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2007/2008
TRABALHOS PRÁTICOS
CASO 3
Técnica Projectiva: Teste Aperceptivo de Roberts para Crianças (Roberts
Apperception Test for Children – R.A.T.C.)
Identificação
Nome: M. (feminino)
Idade Cronológica (à data de aplicação da Técnica Projectiva): 10A; 05M; 26D
Data de Nascimento: 06/12/1995
Data(s) de Avaliação: 19/05/2006; 02/06/2006; 12/06/2006; 23/06/2006
Nível de escolaridade: 5º ano
Zona de Residência: Zona Predominantemente Urbana
Agregado Familiar: mãe (35A; Auxiliar de Educação Educativa; 12º ano de
escolaridade); padrasto (41A; Comercial; Bacharelato); irmão (4A; frequenta Jardim-de
Infância)
M. é fruto de uma gravidez não planeada. Na altura, os pais namoravam, mas quando o
pai soube da gravidez abandonou a mãe e não voltou a estabelecer contacto. A gravidez
foi, por isso, vivida com grande ansiedade e angústia. O parto decorreu sem
complicações, apresentando a criança à nascença indicadores de adequado perfil estato-
ponderal. As aquisições de desenvolvimento decorreram dentro dos parâmetros
esperados, destacando-se a dimensão de linguagem, ao nível da expressão e da
compreensão, fazendo M., desde cedo e ainda actualmente, uso de termos/palavras que
não são usuais para a sua idade. Em termos de história médica, salienta-se que M. tem
miopia, usando óculos para corrigir o defeito. Em Novembro de 2005, foi-lhe
diagnosticada Asma de origem alérgica (a criança tem alergia a pólen, ácaros, pêlo de
animais e pó de pinheiros). As crises asmáticas estão controladas, fazendo apenas
medicação em situação de emergência.
No que diz respeito ao aspecto sócio-afectivo, a mãe refere que no jardim-de-infância
(que frequentou dos 3 aos 5 anos) M. teve facilidade em estabelecer e manter relações,
quer com crianças, quer com adultos. Porém, a partir dos 5/6 anos (idade de entrada na
escola e coincidindo com o nascimento do irmão), por vezes, relacionava-se mal com as
outras crianças, por ser bastante crítica relativamente “à personalidade dos outros”.
Actualmente, este comportamento mantém-se, o que leva a incompatibilidades com os
pares. Com o irmão, de um modo geral, relaciona-se bem e brinca com ele, mas tem,
por vezes, “acesso de ciúmes”, quando a mãe presta mais atenção ao filho. Em casa, é
uma criança que está sempre a exigir atenção e que necessita frequentemente de estar
acompanhada. Ainda segundo a mãe, M. adaptou-se bem ao ambiente escolar,
revelando sempre interesse pelas aprendizagens. Actualmente, frequenta o 5º ano com
bom aproveitamento. É uma aluna organizada e empenhada em tirar boas notas. As suas
disciplinas favoritas são Português, Inglês e Moral, gostando menos de Matemática,
Ciências e História. Nos tempos livres, M. gosta de ler e ver televisão. Segundo a mãe,
com a entrada para a escola, M. começou a manifestar sinais de preocupação e
ansiedade exagerados, em relação a vários acontecimentos ou actividades da sua vida
diária. Por exemplo, nessa altura, M. praticava ginástica acrobática. Apesar de ser um
desporto que apreciava, ficava “muito nervosa” sempre que tinha treinos e competição e
o stress era de tal forma elevado que, pelos 8 anos, acaba por abandonar a prática desse
desporto, o que lhe causou sofrimento, bem como à sua família. Segundo a mãe, M. está
constantemente preocupada, de forma exagerada, com o seu desempenho escolar e/ou
noutras áreas de realização, afectando tal comportamento claramente o seu
funcionamento. É uma criança muito preocupada com a opinião que os outros têm dela
e parece ter necessidade, acima do comum, de ser aprovada e admirada pelos outros, o
que, muitas vezes, a leva a comportar-se de maneira a que gostem dela. A par destas
preocupações, começaram a surgir sintomas psicossomáticos. Frequentemente, M. tem
dores de cabeça, dores de barriga, vómitos e tonturas, que surgem principalmente em
situações de stress (ex. testes escolares, apresentação de um trabalho, ir a uma festa,
quando tem de realizar alguma actividade fora da rotina, etc.). Apresenta também tiques
frequentes, nomeadamente, piscar os olhos, roer as unhas, mexer as mãos, pôr e tirar os
óculos. Segundo a mãe, M. começou, também, a ter dificuldades em dormir e, nos
últimos 6 meses, diz ter medo de adormecer e não acordar de manhã. A criança “entra
em pânico” quando vê que a mãe já está a dormir e ela ainda não adormeceu.
Inicialmente, a mãe ia adormecer M. e acabava por dormir com ela. Actualmente, M.
pede muitas vezes para dormir com a mãe e necessita de companhia para adormecer.
Esta situação levou a mãe a solicitar apoio à psicóloga da escola, que sugeriu um
acompanhamento especializado.
Relativamente à história familiar, a mãe refere o abandono do pai de M. e a constituição
do novo agregado, caracterizando-o como “funcional” e “carinhoso”. Admite que desde
o nascimento do filho tem andado mais cansada e com pequenas dificuldades no
relacionamento com o marido, mas desvaloriza as ocorrências atribuindo-as à “natural
responsabilidade” que é “ter dois filhos”. No entanto, segundo M., a mãe costuma falar
muito com ela sobre o abandono do pai biológico e a criança refere, ainda, que a mãe,
por vezes, também fica ansiosa, por achar que o marido a vai deixar.
1
Nas duas últimas sessões, foi iniciado um conjunto de estratégias de intervenção, tendo por base o
programa FRIENDS (Barrett, 1995, 2000). Numa hierarquização de medos, elaborada pela mãe e por M.,
foram assinalados: 1) Medo de dormir e de manhã não acordar (no sentido de “adormecer”); 2) Medo de
não atingir os objectivos (na escola); 3) Medo de perder a mãe.
Resumo do processo avaliativo:
A partir dos dados de observação, relativamente a M., constatamos que apresenta um
aspecto cuidado e limpo. Apresenta um discurso fluente e coerente, expressando de
forma adequada as suas ideias, revelando também capacidade de compreensão. Durante
as consultas, é sempre muito comunicativa, expressiva, extrovertida, curiosa,
observadora e muito atenta aos pormenores. É faladora, abordando sistematicamente
situações do seu dia-a-dia/questões pessoais, das quais faz, muitas vezes, verdadeiros
“dramas” (ex. zanga com a amiga, tirar uma nota mais baixa do que esperava).
Apresenta comportamentos motores característicos de ansiedade, com maneirismos
compulsivos e hipervigilância. Durante a aplicação das provas, tem uma atitude de
colaboração. Revela alguma impulsividade, iniciando as respostas antes de as questões
terem sido terminadas. Frequentemente, M. procura controlar a consulta, sugerindo as
actividades a realizar ou os temas a abordar, demonstrando ansiedade em relação às
tarefas que irão ser abordadas em dada sessão e nas sessões seguintes. A partir da
segunda consulta, traz um caderno onde, numa espécie de resumo diário, aponta tudo o
que é realizado, incluindo as actividades e as datas e horas das sessões seguintes.
Relativamente à mãe, esta acompanha M. às consultas. No entanto, apenas foi possível
falar com ela na primeira sessão, uma vez que nas seguintes apenas a criança estava na
sala de espera, quando era chamada pelo avaliador. Constatámos que M., no final da
consulta, contactava a mãe, via telemóvel, para que esta a viesse buscar. Do contacto
estabelecido, foi possível observar que a mãe de M. apresentava um aspecto cansado e
triste. Durante a entrevista, intervinha apenas quando solicitada, limitando-se a
responder às questões colocadas, não abordando espontaneamente os assuntos.
Sugestão
Para a formulação, conclusão /síntese e análise crítica do caso, considerar como
referencial teórico de sustentação os seguintes eixos:
- Ansiedade em crianças e jovens
- Factores de risco e factores protectores na manifestação da ansiedade
- [outro]
CASO 3
Teste Aperceptivo de Roberts para Crianças (Roberts Apperception Test for
Children – R.A.T.C.)
Lâmina 1G: Uma menina estava muito triste e os pais, de maneira a consolá-la,
solidariamente, o pai começou a chorar. A mãe apoiava-a. (Q) Acho que, por vezes,
na escola, as coisas não corriam bem. (Q) Não sei.
Lâmina 2G: A mãe… chegou a vez dela de consolar a filha. Estava mesmo muito
triste. Só chorava por todos os cantos. Era só lágrimas! Os pais, como gostavam
muito da filha, como todos os pais gostam dos filhos, consolaram-na. A mãe
abraçou a filha e ela ficou contente como forma de agradecimento. (Q) Acho que a
filha tinha problemas.
Lâmina 3G: A filha era como eu…não gostava de estudar. Mas sentia-se na
obrigação de o fazer. Pensava que estudar era a solução para ser a melhor e matava-
se a estudar! Esta pessoa era tal e qual eu! Podia chamar-se Joana… é um nome
bom para a cara dela. Tinha pressentimentos que as coisas não iam correr bem.
Pensava, pensava. A Joana tinha que resolver esse problema.
Lâmina 4: A Joana tinha muitas amigas que gostavam dela e havia uma amiga que
foi lá a casa. Coitada da Joana!!! A amiga dela, que se chamava Luísa, viu-a no
chão, ali, sem saber o que fazer. Parecia morta, a Joana! Estava desmaiada.
Lâmina 5G: Noutro dia, a Joana viu os pais a fazerem carícias um ao outro e
sentiu-se pouco à vontade. Que havia ela de fazer? Se ela dissesse alguma coisa, os
pais chateavam-se! - pensava a Joana para ela.
Lâmina 6G: Noutro dia, mais um dia novo para a Joana… um grande dia! Viu uma
menina de outra raça a ser envergonhada por uma menina de…de…”qualidade”. A
Margarida, a menina preta, estava a ser maltratada e a Joana, como era boa pessoa,
decidiu ir ajudá-la. E ajudou-a!
Lâmina 7G: Esta é tal e qual eu! A Joana era mesmo como eu! Até acordava
durante a noite sobressaltada e não conseguia dormir! E tudo porquê?! Por causa da
sua ansiedade!!!
Lâmina 8: [Não percebo esta…] Joana e o irmão levaram um ralhete dos grandes!
Coitadinhos! Estavam mesmo desesperados! A Joana tinha aquele problema… [é
como eu, quando recebo um ralhete dos meus pais!]. E os pais lá têm de ralhar.
Lâmina 9: Noutro dia, o irmão Pedro estava envolvido numa guerra e não se
conseguia defender. Estava cheio de lama e arranhões. A Joana foi lá e deu um
sermão …um açoite ao menino, que estava a bater no irmão. Sim! Porque gostava
muito do seu irmão!
Lâmina 10G: A mãe da Joana teve um filho e ela estava cheia de ciúmes, a pensar,
a pensar… e ficou ansiosa, claro!
Lâmina 11: A Joana ficou assustada de um momento para o outro e começou a
gritar muito apavorada!
Lâmina 12G: Mais um caso de violência doméstica! O pai estava a dar pancada na
mãe. Coitada da mãe da Joana!
Lâmina 13G: Joana estava enervada! Começou a atirar com tudo para o chão.
Cadeiras e tudo! Estava com muita fúria do pai, que só lhe apetecia bater-lhe! Mas
não podia faltar com o respeito ao pai!
Lâmina 14G: A Joana teve um momento de loucura: pintou a parede toda! A mãe
entrou e viu aquela miséria. Que vida tem sido a da Joana!!
Lâmina 15: O pai da Joana não era só violência. Mas sim… andava apaixonado por
outra! (suspira)
Lâmina 16G: Joana tentou falar com o pai, foi ter com ele, e este nunca lhe ligava.
O pai já não ligava à Joana! Ela estava sozinha com a mãe. Que pai desnaturado!
Joana, Joana, Joana!! Coitada da Joana! Era uma pessoa super ansiosa com isto
tudo!