PORTUGAL

NOTÍCIAS
01 Setembro 2008
Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75

DOSSIER
O Relatório Anual 2008
Os Direitos Humanos no Mundo

MULHERES DE CONFORTO IMIGRAÇÃO

Sobreviventes de escravatura sexual Em conversa com a Alta Comissária para
continuam à espera de Justiça a Imigração e Diálogo Intercultural
ÍNDICE
03.
EDITORIAL
04.
ENTREVISTA
Rosário Farmhouse, Alta
Comissária para a Imigração
e Diálogo Intercultural, fala
dos acontecimentos recentes
com imigrantes e sobre as
migrações em Portugal
07.
RETRATO
Peter Pack, Presidente do
Comité Executivo Internacional
da Amnistia Internacional,
explica o trabalho da
organização e conta como
passou de activista a dirigente
de uma ONG
09.
EM FOCO
10.
DOSSIER 25.
O Relatório Anual da Amnistia PRESTAÇÃO DE CONTAS
Internacional apresenta dados 26.
sobre o estado dos Direitos BOAS NOTÍCIAS
Humanos no mundo e refere
as quatro situações mais 27.
problemáticas em Portugal. APELOS MUNDIAIS
Especialistas nestas áreas
completam a informação
32.
AGENDA
18.
EM ACÇÃO INTERNACIONAL
33.
Há seis décadas o Exército
CARTOON
Imperial Japonês capturou
milhares de mulheres e raparigas,
muitas menores de idade, que 34.
foram usadas como escravas CRÓNICA
sexuais durante a Segunda Rui Tavares Guedes, jornalista
Guerra Mundial. As sobreviventes e Director-Adjunto da revisão
continuam à espera de Justiça Visão, fala sobre os Direitos
Humanos na China e a situação
20. particular dos Jogos Olímpicos
EM ACÇÃO NACIONAL de Pequim

23.
EM ACÇÃO JÚNIOR
Jovens de todo o país vão dedicar
quatro dias aos Direitos Humanos

FICHA TÉCNICA teiro, Carlos Coelho, Cláudia Köver, Elisabete

• Propriedade: Amnistia Internacional
Portugal
• Director: Presidente da Direcção
• Equipa Editorial: Armando Borlido,
Cátia Silva, Irene Rodrigues, Pedro
Krupenski
• Colaboram neste número: Ana Mon-
Brasil, José de Almeida Brites, José de Melo
Alexandrino, Laura Bastos, Lucília José Jus-
tino, Raquel Pinheiro, Rui Tavares Guedes
• Revisão: Armando Borlido, Cátia Silva,
Irene Rodrigues, Luísa Marques
• Concepção Gráfica e Paginação: Maria
João Bóia D’Arnaud Pereira
• Impressão: Relgráfica Artes Gráficas
Avenida Infante Santo, 42 – 2.º
1350-179 Lisboa
Tel.: 213 861 652
Fax: 213 861 782
Email: boletim@amnistia-internacional.pt
Os artigos assinados são da exclusiva respon-
sabilidade dos seus signatários.

EDITORIAL
A Amnistia Internacional e os Direitos Humanos
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção
“TEMOS DE NOS
TORNAR NA
MUDANÇA QUE
QUEREMOS VER”
Gandhi
Como repararão, este Notícias AI está di-
ferente.
Ele é parte de um processo de mudança
que se vive na Amnistia Internacional.
Pode perguntar-se: O que nos faz mudar?
Mudar para onde?
As respostas podem não ser simples,
nem completas, mas a mudança faz par-
te da cultura da AI. O mundo tem sofrido
grandes mudanças, os direitos humanos
– e as suas violações – são hoje rela-
tivamente diferentes do tempo em que,
em plena Guerra Fria, há mais de quatro
décadas, foi lançada a Amnistia como
uma Conspiração de Esperança.
Os direitos humanos já não são um ter-
Notícias • Amnistia Internacional 03
mo de referência para minorias cultas e amarelo – cor associada a situações de
urbanas, as nossas campanhas já não
se dirigem apenas a prisioneiros indivi-
alarme, à acção – procurando comunicar
melhor, com maior diversidade e abertura,
duais, detidos por razões de consciência.
Os direitos humanos também se globa-
com técnicas de trabalho mais adaptadas
ao nosso tempo e às novas realidades.
lizaram, as suas violações atingem po-
pulações inteiras (de gente de grupos na-
O Notícias AI, esta nossa publicação, é
parte desse processo. Porque a secção
cionais, de grupos étnicos, de confissões
religiosas). Essas violações incluem o
portuguesa tem de ser uma voz na mu-
dança que queremos ter.
genocídio, as limpezas étnicas, massa-
cres e torturas, mas também a guerra, Mas há coisas que não mudarão: a trans-
as deslocações forçadas de populações, parência de processos, a independência,
a destruição de culturas e do Ambiente, a a integridade e objectividade da orga-
fome e a pobreza. Os violadores não são nização, a democracia interna, a abertu-
apenas ditaduras obscuras e distantes, ra ao mundo, o activismo centrado em vo-
mas também podem ser os grupos de luntários - porque não queremos.
oposição, dirigentes religiosos ou chefes
tribais.
A violência doméstica pode ter como
violador e vítima de direitos humanos o
nosso vizinho – e cada vez mais todos
estes direitos humanos dizem respeito ao
trabalho da AI.
A Amnistia Internacional também se
globalizou, inevitavelmente. Dizer Uma
Amnistia, ou One Amnesty, é disso que
se trata. É uma Amnistia global, em pro-
cesso de mudança e transformação por
todo o mundo. Com uma imagem nova, a
04 Notícias • Amnistia Internacional

ENTREVISTA
Rosário Farmhouse, Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural
Rosário Farmhouse foi nomeada Alta Comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI) em Fe-
vereiro de 2008 pelo Primeiro-Ministro José Sócrates. Antes tinha estado oito anos a trabalhar no Serviço
Jesuíta aos Refugiados de Portugal, do qual foi directora. Perita em questões de imigração, falou com a
AI Portugal
Por Cátia Silva

AMNISTIA INTERNACIONAL (AI): Fala-se

muito de imigração, mas os imigrantes
em Portugal representam menos de
5% da população nacional, abaixo da
média europeia que é de 11%.
ROSÁRIO FARMHOUSE (RF): É verdade.
Portugal tem imigrações, mas esta é uma
realidade relativamente recente compa-
rando com outros países da Europa.
AI: Sendo assim, será que temos as nos-
sas fronteiras abertas, como afirmou na
entrevista ao jornal Sol, ao contrário do
que se passa no resto da Europa?
RF: O que queria dizer não é que estamos
com as fronteiras mais abertas do que
os outros países, mas temos uma atitu-
de perante a imigração bastante mais
aberta. Vemos na imigração uma opor-
tunidade para todos.
AI: Mesmo depois dos acontecimentos
do último Verão, de que é exemplo o as-
salto ao BES por dois brasileiros a 7 de
Agosto...
RF: Estes acontecimentos vieram preju-
dicar um pouco todo o trabalho que tem
sido feito. Algumas situações foram com
imigrantes, mas outras não. Não se deve
generalizar. As pessoas que escolhem o
caminho do crime têm de ser responsabili-
zadas, mas a maior parte dos estrangeiros
querem o caminho da integração.
“Os países capazes de AI: Porém, o próprio ex-Ministro da Ad-
viver a interculturalidade ministração Interna, Dr. Ângelo Correia,
disse na edição de 4 de Setembro da re-
vão ser países de paz” vista Visão, que vivemos “uma onda de
© AI Portugal
violência inusitada” que se deve “em
 Notícias • Amnistia Internacional 05

grande parte, à vinda a, ou para, Portu-

gal de estrangeiros oriundos de países
onde o crime é mais sofisticado”...
RF: Eu acho que a frase deve ter sido ti-
rada do contexto, porque realmente não
é assim. Se a criminalidade aumentou
no último ano, na verdade esta foi uma
altura em que nem tivemos grande im-
pacto de imigrantes. Estamos é numa
fase muito mais mediática de tudo o que
é a criminalidade, o que dá a sensação
de que há muito mais crimes.
AI: Continuando nas generalizações,
várias pessoas associam a criminali-
dade não apenas aos imigrantes mas
aos imigrantes ilegais. Somos um país
com problemas a este nível e no que diz
respeito ao tráfico de seres humanos?
RF: Portugal não é um país referenciado
como tal. Mesmo ao nível dos imigran-
tes ilegais, eu acho que já tivemos mais.
Por isso, não tem sido necessário, como
© AI Portugal
noutros países, tomar medidas tão nega-
tivas em relação à imigração.
emigrantes e, por isso, tudo o que sempre gostam muito dos portugueses.
“Os imigrantes são apenas defendemos para os nossos, é aquilo que AI: Quais são as principais comunidades
devemos defender para quem cá vem. de imigrantes em Portugal?
5% da população, mas são
AI: Mas será que o fazemos? Penso, por
quase 10% da população exemplo, na população brasileira. A
RF: A primeira é a Brasileira, a segunda
é a Cabo Verdiana e a terceira é a Ucra-
activa” Cônsul Geral do Brasil no Porto, Cláudia niana.
d’Angelo, disse numa entrevista ao por-
tal de informação JPN (Jornalismo Porto AI: Será então que são os números que
AI: Na sua opinião, a nova Lei de En-
Net): “não tenho como julgar o motivo explicam a maior ligação entre os imi-
trada, Permanência e Saída de Es-
de o português discriminar racialmen- grantes brasileiros e a criminalidade?
trangeiros, de 4 de Julho de 2007, veio
facilitar ou inibir o processo de lega- te, mas é um facto [que discrimina os RF: Sim, acho que se deve apenas ao facto
lização de imigrantes? brasileiros]”... de esta ser a população mais numerosa.
RF: Eu acho que, infelizmente, esta é Obviamente que, tendo muito mais gente,
RF: Eu acho que veio facilitar, embora as
uma população que tem sofrido e está maior a probabilidade de acontecer al-
coisas acabem por ser muito mais fáceis
a sofrer bastante discriminação, muitas guma coisa.
teoricamente do que depois na prática.
A meu ver, esta lei talvez seja, de todas vezes via a dita generalização e via uma
as leis, a que conseguiu um equilíbrio má utilização da informação por parte “Temos uma história de
maior. Sem ter uma regularização ex- dos média.
traordinária – pois não podemos estar
emigrantes e, por isso, tudo
AI: Temos então uma sociedade racis-
constantemente a criar regularizações ta?
o que sempre defendemos
extraordinárias, senão, sem querer, es- para os nossos, é aquilo
taríamos a fomentar a ilegalidade -, tem RF: Eu acho não, que a sociedade portu-
guesa não é racista, embora exista em que devemos defender para
uma janela de oportunidade para quem
quer integrar-se. algumas pessoas um racismo latente. quem cá vem”
AI: Mas algumas pessoas optam por não AI: Sendo assim, não se estará a tor-
se legalizar. Será por medo de serem nar mais racista com acontecimentos AI: Já quanto aos imigrantes de Leste,
deportadas? como os referidos? não existem grandes registos de crimi-
nalidade, quando estes, ao contrário
RF: Até aqui não conheço grandes situa- RF: Está a tornar-se mais fechada. Se
dos que vêm dos PALOP, não têm fortes
ções destas. A postura de Portugal tem aquilo que nós sentimos pelos imigran-
ligações a Portugal...
sido sempre de ajudar, se a pessoa não tes fosse igual àquilo que eles sentem
se desleixar, claro. Temos uma história de por nós, estávamos bem, porque eles RF: Na verdade foram das comunidades
06 Notícias • Amnistia Internacional
que melhor se integraram.
AI: Por outro lado, há um outro fenó-
meno, se assim podemos chamar, que
é o da comunidade chinesa. Não se ou-
vem problemas relacionados com eles
e nem sequer são uma população muito
numerosa (10.000 pessoas), mas há mi-
tos que são criados em torno deles...
RF: Eu acho que esta é uma forma de dis-
criminação também. Há boatos que sur-
gem na Internet que são completamente
irreais. Ou as pessoas se irritam ou têm
alguma inveja e arranjam maneira de os
querer destruir...
AI: É talvez importante que os portugue-
ses percebam que a vida do imigrante
não é fácil...
RF: Se fizermos um exercício de memória
e nos lembrarmos do sofrimento que foi a
partida dos nossos emigrantes, nos anos
60 e 70, percebemos que não é fácil lar-
gar tudo e partir para o desconhecido. Só
a grande expectativa de uma vida melhor
é que poderá dar essa força. Quem vem,
apenas quer encontrar melhores con-
dições para si e para os seus e ser feliz,
que é o que todos nós andamos à procura,
penso eu.
AI: É importante acrescentar que alguns
analistas defendem que sem imigrantes
a Europa não poderá renovar-se, devido
às baixas taxas de natalidade...
RF: Os imigrantes são apenas 5% da
população, mas são quase 10% da
população activa. São pessoas que vêm
para contribuir. E se calhar são eles que
vão possibilitar que daqui a uns anos
nós portugueses tenhamos reformas,
porque as contribuições que dão para a
Segurança Social vêm equilibrar a nossa
balança.
AI: Recorde-se até a situação de Vila de
Rei, em 2006, quando a Presidente da
Câmara, Irene Barata, considerou ser
importante a vinda de imigrantes para
combater a desertificação...
RF: Foi uma ideia e há outras autarquias
a tentarem avançar com mecanismos de
atracção de gente nova. Devo dizer que
há aldeias no Alentejo que renasceram
com a vinda dos imigrantes, de Leste,
por exemplo.
AI: Já nas grandes cidades temos situa-
ções como a da Quinta da Fonte (Lou-
res), em Julho, que trouxe a ideia de
que nos bairros onde há mais imigran-
tes e minorias étnicas se vive como no
faroeste...
RF: Também não é verdade. Eu estive
na Quinta da Fonte mesmo a seguir ao
acontecimento e todos me diziam que e-
xistem situações tensas mas não por se-
rem de uma comunidade ou da outra, é
com determinada pessoa. As relações
de vizinhança não são fáceis em lado
nenhum.
AI: Porém, o próprio Observatório da
Imigração indicou que o bairro da Quin-
ta da Fonte alojava 500 famílias quando
foi construído para 130...
RF: Juntar populações de contextos so-
cioeconómicos vulneráveis num bairro de
grandes dimensões faz com que as rela-
ções sejam mais tensas.
AI: Mas durante muito tempo alojaram-
-se os imigrantes e as minorias étnicas
em bairros sociais, em guetos.
RF: Sim, mas hoje a ideia é diferente,
um pouco por todo o mundo, eu acho. Por
todo o mundo, mas principalmente por
toda a Europa, houve um bocado a ten-
dência de fazer guetos. Agora essa teoria
foi abandonada.
“As pessoas que escolhem
o caminho do crime têm
de ser responsabilizadas,
mas a maior parte dos
estrangeiros querem o
caminho da integração”
AI: Uma boa notícia é Portugal estar em
segundo lugar no ranking dos países
europeus com melhores políticas de
integração, segundo o Migration Inte-
gration Policy Índex 2006, lançado em
2007. O que temos para integrar os imi-
grantes?
RF: O ACIDI, sempre em parceria, tem
várias áreas. Uma muito importante é a
informação. Há pessoas que não sabiam
que se tinham de ir regularizar e alguém
lhes disse para não o fazerem porque se-
riam presas, o que não é verdade.
AI: E quanto a medidas concretas de
integração?
RF: O ACIDI tem uma parceria com As-
sociações de Imigrantes, que estão no
terreno, para desenvolverem projectos
nessa área. E tem também o programa
Escolhas, que trabalha, neste momento,
com 121 projectos de combate à exclusão
social. Depois temos o Observatório da
Imigração, um Gabinete que trabalha a
Interculturalidade com as Escolas,...
AI: O objectivo é então integrar pela
interculturalidade e não pela assimila-
ção...
RF: Exactamente. Somos defensores
acérrimos da interculturalidade, que tem
como base o respeito mútuo. Tal como a
multiculturalidade, mas vai mais além.
Respeitamo-nos mas também interagi-
mos uns com os outros e queremos trans-
formar-nos com o melhor de cada um.
AI: Até porque, como vimos, há vanta-
gens nisso...
RF: É bom termos uma sociedade plural.
Ao longo da História, os nossos poetas
– Fernando Pessoa, António Gedeão,
Padre António Vieira – defenderam uma
sociedade intercultural. Eu acho que
esse é o caminho. Os países que forem
capazes de viver a interculturalidade vão
ser países de paz.
Entrevista completa em:
www.amnistia-internacional.pt
IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL
• População estrangeira: 435.736 pes-
soas
• 12 Principais países de origem dos
imigrantes legais: Brasil (66.000 pes-
soas), Cabo Verde (63.000), Ucrânia
(39.000), Angola (32.000), Reino Unido
(23.000), Guiné-Bissau (23.000), Roménia
(19.000), Espanha (18.000), Moldávia
(14.000), China (10.000), França (10.000),
S. Tomé e Príncipe (10.000).
Dados do Relatório de Actividades 2007:
Imigração, Fronteiras e Asilo, do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras
PARA INFORMAÇÕES CONTACTAR:
Centros Nacionais de Apoio ao Imigrante
Em Lisboa: Rua Álvaro Coutinho, 14
1150-025 Lisboa. Tel.: 21 810 61 00
No Porto: Rua do Pinheiro, 9
4050-484 Porto. Tel.: 22 207 38 10
LINHA SOS IMIGRANTE
808 257 257 (rede fixa)
21 810 61 91 (rede móvel)
WWW.ACIME.GOV.PT
 Notícias • Amnistia Internacional 07

RETRATO
Peter Pack, Presidente do Comité Executivo Internacional da Amnistia
Internacional - Um exemplo de activismo
O percurso de Peter Pack poderia bem ser o de qualquer um de nós, dependendo tão-somente de entrega
e dedicação. De defensor dos direitos humanos, passou a membro da Amnistia Internacional e hoje está
à frente dos destinos daquela que é uma das maiores ONG do mundo. Um ano depois de ter assumido a
presidência do Comité Executivo Internacional, Peter Pack conta-nos a sua história
Por Cátia Silva

© Amnistia Internacional
O britânico Peter Pack tem hoje 48 anos.
Casado e pai de dois filhos, foi enge-
nheiro de motores a jacto, professor e
actualmente é director adjunto de uma
escola secundária. Podia facilmente en-
tregar-se a uma vida pacata na cidade
inglesa de Shrewbury, dedicando-se ao
ciclismo, de que tanto gosta, e aos pas-
seios pelo meio rural. No entanto, nunca
foi pessoa de cruzar os braços perante
os problemas do mundo e em Setem-
bro de 2007 assumiu a presidência do
Comité Executivo Internacional da Am-
nistia Internacional (AI), um dos prin-
cipais órgãos decisórios e governativos
da organização. Até chegar aqui traçou
um longo caminho de luta pelos direitos
humanos.
Tudo começou quando Peter Pack entrou
na Universidade. A maioria dos jovens
associa esta fase da vida a uma maior
independência, mas para o activista foi
quando conheceu a Amnistia Interna-
cional. “Lembro-me de, quando era a-
dolescente, ver muitos programas de
televisão sobre tortura em diferentes
países”, conta, referindo como exemplo
um sobre a ditadura na Grécia, nos anos
60 e 70. “Isto teve um grande impacto
sobre mim”, confessa. E o acaso tratou
do resto. “Nos primeiros dias de Facul-
dade ouvi um conferencista da secção
holandesa da AI que estava de visita a
Inglaterra”. Incentivado por ele, juntou-
-se ao grupo universitário da Amnistia
Internacional, porque esta lhe pareceu
ser “uma organização eficaz na ajuda a
pessoas que sofrem terríveis violações
dos direitos humanos”.
OS PRIMEIROS PASSOS
Em pouco tempo, Peter Pack percebeu a
influência da Amnistia Internacional na
vida das pessoas e, desde então, nunca
mais deixou a organização. À identifica-
ção com a missão da AI juntou-se desde
logo o espírito de iniciativa e de lideran-
ça do então jovem universitário. Em pou-
cos dias tornou-se presidente do grupo
da faculdade e alguns anos mais tarde,
já como engenheiro de silenciadores de
motores a jacto, integrou um dos grupos
locais da AI no Reino Unido1. Residiu de-
pois em vários pontos do país, mas man-
teve-se sempre ligado aos grupos locais,
até que, nos anos 80, percebeu que podia
contribuir de forma mais activa para a
definição de políticas da organização2.
Primeiro, foi membro da Direcção da sec-
ção do Reino Unido da AI, tinha então
pouco mais de vinte anos. Quando entrou
na casa dos trinta, envolveu-se na cria-
ção de uma rede internacional de forma-
ção para os elementos da organização e
dedicou os anos 90 à profissionalização
da Amnistia Internacional. A sua proac-
tividade contribuiu para que, em 1998,
fosse indicado para o Comité que estu-
dava a missão e o mandato da AI. Foi
aqui que viveu a passagem do milénio,
tendo sido uma peça-chave na mudança
estrutural que então se deu na Amnistia
Internacional. As publicidades a preto e
branco, que eram a imagem de marca da
organização, deram lugar a uma postura
mais positiva e optimista, reproduzida
no já conhecido post it amarelo3.
O COMITÉ EXECUTIVO INTERNACIONAL
Depois de ter contribuído para a lufada
de ar fresco que se sentiu na Amnistia
Internacional, Peter Pack reunia a expe-
riência necessária para se candidatar a
um dos mais altos organismos governa-
tivos da AI: o Comité Executivo Interna-
cional. Os seus membros são voluntários
e eleitos de dois em dois anos durante
a reunião bienal da organização, que
reúne as várias secções da Amnistia
Internacional, provenientes de todos os
cantos do mundo. O processo é simples:
os membros da AI candidatam-se indi-
vidualmente, são sujeitos a entrevistas e
depois cada secção vota.
08 Notícias • Amnistia Internacional
Peter Pack conversa com George A. B. Aggrey da AI Gana, durante a Reunião do Conselho Internacional de 2007.
Da votação saem as nove pessoas que
até à Reunião seguinte vão conduzir os
destinos da Amnistia Internacional. São
sempre membros de países diferentes e
podem ter-se candidatado pela primeira
vez ou recandidatarem-se (até um máxi-
mo de três vezes consecutivas). Em 2007
Peter Pack candidatou-se e foi um dos
eleitos, bem como a sueca Christine
Pamp, o norte-americano David Stamps,
a canadiana Deborah L. Smith, o turco
Levent Korkut, a holandesa Lilian Gon-
çalves-Ho Kang You, o italiano Pietro An-
tonioli, a argentina Soledad Garcia Muñoz
e o neo-zelandês Vanushi Sitanjali Raja-
nayagam. Foram eles que escolheram o
britânico para presidir aos trabalhos do
Comité.
EM JEITO DE BALANÇO
Numa altura em que passa um ano desde
que assumiu a Presidência do Comité
Executivo Internacional, em Setembro de
2007, Peter Pack afirma que a maior mu-
dança que sentiu, “pessoalmente, foi ter
de focar-me na estratégia organizacio-
nal da AI, ao invés de me concentrar na
política de direitos humanos, que tinha
sido a minha especialidade”. Isto porque
o papel do Comité é, essencialmente, o
de providenciar orientação e liderança ao
movimento da AI em todo o mundo. Na
prática, explica, isto traduz-se em muitas
horas de debate de ideias. Os membros
do Comité reúnem-se pelo menos quatro
vezes por ano, para “ouvir relatos sobre
acontecimentos do mundo exterior, bem
como sobre o progresso dentro da AI. A
partir daí, decidimos”.
Destas e de outras reuniões, e dos mui-
© Amnistia Internacional
tos emails e telefonemas trocados entre
os nove membros do Comité, saem con-
clusões sobre a forma como a Amnistia
Internacional se tem mostrado ao mundo
e como deve fazê-lo. Sintetizando, Peter
Pack enumera três tarefas principais
desenvolvidas no último ano. Primeiro,
cumprir as orientações da reunião bie-
nal, como executar o plano estratégico
integrado, monitorizar a democracia no
seio da organização e conceber um novo
sistema financeiro para a AI. Em segun-
do lugar, o Comité teve de acompanhar
o Secretariado Internacional4, a parte
operacional da ONG, e a sua Secretária-
Geral, Irene Khan, na aplicação do seu
plano anual. Por último, foi preciso o
Comité organizar-se melhor e encontrar
formas eficazes de comunicação interna.
Depois de tudo isto, muita coisa está fei-
ta, mas muito ficou ainda por fazer. Neste
segundo ano de mandato, Peter Pack tem
à sua frente um projecto ambicioso da
Amnistia Internacional: a grande cam-
panha de 2009, centrada na Dignidade
Humana e na Pobreza, que são também
fortes violações aos direitos humanos. O
Comité tem agora de definir prioridades
e, perante isto, avizinham-se muito mais
horas de trabalho voluntário, que não de-
movem o activista. “Felizmente, a minha
família já se habitou a que dedique mui-
to tempo à AI”, congratula-se, e a escola
onde trabalha percebe a importância do
seu papel. Peter Pack promete então
manter a dedicação e o empenho à causa
da Amnistia Internacional, sendo um ver-
dadeiro exemplo para todos os cidadãos
do mundo.
1. Recorde-se que a Amnistia Internacio-
nal tem sede em Londres, mas ramifica-
-se em várias secções espalhadas por
todo o mundo. Dentro de cada secção,
como na Portuguesa, há grupos locais
por todo o país que ajudam a divulgar
os problemas de direitos humanos. Mais
informações sobre os grupos locais da
secção portuguesa da AI na rubrica “Em
Acção Nacional”.
2. Todos os órgãos decisórios e gover-
nativos da Amnistia Internacional são
constituídos por voluntários, pretenden-
do-se com isto trazer transparência e
democracia aos processos de tomada de
decisões da organização. Isto acontece
não apenas ao nível da sede da AI, mas
também nas suas secções nos diversos
países, que são dirigidas por um grupo
de voluntários eleitos entre os membros
da ONG.
3. A Amnistia Internacional foi criada por
Peter Benenson em 1961 e a sua imagem
começou por estar associada aos prisi
oneiros de consciência. Perante a ideia
das prisões, foi criado como logótipo
uma vela colocada sobre um fundo ne-
gro. Na mudança de século, a Amnistia
Internacional percebeu que era preciso
olhar o mundo de uma forma diferente.
Há direitos humanos que continuam a
ser violados, mas a sociedade está hoje
mais atenta e as novas tecnologias per-
mitem que um pessoa em Portugal con-
siga ajudar um prisioneiro do outro lado
do mundo. Assim surgiu a imagem do
post it amarelo, que nos relembra todos
os dias da necessidade e urgência de
agirmos individualmente, enquanto ci-
dadãos do mundo.
4. A Amnistia Internacional pode ser di-
vidida em duas estruturas principais,
totalmente interdependentes. Por um la-
do, há a parte política e de definição de
estratégias, desenvolvida por membros
voluntários da AI, como é o caso do Co-
mité Executivo Internacional. Por outro,
há a parte operacional, contratada, de-
nominada de Secretariado Internacional,
que executa as directivas dos órgãos de-
cisórios. Isto acontece tanto na sede da
AI, como nas suas secções nacionais.

EM FOCO
ANGOLA: NA MIRA DOS
DIREITOS HUMANOS
No início de Setembro os angolanos pu-
deram votar, pela primeira vez em 16 a-
nos, para eleger os seus representantes
Parlamentares. Aquele que podia ser um
marco positivo para Angola, permitiu,
pelo contrário, levantar o véu que cobria
violações graves do direito nacional e in-
ternacional, denunciou a Amnistia Inter-
nacional.
Tendo em vista a transparência do pro-
cesso eleitoral, em final de Agosto a AI
apelou aos observadores internacionais
no terreno e a todos os candidatos parla-
mentares que tivessem em linha de conta
os direitos humanos. Na manhã da vota-
ção, a 5 de Setembro, a chefe da missão
da UE denunciou problemas organizacio-
nais graves, mas algumas horas depois a
situação foi dada como normalizada.
Importa acrescentar que o processo
eleitoral esteve envolto em polémica an-
tes mesmo de ter começado, quando veio
a público que o executivo violava normas
internacionais, como a liberdade de as-
sociação e de expressão, ao perseguir
ARGENTINA PÕE FIM À PENA DE
MORTE
Em Agosto o Parlamento Argentino de-
cidiu, por unanimidade, pôr fim ao Códi-
go de Justiça Militar de 1951, acabando
com a pena de morte mesmo para crimes
cometidos por militares.
Apesar da última execução no país datar
de 1916, só a revogação da lei represen-
ta o fechar de um ciclo, acabando com os
Tribunais Militares e transportando todos
os crimes para os Tribunais Civis.
A Argentina faz assim subir para 137 o
número de países que já aboliram a pena
de morte, na lei ou na prática, servindo
de exemplo a estados americanos como
os Estados Unidos da América, a Guate-
mala e vários países do Caribe.
Notícias • Amnistia Internacional 09
activistas de direitos humanos. Em 2006
chegou mesmo a encerrar a Organização
Não Governamental Mpalabanda, acu-
sando-a de incitar à violência, e em Abril
deste ano mandou fechar o Alto Comis-
sariado da ONU para os Direitos Huma-
nos.
Em meados de Setembro, Angola tornou
a captar as atenções mundiais ao conde-
nar o ex-correspondente da rádio “Voz da
América”, José Fernando Lelo, a 12 anos
de prisão. Detido em Novembro de 2007,
esteve preso até Março deste ano sem
qualquer acusação formal, tendo então
sido acusado de atentar contra a segu-
rança nacional e instigar revoltas. Num
julgamento onde nada ficou provado, o
réu foi declarado culpado. A Amnistia In-
ternacional acredita que José Fernando
Lelo é um prisioneiro de consciência, a
cumprir pena por expressar a sua opinião
de forma pacífica.
© Amnistia Internacional
ITÁLIA CONTINUA A DISCRIMI- dades. Perante a situação, a Amnistia
NAR ETNIA CIGANA Internacional vai enviar uma petição ao
Ministro do Interior Italiano, que está dis-
As autoridades italianas têm vindo a ponível na parte do Notícias AI no nosso
adoptar medidas que discriminam a mi- site, em www.amnistia-internacional.pt.
noria étnica dos ciganos, conhecidos por
Roma, com base numa alegada política
de segurança e de redução da criminali-
dade.
Entre as mais controversas inclui-se a
recolha de impressões digitais entre a
comunidade Roma, que já foi criticada © Amnistia Internacional
pelo Parlamento Europeu. A retórica
anti-ciganos aumentou de tom com a
reeleição de Silvio Berlusconi, em Abril
deste ano, e tem espalhado o ódio entre
os civis, que nos últimos meses incen-
diaram os campos habitados por esta
minoria, nos arredores das grandes ci- © Amnistia Internacional
10 Notícias • Amnistia Internacional
DOSSIER
Relatório Anual 2008 - Os Direitos Humanos no Mundo
A Amnistia Internacional publica anualmente um relatório onde revela as condições de direitos humanos
em 150 países e territórios, com base no trabalho desenvolvido durante esse ano pelos seus investiga-
dores para as diferentes regiões. Resumimos aqui os principais problemas de cada continente entre
Janeiro e Dezembro de 2007
Por Laura Bastos
AMÉRICAS
A “Guerra ao terrorismo”
ÁFRICA
DIREITOS HUMANOS PERMANECEM UM
SONHO
A luta pelo poder continua a dominar a
vida política africana, apesar de alguns
países terem dado passos em direcção
à democracia. Em 2007, os conflitos ar-
mados internos assolavam grande parte
do continente, acompanhados por sérios
atentados aos direitos humanos, como
assassinatos, torturas e violações. Uma
das situações mais graves viveu-se na
Somália, tendo milhares de pessoas ten-
tado fugir do país. Porém, as autoridades
Quenianas fecharam as suas fronteiras
e enviaram de volta os refugiados que
tinham conseguido entrar no país, vio-
lando o direito internacional.
Em África, os Direitos Económicos e So-
ciais continuam uma ilusão. Em vários
países suprimiram-se todas as formas
de dissidência e em muitos a liberdade
de expressão é reprimida, sendo os de-
fensores dos direitos humanos, particu-
ÁFRICA MÉDIO ORIENTE E
Direitos humanos NORTE DE ÁFRICA
permanecem um Iraque mantém-se no
sonho centro das atenções
larmente jornalistas, vítimas de intimi-
dação e assédio.
Não houve melhorias ao nível da violên-
cia sobre as mulheres, que é frequente
em tempo de paz mas mais visível nos
países em conflito, como no Burundi,
na Costa do Marfim, na Serra Leoa e no
Uganda. Em vários estados há registos
de violência policial e é também comum
a impunidade para os violadores dos di-
reitos humanos. Em África há apenas a
registar a boa notícia relativa à abolição
da pena de morte no Ruanda.
AMÉRICAS
A “GUERRA AO TERRORISMO”
Depois de seis anos de “guerra ao terro-
rismo”, que começou com o 11 de Se-
tembro, os Estados Unidos da América
continuaram em 2007 a manter pesso-
as em detenção militar por períodos in-
definidos, sem acusações formadas ou
julgamentos justos. No mês de Julho, o
EUROPA E ÁSIA CENTRAL
Direitos humanos
manchados por voos de
rendição
ÁSIA-PACÍFICO
Economia não ajuda os
direitos humanos
presidente Bush autorizou mesmo a con-
tinuação deste programa, que vai contra
os princípios da Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
A América Latina continuou a dar passos
largos para acabar com a violência sobre
as mulheres e alcançar a igualdade en-
tre os géneros. Contudo, a discriminação
passou a sentir-se com base na raça,
etnia, orientação sexual e estrato social.
São disto exemplo os povos indígenas,
que continuam a ver os seus direitos se-
rem violados. Isto apesar dos governos
Latino-americanos e Caribenhos terem
sido pressionados a combater as desi-
gualdades sociais, tendo implementado
alguns programas de redução da pobreza
bem-sucedidos.
Noutros países, como o Brasil, El Salva-
dor, Guatemala, Haiti e Jamaica, man-
tém-se a impunidade para as violações
de direitos humanos perpetrados por a-
gentes estatais, numa clara evidência
de sistemas judiciais corruptos. No que
respeita à pena de morte, os Estados

Unidos mantiveram-se contra a onda
abolicionista do resto do continente,
apesar de Nova Jérsia se ter tornado,
a 17 de Dezembro, no primeiro estado
(desde 1965) a abolir esta prática. Para
além dos Estados Unidos, foram impos-
tas sentenças de morte nas Bahamas e
em Trindade e Tobago, mas só os norte-
-americanos cumpriram as execuções.
ÁSIA-PACÍFICO
ECONOMIA NÃO AJUDA OS DIREITOS
HUMANOS
O crescimento económico desenfreado
foi a característica mais marcante na
Ásia-Pacífico em 2007, mas este boom
não trouxe melhorias para os direitos hu-
manos, tendo mesmo contribuído para o
aumento do fosso entre ricos e pobres, o
que tem originado tensão social e uma
maior marginalização dos menos afor-
tunados. Além disso, a crescente explo-
ração dos recursos naturais tem levado
a despejos forçados, causando milhares
de sem abrigo.
A região permaneceu na linha da frente
na “guerra ao terrorismo” norte-ameri-
cana, o que tem precipitado conflitos
armados que afectam muitos civis. É
disto exemplo o Paquistão, cujo processo
eleitoral ficou manchado de sangue, ten-
do culminado no assassinato de Benazir
Bhutto. A escalada da violência, a inse-
gurança, a repressão política e a res-
trição da liberdade de expressão foram
uma constante em vários países, como
prova a mediática situação no Myanmar.
A violência sobre as mulheres continua
também a ser uma realidade em toda a
região, enquanto os seus perpetradores,
incluindo agentes policiais e pessoas
no poder, permanecem impunes face
à justiça. De Janeiro a Outubro, só na
província de Sindh (Paquistão) 183 mu-
lheres foram mortas por “mancharem
a honra da família”. A pena de morte é
aplicada em muitos estados, sendo par-
ticularmente preocupante o secretismo
em seu redor. Por exemplo, os dados so-
bre a execução penal na China são con-
siderados segredo de estado, o que faz
com que o número real de execuções pos-
sa ser muito maior que as 407 divulga-
das em 2007.
Notícias • Amnistia Internacional 11
EUROPA E ÁSIA CENTRAL aumentado, no seio da “guerra ao terro-
DIREITOS HUMANOS MANCHADOS POR rismo”, as detenções forçadas sem di-
VOOS DE RENDIÇÃO reito a julgamento. Mais de 60.000 pes-
soas foram detidas em 2007 no Iraque, e
noutros países – como o Qatar, a Arábia
Os principais atentados aos direitos hu- Saudita e os Emirados Árabes Unidos
manos na Europa e na Ásia Central pren- – são comuns os castigos cruéis e de-
deram-se com a cumplicidade com os sumanos contra os alegados terroristas.
voos de rendição norte-americanos e,
consequentemente, com a prática de tor- Há ainda a destacar o conflito armado
tura, maus tratos e desaparecimentos nos territórios disputados pela Palestina
e por Israel, com atentados de ambos os
forçados. A “guerra ao terrorismo” e a
lados a provocarem feridos e mortos en-
segurança têm justificado também res-
trições à imigração e aos direitos dos tre os civis. No ano passado, com a ocu-
refugiados. Consequentemente, cresce o pação da Faixa de Gaza pelo Hamas,
número de imigrantes ilegais e o tráfico a comunidade internacional cessou a
de seres humanos. ajuda humanitária e Israel montou um
cerco, deixando 1,5 milhões de pessoas
Em países como a Turquia, o Uzbe- sem acesso a alimentação e a medica-
quistão, a Bielorrússia, o Azerbeijão e a mentos.
Rússia, o espaço para as vozes dissiden-
tes diminuiu, sendo comuns as fortes A maioria dos governos do Médio Oriente
ameaças à liberdade de expressão e de e do Norte de África mantiveram em 2007
associação. Na Ásia Central e na Europa restrições à liberdade de expressão, sen-
persistiu a discriminação, comummente do também prática comum a violência
dirigida à etnia Roma (ciganos), mas sobre as mulheres, que continua enrai-
também, por vezes, tendo por base a zada.
orientação sexual. Nos dois continentes
continuam a registar-se elevados índices
de violência doméstica, principalmente
contra as mulheres, sendo que só em al-
guns países se tem caminhado para leis
que protejam as vítimas.
Em 2007 continuou a impunidade para
os crimes cometidos na ex-Jugoslávia
durante os anos 90 (só em 2008 foi cap-
turado Radovan Karadzic). Houve, no
entanto, progressos ao nível da pena de
morte. Em Maio, o Kazaquistão e o Ta-
jiquistão diminuíram o número de acu-
sações passíveis de serem julgadas co-
mo crimes capitais. E um mês depois o
Quirguizistão e o Uzbequistão substi-
tuíram a pena de morte pela prisão per-
pétua. A Bielorrússia manteve-se o único
país europeu onde esta forma de conde-
nação persiste.
MÉDIO ORIENTE E NORTE
DE ÁFRICA
IRAQUE MANTÉM-SE NO CENTRO DAS Para informações mais detalhadas sobre
ATENÇÕES os Direitos Humanos no mundo, consultar
o sítio do Relatório Anual de 2008 da
Amnistia Internacional em:
O principal problema na região continua http://report2008.amnesty.org/
a ser o conflito no Iraque, que tem pro- Aqui poderá encontrar dados pormeno-
rizados sobre cada um dos 150 países e
vocado assassinatos, torturas e milhões territórios investigados.
de refugiados e deslocados. Têm também
12 Notícias • Amnistia Internacional
O RELATÓRIO
ANUAL INTERNACIONAL
DA AMNISTIA
A situação dos Direitos Humanos em Portugal
Por Armando Borlido
Eleanor Roosevelt, activista dos direitos humanos e esposa do presidente norte-americano Franklin Roosevelt, segura um poster da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada a 10 de Dezembro de
1948 pelas Nações Unidas.
Todos os anos, em Maio, a Amnistia Inter-
nacional publica o seu Relatório Anual.
Nele cabe apenas uma ínfima parte das
violações de direitos humanos no mundo
– apenas são relatadas as situações que
objectivamente os investigadores da AI
puderam analisar e comprovar.
O Relatório da AI é, pois, uma espécie
de barómetro dos Direitos Humanos no
Mundo. E no ano em que se comemoram
os 60 anos da aprovação da Declara-
ção Universal dos Direitos Humanos, o
documento mostra-nos que ainda há um
longo caminho a percorrer na maioria
dos países.
Portugal é um dos estados que ainda
tem muito que trilhar no que respeita
aos Direitos Humanos. Ano após ano, o
nosso país continua a ser referenciado
nos relatórios da AI e 2007, infelizmente,
não foge à regra. A violência policial nas
prisões, a violência sobre as mulheres, a
“guerra ao terrorismo” e as migrações
constituem os temas focados no Relatório
relativo ao ano passado.
Por se tratarem de questões que mere-
cem a atenção e reflexão por parte das
autoridades e da sociedade em geral,
convidámos quatro especialistas a es-
crever sobre cada um desses temas.
José de Almeida Brites, administrador
© Organização das Nações Unidas
da associação “O Companheiro” escreve
sobre a Violência policial nas prisões.
Elisabete Brasil, da UMAR, traz-nos um
depoimento sobre Violência sobre as
mulheres. Carlos Coelho, deputado ao
Parlamento Europeu, apresenta-nos um
texto a propósito da “guerra ao terro-
rismo”. Finalmente, José de Melo Ale-
xandrino, professor da Faculdade de Di-
reito da Universidade de Lisboa, aborda
a temática das Migrações.
Com a publicação destes artigos procu-
ramos, assim, incluir a perspectiva de
pessoas externas à Amnistia Internacio-
nal que se debruçam sobre as questões
de Direitos Humanos.

VIOLÊNCIA POLICIAL NAS PRISÕES
Do isolamento à autonomia do recluso
Por José de Almeida Brites, Administrador da Associação O COMPANHEIRO
Longínquo vai o tempo em que o isola-
mento do indivíduo, como medida re-
pressiva, era entendido, como a única
forma de castigar e punir. Na passagem
dos últimos anos, orquestraram-se po-
tenciais encenações de mudança num
Sistema Penitenciário que se pretende
mais igualitário, humanizado e ressoci-
alizador, objectivando a inclusão – numa
clara assumpção do que se designa ou
pretende designar de Justiça Restaura-
tiva.
Novas medidas foram estudadas e im-
plementadas: Nova humanização do es-
paço de reclusão, agora, mais atractivo
e menos desumanizante e estigmati-
zante; Formação especializada e técnica
aos principais agentes nas prisões, in-
terventores na segurança, educação e
formação dos reclusos, versando maior
harmonia no relacionamento intra e in-
terpessoal, responsabilização e promo-
vendo a autonomia do recluso; Alteração
ao teor substantivo e material da lei
(Código Penal) e adjectivo (Código Pro-
cesso Penal), visando a minimização do
sofrimento (do recluso) e maximização
do lucro (da sociedade).
A materialização destas medidas revela-
-se, no entanto, num olhar suslaio do ci-
dadão anónimo, insuficiente e em muitos
aspectos infrutífera no desenvolvimento
e na promoção das próprias competên-
cias do recluso que, além da privação
da liberdade, se vê num sistema per si
coarctado a potenciais mudanças numa
previsibilidade de reincidência.
Nunca antes o homem moderno se cons-
ciencializou tanto para que a existência
da utopia se torne real, a própria anti-
-utopia terá forçosamente de existir e
com ela toda a criminalidade e distúrbios
Notícias • Amnistia Internacional 13
© Anjum Naveed/AP/PA Photo
associados ao mundo urbano, um mundo
em que o tempo não mais tem a base
da ampulheta, nada estagna, tudo se
desenvolve através de variações adap-
tativas do homem em relação ao seu
meio, uma adaptação que por vezes não
encontra significado na família urbana,
onde o espaço territorial, a prisão, ONG´s,
IPSS´s e outros é momentâneo, de redu-
zida durabilidade, sem integração numa
rede social que jaz nas memórias de ge-
rações anteriores.
Residirá então aqui o epicentro da razão
pelo qual continuamos a assistir a uma
violência física e psicológica gratuita,
camuflada nas nossas prisões? O que
mudou?... É suficiente para pensar que
estamos no caminho certo? E o paradigma
da (im)punidade que assiste aos polícias
e guardas prisionais? E a ética e os direi-
tos humanos? E o que falta fazer?...
14 Notícias • Amnistia Internacional
São todavia, demasiadas perguntas para
uma resposta única e em uníssono; onde
interagem variadíssimos actores soci-
ais, com sensibilidades que nem sem-
pre convergem naquilo que será a nosso
ver o objectivo da reinserção, balizados
por inúmeros: Tratados prisionais (ONU,
1957); Regras Penitenciárias (Conselho
da Europa em 2006); Medidas Privativas
de Liberdade (Dec.-Lei nº 265/79 de 01
de Agosto com alterações ao DL nº 49/80
de 22 Março); Lei Orgânica, manuais e
regulamentos internos dos Estabeleci-
mentos Prisionais; Comunicação social,
mediatização e seu respectivo ruído so-
cial… Enfim! Resta apregoar o excesso
de “zelo” policial, infinitas vezes des-
mesurado e incompreensível; denúncias
de maus tratos e as condições desuma-
nas em que alguns reclusos permanecem
nos EP´s – Espaço de gerações de conflito
e gestão de equilíbrios.
Anos de trabalho diário com reclusos, ex-
reclusos e suas famílias, permitem-nos
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES
Violência Doméstica
Por Elisabete Brasil, da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta
Não podemos falar de violência contra
as mulheres e de violência de género,
sem falar daquela que contra as mu-
lheres ocorre no espaço doméstico, uma
vez que continua a ser importante dar
visibilidade aos maus tratos perpetra-
dos contra as mulheres na esfera do-
méstica, pelos maridos e companheiros.
Não obstante, não podemos olvidar que
quando falamos de violência contra as
mulheres, esta compreende qualquer
acto de violência baseada no género que
resulte, ou possa resultar, em danos ou
sofrimentos físicos, sexuais ou psíquicos
creditar que o meio é úbere na criação e
estimulação de experiências diversas, o
que constitui um desafio crucial às ca-
pacidades adaptativas do homem e que
o fenómeno carceral, além de cimentar os
factores intrínsecos, per si não justifica
nem conduz à ontogenia da violência mas
que na combinação com os factores exter-
nos, desajustados e desadaptados: con-
duzem ao crime. A urgência de profundas
alterações colapsam na sua maioria em
medidas estruturais enquistadas numa
legislação, elaborada com fins inclusivos
e com práticas punitivas, secundarizando
a promoção de competências pessoais e
sociais do recluso. Tornam-se, deste modo
emergentes metodologias de intervenção,
visando um maior aproveitamento das
capacidades intrínsecas do indivíduo,
potenciando mudança e maior probidade
nas políticas sociais.
WWW.COMPANHEIRO.ORG
das mulheres, quer ocorra no espaço pú-
blico, quer privado, situando o tema da
violência contra as mulheres muito além
da que é praticada nas relações de in-
timidade ou familiares.
É esta a perspectiva da UMAR que en-
tende a violência exercida contra as mu-
lheres como um fenómeno estrutural,
um facto social e não apenas como um
fenómeno baseado em comportamentos
individuais. Por este facto, estrutura a
sua acção e discurso no conceito de vio-
lência de género, justificando a violência
contra as mulheres independentemente
do espaço em que a mesma ocorra, em
factores que assentam em estereóti-
pos, identificação de papéis e valores
sociais de género que desempoderam e
discriminam as mulheres e que criam e
perpetuam as desigualdades que sobre
elas ainda persistem, pelo simples facto
de terem nascido mulheres.
UNIVERSO PRISIONAL PORTUGUÊS
(no segundo trimestre de 2008)
• 11.152 pessoas: 10.427 homens e 725
mulheres
Dados da Direcção-Geral dos Serviços
Prisionais
Um relatório do Comité Europeu para
a Prevenção da Tortura e das Pe-
nas ou Tratamentos Desumanos ou
Degradantes, publicado a 25 de Janeiro
de 2007, denuncia casos de violência
policial nas visitas realizadas em 2003
às instalações prisionais portuguesas.
Relatório disponível em www.cpt.coe.
int/documents/prt/2007-13-inf-fra.
htm#_Toc78181879
Porém, é sobre a violência doméstica que
a intervenção em Portugal se tem centra-
do e na qual o investimento do Estado e
das políticas sociais se têm desenvolvi-
do, criando respostas de atendimento
e acolhimento, assim como legislação,
planos nacionais e campanhas de sen-
sibilização.
Neste contexto, faz pois sentido par-
ticularizar a violência exercida contra as
mulheres no espaço doméstico, vulgo vi-
olência doméstica. Ao que a esta diz res-
peito verificamos em Portugal, em espe-
cial após 2000, ano em que este tipo de
crime assumiu natureza pública, a um
acréscimo de visibilidade do fenómeno
para o que concorrem a acção das ONG,
o enfoque dos média sobre a temática,
estudos e investigações académicas, a
aprovação e implementação de Planos
Nacionais Contra a Violência doméstica,
campanhas de prevenção, assim como o
aumento dos recursos nesta área.

Poster a propósito da campanha “Acabar com a Violência sobre as Mulheres”, criado pela secção húngara da Amnistia Internacional.
Correspondentemente a este somatório,
tem-se assistido a um aumento na pro-
cura dos serviços de apoio e protecção,
assim como a um aumento nos registos
das forças policiais no que a este tipo de
crime diz respeito. Contudo, não existem
indicadores que nos permitam concluir
que este é um fenómeno em escalada,
mas antes que existe uma maior confi-
ança no sistema de apoio e uma maior
percepção da violência como crime, não
como um fado.
*Dados retirados do Memorando Síntese: Resultados do Inquérito à Violência de Género, de 2008. Um estudo coordenado
por Manuel Lisboa e realizado pela SociNova/CesNova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova
de Lisboa.
DADOS SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA AS
MULHERES (DE 2007) *
• Uma em cada três mulheres indica ter
sido vítima de violência, ou seja, 38,1%
das inquiridas (com mais de 18 anos, no
Continente)
• Tipo de violência exercida: física
(22,6%), sexual (19,1%), psicológica
(53,9%) e discriminação social (52,9%)
• Metade das mulheres que sofrem violên-
cia recebem-na sob a forma de violência
doméstica, ou seja, é em casa que há
maior probabilidade de serem vítimas de
violência
• Principais autores da violência sobre
as mulheres: os homens (mais de 75%
dos casos), predominantemente os côn-
juges, companheiros ou namorados (ou ex)
Neste sentido, defendemos a continu-
ação e aprofundamento das demandas e
acção em torno da violência doméstica,
de defesa de direitos humanos funda-
mentais e à sua plena fruição. Defende-
mos ainda o ajustamento do código de
processo penal português que, a não ser
corrigido, perpetuará o recurso às casas
de abrigo como única forma eficaz de
protecção de milhares de mulheres e cri-
anças, votando-as a uma dupla vitima-
DADOS SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA OS
HOMENS (DE 2007) *
• 49,7% dos inquiridos dizem ter sido víti-
mas de violência (com mais de 18 anos).
Porém, esta é uma violência de natureza
diferente da exercida sobre as mulheres,
não se baseando no género
• Tipo de violência exercida sobre os
homens: física (41,7%), sexual (6%),
psicológica (60,8%) e discriminação
social (18,7%)
• A probabilidade de violência doméstica
sobre os homens é três vezes menor do
que sobre as mulheres. Os locais mais
prováveis de ocorrer violência sobre os
homens são os espaços públicos ou o local
de trabalho
• Principais autores da violência sobre
os homens: homens ou mulheres, em
igual percentagem, predominantemente
desconhecidos e colegas
Notícias • Amnistia Internacional 15
© Craig Hull
ção, ao desenraizamento social, cultural,
laboral e familiar, oferecendo ao perpe-
trador do crime, o recato do lar.
WWW.UMARFEMINISMOS.ORG
José Félix Duque, Assessor Técnico da Di-
recção, Associação Portuguesa de Apoio à
Vítima (APAV), a propósito de Violência so-
bre as mulheres e Violência Doméstica
“A visibilidade da violência doméstica
tem aumentado na última década, em
Portugal. Não significa necessariamen-
te que a violência doméstica, em si,
tenha aumentado. Se, numa sociedade,
a violência doméstica passa a ser um
crime público e se há um debate cons-
tante sobre os seus mais variados
aspectos, é natural que as vítimas sin-
tam maior segurança e estejam mais
informadas sobre os seus direitos. Daí
que denunciem, elas próprias, o crime,
ou crimes, de que foram ou estão a ser
vítimas.
Os dados da APAV, que desde 1990
tem vindo a recolher e a publicar da-
dos estatísticos fidedignos, apontam
para um crescendo da visibilidade e
não do aumento da violência domésti-
ca. Os dados disponíveis quanto ao
primeiro semestre de 2008, indicam
que continua a existir uma maioria de
mulheres vítimas (86%) em 3.659 pro-
cessos de apoio iniciados. Nestes pro-
cessos, foram maioritários os crimes
de violência doméstica: 7803 crimes
(89,7%)”.
Site Oficial: WWW.APAV.PT
16 Notícias • Amnistia Internacional
LUTA CONTRA O TERRORISMO
E protecção dos direitos fundamentais
Por Carlos Coelho, Deputado ao Parlamento Europeu
O primado da dignidade humana e a pro-
tecção dos seus direitos fundamentais
não admite relutâncias ou hesitações.
Quando se começa a ceder sabe-se como
começa mas não se sabe como termina.
E a luta contra o terrorismo, tal como a
luta contra todas as outras formas de ac-
tividade criminosa deve ser feita dentro
dos mecanismos do Estado de Direito,
respeitando a Lei e não desprezando os
Direitos Humanos.
Atropelar os Direitos Fundamentais gera
o arbítrio, maltrata inocentes, desacredi-
ta a Justiça e leva agentes das forças da
ordem a violarem a Lei.
Invocar a eficácia da luta contra o ter-
rorismo para justificar a violação dos Di-
reitos Humanos é conceder uma primeira
vitória aos terroristas que nos obrigariam
a ceder os nossos valores essenciais e a
baixar o nível de respeito pelas pessoas
aos patamares de desrespeito de que eles
são um expoente. Também aqui temos de
manter o princípio de que os fins não
justificam os meios.
Foi em nome destes princípios comuns
que o Parlamento Europeu investigou
o que se passou com o programa desi-
gnado por “Extraordinary Renditions” e
as acções da CIA na Europa.
Procurámos apurar o que de facto acon-
teceu e assegurar que medidas e pre-
cauções sejam adoptadas de forma a
impedir (ou tornar muito mais difícil) que
o mesmo ocorra novamente no futuro.
Em causa estiveram:
• o transporte ilegal de prisioneiros;
• a existência de prisões secretas; às instituições europeias a capacidade
• a utilização de tortura. de verificar a existência de um risco um
risco manifesto de violação grave de al-
O Parlamento Europeu apurou que, ao
gum desses princípios por parte de um
contrário do que alguns tentaram afir-
Estado-Membro definindo os procedi-
mar (numa lógica de seguidismo cego
mentos e as sanções aplicáveis).
face a Administração Bush), houve mes-
mo ilegalidades cometidas na Europa em
nome da oportunidade da luta contra o
terrorismo. Mesmo com a má vontade e
recusa de colaboração de alguns Go-
vernos, o Parlamento Europeu investigou
e chegou a conclusões.
Houve países europeus e responsáveis
políticos, juristas, polícias e agentes dos
serviços secretos envolvidos em prisões
secretas, em práticas de tortura e em de-
saparecimentos forçados violando a lei
internacional e o direito nacional.
Com uma confortável maioria, o Parla-
mento Europeu aprovou diversas reco-
mendações às Instituições europeias e
aos Estados-Membros para garantir que © Steve Dupont
o mesmo atropelo aos Direitos Funda- Um guerrilheiro talibã no Afeganistão.
mentais não se possa repetir.
O que urge agora fazer é muito simples: • Pelo menos 1.245 voos operados pela
CIA sobrevoaram o espaço aéreo europeu
Analisar em que medida as instituições ou fizeram escala em aeroportos europeus,
europeias e os Estados-Membros deram entre o final de 2001 e o final de 2005.
ou não consequência ao que aprovámos
• Em Portugal registaram-se 91 escalas
em Fevereiro de 2007 e, no caso em que de aeronaves operadas pela CIA e foi
nada ou pouco foi feito, perguntar sim- demonstrada uma profunda preocupação
plesmente: porquê? pelo propósito de tais voos. Pelo menos
três provinham ou destinavam-se a
Sei que algumas vozes se irão levantar Guantánamo.
questionando a nossa decisão de inter-
pelar países e instituições mas estou de
Dados do relatório final do Parlamento
consciência tranquila: as pessoas para Europeu sobre a alegada utilização dos
mim estão no centro da actividade po- países europeus pela CIA para trans-
lítica. É delas que recebemos o mandato, porte e detenção ilegal de prisioneiros
é para elas que temos de trabalhar, são (aprovado em Fevereiro de 2007).
os seus direitos que temos que proteger e
é algo para que os Tratados nos dão com-
petência (os artigos 6.º e 7º TUE recor-
Informação sobre as Detenções Secretas
norte-americanas e o papel da Europa, no
dam que a União assenta nos princípios relatório da Amnistia Internacional “State
da liberdade, da democracia, do res- of Denial: Europe’s Role in Rendition and
peito pelos direitos do Homem e pelas Secret Detention”, de Junho de 2008.
liberdades fundamentais, bem como do Acessível em:
www.amnesty.org/en/library/info/
Estado de direito, princípios que são co-
EUR01/003/2008/en
muns aos Estados-Membros e atribuem

MIGRAÇÕES
Por José de Melo Alexandrino, Professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Este contentor foi usado para deter imigrantes ilegais na Grécia, num tratamento cruel, desumano e degradante.
No quadro da União Europeia, foi só após
a entrada em vigor do Tratado de Ames-
terdão (1999) que se definiu a neces-
sidade de estabelecer uma abordagem
coerente das políticas de asilo e de imi-
gração.
Foram deste modo desenhados e aprova-
dos, na última década, diversos instru-
mentos tendentes à adopção de princípios
e procedimentos comuns em matéria de
asilo, gestão dos fluxos migratórios, inte-
gração de cidadãos de países terceiros e
luta contra a imigração ilegal – sem que
se possa todavia falar de uma “lei eu-
ropeia da imigração”, desenvolvendo a
União Europeia uma acção complemen-
tar da acção dos Estados (mesmo após o
Tratado de Lisboa).
Embora procurando adoptar uma pers-
pectiva abrangente dos problemas, nos
últimos anos o acento tónico parece ter
sido posto na definição de uma política
de afastamento e repatriamento (cul-
minando na aprovação pelo Parlamento
Europeu, já em 2008, da muito contesta-
da Directiva de Retorno) e não tanto na
articulação com a ajuda ao desenvolvi-
mento ou na concertação de esforços
com os países de origem (como parecia
decorrer das decisões saídas da Decla-
ração de Tripoli).
Elementos positivos das políticas euro-
peias de imigração têm sido o cuidado
posto nas condições de integração, no
combate ao tráfico de pessoas e na igual-
dade de tratamento, bem como o esta-
belecimento de regras e mecanismos de
cooperação entre os Estados membros;
de sinal contrário são um evidente fecha-
mento da Europa e um excesso de dureza
no que se refere à imigração ilegal (por
via da burocratização nas admissões, de
uma certa tendência criminalizadora ou
do regime de detenção).
Tal como no plano político, também as
leis de imigração portuguesas denotam
uma franca sintonia com as estratégias
europeias, sobretudo no que respeita ao
padrão de resposta ao problema da imi-
gração ilegal.
Induzida pelo Direito europeu e marcada
por uma intenção de flexibilizar as regras
e os procedimentos aplicáveis, a nova lei
de imigração (Lei n.º 23/2007, de 4 de
Julho) tem entre os seus pontos fortes a
redução do número dos títulos de residên-
cia, a criação de um único tipo de visto
para fixação de residência (ainda que
condicionado a um contingente global,
que não se tem revelado particularmente
exequível), o favorecimento do reagrupa-
mento familiar (estendido a membros da
família que se encontrem em território
nacional, mesmo em situação irregular),
a consagração de uma série de garantias
(nomeadamente a proibição da prisão
Notícias • Amnistia Internacional 17
© Refugee Solidarity Committee
preventiva, a previsão de limites à expul-
são e a proibição de expulsão para país
onde a pessoa possa ser perseguida ou
sofrer tortura, tratamento desumano ou
degradante) e sobretudo o novo regime
de protecção concedido às vítimas de
tráfico de seres humanos e, em geral, a
atenção dada aos menores.
Entre os seus pontos fracos contam-se
todavia o excesso de regulação, a in-
flação de regimes especiais (o que vem
agravar a amplitude dos poderes discri-
cionários da administração) e a tradicio-
nal debilidade de articulação entre a lei
e as estruturas sociais.
• A 4 de Julho de 2007 foi aprovada em
Portugal a Lei n.º 23/2007, que regula a
Entrada, Permanência, Saída e Afastamen-
to de cidadãos estrangeiros, comummente
conhecida como a nova Lei da Imigração.
• A 18 de Junho de 2008, o Parlamento
Europeu aprovou a Directiva do Retorno
de imigrantes ilegais, que representa um
primeiro passo para a adopção de uma
política única de imigração na Europa.
A Directiva visa promover o regresso
voluntário ao país de origem e estabelecer
normas comuns para esse retorno. Entre
as medidas mais controversas está a
possibilidade dos estados deterem, até
seis meses, os cidadãos estrangeiros em
situação ilegal, e o facto de, num prazo de
cinco anos, os ilegais identificados ficarem
interditos de entrar na União Europeia.
18 Notícias • Amnistia Internacional

EM ACÇÃO
Mulheres de Conforto - 60 anos à
Os crimes sexuais são armas de Guerra altamente eficazes: minam a moral do inimigo e deixam sequelas
espera de Justiça
INTERNACIONAL

silenciosas, mas graves, que duram uma vida inteira. Há seis décadas, o Exército Imperial Japonês cap-
turou milhares de mulheres que foram indiscriminadamente abusadas e violadas. Esta é a sua história
Por Raquel Pinheiro

© Arquivos Nacionais dos EUA

Algumas Mulheres de Conforto, no ano de 1943, na China, junto a um soldado do Exército Imperial Japonês. Uma delas está visivelmente nos últimos meses de gravidez.

São conhecidas as histórias de violência
sexual durante os tempos de Guerra: este
tipo de crime é tão antigo e comum como
a impunidade que lhes está na maior
parte das vezes associada. De facto,
numa época em que é cada vez maior a
sensibilidade da comunidade internacio-
nal para com a necessidade de proteger
os Direitos Humanos, as vítimas dos cri-
mes sexuais perpetrados em contexto de
Guerra continuam, na maior parte das
vezes, a ver negado o acesso à justiça.
Um dos exemplos mais flagrantes é o das
“Mulheres de Conforto”, expressão eu-
femística que designa um sistema insti-
tucionalizado durante a Segunda Guerra
Mundial que levou perto de 200 mil mu-
lheres à escravidão sexual. Desde o ano
de 1932 até ao final da Guerra, estas mu-
lheres viveram, sob conivência do estado
japonês, em Estações de Conforto, es-
trategicamente distribuídas nas regiões
ocupadas pelo Exército Imperial Nipónico
(Ásia Ocidental, Sudoeste Asiático e Ilhas
do Pacífico). Algumas iam aliciadas com
propostas de trabalho em zonas longín-
quas, tentando ajudar a família perante
a crise económica que se fazia sentir. Ou-
tras eram simplesmente raptadas à porta
da escola ou em casa.
A VIDA NAS ESTAÇÕES DE CONFORTO
Menen Medina-Castillo, de 79 anos,
tinha apenas 13 quando um grupo de sol-

dados entrou na sua casa, nas Filipinas,
e a levou para uma Estação de Conforto:
“Uma manhã, em 1942, estava a brin-
car no jardim quando as tropas japone-
sas invadiram a nossa vila. As pessoas
começaram a correr e a esconder-se e
eu fiz o mesmo. Os soldados entraram,
revistaram a casa e encontraram-me no
quarto. Agarraram-me pelos braços e
pelas pernas, como um porco, e obriga-
ram-me a entrar num jipe estacionado
à porta de casa. Tudo o que conseguia
ouvir eram ameaças e pensava que ia
ser executada”.
Menen foi colocada numa Estação de
Conforto. Durante o dia, trabalhava: ser-
via comida, limpava, lavava a loiça e a
roupa dos soldados. À noite era violada,
por vezes, por mais de cinquenta homens
diferentes. “Sempre que tentava resistir
era agredida e as feridas nunca chega-
vam a sarar. Entrei em choque devido ao
trauma e à minha pouca idade. Adoeci
ao quarto dia”, recorda. As Estações de
Conforto funcionavam de forma diferente
consoante a sua localização, mas o in-
tuito era sempre o mesmo. Na China, por
exemplo, as mulheres não trabalhavam,
mas tinham de se preparar durante a
manhã para receberem os soldados de
tarde. Eram quase sempre raparigas
menores de idade e fugir era impensável.
“Algumas tentavam”, conta Gil Won Ok,
de 81 anos, natural da Coreia, “mas se
uma escapava, as outras eram castiga-
das e sofriam ainda mais.”
SOBREVIVER AO CHOQUE
Gil Won Ok chegou a uma Estação de
Conforto na China com 12 anos, tendo
sido iludida com promessas de emprego.
Aqui permaneceu durante quatro anos,
durante os quais viu a sua saúde ficar
cada vez mais frágil. Em clausura, sofreu
de sífilis, de cancro nos ovários e aos 16
anos já era infértil. No entanto, nada im-
pediu que fosse diariamente molestada.
Isto até um dia do ano de 1945, quando
os supervisores da Estação de Conforto
onde se encontrava, desapareceram. A
Guerra tinha acabado, mas só alguns
dias depois as Mulheres de Conforto per-
ceberam que podiam fugir.
Algumas raparigas foram proibidas de
entrar na sua vila, por serem conside-
radas impuras e trazerem vergonha à
família. No entanto, muitas conseguiram
refazer as suas vidas, dentro do possí-
vel. A maior parte vive ainda hoje numa
situação de pobreza extrema, sem apoio
médico ou financeiro do estado. E seis
décadas depois de tudo acabar, muitas
permanecem entregues ao silêncio e ao
esquecimento, com receio de que o so-
frimento e a humilhação por que pas-
saram dê origem ao estigma da “mulher
impura”.
Gil Won Ok só contou a sua história de-
pois de fazer 60 anos. “Senti vergonha
do que o meu filho adoptivo pudesse
pensar e tive medo de que perdesse o
respeito por mim”, diz. Hoje participa
© Amnistia Internacional
Menen Castillo, hoje com 79 anos, e Gil Won Ok, de 81 anos,
numa acção da Amnistia Internacional.
activamente nas manifestações das “Lo-
las Kampanyera para sa Kapayapaan at
Kumpensasyon” (ou “Avós em Campanha
pela Paz e Compensação”), um movimen-
to iniciado nos anos 90 por sobreviventes
do sistema das Mulheres de Conforto que
quebraram o silêncio na tentativa de ob-
ter justiça. É nas gerações mais novas
que depositam toda a sua esperança.
O MOVIMENTO INTERNACIONAL
Apesar da existência de documentos e
relatórios que comprovam a conivência
do estado nipónico no sistema de escra-
vatura sexual, esta realidade nunca foi
oficialmente reconhecida pelo governo
japonês. As vítimas ainda não receberam
qualquer satisfação pelos crimes co-
metidos, compensação ou apoio finan-
ceiro. “Eles continuam a recusar dizer
Notícias • Amnistia Internacional 19
a verdade ou oferecer um pedido de
desculpas sincero. E uma compensa-
ção não tem qualquer valor sem um
pedido de desculpas oficial. Além disso,
mesmo que o fizessem, não iriam curar
os nossos corpos ou devolver as nossas
vidas”, diz Gil Won Ok.
A campanha “Acabar com a Violência so-
bre as Mulheres”, da Amnistia Interna-
cional, veio em 2004 ajudar a dar voz a
estas mulheres que lutam para que atro-
cidades como a de que foram vítimas não
sejam esquecidas. Até porque, reconhece
Gil Won Ok, “sei hoje que há muito mais
mulheres como nós no mundo”. A recusa
de justiça aumenta a humilhação das
vítimas e o silêncio permite que tragédias
como esta continuem a acontecer.
Gil Won Ok e Menen Castillo são apenas
duas das muitas Mulheres de Conforto
que sofreram nas mãos do Exército Im-
perial Japonês. Dando voz a todas elas,
apelam aos portugueses: “em nome da
paz, da justiça e de todas as que não
sobreviveram, não permitam que a nos-
sa história seja esquecida.
AJUDE-NOS A DAR VOZ ÀS MULHERES DE
CONFORTO:
• enviando uma carta ao Embaixa-
dor Japonês em Portugal (em inglês)
apelando a que exija ao governo do Japão
um pedido oficial de desculpa, para: His
Excellency Ambassador Satoshi Hara,
Avenida da Liberdade, 245 - 6.º, 1269-
033 Lisboa. Carta-tipo em www.amnistia-
internacional.pt, na área dedicada às
“Mulheres” na rubrica “Campanhas”;
• enviando cartas e postais de solidarie-
dade para as Mulheres de Conforto (em
inglês), para os endereços disponíveis no
mesmo local.
Para saber mais sobre as Mulheres
de Conforto, a sua história, factos e
números, ver o relatório da Amnistia
Internacional intitulado Japan: Still Wait-
ing After 60 years: Justice for Survivors of
Japan’s Military Sexual Slavery System,
de 2005, disponível em:
www.amnesty.org/en/library/info/
ASA22/012/2005
20 Notícias • Amnistia Internacional
A importância dos Grupos e Núcleos
A Amnistia Internacional é um movimento que está presente em todo o mundo. Com sede em Londres, tem
em cada país uma secção que visa alertar a opinião pública e os governos para os problemas de direitos
humanos. A AI Portugal está sedeada em Lisboa e conta com a ajuda de grupos e núcleos locais para
fazer chegar os direitos humanos a todos os cantos do país. Vamos em cada número do Notícias da AI dar
destaque a algumas das suas acções
A PROMOÇÃO DO DEBATE
PÚBLICO
Os grupos e núcleos têm ajudado a Am-
nistia Internacional a promover o de-
bate em torno de questões de direitos
humanos, procurando assim sensibili-
zar a sociedade para estas temáticas.
Destacamos o papel do Núcleo de Ma-
tosinhos, que completou um ano de exis-
tência e está de parabéns pelas suas
muitas iniciativas. Entre elas contam-
-se palestras, jantares e outros eventos
que têm estimulado o debate público em
torno de temas como a discriminação e a
violência sobre as mulheres.
É ainda de referir, neste âmbito, o pa-
pel do Grupo Local 22, de Aveiro, que já
se tornou conhecido pelas tertúlias que
Locais da Amnistia Internacional
organiza regularmente. A última versou
sobre os problemas ambientais. O Grupo
Local 6, do Porto, promoveu também a
discussão pública tendo por base os Jo-
gos Olímpicos de Pequim e o Aniversário
do Dalai Lama.
EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS
HUMANOS
Os grupos locais são um importante
aliado da Amnistia Internacional numa
das suas mais importantes funções - a
educação para os direitos humanos. Des-
tacamos a este nível a sessão que o Nú-
cleo de Estremoz realizou, em Junho, na
Escola Básica Sebastião da Gama, tendo
sido convidado por uma aluna do 5.º ano,
que tinha feito um trabalho sobre a AI.
NACIONAL
Os membros do Núcleo de Crianças, de
Vila Nova de Famalicão, dedicam-se ex-
clusivamente à formação dos mais no-
vos e a 31 de Maio, Dia Mundial da Cri-
ança, promoveram uma actividade bem
original: construir o Dragão dos Direitos
Humanos, com pequenos rectângulos de
tecido.
SENSIBILIZAR A
OPINIÃO PÚBLICA
Diz o ditado popular que “duas cabeças
pensam melhor do que uma”. É também
esse o entendimento da AI Portugal, que
ramificada em grupos e núcleos, engloba
mais de uma centena de activistas que
contribuem com novas ideias para levar
mais longe a voz dos direitos humanos.
Poderíamos apresentar muitos exemplos,
mas vamos centrar-nos em duas formas
diferentes, mas igualmente importantes,
de intervenção.
Uma é aquela que tradicionalmente se
associa à AI, ou seja, as acções de rua.
A este nível temos necessariamente de
referir o Co-Grupo da China, que com o
aproximar dos Jogos Olímpicos de Pequim
saiu várias vezes às ruas, ajudado por
alguns grupos locais, para lembrar que
são violados direitos humanos na China,
particularmente no que diz respeito à
liberdade de expressão. Uma outra forma
de chegar à sociedade é a que adoptou
o Grupo de Estudantes da Faculdade de
Direito de Lisboa, ao criar a Newsletter
“Amnistia-te” e o blog www.amnistia-
te.blogspot.com.

GRUPO DE ESTUDANTES
DE ERMESINDE PARTILHA
EXPERIÊNCIAS
O Grupo de Estudantes da Amnistia In-
ternacional da Escola Secundária de Er-
mesinde teve um último dia de aulas bem
diferente, quando a 6 de Junho os jovens
se sentaram à sombra das árvores para
aprender com a Biblioteca Humana pela
Igualdade de Oportunidades e Intercul-
turalidade.
O objectivo era estimular a reflexão so-
bre estas temáticas e para tal criou-se
uma biblioteca que tinha como particu-
laridade o facto de ser “humana”. Ou
seja, os tradicionais livros em papel de-
ram lugar a pessoas que representavam
grupos que são vítimas de preconceitos,
discriminação e exclusão social. Isto per-
mitiu um momento único de partilha e de
interacção entre os jovens e os adultos
presentes, numa forma inovadora de
educação para os direitos humanos.
A iniciativa partiu da Federação das As-
sociações Juvenis do Distrito do Porto
(FAJDP), que nos meses de Maio e Junho
percorreu as escolas do distrito com esta
biblioteca itinerante.
A Amnistia Internacional Portu-
gal realizou no passado dia 27
de Setembro o exercício anual
de auto-avaliação, procurando
assim detectar as suas principais
fraquezas e colmatá-las. Tal só foi
possível graças à Escola Supe-
rior de Comunicação Social, que
amavelmente nos cedeu uma sala.
© FAJDP
© FAJDP
Notícias • Amnistia Internacional 21
PODE CONTACTAR OS GRUPOS E NÚCLEOS DA
AMNISTIA INTERNACIONAL ATRAVÉS DE:
(Coordenadores e emails/blogs)
GRUPO LOCAL 03 - Oeiras • Lucília José Justino,
zjustino@gmail.com
GRUPO LOCAL 06 - Porto • Virgínia Silva,
amnistia-internacional-porto@googlegroups.com
/ aiporto.blogspot.com
GRUPO LOCAL 14 - Lourosa • Valdemar Mota,
aigrupo14@gmail.com
GRUPO LOCAL 16 - Ribatejo Norte •Yvonne Wolf,
yvonne_wolff@adsl.xl.pt
GRUPO LOCAL 18 - Braga • José Luís Gomes,
ai18braga@gmail.com
GRUPO LOCAL 19 - Sintra • Fernando Sousa,
ai.grupo19@gmail.com / grupo19aisp.no.sapo.pt
GRUPO LOCAL 24 - Viana do Castelo • Luís
Braga, luismbraga@sapo.pt
GRUPO LOCAL 32 - Leiria • Maria Fernanda
Ruivo, fernanda.ruivo@sapo.pt
GRUPO LOCAL 33 - Aveiro • Joana Valente,
amnistiaveiro@gmail.com /
amnistiaveiro.blogspot.com
GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS DIREI-
TOS HUMANOS • Fernanda Sousa,
mfpsousa@sapo.pt
NÚCLEO DE ALMADA • Marlene Oliveira da
Conceição, ai.nucleoalmada@gmail.com /
ai-nucleoalmada.blogspot.com
NÚCLEO DO OESTE - Caldas da Rainha • Teresa
Mendes, ai.nucleooeste@gmail.com
NÚCLEO DE CASTELO BRANCO • Ana Catarina
Neves, ai_nucleo_castelobranco@yahoo.com /
amnistiacastelobranco.blogspot.com
NÚCLEO DE CRIANÇAS-Vila Nova de Famalicão •
Vitória Triães, ainuc@sapo.pt
NÚCLEO DE ESTREMOZ • Maria do Céu Pires,
amnistiaetz@gmail.com
NÚCLEO DE TORRES VEDRAS • Ana Lopes, aitor-
resvedras@gmail.com /
aitorresvedras.blog.comunidades.net
NÚCLEO DE MATOSINHOS • Otília Gradim
Reisinho, amnistia.matosinhos@gmail.com /
nucleodematosinhos.blogspot.com
NÚCLEO DE GUIMARÃES • Cristina Lima,
amnistia.guimaraes@gmail.com
CO-GRUPO DA CHINA • Maria Teresa Nogueira,
nogueiramariateresa@gmail.com
CO-GRUPO DA PENA DE MORTE • Raul Gaião,
raullealg@gmail.com
GRUPO DE JURISTAS • Sónia Pires,
sonia.c.pires@gmail.com
GRUPO DE ESTUDANTES DA ESC. SEC. DE ER-
MESINDE • Maria Arminda Sousa,
ai-ese@sapo.pt / ai_ese.blogs.sapo.pt
GRUPO DE ESTUDANTES DA ESC. SEC. FILIPA DE
VILHENA • Carla Ferreira,
carlafariaferreira@hotmail.com
GRUPO DE ESTUDANTES DO ISCTE • Ana Mon-
teiro, amnistiaiscte@yahoo.com
GRUPO DE ESTUDANTES DA ESC. SEC. ANTERO DE
QUENTAL • Fernanda Vicente,
antero.quental@mail.telepac.pt
GRUPO DE ESTUDANTES DO COLÉGIO DE SÃO
MIGUEL • Prof. Sérgio, ai_csm@live.com.pt
GRUPO DE ESTUDANTES DA FACULDADE DE
DIREITO DE LISBOA • Ana Matos Ferreira,
nucleoai.fdul@gmail.com
22 Notícias • Amnistia Internacional

Prémio Amnistia Internacional no INDIELISBOA

Decorreu de 24 de Abril a 4 de Maio a 5ª edição do IndieLisboa – Festival de Cinema Independente de
Lisboa, onde foi atribuído o prémio Amnistia, que resulta da parceria estabelecida com aquele festival e
pretende distinguir o filme que melhor retrate aspectos relacionados com o trabalho da AI. Este ano o júri
composto pela actriz e modelo Soraia Chaves, o actor Mário Redondo e a jornalista Laurinda Alves atri-
buiu o prémio ao filme “Dom Roberto’s Shadow”. Reflectindo a qualidade dos filmes candidatos, houve
ainda duas menções honrosas: “Terra Sonâmbula”, de Teresa Prata, e “Import Export”, de Ulrich Seidi.
Pela segunda vez o prémio monetário foi patrocinado pela Fundação Serra Henriques
Por Irene Rodrigues
HE - Sim, que os guardas eram quase
tão prisioneiros como os prisioneiros.
Eram rapazes jovens das redondezas
sem educação, a cumprirem o serviço
militar e a obedecerem a ordens. Não se
tinham juntado ao exército por razões
políticas. Isto não quer dizer que não se-
jam responsáveis pelos seus actos. Quer
dizer que a vida é frequentemente mais
complexa e nem sempre é fácil assumir
as rédeas do próprio destino.
AI - Porquê o titulo “Dom Roberto’s
Håkan Engström (HE), um dos realiza- AI - Como foi filmar em Chacambuco?
Shadow” (A Sombra de Don Roberto)?
dores do “Dom Roberto’s Shadow” falou Como é que Saldivar reagiu?
com a AI sobre o filme e o prémio. HE - Sombras da história, sombras da
HE - Começámos as filmagens em Maio
memória, sombras dos mineiros que vi-
AI - Como surgiu a ideia para o filme? de 2003, quase um ano depois de termos
veram naquele local antes do Saldivar,
HE - Basicamente queríamos fazer um desenvolvido a ideia. Uns meses antes,
as próprias sombras no filme e a sensa-
filme. Já tinha trabalhado com o Juan Diego e Annika Busch, a directora de
ção que o Saldivar tem de que vive um
Diego Spoerer em documentários para fotografia, visitaram Chacambuco. O
outro homem com ele lado a lado, como
rádio. O Diego ouviu falar de um eremita Saldivar é um actor nato, não estranhou
se fosse a sua própria sombra. Existem
que vivia numa mina abandonada, e este que uma equipa de cinema vinda do outro
simplesmente demasiadas sombra neste
foi o ponto de partida. lado do mundo estivesse interessada em
filme.
escutar o que ele quisesse dizer. Foi fan-
AI - Queriam filmar algum aspecto da tástico trabalhar com ele. AI - Como foi ganhar este prémio de
história recente do Chile? direitos humanos que privilegia mais o
AI - O júri justificou o prémio com
HE - Atraiu-nos o aspecto geral da activismo?
“...a descoberta do sentido mais pro-
história, que podia ocorrer em qualquer fundo da liberdade, e, finalmente, o HE - Foi bom. Não acho que seja muito
lado. O espectador não precisa de saber encontro consigo mesmo na solidão diferente dos prémios normais porque
muito sobre a história do Chile para per- de uma extrema lucidez quase tornada frequentemente nos documentários é
ceber o filme. É um filme sobre memórias, loucura”. Concorda com esta interpre- difícil separar a realização da escrita.
sobre a vida, sobre as escolhas e sobre tação? Grande parte da escrita do guião é feita
como escolhemos viver a nossa vida. É na sala de montagem, mas também
também sobre a culpa, e talvez também HE - As palavras são muito motivadoras
durante as filmagens e essa é parte da
sobre a reconciliação ou talvez sobre a e concordo com a afirmação. Não o te-
magia do documentário, não consegues
impossibilidade da reconciliação. ria dito tão bem. É difícil dizer qual era
verdadeiramente controlar a acção.
a nossa intenção. A Annika é uma fotó-
AI - Qual foi a reacção do protagonista, grafa fantástica e sabíamos que o filme AI – Gostou de ter feito este filme?
Roberto Saldivar, ao filme? de certa forma seria muito baseado na HE - O que me deixa verdadeiramente fe-
HE - Quando o filme foi exibido em An- imagem. Falámos da estrutura, de como liz é o facto de Saldivar ter visto o filme.
tofagasta, em Agosto de 2008, o Saldi- a história nos influenciava emocional-
Entrevista completa em:
var e a família estiveram presentes. Os mente. Era mais comunicação com o es- www.amnistia-internacional.pt (Aprender/Boletim)
relatos que me chegaram falam de um tômago, como a música.
A Amnistia Internacional Portugal quer agradecer
momento muito comovente, um momento AI - Considera que aprendeu alguma à Fundação Serra Henriques o apoio financeiro
de muito orgulho para Saldivar. coisa com este filme? para o Prémio Amnistia Internacional.

EM ACÇÃO
9º Campo de Trabalho da Amnistia
Participantes do campo de trabalho da Amnistia Internacional do ano passado, em São Pedro do Sul.
Entre os dias 31 de Outubro e 3 de No-
vembro a Amnistia Internacional Portugal
vai organizar, pela nona vez, um Campo
de Trabalho. Durante quatro dias, jovens
de todo o país, com idades compreendi-
das entre os 15 e os 18 anos, vão poder
dedicar-se exclusivamente ao debate de
ideias sobre temas relacionados com os
Direitos Humanos.
A Declaração Universal, que este ano
celebra 60 anos, o trabalho da Amnistia
Internacional e o papel dos Jovens no
activismo são alguns dos temas a serem
abordados. Haverá ainda tempo para
pensar sobre problemas mais concretos
de Direitos Humanos, como a Dignidade
e a Pobreza – aos quais a Amnistia In-
ternacional se vai dedicar de forma mais
premente no próximo ano –, e ao tema
sempre quente da Pena de Morte.
Este ano o Campo de Trabalho vai realizar-
-se na cidade de Albufeira, numa parceria
Internacional
com a Câmara Municipal. Os trabalhos
serão realizados no recentemente inau-
gurado Espaço Multiusos e os jovens irão
ficar alojados no Inatel. A inscrição tem
um custo de 30 euros por participante, o
que inclui materiais, alimentação, aloja-
mento e transporte no local.
Este projecto de educação para os di-
reitos humanos surgiu no virar do século,
numa aposta da Amnistia Internacional
Portugal nas gerações mais novas. É a
primeira vez que se realiza na zona sul
do país, procurando assim dinamizar a
população local para as questões de di-
reitos humanos.
Vem aprender mais sobre os problemas
que se vivem no Mundo e perceber como
todos nós podemos fazer a diferença.
Inscreve-te até ao dia 24 de Outubro e
participa! (programa na página 22)
Notícias • Amnistia Internacional 23
JÚNIOR
© Amnistia Internacional Portugal
“O campo de trabalho acaba por
nos abrir os olhos, torna-nos mais
perspicazes e curiosos sobre
aquilo que está à nossa volta, para
depois nós próprios construirmos
as nossas opiniões”.
Francisco, 16 anos
Participante no 5º Campo de Trabalho
Informações e inscrições no site da Amnistia
Internacional Portugal, em:
www.amnistia-internacional.pt
ou pelo email:
campodetrabalho@amnistia-internacional.
pt.
Para esclarecimentos adicionais contactar
Luísa Marques ou Fernando Marques pelo
213 861 652.
24 Notícias • Amnistia Internacional
PROGRAMA
SEXTA, 31 DE OUTUBRO
13h-14h30 • Chegada e Aloja-
mento
15h • Sessão de abertura
15h30 • Apresentação do Campo
16h30 • Coffee Break
16h45 • A Amnistia Internacional cação e só se pode falar de educação se esta
Visão e Missão
19h-21h • Jantar
21h15 • Noite de Jogos
SÁBADO, 1 DE NOVEMBRO
10h • Activismo Juvenil
11h15 • Coffee break
11h30 • 60 anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos
12h30/14h • Almoço
14h15 • “Campanha Global pela
Dignidade Humana” (1ª Parte)
16h30 • Coffee break
16h45 • “Campanha Global pela
Dignidade Humana” (2ª Parte)
19h30-21h • Jantar
21h30 • Noite de Actividades
(Apresentação dos trabalhos
desenvolvidos)
REDE JOVEM
Estamos à tua espera
Por Ana Monteiro
“Não posso fazer tudo, mas
posso fazer alguma coisa e, por
não poder fazer tudo, não me
recusarei a fazer algo.”
Helen Keller
Estas são as palavras de Helen Keller,
activista e escritora que, apesar de
ter ficado cega e surda com apenas
DOMINGO, 2 DE NOVEMBRO
10h • Pena de Morte – Justiça ou
Crueldade? (1ª Parte)
11h15 • Coffee break
11h30 • Pena de Morte – Justiça ou
Crueldade? (2ª Parte)
13h-14h30 • Almoço
14h45 • “Discriminar Não é
Humano!” (1ª Parte)
16h30 • Coffee break
16h45 •“Discriminar Não é
Humano!” (2ª Parte)
18h30 • Chill out
19h30-21h • Jantar
21h30 • Festa dos Direitos Humanos
SEGUNDA, 3 DE NOVEMBRO
10h • Actividade Lúdica –Espaço
para troca de impressões
11h • Avaliação do Campo
12h30/14h • Almoço
14h • Despedidas
* Este programa poderá sofrer alterações a
nível de horários e sessões.
19 meses, foi a primeira pessoa com este
tipo de incapacidade a terminar a univer-
sidade e lutou para conseguir falar pelas
pessoas a quem eram negados direitos
tão essenciais como a igualdade e a paz.
Foi uma das muitas pessoas que ajudou
a mudar o mundo para melhor. Mesmo
não tendo conseguido realizar tudo o que
queria ou ambicionava, tentou sempre
fazer o que lhe era possível.
É isso que te propomos: fazeres o que for
possível para ajudares a proteger os Di-
reitos Humanos e a falar por quem não
pode usar a sua voz. E como? Através da
CÂMARA MUNICIPAL DE ALBUFEIRA
Este ano o Campo de Trabalho vai ter como
parceira a Câmara Municipal de Albufeira,
que desde o início se mostrou muito recep-
tiva a este projecto educativo. Tentámos
perceber porquê, num curta entrevista com
o Vice–Presidente da Câmara Municipal de
Albufeira, José Carlos Rolo.
AI: Qual a importância de se falar com os
jovens sobre direitos humanos?
CMA: A educação é o alicerce de qualquer so-
ciedade! Uma cidade com qualidade de vida
é uma cidade com elevados índices de edu-
for inclusiva. A inclusão pressupõe sempre o
respeito pela diferença.
AI: Este campo de trabalho insere-se numa
função educativa muitos julgam ser da ex-
clusiva responsabilidade dos governos...
CMA: Consideramos que os apoios não podem
ser da responsabilidade exclusiva de nin-
guém. Cada vez mais consideramos que os
projectos que melhor funcionam são aqueles
em que existe cooperação entre várias insti-
tuições, sejam elas particulares, sejam do
estado.
AI: Que papel tem desempenhado a Câmara
Municipal de Albufeira ao nível da educa-
ção?
CMA: A Câmara tem procurado ao longo dos
anos seguir uma linha no âmbito da educa-
ção que procura ir de encontro às necessi-
dades do Município. Através de planos de dia-
gnóstico, tem-se apostado na formação e na
melhoria dos espaços escolares, quer ao nível
físico, quer ao nível dos recursos humanos. O
nosso objectivo, ou até a nossa missão, é a
de poder humildemente contribuir para que a
sociedade se torne mais forte, mais tolerante
e mais participativa, tentando caminhar para
uma “Albufeira – Cidade Educadora”.
Rede Jovem, uma rede que pretende juntar
os jovens da Amnistia Internacional na
defesa dos Direitos Humanos, promovendo
um ambiente de interajuda e colaboração
na participação em campanhas, apelos e
acções.
A rede ainda não está totalmente opera-
cional, mas está a ser dinamizada de modo
a que isso aconteça muito em breve.
Junta-te a nós. Informa-te e inscreve-te
na Rede Jovem através do email redejo-
vem@sapo.pt. Milhares de pessoas em
todo o mundo contam connosco!
 Notícias • Amnistia Internacional 25

PRESTAÇÃO DE CONTAS
SITUAÇÃO ECONÓMICA E FINANCEIRA
(a 31 de Agosto de 2008)
Estando em cumprimento com as respon-
sabilidades para com fornecedores, Se-
cretariado Internacional e Assembleia da
União Europeia, a AI Portugal apresenta
resultados positivos de cerca de 70.000
Euros, como demonstra o quadro.
Devido à implementação do novo Software
de Gestão “Primavera”, da sua ligação à
nova Base de Dados de gestão de mem-
bros e apoiantes (Salesforce) e respectiva
integração com o sistema de débito di-
recto do Montepio Geral/SIBS, a contabi-
lidade corrente da AI Portugal encontra-se
atrasada, tendo já sido accionados os me-
canismos necessários à sua recuperação
a tempo do fecho contabilístico do ano
fiscal.
Os valores supra apresentados são es-
timados em função das análises dos
resultados mensais de tesouraria. Como
atesta o quadro, o Orçame nto Anual tem
vindo a ser cumprido, destacando-se uma
redução substancial da despesa, devido
ao facto dos custos com o Projecto “Face
to Face” terem sido inferiores ao orçamen-
tado (por nunca se ter conseguido esta-
bilizar os 25 recrutadores previstos). Esta
situação também explica o ligeiro desvio
da receita, que contava com os resultados
desses mesmos recrutadores.
EVOLUÇÃO DE MEMBROS E APOIANTES
(em Julho e Agosto de 2008)
O gráfico que aqui apresentamos vem
comprovar a importância do Projecto
“Face to Face” enquanto método de re-
crutamento de membros e apoiantes da AI
Portugal e, consequentemente, enquanto
forma de angariação de fundos, uma vez
que as receitas da organização são na sua
totalidade oriundas dos donativos e quo-
tas destes elementos. Durante os meses
de Julho e Agosto, o “Face to Face” não
saiu para as ruas e o resultado é bem
visível: somente 26 membros e apoiantes
angariados.

RECEITAS DESPESAS BALANÇO

Janeiro 68.914,23 € 46.197,31 € 22.716,92 €
Fevereiro 71.944,83 € 45.045,99 € 26.898,84 €
Março 69.088,77 € 46.123,34 € 22.965,43 €
Abril 71.476,84 € 52.047,61 € 19.429,23 €
Maio 51.001,00 € 42.282,11 € 8.718,89 €
Junho 68.198,02 € 54.883,04 € 13.314,98 €
Julho 58.775,37 € 65.007,44 € - 6.232,07 €
Agosto 53.645,66 € 37.948,45 € 15.697,21 €
Insc. via Internet 2
Insc. via “Face to Face”/
Rec. Telefone 16
Insc. via Grupos e Núcleos 1
Insc. via CTT 5
Reinscrição 2
TOTAL 26
EVOLUÇÃO DE MEMBROS E APOIANTES
nos meses de Julho e Agosto

VALOR ACUMULADO 530.600,00 € 453.953,77 € 76.646,23 €

(Janeiro a Agosto)

ORÇAMENTO PREVISTO 513.044,72€ 389.535,29 € 123.509,43 €
(Janeiro a Agosto)
QUADRO DE CONTROLO ORÇAMENTAL

PROJECTO “FACE TO FACE”

A 6ª Fase do Projecto “Face to Face” teve
início no passado dia 15 de Setembro,
nas cidades de Braga, Guimarães e Porto,
onde três equipas de recrutadores estão,
mais uma vez, a divulgar “cara a cara”
o trabalho da Amnistia Internacional,
convidando mais pessoas a colaborar
activamente no nosso movimento. Neste
segundo período de 2008 pretendemos
ainda regressar a Lisboa, bem como
percorrer novas cidades até meados de
Recorde-se que o “Face to Face” teve a
sua 5ª fase entre Fevereiro e Junho de
2008, nas cidades de Lisboa, Portalegre,
Évora, Castelo Branco, Caldas da Rainha
e Covilhã. Ao longo dos 4 meses e meio de
trabalho, as equipas de recrutadores an-
gariaram mais de 1.800 novos apoiantes,
na sequência da abordagem e sensibili-
zação directa feita nas ruas.
© Amnistia Internacional Portugal

Dezembro. Equipa do Projecto Face to Face nas ruas de Braga.

26 Notícias • Amnistia Internacional
BOAS NOTÍCIAS
MYANMAR - LIBERTADO UM DOS
MAIS ANTIGOS PRISIONEIROS
DE CONSCIÊNCIA
© Private
MARROCOS - BLOGGER LIBER-
TADO E SENTENÇA ANULADA
© Private
A 18 de Setembro de 2008 o Tribunal de
Segunda Instância da cidade de Aga-
dir, em Marrocos, revogou a pena im-
posta pela Primeira Instância ao jovem
Mohamed Erraji. Com 29 anos de idade,
tinha-se tornado no primeiro detentor de
um blog a ser formalmente acusado em
tribunal, tendo sido condenado a dois
anos de prisão e a uma coima de cinco
mil dinares (cerca de 440 euros).
Refira-se que Mohamed Erraji foi acusa-
do de faltar ao respeito ao Rei marroqui-
no num artigo publicado online. A pena
foi retirada e o processo judicial consi-
derado irregular, mas esta é mais uma
prova da falta de liberdade de expressão
existente no país.
U Win Tin, de 78 anos, era um dos mais
antigos prisioneiros de consciência do
Myanmar quando foi libertado em meados
de Setembro, após ter cumprido 19 anos
de prisão. Recorde-se que o ex-jornalista e
militante do principal partido da oposição
no país, a Liga Nacional para a Democra-
cia, tinha sido preso em 1989 e condenado
inicialmente a 12 anos de prisão.
A pena foi agravada quando o prisioneiro
escreveu às Nações Unidas a descrever
a tortura a que era submetido e quando
distribuiu junto dos prisioneiros panfle-
tos anti-governamentais. Nessa altura,
U Win Tin foi transferido para uma cela
sem cama, destinada aos cães militares,
e esteve durante longos períodos privado
de comida, água e visitas. Acrescente-
FAIXA DE GAZA
MAIS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS LIBERTADOS
Durante o mês de Setembro foi permitida
a saída a mais sete estudantes pales-
tinianos que se encontravam retidos,
desde o Verão, na Faixa de Gaza, o que
os impossibilitava de regressarem (ou
começarem) os estudos noutros países.
O bloqueio ao enclave, decretado por
Israel há mais de um ano (depois do
Hamas ter vencido as eleições palestini-
anas), tem impossibilitado as entradas
-se que o prisioneiro recusou sempre as
amnistias governamentais, justificando
que ao aceitá-las estaria a admitir a sua
culpa.
Para além de U Win Tin, foram na mesma
altura libertados mais seis prisioneiros
de consciência, pertencentes ao mesmo
partido político da oposição. Porém, um
deles foi novamente preso algumas horas
depois de ter sido libertado. Acrescente-
-se que existem actualmente no Myan-
mar mais de dois mil presos políticos.
© Khalil Hamra/AP/PA Photos
e saídas na região, provocando assim
uma grave crise humanitária, pautada
pela carência de bens alimentares e de
medicamentos.
Recorde-se que no final do mês de Julho
eram 44 os jovens que pretendiam voltar
à Universidade após o período de férias,
estando agora 23 à espera de permissão
para sair da Faixa de Gaza.
 Notícias • Amnistia Internacional 27

APELOS MUNDIAIS
O movimento da Amnistia Internacional começou com a indignação do advogado londrino Peter Benenson
perante a notícia de prisão de dois jovens portugueses, que no início dos anos 60 brindaram “Viva à Liber-
dade”. Hoje Portugal está longe desta realidade, mas em muitos países do mundo há milhares pessoas
que continuam a ser injustamente presas ou condenadas. Elas precisam da nossa ajuda. Apresentamos
aqui seis casos urgentes, para os quais pode contribuir enviando cartas aos responsáveis políticos, para
as moradas indicadas. Está nas nossas mãos ...
28 Notícias • Amnistia Internacional
ARÁBIA SAUDITA
Siti Rupa condenada em julgamento ilegal
© Documentação do CIMW
Siti Zainab Binti Duhri Rupa encontra-se
detida na prisão de Medina, na Arábia Saudi-
ta, desde 1999, onde aguarda que seja cum-
prida a sua sentença de morte. A imigrante
Indonésia, mãe de dois filhos, terá confes-
sado o assassinato da sua empregadora. No
entanto, há indícios de que Siti Rupa sofre de
problemas psiquiátricos que poderão invali-
dar a sua confissão.
Segundo relatos, a detida manteve-se in-
vulgarmente calma durante todo o período
de detenção e admitiu ter esfaqueado a sua
patroa devido aos maus-tratos físicos e psi-
cológicos que esta lhe infligia. A jovem in-
donésia, chegada à Arábia Saudita em 1998
para trabalhar como doméstica, terá enviado
cartas à família nas quais relatava estes
abusos.
Porém, segundo a resolução 2004/67 da
Comissão das Nações Unidas para os Di-
reitos Humanos, “a pena de morte não deve
ser aplicada a nenhum indivíduo que sofra
de doenças ou desequilíbrios psicológicos”.
Além disso, a validade da alegada confissão
é questionável, visto não ter estado presente
nesse momento um advogado ou um repre-
sentante consular. E também durante o jul-
gamento Siti Rupa não foi acompanhada por
nenhum advogado ou tradutor.
Na Arábia Saudita são os filhos da vítima, em
última instância, que decidem se a pena de
morte ditada pelo tribunal deve ser aplicada.
Siti Rupa continua a aguardar a maioridade
da criança para que esta possa decidir.
Desconhece-se a sua idade, mas a Amnistia
Internacional teme que a crescente onda de
execuções na Arábia Saudita conduza tam-
bém à execução de Siti Rupa sem que o seu
estado psicológico seja avaliado e o seu caso
revisto.
Junte-se a nós neste apelo em nome de
Siti Rupa, enviando um apelo ao governo da
Arábia Saudita. Para tal pode usar a seguinte
carta-tipo:
KING ABDULLAH BIN´ABDUL ‘AZIZ AL-SAUD
OFFICE OF HIS MAJESTY THE KING
ROYAL COURT
Riyadh, Saudi Arabia
Your Majesty,
I would like to urge you to immediately com-
mute the death sentence against Siti Zainab
Binti Duhri Rupa, a mother of two, and state
that the death penalty is the ultimate viola-
tion of the right to life.
I also urge you to give to Siti Rupa full and
immediate access to legal representation,
consular assistance, adequate translation
facilities and medical assistance, if neces-
sary.
I also wish to appeal for all the other de-
fendants facing death penalty to be tried in
compliance with international standards for
fair trial, including full access to legal repre-
sentation, with adequate time, and facilities
to prepare their defense.
Lastly I call for all the detainees sentenced to
death to have their sentences commuted and
for no further death sentences to be imposed
in Saudi Arabia.
Yours sincerely,
Nome ---------------------------------------
Cidade --------------------------------------
País -----------------------------------------
Data -----------------------------------------
CAMBOJA
Prisioneiros injustamente acusados
© Heng Sinith
Sok Sam Ouem e Born Samnang, de 38 e
25 anos, respectivamente, foram detidos em
Janeiro de 2004 pelo assassinato do sindica-
lista Chea Vichea e condenados a 20 anos de
prisão. O julgamento terá sido conduzido de
forma irregular, não tendo sido apresentadas
provas para além de uma confissão obtida
através de tortura. Novos relatos apontam
para a sua inocência e tudo indica que terão
sido usados como bodes expiatórios.
A indignação dos cidadãos cambojanos pe-
rante o assassinato de Chea Vichea, em
2004, levou o governo a uma investigação
marcada pela necessidade de culpados. Sok
Ouem e Born Samnang foram presos e, em
contradição com a presunção da inocência,
declarados culpados na televisão. Durante
o primeiro julgamento, o juiz declarou não
haver provas suficientes para a sua conde-
nação e admitiu ter sido vítima de pressões
políticas. Levados a julgamento novamente,
os dois homens foram condenados a 20 anos
de prisão.
Mais recentemente, relatos indicam que
não havia indícios para a detenção dos in-
divíduos, considerando-os bodes expiatórios
e apontando a intimidação de testemunhas
durante o julgamento. Apesar dos factos,
continua a ser adiada a fixação de um novo
julgamento, mas os prisioneiros mantêm a
esperança. “Saber que as pessoas se lem-
bram de nós mantém-me vivo. Queremos
agradecer a todas as organizações que nos
têm ajudado”, disse Sok Ouem à Amnistia
Internacional.
A AI apela a um maior respeito por parte do
governo Cambojano pelos procedimentos ju-
rídicos, como a presunção da inocência, e à
não utilização da tortura para obtenção de
confissões.
Junte-se a nós neste apelo em nome de Sok
Sam Ouem e Born Samnang, escrevendo ao
Primeiro-ministro Cambojano Hun Sen. Para
tal pode usar a seguinte carta-tipo:

PRIME MINISTER HUN SEN
OFFICE OF THE PRIME MINISTER
Phnom Penh, Kingdom of Cambodia
Fax: 00 855 23 360 666
Your Excellency,
I write you on behalf of Sok Sam Ouem and
Born Samnang, imprisoned since 2004 for
the killing of trade unionist leader Chea Vi-
chea. I call you to order their immediate re-
lease, considering reports of alleged torture,
intimidation of witnesses and political inter-
ferences within the judicial process. These
accusations must be investigated without
delay.
I also urge you to order an immediate and im-
partial investigation into the murder of Chea
Vichea, which meets international standards
of fairness, so that the true murderers can
be brought to justice. At the same time, the
names of Sok Sam Ouem and Born Samnang
must be cleared, unless there is sufficient
evidence to bring new charges against them.
Finally, we ask you to end the prevailing cli-
mate of impunity and continuing lack of jus-
tice for people in Cambodia.
Respectfully,
Nome ---------------------------------------
Cidade --------------------------------------
País -----------------------------------------
Data -----------------------------------------
GUANTÁNAMO
Binyam Mohamed aguarda julgamento
© Private
Binyam Mohamed, etíope de 29 anos, foi de-
tido em Abril de 2004 no aeroporto de Karachi,
no Paquistão, e desde então encontra-se na
conhecida prisão de alta segurança Campo 5
de Guantánamo, onde continua a aguardar
julgamento. É acusado de conspiração com
a Al Qaeda e de fornecer apoio material ao
terrorismo.
Segundo relatos da sua advogada, a saúde
física e mental do detido está extremamente
debilitada, apresentando indícios de com-
portamento suicida. No entanto, todos os
pedidos apresentados para que seja feito um
exame médico independente ao detido foram
até hoje negados.
Tendo Binyam Mohamed vivido já no Reino
Unido, o governo britânico fez um pedido
formal aos Estados Unidos para que libertas-
sem o etíope, mas este foi negado alegada-
mente porque Binyam é considerado um risco
para a segurança nacional dos EUA.
Recordamos que existem vários relatórios
das Nações Unidas que evidenciam a prática
de tortura a prisioneiros em Guantánamo,
tais como técnicas de interrogação coerci-
vas, utilização de jaulas para transporte de
prisioneiros e a impossibilidade destes con-
tactarem com as suas famílias.
Binyam encontra-se em greve de fome, in-
gerindo apenas quantidades minúsculas de
comida para não submetido à dolorosa práti-
ca de alimentação forçada. Apenas a ajuda
internacional poderá salvar o prisioneiro e
dar-lhe acesso a um julgamento justo.
Junte-se a nós neste apelo em nome de
Binyam Mohamed, escrevendo uma carta,
fax ou email às autoridades do Reino Unido.
Para tal pode usar a seguinte carta-tipo:
Notícias • Amnistia Internacional 29
RT HON DAVID MILIBAND MP
SECRETARY OF STATE FOR FOREIGN AND
COMMONWEALTH AFFAIRES
FOREIGN AND COMMONWEALTH OFFICE
King Charles Street
London SW1A 2AH, United Kingdom
Email: Sosfa-action@fco.gov.uk
Fax: 0044 207 008 2141
Dear Secretary of State,
I write you in the name of Binyam Mohamed,
a former British resident with Ethiopian ori-
gin who is currently detained in Camp 5 of
Guantanamo Bay.
Binyam´s lawyer has expressed serious con-
cern about his physical and mental health.
Also, several reports refer to torture in the US
maximum-security prison of Guantanamo.
We are very pleased that the British authori-
ties already asked for Binyam´s extradition.
Still we urge you to redouble your efforts be-
fore the detainee imprisonment leads him to
suicide.
We also urge you to guarantee Binyam
Mohamed´s human rights, especially his
right to health and to a fair trial.
Yours Sincerely,
Nome ---------------------------------------
Cidade --------------------------------------
País -----------------------------------------
Data -----------------------------------------
30 Notícias • Amnistia Internacional
IRÃO
Farzad Kamangar condenado à morte
© Private
O professor e activista curdo Farzad Kaman-
gar, de 33 anos, foi condenado à morte a 25 de
Fevereiro de 2008, acusado de atentar contra
o Estado Iraniano e, consequentemente, por
ser considerado “inimigo de Deus”.
Conhecido activista na defesa das minorias
curdas, Farzad foi acusado de pertencer ao
Partido dos Trabalhadores do Curdistão, um
dos grupos armados que alegadamente pro-
curam derrubar o estado islâmico Iraniano.
Recorde-se que os curdos do Irão correspon-
dem a 7% da população total e vivem essen-
cialmente na zona oeste do país, procurando
manter viva a sua cultura e combatendo to-
das as tentativas de assimilação por parte
do governo.
Farzad Kamangar foi detido em Julho de 2006
com outros dois indivíduos de etnia curda
ao chegar a Teerão, onde ia acompanhar o
tratamento médico do seu irmão. A investi-
gação das autoridades refere a ligação de
Kamangar aos dois homens a quem tinha
dado boleia e terá sido essa a causa da sua
detenção. Farzad esteve incomunicável du-
rante meses e mesmo durante o julgamento
o contacto com o seu advogado foi sempre
reduzido. Numa carta escrita da prisão, em
Outubro de 2007, dava conta de ter sofrido
diversas torturas que, em última instância, o
terão levado a confessar os “crimes” de que
é acusado.
A namorada do prisioneiro e outros membros
da sua família foram também detidos e tudo
indica que Farzad Kamangar será executado
nas próximas semanas.
Junte-se a nós neste apelo em nome do
professor Farzad Kamangar, enviando uma
carta ou um email ao Ministro da Justiça Ira-
niano. Para tal pode usar a seguinte carta-
tipo:
AYATOLLAH MAHMOUD HASHEMI SHAHROUDI
MINISTRY OF JUSTICE
Ministry of Justice Building
Panzdah-khordad Square
Tehran, Islamic Republic of Iran
E-mail: info@dadgostary-tehran.ir (Subject:
FAO Ayatollah Shahroudi)
Your Excellency,
I would like to urge the authorities to com-
mute Farzad Kamangar’s death sentence
immediately. I know that governments have
a responsibility to bring to justice those sus-
pected of criminal offences in proceedings
that adhere to international standards of fair
trial, but I state my unconditional opposition
to the death penalty, as the ultimate cruel,
inhuman and degrading punishment and
violation of the right to live.
Furthermore, I wish to ask for full details of
the charges against Farzad Kamangar, and
the two men arrested with him, Ali Heydariyan
and Farhad Vakili. I am also concerned that
Farzad’s trial may not have met international
standards of fair trial, which are essential in
capital cases.
I am calling on the authorities to grant Far-
zad Kamangar immediate and regular access
to his family and lawyer and to grant him any
medical treatment he might require. I would
like to express my deepest concern at reports
that Kamangar was tortured, and I urge the
authorities to investigate those reports fully,
with those responsible being brought to jus-
tice. Finally, I am calling on the Iranian au-
thorities to ensure that none of the three men
is tortured or ill-treated.
Respectfully,
Nome ---------------------------------------
Cidade --------------------------------------
País -----------------------------------------
IRAQUE
Nathum al-´Ani e Ahmed al-Salihi desaparecidos
© Private
Nathum Mohammad Isma´il al-´Ani, e o seu
cunhado Ahmed ´Abbas Khurshid al-Salihi,
desapareceram no dia 21 de Dezembro de
2005, quando forças de segurança Iraqui-
anas forçaram a entrada na casa do primeiro
por suspeita de envolvimento com grupos
armados da oposição. Ahmed al-Salihi, resi-
dente na Irlanda, encontrava-se em Bagdade
de visita a familiares.
Nathum al-´Ani e Ahmed al-Salihi foram
vendados, algemados e levados, juntamente
com outras 18 pessoas, para local desconhe-
cido. Dias depois os dois homens terão sido
deixados numa propriedade privada, durante
15 dias, num quarto com 1.5 m². A Amnistia
Internacional alerta para relatos de tortura e
maus-tratos por parte das forças de segu-
rança Iraquianas, nomeadamente privação
de alimentação e tentativas de sufocação, de
forma a obter confissões.
Em Janeiro de 2006, depois dos prisioneiros
terem sido novamente levados para o local
original de detenção, Ahmed al-Salihi foi
libertado, provavelmente pelo seu estatuto
de residente Irlandês. Encontrava-se trau-
matizado e com fracturas visíveis. No final
desse mesmo mês o corpo de outro detido
foi encontrado e a sua autópsia indicou es-
trangulamento e tortura. Não há notícias de
Nathum al-´Ani e dos restantes prisioneiros.
A utilização da força e de tortura por parte
das Forças Iraquianas tem de ser combatida
interna e externamente. Para despoletar uma
mudança é imprescindível que se inicie uma
investigação para descobrir o paradeiro de
Nathum al-´Ani e dos restantes 15 detidos.
Junte-se a nós neste apelo em nome dos
detidos Iraquianos, enviando um email ao
Presidente do Iraque. Para tal pode usar a
seguinte carta-tipo:

PRESIDENT OF IRAQ
JALAL TALABANI
E-mail: questions@iraqipresidency.net
Your Excellency,
Please allow me to draw your attention to the
case of 18 men who were arrested in Decem-
ber 2005, apparently on suspicion of involve-
ment with armed groups opposed to the Iraqi
government.
Two of those men, Nathum Mohammad
Isma´il al-´Ani and Ahmed ´Abbas Khurshid
al-Salihi, were arrested on 21st December
2005. Ahmed al-Salihi was released on 4
January 2006, possibly due to his Irish’s resi-
dency. His nose and shoulder were fractured
and he suffered psychological trauma.
At the end of January 2006, the body of Niras
Naji ´Abid Mikhlaf, one of the detainees, was
found in Baghdad. It showed signs of torture
and strangulation. The whereabouts of Na-
thum al-´Ani and the other 15 men are still
unknown.
I urge you to disclose the whereabouts of
these men and to inform their relatives
whether they are alive or dead. I fear that
some may have been tortured and so I call
for an urgent and impartial investigation into
these cases and for those responsible to be
brought to justice.
Yours Sincerely,
Nome ---------------------------------------
Cidade --------------------------------------
País -----------------------------------------
Data -----------------------------------------
Notícias • Amnistia Internacional 31
UCRÂNIA
Eduard Furman detido sem provas
© Private
O jovem Ucraniano Eduard Furman, de 27 OLEKSANDER MEDVEDKO
anos, casado e pai de um filho, foi detido de Riznitska Str. 13/15
forma inesperada em casa de um amigo, a 01601 Kyiv
11 de Abril de 2007, e forçado a confessar, Ukraine
por meio de tortura, diversos assassinatos
alegadamente cometidos na cidade de Dni- Your Excellency,
propetrovsk, onde reside, e em Kiev, na capi-
tal Ucraniana. I wish to express my concern for Eduard Fur-
Levado pelas tropas do Ministério do Interior man, arrested in April 2007. He is currently
Ucraniano para os escritórios dos Serviços de held in pre-trial detention, and has allegedly
Segurança estatais, foi interrogado e alega- been tortured while in police detention.
damente torturado, com recurso a tentativas
de sufocação e à electrocussão, o que, em I call on the authorities to conduct an urgent
última instância, o terá levado a confessar and independent investigation into reports
os crimes de que foi formalmente acusado that Eduard Furman has been tortured and
a 24 de Abril. Encontra-se, assim, há mais ill treated, and to bring those responsible to
de um ano em prisão preventiva, a aguardar justice.
julgamento.
Durante os dias que se seguiram à sua de- Yours Sincerely,
tenção, Eduard Furman esteve impedido de
contactar o seu advogado e a sua família. Nome ---------------------------------------
Foi localizado 13 dias depois, no seguimento Cidade --------------------------------------
dos esforços desenvolvidos pela sua mulher, País -----------------------------------------
filho e advogado. Eduard Furman foi também Data -----------------------------------------
impedido, durante meses, de escolher livre-
mente um advogado.
Apesar das queixas de maus-tratos evocados
perante um juiz, o detido não foi submetido
a nenhum exame médico e até hoje foi-lhe
negado o direito a um julgamento justo,
relembrando-nos a recorrente violação dos
direitos humanos em alguns países da ex-
União Soviética.
Junte-se a nós neste apelo em nome de
Eduard Furman, enviando a carta-tipo ao
Procurador-Geral da Ucrânia.
As cartas-tipo e contactos que aqui apre-
sentámos estão também disponíveis para
cópia na parte do nosso site dedicada ao
Notícias AI. Visite www.amnistia-interna-
cional.pt (em Aprender/Boletim)
32 Notícias • Amnistia Internacional
AGENDA
CIDADES PARA A VIDA
E CONTRA A PENA DE MORTE
São pouco mais de 60 os países que ain-
da não aboliram a pena de morte, uma
forma cruel, desumana e degradante de
punição. O primeiro estado europeu a
tomar a iniciativa foi o então chamado
Grão-Ducado da Toscana, a Norte de
Itália, a 30 de Novembro de 1786. Este dia
inspirou a Comunidade de Sant’Egidio,
que anualmente convida as cidades de
todo o mundo a participarem no evento
“Cidades para a Vida”, em oposição à
pena de morte. O que se pede aos mu-
nicípios é que iluminem simbolicamente
um edifício público, pelourinho ou edifício
de igual significado histórico, apelando
ao fim da pena capital. No ano passado,
700 cidades aderiram à causa, sendo 30
delas portuguesas. Este ano a AI Portugal,
enquanto membro da Coligação Mundial
contra a Pena de Morte, torna a pedir aos
autarcas de todo o país que ajudem a ilu-
minar esta ideia. Mais informações com
Luísa Marques pelo 213 861 652.
CAMPO DE TRABALHO
Durante quatro dias – de 31 DE OUTU-
BRO A 3 DE NOVEMBRO – jovens de todo
o país, com idades entre os 15 e os 18
anos, vão poder dedicar-se exclusiva-
mente aos direitos humanos, no 9.º Cam-
po de Trabalho da AI Portugal, que este
ano vai decorrer na cidade de Albufeira,
no Algarve. Mais informações nas pági-
nas 23 e 24 deste Notícias da AI.
LEVANTA-TE
A 17 DE OUTUBRO é urgente lembrar as
cerca de 50 mil pessoas que morrem to-
dos os dias por viverem abaixo do limiar
da pobreza. Naquele que é considerado o
Dia Mundial pela Erradicação da Pobreza,
é tempo de exigir ao governo português
e aos governantes de todo o mundo que
cumpram as promessas de acabar com
a pobreza extrema feitas no ano 2000,
quando foram delineados os Objectivos
de Desenvolvimento do Milénio. Por todo
o mundo, e de norte a sul do país, estão
a ser organizados eventos para os dias
17, 18 e 19. No ano passado, 43 milhões
de pessoas ergueram-se para exigir o fim
do fosso entre ricos e pobres e este ano
pretende-se chegar aos 100 milhões. Le-
vanta-te! Actua! Mais Informações em
WWW.POBREZAZERO.ORG.
OS 60 ANOS DA DECLARAÇÃO
UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS
No ano em que se celebra o sexagésimo
aniversário de um dos mais importantes
documentos internacionais, a Declara-
ção Universal dos Direitos Humanos, a
Amnistia Internacional tem vindo a or-
ganizar diversos eventos e a participar
em acções com os seus parceiros. Com
o aproximar do 10 de Dezembro, quando
a Declaração foi adoptada e proclamada
pelas Nações Unidas, em 1948, é ur-
gente relembrar os direitos humanos.
Neste âmbito, a AI Portugal vai ter várias
acções de comemoração, que serão di-
vulgadas em WWW.AMNISTIA-INTER-
NACIONAL.PT, e fique também atento à
revista CAIS, que em Dezembro vai pu-
blicar uma edição especial dedicada aos
direitos humanos.
PORTUGUESES VÃO A
JULGAMENTO
A Plataforma “EU ACUSO” (WWW.EUA-
CUSO.COM.PT), da qual a AI faz parte,
vai sentar no banco dos réus o Governo,
a Assembleia da República, a Comunica-
ção Social e a Sociedade Civil. O objec-
tivo é simular um julgamento, simbólico,
onde se pretende discutir se estão a ser
cumpridos os compromissos assumidos
na Cimeira Europa-Àfrica e no Fórum da
Sociedade Civil, que tiveram lugar du-
rante a Presidência Portuguesa da União
Europeia, em 2007. No final do julga-
mento será proclamado o “veredicto” e
os réus “condenados” ou “absolvidos”. O
evento decorrerá no dia 9 DE DEZEMBRO,
data do primeiro aniversário da Cimeira
UE-África, na sala 1 da Fundação Ca-
louste Gulbenkian.

Dia mundial contra a pena de morte, 10 de Outubro
BD AMADORA
Para os amantes das histórias aos qua-
dradinhos, vai decorrer entre os dias 24
DE OUTUBRO E 9 DE NOVEMBRO mais
um Festival de BD da Amadora, no Fórum
Luís de Camões (Brandoa). A AI Portugal
vai estar presente com uma exposição de
banda desenhada alusiva aos direitos
humanos e com a transmissão de um
filme que evoca a Declaração Universal
dos Direitos Humanos.
PORTO CARTOON
No âmbito dos 60 Anos da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, a déci-
ma edição do Porto Cartoon traz à cidade
invicta uma exposição de cartoons de
todo o mundo, centrados nos direitos hu-
manos. A AI Portugal integra a exposição
com ilustrações sobre os trinta artigos do
documento. Para ver ATÉ 31 DE DEZEM-
BRO, no Museu Nacional da Imprensa
(Galeria Internacional do Cartoon), na
cidade do Porto.
Notícias • Amnistia Internacional 33
Por Luís Afonso
CONCURSO PARA CARTAZ CON-
TRA DISCRIMINAÇÃO RACIAL LEITURAS
A Comissão para a Igualdade e contra a TODOS NÓS NASCEMOS LIVRES
Discriminação Racial abriu um concurso Edições Paulinas, em associação
para a elaboração de um Cartaz contra a com a AI Portugal, 2008
Discriminação Racial. O vencedor terá di-
reito a um prémio no valor de 1.500 euros
e a ver o seu trabalho ser distribuído por
todo o país. Os candidatos devem enviar
os projectos até ao dia 15 DE NOVEM-
BRO. Mais informações e regulamento
em WWW.CICDR.PT.
TOME NOTA
• 17 DE OUTUBRO No próximo mês de Novembro vai
Dia da Erradicação da Pobreza ser lançada a versão portuguesa
• 16 DE NOVEMBRO ilustrada da Declaração Universal
Dia da Tolerância dos Direitos Humanos, para miúdos
• 25 DE NOVEMBRO e graúdos.
Dia da Eliminação da Violência sobre as Os trinta artigos do documento fo-
Mulheres ram desenhados por 28 artistas de
• 2 DE DEZEMBRO todo o mundo.
Dia da Abolição da Escravatura
• 3 DE DEZEMBRO
Dia das Pessoas com Deficiência
• 5 DE DEZEMBRO
Dia do Voluntariado
• 10 DE DEZEMBRO
Dia Internacional dos Direitos
Humanos
34 Notícias • Amnistia Internacional
CRÓNICA
A Cicatriz Olímpica
Por Rui Tavares Guedes*, Director-Adjunto da revista Visão
As notas impressas pelo Banco da China
não se distinguem apenas pelos alga-
rismos e os caracteres chineses. Nelas,
o que chama mesmo a atenção é a efí-
gie, sempre repetida, de Mao Zedong,
com uma expressão serena e patriarcal,
decalcada do retrato que continua a do-
minar a Praça Tianamen, coração sim-
bólico do poder de Pequim.
Mas uma das coisas que se descobre
rapidamente na capital chinesa é que
nem sempre permanece igual o rosto do
homem que fundou a República Popular
da China, a 1 de Outubro de 1949.
Aprendi-o com Li Cheng, uma estudante
universitária que me retirou uma nota de
10 yuans das mãos e a começou a do-
brar, meticulosamente, com um plano
definido. Depois exibiu-ma. E, conforme
abria e fechava a nota, mostrava-me as
metamorfoses no rosto de Mao: a chorar
e a rir, a chorar e a rir.
«É este o limite da liberdade de expressão
na China – podermos brincar, como se
fossemos crianças, com a cara de um
Presidente morto», diz-me, depois, a rir.
O episódio é simples, mas não inocente.
Há dez anos seria completamente impos-
sível ver um comportamento semelhante
por parte de uma jovem chinesa. Ainda
para mais com um estrangeiro que tinha
conhecido na véspera. Mas agora esse
tipo de atitude é perfeitamente comum. E
só nos revela o tão pouco que conhecemos
sobre a China e os chineses, apesar das
toneladas de literatura, de relatos e
relatórios, em papel ou na net, que te-
© Pieter Fannes
Cartoon alusivo à censura na Internet na China.
mos ao nosso alcance. Sejamos claros: a
sociedade chinesa não é formada nem por
um colectivo de autómatos obedientes
nem por uma multidão de oprimidos por
um regime. A realidade é muito diferente,
nada estereotipada e, se quisermos,
muito mais banal: os chineses têm
opiniões diversas, interessam-se pelos
mais diversos assuntos e, sem ser às
escondidas, também já sabem contar
anedotas sobre os seus dirigentes.
É um país livre? Claro que não. Mas é,
de certeza, muito mais livre hoje do
que era há 10 anos. Até porque existem
diferenças que não podem ser escamo-
teadas: há casos de corrupção que são
publicamente denunciados; os exageros
da comissão de censura nos filmes são
objecto de diversos fóruns na Internet,
onde as pessoas criticam sem receio de
represálias; as denúncias do crescimento
das desigualdades sociais chegam cada
vez mais alto e, mais importante do que
tudo, é o próprio regime a reconhecer
que, em 2007, registaram-se 87 mil ma-
nifestações e protestos em todo o país.
Oitenta e sete mil!
Durante as semanas dos Jogos Olím-
picos, Pequim esteve no centro do mun-
do, sobretudo por causa do seu povo.
As pessoas, genuinamente, queriam aju-
dar a China a ficar bem na fotografia.
Não era o regime que estava em causa
– mesmo que fosse o grande beneficiado.
O importante para os milhares de volun-
tários e para os milhões de habitantes da
cidade foi sempre o de poder demonstrar
o orgulho de ser chinês e, em simultâneo,
mostrar uma imagem afável ao mundo,
um espírito alegre e simpático. Foi essa
a imagem que ficou gravada em todos os
que andaram em Pequim durante os Jogos
Olímpicos. E, no mínimo, é essa imagem
que tem que continuar a ser preservada
pelo regime, para poder sobreviver. Qual-
quer retrocesso poderá redundar em de-
sastre.
Mesmo que fosse só aparente, os dias
Olímpicos deixaram uma imagem de
simpatia e de alguma liberdade no país.
E isso ficará como uma espécie de cicatriz
na História da China: pode ser disfarçada,
mas nunca será apagada.
* O jornalista esteve durante um mês na
China, na altura dos Jogos Olímpicos de
Pequim, e é conhecedor da situação que
se vive no país.
-
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