento é a
concepção do Estado, da sua essência, das suas competências, da sua finalidade. Para o fascismo o Estado é um
absoluto, perante o qual indivíduos e grupos são o relativo. Indivíduos e grupos são "pensáveis" enquanto estejam no
Estado".[nota 2]
Nesse texto de 1932, Mussolini identifica "no grande rio do fascismo", as correntes que nele vão desaguar, e que terão
as suas fontes em Georges Sorel, Charles Peguy, Hubert Lagardelle do Movimento Socialista, e nos sindicalistas
italianos que, entre 1904 e 1914, teriam trazido um novo tom ao ambiente do socialismo italiano - Angelo Oliviero
Em 1928, na "Autobiografia" ditada a Richard Washburn Child, Mussolini disse que estudou muito o risorgimento e o
desenvolvimento da vida intelectual italiana depois de 1870, que "meditou muito com os pensadores alemães", que
admirava os franceses, e que um dos livros que mais o tinha interessado fora "A Psicologia das Multidões" de Gustave
Le Bon. Colocando-se o problema da revolução, Mussolini rejeitava o bolchevismo, e que, a ser realizada uma
revolução em Itália, esta deveria ser "tipicamente italiana", firmando-se "nas dimensões magnificentes das ideias
"um partido que governa totalitariamente uma nação, é um fato novo na história".[nota 3] E acrescenta que "não há pontos
de referência ou de comparação" com os seus antecessores. No entanto, Mussolini diz também no mesmo texto que o
francês Ernest Renan teve "iluminações pré-fascistas"[nota 4] e que o fascismo fez seu o duplo conselho de Mazzini:
"Pensamento e Acção".[5]
Entre os antecessores, em 1932, "Renan e Mazzini são afinal os únicos autores a quem Mussolini aceita pagar algum
tributo intelectual." Com estas ressalvas, Mussolini insiste no entanto em proclamar a "novidade do fascismo",
apresentando, em apêndice (edição de 1935), as referências que remetem para os seus próprios discursos e textos.[6]
Mussolini diz-nos também neste texto o que o fascismo não é. O fascismo não se filia no pensamento contra-
revolucionário: Mussolini não toma "Joseph de Maistre como seu profeta"; Mussolini diz que o fascismo respeita
O corpo do texto está dividido em duas partes: 1ª. Ideias fundamentais; e 2ª. Doutrina Política e Social.
Ideias fundamentais
Sob o título "ideias fundamentais", os assuntos surgem distribuídos por 13 parágrafos, mas com as notas arrumadas no
anexo em 11 títulos:[7]
1. Concepção filosófica. Apresenta o fascismo como acção (prática) e pensamento (ideia) político.
Considera que toda a acção é contingente ao espaço e ao tempo, havendo no seu pensamento um "conteúdo
ideal que a eleva a fórmula de verdade na história superior do pensamento".[nota 6] Diz que "para se conhecer os
homens é preciso conhecer o homem; e para conhecer o homem é preciso conhecer a realidade e as suas leis";
[nota 7]
não há um conceito de Estado que não seja uma concepção da vida e do mundo.
2. Concepção espiritual. É a partir de uma "concepção espiritual" que o homem é definido pelo fascismo.
Na sua concepção, o homem é um "indivíduo que é nação e pátria";[nota 8] há, na sua perspectiva, "uma lei moral
3. Concepção positiva da vida como luta. A sua "concepção espiritual" define-se por oposição ao
materialismo filosófico do século XVIII; sendo antipositivista, é porém positiva ([nota 10]); não écéptica,
nem agnóstica, nem pessimista.[nota 11] Pretende o homem activo e impregnado na acção com toda a sua energia.
4. Concepção ética. Tem uma concepção ética da vida, "séria, austera, religiosa";[nota 12] o fascismo
5. Concepção religiosa. O homem é visto numa relação imanente com uma lei superior, com uma Vontade
objectiva que transcende o indivíduo particular e o eleva a membro de uma sociedade espiritual.[nota 13]
6. Concepção histórica e realista. O homem é visto como um ser na história, num fluxo continuo em
processo de evolução; tem no entanto uma visão "realista", não partilhando o optimismo do materialismo filosófico
antes do indivíduo;[nota 14] o liberalismo negou o Estado no interesse dos indivíduos particulares, o fascismo
reafirma o Estado como a verdadeira realidade do indivíduo.[nota 15] Para o fascismo, tudo está no Estado - a sua
concepção é totalitária.[nota 16] Para o fascismo, fora do Estado não há valores humanos ou espirituais.
8. Concepção do Estado corporativo. "Não há indivíduos fora do Estado, nem grupos (partidos políticos,
associações, sindicatos, classes)";[nota 17] defende um corporativismo no qual os interesses são conciliados na
unidade do Estado;[nota 18] diz-se contrário ao socialismo que reduz o movimento histórico à luta de classes e,
9. Democracia. O fascismo opõe-se à democracia que entende a nação como a maioria, descendo o seu
nível ao maior número; o fascismo considera-se no entanto como "a mais pura forma de democracia se o povo for
considerado do ponto de vista da qualidade em vez da quantidade", como uma "multidão unificada por uma ideia,
que é vontade de existência e de potência: consciência de si, personalidade".[nota 19] O fascismo defende "uma
10. Concepção do Estado. Para o fascismo a nação não cria o Estado; é o Estado que cria a nação.
Considera o Estado como a expressão de uma "vontade ética universal", criadora do direito, e "realidade ética".
Na sua concepção é o Estado "que dá ao povo unidade moral, uma vontade, e portanto uma efectiva existência".
[nota 20]
11. Realidade dinâmica. Na concepção fascista o Estado deve ser o educador e o promotor da vida
espiritual. Para alcançar o seu objectivo, quer refazer não a forma da vida humana, mas o conteúdo, o homem, o
A filosofia do fascismo, tal como a definiu Mussolini, é assim uma filosofia essencialmente moderna e modernista.
O fascismo na Itália
Mussolini fundou o movimento fascista em 23 de março de 1919, numa reunião feita na cidade de Milão. Entre
os membros fundadores estavam os líderes revolucionários sindicalistas Agostino Lanzillo e Michele Bianchi.
cooperativas.
O estado fascista de Mussolini foi estabelecido aproximadamente uma década antes da chegada de Adolf
Hitler ao poder. Tanto um movimento como um fenômeno histórico, o fascismo italiano foi, em muitos aspectos,
uma reação à falha aparente do laissez-faire e ao medo dos movimentos de esquerda, apesar de que as
O fascismo foi de certa forma o resultado de um sentimento geral de ansiedade e medo dentro da classe média
econômica, política e cultural. Sob o estandarte desta ideologia autoritária e nacionalista, Mussolini foi capaz de
explorar os medos perante o capitalismo numa era de depressão pós-guerra, o ascendente de uma esquerda
mais militante, e um sentimento de vergonha nacional e de humilhação que resultaram da "vitória mutilada" da
Itália nos tratados de paz pós Primeira Guerra Mundial. Tais aspirações nacionalistas não realizadas (ou
italiana. Adicionalmente, tais instituições democráticas nunca cresceram ao ponto de se tornarem firmemente
À medida que essa mesma depressão do pós-guerra fez crescer a sedução pelo Marxismo entre o proletariado
urbano, ainda mais desprovido de direitos do que os seus contrapartes no continente, o receio relativamente à
força crescente do sindicalismo, o comunismo e o socialismo proliferaram entre a elite e a classe média. De
certa forma, Benito Mussolini preenchia um vácuo político. O fascismo emergiu como uma "terceira via" — como
a última esperança da Itália para evitar o colapso iminente do "fraco" liberalismo italiano, e a revolução
comunista.
Ao mesmo tempo que falhava em delinear um programa coerente, o fascismo evoluiu para um novo sistema
estado desenhado por forma a unir todas as classes num sistema capitalista, mas um novo sistema capitalista
no qual o estado detinha o controlo da organização de indústrias vitais. Sob a bandeira do nacionalismo e poder
estatal, o fascismo parecia sintetizar o glorioso passado romano com uma utopia futurista.
A sedução pelo movimento, a promessa de um capitalismo mais ordenado após uma era de depressão
económica do pós-guerra, no entanto, não se confinava à Itália ou mesmo à Europa. Por exemplo, uma década
mais tarde, quando aGrande Depressão originou uma queda da economia brasileira, uma espécie de proto-
fascismo iria emergir como reacção aos problemas socio-económicos, e consciência nacionalista do estatuto
periférico da economia do Brasil. O regime de Getúlio Vargas adotou uma extensa influência fascista com a
Constituição do Estado Novo, redigida por Francisco Campos, eminente jurista filiado ao Partido Fascista
Brasileiro.
Fundado como uma associação nacionalista (o Fasci di Combattimento) de veteranos da Primeira Guerra
Mundial em Milão a 23 de março de 1919, o movimento fascista de Mussolini converteu-se num partido nacional
(o Partido Nacional Fascista) após ter ganho 35 assentos no eleições ao parlamento de maio de 1921.
Inicialmente combinando elementos ideológicos da esquerda e da direita, ele alinhava pelas forças
Apesar dos temas da reforma social e económica no manifesto fascista inicial de junho de 1919, o movimento foi
apoiado por secções da classe média, receosos do socialismo e do comunismo, enquanto que industriais e
donos de terra viram-no como uma defesa contra a militância trabalhista. Sob a ameaça de uma "Marcha sobre
Roma fascista," Mussolini assumiu em outubro de 1922 a liderança de um governo de coligação de direita
A transição para uma ditadura assumida foi mais gradual do que na Alemanha uma década mais tarde, apesar
de em julho de 1923 uma nova lei eleitoral ter dificultado a constituição de uma maioria parlamentar fascista, e o
assassínio do deputado socialista Giacomo Matteotti onze meses mais tarde mostrou os limites da oposição
política. Em 1926 os movimentos de oposição tinham sido declarado ilegais, e em 1928 a eleição ao parlamento
O feito político mais duradouro deste regime foi talvez o Tratado de Latrão de Fevereiro de 1929 entre o Estado
italiano e a Santa Sé, pelo qual ao Papado foi concedida a soberania sobre a Cidade do Vaticano e recebeu a
garantia do livre exercício do Catolicismo como a única religião do estado em toda a Itália em retorno da sua
combinando trabalhadores e empregadores por sector económico, cujos representantes em 1938 substituíram o
parlamento como a "Câmara de Corporações". O poder continuava investido no Grande Conselho Fascista, o
corpo governativo do movimento. Nos anos 1930, a Itália recuperava da Grande Depressão, e obtinha o
A drenagem dos pântanos de Pontine a sul de Roma, empestados de malária, foi um dos orgulhos badalados do
regime. Mas o crescimento foi minado pelas sanções internacionais impostas à Itália no seguimento da invasão
da Etiópia em Outubro de 1935 (a Segunda Guerra Ítalo-Etíope), e pelo forte esforço financeiro que o governo
O isolamento internacional e o seu envolvimento comum na Espanha vão fazer ressaltar uma crescente
colaboração diplomática entre a Itália e a Alemanha Nazi. Isto fez-se reflectir também nas políticas domésticas
A intervenção da Itália (com início em 10 de junho de 1940) na Segunda Guerra Mundial como aliado da
Alemanha trouxe o desastre militar e resultou na perda das colónias no norte e leste africanos bem como a
Mussolini foi demitido como primeiro-ministro pelo rei Vítor Emanuel III da Itália a 25 de julho de 1943, e
subsequentemente preso. Foi libertado em setembro por pára-quedistas alemães e instalado como chefe de
uma "República Social Italiana" fantoche em Salo, no norte da Itália, então ocupado pela Alemanha. Sua política
econômica é a socialização. A sua associação com o regime de ocupação alemão erodiu muito do pouco apoio
que lhe restava. A sua execução sumária em 28 de Abril de 1945 por guerrilheiros, durante uma fase final da
guerra particularmente violenta, foi vista por muitos observadores então como o final apropriado para o seu
regime.
Após a guerra, os resquícios do fascismo italiano reagruparam-se largamente sobre a égide do "Movimento
Social Italiano" (MSI) neo-fascista. O MSI coligou-se em 1994 com a antiga "Democrazia Cristiana"
conservadora para formar a Alleanza Nazionale (AN), que proclama o seu compromisso com o