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JOÃO TORRES DE MELLO NETO exatamente

A IMAGEM DO MUNDO,
O LHC E O SEXO
FOTO CICERO RODRIGUES

Vemos, assim, o Como o lugar mais frio e mais vazio do siste- da matéria e a interação desta com a radia-
ma solar pode ser também um dos mais quen- ção) serão febrilmente procurados nos dados
LHC como uma tes? Por que um ‘microscópio’ para procurar produzidos pelo LHC. Uma das ideias mais
nau imóvel e partículas subatômicas deve ter dezenas de ousadas é a concepção de ‘universo brana’,
quilômetros? Essas não são as únicas circuns- que supõe que todo o universo observado se
intrépida que tâncias contraditórias da máquina mais com- situa em uma região com ‘apenas’ três di-
plexa do mundo, o Grande Colisor de Há- mensões espaciais, que, por sua vez, está
escava o tecido
drons (LHC, na sigla em inglês), acelerador contida em outra, de dimensão mais alta.
da natureza de partículas na fronteira da França com a ‘Brana’ (que vem de membrana) é a descri-
Suíça. Lá trabalham cerca de 5 mil cientistas, ção matemática das estruturas que suposta-
incluindo uma centena de brasileiros. mente contêm o nosso universo.
A ideia básica de um acelerador é colidir Mas como testar a existência de branas?
uma partícula com outra e estudar aquelas Bem, os grávitons (as partículas que trans-
que forem produzidas no choque. Por meio mitem a força gravitacional) seriam as úni-
da reconstrução minuciosa das trajetórias e cas que poderiam deixar nosso universo
propriedades desses estilhaços subatômicos, tridimensional e chegar às dimensões supe-
isso pode revelar não só novos fragmentos riores. O LHC será usado na busca de fenô-
da matéria, mas também o modo como eles menos que indiquem essa ‘fuga’. Essas hi-
interagem. potéticas dimensões extras poderiam mos-
Em um túnel circular, 60 m abaixo da trar como as quatro forças fundamentais da
superfície, feixes de prótons viajam em natureza (forte, fraca, eletromagnética e
direções opostas e se chocam. Os produtos gravitacional) estiveram unificadas no início
dessas colisões são estudados em quatro lu- do universo.
gares no anel (detectores). O duto de 27 km Por um momento, o leitor consegue ima-
de comprimento é mantido em um vácuo ginar o impacto de uma descoberta dessas
cuja pressão é 10 bilhões de vezes menor em nossa visão de mundo? A de que há uma
que a pressão atmosférica. Os ímãs super- realidade da qual nosso universo é apenas
condutores (9,3 mil deles) são mantidos a 1,9 uma parte diminuta? De repente, o mito da
kelvin, ou seja, pouco acima do zero absolu- caverna de Platão (onde pessoas presas nela
to… É um dos lugares mais vazios e gélidos têm uma visão parcial e distorcida da reali-
do Sistema Solar! Mas os choques de partí- dade) se tornaria verdade, uma premência
culas produzem energias equivalentes forçada em nós por uma revolução em nossa
àquela do início do universo (Big Bang, em compreensão do universo.
inglês). Portanto, é também um dos lugares Vemos, assim, o LHC como uma nau imó-
mais quentes. vel e intrépida que escava o tecido da natu-
O LHC já foi cenário de cinema – garan- reza – único e interconectado – por meio de
to que poucos cenógrafos imaginariam um colisões subatômicas que podem revelar
JOÃO TORRES mais impressionante. O subproduto mais uma realidade mais complexa e instigante.
DE MELLO NETO famoso de toda essa tecnologia de ponta é Termino com uma provocação do prêmio
Instituto de Física,
Universidade Federal nada menos que a www, a grande rede! Nobel de Física de 1965, o norte-americano
do Rio de Janeiro Fenômenos que estão além da abrangên- Richard Feynman (1918-1988): “Física é como
joaodemelloneto@ cia do chamado Modelo Padrão (teoria com sexo; claro que tem um aspecto prático envol-
cienciahoje.org.br
que os físicos entendem hoje a constituição vido, mas não é por isso que a gente faz.”

279 | MARÇO 2011 | CIÊNCIAHOJE | 11

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