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HEGEL E OS ROMÂNTICOS
tornando cada vez mais dissonantes, porque separam cada vez mais o
conteúdo de sua idéia da forma de sua matéria. O solo comum
identificado por Hegel em todo este período pós-clássico da arte, sobre
o qual emerge o conceito hegeliano de arte romântica, é esta forma de
subjetividade abstrata ou unilateral, que no caso específico da arte do
primeiro romantismo, Hegel interpreta como reação negativa contra a
objetividade alheia e alienante do mundo prosaico moderno, a qual
Hegel denomina na Estética de “prosa do mundo”. Este primeiro
aspecto da crítica de Hegel ao romantismo, tem como finalidade
apresentar uma alternativa, de superação desta unilateralidade,
através da efetivação de uma outra forma não abstrata de
subjetividade, uma subjetividade substancial, que equivale ao seu
conceito filosófico de espírito, em sua absolutidade, e que esteticamente
era reconhecido por Hegel principalmente na obra poética da
maturidade de Goethe e Schiller, enquanto maiores representantes da
realização do que Hegel denomina em sua Estética de “pathos
absoluto”, também presente na poesia trágica da Grécia antiga.
Ainda sob este aspecto da crítica de Hegel ao romantismo, se encontra
a tão difundida tese de que a busca de unificação pelos primeiros
românticos aponta não para o sentido de conciliação presente ainda
neste classicismo de Goethe e Schiller, mas sim como uma busca do
infinito, cujo fim nunca é efetivado, o que acaba originando os
sentimentos de nostalgia presente em algumas obras românticas,
principalmente de Novalis, mas também em algumas obras de Jacobi,
o qual serve de caracterização fundamental da figura da “bela alma”
descrita por Hegel na Fenomenologia e em sua própria Estética:
parece mais fazer sentido, a arte se reduz cada vez mais à indústria do
entretenimento, e a liberdade é assunto exclusivo da esfera privada. É
tarefa de nosso tempo decidir se queremos que esta fragmentação do
indivíduo continue a evoluir dialeticamente até a perda total da
individualidade, ou se queremos reconquistar a idéia de uma unidade,
não mais apenas sobre a base de uma racionalidade absoluta, mas com
base naquilo que os primeiros românticos melhor nos ensinaram:
através da integração entre o homem e a natureza. Eu creio que este é
o caminho possível de retomarmos um diálogo filosófico produtivo e
profundo, buscando - assim como Schelling - unificar inteligência e
natureza, reconhecendo agora o nosso o destino mais autêntico de seres
de dupla natureza, racional e intuitiva, ou seja, de seres essencialmente
contraditórios.