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σh acima. Ao invés de as concentrações serem
mais elevadas que as deduzidas da solução de
e1
Kirsch, têm-se normalmente concentrações
Figura 1 - Elementos geométricos do fraturamento. mais baixas. Assim, a abertura da rede de
fraturas pelo filtrado do fluído de perfuração
A Fig. 2 mostra as compressões principais fica facilitada, podendo ter conseqüências
máximas para a Geometria 2, α1 = 30o, K = 1.5 extremamente danosas à estabilidade do poço.
e sem pressão de lama. A máxima concentração Em suma, pode-se concluir que as diferenças
de tensões prevista pela solução de Kirsch consideráveis nas concentrações de tensões
(Goodman, 1989) deveria ocorrer nas paredes, poderão provocar rupturas por compressão ou
segundo a horizontal (perpendicularmente a σ H tração, que seriam simplesmente imprevisíveis
). O valor seria: σ max = 3σ H − σ h = 3(39.5) − 26.3 a partir das análises para meios contínuos.
= 92.2 MPa. Já as máximas concentrações
fornecidas pelo UDEC estão em torno de 120
MPa (em azul escuro), segundo um diâmetro
paralelo à família 1. A mínima concentração,
seria de 39.4 MPa em pontos nas paredes,
segundo a vertical. O UDEC, porém, indica
valores próximos a 80 MPa (em azul claro)
paralelamente à família 2. Também é
interessante observar, que para K = 1.5, não
seriam esperadas tensões de tração nas paredes
do poço. Todavia, o UDEC mostra tensões de
tração em quatro pontos (em cinza), orientados Figura 2 – Compressões principais máximas: Geometria
segundo as bissetrizes das fraturas. Tal 2; α1 = 30o, K = 1.5, sem pressão de lama.
tendência é notada sempre que a sobrepressão
da lama é menor que σ h . As diferenças
diminuem à medida que o valor da sobrepressão
se aproxima de σ h e, paradoxalmente, as
trações desaparecem.
Uma possível explicação para a discrepância
nos resultados está nas não-linearidades que
ocorrem no meio fraturado. A Fig. 3 ilustra as
fraturas plastificadas (por tração em azul e
cisalhamento em vermelho) nas vizinhanças do
poço. A plastificação nas fraturas parece ter o
efeito de "desacoplar" as tensões principais in Figura 3 – Fraturas plastificadas: Geometria 2; α1 = 30o,
situ, restringindo suas influências às respectivas K = 1.5, sem pressão de lama.
direções (como se fossem campos uniaxiais
independentes). Assim, as concentrações 3.1 Fluido Não-Penetrante
máxima e mínima são aproximadamente iguais Um primeiro conjunto de análises envolveu
a 3 vezes a respectiva componente (o que apenas cálculos mecânicos, simulando a
sucederia no caso de um campo de tensões condição de fluído não-penetrante. Serão
uniaxial), senão vejamos: σ max = 3σ H = 3(39.5) abordados apenas os resultados para K = 1.3.
= 118.5 MPa; σ min = 3σ h = 3(26.3) = 78.9 MPa, Em função do que se discutiu no item 3.1,
que são muito próximos de 120 MPa e 80 MPa, foram avaliadas: a ruptura da rocha intacta e a
abertura das fraturas para baixas densidades de difundem por toda a rede, decaindo do seu
lama e somente abertura das fraturas para as valor no poço até zero nas fronteiras externas
densidades mais altas. do modelo. Nessa análise não foi atingido um
Mesmo tendo em conta as concentrações de equilíbrio estático. A velocidade máxima tende
tensões mais elevadas (item 3.1), não se a um valor constante diferente de zero,
verificou ruptura da rocha intacta. A abertura sugerindo a formação de um mecanismo de
das fraturas não ocorre, quaisquer que sejam a colapso. Portanto, o poço não seria estável.
geometria e os mergulhos, para densidades de
lama acima de 1.35 (limite inferior) e abaixo de 4 CONCLUSÕES
1.70 g/cm3 (limite superior). Análises usuais, Pelo exposto, pode-se concluir genericamente,
pela solução de Kirsch, fornecem limites de que:
densidades entre 1.07 e 1.50 g/cm3. Para K<1.3, - a avaliação da estabilidade de poços em meios
nos casos mais favoráveis do fraturamento (α1 fraturados não é acessível a abordagens de
de 0o e 90o), poder-se-ia admitir um limite mecânica do contínuo (sol. de Kirsch). As
inferior de até 1.2 g/cm3. Já para K>1.3 a distribuições e concentrações de tensões são
"janela" acima se estreita. Para K=1.5, a menos bem diferentes (contra a segurança) das
de α1 = 0o e 90o, que admitem densidades entre previstas pelas mesmas. Ademais, dependem
1.35 a 1.50 g/cm3, em todos os demais casos, só criticamente da geometria e das propriedades
com a densidade de 1.50 g/cm3 não haveria mecânicas das fraturas. Os processos não-
plastificação nas fraturas. Para K=1.6 não se lineares que ocorrem no meio (plastificação nas
teria qualquer densidade de lama que inibisse a fraturas) são os principais responsáveis pelas
plastificação das fraturas. discrepâncias verificadas;
- estando as fraturas, em sua totalidade,
3.2 Fluido Penetrante hidraulicamente abertas, o fluxo poderá se
Como adiantado no subitem 2.2.5, no UDEC estabelecer pelas mesmas, independentemente
existem as alternativas de se permitir o fluxo da densidade utilizada para o fluido de
acoplado por toda as fraturas ou somente por perfuração. O colapso das paredes do poço será
aquelas que se plastificam. a conseqüência. Assim, só o controle rigoroso
do filtrado poderá evitar uma percolação
3.2.1 Fluxo restrito às fraturas plastificadas descontrolada e o insucesso da perfuração;
- caso apenas as fraturas plastificadas resultem
Tais análises levam a resultados similares aos hidraulicamente abertas, é possível determinar
obtidos com fluido não-penetrante. Para uma faixa de densidades da lama adequada à
densidades abaixo do limite inferior, as fraturas perfuração (diferente da determinada por
plastificadas que tenham conexão com o poço mecânica do contínuo – sol. de Kirsch);
são invadidas pelo fluido e os blocos - os resultados das análises puramente
envolvidos se instabilizam (Fig. 4). Para mecânicas (hipótese de fluido não-penetrante),
densidades acima do limite superior ocorrerá fornecem resultados semelhantes aos das
fraturamento hidarúlico da formação, com o análises acopladas com fluxo restrito às fraturas
fluido adentrando e abrindo as fraturas plastificadas, prestando-se, nesse caso, à
plastificadas conectadas ao poço (Fig. 5). determinação da faixa de densidades adequada.
3.2.1 Fluxo irrestrito REFERÊNCIAS
Permitindo fluxo também nas fraturas não Bandis, S.; A.C. Lumsden & N.R. Barton (1983).
plastificadas, obtêm-se resultados muito Fundamentals of Rock Joint Deformation. Int. J.
diferentes. A invasão pelo fluido ocorrerá em Rock Mech. Min. Sci. & Geomech. Abstr., v.20, p.
qualquer caso, mesmo naqueles em que as 249-268;
Barton, N. & V. Choubey (1977). The Shear Strength of
análises precedentes indicam densidades Rock Joints in Theory and Practice. Rock Mechanics,
adequadas. Por exemplo, para uma densidade v. 10, p. 1-54;
de lama de 1.50 g/cm3, tem-se os padrões de Barton, N.; S. Bandis & K. Bakhtar (1986). Strength,
poro-sobrepressões e fluxo ilustrados na Fig. 6. Deformation and Conductivity Coupling of Rock
Joints. Norwegian Geotechnical Institute
O fluxo é ubíquo e as poro-sobrepressões se Publications, n.62, p. 1-20;
Bastos, F.A.A. (1983). Problemas de Mecânica dos v. 23, p. 95-115
Fluídos. Ed. Guanabara Dois, Rio de Janeiro, 483
p.;
Chen, X.; Tan, C. e C. Detournay (2003). A study on
wellbore stability in fractured rock masses with
impact of mud infiltration. J. Petroleum Sci. &
Engng., v. 38, p. 145-154;
Cundall, P.; T. Maini; J. Marti; P. Beresford; N. Last &
M. Asgian (1978). Computer Modelling of Jointed
Rock Masses. Technical Report N-78-4, US Army
Engineer Waterway Experiment Station, Vicksburg,
Mississipi;
Goodman, R.E. (1989). Introduction to Rock Mechanics.
2nd ed., Wiley, New York, 562 p.;
ITASCA (1993). UDEC Version 1.83 User's Manual. v.
I e II, Minneapolis: Itasca Consulting Group;
Santarelli, F.J.; D. Dahen; H. Baroudi & K.B. Sliman Figura 5 – K=1.3; densidade = 1.85 g/cm 3; Geometria 2;
(1992). Mechanisms of Borehole Instability in α1 = 45o: poro-sobrepressões nas fraturas plastificadas
Heavily Fractured Rock Media. Int. J. Rock Mech. conectadas ao poço mostrando o fraturamento
Min. Sci. & Geomech. Abstr., v. 29, n. 5, p. 457-467; hidráulico.
(a)
(a)
(b) (b)
Figura 4 – K=1.3; densidade = 1.20 g/cm 3; Geometria 2; Figura 6 – Fluxo irrestrito; K=1.3; densidade = 1.50
α1 = 45o: (a) poro-sobrepressões nas fraturas g/cm 3; Geometria 2; α1 = 45o: (a) poro-sobrepressões; (b)
plastificadas conectadas ao poço; (b) configuração fluxo nas fraturas.
deformada mostrando a instabilização dos blocos.
Turcotte, D.L. & G. Schubert (2002). Geodynamics. 2nd
ed., Cambridge, Cambridge University Press, 456 p.;
Vargas Jr., E.A. (1982). Development and Application
of Numerical Models to Simulate the Behaviour of
Fractured Rock Masses. PhD Thesis, University of
London (ICST), London, 359 p.;
Zhang, X.; N. Last; W. Powrie & R. Harkness (1999).
Numerical Modelling of Wellbore Behaviour in
Fractured Rock Masses. J. Petroleum Sci. & Engng.,