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Sumário:
APRESENTAÇÃO
1.
ELEMENTOS PARA APLICAÇÃO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO DIREITO
2.
PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS NA INTERNET: UMA QUESTÃO
JURÍDICA OU TECNOLÓGICA?
3.
DIREITO, TECNOLOGIA E QUALIDADE
4.
SIGILO, PRIVACIDADE E INTERCEPTAÇÃO NAS COMUNICAÇÕES DE DADOS.
5.
GOVERNO ELETRÔNICO (GOVERNO ON-LINE) - ASPECTOS DE
VIABILIZAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
6.
O ENSINO DO DIREITO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE COMO
PRESSUPOSTOS DE CIDADANIA COM USO DE TECNOLOGIAS DA EDUCAÇÃO
7.
RESOLUÇÕES ALTERNATIVAS DE CONFLITOS FRENTE ÀS NOVAS
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO.
8.
FUNDAMENTOS JURÍDICOS PARA O ENSINO POR TELEPRESENÇA
10.
GOVERNO ON LINE COMO PRESSUPOSTO DO EXERCÍCIO DA CIDADANIA
11.
DO DESRESPEITO À AUTORIDADE CONSTITUÍDA À DESOBEDIÊNCIA CIVIL
COM VILIPÊNDIO ÀS INSTITUIÇÕES
12.
A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO JURÍDICA E O ENSINO A DISTÂNCIA
COMO FERRAMENTAS PARA A MODERNIZAÇÃO DA ADUANA EM TEMPO DE E-
GOVERNO
13.
CONCEITOS DE REPRESENTAÇÃO JURÍDICO-POLÍTICA DIGITAL
14.
Documentação da disciplina "Tecnologia da informação jurídica"
Apresentação
Se você está lendo este texto é porque gosta da associação entre direito e tecnologia. E
nós lhe parabenizamos por isso. Este livro traz consigo uma discussão
inicial: o que é tecnologia da informação jurídica, e para que ela serve. O tema é oriundo
de um fenômeno multidisciplinar, fruto da aproximação de pesquisadores
e profissionais de áreas como a informática, a ciência jurídica, a psicologia, a sociologia, a
biblioteconomia, a administração, a economia, a pedagogia,
a engenharia e outras. As pesquisas estão se materializando e as discussões estão cada vez
mais frequentes e intensas. Os debates sobre a autonomia epistemológica
de qualquer ramo da ciência sempre são muito interessantes, mas geralmente estão
restritos ao círculo acadêmico, e não atingem o público em geral. Se a
tecnologia da informação jurídica possui ou não tal capacidade, saberemos no futuro. Por
ora nos interessa saber que o fenômeno está ocorrendo, e que a
contextualização operada entre Lei e Justiça, de um lado, e Realidade Virtual, Inteligência
Artificial e Internet, de outro, materializa excitantes temas
a serem debatidos.
Então, tentamos resumir um pouco disso tudo para você, neste livro eletrônico, através do
esforço conjunto do IJURIS – Instituto Jurídico de Inteligência
e Sistemas (www.digesto.net/ijuris), e do PPGEP - Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina
(www.eps.ufsc.br).
Foi concebido, desde sua primeira cogitação, para ser lançado no mundo digital. Nunca se
pensou nele como um livro de "átomos", mas sempre como de "bits";
É fruto de intensas discussões científicas travadas durante as aulas do curso com o mesmo
nome, ministrado no Programa da pós-graduação em engenharia de
produção e sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina, nas áreas de concentração
"inteligência aplicada" e "mídia e conhecimento";
Possui um perfil multidisciplinar, pois as discussões foram travadas em ambiente com tal
característica, em grupos de pesquisa que nunca estiveram restritos
aos círculos do mundo jurídico. Isso ocorreu porque o tema central não pode, e nunca
poderá, ser considerado como propriedade acadêmica de um único e específico
ramo da ciência, seja ele o direito, a engenharia ou a computação. As soluções científicas
para a sociedade hipercomplexa do novo milênio virão da multidisciplinariedade;
E se você está lendo estes "bits", é porque está engajado no mundo digital. De nossa parte,
escolhemos este caminho porque temos apreço pela vida digital
e pela facilidade que ela apresenta para este simples ato de divulgação científica.
Hugo Cesar Hoeschl, Msc, Tania Cristina D`Agostini Bueno, Msc, e Marcilio Dias dos
Santos, Msc – Organizadores.
Lourdes da Costa Remor, Fábio André Chedid Silvestre, Eduardo Marcelo Castela, Orly
Miguel Scheitzer, Marco Antonio Machado Ferreira de Mello, Walter Felix
Cardoso Junior, Antonio Carlos Facioli Chedid, Ione Maria Garrido Lanziani e Márcio
Humberto Bragaglia – Autores.
digesto@digesto.net
1. Introdução
Veja-se, então, uma visão, introdutória e superficial, sobre como possa ser definida a
inteligência artificial (1):
Fazer uso dessa técnica e tentar desenvolver uma ferramentas computacionais dotadas de
lógica, para auxiliar na tarefa do estudo de dados jurídicos, envolve
um trabalho dificultoso, qual seja, analisar a forma escolhida pelo homem para se
comunicar e materializar suas normas: a codificação da palavra em símbolos
abstratos e rigorosas regras gramaticais.
Vale lembrar que "a invenção e a difusão da técnica da escritura, somada à compilação de
costumes tradicionais, proporcionam os primeiros códigos da Antiguidade,
como o de Hamurábi, o de Manu, o de Sólon e a Lei das XII Tábuas"(3).
Então, dada a posição atual da escrita nas formas de estruturação e armazenagem dos
comandos do direito, o estudo e desenvolvimento de qualquer sistemática
de tratamento automático e inteligente das informações jurídicas envolve, basicamente,
duas tarefas: 1. O TRATAMENTO DA LINGUAGEM NATURAL; 2. A BUSCA DE
NOVAS TÉCNICAS DE ARMAZENAGEM.
Sabemos que a IN perde para a artificial na capacidade de busca e exame de opções, mas
é superior em tarefas refinadas e perceptivas, como fazer analogias
e criar metáforas.
3. Figuras de raciocínio
Vale frisar que a inteligência artificial é uma figura típica da tecnologia da informação,
praticamente moldada por ela. Para o delineamento da interseção
apontada, vamos destinar breve atenção a algumas figuras ligadas à inteligência natural,
como o raciocínio analógico, pré-existente aos computadores (9):
"O raciocínio analógico era comum antes do cumputador, conforme atesta o uso de
maquetes de aviões em túneis de vento. Como reduzem muito o custo do raciocínio
analógico, os computadores provocaram uma verdadeira explosão de descobertas
analógicas – e, a propósito, no tempo certo. Os cientistas admitem, cada vez
mais, que a maioria dos fenômenos do universo não se caracteriza pelas simples relações
do tipo f=ma que distinguem as grandes descobertas da física; pelo
contrário, os sitemas complexos – como o sistema imunológico humano, as sociedades
humanas, a ecologia, o clima do mundo e a interação das estruturas cosmológicas
de grande escala – se caracterizam por um comportamento não-linera e caótico, que não
pode ser descrito por equações simples. Esses sistemas não podem
ser entendidos por outros meios que não o raciocínio analógico. Ao permitir que a
humanidade crie modelos analógicos de abrangência sem precedentes, os
computadores possibilitaram o surgimento de uma nova ciência: a ciência da
complexidade".
Esse instituto, anterior aos computadores - como já dito - foi adequadamente incorporado
pela tecnologia da informação, assim como o raciocínio baseado
em casos. É claro, sabemos, o raciocínio baseado em algum caso é algo quase tão velho
quanto o hábito humano de "andar para a frente". Porém, aqui se trata
de uma nova ferramenta da inteligência artificial que utiliza tal nomeclatura, podendo ser
definida como uma "metodologia", que tem como característica
básica buscar em experiências passadas a melhor solução para uma situação atual,
aplicando o conhecimento já consolidado e cuja eficácia já foi validada.
...............
"Para que se possa tirar a conclusão, quer dizer, para fazer a atribuição ao caso não-
regulamentado das mesmas conseqüências jurídicas atribuídas ao caso
regulamentado semelhante, é preciso que entre os dois casos exista não uma semelhança
qualquer, mas uma semelhança relevante, é preciso ascender dos dois
casos a uma qualidade comum a ambos, que seja ao mesmo tempo a razão suficiente pela
qual ao caso regulamentado foram atribuídas aquelas e não outras conseqüências."
(Destacado do original).
"Mas qual é a diferença entre analogia propriamente dita e interpretação extensiva? Foram
elaborados vários critérios para justificar a distinção. Creio
que o único critério aceitável seja aquele que busca colher a diferença com respeito aos
diversos efeitos, respectivamente, da extensão analógica e da
interpretação extensiva: o efeito da primeira é a criação de uma nova norma jurídica; o
efeito da segunda é a extensão de uma norma para casos não previstos
por esta".
4. Conclusão
Por fim, é certa a necessidade de atenção à produção de ferramentas, enfatizando que tal
atividade - que gerará novos métodos e técnicas de armazenamento
e manipulação de informações - embora não seja diretamente ligada à ciência jurídica, vai
provocar fortes reflexos sobre o direito e a justiça, como a
escrita o fez.
Referências:
lu@saude.sc.gov.br
Estrutura:
2 - Histórico
6 - Conclusão
7 - Bibliografia
1 - A Internet e a internacionalização
A experiência tem nos mostrado que a mudança ou a necessidade de mudanças gera não
só desconforto, mas quase o pânico. Hoje, um dos meios que está propiciando
e acelerando a mudança ou a passagem do mundo pós industrial para o mundo da
informação é essa rede, chamada internet. A internet ou o ciberespaço derrubou
fronteiras territoriais com suas características peculiares, sem dono, sem espaço, sem
bandeira, sem controle, até num certo anonimato. Tais características
têm gerado preocupações relativas aos direitos autorais, devido aos atributos da
virtualidade da rede e também de seus usuários.
A inexistência de controle da rede, se por um lado, parece prejudicial ao autor, por outro,
pode ser-lhe benéfica, na medida em que consiste numa divulgação
das obras com rapidez, abrangência e baixo custo. Pode-se pensar que o aparente prejuízo
seria, em muito, compensado pelas vantagens da propaganda.
A internet nasceu sem pai e leva consigo as marcas desse parto, como a essência mesma
de seu processo. Um arranhão aí poderia descaracterizar, ou mesmo
impossibilitar o uso da rede, pois o usuário já está habituado a essa relativa liberdade, e o
seu sucesso talvez dependa disso.
Sabe-se que o prejuízo patrimonial, referente à infração do direito autoral, nos casos de
pirataria, é muito maior para o atravessador do que para o autor.
Nessa discussão, o direito moral da propriedade parece não ser muito considerado.
Como pensar o conceito de criação atribuído ao autor? O autor é quem criou, inventou ou
descobriu? Jacques Lacan, em seu seminário 23, trata da criação
como sendo a "chamada divina". É senso comum entre os psicólogos que o que se chama
criatividade, não passa de uma imprecisão fraseológica, de que, a rigor,
a criatividade não existe. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, traz no verbete criador,
como substantivo masculino: aquele que criou; Deus, entre outras.
Portanto esse conceito parece mais ligado a ordem do divino do que a do humano. Assim,
na impossibilidade de considerar o autor como criador, pode se pensar
que tamanho rigor com relação ao plágio, deveria merecer maior atenção, visto que,
supostamente, na natureza nada se cria, conforme o célebre dito de Lavoisier.
Quanto aos Tratados Internacionais, "A legislação autoral cobre qualquer meio de
comunicação, existente ou que venha a ser inventado, ressalvando assim
o aspecto legal dos direitos autorais. Ela tem como referência e objeto as obras de espírito,
seja qual for o meio de fixação e transmissão, tendo vocação
universal, amparada em convenções que envolvem todos os paises do mundo."[Plínio
Cabral, 1999]
O Brasil faz parte de importantes Tratados Internacionais. E, por esse motivo, os direitos
autorais, no Brasil, do ponto de vista legal, teoricamente não
esbarrariam com o ilimitado espaço territorial alcançado pela internet.
2 - Histórico
Nos tempos romanos as obras eram reproduzidas por meio de manuscritos, e apenas os
copistas eram remunerados pelo seu trabalho. Aos autores só lhe eram
reconhecidas honras e glórias quando lhe respeitavam a paternidade e a fidelidade do
texto original. Havia o direito natural referente as obras.
Na Inglaterra, desde 1662, com Licensing ACT, era proibida a impressão de qualquer
livro não registrado devidamente. Era uma forma de censura.
a difícil aplicabilidade
Para Stuber "A territorialidade sempre foi um dos elementos essenciais para a aplicação
do Direito, sendo um dos princípios da Soberania dos Estados contemporâneos,
o reconhecimento do poder de aplicação do direito nacional de um Estado, dentro de seu
próprio território."
A descentralização é uma das características da internet, já que não existe um órgão que
controle o fluxo, nem o conteúdo das informações que circulam pela
rede. A informação pode ser lançada na rede, passar por vários servidores e percorrer
vários paises até chegar no destinatário final.[ Stuber, 1998]
Daí surgem as dúvidas sobre a responsabilidade das violações dos direitos autorais na
internet, tais como: a responsabilidade das violações é do servidor
de acesso, ou de quem incorpora conteúdo e os transmite? É possível que o servidor, no
qual o conteúdo pirateado esteja armazenado, se localize em determinado
país; o servidor por cujo intermédio ele é anunciado, em outro; e o vendedor, num
terceiro. [Gandelmann, 1997, p.162.]
Ainda que não garantam a proteção dos direitos autorais, devido as características da
internet, existem os tratados internacionais que tratam de legislação
específica no esforço de cobrir o maior espaço territorial possível.
"A adesão de vários paises aos tratados internacionais sobre a proteção dos direitos
intelectuais, dentre eles, os mais importantes, a Convenção de Berna
de 1886 (obras literárias e artísticas) e a Convenção Universal dos Direitos do Autor
(Convenção de Genebra), os direitos autorais recebem um tratamento
mais ou menos homogêneo em todo o mundo." [STUBER, 1998]
"É necessário, no entanto, que os paises aderentes aos tratados internacionais, além das
adaptações que os mesmos estão a exigir, façam também alterações
nas suas legislações internas. Só assim os titulares de direitos autorais de um determinado
país terão os seus direitos assegurados nos outros, e vice-versa."
[GANDELMAN, 1997, p.164.]
No Brasil, a proteção legal aos direitos autorais é abrangente - basta que a obra tenha o
requisito da originalidade, que seja produto da capacidade criativa
do artista, para merecer a proteção dos direitos autorais. Por exemplo, nos Estados
Unidos, há a exigência do registro da obra para que ela tenha proteção
jurídica.[Stuber, 1998]
O fato da ausência do registro da obra, nunca tirou do autor a primazia de seu direito,
visto que, mesmo das obras antigas, conhecemos seu autor, ainda
que criadas antes da impressão gráfica.
A disponibilização de obras, na forma digitalizada, não retira o direito da sua autoria, ela
continua a ter vigência no mundo on line da mesma maneira que
no mundo físico, embora o autor levanta um aspecto sobre a definição jurídica da
transmissão eletrônica de obras protegidas pelos direitos autorais, se
ela é uma reprodução ou distribuição? [Gandelmann, 1997, p.154 e 162]
a difícil aplicabilidade
Além das leis existentes e em vigor, existem outras formas de proteger o direito autoral,
na internet. São medidas tecnológicas, que dificultariam o acesso
do usuário às informações. Uma delas seria a "utilização de 'tatuagens' do objeto digital,
um tipo de marca ou sinal que acompanhe o objeto digital e seu
conteúdo de forma a permitir a verificação de novas cópias, adaptações, transmissões,
etc."[Santos, 1999]
Criptografia, uma escrita enigmática, permite codificar uma informação de forma a tornar
difícil sua decodificação sem a chave adequada.
Uma outra medida seria, inserir no material disponível na rede, mensagens evidenciando a
necessidade do pagamento dos direitos autorais, no caso de uso
e reprodução (acordo de cavalheiros).[Stuber, 1998]
Se reproduções sem permissões acontecem fora da internet, porque acreditaríamos que ela
funcionaria para a internet?
Podemos perguntar sobre a legalidade da exigência de que todo usuário de criações
intelectuais disponibilizadas no ambiente digital, seja obrigado a se
identificar, e que os objetos digitais assim fornecidos, possam ser posteriormente
localizados, sem se ferir o direito à privacidade do cidadão? [Santos,
1999]
Manoel Pereira dos Santos cita a sustentação de alguns sobre a inexistência de tecnologia
segura que permita associar aos arquivos digitais, licenças e
condições de uso que subsistam após a disponibilização digital da obra, de forma a
controlar usos derivados posteriores. Acrescenta ainda que há uma tendência
no sentido de priorizar as medidas legais como a melhor forma de combater os usos não
autorizados, na rede. [Santos, 1999]
(Comércio eletrônico)
Alemanha: Nos Estados Unidos, a assinatura digital já foi reconhecida, agora a Alemanha
reconhece a validade jurídica das assinaturas eletrônicas na internet,
16/08/2000 - Berlim. Os contratos firmados no comércio eletrônico, através da internet,
terão a mesma validade legal na Alemanha que os contratos comerciais
impressos, segundo um projeto de lei aprovado esta quarta- feira, pelo governo. (Esta
notícia circulou no UOL, em 16/08/2000)
Outro fato, levantado por alguns autores, é de que a cópia ou a reprodução de obras
acessadas gratuitamente, via internet, poderá diminuir a produção intelectual.
Isso não parece fazer sentido, posto que a reprodução intelectual já era possível por outros
meios e nunca desfavoreceu a produção. Uma talvez menor margem
de lucro poderia ser compensada pela propaganda. Vale lembrar que o conhecimento
difundido se reproduz, e não diminui.
6 - Conclusão
Essa preocupação exacerbada em controlar, mais do que uma defesa de direitos, mostra-se
uma imposição de poder. É mesmo de se estranhar, que o homem no
seu narcisismo, suportasse por um período de tempo significativo uma rede de
comunicação na qual não houvesse hierarquia vertical, onde não houvesse comandantes
e comandados subordinados. Por isso a caricata preocupação de saber quem controla, de
não entender que o mundo virtual não está em nenhum lugar e ao mesmo
tempo está em todos os lugares, é realmente conflitante com a sua soberba. O homem
parece não conviver bem com enigmas e abstrações, é avesso ao que não
compreende, por não admitir que existam coisas além da sua capacidade de compreensão.
7 - Bibliografia
7. SANTOS, Manoel J. Pereira. "A proteção e o exercício dos direitos autorais sobre obras
intelectuais e fonogramas no comércio eletrônico". In: Revista
da ABPI, nº 42, set/out/1999. p.48-59.
8. STUBER, Walter Douglas e FRANCO, Ana Cristina de Paiva. "A Internet sob a ótica
jurídica". In: RT 749. v. 749, mar/98. p. 60-81.
bueno@eps.ufsc.br
"O nosso universo intelectual comum entrou num processo de fuga, de rejeição do mundo
romântico e irracional do homem pré- histórico. Desde antes de Sócrates
foi necessário rejeitar as paixões, as emoções, para liberar o raciocínio, com o objetivo de
compreender a ordem da natureza, até o momento desconhecido.
Agora é tempo de aprofundar o conhecimento sobre a ordem natural, através da
recuperação daquelas paixões, originalmente rejeitadas. As paixões, as emoções,
e o universo afetivo da consciência humana também fazem parte da ordem natural. Aliás,
são o cerne dessa ordem". Robert Pirsig
Resumo
A perfeição atingida pelos cérebros eletrônicos a muito tempo saiu das páginas da ficção
científica e está sendo absorvida pela realidade. Banco de dados,
sistemas especialistas e principalmente a inteligência artificial estão contribuindo para a
formação de um Poder Judiciário mais célere, eficiente e, seguramente
mais justo. Entretanto, somente a informatização não será capaz de provocar as mudanças
a muito requeridas pela sociedade. É necessário uma atuação mais
efetiva que substituir a máquina de escrever pelo computador, é necessário reestruturar a
Justiça utilizando-se dos novos parâmetros da sociedade tecnológica.
O presente estudo procura apenas apresentar aspectos da questão tecnológica sobre a
mente humana e suas conseqüências para o mundo jurídico, sob a ótica
da conclusão atingida por Robert M. Pirsig, em seu livro "Zen e a Arte da Manutenção de
Motocicletas". Nele o autor joga o impasse filosófico que existe
entre a mente e a matéria para cima daquilo que ele denomina qualidade: "um evento que
torna possível a inter-relação sujeito-objeto, uma ferramenta do
pensamento indispensável para a compreensão do verdadeiro papel da tecnologia na vida
do homem" e, deduz que a visão que o homem tem do mundo - realidade
- não é obtida pelo desenvolvimento do método científico, mas pela visão dessa
"qualidade", que é um "a priori" do qual deriva a mente e a matéria.
Introdução
Existe uma incompatibilidade entre razão e sentimento, que revela algo profundamente
arraigado na mentalidade do homem ocidental, refletindo de uma maneira
negativa no relacionamento entre o homem e a tecnologia, algo que o esta destruindo
lentamente. Descobrir a origem, ou melhor os fundamentos filosóficos
desta crise, é um modo de eliminar aquilo de podre que ainda constitui a mentalidade do
chamado homem "moderno".
Na busca de uma orientação filosófica para a questão e empurrados pelo trabalho recente
na neurociência e na inteligência artificial, filósofos tentam como
nunca, resolver a antiga questão da dualidade corpo e mente, perguntando se há realmente
uma distinção entre ambos e como se processa a interação. A perspectiva
materialista está enraizada na filosofia naturalista: como parte da natureza, os homens são
objetos da ciência e cada fenômeno humano, incluindo a experiência
subjetiva, tem uma causa material. Filósofos como Paul Churchland e Mr. Dennett,
freqüentemente anunciam que o mistério da consciência está resolvido:
o cérebro é para mente, como um computador é para o processamento [The economist,
(1996)]. Inobstante, talvez por respeito a mente, esta perspectiva ainda
é um projeto não um resultado, pois mesmo se a computação prever um bom modelo de
pensamento, poderia ser ele o certo para o sentimento e experiência?
Como poderia a atividade cerebral ser tudo o que existe nos sentimentos de remorso ou
nas sensações de cor? Questões como essas devem ser colocadas com
nova veemência, ou cruéis versões do materialismo serão redescobertas. O objetivismo da
ciência já não serve para resolver questões que o homem sabe serem
reais. É tão falho como qualquer outro processo do conhecimento.
O raciocínio dualista (objetivismo) dominou o homem civilizado de maneira tal, que
quase eliminou as outras opções. E essa é a origem de todas as queixas.
No direito, a visão positivista, ou seja, o direito como ciência jurídica, nos legou um poder
judiciário distante e ineficiente. Este fato que nos levou
a conclusão que a justiça não é simplesmente a aplicação da lei e o juiz não é imparcial na
sua decisão. O universo afetivo que envolve o caso acaba se
manifestando, seja na forma da ideologia dominante, seja em forma de discursos retóricos
que podem ou não ser decisões justas. Então, torna-se primordial
reconhecer que para atingirmos a tão esperada justiça - que muitos buscam nos tribunais,
é necessário dar atenção a este universo afetivo que envolve os
casos. Pois, partindo deste reconhecimento, será possível utilizar as tecnologias
necessárias para a aproximação das pessoas envolvidas na relação jurídica
e tornar o judiciário mais efetivo e eficiente. Este é o primeiro passo para uma visão de
qualidade como resposta para o equilíbrio das relações no universo
jurídico, onde justiça poderá ser sinônimo desta qualidade.
A seguir, veremos como Pirsig busca a "qualidade" e como ela pode trazer soluções para a
estruturação de um papel real e efetivo do direito e da tecnologia
na sociedade.
Razão x sentimento
A lógica tradicional, imposta pela racionalidade do homem ocidental como único modo
para se conhecer a realidade, revelou uma certa incompatibilidade entre
razão e sentimento (corpo e mente), que refletiu de uma maneira direta no relacionamento
do homem com a máquina, impedindo-o de compreender integralmente
o que seja essa tecnologia - não uma exploração da natureza, mas uma fusão entre a
natureza e o espírito humano, numa criação que transcende a ambos.
Quando a lógica tradicional divide o mundo em sujeitos e objetos , está expulsando dele a
qualidade. Então, ao romper com as barreiras do pensamento dualista
para preencher esse vácuo racionalista, Pirsig procurou destruir a base da estrutura do
conhecimento ocidental, construindo um pensamento antiaristotélico.
E é aí, através de uma importante ligação entre as filosofias ocidentais e orientais, entre o
misticismo religioso e o positivismo científico, que ele
encontra uma saída para esse estilo de vida tenso, supermoderno, individualista e egoísta,
que pensa ter dominado o mundo.
Então, utilizando a motocicleta apriorística de Kant - filósofo que ele considera, entre os
montanhistas modernos, aquele que atingiu um dos mais altos
cumes das montanhas do pensamento - Pirsig inicia a sua busca ao conceito de qualidade,
principalmente porque para Kant, a racionalidade de um conhecimento
não reside no objeto que se estuda, mas no modo como se tenta conhecê-lo [Warat,
(1995)].
Tal relação entre a Qualidade e o mundo objetivo poderia parecer misteriosa, mas não é o
que ocorre, ao colocar a qualidade como a essência da realidade,
desencadeou-se, para Pirsig, uma nova sequência de analogias filosóficas. Hegel já havia
se referido a isso com o seu conceito de Espírito Absoluto, que
também era independente da objetividade quanto da subjetividade, era a origem de tudo,
mas excluiu a experiência romântica desse tudo. A partir daí nada
mudou, e tudo mudou, isto é, mudou-se a visão apriorística, os fatos eram os mesmos,
mas os resultados não. Como aconteceu com a revolução copernicana.
Na busca deste conceito de Qualidade, o autor descobriu vários caminhos que partiam da
vereda principal, levando a um mesmo ponto. Desembocou na Grécia
Antiga.
A grande questão é como adentrar nos universos ultra-racionais, sem o medo de cair no
finisterra, como eliminar a analogia existente entre a razão moderna
e o pensamento medieval da terra chata .
Existem questões que preocupam o homem "moderno" mais que outras. Notamos a
incrível evolução tecnológica que surpreende a humanidade, superando aquilo
que é o maior motivo de orgulho do homem, ou seja, a sua racionalidade. Por outro lado,
essa mesma racionalidade se torna cada vez mais inadequada para
lidar com nossas experiências cotidianas, e isso está gerando um ingresso em áreas
irracionais do pensamento - ocultismo, misticismo, experiências com
drogas e coisas semelhantes.
Na sociedade moderna, cada vez mais a tecnologia faz parte do nosso cotidiano, ela
amarra nossas relações e torna-se parte indispensável da nossa vida.
No entanto, subexiste um grande desconforto em relação a essa mesma tecnologia, ao
ponto de gerar um certas pessoas uma completa aversão a qualquer mecanismo
um pouco mais complexo.
A Qualidade que Pirsig fala se situa além dos limite do mythos . É a Qualidade que gera o
mythos. "A Qualidade é o estímulo contínuo que nos faz criar o
mundo em que vivemos, na sua integridade, nos mínimos detalhes. O homem inventa
respostas à Qualidade, e entre essas respostas está a compreensão do que
ele mesmo é. Sabe-se alguma coisa, vem o estímulo da Qualidade, a gente tenta trabalhar
com aquilo que já sabe. O estímulo é uma correspondência daquilo
que já se sabe.
A pergunta "o que é qualidade?" havia sido lançada na filosofia sistemática, abrindo um
segundo caminho rumo à Grécia Antiga. A filosofia sistemática é
grega, as origens da dúvida sobre a autenticidade da qualidade tinham que estar
localizadas em algum ponto da Antigüidade grega.
Quando se vai apresentar uma idéia nova num ambiente acadêmico, age-se objetivamente,
sem se envolver com ela. Mas a idéia de Qualidade questionava justamente
essa objetividade e esse desinteresse, maneirismos apropriados apenas à razão dualista.
Alcança-se a qualidade dualista através da objetividade; mas com
a qualidade criativa, é diferente.
A substância não muda. O método não permanece. Um sistema complexo pode ser
descrito de forma adequada primeiro em termos de suas substâncias: seus subsistemas
e peças que o compõem. Depois, ele é descrito em termo dos métodos: das funções que
desempenha, em ordem.
A qualidade não é uma substância. Tampouco um método. É o objetivo que o método visa
alcançar. Quando tudo se divide em substância e método, assim como
em sujeito e objeto, já não há mais lugar para a Qualidade.
O Direito tornou-se ciência, perdeu-se o sentido da Justiça, o objetivo é a lei. O juiz não
decide mais sobre a vida de pessoas, mas se uma norma se aplica
ou não num determinado caso. Usar recursos tecnológicos onde não há lugar para
sentimentos, é caminhar para as previsões mais cruéis sobre uma sociedade
tecnológica.
O papel da qualidade criativa será criar um ambiente jurídico onde a tecnologia será
utilizada para valorizar o seu humano, diminuindo os entraves burocráticos,
a corrupção e principalmente a incompetência.
Conclusão
A "qualidade" poderá ser a ponte de ligação entre o direito e a tecnologia, pois sem
qualidade a tecnologia nada mais é que um amontoado de bits dentro
de um amontoado de peças mecânicas, coisa que, substâncialmente, para quem busca a
Justiça pouco significa.
Bibliografia
Science does it with feeling. The economist. july 20th 1996,. p.71 a 73
WARAT, Luis Alberto. O Direito e sua Linguagem.. 2a versão. 2ª ed. Sergio Antonio
Fabris Editor. Porto Alegre. 1995.
RESUMO
INTRODUÇÃO
"Inciso X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente da sua violação;"
No entanto, o mesmo dispositivo legal, expressa outros direitos, que a primeira vista se
contradizem àqueles citados anteriormente, porém, após pequenas
considerações constata-se que não se contrapõem. O mesmo artigo 5° do texto
constitucional, também garante:
A respeito argumenta Gomes Júnior: "Se a vida privada do indivíduo é inviolável, como
admitir que mensagens na Internet possam atingir a honra alheia impunemente?"
1
O doutrinador português JJ. Gomes de Canotilho, ressalta: "não há conflito entre liberdade
de expressão e o direito ao bom nome em caso de difamação". 2
O poder do Estado que se fará representar pelo Judiciário, interferirá, então, para evitar
abusos praticados nas comunicações virtuais, como: Propaganda
de racismo; instigação a crimes; ameaças de seqüestro em listas de discussão; receitas de
fabricação de bombas em home pages; pornografia infantil; propaganda
anti-negra ou anti-semita; propaganda enganosa entre outras ilegalidades. Há que ressaltar
que a interferência do Estado se fará exercer, como se afirmou,
pelo Poder Judiciário em processo legal. Nunca sob a forma de censura e sim, sob a forma
de responsabilização.
a) Opina Georges Charles Fischer: "Não obstante a inegável importância que desperta, a
Internet não pode estar acima da lei, mas a censura não é desejável,
pois no mais das vezes constitui instrumento abominável que serve, quando muito, aos
propósitos políticos e ideológicos dos que a impõem." 3
b) Luis Carlos Cancelier de Olivo (obra já citada), assim se expressa: "Para o Procurador
da Fazenda Nacional e especialista em Informática Jurídica pela
Univali (SC), Hugo Cesar Hoeschel, a liberdade de comunicação, sob qualquer forma, são
mais protegidas pelo direito brasileiro. Isso significa poder publicar
qualquer coisa que se queira. No caso dos veículos de comunicação de massa, há cautelas
e restrições estabelecidas nas esferas constitucional, legal e
regulamentar, principalmente no tocante à proteção da infância e da juventude. Porém,
elas, - as restrições cauteladas - não incidem sobre a Internet,
o que vale dizer que pode ser veiculada qualquer coisa, independente de seu conteúdo,
inclusive a tão discutida pornografia. Na defesa desta posição Hoeschel
utiliza três argumentos: a rede é mundial e nenhuma censura tem seu alcance; o usuário
tem opção de visitar o site que quiser, prevalece a sua vontade;
e a ética que impera na Internet é a da liberdade. Daí que o mecanismo hábil à redução
dos abusos, como pornografia infantil, calúnias e facismo é a responsabilização
e não a censura. A divulgação de material pornográfico, pela Internet, não pode nem ser
capitulada como ofensa ao art. 17 da lei n° 5.250/67 (ofender a
moral pública e os bons costumes), visto que a infração deveria ser cometida "através dos
meios de comunicação e divulgação". A Internet não é definida
como uma das figuras descritas pelo parágrafo único do art. 12 - "são meios de
informação e divulgação, para os efeitos deste artigo, os jornais e outras
publicações periódicas, os serviços de radiodifusão e os serviços noticiosos - hipótese na
qual ela simplesmente não insere-se, argumenta para concluir
que "a censura, a qualquer título e de qualquer tipo, é simplesmente incabível na
Internet... diante da escolha entre censura e pornografia, devemos ficar
com a segunda, pois a primeira prejudicou muito mais a humanidade, ao longo de sua
história."
CENSURA NO E-MAIL
A Lei n° 9.296, de 25/07/96, veio regulamentar o inciso XII em sua parte final, do art. 5°
da Constituição Federal, dispondo sobre a interceptação das comunicações
telefônicas para fins de investigação criminal e instrução em processo penal.
Lei n° 9.296/96
1. absoluta:
2. relativa:
2.1 sigilo da comunicação telefônica. Ocorreu uma vedação parcial, ou seja, permitiu que
em casos de investigação criminal e instrução em processo penal
pudesse ser violada, porém, mediante ordem judicial e na forma que a lei viesse a
estabelecer.
A legislação ordinária concebeu uma abrangência que não esta prevista na Constituição
Federal, ou muito ao contrário, está determinantemente proibida, quando
determina: "É inviolável o sigilo ...de dados". Em decorrência desse preceito
constitucional, o legislador ordinário deveria restringir-se a regulamentar
tão somente a escuta telefônica, que no nosso entendimento foi, ali, definida e permitida.
No entanto, a interceptação do fluxo de comunicações em sistemas
de informática e telemática foi recepcionado no parágrafo único do art. 1° da referida lei.
• O jurista Vicente Greco Filho, (citado por Olivo) define: "Em nosso entendimento é
inconstitucional o parágrafo único do art. 1° da lei comentada, porque
não poderia estender a possibilidade de interceptação do fluxo de comunicações em
sistemas de informática e telemática. Não se trata aqui de aventar a
possível conveniência de fazer interceptação nesses sistemas, mas sim de interpretar a
Constituição e os limites por ela estabelecidos à quebra do sigilo".
• Especialista em Informática Jurídica: HUGO CÉSAR HOESCHEL, em sua dissertação
de Mestrado em Direito na UFSC, sobre "O relacionamento da telemática com
o Direito e seu tratamento jurídico no Brasil" , defende a idéia de que "a comunicação de
dados não pode ser interceptada; o parágrafo único do artigo
1° da Lei 9.296/96 é absolutamente inconstitucional".
• O advogado José Henrique B. M. Lima Neto (citar n° para a obra no rodapé) opina pela
inconstitucionalidade do dispositivo em estudo e afirma: "Toda e
qualquer prova obsoluta através da violação de comunicações em sistemas de informática
ou telemática - nos quais existe tráfego de dados de computador
- deve ser considerada prova ilícita."
CONCLUSÃO
O assunto tratado é bastante controverso. Várias leis já existem no Brasil e no mundo, que
poderão ser aplicadas à Internet e outras haverão de ser editadas.
Deve-se considerar a grande dificuldade se ser alcançada essa regulamentação, eis que são
constantes as transformações das tecnologias e meios de comunicação
e informação. É importante ressaltar que o esforço de legislação de aspectos do mundo
virtual em um país deve obedecer ao conjunto de premissas e diretrizes
que pauta a tradição do direito do país. Há por exemplo clara distinção entre as
abordagens dos EUA e da União Européia face ao desafio da legislação da
Internet. Enquanto nos EUA há uma tendência de "liberdade", na União Européia a
tendência dominante aponta no sentido oposto, criando controles mais rígidos.
Cabe ao Brasil, definir sua política de regulamentação, objetivando sua inserção na
Sociedade da Informação.
BIBLIOGRAFIA
ragalodu@bol.com.br
Resumo:
No mundo pós moderno não há mais lugar para governantes que trabalham de portas
fechadas. Há a imperiosa necessidade de exercer a cidadania no seu mais
amplo espectro. Coincidentemente ou não, as inovações tecnológicas vêm de encontro a
este anseio, possibilitando fiscalizar, acionar e participar das atuações
governamentais de maneira antes inimaginável. A Internet é dinâmica, veloz, tudo que vai
a Web vai ao mundo. Se o governo precisa mostrar que é capaz de
produzir bons resultados, assim deve fazer também na rede mundial de computadores.
Investimentos precisam ser alocados para o desenvolvimento de "sites"
que não sejam puro "marketing", mas que visem dar atendimento ao público alvo, o
cidadão. Construir meios que possam tornar a vida mais simples. Podendo,
de outro lado, aumentar a arrecadação de taxas e emolumentos através de serviços on-line,
como no caso já utilizado pela Receita Federal em relação ao
IR (imposto de renda), bem como incrementar e agilizar as relações comerciais e
diplomáticas estatais, são o "g to c" (governo para cidadão), "g to b"
(governo para empresas) e o "g to g" (governo para governo). O que este trabalho propõe
é apontar por onde deve o Estado começar, com o objetivo de evitar
a criação de sistemas oficiais que não correspondam as expectativas dos destinatários, seja
frustrando-lhes em não oferecer eficiência, seja por não possuir
atrativos ou por não ter sido colocado em funcionamento há mais tempo.
Introdução:
Para alguns trata-se de assunto que não deve receber grande atenção, vez que os
problemas sociais são imensos e não foram solucionados, sendo eles reais
e não virtuais, podendo-se relegar a um segundo plano a parte eletrônica de um governo.
Porém, os avanços tecnológicos estão abrangendo cada vez mais as
ações governamentais não havendo possibilidade de não se atender ao que está sendo
pesquisado nas universidades e empresas, com repercussão direta nas
atividades oficiais do Estado.
Implantação:
Para disponibilizar uma página na WEB o governo precisa dimensionar o que e para que
vai montar esta página, especificando quais as informações e serviços
manterá ao alcance dos internautas. Deverá realizar um projeto que vislumbre as
necessidades imediatas e mediatas. Neste aspecto acreditamos que a melhor
maneira de se pensar seja a de Jay Nussbaum, da Oracle, para quem o governo on-line,
governo eletrônico ou "e-government", deve seguir a linha do " Start
small. scale fast, deliver value." Para que não ocorram atropelos e falhas em um projeto
que não venha a atingir todas as possibilidades de uso da tecnologia.
Portanto, um plano bem pensado vale muito mais do que um realizado a "toque de caixa"
apenas para satisfazer uma determinada situação ou momento política.
Dentro desta área deve-se prever a instalação da área física, com a alocação de
equipamentos de informática que atendam eficientemente a demanda, bem como
a extensão da mesma. Se queremos uma rede Federal, devemos estar preparados para
investir em todo o território nacional. Em alguns países isto, de certo
modo, é bem mais fácil, seja porque tratam-se de países "ricos", seja porque possuem
dimensões reduzidas, comparadas às nossas. Exemplos são Singapura
e Inglaterra. Ambos possuem condições financeiras e territoriais propícias ao excelente
desenvolvimento do e-governo. Tanto assim que Singapura está muito
avançada nesta área implementando serviços e atividades governamentais, nas mais
diversas áreas, como governo para cidadão (g. to c.), governo para governo(g.
to g.) e governo para empresa (g. to b.), extraindo o máximo de proveito que a Internet
pode fornecer, implementando continuamente programas de expansão
da rede e facilitação do acesso. Na Inglaterra o primeiro ministro Tony Blair, desenvolve
projeto no sentido de implementar o e-governo, disponibilizando
para toda a população da ilha, com um forte apelo para a previdência social. Como
representante das classes trabalhistas inglesas, acredita Blair que a
Internet pode democratizar e facilitar a vida da população menos favorecida da Inglaterra.
Países da Comunidade Européia, de modo geral, já dispõem de
infra estrutura para a demanda criada, bem como regulamentação sobre transações
comerciais e delitos, havendo legislação semelhante para os Estados integrantes,
fazendo-se mesmo o reconhecimento e validação da assinatura digital, caso da Alemanha.
No mesmo diapasão os Estados Unidos, onde reconheceram a validade
da assinatura digital, anterior a Europa, e proporcionam serviços e informações na Web.
As iniciativas tanto do governo federal quanto dos governos municipais vêm obtendo
excepcionais resultados. Estes, por serem regionalizados, tem condições
de medir aonde podem ser mais eficientes no atendimento ao cidadão. No mesmo sentido
o governo Federal brasileiro vêm agindo ao implantar páginas de previdência
social e da receita federal, oferecendo informações e serviços que redundem em maior
comodidade para a população, esta última inclusive obtendo índices
extremamente altos para a entrega de declarações de IR via Web.
Manutenção:
A instalação da estrutura física deve obedecer a critérios bastante objetivos, não perdendo
de vista a necessidade de expansão da rede na mesma proporção
que aumenta a demanda. Como corolário temos a manutenção do sistema. Este não pode
ser relegado a um segundo plano ou considerado menos importante. Tudo
que for disponibilizado estará sendo acessado por milhares de pessoas, empresas e
governos. O sistema não pode cometer falhas, vendo-se aí a questão da
segurança. Todo o sistema deve trabalhar integrado ao mesmo tempo que não pode
oferecer riscos aos usuários, seja quanto a invasão por "hackers" seja em
razão de "quedas" ou panes ou mesmo má administração dos equipamentos. Ninguém
quer ver seus dados trafegando pela rede de forma aberta, muito menos saber
que eles foram conseguidos através de um "site" oficial do governo. Mesmo que os
serviços e informações oferecidos oficialmente não proporcionem o retorno
financeiro desejado para o governo, até porque não tem como objetivo o lucro, deverá
investir muito para que não ocorram falhas no sistema eletrônico.
Afinal ter a imagem arranhada pode custar muito mais que o investimento para ver
funcionar adequadamente.
Descontinuidade:
As políticas em inovação tecnológica (IT) não podem ficar restritas a este ou aquele
administrador. Quando falamos em políticas para o desenvolvimento da
tecnologia e para sua implementação, em especial quando já estão em funcionamento, não
podemos ser iconoclastas. Muito fácil é criticar e destruir o que
está feito, sem avaliar as conseqüências que isto trará para o futuro, é a típica visão torpe
do míope que se recusa a usar óculos, enxergando pouco além
do próprio nariz. As inovações tecnológicas continuam e continuarão a avançar e permitir
que uma pessoa ou grupo político, que assuma o poder, em nome
de uma suposta readequação de critérios e ações, venha a desconsiderar o trabalho já
realizado pode ser catastrófico.
Recursos Humanos:
A tecnologia para o governo pode e deve ser usada de forma muito eficiente, para tanto
tem-se que aprimorar os recursos humanos existentes. O que não pode
ser admitido é a inexistência de uma postura que mantenha as ações já elaboradas,
removendo-se pessoas de setores chave para outros e, colocando, muitas
vezes, alguém despreparado para exercer determinada função técnica, perdendo-se todo o
investimento realizado naquele(s) funcionário(s).
O governo eletrônico também precisa definir quem vai estar diante da máquina
atualizando seus dados e serviços. Mesmo que possua um órgão gestor das informações,
como um banco de dados central, as comunicações entre este e os demais órgãos não
podem ocorrem de forma lenta, burocrática, devem se dar on-line, em intranet,
para que se torne eficiente. E para isto implica em ter mão de obra qualificada.
Para treinar e preparar não basta que sejam montados cursos e oferecidos a todos os
servidores indiscriminadamente, até porque há aqueles que não tem interesse
ou motivação, possuem mesmo aversão a computadores ou equipamentos eletrônicos.
Mas montar equipes, nos diferentes órgãos para que possam, em seus setores
específicos, estarem habilitados a enfrentar os problemas que possam surgir e poder
melhorar o que for realizado.
E, esta equipe não poderá ser simplesmente dissolvida ao ocorrerem mudanças
administrativas, senão por critérios técnicos e devidamente fundamentados. Desta
forma preserva-se o investimento realizado no material humano, procurando mesmo
protege-lo de eventuais retaliações políticas que possam redundar em perda
de capacitação técnica.
Com tais medidas podem ser reduzidos os elevados custos com treinamento de todos os
servidores da administração pública, podendo, ao revés, elevar o nível
de informação e conhecimento daqueles que efetivamente estarão na linha de frente deste
novo serviço, agora virtual.
Uma empresa, regida pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), possui maior
facilidade em movimentar seus empregados, assumindo prejuízos, com a contratação/demissão,
mas otimizando custos na produção que retornam em forma de lucro. O governo é
administrado não para ter lucro, mas para cumprir com suas obrigações perante
a nação, promovendo o bem estar social. O calcanhar de Aquiles estatal está justamente
no engessamento do funcionalismo, onde um servidor estável pode
significar um salário pago para alguém não trabalhar, trazendo conseqüências desastrosas
para o bom atendimento ao cidadão.
Burocracia:
A administração pública torna-se inoperante não por incompetência mas por excesso de
burocracia. Veja-se esta como sinônimo de lentidão, exatamente o que
não deve ocorrer com quem quer estar na Internet, na vanguarda da informação e
tecnologia, pouco importando se é grande ou pequeno, mas sim o tempo que
se leva para demonstrar eficiência.
Resultado disto é a apatia e o descrédito do cliente para com o prestador de serviços, "c to
g".
O que vemos hoje são secretarias de governo desenvolvendo trabalhos na área de Internet,
com "sites" bem elaborados, mas que não cruzam as informações.
Seja por motivo de segurança, seja por total falta de política na área. Temos então a
situação onde alguns avançam muito, porque seus administradores acreditam
nas soluções tecnológicas e apostam nos resultados e benefícios que isto traz. E do outro
lado aquele que não enxerga como bons olhos, seja porque não
os tem seja porque não quer ver, e relega a segundo plano a possibilidade de aproximar-se
daquele que é justamente a razão dele existir, que é o cidadão
para quem presta atendimento.
Segurança:
Acesso
Por outro lado o acesso à Web também tem que ser facilitado, onde não apenas o
computador torna-se um empecilho, mas também as tarifas de ligação telefônica
e dos provedores. Países como o Brasil, onde as disparidades sociais são gritantes, os
partidários da desnecessidade do e-governo, alegam que o acesso
ficaria restrito às classes mais elitizadas da sociedade. Para combater tal argumento alguns
Bancos, tais como Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil,
bem como outros do setor privado, estão abrindo linhas de crédito para aquisição de
equipamentos de informática. Nos Estados Unidos empresas provedoras
de Internet criaram um sistema de fidelidade, onde o cliente assina o contrato com o
provedor por um prazo mínimo de 03 (três) anos, em média, e ganha
o computador. A idéia colheu bons resultados na medida que expandiu o número de
usuários e incrementou o comércio.
Como a informação deve ser livre, se não é possível que todos tenham acesso a Web neste
momento, que seja então, ao menos, disponibilizada esta para que,
a pouco e pouco, através de ações conjuntas, governo/população/empresas, sejam
produzidos novos equipamentos com preços acessíveis à todos que se interessem
pela rede. Ultrapassando a barreira atual dos 5% (cinco por cento) da população que
acessa a Internet.
Conclusão:
O governo eletrônico, embora esteja iniciando com vários anos de atraso, é um fato
consumado, não há que descartar a sua necessidade. Cada dia que passa
mais e mais pessoas acessam a rede atrás de informações, lazer e conhecimentos. Vários
órgãos estatais já testaram e aprovaram a utilidade da Web como
meio para agilizar ações oficiais. São justamente as obrigações que o poder público tem
para com o cidadão que devem nortear os projetos de e-governo;
proporcionando qualidade e eficiência nos serviços oferecidos, divulgando e promovendo
eventos públicos que realmente façam a diferença, para que todos
possam se sentir não meros administrados, vivendo sob o jugo de um poder central, mas
parte ativa no sistema de governo, acompanhando as ações, resultados
e buscando melhorias.
Chegará o dia em que não será necessário deslocarmos de casa ou do trabalho para obter
uma certidão, requerer uma autorização, fazer uma comunicação de
delito. O acesso ao governo será on-line, em tempo real, tanto o que se procura como a
resposta que buscamos, através de um crescimento contínuo, gradual
e sem interrupção dos sistemas informatizados oficiais.
Abstract:
Desde a promulgação da Constituição de 1988, pouco, ou quase nada se fez em termos de
educação cidadã, ou seja, a escola permaneceu omissa à formação e
ao ensino da cidadania. Em nenhum momento, do desenvolvimento estudantil da criança
ou do adolescente, encontraremos qualquer menção sobre a Constituição
Brasileira inseridos nos currículos. A precariedade da divulgação e do ensino aos níveis
pré-escolares, do primeiro, e do segundo graus, não são compensados,
nem de longe, no nível universitário, haja vista, inexistirem disciplinas específicas que
abordem a matéria, ou mesmo, inclusas como ementas em disciplinas
congêneres. Este trabalho, aborda a necessária introdução da consciência de cidadania
através do estudo da Constituição Brasileira, utilizando-se como
meios, as tecnologias de ponta em ensino a distância e educação com tecnologia aplicada,
como forma de disseminação em massa da educação cidadã.
1. INTRODUÇÃO
Esta frase, talvez tenha sido a mais usada nos países democráticos em todos os tempos em
épocas de campanha eleitoral. Usada e ousada!
Ousada, porque votar, nunca foi um ato de cidadania. Enganam-se, e ajudam a enganar,
aqueles que assim o dizem. Votar pois, nada mais é, do que um ato obrigacional,
previsto pela Constituição, e que por esse único motivo, tem, na esfera do direito, seu
argumento maior de cunho meramente "cidadanesco".
Cidadania é antes um exercício, é certo, é uma constante atividade. O homem, ser social
que é, precisa de movimento, precisa produzir sua história, necessita
"fazer e acontecer' para se sentir integrado e participante. É através do outro, que a
"pessoa" - ser social, encontra-se e revela-se como ser social.
A "venda" da imagem de completude no simples ato de votar, é o maior engodo que
alguém pode impingir a outrem. Não há completude no ato de votar, mas,
há completude na solidariedade, que também é ato, e como tal, necessita de atores. É antes
a solidariedade, que impulsiona o ser social a identificar-se
com os problemas que afligem o seu igual. Esta sensação de semelhança, vincula um certo
grau de confiança entre as partes, a solidariedade aproxima e é
compreensiva. A compreensão leva a um certo estado de consciência do fato, assim, há
completude, pois os elementos envolvidos no ato buscam a interação
social.
Deste ponto em diante entendemos que o ato de votar, representado por um pequeno
pedaço de papel, ou por simples apertar de botões, é a sutil demonstração
da confiança de um em relação ao outro. Neste caso, do eleitor e seu candidato. O voto é a
corporificação simbólica da confiança, e nada mais. Esta representação
seria ainda mais significativa não fosse obrigatório o ato de votar.
Resta-nos uma pergunta então: - O que é de fato exercer cidadania?
Os pressupostos são encontrados na história das constituições brasileiras, que foram, nada
menos que oito, desde de D. Pedro I, que nos outorgou a primeira
Constituição, em 1824. Todas, sem exceção, de 1824 à 1988, contam a saga do povo
brasileiro. Nas entrelinhas destas (histórias) constituições, vamos encontrar,
demonstrado e positivado: o jogo político, os interesses de governo, os anseios populares,
as reservas, os medos, as impossibilidades, as impunidades,
os cerceamentos de direitos, as conquistas, a liberdade, a liberalidade, a ineficácia, o
abuso, o desleixo, a inoperância, a manipulação, e, o descontentamento.
A tudo isso, elas próprias autodenominaram ao povo, impingindo-nos como "Direitos e
Deveres" Constitucionais.
Entramos, ou estamos entrando, no século 21 com uma das mais belas constituições que o
mundo livre e democrático já produziu, a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.
- Se, ser cidadão, é exercer cidadania, como posso sê-lo, se não conheço o instrumento do
exercício?
São por estas questões, e embasado na certeza que possuímos um dos maiores
instrumentos democráticos para o exercício da cidadania, que a propositura deste
trabalho, encaminha-se no sentido de ofertar um modelo de ensino da cidadania, à criança
e ao adolescente, utilizando como veículo e instrumental didático-pedagógico,
as tecnologias de ensino a distância, ou, as tecnologias de educação.
Os filósofos entendem que o ser social, a "pessoa" é na realidade uma abstração, parte do
indivíduo, este sim, um ente real, feito de células, músculos,
órgão, matéria enfim.
"(...) A qualidade das interações que são capazes de instalar graças a seus meios de
comunicação é tal que seu conjunto, ou seja, a comunidade humana, tem
poderes muito estranhos e, essencialmente o poder de despertar a consciência em cada um
dos indivíduos, transformá-lo em uma pessoa." (JACQUARD, Filosofia
para não filósofos, pg. 121)
Jacquard nos coloca de forma clara, do ponto de vista filosófico, que a comunidade
humana possui poderes que muitas vezes são incontestes. Porém, o maior
dos poderes sociais é a capacidade de despertar a consciência, uns aos outros, em
atividades, em obras, em palavras e ações. Podemos perceber este despertar
em todos os níveis por onde atua o ser humano. Assim, se falamos da consciência
ecológica, se falamos da consciência cosmológica, da consciência do preconceito,
da consciência urbana, da consciência da própria consciência enfim, estamos falando em
"formas" de convivência humana, por onde as pessoas ou os grupos
humanos buscam identificar-se, crescer e evoluir como pessoas, fazendo da epopéia das
civilizações por onde o homem trilhou, um conjunto de ações única,
que resume a saga da própria aventura humana, de cada um como indivíduo, como peça
absolutamente fundamental no jogo da evolução da espécie.
Com isso, pode-se inferir que a pessoa é uma invenção das mais poderosas, uma vez que,
o conjunto de pessoas formam a sociedade, e esta, a Nação. É precisamente
deste ponto, de onde passamos a analisar a grande importância que tem o Estado nas
relações sociais, sendo este mesmo Estado, abstração, uma outra invenção
a serviço de uma Nação. Precisamos ter claro quem exerce o "poder", e, se em uma
sociedade democrática, esse "poder" pode perder-se para além das pessoas.
Com efeito, em uma sociedade democrática, a exemplo dos ensinamentos (invenção)
herdado dos gregos, o exercício do poder pelo povo, nada mais é, que o
ditame das regras para o convívio social. No contexto do convívio, a sociedade busca
organizar-se para desfrutar das relações sociais. No contexto da aplicação
das regras, a sociedade elege o Estado, para de forma neutra operar a igualdade e a justiça,
ambas, necessitam administração. O poder se faz presente em
esferas de atuação, com reflexos sociais distintos - Legisla, Executa (administra) e Julga.
Exatamente neste contexto, cremos que a escola tornou-se omissa, pois desde o advento
da Constituição de 19888, nada se engendrou, ao nível dos currículos
educacionais qualquer tentativa de resgatar os verdadeiros valores de cidadania. Ensinar e
aplicar, ensinado a ser cidadão. Buscando fórmulas de cumplicidade
na descoberta maior da consciência dos atos, dos direitos e deveres do "Ser Cidadão". A
escola esteve a margem desde rito, nada ensinou, embora algumas
vezes, tenha tentado cobrar. Não se cobra o que não se tem, não se ensina o que não se
aprendeu.
Como então podemos esperar que um país possa sobreviver à sua própria corrupção, se a
maior delas é omitir informações, vedar os olhos do futuro com o véu
da ignorância, apostando no "controle" das leis e na centralização do poder, que embora
corrupto, ainda é poder? Que tirania maior pode haver em esconder-se
o maior dos tesouros - o conhecimento?
Embora tenha se passado 12 anos, não é tarde demais. E tudo pode ser resgatado a tempo,
pois a nosso dispor temos as tecnologias da informação, temos os
serviços informatizados, e temos as tecnologias da educação. É com base nelas, e com
novas metodologias, que poderemos resgatar o tempo perdido. E embora
esteja perdido o tempo, não está ainda, a esperança, pois esta nação é criança, são os
nossos filhos, que nos emprestaram esta terra, e para os quais devemos
a responsabilidade de lhes entregar. Propor medidas e inventar soluções para que eles a
perpetuem, é nossa sina, e nossa maior obrigação.
Como referencial de cidadania, o foco deste trabalho não poderia ser outro a não ser as
cláusulas constitucionais garantidoras do pleno exercício da cidadania.
Os artigos 1º ao 7º, e notadamente, o artigo 5º, que trata dos direito e deveres individuais e
coletivos, e, o artigo 7º, que trata dos direito e deveres
sociais. Nestas cláusulas constitucionais introdutórias, encontramos a síntese do
verdadeiro exercício da cidadania, que cada brasileiro deveria conhecer
e aplicar.
Se nos parece "in gloria" estender a todos os brasileiros, tais ensinamentos, que o façamos
pelo menos àqueles nossos cidadãos do futuro, nossas crianças
e adolescentes.
Os módulos podem ser elaborados de tal forma que não sejam superiores a 20 h/aula por
módulo, em no mínimo três módulos independentes mas complementares:
Módulo Avançado - ementa: Estudo e análise das emendas constitucionais. Interação dos
poderes e reflexos constitucionais na sociedade. Legislação político/partidária
e as previsões constitucionais. As relações internacionais, soberania, e divisas. Estudo
comparado de aspectos da constituição de 67. Elaboração do "ABC"
da Constituição para repasse do aprendizado.
Todos os módulos deverão ter o chamado "ABC" da Constituição, que será o trabalho de
final de curso, consistindo em uma espécie de cartilha com os dados
principais e assuntos mais interessantes que foram abordados nas aulas. Esta cartilha será
reproduzida contendo o nome dos participantes daquele módulo
e os mesmos deverão distribuir a todos quantos se interessarem. É uma forma de
disseminar os conhecimentos.
A experiência vivida nesta disciplina, graças a criatividade dos professores Hugo César
Hoeschl e Tânia Cristina Bueno, trouxe-nos uma reflexão extremamente
profunda sobre a eficiência e a eficácia dos métodos pedagógicos e sua didática, além de
constatar algo que foi surpreendente, votar é excitante. E essa
experiência trouxe-nos um grande aprendizado, "que nem sempre precisamos utilizar de
recursos tecnicistas para inserir novos conceitos pedagógicos". Muito
pelo contrário, a experiência mostrou claramente, como devemos e podemos repensar
posturas pedagógicas a partir de novas imposições, ou disposições sociais.
Tratamos o tempo todo de conceitos de tecnologia e suas aplicações para o direito com
ressonância à vida do cidadão. A metodologia aplicada nos debates
propostos tiveram um dado que incrementou e modificou por completo a motivação, que,
de tediosa passou a ser excitante, de inerte passou a ser participativa,
de apática para ardorosa defesa de teses.
A metodologia é a seguinte:
É proposto vários temas à escolha. Duas equipes escolhem o mesmo tema, sendo que uma
irá defender a idéia central do assunto, enquanto que a outra, deverá
atacar ou refutar a validade da idéia central do tema.
Arma-se assim um cenário bastante interessante que lembra um julgamento, onde há uma
turma para a defesa, e, outra para a acusação. As regras para apresentação
são livres, cada equipe pode se utilizar dos recursos que bem entenderem, não podendo
porém, extrapolar o tempo. Aliás, as únicas regras rígidas são os
tempos. No caso de uma equipe citar a outra, nominalmente ou pelo conteúdo abordado,
dá direito ao citado à réplica, para sustentação ou esclarecimento
do exposto.
O seminário tem início, uma equipe se pronuncia, pode começar a defesa, e logo depois o
ataque. Após a exposição de ambos, e terminadas as réplicas devidas,
abre-se o debate ao público, que deve formular perguntas objetivas a qualquer das
equipes. O debate nesta altura já está com grupos divididos também na
platéia. O debate leva em média trinta minutos, podendo ser mais elástico dependendo do
tema em discussão.
O exemplo de nada vale se não for para ser seguido. Sou professor já a quinze anos, tenho
formação em pedagogia, e em minha época o que mais se fez foi
aprender métodos de ensino-aprendizagem. O método do seminário com debate era uma
das opções comuns. Inclusive, como acadêmico pedagogo, em épocas de estágio,
éramos obrigados a elaborar planos de ensino contemplando os debates. Para mim
pessoalmente, o debate, sempre foi uma verdadeira "via crucies" pois os
debates esvaziavam-se em si mesmos, e o papel do moderador era muito mais apartar os
"bate-bocas" do que conduzir o aprendizado. Aliás, pouco aprendizado
havia, uma vez que não havia consenso. Depois que conheci a criatividade do Hugo e da
Tânia mudei de opinião!
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parece bastante claro, que a solução para os problemas do ensino não se esgota apenas em
ensinar nas escolas, mas, principalmente como ensinar, e em que
locais. Educadores por todo país, também precisam ser inseridos nesse contexto de
cidadania que passa, como vimos, pelo aprendizado consciente ao estudo
da Constituição Brasileira. Não se ensina o que não se sabe, por isso mesmo, é preciso
aprender para transmitir o conhecimento. E não é por menos que centramos
nossa proposta no público infantil e adolescente, a quem mais interessa um país de
oportunidades senão aos nossos jovens. Serão eles a garantia do nosso
futuro como Nação, ou somos nós, que lhes devemos garantir os conhecimentos para que
queiram estar nesta Nação?
Podemos e devemos utilizar das tecnologias que aí estão. Elas operam um milagre, o da
multiplicação instantânea das informações. Também pode operar o milagre
da multiplicação do aprendizado. Não precisamos ficar apenas nas escolas, podemos
utilizar meios como a internet, o telefone, o WAP, etc... . Com módulos
didaticamente elaborados para o contexto telemático, a disciplina de cidadania pode
tornar-se uma das disciplinas mais atrativas de todo e qualquer currículo
educativo, mesmo porque, a avaliação não é outra senão a própria aplicação dos
conhecimentos adquiridos. O exercício da cidadania será a nota que cada
um irá tirar, e esta não terá limites máximos, simplesmente porque, exercer cidadania
nunca será demais.
Iniciei este artigo com uma reflexão sobre "votar", e deixamos patente que o ato de votar
em ocasião de campanha eleitoral, de forma inconsciente, como
ocorre hoje em dia com a grande maioria das pessoas, não é sinônimo de exercício de
cidadania, como de fato não o é. Porém, este mesmo ato, executado em
trabalhos didáticos nas aulas, de muitos "Hugos" e "Tânias" por este País afora, são, com
certeza, a mais nobre expressão de cidadania, porque o conhecimento
se completa com a consciência, e esta completude, transforma o cidadão.
6. BIBLIOGRAFIA:
1. JACQUARD, Albert. Filosofia para não filósofos. Trad. Guilherme João de Freitas
Teixeira. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
marcofm@iaccess.com.br
1. Justiça: fornecer respostas tão rápidas quanto a evolução das novas tecnologias.
No século XVII e nas primeiras décadas do século XVIII vive-se a ética estritamente
utilitarista, rompendo-se a superestrutura do Jus-naturalismo, onde
a vontade de Deus era fonte fundamentadora de toda e qualquer moral, para dar lugar ao
aparecimento de uma ruptura. A sociedade passa a ser o viés e fonte
produtora das normas. Na Segunda metade do Século XVIII o sistema jurídico assume o
papel de ser autoconstituinte, uma Lei Constitucional, incluindo fundamentos
de vigência do Direito. Passa a ter importância a positividade da Lei Constitucional como
fundamentadora do Direito e do Poder Estatal. Desta forma a legislação
constitucional em sua reorganização passa a ter uma importante referência externa, "o
povo" como uma solução desta reorganização do Direito, não estando
mais nas "mãos de Deus" ou do despótico Monarca, que o representava aqui na Terra. Há
um processo de codificação legal. No fim do Século XVIII o modelo
sofre nova revisão, passando para um modelo de ordem/obediência, onde há alteração
com vistas à relação legislação e jurisprudência, ou seja, a exegese
ou interpretação da norma. A função jurisdicional do Estado passa a ter a reserva da
interpretação da norma produzida pela função legislativa do Estado.
No Século XIX fica bem caracterizado o espaço público e o privado, tanto na produção
quanto na interpretação da norma. De um lado temos a vontade política,
legislação e de outro a vontade privada, jurisprudência, reconhecida pelos Tribunais. O
grande paradoxo é que o Juiz, fica vinculado à Lei. A norma Constitucional
nos diz que os Juízes são independentes e estão sujeitos à Lei. São independentes sim,
mas nem tanto, estão adstritos aos ditames da Norma Jurídica. Significando
que a separação de legislação e jurisprudência, na prática, trata de uma não-separação,
uma vez que o Juiz, no sistema jurídico, vincula-se à Lei. Este
aspecto da diferenciação das funções manifesta-se enquanto relacionada, materializada e
observada do ponto de vista sistêmico. Por exemplo, ninguém irá
solicitar divórcio ao parlamento ou requerer modificação de Lei ao juízo cível. Esta
diferenciação é importante sim, frente às estruturas do sistema e
da sociedade. Conforme vimos acima que da diferenciação do ponto de vista
organizacional vale como pressuposto de tarefas, por exemplo: legislativa, justiça,
saúde, educação e outras. Por sua vez, a diferenciação do ponto de vista social importa
como unidade, ou seja, "sistema social jurídico", que é operativamente
fechado e reproduz suas próprias operações, abrigando, na sua periferia, o legislador (faz
as leis) e, no centro, o Juiz, aquele a quem cabe compreender
e aplicar a norma jurídica dentro de uma certa discricionariedade.
A modernidade(2), oferece uma visão de mundo própria em que o sistema social, político,
econômico, cultural, jurídico constantemente se inter-relacionam,
cabendo à função legisladora captar, acomodar e positivar as normas, permitindo, assim,
no que se chamou de autopoiesis do sistema jurídico, o filtramento
das irritações vindas do mundo circundante. Isto nos remete à abordagem da "Teoria della
societá" luhmaniana, no sistema jurídico como funcionalmente autopoiético,
autônomo porque produz novos elementos, complexo, dinâmico e operativamente
fechado, porque entra em contato consigo mesmo a cada nova operação. Que em
sua periferia, está relacionando-se com o mundo circundante, numa forte relação de
dependência recíproca, sofrendo "interferências", "irritações" de outros
sistemas. Na metade do século XX, a modernidade dá lugar à mudança de paradigma.
Começa a vigorar nova visão de mundo macro-econômica, geo-política, cultural,
social. O novo paradigma da pós-modernidade(3), determina a falência da Modernidade.
A sociedade torna-se cada vez mais complexa, diferenciada internamente,
onde cada subsistema a constroe segundo perspectivas próprias. Assim subsistemas tais
como economia, família, moral, ensino, política, direito, saúde,
entre outros, estão funcionalmente diferenciados, organizados e, é claro, estruturados
dentro de suas peculiaridades. O capitalismo financeiro toma importância
cada vez maior na diferenciação das sociedades que passam de uma sociedade de massa
para uma sociedade cibernética, cuja seiva é o intercâmbio de informações.
Há deterioração das ideologias, não há mais sentimento. Capital não tem ética. Cada vez
mais há fortalecimento das grandes corporações econômicas, transnacionais
e um enfraquecimento do Estado-Nação, com conseqüente fortalecimento do Direito
Comunitário. Mudam-se as relações internacionais e o poder econômico passa
a concentrar-se nos que detêm a tecnologia da informação. Novos valores aparecem ou
são reforçados nesta nova sociedade, como o sentimento de cidadania,
resgate dos direitos humanos, preocupação ecológica, entre outros. Em todas estas
transformações, existem descompassos gigantescos. Um dos quais e que
mais nos tem chamado a atenção é a do sistema jurídico, que não acompanha a rapidez
das mudanças dos outros sistemas. O caminho do legislar é longo e penoso.
Até que a função legislativa perceba as "interferências" advindas de outros sistemas e sub-
sistemas, positivando-as para que a função judicante interprete
e jurisprudência o percurso, é complexo em processos morosos. "Se é verdade que a
solução jurídica precede a solução tecnológica, também não é menos verdade
de que a solução jurídica para as questões das novas tecnologias, que evoluem
rapidamente, não pode depender de um processo legislativo arcaico, moroso
por natureza, concebido num outro tipo de sociedade. É óbvio que não está mais
atendendo às necessidades da sociedade pós-moderna. O derrame intermitente
de tantas Medidas Provisórias vem, também, denunciar a falência de todo o processo
jurídico-normativo vigente. Há que se encontrar mecanismos de legislação
mais ágeis, caso contrário a nova sociedade terá um modelo tecnológico que não pára de
evoluir e um modelo jurídico envelhecido."(4) Outra questão passa
pelas soluções esdrúxulas encontrada pelos Poderes Executivo e Legislativo, aqui no
Brasil. Assim é que, no intuito de acelerar importantes votações, de
celerizar o processo legislativo e de retirar dos representantes do povo e dos Estados-
Membros sua conciência de opinião, implanta-se o famigerado Voto
de Liderança e do conceito distorcido, maquiavelicamente, de "Fidelidade Pardidária".
Ambos usurpam a liberdade de consciência individual dos parlamentares
que aceitam e se prestam a papéis anti-democráticos, tirados de decisões dos chamados
líderes do governo, que seduzidos por tais ações impositivas do Poder
Executivo, decidem em nome da maioria amordaçada. Sinais dos novos tempos. Nada
mais do que soluções de atalhos, infelizmente, utilizados em grande escala.
Mais importante do que estas observações é ter em mente de que todas estas medidas
destroem a capacidade de formação política e institucional de nossas
representações, deixando muito a desejar a qualidade de nossas normas. Normas, regras
legais, que deveriam dar o suporte necessário ao sustentamento dos
anseios da nova sociedade e, por conseqüência, aprofundarão o agravamento das crises a
longo prazo nos mais diversos setores da economia, saúde, educação,
segurança, dentre outros. Tais ações, com certeza, não fortalecem o processo democrático-
legislativo. Tais práticas desvirtuam suas funções ao sabor dos
interesses e da interferência de outros Poderes. Na pós-modernidade, na prática, o Estado
perde o conceito real de ser tripartide. A nova sociedade vem
exigir respostas mais rápidas deste sistema jurídico, emergido em crise na pós-
modernidade.
Está cada vez mais patente que, contemporaneamente, a evolução tecnológica muda
velhos paradigmas, erigindo outros modelos de comportamento, criando novas
técnicas, surgindo novas Ciências. Por estas razões está a se exigir, numa velocidade cada
vez maior, a adequação de novas regras que dêem guarida à sociedade.
Percebe-se que aquele modelo do Sistema Jurídico fechado e hierarquizado não consegue
responder, na mesma velocidade, às necessidades normativas de uma
sociedade extremamente afetada pelo desenvolvimento tecnológico exacerbado. Há que se
buscar por um direito mais dinâmico, mesmo que alimentado pelos inúmeros
sistemas contemporâneos, de realidade pós-moderna, onde uma verdadeira teia de micro-
sistemas legais, admitidos no sistema jurídico, possam construir,
nas suas inter-relações, a nova realidade técnico-político-juridídico-cultural-social.
Este novo contexto traz a idéia de Justiça Privada que toma importância cada vez maior
por ser mais ágil, menos burocratizada, sem hierarquização, podendo
oferecer respostas mais adequadas aos interessados, a um custo muito mais baixo. Neste
contexto pós-moderno o princípio da diferenciação toma outra conotação:
o poder de execução e jurisdição será desconcentrado. Nesta visão, não cabe somente ao
poder do Juiz a jurisdicionalização e execução da justiça. Novas
técnicas e novos meios produzirão justiça e levarão seus efeitos ao Poder Jurídico Estatal,
eliminando etapas processualísticas complicadas e morosas,
permitindo deixando que as partes decidam, resolvendo o conflito utilizando-se da
Mediação(5) . Na Arbitragem(6), o processo é litigante e ao final é produzida
uma sentença arbitral dizendo com quem está a razão. Será, sem dúvida alguma, o
desafogo dos nossos Fóruns e Tribunais formais, bem como a democratização
da justiça àqueles que têm dificuldades no acesso à justiça estatal.
Não temos dúvida de que a Justiça Estatal irá aos poucos facilitar a Justiça Privada,
principalmente por tratar-se de um sistema ágil, dinâmico, verdadeiro
e mais próximo da sociedade. Com certeza, a Mediação e a Arbitragem encontrarão neste
mundo Globalizado o espaço ideal para a solução de interesses diversos
e adversos, principalmente para as novas questões trazidas pelas novas tecnologias, pelas
novas ciências, pelos novos Direitos. Terão mais liberdade e
estarão mais próximos da realidade social, a lhes oferecer os meios necessários na
formulação de respostas hábeis e velozes aos seus anseios por justiça.
Neste contexto, há que se redefinir os papéis de uma e de outra Justiça. Há que se dar
espaço para que a Mediação possa cumprir o papel de levar a justiça
nas questões que lhes cabe, democratizando seu acesso a todas as camadas sociais. No
modelo atual do Direito, a resolução de conflitos dá-se na forma do
poder do Juiz, que decide o litígio.De outro lado, a Mediação não pode ser reduzida à
prática jurídica. É uma técnica de resolução de conflitos.
Decidir por si mesmo, este é um princípio regulador da Mediação. As partes tem que ter
autonomia, interesse e solidariedade na solução do conflito.
A nova sociedade informatizada está a demonstrar cada vez mais que as mudanças
tecnológicas vêm ocorrendo em passos cada vez mais acelerados, interferindo
na vida de toda a sociedade e, por conseguinte, de todos os cidadãos.
As crises sociais decorrentes das mudanças tecnológica têm demonstrado que o atual
modelo de prestação jurisdicional estatal enfrenta séria crise. Não consegue
acompanhar a necessidade de resolução de problemas na mesma velocidades com que são
gerados. Cada vez mais a justiça estatal fica assoberbada de processos
que, diante de um sistema processualístico moroso, deixa de dar respostas em tempo
compatível. As mudanças tecnológicas que se processam diante de nós
nos permite viver o maior e mais formidável acontecimento de nossa época. Não há
dúvida de que seremos todos afetados de forma direta ou indireta, integrados
ou excluídos nesta nova tecnologia. Há uma nova configuração da atual ordem social.
Cada vez mais a consciência humana globalizada indica-nos a importância do respeito aos
direitos do homem e do cidadão, a preservação ambiental, a constante
necessidade de capacitação, a interdisciplinaridade, o aparecimento de novas ciências, a
mudanção nas relações internacionais, nas relações de emprego
e assim por diante.
A Mediação não é somente uma solução para os reclamos de justiça, mas uma
necessidade diante da velocidade de mudanças sociais. Tem condições de desempenhar
seu papel, servindo de equilíbrio e mantenedora das liberdades e dos direitos
fundamentais do cidadão, como por exemplo o acesso à justiça. Tem toda condição
de ser instrumento de resolução de conflitos ambientais, tecnológicos, informáticos, bem
como das novas questões trazida pela ciências emergentes, tais
como a biotecnologia, cibernética, telemática, entre outras. Sem dúvida, a Mediação, neste
contexto da sociedade informatizada diante do embate entre o
novo e o antigo, tem nas partes conflitantes o caminho para o entendimento e a melhora
da qualidade de vida de cada um e, por conseguinte, de nosso planeta.
Não está nas mãos de nenhum magistrado, está nas mãos dos maiores interessados, os
cidadãos comum.
Mediador - pessoa com formação técnica especializada, treinada e preparada para, com a
máxima imparcialidade coordenar sessões de mediação
Escuta atentamente as partes. O Mediador deve ter todo o tempo do mundo para escutar.
Ter paciência e Ter sempre em mente que se há uma mediação é porque
falhou a comunicação entre as partes. O Mediador possibilita que esta comunicação seja
restaurada. Que as partes tenham o máximo de oportunidade para dialogarem
entre si. É importante que sintam-se escutadas e compreendidas, o que lhes dará maior
confiança no processo. Desta forma, o Mediador dirige a sessão, conduzindo-a
imparcialmente, sem julgar, nem decidir. Sua função é informal e de aproximação das
partes. Controla o processo da mediação sem interferir no seu mérito.
Parafraseia cada parte para demonstrar que entendeu, sem no entanto expor o seu ponto de
vista do conflito. Técnica que serve para simplificar e ordenar,
jamais para decidir ou orientar decisões. O parafraseamento não é obrigatório, porque o
relato da parte pode ser conciso e claro. Todavia, se for necessário,
deve ser realizado com cautela. Não para fazer uma repetição exata do que foi dito e nem
colocar a sua interpretação. Deve assumir o caráter de um resumo,
digamos mais humanizado, onde o mediador deve procurar retirar da fala os pontos
negativos, palavras chulas, ofensivas.
É fundamental que o Mediador saiba as razões do conflito. Por isso tem que trabalhá-lo,
lidando com os receios e as expectativas. Lidar com os segredos
que estão por detrás do conflito.
Podemos afirmar que o conflito vai além do normativo. No processo jurídico o pretendido
não pode ser modificado. Somente através de novo processo, novo
pedido. O Juiz não pode julgar além do pedido. Na mediação, não há esta estrutura rígida
de poder e de processo. A pretensão pode ser modificada a qualquer
tempo. Alterada ao sabor do entendimento das partes. Ajustada à realidade de cada um.
Mas democrática e distributiva. Tudo porque muita das vezes os interesses
que envolvem o conflito não é a pretensão inicial e sim são desejos ocultos e expressos
que afloram durante a Mediação. Atrás de cada problema, de pedidos
materiais há sempre interesses em jogos. Sejam interesses comuns, compartilhados entre
as partes ou interesses opostos que se chocam. Interesses cuja satisfação
de um é incompatível com a do outro. São interesses incompatíveis que necessitam ser
negociados. Há também interesses diferentes sobre uma mesma questão,
como por exemplo o rompimento de uma sociedade. Um quer permanecer com o negócio
o outro deseja afastar-se. Interesse plenamente negociável. Cabe ao Mediador
detectar os interesses comuns, opostos ou diferentes e trabalhá-los, sem influenciar, sem
sugerir, sem interferir. Ou seja, ajudar as partes para que vejam
seus interesses, que na maioria das vezes nem elas sabem quais são e como trabalhá-los.
O Mediador pode ajudar através de perguntas circulares(12), abertas(13(
ou fechadas(14) . Perguntas que devem ser formuladas com cuidado para que seja mantida
a imparcialidade do Mediador. As perguntas abertas dão melhores
condições de trabalho ao Mediador que adquire uma visão maior do conflito e do que
pensam as partes. Já a perguntas fechadas, se forem usadas em larga
escala poderão dar a impressão de que as partes estão sendo interrogadas, criando um
distanciamento entre Mediador as partes conflitantes. Questionar é,
sem dúvida, a melhor forma de incentivar o diálogo entre as partes fazendo com que
discutam, reflitam e decidam o que fazer e o que transacionar. Pode
chegar inclusive a conclusão de que determinados interesses não podem ser satisfeitos,
seja por questões sociais, ética, morais ou legais. É muito importante
que o Mediador trabalhe sem prever o resultado e sem querer a qualquer custo "fazer" um
acordo ou ter o acordo como um fim. O seu desafio maior é chegar
ao final da Mediação e que as partes se sintam melhor e recompensadas. Para isso o
Mediador deve ser solidário e afetivo, colocar-se como catalisador positivo,
transformador.
O pensamento do mundo jurídico é o de que tudo que não está nos autos não existe. O que
não está no processo, não está no mundo. Se o fato não pode ser
provado não existe. Na mediação não é bem assim, nesta certeza, na plenitude do Direito
moderno. A mediação é revigorada na vivência da incerteza constante,
do dito pelo não dito. Aproximar-se pelo segredo, pelo que está atrás da própria fala do
outro. Não cabe ao Mediador o papel de procurar provas e verdades.
Talvez aqui o aspecto mais difícil da mediação, o de permanecer eqüidistante do mérito
do conflito, sem influenciar nenhuma das partes. Neutralizar-se
sem manipular a mediação e sem oferecer soluções.
Sem dúvida estamos diante de um problema difícil. Como evitar que inconscientemente o
Mediador sutilmente possa persuadir uma das partes ou as partes propondo
soluções, para que firmem um "acordo desejado"? Acordo este desejado por quem? Pelas
partes ou a que o Mediador julga ser? Somente com muita técnica, estudo
e experiências acumuladas permitirão que, ao longo do exercício profissional, o Mediador
desenvolva suas habilidades essenciais, adquirindo técnicas de
comunicação e de condução de sessões que lhes dêem a imparcialidade, a empatia
necessária na condução do processo de mediação. Haverá de desenvolver cada
vez mais a criatividade, saber olhar através e além dos relatos, ter o raciocínio ágil,
flexibilidade, autoridade, segurança e cada vez mais valorizar
sua capacidade de escutar sem opinar. Ter em mente que os conflitantes tornam-se presas
fáceis e vulneráveis a receberem opiniões, "conselhos", por estarem,
de certa forma, predispostos à resolução do conflito.
Um outro fator ético que cerca a profissão do Mediador é o sigilo que deve envolver todos
os procedimentos da mediação. Jamais poderá revelar às partes
o que sabe sobre as mesmas ou da situações que envolvem o conflito quando lhes passado
em Sessão Privada(15), somente se por elas autorizado. Tal procedimento
proporcionará a confiabilidade das partes seja no Mediador ou no processo de mediação.
A Mediação Transformadora tem por objeto fazer com que os conflitantes detenham o
poder de buscar entre si a melhor das soluções, minimizando o conflito
e alcançando, com isto, uma melhor qualidade de vida. Este é o aporte epistemológico da
Mediação Transfomadora, a oportunidade de transfomação do indivíduo
na direção de uma melhor qualidade de vida.
O homem sempre foi o maior e mais voraz depredador da natureza. Não tem a visão
sistêmica integrada de mundo e tão pouco absorve esta visão do Universo.
Todavia, neste findar de milênio, há uma conscientização para a importância das questões
ambientais.
Danos ambientais, em sua maioria, são irreversíveis, o que requer uma atuação preventiva
rápida e eficaz.
A Mediação tem a possibilidade de ocupar espaço em discussões desta natureza. Com sua
técnica e possibilidade de minimização do conflito, de resolução parcial
ou total, solução buscada pelas partes, agressora ambiental e defensora do meio ambiente,
é possível que todos ganhem em qualidade de vida. Por certo tratar-se-á
de Mediação especializada e como tal requererá muito treinamento por parte do Mediador.
O Mediador deve ter bem claro o que é qualidade de vida, necessita
ter a concepção ecológica da vida. Deve deixar exposto em seu discurso inicial o que é
ecologia; ambiente e Mediação Ecológica. E, se todos estão numa
sessão de Mediação-Ecológica é porque estão preocupados com o meio ambiente e com a
qualidade de vida das pessoas.
Notas
(1) Thomas S. Kuhn, in A Estrutura das Revoluções Científicas explica que paradigmas
constituem-se nas realizaçõesuniversalmente reconhecidas que fornecem
problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes da ciência. Dois
divisores de águas , dois paradigmas que mudaram a sociedade planetária.
O paradigma da modernidade: industrialização; o paradigma da pós-modernidade: as
novas tecnologias da informação
(3) Tem como marco a invenção do primeiro computador, em 1947, Eletronic Integrator
and Caculator-ENIAC, nos estados Unidos. A partir da invenção do micro
chip, nestas três últimas décadas, a informática, aliada às tecnologias das
telecomunicações imprime mudança radical nos modelos econômicos, geo-políticos,
culturais, científicos da humanidade. É a chamada novas tecnologias da informação ou de
revolução digital vêm dar um tom todo especial para este findar
de milênio, na formação de uma nova sociedade estruturada além dos conceitos da
modernidade, onde a velocidade das inovações tecnológicas acontecem em
espaços de tempo cada vez mais curtos e de impacto universal.
(4) Ferreira de Melo, Marco Antônio - Spam - Lixo Eletrônico. Revista da Informática
Jurídica, 04/08/98, http://infojur.ccj.ufsc.br/revista.htm
(6) Processo que requer pelo menos duas pessoas físicas ou jurídicas, ou uma física e
outra jurídica, que estejam em litígio. Para ajudá-las na solução
do litígio elegem pelo menos uma terceira pessoa, árbitro, que através de uma sentença
porá fim ao litígio na área arbitral. Na Arbitragem há um processo
que reveste-se de formalidades. Célere, cercado da confiabilidade e da formalidade
necessárias ao desenvolvimento do processo arbitral. Cabe ao árbitro
conduzir todo o processo, colhendo depoimentos das partes e de testemunhas, provas,
documentos, laudos periciais, para fundamentar sua sentença arbitral.
O árbitro tem o poder de decidir pelas partes. De sua sentença arbitral não cabe recurso,
podendo ser impugnada a chamada Ação de Nulidade, por erro cometido
na condução do processo, mas nunca sobre questões de mérito. A arbitragem tem por
objetivo principal a solução do litígio, evitando, com isso, o penoso
enfrentamento dos trâmites da Justiça Estatal.
(7) Decidem livremente se vão ou não participar da mediação. Possuem o livre arbítrio
para retirarem-se do processo de mediação a qualquer tempo. Desobrigadas
a chegarem a um acordo. O acordo poderá ser total ou parcial e terá o mesmo valor de um
acordo extrajudicial. Podem, mesmo durante o processo da mediação,
optarem por outras formas para resolver seus problemas.
(8) Pessoas com formação especializada, treinada e preparada para, com a máxima
imparcialidade, aplicar técnicas de comunicação acurada e regras para conduzir
as sessões de mediação.
(10) As partes escolhem como meio para derimir o seu conflito a Mediação. Pode ser
realizada sem a presença de advogados.
(11) Reunião realizada entre o Mediador e uma das partes reservadamente. Sessão
sigilosa. Mediador não pode transmitir nada do que ocorreu nesta sessão,
a não ser se autorizado expressamente pela parte. Sendo que se realizada com uma delas,
deve ser realizada uma nova sessão com a outra parte, para manter
a isenção do Mediador. É uma excepcionalidade. Poderá ser solicitada pelas partes ou
sugerida pelo Mediador. Situações em que poderá ser solicitada pelo
Mediador: quando notar que uma das partes está muito agressiva e se puder trabalhar esta
agressividade; quando perceber que uma das partes é por demais
tímida e tem dificuldade de expressar seus pontos de vista; quando perceber que uma das
partes está deliberadamente atrapalhando o andamento da sessão;
para tranqüilizar uma das partes, se esta estiver muito nervosa; quando notar que poderá
detectar interesses ocultos no conflito; para verificar o que
se chama de preço reservado, verificar qual o máximo a parte está disposta a dar e qual o
mínimo que a outra está disposta a receber; para avaliar e fazer
com que uma parte se coloque no lugar da outra; para tocar em aspectos legais que se
trabalhado em conjunto poderia ser demonstrado com quem está a razão,
mesmo porque pode uma das partes pretender direitos indisponíveis. O Mediador tem que
manter sua imparcialidade. Aqui trabalha-se questões da seguinte
forma: você consultou seu advogado sobre sua pretensão? O que o Advogado falou? Por
que sabendo isto você reclama? Por que não consulta um advogado? Podemos
suspender a sessão. Mas nunca dizer com quem está a razão. A Sessão Privada também
pode ser realizada com os advogados das partes, principalmente se estiverem
dificultando a sessão, interrompendo-a constantemente e solicitar-lhes colaboração ou até
mesmo para demonstrar que o advogado está tendo uma visão errônea
do conflito, querendo, por exemplo, propor acordo imediatamente. Mostrar que as partes
devem chegar às suas conclusões.
(12) São perguntas que buscam contextualizar a situação, principalmente quando poderá
ampliar o campo contextualizado. Muito utilizadas em sessões privadas,
sendo viável a aplicação da mesma pergunta a cada uma das partes.
(13) São as que buscam um maior leque de informações. Dá oportunidade para que a parte
se abra mais, saia de dentro de si. Muitas vezes são perguntas que
coloca uma parte no lugar da outra, para que enxergue o problema na ótica do outro.
(14) São aquelas que estão mais focalizada, mais centradas no interesse ou na questão,
esperando respostas mais concretas, do tipo sim e não.
(15) Sessão Privada. Reunião em separado realizado entre uma das partes e o Mediador.
Oportunidade em que a parte envolvida no conflito poderá relatar fatos
mais íntimos ou aspectos que julga ser importantes esclarecer. O sigilo é fundamental e o
Mediador só poderá reportar-se na Sessão conjunta somente naquilo
que lhe for autorizado falar. Caso contrário terá que guardar em absoluto segredo o que
lhe for relatado e não autorizado falar.
(16) Quando mais de um Mediador trabalha em uma mediação. Além da afinidade que
deve existir entre eles, a técnicas utilizadas na co-mediação são as mesmas
da mediação, incorporadas outras para facilitar o trabalho em conjunto, tais como: sempre
que desejarem replanejar ou modificar alguma estratégia na sessão,
devem ausentar-se da sala e estabelecer em conjunto os novos rumos; nunca discutir
questões de condução da sessão na frente dos mediados; sempre falar
no plural; o trabalho é em conjunto e em igualdade de condições. A vantagem da co-
mediação é uma melhor visão do fenômeno, bem como a possibilidade de
multiplicar a visão do conflito.
BIBLIOGRAFIA
LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Trad. Luiz
Paulo Rouanet. São Paulo: Ed. Loyola, 2ª ed., 1999, 12-212 p.
LÉVY, Pierre. O Que é o Virtual?. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 1996, 160 p.
ROVER, Aires José. Introdução aos Sistemas Especialistas Legais: Dificuldades acerca
do Sistema Jurídico in, Paradoxos da auto-observação: Percursos da
Teoria Jurídica contemporânea / Leonel Severo Rocha (org.). Curitiba: JM Editora, 1997.
p93-125.
SALES, José Roberto da Cunha. Tratado da Praxe Conciliatória ou Theoria e Prática das
Conciliações e da Pequena Demanda. Ed. Nicolao D’Oliveira S.C. Rio
de Janeiro, 1879
....................
....................
1. Introdução
A utilização da telepresença está destinada a ser uma prática comum para os atos da vida
civil. Muitos avanços positivos estão por vir, mas alguns deles
já estão ao nosso alcance, como, por exemplo, na educação. Algumas Universidades
brasileiras já oferecem cursos regulares - devidamente aprovados, reconhecidos
e homologados nas instâncias competentes e ministrados dentro do campus das
respectivas instituições, em suas respectivas cidades - que contam com a participação
de alunos conectados através das tecnologias da telepresença, de forma tal a que alunos
participem das aulas, interativamente, em salas previamente preparadas,
mediante a transmissão bilateral de imagens, voz e dados, como se estivessem nas salas da
respectiva instituição, configurando a chamada "presença virtual",
a qual é reconhecida como similar à "presença" pelos tribunais brasileiros.
Presença e telepresença são, juridicamente, iguais, no âmbito de seus efeitos, para os fins
aqui discutidos. O ensino realizado pelo modelo telepresencial
equivale àquele realizado pelo modelo presencial, pois "telepresença" equivale à
"presença", conforme estão decidindo os Tribunais nacionais.
Assim, os cursos em tela não podem ser caracterizados como "a distância", mas sim como
"presenciais", sob a modalidade da telepresença.
4. Diretriz Jurisprudencial
Os depoimentos e testemunhos judiciais são atos pessoais, que exigem a presença da parte
interessada, que será ouvida. Sobre isso, veja-se a seguinte decisão
do egrégio Superior Tribunal de Justiça:
Ementa:
Acórdão
Fonte
DJ DATA:25/09/1995 PG:31118
Relator(a)
Data da Decisão
23/08/1995
Orgão Julgador
QUINTA TURMA
Ementa
Decisão
(Destacado).
Note-se que o judiciário não está apenas reconhecendo a validade da telepresença, mais
do que isso, ele está aplicando a tecnologia em seus atos de administração
da justiça.
5. Conclusão
Referências:
http://www.stj.gov.br
http://www.senado.gov.br
http://www.brasil.gov.br
http://www.planalto.gov.br
http://www.mct.gov.br
E-governo
Na sociedade cibernética que se instala, não é mais o grande que engole o pequeno. Agora
é o veloz que devora o lerdo, e isso vale para as pessoas, empresas,
governos, nações e sistemas.
O governo está chegando tarde à WEB, embora ela tenha sido criada por sua inspiração,
nos Estados Unidos da América, há cerca de dez anos. Mas, apesar do
atraso, a pressão para recuperar o tempo perdido é muito forte, pois existe um papel
insubstituível a ser exercido pelo governo na internet.
A lógica principal que domina a criação do governo on line, ou e-governo, é bem simples:
se é possível fazer generalizadamente comércio na internet, certamente
é possível exercer ações de governo lá de dentro da WEB.
O governo digital, como está sendo chamado, é um conceito que vem criando cultura
tanto no poder público como na cabeça das populações. Embora a internet
e suas aplicações governamentais possam ser analisadas sob a égide de uma abordagem
incremental, voltada para a melhoria de serviços ou de relacionamentos,
trata-se de ferramental que pode ser conjugado às melhores práticas de administração,
lançando perspectivas inovadoras sobre a forma de organizar e de
gerir a coisa pública.
Sabe-se de antemão que essa grande aspiração de modernidade só dará certo mesmo se o
acesso dos cidadãos ao governo on line for comprovadamente fácil, barato,
descomplicado e seguro. Segurança, neste caso, implica em manter os hackers afastados,
impedindo o congestionamento dos sites e evitando o vazamento dos
dados pessoais dos usuários.
Outro aspecto que deve ser considerado para o desenvolvimento do e-governo é o estágio
de evolução já alcançado pelos diversos grupos sociais dentro do
País. Enquanto encontramos comunidades altamente evoluídas, em termos de tecnologia e
conhecimento, subsistem aquelas parcelas da sociedade que permanecem
intelectual e materialmente atrasadas, sem falar naqueles tantos quantos seres humanos
que ainda se encontram na idade da pedra, literalmente.
Contudo, o que há dez anos era considerado totalmente impossível, agora a emergente TI
- Tecnologia da Informação - tornou exeqüível. Como fazer para licenciar
pela internet um novo negócio, efetivar a venda de um imóvel, ou mesmo registrar uma
criança recém nascida, um óbito, um casamento? O quanto fazer tudo
isso pela internet não mudaria a própria imagem tão desgastada do setor público?
Uma das principais causas da propalada ineficiência do governo é a burocracia -
administração dos bens públicos por funcionário sujeito a hierarquia complexa
e regulamento rígido, e a uma rotina inflexível, o que ocasiona morosidade, ineficiência e
complicações no desempenho do serviço administrativo.
A WEB pode ajudar muito no equacionamento desses problemas. Nesse sentido, ela
facilita e acelera os processos de mudança. As possibilidades de aplicação
da TI na administração pública abrangem um amplo leque de atividades que pode
modernizar as estruturas existentes ou o processo de gestão.
Dentre as vantagens que podem ser auferidas para a organização governamental estão a
agilidade, o baixo custo operacional e a redução de intermediação.
Por outro lado, para o cidadão, o e-governo poderá propiciar ganhos em comodidade,
economia de tempo, redução de burocracia e transparência. Além disso,
deve ser enfatizado o potencial de aplicação da informática no desenvolvimento de
projetos em nível local, na criação de mecanismos de consulta ao cidadão
e de revigoramento do processo governamental, por meio da expansão das instâncias de
discussão e acesso à informação, proporcionadas pelo próprio governo.
Na terra dos idealizadores da WEB a infra-estrutura já está mais evoluída. Uma pesquisa
realizada entre os norte-americanos, apresentada pelo NIC - órgão
provedor de soluções eletrônicas para o governo, revela que os serviços eletrônicos
oferecidos pelo governo já conquistaram 65% dos internautas adultos.
Entre os serviços mais procurados estão aqueles que permitem a emissão de carteira de
motorista e votar nas principais eleições. Outras experiências avançadas
e bem sucedidas com e-governo também estão sendo realizadas em Cingapura, na
Austrália e no no Reino Unido.
Algumas evidências ilustrativas dos avanços já realizados caracterizam que o site da Rede
Governo, que dá acesso instantâneo a informações e serviços em
todas as áreas da administração federal, está sendo plenamente bem sucedido. As visitas
mensais que recebe são da ordem de 40 mil. O "Comprasnet", que
divulga editais de compras governamentais e auxilia os fornecedores do governo a
participar das licitações, recebe cerca de 30 mil acessos por mês. O site
do Programa Avança Brasil, que apresenta os 365 programas que compõem o Plano
Plurianual 2000-2003, já recebeu 80 mil visitas desde o seu lançamento.
Pesquisas recentes revelam que, de uma maneira geral, a busca de informações junto a
órgãos públicos é uma das 4 maiores motivações de utilização da internet
pelos seus usuários. A expansão e a sofisticação crescente dos serviços oferecidos ao
público já avança em direção ao "e-service concept", com a supressão
da tramitação de papéis e a plena resolutividade dos processos em meio eletrônico. Estes
avanços, todavia, não deixam de contrastar com as ainda persistentes
limitações de acesso da maioria da população aos serviços de telefonia e equipamentos de
informática.
Quanto à Previdência Social, por sua vez, vem ocorrendo uma experiência assombrosa,
em vista das grandezas envolvidas, representando a maior folha de pagamentos
do país, com 18 milhões de beneficiários, além de recolhimentos mensais de 3 milhões de
empresas e 5 milhões de contribuintes individuais. O Dataprev,
juntamente com o Ministério da Previdência Social - MPS e o INSS vem atuando de
forma integrada na divulgação de informações e oferta de serviços ao público,
desde 1996. A experiência teve início com a disponibilização na internet de estatísticas da
Previdência Social e da recepção eletrônica de mensagens e
de serviço de atendimento. Os serviços evoluíram com a introdução de grande volume de
informações e noticiário, culminando na oferta de serviços diretamente
aos segurados e contribuintes. Estes serviços atualmente abrangem um amplo leque, com
elevada carga de visitas diárias, dentre os quais se destacam: o
cálculo de contribuições em atraso (2.300 acessos); o recebimento de pedidos de CND
(7.900 acessos); o fornecimento de histórico de benefícios (1.500 acessos)
e o acompanhamento de processos de concessão de benefícios (1.300 acessos). A
introdução de serviços de auto-atendimento e a unificação de serviços e informações
no Portal da Previdência Social, são as novas linhas de trabalho em desenvolvimento. O
auto-atendimento está sendo implantado por meio do chamado "Prev-Fácil",
que é um quiosque de atendimento. O Portal deverá integrar todas as informações num
site único.
No que tange aos Correios, a sua trajetória se situa de forma original entre dois extremos:
de um lado, a entrada da empresa na área de prestação de serviços
"on line", por meio de seu site na internet, e de outro, a preocupação de atender às
necessidades de sua vasta clientela popular, que não dispõe de meios
para aquisição de equipamentos de informática. A solução encontrada tem sido a
conjugação de tecnologias tradicionais e de ponta num mesmo serviço. Com
essa finalidade, os Correios introduziram os serviços de Telegrama e Carta via internet.
Visando o público empresarial, foi criado ainda o Sedex "on line".
Como evidências do potencial desta nova frente de expansão, o volume de vendas de
serviços pela internet já se coloca entre as 100 maiores agências, sendo
que o crescimento dos produtos de internet, como a Carta, foi da ordem de 327%, e o
Telegrama, de 675%, em 1999.
Há ainda outros setores governamentais que não podem deixar de ser citados, como
alguns órgãos de direção das Forças Armadas, que usam regularmente a videoconferência
para coordenar ações operacionais. Mas há também as ligações on line que funcionam
plenamente na gestão orçamentária e financeira de qualquer órgão público.
O SIAFI, o SIAPPES, o CABIN (Cadastro de Inadimplentes) e outros. O Banco Central e
o Ministério do Planejamento estão completamente informatizados. Além
disso, o governo tornou-se signatário do Sistema OTAN de Catalogação e vem
Um indicador que vem suscitando grande interesse no setor privado é o fato de o acesso à
internet estar ainda restrito a percentuais entre 3% e 5% da população,
equivalente a um contingente de internautas da ordem de 5 milhões, bastante reduzido
face aos 160 milhões de brasileiros. Entretanto, estes cálculos carecem
de um suporte metodológico que seja universalmente aceito, inclusive pelo mercado. O
provedor UOL, por exemplo, trabalha com estimativas mais otimistas,
da ordem de 8 milhões de usuários, supondo a existência em média de 3 usuários por
residência provida de computador. Ainda assim, persistem dúvidas, porque
a dupla contagem e o uso simultâneo no trabalho e na residência, complicam este cálculo.
Sob outros ângulos, os dados podem ser surpreendentes, como o
relativo ao registro de 35 milhões de páginas acessadas por dia, no UOL, ou ao
crescimento no número de domínios na internet, da ordem de 1.250 por dia.
Assim, estabelecer esta metodologia deverá ser uma tarefa necessária ao amadurecimento
deste segmento no mercado.
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo busca demonstrar que a adoção de um certo sistema tecnológico pode
vir a se constituir numa profunda mudança nas relações de poder entre
o Estado e seus súditos, ultrapassando efetivamente as tímidas expectativas da tecnocracia
federal e depois poderá vir a estender-se, também, para as outras
esferas de governo, estadual e municipal. Numa avaliação superficial, as tecnologias da
informação representam a possibilidade de um serviço padronizado
e simplificado, como já se vê na declaração imposto de renda on line, na expedição de
certidões on line e até nos sites do governo onde este apresenta
seus serventuários, suas atribuições e as normas legais afetas à operacionalidade do orgão.
Só que isto é muito pouco e incipiente, não contém dinâmica
participativa.
Uma das condições históricas de continuidade soberana dos Estados é a sua conformação
aos processos tecnológicos disponíveis às comunidades, pois que os
que detiverem mais conhecimento tenderão, como já é, a dominarem as posições de
vanguarda e participação nos cenários internacionais.
O que parece de curial importância é que a tomada de postura visando uma maior
tecnologização das relações informativas entre o Estado e o indivíduo não
pode adotar a conformação predatória das recentes e ainda não cicatrizadas privatizações
dos ativos estatais brasileiros. Esta experiência, ainda viva,
demonstra claramente que a adoção de modelos imediatistas e incalculados de gestão da
coisa pública, mesmo calcados nas legalidades de ocasião, não lhes
confere a legitimidade plasmada na ordem constitucional. Por estar feito, submetemo-nos,
mas não carece de repetição.
O que urge, daí o tema, é que a magnitude da possibilidade de controle do Estado pelo
cidadão através das tecnologias da informação, pode vir a ser relegado
apenas a uma simples licitação e outros remendos, e o conteúdo da informação de
governo continuará a ser aquele vazio colorido, maquiado por publicitários,
não atingindo, como não atinge a nenhum objetivo sistêmico informativo, servindo apenas
à manipulação e relativização dos dados gerenciais do Estado.
O desconhecimento geral das atividades que "acontecem no palácio", por parte dos
súditos, e a impossibilidade de acompanhar em tempo real o movimento da
governança, aliados a um ausente debate público sobre o que, como e o quanto cumpre-se
da Constituição Federal em cada ato administrativo, político ou
não, acaba por produzir um emaranhado de decisões incontroláveis.
Se todos os cidadão capacitados não conseguem de forma imediata saber de tudo o quanto
se passa nas administrações, as verbas públicas e suas destinações,
quem as liberou, se foram efetivamente usadas e procederam das rubricas legais; se há
controle do desperdício, com amplo conhecimento público de onde,
quanto e como poderão serem utilizados os alimentos ensilados, os remédios estocados, as
ferrovias desmontadas, e são apenas exemplos.
É que já não se trata mais de uma luta pelo poder de exercer o poder, para rentabilizar os
próprios interesses e ocupar um privilégio no "wellfare state".
Este Estado-refugo da nova fase do processo industrial (pós-industrial!), como relata
GIDDENS, comporta novas demandas, porquanto "na sociedade industrial
as lutas de classes estão centradas na apropriação de recompensas econômicas, na
sociedade pós-industrial elas referem-se aos efeitos alienativos da subordinação
às decisões tecnocráticas".(grifamos)
A apropriação das linguagens tecnocráticas pelos sistemas legais e complexa
executabilidade procedimental do aparato de gestão pública, cria o falacioso
discurso do campo de dominação exclusiva, onde reina o tecnocrata. Daí que o "tipo
principal de oposição ao controle tecnocrático enfatizará a 'participação'
na tomada de decisões, e assumirá com frequência uma forma cultural ou, como colocam
ROSNAK e outros, 'contracultural'".(grifamos)
O aparato público como instituição, posto à disposição das comunidades, calcado numa
imensa malha legislativa e tocado por membros eleitos do povo, sob
os olhos de uma ordem constitucional, não bastam para a efetivação de uma verdadeira
democracia constitucional.
É que a superestrutura burocrática criada para a legitimação dos interesses dos grupos
dominantes, o Estado, afastando-se da funcionalidade constitucional,
sua "ratio essendi", passa a ser permeada pelo elemento imaginário, que à tentativa de
justificar os discursos de certas categorias sociais, grupos ou
classes, em face de outras, encabresta a máquina pelo elemento ideológico.
O Ciberespaço.
3. O CIBERESPAÇO
Daí, as comunicações abrirem espaço para transformações radicais nas estruturas mentais
e políticas, já que sociedades inteiras se comunicam através do
que Marshall Macluhan, citado por Macel Merle chamou de "gesticulação microscópica",
e que não é o discurso como o conhecemos. Considerada em sua onipresença
universal, as comunicações representam a base da primeira sociedade planetária.
(grifamos)
O que parece bastante relevante é que a percepção desta "nova dimensão" do existir
consciente do homem, não foi idealizado para assim manifestar-se, visionaria
e pré-elaboradamente, o ciberespaço tornou-se, antes e de fato, uma realidade viável.
Desta maneira, toda a orbita capitalista já planeja e executa suas tarefas, desde as mais
elementares até outras de repercução global, dentro da geografia
ciberespacial, com alto grau de efetividade, embora com certa inconsequencia.
Então, não parece absurdo exigir-se dos Estados, vestidos com a carapaça das atitudes
capitalistas, que se ocupem da implantação de mecanismos tecnológicos
capazes de lhes atribuir a mesma dinâmica de existência bidimensional, material e
ciberespacial.
Parece mesmo uma situação de embate político, pois é neste ponto que se verificará quais
grupos sociais tenderão à exigirem existir de modos mais secretos,
obtusos, obscuros, não participativos, impondo a alienação aos demais grupos
interessados. Esta perspectiva é encontrada em LÉVY, quando afirma que "a
defesa de poderes executivos, das rigidezes institucionais, a inércia das mentalidades e das
culturas podem evidentemente levar a utilizações sociais das
novas tecnologias muito menos positivas, conforme critérios humanistas".
Deste momento do tema, onde os interesses sociais devem ser sopesados, o debate torna-
se constitucional.
4. PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL
E fazendo leitura fria do artigo 1º. e parágrafo, da Carta Política brasileira, poderíamos
dessumir o seguinte:
todos tem direito a receber dos orgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado;
Vale ressaltar que a finalidade informativa do Estado é de tal grau de imponibilidade, que
a lei não poderá limitar senão prazo, o agente público não poderá
negá-la, sob pena de sanção. O que se ressalva é a segurança nacional, coisa de contornos
relativos.
Com isto habilita-se a sociedade como um todo a exercer o direito constante do artigo 5º.
LXXIII, assim:
Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público, ou entidade de que o Estado Participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
O que se quer dizer com isto é que todos os cidadão devidamente informados sobre todas
as coisas do Estado, poderão fazer uso legítimo das prerrogativas
constitucionais reativas.
E pelo que se dessume, tudo o quanto possa ser realizado para o atingimento dos objetivos
constitucionais, inclusive a aplicação das tecnologias da informação
mais pujantes, deverão assim ser procedidos, pois se há uma forma melhor de fazer
realizar-se o Estado, é a esta que devem submeter-se os governantes.
5. CONCLUSÃO
As atrocidades cometidas com a população mais pobre e mesmo com a classe média
produtiva, desprestigiam a continuidade do contrato social, como se encontra.
Se é caso de fazer prova do desmando, sob pena de impunidade, melhor não deixar para
terceiros, de outros grupos sociais, aquilo que em verdade cabe a cada
qual, participativamente fiscalizar e exercer o poder da cidadania.
a. BIBLIOGRAFIA
* Luis Fernando Coelho, em Teoría Critica do Direito, Editora Livros HDV, Curitiba,
1987
* Norberto Bobbio. O Futuro da Democracia,- Uma Defesa das Regras do Jogo. Editora
Paz e Terra .São Paulo. 1987.. 3º. Ed.
Todos os dias, durante longo e infeliz período, acordávamos com declarações, no mais das
vezes panfletárias e graciosas, e acusações de parlamentares contra
magistrados, ministros, outros parlamentares e até contra as autoridades máximas da
Nação, como o Presidente da República, da Câmara dos Deputados e, pasmem
(!) pela ousadia e ineditismo, da Suprema Corte Brasileira, ante a ausência de autoridade
de plantão para ser atacada publicamente ou à falta de outras
do Executivo e do Legislativo. Parece que vivemos em uma época em que as coisas
desnecessárias são as nossas únicas necessidades (Oscar Wilde).
Assim é que, hoje, a população nem sequer tem o respeito então devotado ao Poder
Judiciário, que se manteve historicamente sempre eqüidistante das disputas
políticas – até por força legal e constitucional - e é o único Poder em que o povo, segundo
as pesquisas e apesar de tudo, ainda crê (88% da população
acredita nos juízes – Diário Catarinense de 23.01.2000).
A punição de parlamentares que foram cassados e de outros que estão presos pela prática
de homicídio (até com uso de moto-serra, instrumento até então desconhecido
para a finalidade), de tráfico de drogas e de fraudes contra o erário não autoriza os
magistrados, que jamais o fizeram, a declarar que há necessidade
de extinção do Congresso Nacional. Ao contrário, na verdade, foi e é o Judiciário que está
ajudando a purificar aquela instituição democrática, processando
e condenando, quando culpados, os parlamentares infratores.
Quantas notícias foram veiculadas contra o Poder Judiciário. Por que aquela idéia lançada
de que teria de acabar com a Justiça do Trabalho, terminar com
os direitos sociais, que os juízes têm de ser punidos por um órgão externo, que deveria ser
extinto o Superior Tribunal Militar, tudo isso agora completado
com esse ataque ao Supremo Tribunal Federal?
Deve mesmo existir algo no ar. Reflitam, o povo brasileiro, e, em especial as autoridades
que honradamente cuidam deste país. Deve haver algo de negro no
ar " ( José Alberto Couto Maciel – Correio Brasiliense).
*Antonio Carlos Facioli Chedid Juiz do TRT/SC e Professor Universitário nas disciplinas
de Direito Processual Civil, Direito Civil e do Trabalho.
Junho/2.000
advogada
ionel@matrix.com.br
Resumo
1.0 INTRODUÇÃO
Isso é extremamente desastroso para a administração pública. Seu pessoal que foi
selecionado quando do ingresso na carreira, mediante rigoroso critério,
passa a ser de segunda qualidade, em decorrência do desastroso processo de estagnação
pessoal, cultural e profissional.
Nesse contexto, onde prevalece a visão oblubinada dos agentes do Fisco, o trabalho
desenvolvido pelos órgãos centrais tem sido desgastante e de resultado
quase nulo, no sentido de aniquilar gargalos e reprimir os atrasos na Aduana Brasileira. A
realidade tem demonstrado que apenas o emprego de verbas em
tecnologia não é satisfatório. Não basta Siscomex, automação, informática. É preciso
mais. É preciso investir nos homens para que eles, conhecendo e interagindo
com os avanços tecnológicos, saibam explorar e tirar vantagem de seu uso em prol da
Nação. Transparência e agilidade devem ser o norte de nossos representantes
e seus agentes. É tempo de um e-governo.
Apesar de, ainda tímido, o governo vai ocupando alguns espaços, criando "sites" na
internet, os quais, além de imprimir uma maior transparência à administração,
tem prestado inestimável auxílio aos usuários (acompanhamento de processos, consultas à
legislação, concursos, etc.).
Um bom exemplo são as urnas eletrônicas, que deverão garantir maior agilidade e
segurança às eleições.
Apesar desse espírito de modernidade que parte da cúpula da Receita, os fiscais e seus
sindicatos permanecem contestando toda e qualquer modernização das
Aduanas. Desconhecem que essa busca por uma maior agilidade, especialmente em se
tratando de comércio exterior, é uma necessidade dos tempos modernos diante
das mudanças provocadas pela globalização.
Por outro lado, ignoram que, a partir de um software com inteligência fiscal, montado
com base em dados simples como despesas com energia elétrica, água
e telefone, número de empregados, poderiam incrementar a fiscalização e obter excelentes
resultados, direcionando o trabalho fiscal para empresas que apresentem
indícios concretos da prática de sonegação e burla à legislação.
Assim, fica claro que não basta ao Governo projetar uma política modernista. O Estado
não se realiza apenas através de seus líderes. Necessita da participação
ativa de seus agentes, que traduzem em realidade os propósitos governistas. Esses
elementos "de ponta" como são chamados, necessitam estar preparados para
o papel que o Governo deseja imprimir à administração.
A diferença entre essas duas categorias é que o poder está nas mãos dos fiscais. Estes,
mais ainda quando se trata da área de comércio exterior, onde qualquer
atraso provoca perdas significativas (majoração de armazenagem, demourrage,
rompimento de contrato na exportação, perda da validade de carta de crédito,
etc.), em sua maioria comportam-se como deuses inatingíveis, por saberem-se detentores
do poder.
Considerando que os funcionários públicos que trabalham nas Aduanas estão espalhados
por todo o território nacional, geograficamente um dos maiores do mundo,
nada melhor do que recorrer a um formato de educação que pode atender, rapidamente, a
uma gama enorme dessa massa: ensino à distância (EAD).
Sobre esse tema, escreveu Landim, em sua obra, "Educação à Distância – Algumas
Considerações" (Rio de Janeiro, [s. n.], 1997, pág. 4, 5 e 32):
"A escola, na sua concepção tradicional, não tem como assumir sozinha o papel de
propulsora do desenvolvimento e do conhecimento humano. Faz-se necessário
que novas formas de abordagem da difusão do saber sejam utilizadas para atender à forte
demanda da sociedade atual, cujas perspectivas sociopolíticas,
econômicas, pedagógicas e tecnológicas, entre outras, apresentam, por sua própria
dinâmica, novos enfoques.
Surge então, a necessidade real da educação permanente, considerada uma nova fronteira
da educação e convertida, pelas Organizações Internacionais de Educação
em um tema prioritário em suas Recomendações."
...
"A EAD surge como a modalidade educativa que pode atender aos setores sociais não
alcançados pelo ensino presencial, que constituem um capital humano infra-utilizado,
como, por exemplo: os residentes em áreas geográficas distantes, onde não há escolas
convencionais ou com número insuficiente de vagas para todos; os trabalhadores
adultos que, cumprindo suas jornadas de trabalho, não podem freqüentar a escola
tradicional; os presos, os imigrantes; as pessoas que já não se encontram
na faixa etária de freqüência à escola, mas que podem e desejam continuar seu processo
educativo; os trabalhadores que buscam qualificação ou requalificação
profissional em conseqüência das mudanças tecnológicas e das transformações políticas e
sociais."
...
"Na atualidade, não há distâncias nem fronteiras para o acesso à informação e à cultura.
Os recursos técnicos de comunicação (impressos, áudios, vídeos,
informáticos, etc.) acessíveis à boa parte da população, têm possibilitado o grande avanço
da Educação à Distância e se convertido em propiciadores da
igualdade de oportunidades de acesso ao saber e da democratização das possibilidades da
educação e da democratização das possibilidades da educação."
Esse tipo de ensino está hoje contemplado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, especificamente em seu artigo 80 e parágrafos. Sobre esse tema,
o Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, publicou carta na internet (
www.mec.gov.br),
manifestando a necessidade e a importância do ensino à distância, diante da realidade da
educação nos dias de hoje:
"O recurso da educação a distância se faz necessário não porque faltem cursos de
formação de professores, mas sim porque a maioria desses cursos são presenciais,
difíceis, portanto, de serem acompanhados por quem já trabalha, ou se localizam nos
centros urbanos, impossibilitando o atendimento personalizado a populações
rurais, dispersas geograficamente. Sendo assim, a educação a distância constitui-se em um
instrumento eficaz de democratização da educação e uma opção
de qualidade para atender a uma vasta demanda por habilitação historicamente reprimida."
Assim, o ensino à distância é visto hoje como uma ferramenta fundamental para
desenvolver saberes num processo didático-metodológico acessível a todo e
qualquer profissional interessado em dar continuidade ao conhecimento científico em
qualquer área.
Pode ir além e agregar a esse curso, premiações para aqueles que apresentarem melhores
resultados, como por exemplo, viagens culturais, bônus, cursos de
especialização do modelo presencial. Pode o Estado, inclusive, buscar parcerias junto à
iniciativa privada, especialmente com associações comerciais e
industriais de todo o país, como a FIESP, FIESC, FIERGS, etc. Os resultados serão tantos
e tão positivos que após um tempo veremos, espantados, os salutares
resultados.
Cultural, para que os agentes "de ponta" compreendam que é passado o momento de
fechar as fronteiras. Esse sistema de protecionismo que os países subdesenvolvidos
implantaram na América Latina após 1947, sob a orientação da CEPAL, apesar de eivado
de boas intenções, não deu os resultados esperados, infelizmente.
Algumas concessões às empresas multinacionais contribuíram bastante para que os
projetos de ideais implementados à época deixassem de atingir, em boa parte,
a expectativa aguardada. As últimas estatais nascidas dentro daquela filosofia estão sendo
agora privatizadas ou sucateadas.
Em caso recente, tentamos fazer ver a um fiscal da Aduana, que o exportador perderia a
validade de uma carta de crédito no valor de quase um milhão de dólares,
caso não embarcasse a mercadoria objeto do contrato (300.000 camisetas), no próximo
navio. Àquela altura, o fiscal tinha conhecimento de que a mercadoria
não estava pronta porque dependia da liberação de 900.000 botões que foram remetidos
pelo comprador estrangeiro para serem agregados às camisetas. O processo
de admissão temporária desses botões estava estagnado a mais de trinta dias porque o
fiscal entendia tratar-se de hipótese normativa que exigia a apresentação
de contrato de serviço entre as partes, documento este que deveria estar chancelado pela
embaixada brasileira e ainda traduzido por tradutor juramentado.
Nota-se assim, que por mais que a Coordenação Central da Aduana edite normas no
sentido de agilizar os serviços aduaneiros, os fiscais não "vestem a camisa"
desses projetos de modernização. De alguma forma é necessário que esses funcionários
sejam sensibilizados para o seu papel. Comuniquem as dúvidas à Coordenação,
peçam ajuda, externem os problemas, contribuam nas soluções de forma honesta,
transparente, idônea. Busquem atender ao espírito da lei, conscientes do
papel que lhes cabe como agentes do Governo.
Essa visão não é pacífica entre os agentes do Fisco. O discurso que predomina na
atualidade é que não têm quaisquer obrigações em informar ou prestar esclarecimentos
ao empresariado. Ainda sobre o caso relatado acima, quando ponderado de que o atraso na
liberação daqueles botões poderia gerar a quebra de um contrato
de exportação no valor de quase um milhão de dólares, o funcionário responsável disse
que "nada tinha a ver com o problema do contribuinte". No entanto,
a quebra do contrato possivelmente representaria a "quebra" de uma empresa nacional e
ainda o desemprego de uma centena de funcionários.
Finalmente, considerando que o momento exige mudanças não apenas na estrutura física
da Aduana, mas especialmente em seus recursos humanos, uma vez que
sua formação deve estar voltada para a agilização do comércio internacional,
considerando ainda que o momento do protecionismo já está ultrapassado, apresentamos
uma lista de temas, que, apesar de não ser exaustiva, ajuda a pensar sobre qual é, de fato,
o mais grave problema da Aduana Brasileira:
o reconhecimento de que a área aduaneira tem um importante papel social e não simples
arrecadadora de tributos;
a tomada de consciência de que o momento é de trabalho, e trabalho com
responsabilidade e honestidade, compreendendo o importante papel destinado à Aduana
no processo de globalização;
ética profissional;
regras de conduta;
4.0 CONCLUSÃO
É evidente que a burocracia assola nosso País e pode enterrar a chance de acompanharmos
a evolução em compasso de globalização que ocorre no mundo todo.
Precisamos mudar esse cenário.
Nessa tarefa deverá ter parcela importante o próprio Governo, não só contribuindo com a
educação da população em geral, mas, especialmente, com a formação
de seus agentes,
considerando que a ignorância destes invalida quase todo o esforço por modernização
porventura intentado.
Sem dúvida, a educação é fundamental para concretizar a modernização, pois somente ela
é capaz de promover mudanças efetivas no homem. Para tanto, vale
conhecer o pensamento de um dos maiores educadores do momento, Peter Drucker:
"Vivemos numa economia cujos recursos mais importantes não são instalações e
máquinas, mas conhecimento, e onde os trabalhadores do conhecimento compõem
a maior força de trabalho... a educação já consome uma grande parcela do produto
nacional bruto dos Estados Unidos... o país já está gastando cerca de
1 trilhão de dólares em ensino e formação. Essa cifra vai aumentar rapidamente, mas o
crescimento não deve se dar nas escolas tradicionais, que hoje consomem
cerca de 10% do PNB (do jardim da infância até o ensino médio, 6%; faculdades e
universidades, 4%). O crescimento será visto no setor da educação contínua
para adultos. O gatilho desse crescimento é a transmissão do ensino pela Internet, mas a
demanda por educação vitalícia se deve às transformações profundas
pelas quais a sociedade está passando. Falando em termos mais simples, está aumentando
entre as pessoas que já têm alto nível de instrução e ótimo desempenho
profissional a percepção de que não estão conseguido manter-se em dia com as
mudanças...a maior parte dos alunos é formada por homens e mulheres na casa
dos 40 anos, apontados por suas respectivas empresas como pessoas de alto potencial.
Elas voltaram a estudar porque querem e precisam encontrar novas maneiras
de enxergar o mundo, fora de suas áreas de competência. Querem aprender a ter uma
visão mais global. Muitos estão lá para refletir sobre suas experiências
e enxergá-las de uma perspectiva mais ampla. Eles precisam dessa perspectiva para lidar
com as mudanças econômicas e tecnologias atuais, diante das quais
estão perplexos" (e-ducação – Revista Exame, página 64, 14.06.2000, Editora Abril S/A,
São Paulo).
5 BIBLIOGRAFIA:
-LANDIM, Cláudia Maria das Mercês Paes Ferreira. Educação A Distância: Algumas
Considerações. Copyright ©: Rio de Janeiro, 1997.
mubby@eps.ufsc.br
Abstract
Although our constitutional norms limit the direct exercise of people’s political power to
the cases foreseen in the own Major Law, it is of important interest
the study of models of attendance and electronic procurement in a society that develops
itself into automation as improvement of the productive process,
the quality of the citizens' life and of the increment of the democracy as a stable
institution.
This article intends to present and to briefly discuss some aspects of that polemic theme,
besides introducing elementary technological concepts, with the
objective of alerting the juridical operator for the future possibilities of integration among
the technology, the Law and the organized society itself.
Resumo
Embora nossas normas constitucionais limitem o exercício direto do poder aos casos
previstos na própria Lei Maior, é de relevante interesse o estudo de
modelos de assistência e procuração eletrônica em uma sociedade que evolui no caminho
da automação como melhoria do processo produtivo, da qualidade de
vida dos cidadãos e do incremento da própria democracia.
Esse artigo pretende apresentar e discutir brevemente alguns aspectos desse polêmico
tema, além de introduzir conceitos tecnológicos elementares, com o
objetivo de alertar o operador jurídico para as possibilidades futuras de integração entre a
tecnologia, o direito e a própria sociedade organizada.
INTRODUÇÃO
Nos tempos atuais, a maioria expressiva das nações civilizadas opta pelos sistemas
políticos baseados na democracia, na repartição de poderes e na expressão
da vontade do cidadão através da representação. Logo no início, nossa carta magna já
consagra tal opção, no parágrafo único do art. 1o:
"Parágrafo único - Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição."
1. OS OBJETIVOS DA REPRESENTAÇÃO
Surge uma questão de caráter filosófico: sabemos que a representação existe, à priori, em
decorrência da impossibilidade prática de se consultar cada indivíduo
do grupo social para colher sua opinião pessoal. Assim, o tipo de representação que
agrega em um indivíduo faculdades de decidir "em nome" de um grupo
maior é o modelo fundamental da representação política (um vereador, por exemplo,
representa os interesses de um conjunto de pessoas de seu município,
possuindo mandato para concretizar aquilo que julga ser a vontade política de seus
eleitores).
Partindo dessas duas conclusões, podemos formular premissas que irão fundamentar um
modelo de representação eletrônica da vontade do cidadão, cabendo o
modelo proposto tanto no conceito de representação quanto no conceito de exercício
direto do poder político, positivado nos princípios constitucionais
supra-referidos.
Nagib Slaibi Filho, ao tratar dos meios de integração entre o povo e o poder apresenta a
seguinte questão, que nos serve como peça de doutrina, demonstrando
que estamos em boa companhia: "somente a Constituição pode criar mecanismos de
participação direta do povo no exercício do poder, em face da restrição
aparente que se encontra no parágrafo único do art. 1º?" – e responde considerando
absurda a resposta afirmativa a tal indagação, pois "teria a conseqüência
de se considerar inconstitucionais todos os mecanismos de democracia a ser exercida
diretamente pelo titular do poder... O próprio caput do artigo dispõe
que é fundamento da atuação do Estado o respeito à soberania (evidentemente do titular
do poder) e à cidadania".
Devemos ter em mente que não se pode limitar a democracia somente ao voto - ato mais
rudimentar de participação, segundo Slaibi, pois ela deve ser algo
muito maior, nas palavras do doutrinador: "a mais ampla integração do indivíduo,
entidades da sociedade civil e do povo no exercício do poder." [SLAIBI1998].
2. EXEMPLIFICANDO
Vamos traçar situações hipotéticas que ilustrem um ambiente dessa natureza. Após
verificarmos os exemplos, descreveremos mais tecnicamente como a Ciência
Computacional e a Engenharia de Produção podem tratar da implementação de tal
modelo, munidas de ferramentas da Inteligência Artificial Aplicada.
Marcos tem profundo interesse pela situação econômica e fiscal do país, pela parte do
ordenamento jurídico que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes,
é a favor de penas mais brandas para os crimes de baixo potencial ofensivo, é favorável a
absoluta liberdade de expressão e propaganda, é fumante, não
se interessa por política internacional, acha que as escolas deveriam preparar os
adolescentes para o mercado de trabalho ao invés de investirem em cultura
geral.
É justo que Bete escolha seu representante (um deputado, por exemplo), só porque ele
atende a algumas de suas opiniões pessoais, mas não à todas ou mesmo
à maioria delas?
Marcos escolhe um representante para tratar de todas as questões relativas aos Direitos da
Criança e do Adolescente. O seu procurador para esse assunto
irá mantê-lo informado a respeito de qualquer iniciativa legislativa na área, irá
acompanhar a jurisprudência e a doutrina sobre a matéria, irá representa-lo
em qualquer votação ou consulta que lhe caiba participar como cidadão. O representante
será, é claro, um especialista estudioso do assunto, em constante
contato com outros procuradores de outras pessoas. Irá inclusive informar a Marcos como
os outros cidadãos interessados na matéria se posicionam perante
questões específicas e coloca-lo, caso deseje, em contato com elas através de seus
procuradores.
Além desse representante, Marcos também outorga mandato para que outro procurador
acompanhe o mercado de ações, auxiliando suas decisões nesse sentido,
além de acompanhar questões tributárias nos tribunais, coletando exemplos que irão
determinar sua conduta, caso venha a demandar o Estado ou ser por este
demandado.
Todavia, Marcos não instituirá representantes para cuidar da fiscalização das verbas
públicas, para acompanhar o que dizem os tribunais sobre a Boa-fé objetiva
no Direito das Obrigações, nem para votar contra medidas que restringem a publicidade
na mídia.
Bete, por sua vez, elege representantes específicos para acompanhar e participar
ativamente do desenvolvimento da legislação referente às uniões entre homossexuais.
Escolhe também um procurador para mantê-la informada sobre o destino e a aplicação das
verbas públicas em atividades acadêmicas de pesquisa e extensão.
3. IMPLICAÇÕES
Como funcionarão esses procuradores digitais, qual será seu escopo de atuação, seus
limites práticos e a segurança de suas decisões ? Tais questões relevantes
do ponto de vista prático demandam a explicação de uma Teoria Básica de funcionamento
dos procuradores, que estarão baseados na ligação de três grandes
tecnologias de inteligência artificial: Agentes Inteligentes, Sistemas Especialistas e
Raciocínio Baseado em Casos.
4. NOÇÕES DE TECNOLOGIAS
Já sabemos que na maioria dos casos um dos requerimentos dos agentes será sua
Especialidade.
Podemos também agregar tal característica aos nossos procuradores digitais, objetivando
capacita-los para a otimização de suas decisões, baseadas não somente
nas peculiaridades de um caso concreto mas também no perfil de posições tomadas em
situações prévias similares.
Para a primeira das tecnologias supra-elencadas é necessária uma maior exposição dos
seus fundamentos, de modo a permitir ao operador jurídico a concepção
de um conceito técnico aplicável à solução de problemas conhecidos.
A respeito dos Agentes Inteligentes, em excelente trabalho de doutoramento, Marcelo da
Costa compilou diversas definições de agentes, entre elas a de Maes
(1994), que reproduzimos devido à sua simplicidade:
Outra definição também apresentada por Costa é a de Russel e Norvig (1995), que
introduzem exatamente a qualidade mais importante da representação "justa"
e apropriada da vontade de um cidadão:
"Agente é algo que possui a capacidade de atuar sobre um ambiente através de sua
percepção sobre esse ambiente".
É porém de Nissen (1995) o mais simples e mais imediato dos conceitos apresentados por
Costa, que "cai como uma luva" para a discussão que hora travamos:
Agente é um software que "atua como um procurador com o propósito específico de
realizar ações que podem ser entendidas como benéficas à parte representada".
[COSTA1999].
Bete, através de um sistema em seu computador, cria um procurador que irá circular pelas
redes e sistemas de informações governamentais, colher informações
e envia-las de volta para ela classificadas, votar em seu nome e segundo suas convicções
pessoais e se comunicar com outros agentes de outras pessoas também
interessadas sobre a questão de Empregos Informais. O agente irá se alojar em sistemas
compatíveis com a estrutura de agentes, que estarão disponíveis
em órgãos legislativos, empresas privadas, tribunais de justiça, etc, sempre "falando" em
nome de Bete.
Bete pode delegar ao agente-procurador autonomia absoluta ou relativa, isto é, ela pode
autorizar o agente a tomar posição (votar, por exemplo) por ela
sem consulta-la previamente, somente se baseando no perfil que o agente já traçou de sua
representada no momento de sua definição, ou poderá exigir que
o agente peça sua confirmação antes de exercer qualquer ato em seu nome.
5. OBSERVAÇÕES
Percebemos também mais três importantes observações:
Para que o leitor se situe melhor em relação as possibilidades dessa tecnologia, faz-se
mister apresentarmos sucintamente algumas das características que
diferenciam os agentes das demais categorias de programas de computador que auxiliam a
tomada de decisão por parte do usuário.
Uma das mais importantes características dos agentes, ainda segundo Costa, é a
Autonomia, referindo-se esta ao princípio de que os agentes agem "baseados
em seus próprios princípios, sem a necessidade de serem guiados por humanos." Tais
softwares são dotados de status e objetivos internos, agindo de maneira
a atingir estes objetivos em favor de seus usuários. "O elemento chave da autonomia é a
pró-atividade, que é a sua habilidade de tomar iniciativas, sem
a necessidade de agir em virtude de uma mudança de seu ambiente"(Wooldridge e
Jennings, 1994).
Na parte mais técnica, é necessário termos ciência de que existem diversos modelos de
comunicação para agentes, arquiteturas de várias complexidades, protocolos
e regras de funcionamento ambientais, controles de tráfego, "federações de agentes",
linguagens de mensagens, políticas de conversação, entre outras definições.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Obviamente, para que fosse implementada uma democracia com representação eletrônica,
além das centenas, talvez milhares de alterações às quais nosso ordenamento
jurídico deveria ser submetido, várias definições de infra-estrutura deveriam ser
protocoladas, muitas entidades de fiscalização, segurança e controle
criadas, enfim, toda uma estrutura digital e humana voltada para a possibilitação do
exercício direto do poder político deveria ser projetada, indo de
encontro a inúmeros dispositivos legais, formais e regras práticas, o que torna o projeto de
tal empreendimento visionário ao extremo, e, por que não dizer,
absolutamente romântico.
Não obstante tal adjetivação "depreciativa", cabe a lembrança de Nagib Filho, que
enumera diversas instâncias de exercício direto do poder: "O art. 14 da
Constituição de 1988 coloca como instrumentos da democracia o voto direto, secreto e
igual, o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular, mas não esgota
aí os instrumentos democráticos, pois são previstos, também, diversos remédios jurídicos
processuais, como a ação popular, ação penal privada subsidiária
da pública (art. 5º, LIX), ação de inconstitucionalidade (art. 103, art. 125, § 2º), bem como
outras formas de participação individual ou de entidades
da sociedade civil no processo de tomada de decisão ou de execução da atividade estatal".
[SLAIBI1998]
Entre essas formas, podemos citar o mandado de segurança coletivo, liberdade na criação
e funcionamento dos partidos políticos (art. 17), cooperação das
associações representativas no planejamento municipal (art. 29, X), iniciativa legislativa
popular (arts. 29, XI, 61, § 2º), participação na administração
da justiça (art. 5º, XXXVIII, 98, 115, 116, 121, 124), gestão democrática no ensino
público (art. 206, VI), todos da Constituição Federal.
Todavia, mesmo fora do âmbito jurídico e da realidade política, o estudo de tais modelos
ideais possibilita o desenvolvimento de metodologias e tecnologias
de consulta popular e expressão da vontade normativa e interpretativa de entidades
detentoras do poder de decisão, podendo ser útil em inúmeros domínios
de aplicação, como por exemplo sistema de determinação de perfil, teorias de coesão de
bancadas, conjuntos de regras formais em sistemas especialistas,
entre outros.
7. REFEFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COSTA, Marcelo T. C. Uma arquitetura baseada em agentes para suporte ao ensino à
distância. Florianópolis: UFSC, 1999. (Tese de doutorado em Engenharia
de Produção)
Maes, P. Intelligent Software: Programs That Can Act Independently Will Ease the
Burdens that Computers Put on People. IEEE Expert Systems, Vol. 11, No.
6, December 1996, pp.62-63,.
Professores:
3. Programa:
Introdução e conceitos operacionais;
Ferramentas de aplicação da TI na justiça. Informática Jurídica;
Sites: Findlaw (
www.findlaw.com.br),
Infojur (
www.ccj.ufsc.br)
Inteligência artificial e direito, I;
Sites: Icail, Giad
Inteligência artificial e direito, II;
Sites: Jurix, Enia
Justiça na web (avaliação dos tribunais);
Site: Tribunal de Justiça da Paraíba (
www.tjpb.gov.br),
Tribunal Superior Eleitoral (
www.tse.gov.br)
Registro de software. O que e como fazer. Pirataria e contra-pirataria;
Site: Abes (
www.abes.com.br)
Registro de direitos autorais, marcas e patentes. O que e como fazer. Montando a empresa
digital (ótica jurídica);
Site: INPI (
www.inpi.gov.br).
O ciberespaço e o direito digital;
Site: Direito Digital (
www.digesto.net/ddigital).
Censura na web e sigilo das comunicações digitais. Ética jurídica e telemática;
Site: Direito Digital (
www.digesto.net/ddigital).
Mediação e arbitragem na internet. Solução rápida de conflitos jurídicos;
Site: NAM Corporation (
www.clicknsettle.com).
Bibliografia on line:
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/ia1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/ia2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/inteligencia/iamed1.htm
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Panorama geral:
http://www.digesto.net/ddigital/digital/Panorama1.htm
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O Ciberesaço e o direito:
http://www.digesto.net/ddigital/digital/ciber1.htm
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Ciberdemocracia:
http://www.digesto.net/ddigital/democracia/orwell1.htm
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Direito e telemática:
http://www.digesto.net/ddigital/dt/telematica.htm
Internet e direito:
http://www.digesto.net/ddigital/internet/liberdade1.htm
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http://www.digesto.net/ddigital/justica/direitotecnologia.htm
http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro1.htm
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http://www.digesto.net/ddigital/justica/quatro4.htm
Sigilo de dados:
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem1.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem2.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/telem3.htm
http://www.digesto.net/ddigital/sigilo/principios1.htm
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http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/contratos_em_sistemas.htm
http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/direito_ciberespaco.htm
O Direito do Ciberespaço:
http://www.nts.com.br/tarcisio/artigos/direito_ciberespaco.htm
Páginas de referência:
www.digesto.net (
busca jurídica, Brasil)
www.findlaw.com (
busca jurídica, EUA)
www.clicknsettle.com (
mediação e arbitragem na web)
http://juris.eps.ufsc.br (
inteligência artificial e direito)
www.digesto.net/ijuris
Especialização
Mestrado - Direito
Cadeiras EPS
Protótipo
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Prêmio 99
Abrangência
Sitemas de informação;
Informática Jurídica;
Desdobramentos
Procedimentos jurídicos na internet:
interação
exclusão
Direito Digital
questões jurídicas
provas digitaisv
Democracia eletrônica
questionamento da representatividade
Avaliação de sites
Metajuris
Sectra
Jurisconsulto
Themis
Próxima aula:
Apresentação do Metajuris;
Mediadora: Tânia;
Outros países;
Aspectos éticos;
O Futuro.
Ao final, votação.
Resumo do Debate:
Os debatedores foram:
Lucio Eduardo Darelli e Marcio Bragalia, defendendo a validade, e
O grupo promete outros eventos similares em breve, e alguns dos temas a serem
futuramente debatidos serão os seguintes: "validade da mediação e arbitragem
pela internet"; "sigilo de dados e interceptação das comunicações"; e "procedimentos de
proteção da propriedade intelectual no ciberespaço". Por enquanto,
resta parabenizar as entidades brasileiras que já realizam este tipo de procedimento,
oferecendo documentos pela internet."