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NOTÍCIAS BREVE
DOSSIER
02 Out./Nov./Dez. 2008
Publicação trimestral • Série V • P.V.P €1.75
O que podemos mudar em 2009
EDITORIAL
2009 - A Urgência do Fazer
Por Lucília José Justino, Presidente da Direcção
mento Europeu, que no ano passado foi mo, boas notícias, o encontro nacional,
distinguida com o Prémio eurodeputada humor, apelos. É, sobretudo, um texto de
“Activista do Ano”. Em entrevista ao esperança activa pelas nossas causas.
“Notícias”, falou das prisões “secretas”
norte-americanas e da Guerra ao Terro-
rismo.
O desmantelamento de Guantánamo, que
esperamos rápido, só poderá ser anali-
sado no quadro da enorme campanha in-
ternacional contra as violações de direi-
tos humanos realizadas em nome da luta
antiterrorista – incluindo torturas, deten-
ções e raptos ilegais, voos de rendição, vi-
olações do direito internacional. E, claro,
a condenação dessas violações não seria
© Privado possível sem o envolvimento das ONG,
entre as quais a Amnistia Internacional.
Fomos ouvir e conhecer melhor a nossa
Acabámos de celebrar os 60 anos da De- Secretária Geral, Irene Khan.
claração Universal dos Direitos Humanos,
com as frustrações e os sucessos que lhe A actividade da AI não dispensa a inter-
estão associados. venção de pessoas como os nossos en-
trevistados, nem se limita a celebrações:
Este número do “Notícias”, o primeiro de o mundo vive situações de emergência,
2009, olha para o passado, mas centra- guerras ou crises, a que temos de re-
-se nas crises e nas esperanças com que sponder, como o Darfur, ou a RD do Congo,
nos defrontaremos num ano de grandes ou o Zimbabué. A cimeira UE-África, re-
desafios. Gaza é a primeira inquietação, alizada há um ano, e que tanta celeuma
entre outras, que ficarão para desenvolvi- provocou, é revisitada em crónica, quan-
mentos futuros no “Notícias”. do o Tribunal de Opinião Eu Acuso (a que
O tema de capa desta edição é o encer- a secção se associou) fez uma primeira
ramento de Guantánamo, que foi já pro- avaliação ao cumprimento dos compro-
metido pelo presidente norte-americano missos pelos Estados.
Barack Obama. Apesar de esta ser uma Portugal e o mundo merecem uma atenção
boa notícia, é preciso não esquecer que especial, numa discussão do que poderá
vários países europeus estiveram en- ser o ano de 2009. Ou terá, necessaria-
volvidos nos voos que transportaram ile- mente, de ser, a bem dos humanos e dos
galmente prisioneiros de Guantánamo. seus direitos.
Esta é uma das grandes batalhas de Ana
Gomes, deputada portuguesa ao Parla- Mas o “Notícias” tem mais: tem activis-
04 Notícias • Amnistia Internacional
ENTREVISTA
Ana Gomes, Deputada portuguesa ao Parlamento Europeu
A actual deputada ao Parlamento Europeu Ana Gomes foi diplomata de carreira desde 1980, tendo sido
particularmente reconhecida pelo papel que desempenhou no processo de independência de Timor-Leste.
Tem demonstrado ser uma activista pelos direitos humanos e nos últimos anos tem-se batido pelo fim
da “luta contra o terrorismo”. Em conversa com a Amnistia Internacional, falou sobre os voos da CIA que
passaram por Portugal e sobre Guantánamo. Deixou-nos também o seu principal desejo para 2009
Por Cátia Silva
ser generoso com os AI: Quando é que teve pela primeira vez
presos de Guantánamo” conhecimento destas ocorrências?
AG: Quando ainda estava como Embai-
© European Parliament/Pietro Naj-Oleari xadora de Portugal na Indonésia [onde
Notícias • Amnistia Internacional 05
esteve entre 1999 e 2003], a imprensa AG: Eu comecei por enviar um questi- que vou apurando, mas não conheço o
internacional começou a falar dos pri- onário ao Governo português sobre os conteúdo do processo. Além disso, não
meiros casos. Lembro-me de Omar Voos da CIA e fiquei a aguardar. Não descarto que eles estejam a encontrar o
Farouk, que foi apanhado na Indonésia obtive resposta de imediato. Entretanto mesmo tipo de dificuldades e obstruções
[em Junho de 2002] por suspeita de estar na Comissão de Inquérito do PE tivemos que eu encontrei.
envolvido numa rede filiada na Al Qaeda. acesso à lista dos voos da Eurocontrol
Foi preso pelas autoridades indonésias, [organização europeia que controla o “Eu gostava de poder dizer,
mas estas foram “convencidas” pelos tráfego aéreo] e verifiquei que Portugal
EUA a entregá-lo para interrogações. Aí figurava várias vezes. Dei conhecimento e de ter a certeza, de que
ele desapareceu, segundo a própria im- ao Governo português e a partir desse em Portugal não houve
prensa indonésia denunciou. Foi a primei- momento o Prof. Freitas do Amaral, então prisões secretas”
ra vez que o assunto me despertou inte- Ministro dos Negócios Estrangeiros, re-
resse. Depois houve vários outros alertas conheceu que era preciso investigar. Sei
de Organizações Não Governamentais, que procurou respostas dos vários de- AI: Mas acredita que as investigações
mas falava-se pouco e ninguém falava partamentos do Estado envolvidos e, an- podem vir a ser bem sucedidas?
de cooperação europeia. tes de sair do cargo no MNE, enviou-me AG: Não sei... Vamos ver. Depende do
tudo o que conseguiu recolher. A partir do sucesso que os procuradores tiverem na
AI: Isso surge quando? momento em que o Dr. Luís Amado assu- obtenção de elementos que a mim, e ao
AG: Isso só aconteceu quando a jorna- miu funções no Ministério dos Negócios Parlamento Europeu, não foram faculta-
lista norte-americana do Washington Estrangeiros [em Junho de 2006], pedi dos.
Post Dana Priest publicou um artigo, em mais esclarecimentos de questões susci-
Novembro de 2005, onde confirmou que tadas pelos documentos que me tinham AI: Apesar de não lhe terem facultado
o programa designado “extraordinary sido fornecidos e o novo MNE impediu que esses dados, concorda com o jornalista
renditions” – para fazer desaparecer, em listas de passageiros e de tripulações de Rui Costa Pinto que no seu livro Voos
Guantánamo e nas prisões secretas, as (e para) Guantánamo fossem facultadas Secretos CIA–Nos Bastidores da Ver-
pessoas suspeitas de terrorismo, a fim ao PE, respondendo sempre que não exis- gonha diz ser impossível o Governo e
de as submeter a interrogatórios e “des- tiam registos desses voos. Na verdade, os Serviços de Informações portugue-
localizando” assim a tortura para fora do esses registos existiam e acabaram por ses não saberem de nada?
território americano – tinha implicado me chegar às mãos. AG: Absolutamente. Se o Governo e os
colaboração europeia. E não se tratava Serviços Secretos não sabiam de nada,
apenas de autorizar o sobrevoo desses AI: Entretanto, em 2007 tornam-se então são totalmente incompetentes e
prisioneiros através do espaço e de ae- públicas as conclusões da Comissão o nosso país está a saque. Isso não é
roportos europeus, mas havia prisões de Inquérito do PE, tendo sido identi- possível. Talvez num primeiro momento
secretas que a jornalista dizia estarem ficadas pelo menos 94 aeronaves da não houvesse conhecimento da situação,
localizadas na Europa. CIA que fizeram escala em Portugal. mas a partir do momento em que as in-
Perante estas evidências, o que acon- formações se começaram a tornar públi-
AI: É aí que a deputada Ana Gomes se teceu? cas e sobretudo a partir de 2005, quando
envolve nesta questão? AG: Aeronaves da CIA e não só. A maior o escândalo rebenta graças ao artigo do
AG: Não apenas eu. A partir desse mo- parte dos voos que passaram por Portu- Washington Post, não é possível negar
mento houve um grupo de deputados gal, e que levaram presos para Guantá- que o Governo e os serviços competentes
no Parlamento Europeu, no qual me in- namo e outras prisões, eram feitos por estavam alertados para a situação. E, no
cluo, que defendeu que os europeus não aviões militares, logo, politicamente au- entanto, voos para Guantánamo, civis e
podiam ficar descansados enquanto a torizados pelos governos portugueses a militares, continuaram a ser autorizados
situação não fosse esclarecida. E foi sobrevoar, ou aterrar, no nosso território. por Portugal pelo menos até ao final de
na sequência disso que, em Janeiro de Isso era o que indicava a tal lista que me 2007...
2006, se formou a Comissão Temporária chegou às mãos e era também o que con-
de Inquérito do PE, o que não foi nada firmavam os dados entretanto libertados AI: Toda esta negação poderá então
fácil, porque logo na altura houve muita pelas próprias autoridades americanas. estar ligada ao facto de o Governo do
gente que resistiu a esta iniciativa. A partir daqui era precisa mais investi- Dr. Durão Barroso ter estado envolvido
gação, mas não houve colaboração por e de esta não ser a melhor altura para
AI: Mas houve pressões ou ameaças? parte do Governo português, o que me reconhecer esta situação, uma vez
AG: Houve todas as tentativas para nos levou a ter de en-tregar o caso à Procu- que ocupa o cargo de Presidente da
persuadir a deixar cair o caso. radoria-Geral da República. Comissão Europeia...
AG: O próprio Ministro dos Negócios Es-
AI: Para além disso, quando começou AI: E sabe se tem havido desenvolvi- trangeiros confirmou isso há pouco tempo
as suas investigações encontrou tam- mentos? na Assembleia da República e essa é a
bém resistência por parte do Governo AG: A investigação está em curso. Tenho minha convicção. Não tenho dificuldades
português, correcto? fornecido aos Procuradores os elementos em afirmar que houve conhecimento e
06 Notícias • Amnistia Internacional
conivência do Governo do Dr. Durão Bar- há fortes suspeitas de culpabilidade, de- humanos, accionassem efectivamente
roso. E não foi só o dele, mas também vem ser levados a julgamento, em tribu- todos os mecanismos para os fazerem
dos Governos daí em diante. nais credíveis nos EUA e não nas Co- cumprir, no seu interior e nos países com
missões Militares. E aqueles presos em os quais se relacionam.
AI: Para se tornar mais claro, estes relação aos quais não há provas, ou que
voos que passaram por Portugal terão já foram ilibados de suspeitas, devem ser Entrevista completa em:
estado apenas na Base das Lajes, repatriados ou, se isso não for possível, www.amnistia-internacional.pt
nos Açores, onde há uma base militar devem ser acolhidos por vários países (Aprender/Boletim)
norte-americana? europeus, como exilados políticos. São
AG: Não, todos os aeroportos portugueses pessoas que não podem ser devolvidas
foram utilizados, mas sobretudo os do aos seus países de origem e que também
Porto, Ponta Delgada e Base das Lajes. não devem querer ir para os EUA, país
que os torturou e deteve ilegalmente.
“Não se pode fazer luta ao AI: Considera que a sociedade portu-
terrorismo usando os méto- guesa está preparada para acolher
dos dos terroristas” estas pessoas, porque têm-se ouvido
algumas críticas...
AG: Penso que os portugueses têm de ter
AI: E terão ido só em direcção a Guan- a noção, primeiro, de que não estamos a
tánamo? Porque se sabe que há outras falar de suspeitos de terrorismo, mas de
prisões... pessoas que foram ilibadas dessas sus-
AG: Claro que houve muitas outras peitas. E são pessoas que foram vítimas
prisões, secretas, e o próprio Presidente de horríveis crimes por parte da Admi-
Bush admitiu finalmente que existiam. nistração Bush – designadamente se-
Há prisões, pelo menos, em Marrocos, questros e tortura –, só por serem árabes
na Líbia, no Egipto, na Síria e houve, ou por terem sido erradamente identifi-
temporariamente, prisões na Europa, cadas. Portugal, que teve gerações de
na Roménia e na Polónia. E eu gostava portugueses a beneficiar de asilo político
de poder ter a certeza de que em Portu- noutros países no tempo da ditadura, A deputada Ana Gomes compilou em livro
gal não houve prisões, por exemplo, nas deve ser generoso. algumas das crónicas que publicou desde
que está no Parlamento Europeu, onde
Lajes. Tenho a certeza que houve prisio- entrou em 2004. No seu livro Todo-o-Ter-
neiros que passaram nas Lajes e não sei AI: Será algum dia possível punir os reno – 4 Anos de Reflexões, editado no
se ficaram por lá 20 minutos ou 20 dias. responsáveis pelas violações de di- final do ano passado pela RCP Edições,
É isso que é preciso apurar. reitos humanos cometidas em nome da há mesmo um capítulo exclusivamente
luta contra o terrorismo? dedicado a “Guantánamo e Luta Contra o
Terrorismo”. No entanto, este é apenas um
AI: É interessante notar que o mesmo AG: Eu espero que os principais respon-
dos temas abordados nas 88 crónicas que
Ministro dos Negócios Estrangeiros, sáveis venham a ser julgados, tanto os compõem o livro.
que não ajudou na investigação, vem da Administração Bush, como os que nos
agora tomar a dianteira e anunciar que diversos países europeus colaboraram
Portugal está disponível para receber conscientemente com ela. Já há mesmo
Pode ficar a conhecer os resultados da in-
prisioneiros de Guantánamo. Será uma julgamentos a ter lugar, como, por exem- vestigação realizada pela Comissão de In-
forma de compensar o sucedido? plo, em Itália, onde vários elementos dos quérito do Parlamento Europeu no relatório
AG: Acho que foi uma boa iniciativa e que Serviços Secretos italianos, incluindo o “Transporte e detenção ilegal de prisio-
é indispensável os europeus, e não ape- Director-Geral, foram detidos e estão a neiros”, aprovado a 14 de Fevereiro de
nas Portugal, ajudarem a Administração ser julgados por colaboração com a CIA 2007, em Estrasburgo. Está disponível no
site oficial, em www.europarl.europa.eu,
Obama a fechar Guantánamo. Mas, do no rapto do Imã da Mesquita de Milão,
ou pode pesquisar em www.google.com
meu ponto de vista, não podemos deixar que foi levado para uma das prisões pelo código “P6_TA(2007)0032”
que isto seja uma fuga para a frente. secretas, no Egipto, e aí foi torturado e
Continua a ser essencial que se apure o preso durante mais de um ano, até o li-
que se passou e quais foram os níveis bertarem sem qualquer acusação.
Para mais informações sobre as Detenções
de conivência das autoridades portugue-
Secretas norte-americanas e o papel da
sas. AI: Para terminar, e no seguimento Europa, conheça o relatório da Amnistia
daquele que é o tema de capa da nossa Internacional “State of Denial: Europe’s
AI: Caso Portugal receba prisioneiros revista, qual é o seu maior desejo para Role in Rendition and Secret Detention”,
de Guantánamo, como defende que 2009 em termos de direitos humanos? de Junho de 2008, acessível em:
isso se deveria processar? AG: O que eu gostaria é que as democra- www.amnesty.org/en/library/info/
EUR01/003/2008/en
AG: Os prisioneiros em relação aos quais cias, que se dizem baseadas nos direitos
Notícias • Amnistia Internacional 07
RETRATO
Irene Khan, Secretária-Geral da Amnistia Internacional
Uma vida a zelar pelos direitos humanos
A sua dedicação aos direitos humanos tem provado ser persistente. Irene Khan é, enquanto sétima Secre-
tária-Geral da Amnistia Internacional, a primeira mulher, a primeira asiática e a primeira muçulmana ao
leme de uma ONG com estas dimensões
Por Sara Coutinho*
seu género de organização, uma vez que ano mais tarde, integrou o Alto Comis-
achou que se limitavam a escrever car- sariado para os Refugiados das Nações
tas apelando à libertação de prisionei- Unidas, ao qual dedicou 20 anos. Aí
ros¹. Em todo o caso, nunca desistiu de desempenhou várias funções, desde a
lutar pelos direitos humanos e a eles tem ocupação de diferentes cargos na Sede,
dedicado toda a sua vida, desta feita, à liderança de missões no terreno para a
numa Amnistia Internacional que agora promoção da protecção internacional aos
compreende melhor que ninguém. refugiados em países como o Paquistão,
Aos 16 anos, os pais de Irene Khan colo- a Colômbia ou a Índia. O seu percurso
caram-na num colégio interno na Irlanda foi pleno de responsabilidade e posições
do Norte. A sugestão havia partido de um de destaque, pouco usuais para alguém
amigo irlandês, director da ONG Concern com a sua idade. Em 1995, foi nomeada
que, em 1972, trabalhava no Bangla- Chefe de Missão para a Índia, o que fez
desh. “A visão que os meus pais tinham dela a mais jovem representante de um
do mundo não era, talvez, muito exacta país no Alto Comissariado. Em 1998,
© Amnistia Internacional e nós tínhamos amigos irlandeses. (...) liderou uma equipa na Ex-República Ju-
Eu não me apercebi da diferença entre goslava da Macedónia durante a crise
Irene Zubaida Khan nasceu no Bangla- a Irlanda do Norte e a República da Ir- do Kosovo e foi nomeada Vice-Directora
desh como a filha do meio de uma famí- landa até chegar lá”. Prosseguiu os seus da Protecção Internacional nesse mesmo
lia muçulmana de classe média, numa estudos na Universidade de Manchester, ano. “Tínhamos de lidar constante-
época em que “a trajectória normal onde estudou Direito e se envolveu nas mente com os refugiados que fugiam
seria frequentar a universidade, casar, primeiras campanhas pelos direitos hu- dos desastres dos direitos humanos”.
ter filhos e talvez um emprego, mas manos. Na altura, a que lhe parecia ter
muito como uma actividade paralela”. uma acção mais envolvente era a contra
A ENTRADA NA AMNISTIA
Actualmente vive entre constantes via- o apartheid. No entanto, queria estudar
INTERNACIONAL
gens, é casada e mãe de uma filha, e tem Direito Internacional e Direitos Humanos
um emprego que nada tem de actividade e avançou para um mestrado em Harvard, Irene começava, entretanto, a pensar se
paralela: é a sétima Secretária-Geral onde se lembra de “ter tido discussões não deveria estar a abordar as causas,
da Amnistia Internacional. muito acesas”. e não as consequências, dos desastres.
Na altura, alguém lhe sugeriu que con-
Passou os seus primeiros anos a viver os
corresse à liderança da Amnistia Inter-
conflitos do Bangladesh e quando saiu
O TRABALHO COM OS DIREITOS nacional. Avançou o seu nome e, como
para estudar encontrou os conflitos da
HUMANOS parte do processo rigoroso de selecção,
Irlanda. O confronto com essas situações
A sua formação em Harvard levou-a até teve que planear uma resposta a um país
e a influência do seu avô, advogado,
onde pretendia estar e Irene começa o hipotético numa situação ficcional de
conduziram-na até ao Direito e, desde
seu trabalho como activista dos direi- bombardeamento. “Ninguém, na altura,
muito cedo, aos meandros da política.
tos humanos em 1979, com 23 anos, na podia adivinhar que uma das minhas
Num primeiro contacto com a Amnis-
Comissão Internacional de Juristas. Um primeiras tarefas seria lidar com o
tia Internacional, decidiu que não era o
08 Notícias • Amnistia Internacional
EM FOCO
FAIXA DE GAZA - CONTABILIZAR OS ESTRAGOS
população à normalidade. Além disso, as
equipas da AI no terreno têm testemu-
nhado que foram cometidos vários crimes
de guerra durante as hostilidades. Um
dos mais flagrantes foi denunciado por
médicos e enfermeiros, que encontram
nos pacientes evidências do uso indis-
criminado de fósforo branco durante os
bombardeamentos. Refira-se que esta é
uma arma química que provoca asfixias
e queimaduras profundas.
No seguimento de tudo isto, a Amnis-
tia Internacional tem lançado diversos
apelos, que têm sido enviados às auto-
ridades por activistas de todo o mundo.
© AP_PA PHOTO_Hatem Moussa Os primeiros apelos pretendiam pôr fim
às hostilidades. Hoje é importante res-
Nos últimos meses, a Amnistia Interna- Nos últimos dias, com os cessar-fogo que ponsabilizar as partes em conflito pelas
cional tem dedicado particular atenção têm sido alcançados entre as partes em transgressões à lei humanitária interna-
à situação humanitária que se viveu, conflito, organizações não governamen- cional, para que situações como esta não
e continua a viver, nos Territórios Ocu- tais como a Amnistia Internacional (AI) se tornem a repetir.
pados da Faixa de Gaza, desde 4 de conseguiram entrar no território e perce-
Novembro de 2008, quando terminou o ber a dimensão da catástrofe humani- O apelo é dirigido ao Conselho de Segu-
cessar-fogo que tinha sido celebrado tária. Os números oficiais apontam para rança das Nações Unidas e está aces-
entre Israel e as forças Palestinianas do 1330 Palestinianos mortos, metade deles sível para participação em http://www.
Hamas. Apesar de esta ser apenas uma civis, e mais de 5000 feridos, enquanto amnesty.org/en/gaza-crisis. Há ainda
das muitas hostilidades que nas últimas entre os Israelitas se contam menos de um apelo da AI Portugal dirigido ao Mi-
quatro décadas têm marcado o território, duas dezenas de baixas. As infra-estru- nistro dos Negócios Estrangeiros portu-
é unânime entre os especialistas que foi turas na Faixa de Gaza ficaram seria- guês, Luís Amado, que está acessível em
um dos conflitos com um maior número mente danificadas, o que tem dificultado www.amnistia-internacional.pt (Agir Já
de baixas. a assistência aos feridos e o regresso da / WebActions)
DOSSIER
O que Podemos Mudar em 2009
Neste ano que há pouco começou, a Amnistia Internacional Portugal espera que as capas dos próximos
“Notícias” possam só trazer boas novas. Isto porque detectámos nove violações graves aos direitos hu-
manos que são, efectivamente, passíveis de fortes mudanças neste ano de 2009. Um optimismo que a
nova Admnistração Obama também nos transmitiu e em que acreditamos
Começámos o ano de 2009 com sinais crise financeira provocada pela ganância mandato –, são de grande relevância
contraditórios: por um lado, de preocu- de alguns e, em menos de dois meses, para os Direitos Humanos: encerrará
pação, por outro, de esperança. A preo- é injectado nos mercados financeiros 10 Guantánamo, acabará com a tortura e
cupar-nos temos a crise financeira glo- vezes mais do que o montante necessário terminará a guerra no Iraque. Tal como
bal, que começa a acentuar a pobreza e a para erradicar a pobreza do mundo. Isto Obama, também acreditamos que há vi-
desigualdade mundiais. Realidades que leva-nos a pensar que, afinal, as priori- olações aos direitos humanos que podem
tinham já sido uma preocupação no início dades ainda estão invertidas... ser solucionadas, ou minimizadas, neste
do novo milénio, quando 150 Nações as- ano de 2009. Neste dossier do “Notícias”
A dar-nos esperança esteve a eleição
sinaram uma Declaração onde foram es- da Amnistia Internacional apresentamos
de um afro-americano para Presidente
tabelecidos os oito Objectivos de Desen- nove exemplos de situações passíveis de
dos Estados Unidos da América, pois
volvimento do Milénio, entre os quais, mudança, que ordenámos sem qualquer
há sessenta anos, quando foi assinada
erradicar a pobreza. Na altura, os líderes critério preferencial. Esperamos, no final
a Declaração Universal dos Direitos Hu-
mundiais constataram que a implemen- do ano, que todos também possamos
manos, os negros nem sequer tinham
tação destes objectivos custaria vários dizer: SIM, NÓS PODEMOS !
direito a voto no país. As promessas que
milhões de dólares, difíceis de angariar.
fez – e que já começou a cumprir des-
Oito anos depois o mundo emerge numa
de 20 de Janeiro, quando assumiu o seu
Notícias • Amnistia Internacional 11
1 O ENCERRAMENTO DE GUANTÁNAMO E
O FIM DA GUERRA AO TERRORISMO
A PRISÃO DE ALTA SEGURANÇA
Nos últimos sete anos, passaram por
Guantánamo 778 prisioneiros, pelo me-
nos 25 menores de idade. O que depois
lhes aconteceu é hoje do conhecimento
público: interrogatórios com recurso às
mais sádicas práticas de tortura. No
seu livro, Clive Stafford Smith descreve
detalhadamente os maus tratos por que
passou Binyam Mohamed, um jovem de
que falámos na última edição do “Notí-
cias” da AI. Poupando nos detalhes,
refira-se apenas que o advogado pede,
desde o início, que os seus clientes te-
nham “direitos iguais aos das iguanas,
pois se um soldado atropela acidental-
mente uma paga uma multa de 10 mil
dólares”. Uma regra ambiental que é a
única a imperar num território onde quem
dita as normas são os militares.
© US Department Of Defense
Um dos soldados que está de guarda às celas do Campo Cinco, no centro de detenção de Guantánamo. Regulamentos internacionais, como as
Convenções de Genebra, foram declara-
Às 08 horas e 46 minutos do dia 11 de meses depois, a 11 de Janeiro de 2002, das como não aplicáveis a Guantánamo,
Setembro de 2001, um avião de passagei- várias dezenas de homens, que tinham e o uso da tortura foi, em 2002, auto-
ros embate numa das Torres Gémeas de sido detidos no Afeganistão, davam en- rizado pelo Governo norte-americano
Nova Iorque. Era o início de um pesadelo trada na prisão de alta segurança de para forçar os “terroristas” a confes-
que continua hoje a assombrar o mundo Guantánamo, em Cuba. Tinham viajado sarem os seus crimes. Acrescente-se
e que o ex-presidente norte-americano, algemados e com a cabeça tapada, em que, mesmo depois de torturadas, 538
George W. Bush, apelidou de “Guerra ao voos de rendição que passaram por solo pessoas foram declaradas inocentes e
Terrorismo”. Esta começou, mais concre- europeu. libertadas. Além destas, mais de 200
tamente, a 20 de Setembro, com um dis- continuam na prisão sem qualquer
Para que se perceba o critério de selecção
curso presidencial onde foi anunciado: acusação formal. Fazendo contas, dos
dos detidos, Clive Stafford Smith, advo-
“Quer levemos os nossos inimigos à quase 800 presos que já passaram por
gado e director da organização Reprieve,
justiça, ou a justiça até aos nossos ini- Guantánamo, apenas 20 (cerca de 2%)
que defende vários dos presos de Guan-
migos, Será Feita Justiça”. A promessa foram efectivamente acusados de algum
tánamo, explicou ao “Notícias” da AI:
estava ditada e os alvos apontados: a crime e vão ser presentes a julgamento
“as pessoas podiam ser apanhadas nas
Al Qaeda, Osama Bin Laden e os seus nas chamadas Comissões Militares,
ruas por qualquer pessoa e «vendidas»
seguidores, ou seja, milhares de pessoas tornadas legais em 2006. Estas, como
aos Estados Unidos. O próprio Presi-
espalhadas por mais de 60 países. o nome indica, são feitas e conduzidas
dente Musharraf [líder do Paquistão
por militares, pelo que não se deveriam
No mesmo discurso, George W. Bush entre 1999 e 2008] diz no seu livro que
sequer aplicar a civis.
anunciou que a Guerra ao Terrorismo ia metade dos prisioneiros que passaram
começar pelo Afeganistão. “Os Estados por Guantánamo foram vendidos pelo Além disso, diz Clive Stafford Smith,
Unidos respeitam o povo afegão, mas seu Governo aos norte-americanos”. “elas são aquilo a que em inglês se
condenam o regime Taliban. Ele não Acrescente-se que cada alegado “terro- chama «Tribunais Canguru», em que
está apenas a reprimir o seu próprio rista” valia cinco mil dólares, “o equiva- os casos saltam do seu início para a
povo, mas está a ameaçar pessoas em lente a vinte anos de salário” nestes condenação”. O juiz é um militar no-
todo o mundo ao patrocinar, dar abrigo países, revela o advogado no seu livro meado, os julgamentos são, em grande
e abastecer terroristas”. A 7 de Outu- Guantánamo, recentemente publicado parte, secretos e há censura sobre o que
bro de 2001 começava a ofensiva militar em Portugal. os advogados e os réus podem dizer.
norte-americana no país. Menos de três Tudo isto quando o acusado consegue
12 Notícias • Amnistia Internacional
um representante escolhido por si, pois NOVOS PASSOS NA GUERRA AO questiona: “ao menos antes os iraquia-
“os advogados civis não podem rece- TERROR nos sabiam o que podiam ou não dizer
ber dinheiro, têm de trabalhar por cari- e o que podiam ou não fazer. Se fosse
dade”, diz o director da Reprieve. Mesmo consigo, preferia ditadura e segurança
no seu caso, teve de viajar para vários ou liberdade mas anarquia?”. Refira-se
países em busca dos familiares dos de- que, actualmente, os iraquianos cor-
tidos, pois a representação legal tem de rem um risco de vida diário, tanto pelos
ser solicitada pelo prisioneiro. E como ataques, como pelos muitos raptos que
este não tem acesso ao exterior, nem o ocorrem em busca do dinheiro do res-
exterior tem acesso a ele, a procuração gate.
tem de vir de familiares. Talvez por isso,
Tudo isto torna imperativo questionar:
“mesmo hoje, apenas dois terços dos
valerá a Al Qaeda todas as violações aos
detidos têm advogados”.
direitos humanos que têm sido cometi-
Apesar de tudo isto, neste início de 2009 das? Para Robert Fisk a célula terrorista
há uma réstia de esperança para os 240 não está sequer na origem do problema,
prisioneiros que continuam em Guantá- pois “sempre que há injustiças em
namo. Barack Obama disse já que irá massa, aparece um monstro” e este foi
encerrar a prisão e, para começar, sus- © Steve Dupont (e está a ser) criado e alimentado pelos
pendeu as Comissões Militares e emitiu Tal como no Iraque, em Cabul, capital do Afeganistão, os tan- Ocidentais. “Nós estamos [com solda-
ques norte-americanos e os ataques aéreos fazem parte do dia-
uma ordem que põe fim às detenções -a-dia da população. dos] em países como o Cazaquistão, o
secretas e a algumas técnicas de inter- Tajiquistão, o Paquistão, o Afeganistão,
rogatório. Clive Stafford Smith arrisca Pouco tempo depois de invadir o Afega- o Iraque, a Jordânia, a Turquia, o Egip-
mesmo adivinhar o destino dos detidos: nistão e de abrir a prisão de Guantánamo, to, a Argélia, o Kuweit, a Arábia Saudita,
“cerca de 40 prisioneiros serão trans- George W. Bush deu mais um passo na o Iémen, o Catar, entre outros”. Todos
feridos para os Estados Unidos para sua Guerra ao Terrorismo. A 19 de Março países muçulmanos. “O que queremos
julgamento [em tribunais federais]. A de 2003, o então Presidente norte-ameri- que estas pessoas pensem de nós?”,
maioria, 140, irá regressar a casa. E cano anuncia que será lançada uma se- questiona. “Eles pensam que estamos a
cerca de 60 prisioneiros terão de en- gunda ofensiva militar, desta vez contra ameaçar a sua civilização e têm toda
contrar países de asilo”, pois em esta- o Iraque e o seu líder Saddam Hussein. a razão”, conclui, ao fim de mais de 30
dos como a Argélia, a China, o Egipto, a “A América e as forças da coligação es- anos a viver no Líbano.
Jordânia, a Líbia, a Tunísia e o Uzbequi- tão nas primeiras fases das operações
militares que visam desarmar o Iraque, Para o especialista em questões do Mé-
stão, correm sérios riscos de vida.
libertar o seu povo e defender o mundo dio Oriente, a Guerra ao Terrorismo tem
Neste ano de 2009 é então preciso en- de um grande perigo”, disse, referindo- raízes ancestrais. “Uma investigadora
contrar asilo para estes prisioneiros em -se às armas de destruição maciça que em Dublin mostrou-me um dia peças de
países como Portugal, que anunciou já se supunha existirem no país. A guerra 1490 onde se via Maomé representado
ter disponibilidade. No entanto, alerta o justifica-se, uma vez mais, pela ameaça como uma figura obscena, que tinha
director da Reprieve, “seria insensato de terrorismo. relações sexuais com os animais”,
dizermos «Missão Cumprida», uma vez conta. Hoje, continuamos a desenhar
que muitas pessoas continuam sem Robert Fisk, jornalista especializado nas caricaturas ofensivas sobre o profeta
verem respeitados os seus direitos questões do Médio Oriente, tem outra dos muçulmanos e a recear os seus
em prisões «secretas»” que, à data de visão sobre os acontecimentos, que ex- costumes, como ficou bem claro pelas
fecho desta edição, continuavam ope- plicou ao “Notícias” da AI durante a sua declarações do Cardeal-Patriarca José
racionais no Iraque, no Afeganistão, no passagem por Portugal. “O Iraque teve Policarpo a 13 de Janeiro, quando alertou
Djibouti, no Kosovo e na Bósnia. armas de destruição maciça”, reconhe- as portuguesas: “pensem duas vezes
ce, “mas as Nações Unidas já as tinham antes de casar com um muçulmano”.
Além destas, “há ainda as chamadas destruído. A Guerra contra o Terror é Robert Fisk explica: “Faz parte dos nos-
«prisões por procuração», que são ge- uma guerra contra os inimigos ameri- sos primeiros pensamentos sobre os
ridas por pessoas locais mas usadas canos, mas não invadimos a Coreia do Muçulmanos. Não os podemos apagar”.
pelos Estados Unidos”. Não podemos, Norte ou o Paquistão, porque eles têm Sendo assim, em 2009 cabe a cada um
pois, cruzar os braços enquanto não es- efectivamente bombas”. Sendo assim, de nós contestarmos as nossas funda-
tiverem encerrados todos os “Guantána- o que poderá estar na origem de uma ções e acabarmos de uma vez por todas
mos” do mundo e os responsáveis pela Guerra que matou já cerca de 100.000 com esta “Guerra ao Terrorismo”.
tortura entregues à justiça. Para encora- iraquianos e 5.000 soldados norte-ame-
jar Barack Obama nesta sua missão, ricanos e das forças da coligação?
a Amnistia Internacional tem uma pe-
tição online que lhe vai ser entregue. Arriscando a hipótese apresentada por
Participe em http://obama100days.am- George W. Bush, de que Saddam Hussein
nesty.org/ era um tirano, Robert Fisk concorda, mas
Notícias • Amnistia Internacional 13
A Amnistia Internacional tem sido uma das Clive Stafford Smith, director da organiza- A Guerra ao Terrorismo iniciada por George
organizações que mais tem denunciado as ção não governamental Reprive, é um dos W. Bush tem, na verdade, raízes bem mais
violações aos direitos humanos cometi- advogados que trabalha gratuitamente profundas que o 11 de Setembro de 2001.
das pela Administração Bush em nome para muitos dos prisioneiros de Guantána- É isso que explica o jornalista britânico
da Guerra ao Terrorismo. Com a mudança mo. Conhece, como poucos, os meandros Robert Fisk, no seu livro A GRANDE GUER-
administrativa, a Amnistia Internacional da prisão de alta segurança norte-ameri- RA PELA CIVILIZAÇÃO – A CONQUISTA DO
desafiou Barack Obama a combater o ter- cana e os seus detidos. Uma realidade para MÉDIO ORIENTE, recentemente editado pe-
rorismo com justiça e enviou-lhe 100 reco- conhecer no seu livro GUANTÁNAMO, cuja las Edições 70. Para além da importância
mendações para os primeiros dias de man- versão portuguesa é da Caleidoscópio. documental do livro, é uma obra repleta de
dato. Muitas foram já adoptadas, no papel, pequenas histórias, como as que relatam o
sendo agora preciso a sua implementação encontro do autor com Osama Bin Laden.
efectiva.
© Amnistia Internacional
As crianças são dos grupos mais vulneráveis entre os milhares de refugiados congoleses. Estas encontram-se, desde o final do ano passado, no campo Nakivale, em Ouganda, República Democrática do Congo.
Sónia é uma jovem a quem foi oferecido seres humanos, a forma mais moderna das vítimas são mulheres e 70% delas
um emprego, por uma agência, para de escravatura, que se tornou já no ter- são usadas para exploração sexual. Há,
trabalhar como aupair (a cuidar de cri- ceiro negócio mais lucrativo do mundo, a no entanto, pessoas que são traficadas
anças) para uma família na Alemanha. seguir ao tráfico de armas e de estupe- para exploração laboral, para transplan-
“Ia ganhar 700 euros por mês. Era mais facientes. Apesar de esta ser uma reali- tes de órgãos ou para adopções ilegais,
do que podia sonhar”, conta, num vídeo dade inerentemente obscura, as Nações neste caso, de crianças. A OSCE (Orga-
disponível em www.mtvexit.org (Parallel Unidas estimam que, todos os anos, se- nização para a Segurança e Cooperação
Lives). Quando chegou a solo germânico, jam traficadas pelo menos 2,5 milhões na Europa) estima que todos os anos se-
forçaram-na a prostituir-se. A princípio, de pessoas. O Conselho da Europa acres- jam traficados 1,2 milhões de menores.
resistiu: “deve ser um erro, não vim centa que dentro do território europeu
Portugal não escapa a esta realidade e,
para a Alemanha para isto”, referiu. o tráfico envolve, anualmente, cerca de
de acordo com o relatório norte-america-
Porém, “eles bateram-me e violaram- 600 mil pessoas.
no “Trafficking in Persons Report 2008”,
-me durante cinco dias consecutivos,
A grande maioria das vítimas é iludida é um país de destino e trânsito para o
até que eu disse: Faço o que quiserem,
com propostas de emprego ou outras tráfico de seres humanos. O mesmo estu-
mas deixem de me torturar”.
falsas promessas, podendo depois ser do indica que a maioria das vítimas são
Esta é uma das histórias que é comum usada para diferentes finalidades. O mulheres provenientes do Brasil, porém,
ouvir-se entre as vítimas do tráfico de Conselho da Europa acredita que 80% é também comum serem traficados ho-
16 Notícias • Amnistia Internacional
mens de países de Leste, que são usados Mundivisão), que entre 2005 e 2007 se zes: primeiro, a informação (dando a
para exploração laboral. Manuel Albano, dedicou a estudar o tráfico de mulheres conhecer esta realidade); em segundo, a
Coordenador do I Plano Nacional Contra o para exploração sexual. A partir daqui prevenção (sensibilizando e formando);
Tráfico de Seres Humanos, diz não poder “percebeu-se que Portugal devia ter em terceiro, a capacitação (protegendo,
confirmar estes dados, uma vez que não um espaço e um plano que se estru- apoiando e integrando); e, por último, a
há ainda estudos feitos em Portugal so- turasse em torno do tráfico de seres criminalização (investigando e reprimin-
bre esta realidade. humanos”, como um todo, “e de forma do). Linhas mestras que começaram logo
mais conjugada do ponto de vista de a dar resultados em 2008.
estratégia nacional”.
Em Junho, é assinado o Protocolo de Co-
O COMBATE AO CRIME
Posto isto, logo em 2007 foram visíveis laboração e Cooperação para a Instalação
O tráfico de seres humanos é, na verdade, melhorias de cariz jurídico. Primeiro, com do Centro de Acolhimento e Protecção a
um crime praticado desde a Antigui- a reforma penal, que veio colmatar fortes Vítimas de Tráfico e seus filhos menores.
dade, mas só recentemente os Estados lacunas, prevendo finalmente as dife- Mais para o final do ano, em Novembro,
começaram a adoptar medidas específi- rentes finalidades do tráfico humano, de é criado o tão esperado Observatório do
cas para o combate a este flagelo. E es- acordo com o Protocolo de Palermo (das Tráfico de Seres Humanos, para recolher
tas, referiu Manuel Albano, começaram Nações Unidas), e passando a criminali- informação sobre esta realidade em Por-
a ser pensadas “de uma óptica mera- zar não apenas o traficante, mas quem tugal. E, ainda antes do ano terminar, foi
mente criminalista”, que visava punir utiliza os serviços da vítima com conhe- lançada a Campanha Nacional contra o
os traficantes. Só nos últimos anos se cimento da prática de tráfico e quem Tráfico de Seres Humanos, centrada no
“tem passado a uma perspectiva mais ocultar, destruir ou danificar os docu- lema “Não se limite a assistir. Denun-
centrada nos direitos humanos, ou seja, mentos de identificação ou de viagem da cie”, uma vez que, refere Manuel Albano,
na vítima”. Até porque, acrescente-se, o vítima. É ainda de destacar que a 4 de “todos somos importantes no com-
tráfico de pessoas está ligado a vários Julho de 2007 foi aprovada a nova Lei da bate a este flagelo”. Assim, neste ano
outros problemas, como, por exemplo, a Imigração (Lei 23/2007), onde ficou pre- de 2009, cabe a cada um de nós estar
pobreza e a imigração. vista a autorização de residência para as atento e denunciar situações anómalas,
Em tudo isto, Portugal não tem sido ex- vítimas de tráfico humano. para o 808 257 257. É possível mudar
cepção e só nos últimos dois anos é que esta realidade!
No mesmo ano de 2007 é também de-
se têm registado progressos significati- lineada uma estratégia de acção, com
vos no combate ao tráfico de seres hu- a criação do I Plano Nacional contra
manos. O grande despoletador de tudo o Tráfico de Seres Humanos. O seu ob-
isto, conta Manuel Albano, foi o Projecto jectivo é o de adoptar uma panóplia de
CAIM (Cooperação, Acção, Investigação, medidas centradas em quatro directri-
8 ERRADICAR A POBREZA
NO MUNDO
© Genna Naccache
Uma parte da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, que os dados oficiais indicam albergar mais de 50 mil habitantes.
Muitos têm muito pouco e poucos têm acesso a um pouco daquilo que está nas passa, pois, por erradicar as decisões
muito. Muitos dos que têm muito pouco mãos de muito poucos. que causem ou aprofundem as situações
têm muito pouco porque não têm acesso de pobreza e que constituem – como tal
A pobreza não é uma fatalidade. Não é
às decisões dos poucos que têm muito e – um atentado à dignidade humana e
condição inalienável. É, tem vindo a ser,
cujas decisões são determinantes para aos Direitos Humanos.
produto de decisões. Erradicar a pobreza
que os muitos que têm pouco, tenham
FAMÍLIAS DESALOJADAS
Na já referida tarde de Setembro de 2004,
Chipasse e outros homens ainda tenta-
ram impedir a demolição do seu bairro,
mas os indivíduos que levaram a cabo
os desalojamentos recorreram à força,
empurrando, ameaçando e batendo. Por
tentar resistir, José Chipasse foi preso e
levado a tribunal no dia seguinte. Como
não havia qualquer acusação possível,
© Privado
foi libertado de imediato. No entanto, não
Mapa de Luanda, em Angola, e a sua divisão em municípios. No texto falamos de Kilamba Kiaxi.
teve direito a realojamento e o mesmo
aconteceu às restantes famílias de Cam-
bamba I. Também não houve penaliza-
Às 18 horas do dia 28 de Setembro de formal, o bairro no qual viviam cerca
ções para os indivíduos que ordenaram e
2004, a polícia nacional de Angola, de quatrocentas famílias foi arrasado
levaram a cabo os desalojamentos e que
acompanhada por guardas da empresa em nome do projecto de reconstrução
cometeram maus tratos.
de segurança privada Visgo, chegou ao urbanística “Nova Vida”, que pretendia
bairro de Cambamba I, no Município construir no local condomínios de luxo. Estes acontecimentos na região Kilamba
do Kilamba Kiaxi, em Luanda (Angola), Até ao fecho desta edição, nada chegou Kiaxi são apenas um exemplo das mui-
para iniciar a sua demolição, conta José a ser construído e ninguém foi realojado. tas histórias de despejos forçados que
Chipasse, um dos moradores. Sem aviso Após duas demolições – a já referida, têm chegado de Angola. A situação re-
Notícias • Amnistia Internacional 19
monta a 2002, quando o Governo Ango- Bilhete de Identidade. Chipasse nunca política, militar e cultural, que outrora
lano deu início a grandes planos de re- teve dinheiro para comprar a licença, combateu esse mesmo colonialismo”. O
construção urbanística para Luanda. As mas muitos dos desalojados tinham até dirigente critica também a falta acção da
“construções anárquicas” e “ilegais”, conseguido regularizar a sua situação. União Europeia perante esta realidade.
como os bairros periféricos da cidade Apesar disso, não foram realojados e,
Por tudo isto, apesar dos esforços desen-
foram descritos, deveriam dar lugar a tal como Chipasse, não obtiveram com-
volvidos pelos moradores do Cambamba
condomínios de luxo. A história de José pensações. Houve, porém, alguns casos
I hoje resta-lhes apenas as promessas
Chipasse e da sua família retrata então o raros de realojamento, mas as pessoas
de ajuda feitas por parte do projecto
destino de cerca de 10.000 famílias que foram colocadas em locais ainda mais
“Nova Vida” e pelo Ministério das Obras
foram desalojadas em Angola nos últi- periféricos e isolados. E assim se perpe-
Públicas. No entretanto, as 170 famílias
mos sete anos. Algumas chegaram a ser tua a situação de pobreza em que muitos
que permanecem no bairro,
realojadas em zonas periféricas, longe já viviam.
dos seus locais de trabalho e escolas,
outras permanecem nos terrenos onde
antigamente viviam, ficando vulneráveis
a novos desalojamentos.
NACIONAL
A Amnistia Internacional de Norte a Sul
Nos meses que se passaram desde o último “Notícias” da Amnistia Internacional Portugal, os vários
Grupos e Núcleos da Amnistia Internacional (AI), que se encontram de Norte a Sul do país, realizaram
muitas actividades de promoção dos direitos humanos. Por falta de espaço, deixamos-lhe aqui apenas
uma pequena amostra do trabalho desenvolvido por estes activistas voluntários
a vela que é o símbolo da Amnistia In- tal, foi realizada uma sessão com alunos debate, centrada no tema “O Tráfico de
ternacional. Tudo isto, para que a chama do secundário. O Grupo Local de Oeiras Mulheres para Redes de Prostituição”. O
que ilumina a AI nunca se extinga! realizou, no Jardim de Paço de Arcos, evento contou com vários especialistas
uma performance alusiva ao tema com na temática e foi uma parceria com o
o grupo teatral Comummente. canal Fox Crime, onde passou uma série
alusiva ao tema. Ainda neste dia, e con-
MARATONA DE CARTAS forme foi proposto pela AI, o programa
Todos os anos, a 10 de Dezembro, a Am- CIDADES PARA A VIDA, CONTRA da RTP 2 Sociedade Civil centrou-se na
nistia Internacional promove a Maratona A PENA DE MORTE temática da violência sobre as mulheres.
de Cartas, pedindo às pessoas de todo o A Norte, o Núcleo de Matosinhos organi-
mundo que escrevam apelos em nome de zou também um debate, sobre o mesmo
vítimas de violações dos direitos huma- tema, tendo contado com a presença de
nos. Os portugueses tornaram a aderir a várias ONG especializadas. O mesmo as-
esta iniciativa, tendo sido enviadas, do sunto foi ainda debatido em Estremoz,
nosso país, 3.036 cartas. Houve ainda numa sessão pública convocada pelo
mais 20 países a juntarem-se a esta Núcleo local.
causa, o que tornou possível que 250.000
cartas fossem escritas em nome dos di-
reitos humanos. Um número que superou LISBOA VOLTA A TER UM GRUPO
em larga escala os valores alcançados LOCAL
no ano passado, quando foram enviados A começar o ano de 2009, a Amnistia
160.000 apelos. A todos, o nosso agra- Internacional teve uma boa notícia: o
decimento, pois só juntos podemos mu- renascer do Grupo Local 01 de Lisboa.
dar a vida destas pessoas. © AI Portugal Recorde-se que este foi um dos grupos
fundadores da secção portuguesa da
Outro dos eventos da Amnistia Interna- Amnistia Internacional, em 1981. Sejam
DIA INTERNACIONAL CONTRA A cional que foi dinamizado em vários pon- bem-vindos de volta ao activismo!
PENA DE MORTE tos do país foi o “Cidades para a Vida
Outra das efemérides que a Amnistia – Cidades Contra a Pena de Morte”. To-
Internacional nunca deixa passar em dos os anos Portugal junta-se a centenas A AI PORTUGAL AGRADECE
claro é o 10 de Outubro, Dia Internacio- de cidades de todo o mundo para apelar
ao fim da pena de morte, ainda aplicada O 10 de Dezembro de 2008 em Lis-
nal contra a Pena de Morte, que esteve
em cerca de 60 Estados. O objectivo é boa só foi possível graças à genero-
em relevo em algumas localidades do
que sejam iluminados edifícios públicos sidade da incansável Sílvia Alberto,
país. Nas Caldas da Rainha, o Núcleo
ou outros de igual valor simbólico, como da divertida Luciana Abreu, das
do Oeste da Amnistia Internacional de-
forma de apelar a que seja feita uma educativas Marionetas do Mundo
bateu o tema com cerca de 200 alunos
moratória global à pena capital. A 30 de (Ecos do Sul), da disponível empresa
do ensino secundário de três escolas
Novembro de 2008 foram 32 as autar- de transportes Carrinhos de Esferas
locais. O mote para a discussão foi lan-
quias portuguesas que iluminaram esta e das dedicadas professoras.
çado com a simulação de uma sessão
da Assembleia Geral das Nações Unidas ideia, ajudando a que, no total, o evento
onde está (supostamente) a ser deba- fosse assinalado em 979 cidades, em CONVOCATÓRIA
tida uma moratória à pena de morte. todo o mundo. ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA
Foi também esta a acção desenvolvida
em Lisboa pela sede da AI, que juntou Nos termos da alínea a) do Art.º 18º
na Fundação Calouste Gulbenkian mais ACABAR COM A VIOLÊNCIA SO- dos Estatutos da Amnistia Interna-
de uma centena de jovens, de dez esco- BRE AS MULHERES cional – Portugal, a Presidente da
las secundárias da Grande Lisboa, para Em Novembro foi tempo de lembrar que Mesa da Assembleia Geral, Maria
discutirem e votarem a moção fictícia à a violência sobre as mulheres continua a Ângela Pires, convoca a Assembleia
abolição da pena de morte no mundo. ser uma realidade. Com este intuito, e à Geral Ordinária para reunir no dia
O Núcleo de Estremoz dedicou-se à co- semelhança dos anos anteriores, a Am- 28 de Março de 2009, em Lisboa, a
munidade, de uma forma mais geral, e nistia Internacional promoveu 16 Dias partir das 14 horas.
promoveu uma sessão pública para falar de Activismo, a começarem a 25 de No- A reunião terá lugar na Escola Su-
sobre a pena capital. O debate inseriu-se vembro, Dia da Eliminação de Todas as perior de Comunicação Social, sita
nos “Encontros com a AI”, uma iniciativa Formas de Violência sobre as Mulheres, no Campus de Benfica do IPL em
que o núcleo promoveu todas as tercei- e a terminarem no Dia Internacional dos Lisboa. Mais informações e Ordem
ras terças-feiras de 2008, para debater Direitos Humanos. Neste sentido, a sede de Trabalhos disponíveis em: www.
temas relacionados com os direitos hu- da secção portuguesa da AI promoveu, amnistia-internacional.pt (Notícias
manos. Ainda a propósito da pena capi- em Lisboa, uma conferência, seguida de / AI Portugal)
22 Notícias • Amnistia Internacional
© AI Portugal
Antes de terminar o ano de 2008, a Am- capacidade para assegurar o respeito uso dos meios errados”.
nistia Internacional (AI) Portugal orga- efectivo pelos direitos humanos. Uma
Uma segunda ameaça ao cumprimento
nizou um Encontro Nacional (ENAI) para realidade que vem atribuir especial im-
dos direitos consagrados na DUDH pren
promover o convívio entre os activistas portância às Organizações Não Governa-
de-se com a imigração e com a discri-
de direitos humanos. O evento decorreu mentais, como a Amnistia Internacional,
minação a que muitos imigrantes estão
nos dias 4 e 5 de Outubro, no Hotel Ipa- pois são elas que monitorizam violações
sujeitos. Apesar dos fluxos migratórios
nema Park, no Porto, e reuniu cerca de 80 aos direitos humanos consagrados na
serem uma prática milenar e de estarem
membros e apoiantes da AI. No ano em Declaração Universal e os denunciam.
consagrados na lei, há actualmente uma
que se celebraram os 60 anos da adop-
Depois de uma pausa para almoço, a tar- forte tendência para associar a imigração
ção da Declaração Universal dos Direitos
de começou com uma encenação sobre os à criminalidade, referiu Duarte Miranda
Humanos (DUDH), o Encontro Nacional
voos de rendição norte-americanos com Mendes, Chefe de Gabinete do ACIDI
serviu para fazer um balanço da situa-
destino a Guantánamo, pelo Grupo de (Alto Comissariado para a Imigração e
ção dos direitos humanos no mundo e
Estudantes da AI da Escola Secundária o Diálogo Intercultural). Uma imagem
para pensar sobre o seu futuro.
de Ermesinde. A representação serviu errónea que “resulta, muitas vezes, do
de estímulo ao debate que prosseguiu desconhecimento e do medo daquele
DIREITOS HUMANOS EM sobre as actuais ameaças ao respeito que é diferente”. Uma forma de racismo
pelos direitos humanos. Uma das mais que é muito alimentada pela comunica-
RETROSPECTIVA imediatas é desde logo a Guerra ao Terro- ção social.
O ENAI abriu, como não poderia deixar de rismo, que foi referida pelo Eurodeputado
Os debates do primeiro dia de ENAI ter-
ser, com um painel centrado na DUDH. Carlos Coelho, Presidente da Comissão
minaram com uma reflexão em torno de
Pedro Bacelar de Vasconcelos, constitu- CIA, que investigou os voos de rendição
uma das mais antigas formas de viola-
cionalista e doutorado em Direito, abor- que passaram pela Europa. Com conhe-
ção dos direitos humanos, que continua
dou a temática da perspectiva institucio- cimento de causa, abordou as violações
bem vigente na sociedade portuguesa: a
nal, enquanto Victor Nogueira, membro ao Direito Internacional que têm sido
violência sobre as mulheres e as crian-
da AI, referiu a sua importância para o cometidas pelo receio de terrorismo. Em
ças. Joana Marques Vidal, Presidente da
activismo. Dos dois discursos ficou claro jeito de conclusão, o deputado afirmou:
APAV (Associação Portuguesa de Apoio à
que continuam a faltar instituições com “o mais nobre dos fins não justifica o
Vítima), defende que estas duas reali-
Notícias • Amnistia Internacional 23
dades só podem ser combatidas se hou- diz respeito aos princípios de cidadania Pode contactar os Grupos e Núcleos da
ver uma união de respostas individuais, e civismo. E acrescenta, os próprios pro- Amnistia Internacional através de:
comunitárias e estatais. Para fechar o fessores têm cada vez menos formação
dia com chave de ouro seguiu-se a lei- ao nível dos direitos humanos. Para ter- GRUPO LOCAL 01 - Lisboa • (coordenador/a
tura de “Poemas Cruzados”, de poetas minar, deixou o alerta: “não basta aos a designar) lenabreu@yahoo.com
israelitas e palestinianos, num trabalho adultos ensinar, é também preciso GRUPO LOCAL 03 - Oeiras • Lucília José
organizado por Margarida Mendes Silva exemplificar”. Justino, zjustino@gmail.com
GRUPO LOCAL 06 - Porto • Virgínia Silva,
e protagonizado por André Gago e Helena
O quarto e último painel do ENAI esteve amnistia.porto@gmail.com / aiporto.
Faria. Um momento inesquecível. À noite
aberto à participação de qualquer pes- blogspot.com
houve ainda tempo para assistir ao con- GRUPO LOCAL 14 - Lourosa • Valdemar
soa que quisesse trazer mais temas ao
certo do grupo ZARE. Mota , aigrupo14@gmail.com
debate. Foi o que fez Alenuska Nunes,
que destacou a problemática dos imi- GRUPO LOCAL 16 - Ribatejo Norte • Yvonne
grantes ilegais, e Ana Monteiro, que falou Wolf, yvonne_wolff@adsl.xl.pt
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO GRUPO LOCAL 18 - Braga • José Luís
sobre algumas das experiências clínicas
O segundo dia de ENAI pretendeu lançar Gomes, ai18braga@gmail.com
que são feitas em seres humanos e que
GRUPO LOCAL 19 - Sintra • Fernando Sousa,
um olhar sobre o futuro e abrir caminho ultrapassam todos os limites do que é ai.grupo19@gmail.com / grupo19aisp.
ao optimismo. O painel inicial reflectiu eticamente aceitável. Por último, André no.sapo.pt
sobre as oportunidades que continuam Rubim Rangel deixou mais algumas su- GRUPO LOCAL 24 - Viana do Castelo • Luís
em aberto para os direitos humanos. A gestões para que os Direitos Humanos Braga, luismbraga@sapo.pt
primeira a ser referida foram os oito Ob- sejam efectivamente cumpridos em GRUPO LOCAL 32 - Leiria • Maria Fernanda
jectivos de Desenvolvimento do Milénio, todo o mundo. É também esse o nosso Ruivo, fernanda.ruivo@sapo.pt
traçados no ano 2000 pelos Estados desejo! GRUPO LOCAL 33 - Aveiro • Joana Valente,
das Nações Unidas e que deveriam ser amnistiaveiro@gmail.com / amnistiaveiro.
cumpridos até 2015. Uma oportunidade blogspot.com
única para mudar o mundo, que pouco NÚCLEO DE ALMADA • Marlene Oliveira da
tem avançado, arriscando-se a torna-se, Conceição, ai.nucleoalmada@gmail.com /
na verdade, apenas uma forma de “ma- ai-nucleoalmada.blogspot.com
NÚCLEO DO OESTE - Caldas da Rainha •
nutenção do sistema vigente”, lamentou
Teresa Mendes, ai.nucleooeste@gmail.com /
José Manuel Pureza, coordenador do Nú-
aioeste.blogspot.com
cleo de Estudos para a Paz e professor NÚCLEO DE CASTELO BRANCO (a designar)
universitário. • ai_nucleo_castelobranco@yahoo.com /
Outra forte oportunidade para os direitos amnistiacastelobranco.blogspot.com
humanos em pleno século XXI é o facto NÚCLEO DE CRIANÇAS - Vila Nova de
Famalicão • Vitória Triães, vitoriatriaes@
de as empresas privadas serem também
msn.com
hoje um importante actor nas relações
NÚCLEO DE ESTREMOZ • Maria do Céu
internacionais, defendeu Ana Roque, da Pires, amnistiaetz@gmail.com
Comissão Técnica 164 (que desenvolveu NÚCLEO DE TORRES VEDRAS • Ana Lopes,
a norma de responsabilidade social das aitorresvedras@gmail.com / blog.comuni-
empresas). É, por isso, fundamental atri- dades.net/aitorresvedras
buir certificações e prémios a empresas NÚCLEO DE MATOSINHOS • Otília Gradim
que respeitem os direitos humanos, Reisinho, amnistia.matosinhos@gmail.com
como, por exemplo, as que protegem os / nucleodematosinhos.blogspot.com
seus trabalhadores. Uma vez que estas NÚCLEO DE GUIMARÃES • Cristina Lima,
empresas vivem da imagem pública, dar amnistia.guimaraes@gmail.com
maior visibilidade às boas acções é uma GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS
DIREITOS HUMANOS • Fernanda Sousa,
forma de incentivar os direitos huma-
mfpsousa@sapo.pt
nos.
CO-GRUPO DA CHINA • Maria Teresa
A última oportunidade para os direitos Nogueira, nogueiramariateresa@gmail.com
humanos a ser referida no ENAI é há vári- CO-GRUPO DA PENA DE MORTE • Raul
os anos uma prioridade para a Amnistia Gaião, raullealg@gmail.com
Internacional. Referimo-nos à Educação GRUPO DE JURISTAS • Sónia Pires,
para os Direitos Humanos, porque as cri- sonia.c.pires@gmail.com
anças são, efectivamente, o futuro. Isa-
Se ainda não existe um grupo da Amnistia
bel Menezes, doutorada em Psicologia, Internacional Portugal perto de sua casa,
não se mostrou optimista, uma vez que, pode sempre ser pioneiro e começar o acti-
refere, o grau de exigência nas escolas vismo na sua localidade. Fale connosco pelo
© AI Portugal
tem diminuído, principalmente no que mail l.marques@amnistia-internacional.pt
ou ligando 213 861 652.
24 Notícias • Amnistia Internacional
“Iremos continuar
a lutar pela
defesa dos
Direitos
Humanos”.
Rosária Rego
Albufeira
Nelson Évora, Medalha de Ouro de Triplo GRUPOS DE ESTUDANTES DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL
Salto dos Jogos Olímpicos de Pequim, era (Coordenadores e emails/blogs)
uma das surpresas que a Amnistia Inter-
nacional Portugal tinha reservada para o • GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL (Fátima)
Campo de Trabalho de 2008. Por motivos Sandra Maurício - ai_csm@live.com.pt
pessoais, não pôde estar presente, mas • GE DA ESCOLA BÁSICA 2,3 NUNO GONÇALVES, (Lisboa)
não quis deixar de enviar um incentivo a Iolanda Machado - iolandamachado@gmail.com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ALBUFEIRA
Rosaria Rego - grupoestudantes_esa_amnistiainternacional@hotmail.com /
grupodaesaai.blogspot.com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
Fernanda Vicente - antero.quental@mail.telepac.pt
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE ERMESINDE
Mª Arminda Sousa - ai-ese@sapo.pt / ai_ese.blogs.sapo.pt
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE VILHENA
Carla Ferreira - carlafariaferreira@hotmail.com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA MARIA MAIOR
Cristina Soares - crisoares@hotmail.com / amnistisiados.blogspot.com
• GE DA FACULDADE DE DIREITO DE LISBOA
Ana Matos Ferreira - nucleoai.fdul@gmail.com
• GE DO ISCTE
Ana Monteiro - amnistiaiscte@yahoo.com
Se ainda não existe um Grupo da Amnistia Internacional na tua escola, podes ser tu a
criá-lo. Nós dizemos como. Escreve-nos para l.marques@amnistia.internacional.pt
ou telefona para o 213 861 652 e fala com Luísa Marques.
BOAS NOTÍCIAS
que terminou em 2005. As únicas pro- acusado de “incitamento à subversão
vas apresentadas foram as confissões do poder do Estado” a 28 de Janeiro de
dos prisioneiros, obtidas sob tortura. A 2008, tendo sido condenado a três anos
Amnistia Internacional acreditou sem- e meio de prisão, que está a cumprir. É
pre que tinham sido usados como bodes conhecido por ser um acérrimo defensor
expiatórios, dado o mediatismo do líder dos direitos humanos na China, tendo
sindicalista e a urgência de encontrar criticado várias vezes as forças policiais
culpados para o seu assassinato, que e governamentais. Fica a nota positiva
ocorreu quando passeava pelo centro de dada pelos Estados europeus.
Phnom Penh, a 22 de Janeiro de 2004.
© Courtesy John Vink/Magnum Photos Com a libertação dos cambojanos, as
Sok Sam Ouen (em primeiro plano) e Born Samnang (atrás),
num carro, no momento da libertação.
investigações foram retomadas, como
também tinha sido solicitado pela Am-
nistia Internacional. Vamos, por isso,
CAMBOJA continuar a seguir este caso.
Liberdade para jovens detidos injusta-
mente
Na edição anterior do “Notícias” da Am- CHINA ACTUALIZAÇÃO DE CASOS
nistia Internacional Portugal pedimos- Continua a luta pelos Direitos Humanos
-lhe que participasse nos Apelos Mun- Binyam Mohamed • No último “Notícias”
A fechar 2008 houve várias boas notí- da Amnistia Internacional foi lançado um
diais que estavam a ser feitos em nome cias que vieram dar mais força à luta
dos cambojanos Born Samnang, de 25 Apelo Mundial em nome do etíope de 29
dos defensores dos direitos humanos na anos, detido na prisão norte-americana
anos, e Sok Sam Oeun, de 38 anos. A República Popular da China. Primeiro,
fechar o ano de 2008 chegou a boa notí- de Guantánamo desde Abril de 2004.
soube-se que o activista Ye Guozhu, de- Apesar de continuar preso, e de não estar
cia: os prisioneiros foram libertados, tido desde 2004, tinha sido libertado a 15
sob fiança, às 19:30 do dia 31 de Dezem- a receber as cartas de apoio que alguns
de Outubro. O prisioneiro de consciência, activistas lhe têm enviado, aconselha-
bro. A libertação surge no seguimento alvo de vários apelos da Amnistia Inter-
de uma audiência no Supremo Tribunal, mos que sejam suspensos os apelos em
nacional, tinha sido julgado em segredo seu nome, uma vez que Barack Obama
após recurso interposto pelos detidos já e condenado a quatro anos de prisão por
na altura da sua condenação. emitiu já ordens executivas para encer-
ter solicitado uma manifestação contra rar a prisão e acabar com as Comissões
Pouco tempo depois, chegava à Amnistia os despejos forçados que estavam a Militares.
Internacional (AI) uma carta de agrade- ocorrer em Pequim na preparação para
cimento, onde se lia: “Acreditamos que os Jogos Olímpicos. A pena terminara a Nathum al-‘Ani • No seguimento do Ape-
este desfecho não teria sido possível sem 26 de Julho, mas as autoridades man- lo Mundial lançado no último “Notícias”
o apoio interminável, a esperança e o en- tinham Ye Guozhu na prisão. A liberta- em nome de al-‘Ani, a sede da Amnistia
corajamento da Amnistia e de centenas ção foi saudada por activistas de todo o Internacional, em Londres, recebeu uma
dos seus membros. Obrigado pelo tempo mundo. resposta do Ministro dos Direitos Huma-
que vos levou a escreverem as mensa- nos iraquiano dizendo que tinham sido
Um segundo acontecimento marcante feitas investigações sobre o seu desapa-
gens de esperança, obrigado pelos esfor- no final do ano foi a atribuição, pelo
ços feitos para as enviarem e obrigado recimento, mas nada tinha sido desco-
Parlamento Europeu (PE), do Prémio berto. Recorde-se que foi levado de sua
a todos pelas palavras inspiradoras de Sakharov para a Liberdade de Pensa-
esperança, que significaram muito para casa em 2005 por elementos das forças
mento 2008 ao activista chinês Hu Jia. O de segurança do país, por alegadamente
estes dois homens e para as suas famí- prémio foi anunciado em Outubro, tendo
lias”. estar envolvido com grupos armados da
Hans-Gert Pöttering, Presidente do PE, oposição. A Amnistia Internacional es-
Sok Sam Oeun e Born Samnang esti- afirmado: “Ao atribuir este prémio a Hu pera agora que lhe sejam facultados de-
veram detidos durante quase cinco anos Jia, o Parlamento Europeu manifesta o talhes sobre a investigação realizada,
pelo assassinato do sindicalista Chea seu reconhecimento firme e determinado pelo que o apelo que tínhamos publicado
Vichea, tendo sido condenados a 20 a todos os defensores dos direitos huma- no “Notícias” está já desactualizado.
anos de prisão num julgamento injusto nos na China”. Recorde-se que Hu Jia foi
Notícias • Amnistia Internacional 27
APELOS MUNDIAIS
O movimento da Amnistia Internacional começou com a indignação do advogado londrino Peter Benen-
son, perante a notícia de prisão de dois jovens portugueses, que no início dos anos 60 brindaram “Viva
à Liberdade”. Hoje Portugal está longe desta realidade, mas em muitos países do mundo há milhares
pessoas que continuam a ser injustamente presas ou condenadas.
Nas páginas seguintes apresentamos quatro situações urgentes de pessoas iguais a nós, que sofreram
violações graves aos seus direitos enquanto seres humanos.
É URGENTE QUE SEJA FEITA JUSTIÇA!
ELAS PRECISAM DA NOSSA AJUDA! E A SUA ASSINATURA PODE FAZER TODA A DIFERENÇA!
28 Notícias • Amnistia Internacional
MOÇAMBIQUE
Abranches Penicelo assassinado pela polícia
VENEZUELA
Violência familiar coloca Alexandra Hidalgo em risco de vida
No dia 21 de Maio de 2004, Alexandra Hidalgo foi raptada junto ao seu carro,
sob ameaça de arma, à porta do Banco onde trabalhava, em Caracas, capital da
Venezuela. Foi arrastada para a traseira de uma carrinha e levada para um local
remoto, vendada, e foi torturada e violada durante cerca de sete horas por um
grupo de homens, de entre os quais conseguiu identificar o seu ex-marido.
Dois meses antes, Alexandra tinha obtido o divórcio do seu marido, Ivan Sosa
Rivero, na altura tenente-coronel do Exército venezuelano. O seu casamento tinha
sido marcado por abusos físicos, psicológicos e sexuais.
Em Julho de 2004, pouco tempo depois do incidente, o ex-marido foi acusado de
rapto e violação. Foi detido em Dezembro e mantido numa instituição militar. No
entanto, foi libertado condicionalmente quatro meses mais tarde, fugiu e nunca
foi presente a Tribunal. Os advogados de Ivan conseguiram 14 adiamentos de
© Amnistia Internacional
audiências.
Alexandra teme pela sua vida e pela dos três filhos e tanto ela, como a sua mãe, têm recebido chamadas anónimas a ameaçá-las
de morte e ameaçando raptar um dos filhos. Dois dos restantes cinco atacantes foram condenados a oito anos de prisão, em parte
devido a informação obtida pela própria Alexandra Hidalgo, a partir do telemóvel do ex-marido. Outros dois foram ilibados e o quinto
elemento do grupo está também fugido. Ivan Sosa Rivera só foi dispensado do exército em 2008 e apenas pelo facto de não ter com-
parecido em tribunal para responder a acusações militares.
Alexandra fala sobre o seu caso com frequência, na esperança de alertar para a violência sobre as mulheres e prevenir novos ataques.
Porém, é também urgente apelar às autoridades venezuelanas para que façam todos os esforços para seja feita justiça neste caso.
E, ao mesmo tempo, é fundamental providenciar protecção a esta família.
(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)
Notícias • Amnistia Internacional 29
LÍBIA
Fathi el-Jahmi continua detido sem julgamento
ANGOLA
José Fernando Lelo condenado em julgamento injusto
(Carta-apelo em anexo no interior desta revista, bastando apenas assinar, colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data)
30 Notícias • Amnistia Internacional
Este espaço estará presente em todos os boletins, com o objectivo de apresentar uma breve análise sobre
a situação financeira da Amnistia Internacional Portugal
SITUAÇÃO ECONÓMICA E FINANCEIRA Os dados apresentados na tabela 1 per- Em Maio tínhamos já amortizado 30.000€
(dados reais acumulados) mitem verificar que no ano de 2008 se e a fechar o ano pagámos mais 50.000€,
obteve uma receita ligeiramente supe- de um total de 230.000€. A gestão deste
Devido ao processo de implementação rior (em cerca de 1%) ao ano anterior. empréstimo foi bastante reconhecida e
e integração dos novos softwares de Podemos ainda observar que o valor da elogiada pelo SI, uma vez que fomos a
gestão “Primavera” e “Salesforce” na despesa em 2008 apresenta uma descida primeira secção a tomar a iniciativa de
contabilidade da Amnistia Internacio- de 34% relativamente a 2007. amortizar antes do prazo previsto, opção
nal (AI) Portugal, os nossos dados cont- feita com a finalidade de reduzir os juros
Tendo em conta o saldo obtido entre
abilísticos mantêm-se com algum atraso. aplicáveis.
Janeiro e Agosto de 2008, e a previsão
Apresentamos, assim, os dados reais que
realizada para os meses seguintes, a AS PRINCIPAIS FONTES DE RECEITA E
temos disponíveis e que são relativos aos
AI amortizou, no final do ano, mais uma DE DESPESA DA AI PORTUGAL
primeiros oito meses do ano de 2008. Para
parcela do empréstimo contraído ao Se-
efeitos de análise, apresentamos os da-
cretariado Internacional (SI) da Amnistia RECEITAS
dos comparativos referentes ao mesmo
Internacional, ou seja, à sede em Londres.
período de 2007. Quotas de membros
Donativos provenientes do FACE TO FACE
Consignação dos 0.5% - IRS
NOVOS MEMBROS E APOIANTES ram a registar-se novas entradas de doa- decorreu entre Março e Novembro, foram
(de Janeiro a Dezembro de 2008) dores e membros por outras vias, como o contactados 955 apoiantes inscritos em
envio por correio, a adesão pela Internet 2006, com o objectivo de se propor um au-
(em www.amnistia-internacional.pt) e a mento no valor do seu donativo. Mais uma
Terminou no dia 22 de Dezembro de 2008
inscrição através das campanhas e ac- vez, os resultados foram positivos, tendo
o terceiro ano do projecto de crescimento
ções desenvolvidas pela AI. 52% dos apoiantes optado por aumentar o
e mobilização “Face to Face. Após a rea-
lização de três projectos piloto, em 2004 Os dados da tabela 3 permitem concluir seu donativo, em pelo menos dois euros.
e 2005, que confirmaram a viabilidade que o “Face to Face” continua a ser a
deste método de angariação de fundos fonte de origem de 92% dos apoiantes
em Portugal, a AI deu início ao projecto e membros da AI, assumindo um papel
em Março de 2006, com duração prevista fundamental no crescimento da secção. NOVAS ENTRADAS
de seis anos. Realizado em 30 países, o Incluindo os três projectos piloto em Janeiro a Dezembro 2008
“Face to Face” consiste na abordagem 2004 e 2005, o “Face to Face” permitiu Apoiantes e Membros
directa de pessoas em espaços públicos, a inscrição de 12.105 novos apoiantes e via FACE TO FACE 2.764
comerciais e universitários, com o objec- membros para a AI Portugal, mantendo-se Membros outras vias 114
tivo de sensibilizar e divulgar o trabalho actualmente activos 77% dos inscritos. Doadores Pontuais 123
da Amnistia Internacional (AI) e assim Total de Registos 3.001
Em 2008, confirmou-se o interesse e con- © Amnistia Internacional Portugal
angariar novos apoiantes e membros.
fiança dos nossos apoiantes e membros,
TABELA 3 - Novas Entradas em 2008
Em 2008, para além das pessoas que através dos resultados de mais um pro-
chegaram à Amnistia Internacional atra- cesso de Upgrade, realizado no âmbito do
vés do projecto “Face to Face”, continua- “Face to Face”. Nesta terceira fase, que
Notícias • Amnistia Internacional 31
AGENDA
A RELAÇÃO ENTRE AS países do mundo digam aos Governantes, PRÉMIO AMNISTIA INTERNACIO-
MULHERES E A POBREZA nacionais e internacionais, que é altura NAL NO INDIELISBOA
de acabar com as graves violações aos
A 8 de Março, quando se comemora o direitos humanos que se perpetuam no
Dia Internacional da Mulher – e no ano Darfur. A “arma” que vamos utilizar é o
em que a Amnistia Internacional se vai vídeo. E o procedimento é muito simples:
dedicar de forma particular à Dignidade basta, até 31 de Março, pegar numa câ-
Humana e à Pobreza –, a secção portu- mara de filmar, gravar uma mensagem
guesa organiza um debate, em Lisboa, com até 1 minuto (ou até 90 megas) e
para perceber a ligação estreita entre enviar o ficheiro para o email 24hpordar-
este género humano e a pobreza. O mote fur@gmail.com. Todas as mensagens fi- Pelo quinto ano consecutivo, a AI Portu-
vai ser dado pelo filme As Mulheres de cam disponíveis em http://www.youtube. gal vai atribuir o Prémio Amnistia Inter-
Kibera, que retrata a vida numa das com/user/24hpordarfur, que já está em nacional no reconhecido Festival de Ci-
maiores favelas do Quénia, onde vive um funcionamento, e farão depois parte de nema Independente - Indie Lisboa 2009,
milhão de pessoas, abordando de forma uma mega-mensagem vídeo. Saiba mais que decorrerá na capital portuguesa
particular a experiência das mulheres em www.pordarfur.org entre os dias 23 de Abril e 03 de Maio.
enquanto grupo vulnerável da sociedade. O prémio, no valor de 1.000 euros, será
Ao filme segue-se o debate, com oradores entregue ao filme que melhor representar
que estão em confirmação. Fique atento SER VOLUNTÁRIO determinado aspecto relacionado com a
a www.amnistia-internacional.pt, onde Dignidade Humana. A escolha será feita
anunciaremos a hora e o local do evento. Nos dias 7 e 8 de Março, a Confederação
entre todos os filmes candidatos ao Indie
Portuguesa do Voluntariado vai organizar
Lisboa e a difícil tarefa de distinguir o
o I Congresso Português do Voluntariado,
vencedor estará a cargo de um júri es-
DEDICAR ALGUNS MINUTOS A no Fórum Lisboa, com o intuito de dar a
pecializado. Mais informações sobre o
DARFUR conhecer o que existe em Portugal em
Prémio Amnistia Internacional Indie Lis-
termos de trabalho voluntário. Mais in-
boa 2009, mais perto da data, em www.
formações em http://www.convoluntari-
amnistia-internacional.pt. Para saber
ado.pt
mais sobre o festival, consulte www.in-
dielisboa.com
RACISMO E XENOFOBIA EM
PORTUGAL SEGUNDA EDIÇÃO DE “OS DIAS
No conflito que continua a opor, no Sudão,
A propósito do Dia Internacional Contra DO DESENVOLVIMENTO”
a Discriminação Racial, que se assinala
as forças governamentais, e as suas ali-
a 21 de Março, a Amnistia Internacio-
adas milícias Janjaweed, aos grupos re-
nal Portugal vai lançar um estudo, em
beldes, estima-se que cerca de 300 mil
parceria com a Númena (Centro de In-
pessoas tenham já sido mortas e que
vestigação em Ciências Sociais e Huma-
pelo menos 2,7 milhões de habitantes
nas), que visa perceber até que ponto o
continuem deslocados no país. Perante
Racismo e a Xenofobia estão presentes
estes números, e face ao genocídio que
no nosso país, especialmente depois do
continua a acontecer aos olhos de todo A água e o combate à pobreza, as ener-
11 de Setembro e da Guerra ao Terro-
o mundo, a portuguesa Plataforma Por gias alternativas, o desenvolvimento
rismo. O estudo será apresentado a 17 de
Darfur, da qual a Amnistia Internacional sustentável, a gestão dos recursos, o
Março, em local a designar, e servirá de
Portugal faz parte, juntou-se ao evento respeito pelo meio ambiente, a saúde e o
mote para diversos oradores convidados
mundial “24 Horas por Darfur”. Faça desenvolvimento humano são alguns dos
trocarem experiências sobre a temática.
também parte desta acção! temas que vão estar em reflexão nos dias
Mais informações brevemente em: www.
O objectivo é que pessoas de todos os amnistia-internacional.pt 28 e 29 de Abril, no Centro de Congressos
32 Notícias • Amnistia Internacional
Os 60 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos Por Pedro Ribeiro Ferreira
Notícias • Amnistia Internacional 33
CRÓNICA
Cimeira UE-África: um ano depois
Por João Gomes Cravinho*, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação
Fazer das instituições que representam um espaço público euro-africano e este cair na velha lógica assistencialista que
os dois continentes o motor da nova Par- trabalho independente e muitas vezes marcou os últimos 50 anos de relaciona-
ceria era igualmente um dos objectivos crítico do que é feito entre governos deve mento entre a Europa e África. Este ano
da Cimeira de Lisboa e que hoje é uma continuar a ser estimulado e a integrar a serviu sobretudo para mostrar que essa
realidade muito mais sólida. reflexão de quem toma as decisões. é uma lógica do passado. Não significa,
evidentemente, que a missão esteja fi-
Também para a sociedade civil, que de Existem obstáculos e desequilíbrios, que
nalizada, mas mostra claramente que o
muitos quadrantes diferentes segue as o tempo e a vontade política ajudarão
caminho está aberto.
relações entre África e a Europa, a nova a vencer. Em alguns casos há mesmo
Parceria criou novos contextos de inter- dificuldades de monta, como é por vezes * O Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros
venção e permitiu a formação de novas a questão da criação de mecanismos e da Cooperação foi uma das figuras centrais da
Cimeira União Europeia-África, que se realizou em
redes que juntam organizações europeias que permitam a representatividade su- Lisboa nos dias 8 e 9 de Dezembro de 2007. Esta
e africanas. Particularmente relevantes a pranacional num continente que não crónica foi escrita exactamente um ano após a
este respeito são os processos de diálogo tem a tradição europeia nesta matéria. Cimeira.
entre representantes de empresas, entre Mas não há qualquer dúvida, de que os
jovens, ou ainda a rede de institutos de termos da relação euro-africana muda-
investigação política (“think tanks”) que ram, e que a Parceria inaugurada em
têm uma função incubadora na explora- Lisboa tem condições para amadurecer
ção de novas possibilidades de colabo- e dar resultados. Na verdade, o maior
ração. Começa por isso a desenhar-se risco que enfrentamos é a tentação de
TORNE-SE
MEMBRO
DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL
TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles...
Ajude-nos a defender os Direitos Humanos no mundo!
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1. Assinale uma das seguintes quatro opções: * 1. Autorizo a minha entidade bancária a debitar da minha
conta ao lado indicada, por sistema de débitos directos
DESEJO TORNAR-ME MEMBRO
(SDD), a pedido da Amnistia Internacional - Secção Por-
Quota Anual €40 €20 (Estudantes, Reformados e Desempregados) tuguesa, as importâncias indicadas e com a regularidade
DESEJO TORNAR-ME APOIANTE indicada 2. Estou informado de que os débitos poderão ser
efectuados em datas distintas 3. A Amnistia Internacional
Quantia do donativo: €25 €50 €100 €250 Outro apenas poderá alterar os montantes após uma informação
Regularidade do donativo: Mensal Semestral Trimestral Anual prévia 4. Irei informar a minha entidade bancária, por es-
crito, caso pretenda cancelar as instruções aqui indicadas
DESEJO FAZER UM DONATIVO PONTUAL 5. Tenho conhecimento de que, caso algum débito (efectuado
No valor de € por SDD) não cumpra as instruções aqui indicadas, terei 5
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