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conhecimento e cidadania 7

Incubação de Cooperativas Populares e de


Empreendimentos Econômicos Solidários

instituto de tecnologia social 2010


Apresentação 05

Introdução 09
Incubação de empreendimentos solidários

sumário
no Brasil - uma história em construção

A INCOOP da Universidade Federal de São Carlos 17

Incuba 29
Quando a cooperativa precede a incubadora

ISS/UnB 37
Uma multincubadora abraça o
empreendedorismo social e solidário

Incubadoras Públicas de Empreendimentos Populares e Solidários 45


em políticas públicas de Desenvolvimento e Economia Solidária
A experiência de Osasco

Considerações finais 55

Referências bibliográficas 59
Apresentação E
m parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Instituto de Tecno- 5
logia Social (ITS Brasil) publica, desde 2007, o caderno serial intitulado Conheci-
mento e Cidadania. O intuito do caderno é ampliar a discussão e disseminação de infor-
mações sobre o universo da produção de conhecimentos por parte da sociedade civil

apresentação
organizada. Tais organizações são reconhecidamente atuantes na afirmação dos direi-
tos humanos fundamentais, na luta pelo fortalecimento da cidadania e, principalmen-
te, no âmbito da inovação social, em sua articulação nacional para a inserção dos temas
da tecnologia social e da economia solidária na agenda de políticas públicas do país.
Esta edição n. 7 do caderno Conhecimento e Cidadania, que traz como tema princi-
pal a “Incubação de cooperativas populares e de empreendimentos econômicos soli-
dários”, aborda temas e experiências inovadoras vinculadas ao conceito e às práticas da
economia solidária. Nesse sentido, apontam para alternativas de geração de trabalho e
renda, no âmbito da inovação social, e uma resposta em benefício da inclusão social, re-
dução da pobreza, cidadania e justiça social.
Na perspectiva dos sujeitos produtores de conhecimento e agentes da transforma-
ção social, a economia solidária consiste em um “jeito diferente de produzir, vender,
comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar van-
tagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando
no bem de todos e no próprio bem. A economia solidária compreende uma diversidade
de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações,
clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que rea-
lizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas,
comércio justo e consumo solidário.
Por meio de artigos de fácil leitura, busca-se aqui valorizar as experiências inovado-
ras, de cooperativas e empreendimentos econômicos solidários, nos quais os sujeitos
produzem e/ou utilizam saberes diferenciados na construção de uma sociedade efeti-
vamente sustentável e justa.
A perspectiva é a de criar um modo de produção alternativo centrado não apenas no
lucro, mas nas pessoas, na participação democrática e na distribuição justa dos resul-
6 tados do trabalho, garantindo o acesso a melhores condições de vida, trabalho, lazer e ou modelos institucionais passaram a integrar políticas públicas de geração de trabalho 7
educação a todos os atores envolvidos. e renda, ações preocupadas evidentemente com modelos de desenvolvimento social
A forte cultura competitiva que alimenta a criação de empresas no capitalismo cos- equitativos e sustentáveis.
As experiências e análises registradas nesta edição do caderno Conhecimento e Ci-
instituto de tecnologia social

apresentação
tuma ser avessa à ideia do trabalho integral, no qual os trabalhadores são dotados de
saber e suficientemente capazes não só de produzir, mas também de gerenciar o em- dadania procuram esclarecer o modo pelo qual tais políticas têm contribuído para a
preendimento econômico. Contudo, apesar dessas relações econômicas guiarem-se transformação das relações entre Estado, universidades, cooperativas populares ou
unicamente pela lógica do lucro e do capital, ainda assim há pluralidade nas lógicas que empreendimentos populares e solidários, bem como para o estabelecimento de mode-
norteiam as relações socioeconômicas entre as pessoas. Basta pensar nas relações fa- los de desenvolvimento capazes de integrar as dimensões social, econômica, cultural e
miliares, comunitárias, a solidariedade e a cooperação, bem como a mensuração da efi- sustentável. Observar a heterogeneidade de tais iniciativas, conforme o local onde es-
ciência de uma prática pela manutenção da coesão do grupo, da geração de conheci- tão instaladas ou sua ligação com universidades ou poder público, também será tarefa
mentos ou da preservação do meio ambiente. Ou seja, há outras práticas econômicas dessa publicação, no intuito de compreender a relação entre tais arranjos institucionais
e modos de produção, distribuição e circulação de mercadorias que precisam ser con- e as formas de atendimento adotadas por cada uma delas.
siderados, tanto mais porque as relações de produção capitalistas têm sido, historica- O Estado tem o papel primordial de criar e apoiar um ambiente socioeconômico que
mente, excludentes e, assim, têm deixado às margens um enorme contingente de indi- favoreça o processo contínuo de inovação social como elemento chave para o desen-
víduos e grupos. volvimento sustentável. O desafio dos atores que produzem conhecimento será fazer
A economia solidária aponta justamente para uma nova lógica de desenvolvimento avançar o reconhecimento do direito a outra economia que conduza a outro modelo de
sustentável com geração de trabalho e distribuição de renda, mediante um crescimen- desenvolvimento. Esse direito será uma conquista dos sujeitos políticos que constroem
to econômico com sustentabilidade ambiental, social, econômica, ética e justiça social. a economia solidária no Brasil e que reivindicam o reconhecimento do Estado brasilei-
As práticas da economia solidária surgem da experiência de grupos e trabalhadores ro na forma de instrumentos efetivos de políticas públicas e programas de economia
que, ao longo da história, em diversos países, têm procurado alternativas frente à de- solidária, com participação e controle social.
sigualdade e à marginalização social e econômica que resultam da competição e das re-
lações de subordinação características do sistema socioeconômico centrado somente
nas relações de mercado. Aqueles que estudam e refletem sobre a economia solidária Boa leitura!
apostam na organização e articulação das diversas unidades produtivas que dela parti-
cipam, de maneira a fortalecer um setor econômico que, tradicionalmente invisível e Irma R. Passoni, Gerente Executiva do ITS Brasil
pouco considerado nas políticas públicas, seja capaz de gerar e garantir a renda para um
contingente cada vez maior de trabalhadores.
Na esfera dos governos municipais, avanços também têm ocorrido. A partir das di-
versas experiências de fomento à economia solidária, muitas estratégias, metodologias
introdução: Incubação U ambiente, por exemplo1. Ou seja, exis-
ma prática econômica é caracterizada 9
pela produção, comercialização, con- tem outras práticas econômicas e modos

de empreendimentos
sumo e trocas de produtos e serviços. Es- de produção, distribuição e circulação de

introdução
tamos habituados a compreender todas mercadorias que precisam ser conside-
essas etapas a partir das lógicas predomi- rados, tanto mais porque as relações de

solidários no nantes do processo capitalista: valor pen-


sado como equivalente do preço, trocas
produção capitalistas têm sido, histori-
camente, excludentes e, assim, têm dei-

Brasil - uma história mediadas pela moeda, concorrência, pro-


priedade privada, acumulação, controle
xado às margens um enorme contingen-
te de indivíduos e grupos.

em construção
privado e hierarquizado, uso abusivo dos As práticas da economia solidária sur-
recursos naturais e exploração da força de gem da experiência de grupos e trabalha-
trabalho para a produção de valor. dores que, ao longo da história, em diver-
Tecendo críticas à restrição com que sos países, têm procurado alternativas
pensamos as práticas econômicas, a no- frente à desigualdade e à marginalização
ção de economia solidária procura dar vi- social e econômica que resultam da com-
sibilidade ao fato de que, ainda que as re- petição e das relações de subordinação ca-
lações mercantis sejam predominantes racterísticas do sistema socioeconômico
nas sociedades ocidentais, há pluralida- centrado somente nas relações de merca-
de nas lógicas que orientam as relações do. Além da experiência dos trabalhado-
econômicas, tais como as relações fami- res, a formulação teórica de intelectuais,
liares, comunitárias, a solidariedade e a como os socialistas utópicos no início da
cooperação, bem como a mensuração da industrialização, e, atualmente de pesqui-
eficiência de uma prática pela manuten- sadores, tem contribuído para o desenvol-
ção da coesão do grupo, da geração de co- vimento da economia solidária (SANTOS
nhecimentos ou da preservação do meio e RODRÍGUEZ, 2005). Aqueles que estu-

1. Referimo-nos aqui à economia solidária por estarmos tratando da incubação de cooperativas e empreendimentos eco-
nômicos solidários, conforme a experiência brasileira. Mas proposições similares são feitas no campo da economia social,
economia popular ou da economia popular solidária.
dam e refletem sobre a economia solidá- Durante a década de 1990, o coopera- badoras Tecnológicas de Cooperativas
ria apostam na organização e articulação tivismo popular começa a entrar na bri- Populares (ITCPs), localizadas nas Uni-
das diversas unidades produtivas que de- ga pelo destino de trabalhadores urba- versidades, e de setores da Igreja Católi-
la participam, de maneira a fortalecer um nos desempregados, pouco qualificados ca, especialmente a Cáritas Brasileira, que
setor econômico que, tradicionalmente e com limitações para se inserir no mer- desde o início da década de 1980 vinha de-
invisível e pouco considerado nas políti- cado de trabalho, especialmente em um senvolvendo metodologias de apoio à or-
cas públicas, seja capaz de gerar e garantir a período de crise tão intensa. O coopera- ganização de populações de baixa renda
renda para um contingente cada vez maior tivismo, assim, torna-se assunto de de- em suas comunidades, para melhoria de
de trabalhadores. bates, de pesquisas acadêmicas e de ini- suas condições de vida.
No Brasil, a partir da década de 1980, ciativas de fomento, consolidando-se O resultado desse processo que des-
práticas – que hoje identificamos ao uni- como alternativa viável tanto para tra- crevemos é o conjunto de atores que atu-
verso da economia solidária – começaram balhadores que circulavam pela chama- almente estudam e colocam em práti-
a aparecer com mais intensidade nos espa- da “economia informal” quanto para tra- ca a economia solidária no Brasil. Além
ços urbanos, como parte das reações à cri- balhadores demitidos da indústria, cujas dos dois referidos anteriormente, vale
se econômica que desempregou amplos fábricas haviam falido ou cujos postos de citar os movimentos sociais, como, por 11
segmentos de trabalhadores urbanos num trabalho haviam sido extintos. exemplo, o Movimento dos Trabalha-
momento em que estes se encontravam Esse período também marca um mo- dores Rurais sem Terra (MST) – que es-

introdução
organizados nas lutas sindicais e também mento intenso de experimentações, aber- timula e organiza diversos tipos de coo-
nas lutas por melhores condições de vida tas por modificações introduzidas na legis- perativas em seus assentamentos – e os
na cidade. Em conjunto com a renovação lação falimentar, que passa a permitir aos sindicatos – que por meio da defesa dos
das esperanças de superação das desigual- trabalhadores arrendar a massa falida como trabalhadores de empresas em processo
dades sociais e econômicas após o fim da parte das indenizações devidas, possibili- de falência ofereceram suporte à estru-
ditadura militar, essas lutas ganharam for- tando que continuem produzindo, em ge- turação de fábricas autogestionárias.
ça e puderam aparecer no espaço público ral de modo autogestionário, e preservem Esses atores representam ou fomen-
(SADER, 1988). seus postos de trabalho. Também é um pe- tam inúmeras iniciativas e conheceram
Tais experiências foram retomadas e ríodo decisivo de confronto com o Sistema importante avanço político a partir da
ampliadas quando, nos anos 1990, a mu- Cooperativista, durante o qual se reconhe- realização do I Fórum Social Mundial,
dança na orientação das formas de gover- cem os limites da restrição da economia so- em 2001. Dialogando, movimentos so-
no passa a tornar comum a ideia de que a lidária ao campo das cooperativas, em es- ciais, cooperativas, sindicatos, empre-
A gestão participativa, em que muitas
das decisões são tomadas coletivamente, é uma competição e a concorrência são os valo- pecial as de prestação de serviços, e, assim, endimentos populares, entre outros,
característica dos empreendimentos solidários, res máximos de todas as relações sociais e alargam-se as formas de organização que estabeleceram a necessidade de se orga-
que tiveram grande desenvolvimento em várias
atividades econômicas. econômicas. Daí segue-se a abertura dos são reconhecidas como legítimas2. nizarem em fóruns municipais, estadu-
mercados nacionais a produtos e capitais Para a consolidação da economia so- ais, além de darem início às atividades
estrangeiros, as transformações nos mo- lidária, vale destacar as ações das Incu- do Fórum Brasileiro de Economia Soli-
delos produtivos com as consequentes
terceirizações das chamadas “atividades-
meio” (não por acaso, em geral as ocupa- 2. Vale sublinhar que há alguns anos tramitam no Senado Federal e na Câmara dos Deputados, respectivamente, dois projetos
de lei que visam a introduzir mudanças na atual legislação cooperativista (Lei nº 5.764), que é de 1971: a Lei Geral das Sociedades
ções mais fragilizadas que, abandonadas
Cooperativas, debatida desde 1999 e combatida pela Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) por modificar a obrigato-
ao seu próprio poder de negociação acaba- riedade de associação das cooperativas a tal organização – obrigatoriedade que inclusive fere o direito constitucional de
liberdade de associação – e a Lei das Cooperativas de Trabalho, cuja versão em tramitação é bastante controversa pois, ainda
ram sendo exploradas de forma mais in-
que se reconheça as especificidades do ramo frente a outros, por parte do movimento de economia solidária existe uma críti-
tensa) e a emergência de novos padrões de ca incisiva, em especial em relação ao seu artigo 7º, no entendimento de que a proposta denota uma compreensão equivoca-
da sobre a relação entre cooperados e a cooperativa, aproximando-a da relação entre empregados e empresa. Para uma
contratação, nem sempre coerentes com
análise crítica dos avanços e limites das várias legislações em tramitação, ver o documento “Unicafes e os Projetos de Leis e
o trabalho a ser desenvolvido. Decretos sobre o Cooperativismo Brasileiro”, disponível em www.fbes.org.br, acesso em 5 de abril de 2010.
dária (FBES), que atualmente represen- públicas de empreendimentos populares e pescar”. A mudança do foco da propos-
A Secretaria Nacional de ta uma importante instância de debates solidários no país. Observar a heterogenei- ta também procurava dar sentido novo
Economia Solidária acerca do assunto. dade de tais iniciativas, conforme o local à mobilização, de forma que os comitês
A Senaes foi criada no âmbito do Ministério do Trabalho e Outro significativo avanço na conquis- onde estão instaladas ou sua ligação com continuassem mobilizados após o Natal.
Emprego com a publicação da Lei nº 10.683, de 28 de maio
de 2003 e instituída pelo Decreto nº 4.764, de 24 de junho de ta de espaço e reconhecimento político foi universidades ou poder público, também Estima-se que eram cerca de duzentos co-
2003, fruto da proposição da sociedade civil e da decisão do a criação, em julho de 2003, da Secretaria será tarefa dessa publicação, no intuito de mitês espalhados por todo o país, mobili-
presidente Luís Inácio Lula da Silva. Desde então tem sido Nacional de Economia Solidária (Senaes), compreender a relação entre tais arranjos zando milhares de pessoas para a arreca-
coordenada pelo professor Paul Singer, referência funda-
ligada ao Ministério do Trabalho e Empre- institucionais e as formas de atendimento dação de alimentos.
mental para a consolidação da economia solidária no país.
Dentre suas atribuições, conforme definição legal, destacamos: go (MTE) e coordenada, desde então, pelo adotadas por cada uma delas. O desenvolvimento das discussões
IV. Colaborar com outros órgãos de governo em programas professor Paul Singer, um dos principais acerca das experiências de economia soli-
de desenvolvimento e combate ao desemprego e à pobreza; intelectuais brasileiros ligados ao tema da dária ganhou um forte fomentador quan-
V. Estimular a criação, manutenção e ampliação de oportu-
economia solidária. A economia solidária do, articulada à Fundação Oswaldo Cruz
nidades de trabalho e acesso à renda, por meio de empreen-
dimentos autogestionados, organizados de forma coletiva e No âmbito municipal, avanços tam- e as incubadoras (Fiocruz) e à Coordenação dos Programas
participativa, inclusive da economia popular; bém têm ocorrido. A partir das diversas de cooperativas populares de Pós-Graduação em Engenharia (CO-
12VI. Estimular as relações sociais de produção e consumo experiências de fomento à economia so- Com o país mergulhado na crise econô- PPE), da Universidade Federal do Rio de 13
baseadas na cooperação, na solidariedade e na satisfação e
lidária, muitas estratégias, metodologias mica e experimentando as mais altas taxas Janeiro (UFRJ), uma experiência piloto –
valorização dos seres humanos e do meio ambiente;
VII. Contribuir com as políticas de microfinanças, estimulan- ou modelos institucionais passaram a in- de desemprego até então, o Brasil também semeada pela Ação da Cidadania – resul-

introdução
do o cooperativismo de crédito, e outras formas de organiza- tegrar políticas públicas de geração de tra- precisava enfrentar o desafio dos níveis de tou na formação da Cooperativa de Man-
ção deste setor; [...] balho e renda preocupadas com modelos pobreza históricos, que mantinham gran- guinhos, no Rio de Janeiro (PEREIRA,
IX. Apresentar estudos e sugerir adequações na legisla-
de desenvolvimento social mais equitati- de parcela da população em situação de in- 2001 e BOCAYUVA, 2001).
ção, visando ao fortalecimento dos empreendimentos soli-
dários; [...] vos e sustentáveis. digência e fome. O principal problema era Nessa região, onde se localiza a Fiocruz,
Neste Caderno, as experiências e aná- que as transformações que vinham ocor- moravam 35 mil pessoas, parte das quais
lises apresentadas procuram esclarecer o rendo pareciam indicar a impossibilidade nas dez favelas que formam o complexo de
modo pelo qual tais políticas, em seu de- de que tais desafios fossem superados por Manguinhos. A população dessa região, em
A rede ITCP senho e em suas práticas, têm contribuído meio do crescimento econômico ou de um sua maioria desempregada ou ocupada pre-
Criada em 1999 como programa permanente da Unitrabalho, para a transformação das relações entre Es- desenvolvimento orientado por objetivos cariamente, enfrentava toda sorte de vul-
a Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de
tado, universidades e cooperativas popu- definidos pelo Estado, além de ampliarem nerabilidades e acabava, muitas vezes, en-
Cooperativas Populares tem como objetivo principal desen-
volver e disseminar conhecimentos sobre cooperativismo e lares ou empreendimentos populares e so- as dimensões de nossa questão social. contrando uma saída no tráfico de drogas.
autogestão, contribuindo para o desenvolvimento da econo- lidários, bem como para o estabelecimento Em 1992, surgia a Ação da Cidadania Em 1994 a guerra pelo controle dos pon-
mia solidária. A rede surge para integrar de forma dinâmica de modelos de desenvolvimento capazes Contra a Fome e a Miséria, liderada pe- tos de tráfico de drogas e de armas adquiria
as incubadoras e favorecer a transferência de tecnologias e
de integrar as dimensões social, econômi- lo sociólogo Herbert de Souza, o Beti- maior visibilidade e, em certa ocasião, balas
conhecimentos. Atualmente, a rede tem realizado encontros
nacionais a cada trimestre e, apesar de o processo de cada ca, cultural e sustentável. Ainda, busca-se nho, que naquele ano mobilizou no país a perdidas dos tiroteios acabaram atingindo
incubadora ser diferenciado, as convergências de princí- pensar a partir de um arranjo institucio- campanha por um “Natal sem fome”. No a Fiocruz, sobretudo a Escola Nacional de
pios se expressam na participação em redes, na inclusão de nal específico: as chamadas incubadoras, ano seguinte, a Ação da Cidadania obser- Saúde Pública (ENSP).
movimentos e minorias sociais nas ações das incubadoras e
universitárias ou públicas. Embora o mo- vou que a distribuição de alimentos não A situação mobilizou os membros da
no respeito ao tripé que fundamenta as universidades: ensi-
no, pesquisa e extensão. delo de atendimento a empresas tradicio- era suficiente no combate à miséria e à fo- ENSP, que realizaram uma reunião na
nais seja mais antigo, foi nos anos 1990 que me, sendo essencial estimular a geração qual estiveram presentes cerca de oiten-
as universidades visualizaram a possibili- de trabalho e renda. A opção pela ques- ta representantes das comunidades do
dade de constituição de incubadoras pa- tão do emprego era estratégica e tinha co- complexo de Manguinhos. A reunião deu
ra assessorar cooperativas populares, um mo objetivo responder às críticas de que a origem a uma série de ações para enfren-
modelo que – a despeito de seus desafios – distribuição de cestas consistia em assis- tar a situação e uma delas foi a constitui-
inspirou políticas públicas e resultou na re- tencialismo – como no dilema sintetiza- ção de uma cooperativa de trabalho, a Co-
cente expansão do número de incubadoras do na expressão “dar o peixe ou ensinar a operativa dos Trabalhadores Autônomos
do Complexo de Manguinhos (COO- atividades produtivas ou de prestação de Como programa permanente da Uni- pesquisadores e técnicos de diversas áre-
TRAM), criada no final de 1994. serviços, assim como a apurar os proces- trabalho, as ITCPs decidem criar uma no- as do conhecimento, articulados em tor-
Após a constituição da COOTRAM, a sos produtivos, a legalizar as cooperativas, va rede, com objetivo explícito de insti- no do desafio da incubação. Além disso,
Fiocruz realizava contratos com a coopera- a buscar mercados e financiamento etc. tuir o processo de trocas de experiências as universidades contam com projetos de
tiva para reciclar o lixo e prestar serviços de Uma vez reconhecido o sucesso da e colaboração que já ocorria informal- pesquisas, teóricas e empíricas, sobre a
jardinagem e limpeza nos prédios do cam- ITCP do Rio de Janeiro, as entidades pa- mente. Assim, em 1999, foi criada a Rede economia solidária, ampliando o volume
pus de Manguinhos. Dando continuidade à trocinadoras – além da COPPE, a Finan- Universitária de Incubadoras de Coope- de reflexões e críticas e, assim, adensando
organização iniciada, a COOTRAM tam- ciadora de Estudos e Projetos (FINEP), o rativas Populares (ITCP), que atualmente a teoria e a prática da economia solidária.
bém montou uma oficina de costureiras. Comitê de Entidades Públicas no Com- agrega 44 ITCPs pelo Brasil. Dentre as incubadoras desenvolvidas a
O caso apresentado é emblemático, bate à Fome e pela Vida (COEP), a Fun- Ao final dos anos 1990, portanto, as partir de universidades, este caderno apre-
principalmente por ter envolvido pe- dação Banco do Brasil (FBB) e a Comu- incubadoras universitárias estavam orga- senta três experiências, descritas a par-
la primeira vez universidades, no caso a nidade Solidária – resolvem ampliar o nizadas em redes, tendo em vista estabe- tir da combinação de entrevistas (realiza-
ENSP e a COPPE/UFRJ, na construção da número de incubadoras em universida- lecer, em cada universidade, não apenas das em 2008) e/ou fontes secundárias. A
economia solidária. des, lançando em 1998 o Programa Na- um centro de extensão universitária, mas primeira delas é a Incubadora Regional de
14 A experiência bem-sucedida de Man- cional de Incubadoras de Cooperativas também um centro de ensino e pesquisa, Cooperativas Populares, criada como pro- 15
guinhos fez com que professores e alu- (Proninc) que, inicialmente, orientou a constituindo assim um tripé indissociá- grama de extensão vinculado à Pró-Reito-
nos da COPPE/UFRJ, que já tinham ex- implantação de ITCPs em cinco univer- vel que orienta as práticas das ITCPs. ria de Extensão da Universidade Federal de
A extensão universitária, categoria na
instituto de tecnologia social

introdução
periência em incubação tradicional de sidades brasileiras, nos estados da Bahia, São Carlos (UFSCar). A segunda experiên-
empresas, decidissem criar, em 1995, a Ceará, Minas Gerais, Pernambuco e São qual as ações das ITCPs em geral são enqua- cia apresentada é a da Incubadora de Em-
primeira iniciativa de uma Incubado- Paulo (ALMEIDA, 2002). dradas, ressalta o papel da universidade na preendimentos Econômicos e Solidários,
ra Tecnológica de Cooperativas Popula- A iniciativa dava sequência ao movi- criação e disseminação de conhecimentos vinculada à Universidade do Estado da
res (ITCP), cujos objetivos iniciais eram mento de consolidação do cooperativis- voltados ao atendimento de necessidades Bahia (UNEB). Finalmente, apresentamos
apoiar a organização das comunidades, mo popular e de constituição de ITCPs da comunidade na qual se insere. O ensino a experiência da Incubadora Social e Soli-
assessorando o desenvolvimento de seus que marcou toda a década de 1990, da qual contribui para a inserção nas grades disci- dária (ISS), vinculada ao Centro de Apoio
projetos políticos, sociais e econômicos participou também a criação da Fundação plinares de conhecimentos gerados pelas ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT)
articulados em torno da constituição de Interuniversitária de Estudos e Pesquisas práticas e de conteúdos comprometidos da Universidade de Brasília (UnB).
cooperativas populares. sobre o Trabalho (Rede Unitrabalho). Fun- com a inclusão social, sendo ainda essen- Em seguida, também combinando fon-
Com isso, a incubadora veio preencher dada em 1996, a rede interliga atualmente cial para forjar quadros para as cooperativas tes secundárias e entrevistas, apresenta-
uma lacuna vital no processo de formação noventa e duas universidades e institui- e para as entidades de apoio à economia so- mos a bem-sucedida experiência da prefei-
de cooperativas e grupos de produção asso- ções de ensino superior por meio de núcle- lidária – tarefa de extrema importância, es- tura de Osasco, que inovou ao consolidar
ciada: a de prestar assessoria contínua aos os locais, organizados por regiões, com o pecialmente se pensarmos na consolidação uma tecnologia social de incubação de em-
empreendimentos solidários, divulgando objetivo de contribuir para o resgate da dí- de políticas públicas orientadas por valores preendimentos populares e solidários no
os princípios do cooperativismo entre gru- vida social que as universidades brasileiras da economia solidária. A pesquisa é indis- âmbito de uma política pública municipal.
pos interessados, ajudando-os a organizar têm com os trabalhadores3. pensável para o conhecimento da realidade Desvinculada da universidade, o Progra-
da economia solidária no Brasil e em outros ma Osasco Solidária procurou estruturar
3. Conforme as definições institucionais, a missão da Unitrabalho se concretiza por meio da parceria em projetos de estudos,
países, de modo a sistematizar a análise das uma equipe de técnicos e instalações mais
pesquisas e capacitação, na articulação das universidades que compõem a rede em núcleos de estudos, pesquisa e extensão experiências e gerar propostas e teorias que duradouras, procurando também enfren-
sobre o trabalho. Para facilitar a troca, os sete núcleos multidisciplinares estão distribuídos geograficamente da seguinte
maneira: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Minas Gerais, Rio de Janeiro/Espírito Santo, São Paulo e Sul. Além disso, a rede
sirvam ao avanço da economia solidária. tar um dos principais desafios à consolida-
articula seus projetos em quatro programas de âmbito nacional: Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável; Emprego Atualmente, as incubadoras universi- ção de políticas públicas, qual seja, a defi-
e Relações de Trabalho; Trabalho e Educação; e Saúde do Trabalhador. Quanto à metodologia de incubação, as incubadoras
da rede Unitrabalho buscam um método que supere a fragmentação do conhecimento. Por entender que os métodos são
tárias constituem uma tecnologia social nição de fontes estáveis de financiamento,
caminhos e sugestões, não há fórmulas prontas, ou seja, cada incubadora encontra o método mais adequado para trabalhar cada vez mais utilizada nas ações de gera- fundamental para diminuir descontinui-
os quatro componentes unitários, que são: Implantação e avaliação do trabalho das incubadoras; Incubação nas suas etapas
(pré-incubação, incubação e desincubação); Avaliação participativa dos empreendimentos incubados; e Implementação do
ção de trabalho e renda, justamente por dades e preservar estruturas institucionais
intercâmbio entre incubadoras para implantação de novas incubadoras. Para saber mais, visite www.unitrabalho.org.br. serem espaços que agregam professores, a despeito de mudanças de gestão.
A INCOOP da A
Incubadora Regional de Cooperati- multiplicadores para a atuação junto aos 17
vas Populares (INCOOP) foi criada grupos cooperados e promover a inclusão

Universidade Federal
como programa de extensão vinculado à social e o desenvolvimento humano de

A INCOOP da ufscar
Pró-Reitoria de Extensão da Universida- populações excluídas.
de Federal de São Carlos (UFSCar) e, des- Além de produzir, sistematizar e di-

de São Carlos de abril de 1999, atua junto às comunida-


des de São Carlos e região, acompanhando
vulgar conhecimento sobre a economia
solidária e sobre o processo de incubação
e promovendo a incubação de cooperati- de cooperativas populares, a INCOOP
vas populares e empreendimentos soli- tem como público de atuação as popula-
dários. Sua atuação é marcada pela preo- ções excluídas - desempregados, traba-
cupação em aliar intervenção, produção lhadores precarizados, indivíduos com
de conhecimento e formação de estu- necessidades especiais e populações de
dantes e profissionais de forma interdis- bairros carentes.
ciplinar, privilegiando a integração en- O professor Ioshiaqui Shimbo, um dos
tre ensino, pesquisa e extensão por meio coordenadores da incubadora, explica o
da participação de professores, técnicos processo de reflexão que embasou a deci-
e alunos de graduação e pós-graduação são de definir com mais precisão o públi-
oriundos de diversas áreas do conheci- co-alvo da INCOOP: “Até 2006, usáva-
mento. O eixo que articula a heterogenei- mos como estratégia alcançar vários locais
dade que compõe a INCOOP/UFSCar é a de São Carlos e região, até por conta de par-
economia solidária. cerias com algumas prefeituras. Mas, após
De acordo com suas definições insti- 2006, resolvemos focar nossas ações em
tucionais, a INCOOP atua com o objetivo alguns lugares”. A decisão, portanto, ex-
de divulgar e fortalecer a proposta da eco- plica-se pelo acúmulo de experiências da
nomia solidária, proporcionar a educação INCOOP e sua necessidade de priorizar
e reeducação popular dos participantes do a atenção aos territórios definidos a par-
processo, incentivar a constituição, con- tir da presença de empreendimentos que
solidação e integração das cooperativas apresentem potencial de ampliação e con-
populares por meio da capacitação dos solidação de negócios solidários.
Inicialmente, o território seleciona- vor de uma atenção maior às experiên- ação, além de pessoas da comunidade em
do foi o bairro Jardim Gonzaga, por ter si- cias de cada grupo. geral, interessadas em obter formação em
do identificado a altos índices de vulnera- Após mais de dez anos de atividades, economia solidária.
bilidade em pesquisa desenvolvida pelo não são apenas mudanças na metodologia A disciplina, seguindo os critérios de
Núcleo de Pesquisa e Documentação do de incubação ou no foco da INCOOP que cadastramento de uma Aciepe, oferece
Departamento de Ciências Sociais da estão acontecendo: a incubadora também sessenta horas de atividades formativas,
UFSCar, desde 1994 (trata-se da pesquisa está discutindo formas de modificar sua combinando uma hora e meia por semana
“Condições de vida e pobreza em São Car- relação com a universidade, com o obje- de atividades em sala de aula com oficinas
los: uma abordagem multidisciplinar”). tivo de conquistar um quadro permanen- de trabalho ou seminários e participação
A partir dessa primeira experiência, no- te de professores, alunos e pesquisadores, em eventos locais de economia solidária.
vas demandas começaram a surgir. além de conseguir um orçamento fixo que O objetivo da disciplina é produzir,
São cinco os eixos de trabalho que possibilite menor dependência de edi- disseminar e transferir conhecimentos
organizam as atividades da equipe da tais4 . A perspectiva é que a incubadora se sobre alternativas de solução e encami-
­I NCOOP/UFSCar: torne o Núcleo Multidisciplinar e Inte- nhamento de problemas sociais com refe-
18 a. Capacitação dos cooperados em coo- grado de Estudos, Formação e Interação rência à economia solidária e ao coopera-
perativismo, autogestão e nos serviços em Economia Solidária. tivismo. Ao final, espera-se que os alunos
qualificados da atividade econômica; Desde sua fundação, a INCOOP é sejam capazes de planejar e implementar
b. Administração autogestionária do em-
instituto de tecnologia social

A INCOOP da ufscar
membro da Rede Universitária de Incu- ações de intervenção, bem como delimitar
preendimento; badoras Tecnológicas de Cooperativas perguntas e esboçar projetos de pesquisa
c. Monitoramentos de rotina (da equipe de Populares - Rede ITCP. no âmbito da economia solidária. É espe-
incubação e dos grupos incubados); rado, ainda, que essas oportunidades pos-
d. Participação em eventos/instâncias de sam, a partir de uma familiarização com as
economia solidária; Integração indissociável necessidades e potencialidades identifica-
e. Estudos derivados do processo de inter- entre ensino, pesquisa e extensão das, levar a uma participação estável de pe-
venção (INCOOP/UFSCar, 2002, p. 1). Coerente com sua inserção institucio- lo menos parte dos participantes da disci-
Vê-se, desse modo, a ênfase conferi- nal, participante de uma universidade plina em projetos da INCOOP 5 .
da pela incubadora ao cooperativismo e à pública, a INCOOP reafirma permanen- Muitos dos alunos, além de partici-
autogestão, bem como seu esforço em ga- temente a importância da pesquisa e da par das discussões sobre o assunto, pro-
rantir a permanente integração entre en- atuação de pesquisadores e formadores. duzem conhecimento simultaneamente
sino, pesquisa e extensão universitária. Nesse sentido, no quadro de uma ação à intervenção em realidades específicas
A INCOOP procura estabelecer parcerias que vão além
No segundo semestre de 2004, hou- formativa que compõe a proposta peda- ao elaborar, cooperativamente, levanta- dos muros da universidade. Junto à prefeitura
ve um processo de avaliação da metodo- gógica da UFSCar, chamada Atividade mentos, pesquisas de campo, diagnósti- de São Carlos, por exemplo, conseguiu o compromisso
logia utilizada até então, que trabalha- Curricular de Integração Ensino, Pesqui- cos e projetos, já no sentido de busca de quanto às ações e iniciativas de economia solidária.
Desde 2001, a prefeitura vem ­estruturando o
va com a organização de etapas ou ciclos sa e Extensão (Aciepe), a INCOOP ofere- soluções para problemas sociais. Ao par- Departamento de Fomento à Economia Solidária,
durante o processo de incubação. Obser- ce a disciplina “Cooperativas Populares e ticipar da disciplina, pode-se também no quadro da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
vando que tal organização não levava em Economia Solidária: produção de conhe- acompanhar, apoiar e assessorar proje- Sustentável, Ciência e Tecnologia e, assim, tem
contribuído para a implantação de 22 novas cooperativas.
conta as especificidades dos grupos, nem cimento, intervenção profissional e for- tos de extensão em desenvolvimento,
as estratégias que estes, de modo autô- mação de profissionais” que, desde sua vivenciar práticas profissionais de forma
nomo e autogestionário, desenhavam, criação em 2003, já formou cerca de du- cooperativa e multidisciplinar, a partir
tais etapas foram deixadas de lado em fa- zentos alunos de graduação e pós-gradu-
5. Conforme informações disponíveis no Banco de
Experiências de Formação em Economia Solidária, do
4. A estratégia provisória de manutenção dos quadros e das atividades após o fim de editais ou convênios tem sido a cons- Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Disponível em
tituição de um Fundo de Reserva, proveniente de recursos de projetos já encerrados. www.fbes.org.br (consulta em 1 de março de 2010).
demandas da população e desenvolver A opção feita pela incubadora, então, foi a
Condições essenciais para processos de atividades artísticas ou de resgate da me- de romper com a lógica que, em geral, es-
incubação da INCOOP/UFSCar mória cultural em comunidades. trutura os atendimentos durante a incu-
bação, bastante centrados num modelo
1. Processar demanda apresentada por diferentes envolvi-
dos no processo de incubação. de educação sequencial, deixando de de-
2. Identificar população potencial para formação de Método de incubação marcar períodos específicos do processo
empreendimentos solidários. Até 2004, a INCOOP/UFSCar utilizava em favor de uma atenção mais global para
3. Caracterizar diferentes envolvidos no processo de incubação.
um desenho metodológico em que esta- a situação e as escolhas de cada cooperati-
4. Apresentar economia solidária como possibilidade de
organização para geração de trabalho e renda, à popu- vam presentes quatro etapas, durante as va em constituição.
lação ou grupo potencial para formar empreendimentos quais se desenvolviam alguns subtemas Dessa forma, INCOOP confere prio-
solidários. específicos. Essas quatro etapas estavam, ridade à participação ativa do grupo em
5. Elaborar proposta de um trabalho conjunto com partici-
de certo modo, bastante relacionadas ao todos os processos, respeitando os inte-
pantes do grupo a ser incubado.
6. Promover formação dos membros do grupo para o coo- tipo de grupos incubados - em geral, gru- resses, as potencialidades e as temporali-
perativismo de forma contínua e permanente, de todas as pos ainda sem ideia clara em relação à ati- dades do grupo.
20 maneiras possíveis. vidade econômica. Desse modo, uma Mas a ausência de “etapas” facilmente 21
7. Promover escolha de atividade econômica pelo grupo.
primeira etapa era constituída pela apre- reconhecíveis não deve fazer crer que os
8. Promover permanentemente condições para a capacita- A atividade econômica a ser exercida
ção técnica em relação ao serviço ou produção ofertado sentação e sensibilização dos atores envol- atendimentos são voluntaristas: do dese- é escolhida pelo grupo.
vidos. Tratava-se de uma etapa de reco-
instituto de tecnologia social

pelo empreendimento. nho metodológico anteriormente utili-


9. Promover formação contínua e permanente dos mem- nhecimento, por assim dizer, em que as zado, a equipe da INCOOP extraiu alguns
bros para a autogestão administrativa, em todas as opor-
propostas da economia solidária e da in- princípios orientadores, que registram as
tunidades e de todas as maneiras possíveis.
10. Promover elaboração de normas de funcionamento cubação eram apresentadas, em conjunto condições essenciais para que o processo
do empreendimento (estatuto e regimento interno), de comum diagnóstico do contexto de emer- de incubação esteja de acordo com os ob-
maneira participativa. gência de tais práticas. A segunda etapa jetivos e princípios da INCOOP e da eco-
11. Assessorar o grupo para a gestão do empreendimento
era a formação e a consolidação do grupo nomia solidária. O método de incubação,
(estatuto e regimento interno), de maneira participativa.
12. Assessorar o grupo para a legalização do empreendimento. potencial, um momento em que o grupo nesse sentido, é o conjunto das atividades
13. Assessorar o grupo para implantação do sistema de definia com mais clareza sua identidade e e dos comportamentos da incubadora,
monitoramento por meio de indicadores. seu projeto. A terceira etapa consistia na e constituem um referencial para a ação
14. Assessorar o grupo para implementação do empreendi-
formação para o cooperativismo e a auto- (CORTEGOSO et al., 2006, p. 36).
mento, de forma episódica e esporádica.
15. Assessorar grupo para participação em redes de coopera- gestão, período durante o qual o grupo se Nessa perspectiva, a principal estra-
ção e em iniciativas do movimento da economia solidária. apropriava dos conhecimentos sobre coo- tégia do método de incubação de empre-
perativas e economia solidária, conhecen- endimentos solidários praticado pela IN-
Fonte: CORTEGOSO et. al., 2006, p. 36.
do de modo mais profundo os aspectos de COOP é “aprender fazendo”, partindo das
funcionamento e gestão de uma coopera- demandas apresentadas pelos sujeitos so-
tiva e, finalmente, na quarta etapa, havia ciais, sensibilizando-os e organizando-os
a definição da atividade econômica, com para as práticas cooperativas e para a eco-
atividades de pesquisa de mercado local, nomia solidária enquanto uma alternativa
estudos de viabilidade econômica e iden- às relações sociais de produção hegemôni-
tificação de oportunidades e aquisição de cas. Também são adotados planejamentos
recursos e infraestrutura necessária (IN- participativos comunitários com vistas à
COOP/UFSCar, 2005, p. 5). autogestão, na qual a dicotomia “saber po-
A partir de 2004, porém, houve um pular ” e “saber acadêmico” é rompida, ho-
processo de avaliação durante o qual se rizontalizando as relações e possibilitando
reconheceram os limites desse desenho. a socialização de conhecimentos.
Parceria com o poder público treinamentos e cursos do setor. No CPEPS, a criação de uma Unidade de Recuperação
A INCOOP procura estabelecer parcerias existe ainda um posto de atendimento do de Plásticos, para viabilizar a organização ConsumoSol
que vão além dos muros da universidade. Banco do Povo, tornando o microcrédi- coletiva das três cooperativas de recicla- Desde maio de 2004, um grupo de pessoas tem se reuni-
do a fim de encontrar soluções práticas para tornarem-se
Nos últimos anos, a INCOOP trabalhou to uma possibilidade mais próxima aos gem presentes no município.
consumidores responsáveis. Esse grupo é o ConsumoSol -
em parceria com algumas administrações empreendimentos. O projeto foi fruto de A parceria com o poder público se dá, Articulação Ética e Solidária para um Consumo Responsável,
públicas municipais da região (Catandu- uma parceria entre o governo federal, por ainda, na organização conjunta de even- composto por diferentes cidadãos de São Carlos e região.
va, Jaboticabal e Ribeirão Preto), incuban- meio da Senaes/MTE, e a Prefeitura de São tos de economia solidária, na formação da Suas principais ações são as seguintes:

do grupos previamente organizados que, Carlos6 . A partir dessa conquista, as coope- Comissão Municipal de Economia Soli-
em alguns casos, abrangiam beneficiários rativas, com o apoio e orientação do cen- dária de São Carlos (derivada do I Encon-
n Apoio aos produtores: Consiste na criação e divulgação
de uma lista dos empreendimentos solidários de São Carlos e
de programas governamentais. tro, estão elaborando um projeto de lei pa- tro de Economia Solidária de São Carlos), região e exposição e venda de produtos dos empreendimen-
Junto à prefeitura de São Carlos, con- ra economia solidária7. na participação da INCOOP/UFSCar tos em encontros, eventos e feiras.

seguiu o compromisso quanto às ações e O Centro Público de Economia So- em eventos promovidos pela prefeitura,
iniciativas de economia solidária. Desde lidária de São Carlos “Herbert de Sou- na promoção de trocas de conhecimento
n Compras coletivas: Realização de compras coletivas de
produtos que atendem aos critérios do grupo, dentre eles:
2001, a prefeitura vem estruturando o De- za - Betinho” fica na Rua José Bonifácio, entre empreendimentos, especialmente detergentes biodegradáveis feitos de aloe vera; sabão
22 partamento de Fomento à Economia So- 885, Centro, São Carlos - SP e o telefone naqueles atendidos por ambos e fomen- caseiro, elaborado a partir de óleo comestível usado; produ-23
tos de higiene pessoal feitos com ervas naturais; panetones
lidária, no quadro da Secretaria Municipal é (16) 33719219. to à participação de grupos, cooperativas
feitos por uma cooperativa de panificação.
de Desenvolvimento Sustentável, Ciência A INCOOP/UFSCar atua em conjun- e empreendimentos locais nas instâncias
n Sacoleco: Esse projeto tem por finalidade a confecção e o
instituto de tecnologia social

A INCOOP da ufscar
e Tecnologia e, assim, tem contribuído pa- to com a prefeitura na organização dos representativas da economia solidária.
ra a implantação de 22 novas cooperativas. grupos de economia solidária presen- incentivo ao uso de sacolas e suportes mais duráveis (não des-
cartáveis) para o transporte pessoal de mercadorias. Os produ-
Segundo dados da própria prefeitura,  atu- tes no município no projeto Consumo-
tos são desenvolvidos por artesãos e cooperativas de costura
almente o setor movimenta mais de 6 mi- Sol - Articulação Ética e Solidária para um A formação de uma cooperativa do município, numa ação que alia sensibilização dos consumi-
lhões de reais e emprega cerca de seiscentos Consumo Responsável. Mobilizados pe- Para facilitar a compreensão das ações e dores e apoio a empreendimentos solidários.
trabalhadores, majoritariamente mulheres la prefeitura e contando com o apoio da intervenções desenvolvidas pela INCO-
(69%), pessoas mais velhas (46% acima dos INCOOP, o grupo vem “[...] trabalhan- OP/UFSCar junto às cooperativas popu- n Cine ConsumoSol: Exibição de filmes e promoção de diá-
logos relacionados ao tema “consumo responsável”, discu-
40 anos) e sujeitos à discriminação por cor do a organização coletiva dos produtores, lares que incuba, apresentamos a experi- tindo os problemas da sociedade de consumo e alternativas
(57% declarando-se pretos ou pardos). fornecedores, distribuidores e consumi- ência da primeira cooperativa incubada. de solução.
Em maio de 2008, foi inaugurado o dores de São Carlos, como forma de pro- Como já observado, a Cooperativa de
ConsumoSol
Centro Público de Economia Solidária de moção da economia solidária local” (IN- Limpeza do Jardim Gonzaga (Cooper-
Rod. Washington Luís, Km 235 - Caixa Postal 676
São Carlos “Herbert de Souza - Betinho” COOP/UFSCar, 2005, p. 2). limpeza) surgiu da ação de mobilização CEP: 13565-905 - São Carlos - SP
(CPEPS). Com área de 500 m², ele abriga Uma das ações que o ConsumoSol já da INCOOP, em 1998, no bairro Jardim Telefone: (16) 3351-8701 Fax: (16) 3351-2081.
todos os empreendimentos solidários par- vem desenvolvendo é o projeto Sacoleco: Gonzaga, um dos mais carentes da região, Site: www.ufscar.br/consusol
E-mail: consumosol@power.ufscar.br
ticipantes das estratégias municipais e seu com a proposta de diminuir o uso de em- onde estavam presentes altos índices de
objetivo é centralizar as ações do municí- balagens plásticas, alguns grupos estão pobreza e vulnerabilidade.
pio, a fim de facilitar o deslocamento da promovendo e produzindo sacolas e su-
população e padronizar o fluxo de comu- portes duráveis. Outra ação, também jun-
nicação dos diversos programas, projetos, to à Prefeitura Municipal de São Carlos, é Sensibilização e estruturação
A história da Cooperlimpeza começa ao
mesmo tempo em que a história da IN-
6. A instalação dos Centros Públicos de Economia Solidária é apoiada pela Senaes/MTE como parte das estratégias de COOP/UFSCar, pois no primeiro mo-
disseminação e fomento a ações de economia solidária. Atualmente, existem vinte e três centros implementados ou em fase
de implementação no país, atendendo a municípios e/ou regiões. mento em que docentes e alunos da Uni-
7. No III Encontro Municipal de Economia Solidária de São Carlos, em 2006, foi proposta a criação de um projeto de lei, que versidade entraram em contato com a
constituísse um marco legal para as políticas públicas de economia solidária no município. Desde então, num processo
comunidade do Bairro Jardim Gonzaga,
democrático que envolveu atores de diversos espaços sociais, inclusive a INCOOP, sindicatos, trabalhadores, cooperativas
etc., chegou-se à formulação de um projeto de lei que se encontra em tramitação. em 1998, a INCOOP ainda nem existia.
Com o apoio da associação dos mora- passando pela costura, a limpeza e a coleta
Bairro Jardim Gonzaga dores do bairro, docentes e alunos procu- de resíduos. Porém, o grupo acabou deci- A legislação do cooperativismo
A experiência de atuação da INCOOP/UFSCar junto ao bairro raram reunir o maior número de pessoas dindo pela atividade de serviços de limpe- A lei que regula o funcionamento das cooperativas é a Lei
Jardim Gonzaga é tão intensa que, após a estruturação da nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. Promulgada durante o
interessadas em discutir a possível for- za, considerando a experiência profissional
Cooperlimpeza, mais três outras cooperativas passaram a período do regime militar, a lei acaba resultando em alguns
funcionar na região. Dada essa realidade, a INCOOP orientou mação de uma cooperativa. Além da rede de algumas das integrantes do grupo, o bai- problemas centrais para as cooperativas populares, em
o planejamento comunitário de desenvolvimento para 2009 formada pelos representantes da associa- xo investimento inicial e a possibilidade de especial as de trabalho ou prestação de serviços. O primeiro
e 2010, visando à ampliação das cooperativas e a criação ção e lideranças locais, até mesmo um car- inserção no mercado. deles se refere ao número mínimo de associados necessá-
de iniciativas de finanças solidárias, o que será um grande rios para constituição de uma cooperativa: são necessários
ro de som foi utilizado como estratégia de Ao mesmo tempo em que tomavam
avanço nas organizações de economia solidária. “Estamos vinte associados. Isso ocorre porque a legislação foi criada
pensando em ramificações dessas cooperativas e também mobilização, resultando na participação decisões quanto à atividade econômica, o para regular principalmente dois tipos de atividade: a das
em criar um banco comunitário local, um fundo solidário de cerca de noventa moradores nas pri- grupo discutia sobre a gestão cooperativa. cooperativas agrícolas de produção e a das cooperativas
rotativo e um Banco de Tempo, uma experiência que ainda meiras reuniões, que ocorreram no inter- A definição sobre a composição do quadro de eletrificação; ambas as atividades são viáveis economi-
não há no Brasil, que consiste em um banco que tem créditos camente com um número grande de pessoas. Além disso,
valo de um mês. administrativo da cooperativa ocorreu na
na troca de serviços”, explica o professor Ioshiaqui Shimbo. enquanto a primeira atividade conta com as solidariedades
Foram cerca de quatro reuniões, apre- assembleia de constituição, em que o gru- estabelecidas no meio rural, a segunda conta com solidarie-
sentando e discutindo as propostas so- po definiu quais pessoas iriam compor a dades estabelecidas por meio de uma identidade profissional
24 bre cooperativismo, até a definição das diretoria. A assembleia de fundação da comum. O Novo Código Civil introduziu um precedente que25
baixou para sete o número de associados necessários à mon-
pessoas que vinham participando dos cooperativa foi realizada em 30 de maio
tagem de uma cooperativa, mas o registro de tais cooperati-
encontros, em constituírem um grupo. de 1999, com 28 mulheres assinando o es- vas na Junta Comercial tem sido controversa, dependendo
instituto de tecnologia social

A INCOOP da ufscar
Formado, ele reuniu dez moradores que tatuto da Cooperlimpeza. muito das orientações de cada município ou Estado.
debatiam e dialogavam junto à UFSCar Ainda durante o processo de consti- O segundo problema está em um dispositivo contrário ao
que estabelece a Constituição Federal de 1988 quanto
sobre a atividade econômica da coopera- tuição da cooperativa realizaram-se tam-
ao direito de livre associação: resquício do regime auto-
tiva ao mesmo tempo em que buscavam bém capacitação em atividades de lim- ritário, a Lei nº 5.764 define obrigatoriedade de filiação à
mobilizar mais pessoas para tornar possí- peza, trabalho em grupo, participação, Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). A disputa
vel sua constituição. iniciativa, processo de decisão e planeja- em torno da legitimidade da representação das cooperati-
vas tem sido intensa, em especial após a emergência das
Uma grande parte desse grupo inicial mento da atuação da cooperativa.
cooperativas urbanas de trabalho.
era composta por mulheres, que tinham A Cooperlimpeza fechou seu primeiro Finalmente, a lei define a cooperativa como uma associação
grande dificuldade em conciliar os horá- contrato em outubro de 1999, com aber- sem fins lucrativos, o que significa que a cooperativa, como
rios das reuniões, as atividades domés- tura de oito postos de trabalho em servi- pessoa jurídica, é isenta do pagamento de imposto de renda.
Porém, seus associados não o são, o que acaba fazendo
ticas e o cuidado com os filhos. Essa ca- ços de limpeza no restaurante universi-
com que, muitas vezes, o peso tributário do empreendimento
racterística contribuiu para que todo o tário da própria UFSCar. Esse processo coletivo acabe tornando inviável sua sobrevivência econô-
processo de formação do grupo e, poste- mobilizou as mulheres na discussão so- mica. Devido ao tamanho dos empreendimentos urbanos
riormente, da cooperativa acontecesse de bre quais seriam as oito pessoas que par- e das atividades econômicas que desenvolvem, por vezes
tem sido mais interessante estimular a criação de empresas
forma lenta, de modo que as realidades ticipariam deste primeiro contrato, além
autogestionárias, capazes de usufruir das vantagens tribu-
dos membros fossem respeitadas. das discussões sobre os preços a serem co- tárias de modalidades como o SIMPLES ou SUPER SIMPLES.
Durante o processo de formação do gru- brados e a aquisição dos uniformes; deci- Desde os anos 1990, há alguns projetos de lei em tramitação,
po, um curso de cooperativismo foi rea- sões que, a partir de então, foram e conti- dentre os quais vale destacar o Projeto de Lei (PSL) nº 131,
que regulamenta a organização e o funcionamento das coo-
lizado, permitindo que o grupo pudesse nuam sendo tomadas em assembleias.
perativas de trabalho.
conhecer melhor a história do cooperativis- Todo esse processo gerou mudanças
mo e experiências concretas de cooperati- significativas na vida das pessoas que in-
vas, tornando mais claras suas implicações. tegram a cooperativa, que devem ser re-
A definição sobre a atividade econômica conhecidos a despeito da dificuldade em
que seria exercida pelo grupo gerou vários torná-los visíveis. Ao participar da co-
debates, uma vez que o rol de possibilidades operativa, houve ganhos em termos de
ia desde a alimentação até a construção civil, participação, de cidadania, de aumento
da autoestima, de apropriação dos sig- nefícios que conseguiram organizar, em
Para conhecer mais
nificados da autogestão, além, é claro, parte por definição de fundos, em par-
sobre a INCOOP:
da melhoria nos níveis de rendimentos. te devido à sua inserção em redes de ins- Incubadora Regional de Cooperativas
Tais mudanças não se restringem ao es- tituições. Os benefícios são: cesta básica, Populares da Universidade de São Carlos
paço da cooperativa, influenciando tam- transporte, alimentação, uniformes, con- (INCOOP/UFSCar)
Endereço: Universidade Federal de
bém transformações nas relações fora da tribuição e cobertura pelo Instituto Na-
São Carlos, Rod. Washington Luís, Km 235
cooperativa, como nas interações com a cional de Seguridade Social (INSS) e Fun- Caixa Postal 676
comunidade, com o poder público e nas do de Seguridade Social. CEP 13565-905 - São Carlos - SP - Brasil.
relações familiares8 . Telefone: (16) 33518701 | Fax (16) 33512081.
Site: www.incoop.ufscar.br
Atualmente, a Cooperlimpeza con-
E-mail: incoop@power.ufscar.br
ta com cerca de 250 sócios em duzentos
postos de trabalho. Desses, cerca de 190
são mulheres com baixa formação escolar
- algumas egressas do sistema penitenci-
ário -, e atuam em várias regiões do muni- 27
cípio de São Carlos, sendo a prefeitura sua
principal contratante desde 2004, quan-
instituto de tecnologia social

A INCOOP da ufscar
do venceram um edital público. A INCO-
OP tem prestado consultorias de forma
contínua, até mesmo para enfrentar as di-
ficuldades impostas pela entrada de um
grande número de sócios e sua rotativida-
de, além de oferecer oficinas sobre assun-
tos diversos.
Quanto à estrutura da cooperativa,
até 2005 sua sede funcionava em um sa-
lão alugado. A partir da aquisição de um
terreno próprio, foi votado em assem-
bleia como seria construída a sede, lo-
calizada no bairro Jardim Cruzeiro do
Sul. O mesmo processo aconteceu em
Os grupos recebem capacitação técnica e
formação em cooperativismo e autogestão relação aos equipamentos e materiais
administrativa, entre outras. de limpeza.
Atualmente, os próprios membros
do grupo vêm gradativamente conquis-
tando grande autonomia em relação à in-
tervenção da incubadora. Outra grande
conquista desses cooperados são os be-

8. A característica feminina dos empreendimentos de eco-


nomia solidária em espaços urbanos torna as transforma-
ções nas dinâmicas familiares um fator essencial de
melhoria da qualidade de vida das mulheres participantes
dos empreendimentos. Ver DAKUZAKU, 2001.
Incuba – Quando a A de Alagados e Itapagipe”9 . Ela foi consti-
experiência da Incubadora de Empre- 29
endimentos Econômicos e Solidários tuída a partir de um processo de capacita-

cooperativa precede
(Incuba) é um caso particular. Ela se dife- ção promovido pelo Centro de Arte e Meio

incuba
rencia das demais incubadoras por se es- Ambiente (CAMA), que tinha como obje-
truturar no caminho inverso àquele que tivo a formação de agentes ambientais e a

a incubadora parece ser o movimento mais comum: em


geral, as incubadoras iniciam seus proje-
inserção de jovens e adultos em situação
de risco no mercado de trabalho.
tos no esforço de induzir o início de uma Ao longo de seus anos de atuação no
cultura de cooperativismo ou economia movimento ambientalista do estado da
solidária em determinados territórios. Bahia, a Camapet teve um papel impor-
Mas a Incuba surgiu da necessidade de tante para o resgate da auto-estima, a ge-
apoiar a sobrevivência de uma cooperati- ração de trabalho e renda para jovens da
va já existente e em atividade, na periferia cidade do Salvador e para a mudança de
de Salvador (BA). comportamento e atitudes da população
Criada na península de Itapagipe, em local com relação ao trato com os resíduos
Salvador, a Cooperativa de Coleta Seleti- sólidos. Porém, a partir de 2004 a coope-
va, Processamento de Plástico e Proteção rativa passou a ter dificuldades para pagar
Ambiental (Camapet) surgiu em 1999, o aluguel de sua sede, o que colocava em
com a missão de “promover a redução dos risco todo o seu trabalho.
impactos ambientais, por meio da mu- Em conjunto com a Comissão de Arti-
dança de comportamento e atitudes da culação e Mobilização dos Moradores da
população local com relação ao trato dos Península de Itapagipe (CAMMPI)10 , ar-
resíduos sólidos, gerando trabalho e renda ticularam a ocupação do Armazém 1, local
para adolescentes e jovens da comunidade que integra a antiga malha ferroviária da

9. CAMAPET. Quem somos? Informações institucionais. Disponível em http://cirandas.net/cooperativa-de-coleta-seletiva-


processamento-de-platico-e-protecao-ambiental (Consulta em 1º de março de 2010).
10. A CAMMPI é formada por 48 organizações locais, reunindo associações, organizações não-governamentais (ONGs),
grupos culturais, escolas e creches.
região e pertence à Rede Ferroviária Fede- Por meio da disponibilização de apoio
A Camapet hoje em dia ral. Para fortalecer a cooperativa, que vivia técnico, administrativo e financeiro, a In- Bijouterias de material reciclável:
Atualmente, aCooperativadeColeta Seletiva, Processamento todo esse processo desgastante, um grupo cuba objetiva articular suas ações à pro- design ecológico e sustentável
de Plástico e Proteção Ambiental (Camapet) atende direta- A Camapetbiju produz joias a partir de embalagens plásticas
de professores da Universidade do Estado dução do conhecimento nos programas
mente a trinta cooperados com idade entre 18 a 48 anos que do tipo PET, com o objetivo de gerar renda para jovens cata-
coletam e reciclam vinte toneladas de lixo por mês e geram da Bahia (Uneb) solidariamente se reuniu de pós-graduação da universidade e na dores de materiais recicláveis e estimular a sustentabilidade
ao menos um salário mínimo ao mês. Para trabalhar na coo- para contribuir e fortalecer a Camapet. construção de empreendimentos econô- ambiental. O projeto-piloto nasceu de uma experiência reali-
perativa, o interessado passa por um processo de estágio, Uma das estratégias encontradas por micos solidários, com vistas à geração de zada na disciplina Desenvolvimento de Projeto de Produto III,
no qual realiza o trabalho durante um mês ganhando R$ 100. que integra o Curso de Desenho Industrial da Uneb, aliando a
esses professores foi introduzir alguns trabalho e renda, constituindo um espaço
Após esse período, o setor administrativo avalia a atuação do teoria à prática. “Nossas aulas duraram um semestre e cria-
estagiário para decidir sobre sua permanência na Camapet. cooperados nos cursos da universidade, de fortalecimento das populações excluí- mos as peças em conjunto”, conta Jovane Bispo, um dos coo-
a fim de inseri-los em uma rede de apoio e das do mercado de trabalho, por meio da perados a participar do Curso de Desenho Industrial da Uneb.
agregar valor ao trabalho deles. Em 2005, formação, apoio à organização e do acom- A coordenadora da incubadora ressalta a importância da
troca de conhecimento realizada entre os alunos e os coope-
aconteceu o primeiro processo experi- panhamento de experiências de econo-
rados. “O bom é que subvertemos a ordem do aprendizado,
mental de troca de conhecimentos entre mia solidária no estado da Bahia. não é apenas uma capacitação, é uma criação conjunta.”
dezenove universitários do curso de De- O processo educativo presente na in- A experiência deu tão certo que foi criada a Camapetbiju,
30 sign e quatro cooperados da Camapet. O cubação atua na formação de sujeitos par- uma cooperativa ligada a Camapet, mas que, ao adquirir sua31
autonomia, começou a produzir e comercializar a produção.
resultado foi profundamente positivo e ticipativos, capazes de exercer melhor sua
Sua última coleção, a Pérola Negra, foi inspirada em perso-
teve duas consequências fundamentais: cidadania, fornecendo consistência a todo nalidades negras da cultura baiana e incluiu brincos, pul-
instituto de tecnologia social

a geração de uma tecnologia social de fa- o processo como uma tecnologia social. seiras, colares e outros acessórios, todos de material PET.
bricação de joias com o reuso das embala- Contando com financiamento da Fun- Os produtos foram expostos e comercializados em feiras de
economia solidária e eventos. “Esses produtos possibilitam
gens PET e a estruturação do método do dação Banco do Brasil (FBB), do Conselho
agregar valor ao material reciclável, minimizar os impac-
design participativo. Nacional de Desenvolvimento Científi- tos ambientais e gerar renda”, avalia o cooperado Joílson
Com a fabricação de joias por meio co e Tecnológico (CNPq) e de outros ór- Santana. Além de bijuterias, a cooperativa produz artefatos
de embalagens PET um novo empreen- gãos financiadores, a Incuba é um núcleo com outros tipos de resíduos como: jarros, luminárias, porta-
objeto, pufes e trabalhos de decoração de ambientes.
dimento foi criado, a Camapetbiju, co- vinculado ao Programa de Pós-Gradua-
Para conhecer melhor: www.camapetbiju.xpg.com.br,
operativa localizada na Baixa do Fiscal, ção em Educação e Contemporaneidade Telefone: (71) 3313-5542
bairro do Subúrbio Ferroviário, na capi- da Uneb e atua em rede nas diversas re-
tal baiana. O grupo transforma os resí- giões da Bahia. Seja por meio dos campi
duos em artigos de arte, por meio do tra- da Uneb ou de articulações com as incu-
balho com manejo de metais, plásticos, badoras da Universidade Federal do Re-
papéis e vidro. côncavo Baiano (UFRB), da Universidade
Para oferecer suporte a esse e a outros Estadual de Santa Cruz (UESC), da Uni-
empreendimentos, a partir da experi- versidade Estadual do Sudoeste Baiano
ência que os professores da Uneb tive- (UESB), da Universidade Estadual de Fei-
ram com a Camapet, surge a Incubadora ra de Santana (UEFS), todas ligadas à rede
de Empreendimentos Econômicos So- Unitrabalho. Essa forma de organização,
lidários (Incuba), em 2007, com o apoio além de fortalecer a troca de experiências,
da Rede Universitária Nacional de Tra- possibilita uma atuação conjunta de for-
balho (Unitrabalho). ma territorializada.
A Incuba/Uneb nasceu, portanto, de Vale notar que a Uneb já contava, des-
forma solidária, visando dar continuida- de 1999, com uma ITCP. Porém, parece
de aos projetos de caráter social, coorde- ter havido uma divisão de trabalho en-
nados por professores da Universidade tre as duas estruturas, o que se reflete nos
Estadual da Bahia. distintos públicos que definem como al-
vo de suas ações. Enquanto a ITCP/Uneb ciando um conjunto de cerca de cento e
Design participativo: aplicando o parece voltar seus atendimentos às “pes- setenta pessoas. Das seis cooperativas,
método Paulo Freire no ensino do design
soas desempregadas, com poucas chan- três produzem artesanato.
Para viabilizar o desenvolvimento de produtos próprios e
contribuir para a sustentabilidade dos empreendimentos, a ces no mercado formal”, a Incuba define As demais cooperativas integrantes
Incuba adota a estratégia de reaplicar a metodologia de tra- seu público como “grupos de mulheres, dos projetos da Incuba estão em fase de
balho desenvolvida na cooperativa Camapet. A metodologia de jovens, catadores de materiais reciclá- conclusão da identidade visual e defini-
foi inspirada no método educativo de Paulo Freire e fomenta
veis, índios”11. ção de produtos, e realizam seus trabalhos
um design participativo e original a partir de alguns princípios:
Além dessa diferença, podemos pen- em conjunto com estudantes da discipli-
n Utilização do potencial criativo da história e cultura local;
n Compreensão da questão ambiental por meio de uma sar também numa diferença de gerações na “Desenvolvimento de processo e pro-
perspectiva de sustentabilidade; entre as duas incubadoras: enquanto a duto”, coordenada pela professora Ana
n Design participativo com a perspectiva de construção ITCP foi constituída no bojo do movi- Beatriz Simon, do curso de Desenho In-
do conhecimento em condições igualitárias entre coo- mento que deu origem às ITCPs, centran- dustrial da Uneb.
perados, professores e estudantes.
do suas experiências na incubação de co- A estrutura da Incuba conta com um
Essa metodologia está sendo reaplicada para outros pro-
jetos, como a Cooperativa de Artesanato da Mata Escura operativas populares, a Incuba já nasce conselho administrativo, uma coorde-
(Cooame) e a Cooperativa de Reciclagem, Meio Ambiente e num momento bastante diferente, em nação geral, uma coordenação técnica,
Promoção da Cidadania (Recicoop), estimulando os valores que existe uma Secretaria Nacional de coordenadores de projetos (empreendi-
de cooperação, solidariedade e autogestão em cursos e no
Economia Solidária (Senaes) no âmbi- mentos), professores doutores, mestres
cotidiano das cooperativas atendidas.
“Os resultados revelam uma nova proposta de projetos pau- to do Ministério do Trabalho e Emprego e especialistas em diferentes áreas do co-
tados na resistência. Têm-se projetos éticos, pois não se (MTE), em que a economia solidária já es- nhecimento, tais como administração,
pautam no 'fazer pelo fazer'. Queremos o fazer que proteja e tá mais disseminada e conhecida e, final- design, contabilidade, sociologia, comu-
garanta o patrimônio ambiental para as próximas gerações
mente, em que os princípios de economia nicação, pedagogia, química, psicologia
que habitarão este planeta. Queremos o fazer que lute com a
força da alegria e da solidariedade humana contra a exclu- solidária e autogestão se tornaram mais e história e estudantes de pós-gradua-
são de tantos e que não se conforma nem se amolda a uma centrais do que a forma legal da cooperati- ção da Uneb. Ao todo, 22 pessoas contri-
sociedade de poucos privilegiados. Insistimos em mostrar va, o que se expressa no objetivo de incu- buem na incubadora.
novas maneiras, mais justas e mais igualitárias de se viver”,
bação de empreendimentos econômicos Acerca do processo de incubação de um
declara a professora de design Ana Beatriz Simon Factum.
solidários, denominação mais abrangen- grupo, este só é iniciado quando um pro-
te e inclusiva em relação às formas de or- fessor ou técnico-administrativo assume
ganização da produção. a coordenação do projeto e passa, assim, a
realizar o acompanhamento do grupo. Es-
se coordenador terá o apoio dos professo-
A incubação de empreendimentos res-pesquisadores nas áreas do conheci-
econômicos solidários mento que se fizerem necessárias para o
Atualmente, a Incuba trabalha com seis atendimento da demanda, bem como dos
grupos incubados: quatro em Salvador, monitores que farão o trabalho de acompa-
um em Teixeira de Freitas e um em Se- nhamento cotidiano do empreendimento.
nhor do Bonfim. Do ponto de vista dos “A expectativa da Incuba é formar par-
segmentos econômicos, estão contem- cerias com setores públicos e privados pa-
plados: artesanato urbano, artesanato ra atender novas demandas e proporcio-
indígena e triagem de resíduos, benefi- nar sustentabilidade e autonomia para as
associações”, afirma a coordenadora-ge-
ral da incubadora, Ronalda Barreto.
11. Núcleos Temáticos da Pró-Reitoria de Extensão da Exemplos de material de divulgação e identidades
Uneb. Disponível em http://www.proex.uneb.br/nucleos_ Outra experiência da Incuba também visuais de empreendimentos solidários incubados
tematicos.jsp (Consulta em 1º de março de 2010). é reveladora de sua metodologia de traba- desenvolvidos pela equipe de design da INCUBA
lho: a Putxop - Artesanato Indígena Pata- nato indígena no vilarejo de Cumuruxa-
xó. Há dez anos, a professora Maria Geo- tiba; cabendo à comunidade indígena ou à Para saber mais
vanda Batista, do campus da Uneb em prefeitura local, a doação do terreno para sobre a Camapet
Visite as páginas eletrônicas e blogs:
Teixeira de Freitas, coordenava o projeto o galpão (oca) multifuncional.
n http://cirandas.net/cooperativa-de-cole-
“A academia vai à aldeia”, um projeto de Todas as discussões e decisões entre as ta-seletiva-processamento-de-platico-e-
intercâmbio e de intervenção intercultu- aldeias são realizadas em encontros entre protecao-ambiental
ral entre estudantes, docentes da Uneb e membros da Incuba e das aldeias. Dentre n http://camapet.blogspot.com
o povo pataxó, em cinco aldeias localiza- as decisões tomadas, uma delas foi a apro-
das nos limites do município de Prado, na vação do Centro Putxop de Artesanato
Bahia: são as aldeias de Tibá, Maturembá, Indígena Pataxó. Paralelamente à cons- Para saber mais
Pequi, Kaí e aldeia Alegria Nova. A popu- trução do centro, foram estabelecidas as sobre a Incuba:
lação total destas cinco aldeias é superior seguintes ações: Incubadora de Empreendimentos
Econômicos Solidários (Incuba)
a 250 famílias cadastradas; ou seja, trata- n criação e legalização de uma associa- Coordenadora: Ronalda Barreto
se de, pelo menos, 1.300 pessoas, entre ção em cada aldeia; Telefones: (71) 33265619
34 adultos e crianças. n criação e legalização de uma coope- E-mail: ronalda_barreto@uol.com.br 35
Em abril do ano 2000, 120 famílias pa- rativa de artesãos constituída pelas
taxós deflagraram a luta pela retomada e associações de cada aldeia (associati-
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incuba
demarcação de seu território imemorial. vismo e cooperativismo);
Porém, apenas em 2003 conseguiram n qualificação em design (construção
um acordo, firmado entre as entidades participativa da intervenção na pro-
indígenas, as organizações indigenistas, dução e no produto);
a Funai e o Ibama, assegurando a perma- n implantação de um viveiro de mudas

nência das famílias nos territórios. A em cada uma das cinco aldeias;
partir desse momento era muito impor- n qualificação para conservação de se-
tante realizar outras ações para garantir mentes;
a sobrevivência das comunidades e con- n qualificação em gestão e comercializa-

solidar o processo de reconhecimento de ção, entre outras.
sua identidade étnica. Assim, por meio Esse conjunto de ações contempla a
da iniciativa coletiva dos pataxós e suas sustentabilidade socioeconômica e am-
relações com professores e estudantes da biental das cinco aldeias, fortalecendo a
Uneb, nasce o projeto Putxop: Artesana- revitalização da cultura pataxó por meio
to Indígena Pataxó. do desenvolvimento do artesanato indí-
O objetivo do projeto é atuar como gena, a partir do aproveitamento susten-
fonte de trabalho, renda e educação in- tável de produtos da floresta.
tercultural, com o respaldo da Incuba. O
projeto já obteve importantes conquis-
tas, como o compromisso da Superinten-
dência de Desenvolvimento Industrial
e Comercial da Bahia (Sudic), por meio
de seu programa Indústria Cidadã 2, de
construir um galpão, respeitando as ca-
racterísticas da arquitetura indígena, para
a produção e comercialização do artesa-
ISS/UnB - Uma Uma multincubadora A Incubadora Social e Solidária 37
abraça o empreendedorismo Criada em 2005, inicialmente em par-

multincubadora abraça
social e solidário ceria com o Programa Empreendedoris-

iss/unb
“Estimular o empreendedorismo e o mo Social do Serviço Brasileiro de Apoio
desenvolvimento tecnológico”. Era às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae -

o empreendedorismo justamente esse o objetivo da Univer-


sidade de Brasília (UnB) ao criar o Cen-
DF), a Incubadora Social e Solidária se es-
truturou para “apoiar as comunidades do

social e solidário tro de Apoio ao Desenvolvimento Tec-


nológico (CDT), em 1989. Durante 18
anos, o CDT tivera ótimas experiências
Distrito Federal e entorno na criação de
empreendimentos sustentáveis, focado
na inclusão social e na economia solidá-
em promover a integração entre uni- ria, como forma de geração de trabalho,
versidade, empresa e sociedade em ge- ocupação e renda, por meio da inovação
ral, por meio do apoio a empresas ini- tecnológica e/ou de processos, produtos
ciantes12 . Mas ainda faltava atingir um e serviços, além da formação gerencial e
público específico no Distrito Federal estratégica” (Texto do Plano de Negócios
(DF): a população à margem da econo- da ISS, em 2005, citado por CARVALHO,
mia formal, com suas demandas de ge- 2007, p. 8). Sua trajetória, porém, tem si-
ração de trabalho e renda e de reconhe- do marcada pela ambiguidade de ter sur-
cimento social. gido no interior de uma multincubadora
Para atender às demandas de empre- de empresas tradicionais, estruturada em
endimentos sociais e populares foi cria- torno de um modelo de atendimento bas-
da a Incubadora Social Solidária (ISS), tante focado na inovação e no desenvolvi-
programa que integra a “Multincuba- mento dos produtos sob a forma de asses-
dora de Empresas”. sorias técnicas.

12. A Multincubadora de Empresas orienta e organiza a criação de novos empreendimentos. Para isso mantém quatro
modalidades de incubação: Incubadora de Base Tecnológica, Incubadora de Setor Tradicional, Incubadora de Design e
Incubadora Social e Solidária. Em texto de 2007, Carvalho afirma que “nestes dezoito anos de existência, [a Multincubadora]
apoiou mais de 100 empreendimentos, sendo que destes, cerca de 80% (oitenta por cento) continuam no mercado em
condições de sucesso após o quinto ano de vida” (p. 2).
A despeito desse desafio, a ISS tem se seleção ocorre por meio de editais públi- orientando tanto o planejamentos dos
esforçado para constituir uma equipe de cos, durante os quais a ISS procura mo- grupos quanto das ações de incubação. RADAR: um sistema de avaliação para
técnicos, consultores e pesquisadores ca- bilizar possíveis interessados a partir da Entre 2005 e 2007, a ISS chegou a orientar as atividades de incubação
A partir de 2007, a ISS passou a utilizar o RADAR - ferramen-
pazes de conferir densidade teórica e me- realização de “visitas a laboratórios, de- apoiar até 22 grupos. Dentre esses, como
ta desenvolvida pelo Centro de Apoio ao Desenvolvimento
todológica às especificidades da incuba- partamentos, [da oferta da] disciplina ‘In- é comum em processos de incubação de Tecnológico (CDT/UnB), para facilitar a realização de diag-
ção de empreendimentos econômicos trodução à Atividade Empresarial’, even- empreendimentos econômicos solidá- nósticos e levantamentos de informações. A partir da tabu-
solidários e para efetivar, no processo de tos, entre outros, bem como divulgação rios, alguns se mantêm ligados à incuba- lação dos dados coletados por um questionário estruturado
em torno de cinco áreas, é gerado um relatório que sugere
incubação, os princípios da economia so- em meios de comunicação” (MENDES; dora, outros se fundiram e outros, ainda,
algumas assessorias e capacitações a serem realizadas. As
lidária e da autogestão. SANTANA; SILVA, 2008, p. 2). se extinguiram. áreas investigadas são:
De uma perspectiva bastante ampla, No processo de seleção de empresas Em 2008, a ISS atuava com doze gru- 1 Planejamento, acompanhamento de planejamento estra-
os empreendimentos são apoiados em tradicionais, após a inscrição dos empre- pos em ramos diversos, porém com per- tégico e plano de negócios;
2. Finanças e contabilidade;
quatro eixos principais: endimentos, existe um processo de diag- fis parecidos: trabalhadores e trabalha-
3. Organização do trabalho, divisão de atribuições e eficiên-
1. em relação à sustentabilidade (econô- nóstico acerca da viabilidade econômica doras precarizados economicamente e cia da divisão do trabalho;
mica, social, cultural e ambiental); da atividade a ser desenvolvida que inclui socialmente e, em sua maioria, mulheres 4 Marketing e vendas: infraestrutura, adequação de maqui-
38 2. à geração de trabalho e renda; visitas e preenchimento de uma sonda- na faixa etária dos 40 anos, com habilida- nário e espaço físico de trabalho; 39
5. Redes: capacidade do grupo em se articular com redes de
3. à participação política e gem (analisada por pareceristas ad hoc), des em artesanato, costura e alimentação,
fornecedores, clientes, poder público e sociedade civil e
4. à organização do trabalho, baseada na assessoria ao desenvolvimento de um e cujo trabalho até então era realizado co- autogestão, democracia e solidariedade.
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superação das desigualdades, na autoges- plano de negócios e, última etapa do pro- mo forma de complementação de renda. Segundo o coordenador da incubadora, Pedro Henrique
tão e na valorização do ser humano. cesso, a apresentação do plano de negó- Assim como nas experiências da INCO- Isaac Silva, a adoção do sistema RADAR possibilitou grandes
mudanças positivas para os grupos. O sistema é utilizado em
Esse apoio acontece por meio da capa- cios a uma banca examinadora. Somente OP/UFSCar, o viés de gênero se apresen-
todas as etapas de preparação dos grupos, ou seja, no perí-
citação dos associados dos empreendi- após essas atividades é que um empreen- ta como importante para a compreensão odo de pré-incubação (preparação do grupo para receber o
mentos, da integração destes aos fóruns dimento é encaminhado para a pré-incu- dos significados do trabalho e da tempo- apoio da incubadora, por meio de cursos de capacitação e
e redes locais e nacionais, do desenvolvi- bação ou a incubação. ralidade do desenvolvimento do empre- formação da identidade individual e coletiva da futura coo-
perativa ou associação); incubação (apoio dado aos grupos
mento de tecnologias inovadoras e de pes- Já no caso dos empreendimentos eco- endimento, subordinado às necessidades
durante o período de 24 meses para a entrada no mercado
quisas que busquem ampliar e aprofundar nômicos solidários, o processo é um pou- de cuidado com a casa e os filhos (CAR- e capacitações para a autogestão) e graduação (etapa que
a compreensão das dinâmicas existentes quinho diferente devido ao cuidado que VALHO, 2007, p. 8). consiste no processo gradual de desincubação do grupo -
na economia solidária e sua relação com se procura ter no estabelecimento de um Justamente por ser uma incubadora fase que ainda não registrou caso devido ao pouco tempo de
existência da incubadora e do sistema de monitoramento).
produtos e serviços do mercado. vínculo entre incubadora e grupo a ser in- muito nova, a ISS ainda está se estrutu-
O processo de incubação dos empre- cubado. Assim, o processo seletivo po- rando e debatendo a melhor metodolo-
endimentos econômicos solidários obe- de durar até seis meses, tempo durante o gia para assessorar as cooperativas. “A
dece a um fluxo similar ao das demais qual se desenvolvem atividades de capa- metodologia sofreu grandes modifica-
empresas incubadas: há um processo se- citação e visitas aos grupos, até que se ava- ções em julho de 2007. Anteriormente
letivo, a estruturação de um plano de ne- lie que o grupo está pronto para integrar nos inspirávamos no Sebrae. Isto quer
gócios e, a partir daí, atividades de moni- a incubação. De todo modo, procura-se a dizer que a metodologia era baseada no
toramento e acompanhamento, sempre todo tempo estabelecer vínculos e co-res- processo de trabalho de consultores e
no sentido de contribuir para a melhoria ponsabilidades entre grupo e incubadora, facilitadores, com uma pessoa para ca-
do produto ou serviço e para a viabiliza- numa aposta de que é dessa forma que os da cinco grupos”, observa Pedro Hen-
ção do empreendimento, respeitando os grupos serão capazes de se tornar autôno- rique Isaac Silva, atual coordenador da
princípios da autogestão. mos e autogestionários. ISS. “Esta prática se mostrou insuficien-
Um ponto de diferença da ISS em re- O monitoramento ocupa papel cen- te para atender as demandas de incuba-
lação às outras incubadoras universitá- tral, nesse sentido, na medida em que é a ção, porque se faz necessário a presença
rias é o processo de seleção dos grupos e ferramenta que permite avaliar e confe- de uma equipe interdisciplinar, cujos co-
empreendimentos a serem incubados: a rir visibilidade às conquistas dos grupos, nhecimentos diferenciados ajudem na
busca de soluções pertinentes à nature- como projeto de extensão. Os estudantes tra- Assim como as demais incubadoras, a
za dos problemas dos grupos incubados” balhavam na incubadora, até então, por meio ISS depende das verbas de projetos apro-
(CARVALHO, 2007, p. 3). da prestação de serviços e ganham uma bolsa de vados em órgãos financiadores para con-
Com as novas adaptações, a ISS procu- pesquisa. O tempo gasto nas atividades de in- tratação de técnicos, professores, bolsis-
cubação não era pontuado como atividades de
rou garantir multidisciplinaridade ao pro- tas, em geral todos ligados à UnB.
extensão; e isso provocou a desmotivação por
cesso, além de flexibilidade, mais adequa-
parte de alguns bolsistas e assessores que [...]
da às particularidades do processo de cada
buscaram outras atividades (PINTO, CRUZ e
grupo. Enquanto a multidisciplinaridade Bem Me Quero, a experiência
CAVALCANTE, 2009, p. 9).
seria possibilitada por meio de ações efe- de uma rede que une associações
tivas de monitoramento e pluralidade de e cooperativas
formações dos integrantes da equipe da Vale notar que esse desafio da susten- A experiência da rede Bem Me Quero me-
ISS, a flexibilidade seria possibilitada pela tabilidade de uma equipe, no interior de rece atenção especial em relação aos pro-
referência da prática de incubação à socio- um projeto de extensão universitária, não cessos da ISS e torna mais clara a metodo-
logia clínica (CARVALHO, 2007). é exclusivo da ISS/UnB: ao contrário, tra- logia da incubadora.
40 No entanto, por razões institucionais, ta-se de desafio vivido por quase todos os A maior parte dos grupos que procu- 41
as ambiguidades que marcaram o início da projetos ou núcleos no início de suas ati- ram a incubadora são ligados ao artesa-
ação da ISS ainda não puderam ser supe- vidades. Chamamos a atenção para ele, no nato. Com a seleção e o processo de incu-
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radas na prática. Um dos fatores que con- entanto, para que se possa compreender bação de cada associação ou cooperativa,
tribuiu para isso é a limitada legitimação com mais clareza a inovação institucional as produções destas vinham se aprimo-
da ISS no arranjo institucional no qual es- possibilitada pelas incubadoras univer- rando com as oficinas e cursos da incu-
tão as outras incubadoras que compõem sitárias, que inovaram ao propor proces- badora. Entretanto, esse movimento não
o CDT: no âmbito das ações de extensão sos de ensino, pesquisa e extensão que, de era acompanhado de melhoria nas for-
universitária, o trabalho das incubadoras tão imbricados, não funcionam na falta de mas de comercialização dos produtos,
se legitimam - como vimos nas experiên- qualquer um deles. nem havia na cidade ou região um ponto
cias da INCOOP/UFSCar e da Incuba/ De todo modo, o desafio da incubação fixo para a comercialização de produtos
Uneb - também pelas ações de ensino e continua sendo possibilitar que o conhe- da economia solidária. Como é comum
pesquisa, criando desse modo uma mas- cimento popular e científico se comple- no caso de artesãos ou trabalhadores ma-
sa crítica composta por estudantes e pro- mentem, favorecendo as transformações nuais, os grupos tinham muita dificul-
fessores de áreas variadas, capaz de lidar políticas, econômicas e sociais, além de dade em competir com grandes marcas e
com os desafios da incubação de empre- adaptar ou criar conhecimentos sobre a acabavam, por muitas vezes, sendo pre-
endimentos econômicos solidários. Na gestão de empreendimentos solidários judicados pelas más condições de venda
ISS, no entanto, como avaliam estudan- coerentes com os princípios de autoges- de seus produtos.
tes recém-graduados ou graduandos que tão - superando, desse modo, uma lacuna Em 2007, a Bem Me Quero foi forma-
participam da incubadora, sentida por todos os que trabalham com da como uma rede de empreendimentos
na Universidade de Brasília, mais especifica-
o tema da economia solidária junto a gru- solidários do ramo de artesanato, ini-
mente na incubadora, não existe o incentivo pos, empreendimentos e cooperativas. cialmente com dez associações e coo-
quanto à participação efetiva dos estudantes e Ainda, é fundamental respeitar a tempo- perativas de artesanato, todas ligadas à
professores nas pesquisas sobre o movimento ralidade dos grupos, ainda que ela esteja incubadora. “Percebemos que uma rede
cooperativista e da economia solidária. As lacu- comprimida entre a urgência na geração que englobasse todas as associações em
nas de informações diminuem o rendimento de trabalho e renda e a temporalidade dis- uma só associação iria beneficiar todas
dos trabalhos realizados [...] A ISS/UnB não tensa da criação de vínculos solidários e as outras. Daí surgiu a Bem Me Quero,
A coleta de material reciclável é uma
estava, durante o primeiro semestre de 2009, da apropriação dos conhecimentos sobre com a ideia de transformar associações
área de experiências bem-sucedidas
de empreendimentos solidários. cadastrada nas atividades da universidade gestão e autogestão. que eram antigas competidoras em co-
laboradoras”, explica Pedro Henrique Social (Secis) do Ministério da Ciência e ras gastas na confecção e na complexidade
Para saber mais sobre
Issac Silva, coordenador na Incubadora Tecnologia (MCT); da Secretaria Especial das técnicas aplicadas”, explica Issac, que Incubadora Social Solidária
Social Solidária. de Políticas para as Mulheres (SPM) e da comemora a existência de democracia in- (ISS)
Fundação Banco do Brasil (FBB). À época, terna da rede, a transparência na presta- Coordenador: Pedro Henrique Issac Silva
eram dez os grupos ligados à rede Bem Me ção de contas e o trabalho coletivo. Endereço: Universidade de Brasília - Edifício
CDT - Campus Universitário Darcy Ribeiro
Tecendo futuros Quero, em sua grande maioria mulheres, Além da inserção social destas artesãs, Caixa Postal: 04397 - CEP: 70910-900
O início de cada associação ou coopera- entre 35 e 70 anos, que residem em regi- a Bem Me Quero trata com prioridade a Telefone: (61) 3307-2733
tiva que integra a rede Bem Me Quero se ões ao redor da capital federal, em cidades questão ambiental e promove a redução E- mail: pedro@cdt.unb.br
deu junto da própria incubadora, que ao satélites como Recanto das Emas, Varjão, do desperdício em todas as fases da etapa
selecionar os grupos para incubação, em Taguatinga, Planaltina, São Sebastião, Pa- produtiva. Do desenvolvimento da cole-
2005, percebeu que muitos dos grupos já ranoá e Gama. ção à produção, as sete associações e coo-
estavam ligados ao artesanato. Atualmente, são cerca de 150 artesãs, perativas que integram a rede trabalham
Incubados e capacitados individual- costureiras e bordadeiras representadas com retalhos, reaproveitamento de peças
mente em oficinas e cursos, as associa- pelas atuais sete associações e coopera- de brechós, estampas que não utilizam
42 ções e cooperativas de artesãs vinham ela- tivas que integram a rede, que encontra- tingimentos com técnicas ou materiais 43
borando e produzindo, com cada vez mais ram a esperança de conseguir uma ren- nocivos ao meio ambiente. Este processo
qualidade, seus produtos. Como mostra da ao final do mês, entre linhas e agulhas só foi alcançado graças aos cursos de ca-
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o exemplo da associação Entre Nós, tam- que tecem histórias: “Um jeito diferen- pacitação da Incubadora Social Solidária,
bém selecionada pela ISS em 2005, loca- te de produzir, vender, comprar e trocar. que trabalhou junto da Incubadora de De-
lizada na região de São Sebastião, uma das Sem explorar ninguém, sem querer le- sign, também integrada ao CDT.
cidades satélites mais pobres do Distrito var vantagem, sem destruir o ambiente. Depois de conquistar o espaço de co-
Federal. Ela recebeu apoio da Incubadora Sem patrão, nem empregado, cada um mercialização, o atual grande desafio
de Design – outra incubadora dentro do pensando no bem de todos e no seu pró- da rede é mantê-lo. Afinal, mesmo com
programa de “multincubadoras de em- prio bem”, afirma o lema da loja da Bem subsídios, os custos para manter o espa-
presas”, do CDT –, que capacitou as arte- Me Quero, inaugurada no dia 20 de ou- ço dentro de um centro de comercializa-
sãs e promoveu o aperfeiçoamento do seu tubro de 2007. ção são muito altos. Porém, para as asso-
trabalho, ensinando, por exemplo, técni- Segundo o coordenador da incubado- ciações e cooperativas, o que está valendo
cas de combinação de cores. ra, toda a gestão da loja é das mulheres que mesmo são os novos desafios.
Assim como a Entre Nós, as demais compõem a Bem Me Quero. Quanto à ISS
associações seguiam um caminho simi- cabe apenas o fornecimento do suporte
lar. Porém todas esbarravam na dificulda- em relação à gestão financeira e outros as-
de de comercialização. “Elas produziam suntos. “O mais importante de todo es-
o artesanato, mas não tinham lugar para se projeto foi ter mostrado para as arte-
vender”, explica o coordenador da ISS. sãs que, para ter uma loja, não precisa ser
Para tentar suprimir esta dificuldade, um grande empresário, e que não se po-
a ISS em parceria com o Jardim Botânico de pensar em um empreendimento ape-
Shopping, conquistaram uma loja a cus- nas com foco na produção, mas também
tos subsidiados. Mas cada associação sozi- [é preciso pensar] na venda”, afirma ele.
nha não teria condições de estruturar a lo- Os valores, assim como a gestão, são
ja. Então, a incubadora promoveu a união decididos pelos membros das associa-
das associações e cooperativas e criou ções e cooperativas que compõem a rede.
a loja, em 2007, com o apoio da Secreta- “O valor das peças também é calculado
ria de Ciência e Tecnologia para Inclusão pelas artesãs, com base no número de ho-
Incubadoras públicas A
té agora, apresentamos diferentes Paulo, no início dos anos 2000, que Osas- 45
arranjos institucionais nos quais se co encontra sua principal referência, devi-

de empreendimentos
inserem as incubadoras universitárias, do à preocupação da gestão paulistana em

a ipesp de osasco
sempre coerentes com os princípios que refletir e sistematizar o que foi vivido, em
orientam as universidades públicas, arti- suas várias dimensões (institucional, mar-

populares e solidári­os culando ensino, pesquisa e extensão. Ao


examinar a experiência de Osasco - mu-
co legal, metodologia de incubação).
A partir das experiências anteriores,

em políticas públicas nicípio que faz parte da Região Metro-


politana de São Paulo -, nossa intenção é
o Programa Osasco Solidária já come-
çou reconhecendo alguns desafios cen-

de desenvolvimento
mostrar como a atividade de incubação trais para a consolidação de uma política
também pode ser realizada no âmbito de pública de economia solidária na cidade.
políticas públicas de economia solidária, Aqui, enfatizamos aqueles para os quais

e economia solidária - não somente por meio do estabelecimen-


to de parcerias entre poder público e uni-
apresentamos também as respostas insti-
tucionais e metodológicas que foram da-

a experiência de osasco versidades ou entidades de fomento, mas


a partir da estruturação de uma institui-
ção pública, com todas as especificidades
das na implantação do programa.
O primeiro desafio era o de propiciar
condições para que, de política de gover-
e desafios que isso implica. no, a economia solidária fosse incorporada
A Incubadora Pública de Empreendi- como política pública, integrando as ações
mentos Populares e Solidários (IPEPS) ini- esperadas do poder público municipal para
ciou suas atividades em janeiro de 2006. além do período de quatro anos que com-
Sua estruturação foi precedida de outras põe uma gestão. Como veremos, tal desafio
experiências: em nível estadual, já nos foi enfrentado por meio do esforço na apro-
anos 1990, o estado do Rio Grande do Sul vação de leis, da constituição de uma equi-
aparece como pioneiro; em nível munici- pe de servidores públicos e da sistematiza-
pal, também ao longo dos anos 1990, Porto ção da experiência. Ainda, a preocupação
Alegre (RS), Santo André (SP), Recife (PE) com formas de controle social também se
e Belém (SP) foram também pioneiras. incluem nas estratégias de consolidação, na
Mas é na experiência do município de São medida em que articulam os atores da eco-
nomia solidária em espaços de representa- dores de resultados a uma concepção Para que os empreendimentos incu-
ção, o que resulta em importante troca de mais sistêmica de desenvolvimento. bados pudessem ter mais chances de aces- O desafio de consolidação
conhecimentos e capacitação. so à tecnologia e inovação, estabeleceu-se da política pública
“A consolidação do Programa Osasco Solidária vem sendo
O segundo desafio era o de apoiar os uma parceria entre a Prefeitura Municipal
marcada pelo esforço permanente de assegurar sua continui-
empreendimentos não apenas com for- De política de governo a de Osasco e o Instituto de Tecnologia So- dade para além do período de uma gestão pública. Primeiro,
mações para a gestão e autogestão, mas política pública cial (ITS Brasil). A este cabe a fundamen- pela responsabilidade com o público-alvo: trabalhadores e
inserindo-os em estratégias de desenvol- A IPEPS de Osasco faz parte das ações de- tal tarefa de identificar as necessidades e trabalhadoras, descrentes das relações com o poder públi-
co por conta de experiências anteriores bastante infelizes.
vimento e qualificação profissional. Esse senvolvidas pelo Programa Osasco Solidá- organizar as demandas que os empreen-
Segundo, pela fragilidade dos empreendimentos, que preci-
desafio foi enfrentado por meio da articu- ria, instituído pela Lei Municipal nº 3.978, dimentos têm de tecnologias sociais, no sam de apoio sólido e instrumentos públicos que busquem
lação das ações no interior da Secretaria de 27 de dezembro de 2005. A aprovação da que se refere à gestão da produção, à pro- garantir sua autossustentabilidade. Por fim, mas não menos
de Desenvolvimento, Trabalho e Inclu- lei foi passo fundamental para a consolida- dução ou à comercialização e distribuição, importante, pela certeza de que é preciso reinventar as políti-
cas públicas de trabalho, incorporando alternativas de gera-
são (SDTI), da qual o Programa Osasco ção da estratégia municipal de apoio à eco- e então, por meio de pesquisas, procurar
ção de trabalho e renda que sempre ficaram à margem do
Solidária faz parte, e também promoven- nomia solidária, assim como os decretos soluções adequadas a tais necessidades. debate oficial” (CAZZUNI et. al., 2008, p. 24).
do ações intersecretariais e em parcerias nº 9.823 e nº 9.824, ambos de 4 de outubro A SDTI e o Programa Osasco Solidá-
46 com entidades de ensino ou organiza- de 2007, que criaram, respectivamente, a ria também tiveram a preocupação de 47
ções da sociedade civil. São exemplos elo- Incubadora Pública de Empreendimentos compor um quadro de servidores públi-
quentes da importância de tais estratégias Populares e Solidários e o Centro Público cos que, capacitados ao longo do proces-
instituto de tecnologia social

a ipesp de osasco
as Oficinas Setoriais, espaços de capaci- de Economia Popular e Solidária. Tal mar- so de estruturação da IPEPS, fixassem tais
tação laboral, produção e/ou comercia- co legal, além de contribuir para a divul- capacidades, experiências e aprendiza-
lização, que têm permitido aos empreen- gação das ações em implantação, entre re- dos no quadro institucional da prefeitu-
dimentos dar saltos de qualidade e escala presentantes do legislativo, confere a elas ra. Por isso, em janeiro de 2006, concomi-
nos produtos e serviços que oferecem e maior institucionalidade, na medida em tante à preparação do início das atividades
também têm possibilitado experiências que definem responsabilidades, formas de da incubadora, abriu-se um edital públi-
de produção e/ou comercialização coleti- controle social e fontes de financiamento. co destinado aos servidores municipais
vas, fundamentais para o estabelecimen- Além disso, a institucionalização do que desejassem atuar nessa nova frente
to de vínculos e estruturação de redes. Programa e dos equipamentos públicos de trabalho, após divulgação e sensibili-
Finalmente, tendo em conta todas como a Incubadora e o Centro Público pos- zação das diversas secretarias.
as especificidades e oportunidades aci- sibilitaram também a criação de comitês A formação desses servidores ocorreu
ma referidas, outro desafio fundamen- gestores, um mecanismo de controle so- tanto no trabalho, em reuniões formati-
tal era o da estruturação de um desenho cial constituído por representação paritá- vas e no processo de intensa reflexão que
metodológico eficiente, capaz de conci- ria entre poder público, empreendimen- marcou a elaboração de um desenho me-
liar os tempos de estruturação dos em- tos e entidades de apoio e fomento que, ao todológico adequado à realidade osas-
preendimentos e os tempos da política, mesmo tempo em que confere transpa- quense, mas também por meio da política
em geral bastante ligados à periodici- rência à política, estimula a participação e de valorização dos servidores, que pude-
dade eleitoral. Tal desafio foi enfrenta- a organização dos atores de economia so- ram participar de diversos cursos, fóruns
do por meio de uma constante reflexão lidária do município. Essa também é uma e seminários sobre o tema da economia
e avaliação do desenho metodológico de maneira de aumentar as chances de conti- solidária e da gestão de empreendimen-
atendimento e do esforço em conferir nuidade, na medida em que constitui pú- tos econômicos solidários.
visibilidade às diferentes dimensões, blicos de interesse organizados e canais de Ainda no sentido de criar condições pa-
conciliando assim os próprios indica- participação e controle social13 . ra a sustentabilidade da política pública de
economia solidária no município, desde o
início houve o esforço em registrar, docu-
13. Pesquisas recentes têm demonstrado a importância de canais de participação descentralizados e próximos aos usuários
das políticas públicas para o efetivo exercício de participação e controle social (DOWBOR; HOUTZAGER; SERAFIM, 2008). mentar e sistematizar a experiência, tanto
no que se refere ao desenho metodológico a eles segurança e apropriação dos modos
quanto às definições institucionais em re- de produzir e fazer. O desafio era, portan- Os bons caminhos da Loja-Oficina
lação a cada espaço de gestão ou formação. to, inserir tais empreendimentos em es- Um dos resultados da Loja-Oficina foi a criação da Rede
Osasco Artesanato em Rede Empreendimentos Eco
Desse modo, desde o início das ativi- tratégias mais gerais de desenvolvimen-
Solidários (Oarees). Outro é a realização de cursos de
dades, foram elaborados três documen- to, a fim de permitir que os participantes capacitação pelo Plano Setorial de Qualificação Social e
tos, que registram as mudanças no dese- se qualificassem e, assim, incorporassem Profissional em Economia Solidária (Planseq Ecosol), uma
nho metodológico: o primeiro, de 2006; técnicas e tecnologias a seus processos das ações do Plano Nacional de Qualificação (PNQ) do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em parceria com
o segundo, escrito no segundo semestre produtivos ou aos serviços que prestam.
o Instituto Paulo Freire (IPF), a Associação Nacional de
de 2007, já após um amplo processo de Outro desafio era metodológico e se Trabalhadores e Empresas de Autogestão (Anteag) e a SDTI.
avaliação e revisão da estratégia metodo- referia às práticas de indução na consti- A Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes/MTE)
lógica e o terceiro, consolidado no final de tuição de empreendimentos: como um também é parceira deste projeto, participando de sua elabo-
ração e articulação.
2009, que registra um segundo ciclo de grupo se consolida e consolida seus vín-
Um dos cursos de capacitação incentivou cinco artesãs de
avaliações e modificações nas formas de culos em torno de um projeto comum, a Osasco a desenvolverem o projeto de um empreendimen-
atendimento aos empreendimentos. proposta da IPEPS/Osasco sempre foi to econômico e solidário, hoje estruturado com o nome de
48 Foram elaborados ainda, como mate- a de conduzir o processo de incubação a Tendarte e sediado no bairro Munhoz Júnior: “Produzimos49
e comercializamos bijuterias, bonecas, produtos natalinos,
riais de apoio que conferiam forma aos partir da prática dos indivíduos e empre-
chinelos, bolsas, acessórios, pedrarias, tecidos. Também
pressupostos metodológicos e às ativida- endimentos, o que significa não somen- damos aulas de artesanato em vários locais”, lista a arte-
instituto de tecnologia social

a ipesp de osasco
des desenvolvidas junto aos empreendi- te levar em conta suas “bagagens” de ex- sã Iara Mendes, sócia do empreendimento. “O grupo teve
mentos, onze Cadernos de Apoio, tendo periências, mas também apoiar a partir de início há dois anos, na IPEPS, já com esse nome, mais foi se
modificando. O Tendarte, que já passou por todas as etapas
como temas: Coletivos de trabalho: rela- estratégias do tipo “mãos na massa”. Am-
de incubação, está readequando seu plano de negócio, pois
ções de grupo, autogestão e economia so- bos os desafios puderam ser enfrentados se fundiu com outro grupo. Mas sempre estaremos abertas a
lidária; Formalização das relações e lega- a partir de um mesmo arranjo institucio- novas sócias”, explica ela.
lização do empreendimento; Gestão do nal: as Oficinas Setoriais. Uma grande vantagem desse empreendimento é que as
integrantes já tinham seus equipamentos de produção, pois
empreendimento; Viabilidade econômica Conforme Cazzuni et. al. (2008), as
atuavam de forma individual. A união permitiu economia,
e Plano de negócios; Guia para a elabora- Oficinas Setoriais ampliação da renda e da atuação no mercado e organiza-
ção de projetos de empreendimentos eco- ção em sistema de produção coletiva: “Para mim mudou
nômicos solidários; Empreendedorismo; tudo. Antes eu tinha que comprar, produzir e vender sozinha.
[...] têm o objetivo de oferecer aos beneficiários
Antes, se tinha três feiras no mesmo dia, eu devia optar por
Comunicação e marketing; Identidade vi- atendidos nos processos de incubação um eixo uma delas e perder a clientela das outras. Agora, nós econo-
sual entre outros. comum: ao mesmo tempo em que capacita (daí mizamos com a divisão das compras e vendemos mais com
a opção pelo formato das oficinas setoriais), a participação em todos os eventos”, compara Iara. “Além
contribui para a criação de condições que disso, estamos mais preparadas sobre temas como custos,
fluxo de caixa, autogestão, planilhas, planejamento, metas e
Economia solidária, instrumentos viabilizem a constituição de laços de grupo e
prazos. Vamos fazer nossa logomarca e estamos discutindo
de apoio à incubação e território: a organização coletiva voltada para a atividade
o processo de formalização”.
as Oficinas Setoriais econômica. A possibilidade da teoria e da

Uma observação que vinha de experiên- prática pode modificar as condições de escolha
e aumentar a probabilidade da constituição de
cias anteriores se referia às dificuldades
empreendimentos viáveis (p. 91).
que os empreendimentos, coletivos ou
individuais, tinham para melhor qualifi-
car a atividade econômica escolhida. Uma Espaços de capacitação e experimen-
escolha, aliás, quase sempre limitada à tação, as Oficinas Setoriais também pos-
própria trajetória de trabalho dos parti- sibilitaram a estruturação de diferentes
cipantes, por vezes descontínua e sem segmentos econômicos: o Pão Sol, as-
identificação profissional que conferisse sim, é espaço de capacitação e produ-
ção, que contribui para que os empreen- nhado um papel essencial para a estrutu- Tais mudanças só foram possíveis de-
Oficinas Setoriais, trabalho de muitos: dimentos de alimentação tenham maior ração dos empreendimentos e para a qua- vido à preocupação, presente desde o iní-
articulações e parcerias capacidade de produção em escala, sen- lificação de seus produtos e serviços. cio das atividades da incubadora, de um
do possível que aceitem, por exemplo, Um desafio persistente se refere às ar- lado, com o registro das atividades e in-
Programa Osasco Recicla: secretarias de Administra­
ção; Assistência e Promoção Social; Desenvolvimento, encomendas em maior quantidade e, ticulações necessárias para compor tais tervenções junto aos empreendimen-
Trabalho e Inclusão; Educação; Habitação e Desenvolvimen­ desse modo, adquiram conhecimentos espaços: entre programas da SDTI; en- tos e, de outro, com o monitoramento e
to Urbano; Indústria, Comércio e Abastecimento; Meio em organização da produção, boas prá- tre diferentes secretarias; entre progra- a avaliação, traduzidas no convênio com a
Am­­biente; Obras e Transportes; e Saúde; coordenadorias
ticas, formação de preços etc.; a Loja- mas, secretarias e organizações da socie- ITCP COPPE/UFRJ para transferência de
de Gênero e Raça e de Combate às Enchentes; Fundação
Na­cional de Saúde (Funasa)/Ministério das Cidades e Oficina, localizada no Centro Público de dade civil. A articulação e a gestão de tais tecnologia de monitoramento e acompa-
As­sociação Civil Cidadania do Brasil (ACCB). Economia Solidária, expõe e comerciali- projetos é delicada e difícil, demandando nhamento - o Sistema Integrado de Ges-
za os produtos dos segmentos da Costu- imenso tempo para a constante produção tão para Incubadoras (SIG-Inc). Assim,
Oficina Setorial Horta-Modelo: secretarias de
ra e Artesanato, fomentando ainda a ar- de referências comuns. Do ponto de vis- entre janeiro de 2006 e dezembro de 2007
Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão (SDTI) e Meio
Ambiente (Sema); Secretaria de Segurança Alimentar e ticulação dos empreendimentos desses ta dos resultados, porém, tamanho esfor- foram realizadas formações junto à equi-
Nutricional/Ministério do Desenvolvimento Social e Combate segmentos em redes de comercialização; ço se mostra compensador, conferindo pe da IPEPS/Osasco, para capacitação no
50à Fome (Sesan/MDS); Centro de Pesquisa da Fundação o Feira Móvel e Solidária - ônibus adap- concretude à estratégia da economia so- uso do Sistema, on-line, capaz de regis- 51
Motiki Okada; Banco de Alimentos/Secretaria de Indústria,
tados ao transporte de alimentos e circu- lidária no município, melhorando a qua- trar em tempo real as atividades de incu-
Comércio e Abastecimento do Município de Osasco.
lação de consumidores – comercializa os lificação dos trabalhadores e trabalhado- bação e também de produzir informações
instituto de tecnologia social

a ipesp de osasco
Oficina Setorial Pão Sol: parceria SDTI e Fundo Social produtos de empreendimentos da agri- ras dos empreendimentos e aumentando sobre o andamento dos grupos, a partir da
do Município de Osasco; Instituto de Tecnologia Social cultura urbana, alimentação e até mes- as chances de viabilidade, tanto a viabili- aplicação de questionários semestrais, ta-
(ITS Brasil); Ministério do Desenvolvimento Social (MDS);
mo artesanato, contribuindo ainda para dade econômica dos empreendimentos bulados pela COPPE em indicadores em
Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); e Financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP). a formação de consumidores solidários quanto a viabilidade associativa, de em- três dimensões: viabilidade econômica,
no município; a Horta-Modelo, espaço preendimentos coletivos e das redes de viabilidade associativa e cidadania e par-
Feira Móvel e Solidária: Centro de Educação, Estudos de formação continuada em horticultu- troca, produção ou comercialização. ticipação política.
e Pesquisas (CEEP), SDTI; Sica; Companhia Municipal de
ra com técnicas de base agroecológicas, A implementação do SIG-Inc aca-
Trânsito de Osasco (CMTO); FINEP; e Viação Urubupungá.
é base das atividades que procuram esti- bou sendo dificultada por vários moti-
mular a criação de seis áreas produtivas “Aprender fazendo” também na vos: desde o alto custo de coleta e digita-
na região de Osasco, já tendo dado ori- IPEPS: monitoramento, avaliações e ção das informações do questionário até
gem ao empreendimento Cantinho Ver- metodologia de incubação as dificuldades com os equipamentos, in-
de, de produção de hortaliças e verduras; Desde o início das atividades da IPEPS/ suficientes para a equipe ou sem acesso a
em parceria com o Osasco Recicla, o seg- Osasco, o desenho metodológico vem internet, por exemplo. Os princípios de
mento da reciclagem é apoiado por meio sofrendo alterações, sempre no intuito monitoramento e avaliação, porém, fo-
da cessão de espaços de separação e co- de melhor atender aos empreendimen- ram apreendidos pela equipe, que tem se
mercialização de recicláveis e da realiza- tos que chegam à incubadora. De um de- esforçado na implementação de sistemá-
ção de coleta seletiva nos bairros e regiões senho inicial mais rígido, centrado em ati- ticas de monitoramento mais constan-
em que tais empreendimentos se locali- vidades formativas comuns ao conjunto tes, tanto a partir de instrumentos de co-
zam; o Café-Oficina, também localizado dos empreendimentos, chegou-se a um leta como questionários sobre viabilidade
no CPEPS, apoia o segmento da alimen- modelo mais flexível, orientado pelas ne- econômica quanto por meio de práticas
tação por meio da cessão do espaço por cessidades e demandas de cada empreen- de gestão mais eficazes para a construção
um período determinado, durante o qual dimento, levando em conta as especifi- de respostas aos empreendimentos, e na
o grupo pode experimentar a gestão coti- cidades de seu segmento econômico, de elaboração de ferramentas de avaliação
diana de um empreendimento. suas características sociais e econômicas capazes de “traduzir” o processo dos gru-
Percebe-se, desse modo, a importância e seu desenvolvimento ao longo do pro- pos nas diferentes dimensões nas quais a
das Oficinas Setoriais, que têm desempe- cesso de incubação. intervenção da IPEPS impacta. Pois, se as
políticas de economia solidária integram combinar atividades de assessoria e ati-
Do sonho ao próprio ponto: a experiência estratégias de desenvolvimento capazes vidades de capacitação, até como forma Pressupostos metodológicos
d’As Meninas do Quilombo de levar em conta as dimensões sociais, de garantir que os empreendimentos se da IPEPS/Osasco
Entre os empreendimentos incubados pela IPEPS, os que n O EES é o núcleo gerador de todas as atividades de incu-
culturais e relações econômicas não me- encontrem, se conheçam e, assim, pos-
apresentam resultados mais concretos estão no setor de ali- bação.
mentação. Desde setembro de 2008, por exemplo, o empre- diadas apenas pela moeda, é necessário sam criar vínculos e trocar informações
n A unidade de intervenção da incubadora é o empreendi-
endimento As Meninas do Quilombo comanda sua própria enfrentar o desafio de criar indicadores e saberes. mento, seja ele individual ou coletivo.
lanchonete em um espaço alugado, próximo à prefeitura. capazes de ampliar também as ferramen- A viabilidade econômica e o Plano de
Apesar de trabalharem arduamente, de segunda a sábado
n A incubação é um processo de educação, em que há
tas de avaliação, até mesmo como forma Negócios são eixos essenciais, que es- troca, ensino e aprendizagem.
(às vezes conseguindo serviço extra aos domingos), as seis
integrantes do empreendimento já vendem cerca de 65 almo- de legitimar os resultados alcançados. truturam o trabalho a ser desenvolvido n O trabalho de facilitação da formação de grupos implica
ços e 300 salgados por dia, além de bebidas e doces. O ponto de partida para o atendi- junto aos empreendimentos. Em par- em possibilitar momentos rituais, que possam referen-
Tudo começou no processo de capacitação da IPEPS, ciar a experiência dos empreendimentos.
mento do empreendimento é seu cadas- ceria com o ITS Brasil, a IPEPS/Osas-
em 2006. As integrantes já trabalhavam com alimentação n Empreendimentos que têm metas definidas em conjunto
tro nas atividades oferecidas pela incu- co elaborou uma ferramenta de apoio visualizam com mais clareza suas conquistas e suas limi-
individualmente naquela época, mas não se conheciam.
“Fiquei sabendo do programa da prefeitura pela divulga- badora. Desde 2006, foram abertos três ao desenvolvimento do plano de negó- tações e correm menos riscos de desanimar frente aos
ção que fizeram numa igreja evangélica. Sempre quis ter cadastramentos - no segundo semes- cios, disponível on-line para quaisquer períodos de dificuldade.
52um negócio próprio. Mas sabia que, para isso, era pre- tre de 2006, no final de 2007 e no início empreendimentos que desejem utilizá- n O monitoramento e a avaliação são instrumentos funda-53
ciso ter assessoria e noções de administração”, afirma mentais para a viabilidade econômica e associativa dos
de 2010. Os cadastramentos, públicos e las14 . A proposta foi a de criar uma ferra-
Valdete Cesária Cavalheiro, uma das sócias d’As Meninas empreendimentos.
do Quilombo. Durante a capacitação formou-se um gran- universais aos cidadãos de Osasco, con- menta adaptada às necessidades de em-
n O processo de incubação é fruto de responsabilidades
instituto de tecnologia social

de grupo com intenção de planejar um empreendimento. tribuem para a institucionalização e a preendimentos populares e solidários, assumidas tanto pela incubadora quanto pelos empre-
A maioria foi desistindo e, quando foi inaugurado o Centro democratização do acesso à IPEPS. Co- em especial os coletivos. endimentos.
Público de Economia Popular e Solidária, em setembro de
mo são precedidos de diversas ações de Um dos principais desafios, talvez
2007, as seis que hoje comandam As Meninas do Quilombo Fonte: baseado em LEITE et al. (2008, p. 59).
estavam lá para assumir o novo Café Oficina. Nesse dia, sensibilização e divulgação, contribuem menos metodológico do que de gestão,
para glória de todas, receberam elogios do presidente da ainda para a disseminação de informa- é garantir a cada empreendimento um
República, Luiz Inácio Lula da Silva, pelos alimentos que ções sobre economia solidária. olhar multidisciplinar, que permita per-
prepararam para o evento.
Após o cadastro, os empreendimen- cebê-lo de modo sistêmico - levando em Para saber mais:
Passaram um ano ocupando o espaço do Café Oficina, tendo
tos são entrevistados e, se já estiverem conta suas características culturais, asso- Incubadora Pública de Empreendimentos
orientação no processo de incubação sobre plano de negó-
Populares e Solidários/Osasco
cios; assistência jurídica; autogestão e marketing, entre produzindo, visitados. Cada uma dessas ciativas, econômicas, por vezes até con- Endereço: Rua Dimitri Sensaud de Lavaud, 70
muitos outros aspectos. Mas a prática era extremamente atividades gera um relatório e parecer do junturais. O desafio é conduzir o proces- Jardim Bussocaba - Osasco – SP
necessária. Por isso, não perderam tempo. “No dia seguin-
técnico responsável pela entrevista e vi- so de incubação articulando formação e Telefone: 3683-6689
te à inauguração do Centro Público, fizemos uma vaquinha
entre as seis e, com R$ 25, compramos os ingredientes e fize- sita que, levado para a Comissão de Sele- parceria, apoio e corresponsabilização,
mos bolos e salgados. Vendemos tudo e conseguimos R$ 45. ção e Acompanhamento da IPEPS, sub- e garantindo aos empreendimentos as
E assim foi”, lembra Valdete. “A maior oportunidade surgiu sidia a decisão sobre a priorização dos oportunidades de melhorar sua geração
ao fazer divulgação entre os funcionários da prefeitura. Eles
atendimentos, caso o número de ins- de trabalho e renda.
tornaram-se fregueses e passaram a fazer propaganda. São
nossos clientes cativos até hoje.” Com essas vendas iniciais, critos ultrapasse a capacidade de aten-
As Meninas do Quilombo conseguiram economizar dinhei- dimento imediato da IPEPS. Os prin-
ro para comprar o ponto onde montaram seu próprio negó- cipais critérios para seleção são: ter um
cio. Valdete expressa seu contentamento: “Para mim, é um
empreendimento ou projeto com ativi-
sonho. Sempre trabalhei para os outros e, ainda hoje, paro e
não consigo acreditar que esse empreendimento é nosso”. dade econômica definida e estar dispos-
to a trabalhar conforme os princípios da
economia popular e solidária.
A forma de atendimento dos selecio-
nados varia conforme o grau de estrutu-
ração e formalização de seu empreendi- 14. A página de acesso é www.osasco.eopen.com.br,
mento, mas de modo geral procura-se acesso em 5 de abril de 2010.
considerações Apoio a empreendimentos solidários, logias que levam em conta também as 55
uma prática em construção orientações dos atores que, por vezes,

finais
As experiências apresentadas neste Ca- não estão pré-definidas ou sistematiza-

considerações finais
derno são bastante heterogêneas entre das, mas se organizam a partir das pro-
si. Mesmo entre as incubadoras uni- postas realizadas pelas incubadoras.
versitárias, há diversidade em relação No caso das incubadoras em políti-
aos arranjos institucionais que a sus- cas públicas, muitos já haviam sido os
tentam, em relação ao perfil da equipe, arranjos experimentados: parceria com
mesmo multidisciplinar, conforme os incubadoras universitárias, parceria
cursos existentes em cada um dos cam- com um conjunto de instituições fo-
pi, em relação às necessidades do local mentadoras, criando um intenso pro-
onde estão inseridas. Tal diversidade é cesso de trocas e reflexões ou mesmo a
bastante bem-vinda, pois é revelado- contratação de uma entidade, que ficava
ra do compromisso das universidades responsável pelo desenvolvimento da
públicas com o local, além de ampliar incubação de forma articulada a outras
o campo de possibilidades ao explici- estratégias desenvolvidas pelo poder
tar a possibilidade de diferentes arran- público. Uma das principais novidades
jos de atores e de diferentes processos da experiência de Osasco sem dúvida
pedagógicos. Além disso, sendo espa- está em sua decisão em constituir uma
ços de ensino e pesquisa, parece bastan- incubadora pública, inclusive com ser-
te adequado que haja espaço para expe- vidores públicos municipais, e pensá-
rimentações inclusive de novas formas la como parte da institucionalização da
sociais, que levem em conta dimensões política pública de economia solidária
que, usualmente, são deixadas de lado no município. Fora da universidade, su-
pelo conhecimento científico estabele- jeita a outras lógicas, cobranças e tem-
cido. Isso acontece porque, a despeito poralidades, um de seus principais de-
de toda a recente explosão de pesquisas safios têm sido garantir espaço a essa
sobre capital humano e social ou redes instituição nascente para que consolide
sociais, importam pesquisas e metodo- práticas e aprendizagens, atendendo ao
mesmo tempo a empreendimentos cuja cisam ser trocadas em espaços coletivos
urgência em gerar trabalho e renda mui- ao invés de registradas sob a forma de
tas vezes também provoca pressões, de- cases. Talvez a novidade que tais expe-
safios e sentimento de intensa respon- riências trazem deva implicar em novas
sabilidade na equipe de técnicos. formas de produzir e organizar conhe-
Mas todas as experiências apresen- cimentos. Mas esse já é um assunto para
tadas, acreditamos, demonstram a vita- outro Caderno.
lidade da economia solidária no país, e
sua fundamental importância para con-
ferir visibilidade a práticas sociais e eco-
nômicas que sempre foram deixadas de
lado, em modelos de desenvolvimen-
to que a entendiam como “resquícios”
de “atrasos”. Assim, abre-se espaço pa-
56 ra uma modernização do país orienta-
da pelos valores de integração social,
econômica e cultural, superando a fal-
instituto de tecnologia social

sa dicotomia que tanto tempo orientou


ações e políticas de desenvolvimento,
entre atrasado e moderno, informal e
formal, altamente produtivo e de baixa
produtividade: a modernidade, assim,
está na promoção de desenvolvimento
humano e social e na garantia de digni-
dade a todos os cidadãos, independente
de seus contratos de trabalho, setor eco-
nômico de origem ou dos equipamen-
tos tecnológicos que utilizam no desen-
volvimento de seu trabalho.
Um desafio persistente deve ser no-
tado, no entanto: a necessidade de pro-
dução de conhecimentos adequados a
essa pluralidade de experiências e con-
cepções, concebidos menos em termos
de “receitas” ou “modelos” e mais sob a
forma de tecnologias sociais - conheci-
mentos e experiências partilhados, ca-
pazes de orientar a ação e a decisão dos
atores. A dificuldade na constituição de
tais conhecimentos, mesmo após qua-
se trinta anos de experiências, talvez se
deva às próprias características destas:
vivas e abertas às transformações, pre-
referências
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Projeto de Comunicação do Instituto de Tecnologia Social apoiado pelo Ministério da Ciência
e Tecnologia (MCT) – Secretaria da Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social (SECIS)

Ministério da Ciência e Tecnologia


Ministro da Ciência e Tecnologia Dr. Sérgio Machado Rezende
Secretaria da Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social
Secretário da Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social Roosevelt Tomé Silva Filho

Instituto de Tecnologia Social


Conselho Deliberativo
Presidente Marisa Gazoti Cavalcante de Lima
Vice-presidente Roberto Dolci
Membros Pascoalina J. Sinhoretto e Maria Lúcia Barros Arruda
Conselho Fiscal Alfredo de Souza e Hamilton da Silva Magalhães
Gerente Executiva Irma R. Passoni

Equipe de Projetos
Coordenador de projetos Jesus Carlos Delgado Garcia
Equipe Adriana Vieira Zangrande, Edilene Luciana Oliveira, Edison Luís dos Santos, Flávia Torregrosa Hong,
Gerson José da Silva Guimarães, Luiz Otávio de Alencar Miranda, Marcelo Elias de Oliveira, Maria Aparecida de Souza,
Suely Ferreira, Thaís Stella Teixeira Araújo, Yara Naí Herrero de Freitas e William Henrique Ferreira Dias

Conhecimento e Cidadania 7
Incubação de cooperativas populares e de empreendimentos econômicos solidários
ISSN 2179-2356
Autores Irma R. Passoni e Jesus Carlos Delgado Garcia (coordenação geral), Maurício Ayer (coordenação edito-
rial), Fabiana Jardim (revisão técnica, introdução e versão final de textos), Brunna Rosa e Marcos Palhares (tex-
tos), Edison Luís dos Santos (apresentação e revisão final) e Gerson José da Silva Guimarães
Projeto gráfico Lia Assumpção
Diagramação Marina Pappa
Impressão Printcrom

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