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as Fronteiras
Jornadas Internacionais de Luta Anarco-Sindicalista
contra as fronteiras e em solidariedade com os/as
trabalhadores/as imigrantes
Os problemas das fronteiras e da xenofobia
são armas que o Estado, o Capital e os políticos
de diversas tendências usam para dividir os/as
trabalhadores/as, escondendo a verdadeira
razão por trás da degradação da sua condição. É
dever de uma organização internacional de
trabalhadoras/es revolucionárias/os internacio-
nalistas, como a AIT, promover a solidariedade
entre todos/as os/as trabalhadores/as, "naci-
onais" ou não.
Particularmente na "fortaleza Europa",
onde a maioria das secções da Associação
Internacional dos Trabalhadores estão loca-
lizadas, os problemas da xenofobia, do racismo,
do encerramento das fronteiras a trabalhadoras/es estrangeiras/os – enquanto estas estão abertas ao
Capital –, das deportações, da criação de uma categoria de trabalhadores/as ilegais e de segunda
classe, e o aprisionamento de imigrantes e refugiadas/os em centros de detenção estão muito
presentes.
E com a actual crise capitalista que estamos a viver é de esperar que os/as imigrantes continuem a
serem tratados/as como bodes expiatórios para os problemas criados pelo capitalismo. É por isso que
devemos continuar a afirmar quem são os verdadeiros inimigos das/os trabalhadoras/es, aqueles que
nos exploram a todos/as, imigrantes ou não.
Mais informação em , blog promovido pela AIT-Secção
Portuguesa no contexto destas jornadas.
Os Imigrantes em Portugal
Os números oficiais dizem- de 116 mil imigrantes «trabalhar como um galego»,
nos que serão cerca de 451 mil, brasileiros, 52 mil ucranianos, se enraizou no vocabulário
mas há que juntar a estes um 48 mil cabo-verdianos, 32 mil popular e, com o passar do
número indeterminado de romenos, 26 mil angolanos, 22 tempo, pouco mudaria além da
imigrantes em situação ilegal, mil guineenses e muitos outros, origem de quem chegava para
que algumas fontes estimam de muitas nacionalidades desempenhar o pior dos
chegar aos 100 ou 150 mil. diferentes, cerca de 170. A trabalhos a troco do pior dos
Entre os que conseguiram maior parte (196 mil) veio a salários. Os primeiros vieram
escapar à customeira armadilha fixar-se na área metropolitana de Angola, de Moçambique, da
legal imposta à chegada (recusa de Lisboa, no distrito de Guiné e, sobretudo, de Cabo
da autorização de residência Setúbal (49 mil), no grande Verde, a partir dos anos 70 do
por falta da promessa de Porto (27 mil), ou na região do século passado. Vinham
contrato de trabalho e recusa Algarve, sobretudo no distrito colmatar a carência de mão-de-
de trabalho por falta da dita de Faro (73 mil). obra que se fazia sentir na
autorização) contam-se cerca Há muito que a expressão construção civil, provocada, em
boa medida, pela emigração dos trabalhadores imigrantes são de igual partir do momento em que não fosse
próprios trabalhadores portugueses. modo os primeiros a serem preci- possível encontrar, para a mesma
Ainda hoje, os que entram continuam a pitados no desemprego. A crise actual função, um trabalhador português, ou
fazer pouco mais do que apenas fez a taxa de desemprego entre eles proveniente de outro país aderente ao
substituir os que saem. Os imigrantes subir para os 23%, cerca de o dobro da espaço Schengen. Era uma cedência
brasileiros começariam a chegar a média nacional. clara à pressão xenófoba. Para os anos
partir de finais dos anos 80, chineses, de 2009 e 2010, fixou-se essa quota nas
indianos, paquistaneses e banglade- 3800 entradas, cerca de metade do ano
shianos nos anos 90, e ucranianos, anterior. Houve protestos, era cruel e
romenos, moldavos e russos já nos absurdo. Quanto aos imigrantes, não
finais dessa década. podendo passar através deste buraco
Uma boa parte empregou-se na de agulha burocrático, continuaram a
construção civil (36%), alimentada pelo fazê-lo ilegalmente. Depois de ter sido
boom imobiliário e pelas grandes obras aprovada a chamada «directiva de
públicas subsidiadas com os fundos retorno», em 2008, passaram a arriscar-
europeus, como operários não- se a um período de detenção que pode
qualificados: o tradicional «servente», ir até aos 18 meses por o fazerem.
frequentemente sem contrato e sem O imigrante não é bem-vindo e
condições de trabalho, presa fácil de não se perde uma ocasião para se lhe
sub-empreiteiros pouco escrupulosos. recordar isso. Foi criado e suces-
Outros encontraram emprego na sivamente aperfeiçoado todo um
hotelaria e restauração, como cozi- complexo emaranhado de leis que
nheiros, empregados de mesa e de parecem ter por única razão de
balcão, etc (12,9%). Podemos também existência complicarem-lhe a vida para
encontrá-los nos serviços (15%), e na posteriormente o expulsarem ao menor
indústria sobrante (14%). Poucos se pretexto. Sair é sempre fácil – até se
ocuparam na agricultura (2,4%), mas subsidia – mas quem quer entrar ou
revelaram-se vitais em certas regiões, apenas permanecer no país vê
face à rarefacção da mão-de-obra erguerem-se mil barreiras no seu
disponível no interior do país, fruto caminho.
dos baixos salários. Muitos imigrantes É necessária a existência de uma Sob o capitalismo, o imigrante é e
asiáticos abriram pequenos comércios promessa de contrato de trabalho no só poderá ser, como todos os outros
ou restaurantes (chineses, indianos, país de acolhimento para que o trabalhadores, uma mercadoria, um
paquistaneses, etc). imigrante entre legalmente. A partir de mero «par de braços», mas que se
Auferindo salários mais baixos, 2004, entraria igualmente em vigor um pretendem baratos e descartáveis assim
frequentemente precários e muitas sistema de quotas, estabelecendo um que o capital – o único para quem
vezes alimentando de mão-de-obra a máximo de entradas por sector de realmente não existem fronteiras e
desproporcionalmente grande eco- actividade e admitindo-se a contratação oprime a terra inteira – deixar de
nomia subterrânea portuguesa, os de um trabalhador imigrante apenas a precisar deles.