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TRABALHO
Categoria do Trabalho: Acadêmico / Artigo Completo
Eixo Temático: Educação Ambiental
Forma de Apresentação: Oral
Forma de Publicação: Eletrônica em CD-Rom
PERIÓDICO DO ELETRÔNICO
Nome: Fórum Ambiental da Alta Paulista
ISSN: 1980-0827
Páginas: Será fornecida no CD-Rom
Volume: IV
Ano: 2008
RESUMO: O presente artigo busca contribuir para o debate sobre a reciclagem de lixo na escola a partir da
experiência do autor enquanto educador ambiental e professor da rede pública municipal de Ribeirão Preto.
Assim sendo, procura-se, de início, expor um panorama sobre o gerenciamento de lixo com suas características
peculiares. Seguidamente, discute-se como implementar um projeto de reciclagem na escola. Entende-se por
reciclagem de lixo os procedimentos utilizados para se reintroduzir na cadeia produtiva dos determinados
materiais que serão transformados em matérias-primas para confecção de novos produtos. Apesar de que a
reciclagem, simplesmente, não questiona ao atual padrão de produção capitalista ela pode ser motivadora de
uma ampla discussão sobre esse assunto. Dessa forma, a escola surge como lugar ideal para, a partir deste
projeto, debater-se a questão maior sobre a responsabilidade social e ambiental de cada agente na geração de
lixo.
1
Graduado em Geografia pela Universidade de São Paulo, mestre e doutorando pelo Programa de Pós-
Graduação em Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Universidade Estadual
Paulista (UNESP) - campus Rio Claro. lcsantosbr@yahoo.com.br.
Palavras-chave: Lixo. Reciclagem. Resíduos sólidos.
1 INTRODUÇÃO
Observa-se nesta tabela que existe uma relação direta entre concentração de renda
e produção de lixo. Quanto maior o poder aquisitivo de uma população maior será a
produção diária de lixo, reflexo direto do elevado poder de compra dessa população e de
seus hábitos de consumo, ou consumismo, cuja característica maior é o uso de uma
quantidade de bens e serviços bem superior ao necessitado.
Também se observa que nos países onde a população apresenta um elevado poder
aquisitivo o percentual da parte inorgânica do lixo é bastante elevado; explicável por causa
das embalagens dos inúmeros produtos industrializados aos quais essa população tem
facilidade de acesso. Essas embalagens, contudo, acabam por gerar um enorme volume de
lixo, porém, são passíveis de reciclagem.
Por outro lado, nos países de menor renda per capita, predominam os resíduos com
alto teor de matéria orgânica (restos de alimentos). Fator diretamente relacionado a exclusão
socioeconômica de diversas camadas da população, pois boa parte dessa população não
tem acesso, ou tem acesso restrito, aos produtos industrializados que, como exposto
anteriormente, são os maiores geradores de materiais recicláveis (embalagens).
A Organização das Nações Unidas, por meio da Agenda 21, aponta o elevado
padrão de consumo como as principais causas do agravamento da degradação ambiental do
mundo: “são os padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente dos países
industrializados (...) tais padrões de consumo e produção provocam o agravamento da
pobreza e dos desequilíbrios” (SÃO PAULO, 2002).
Sobre a relação entre concentração de renda, hábitos de consumo e produção de
lixo, Carlos (2001) afirma que os Estados Unidos consomem, sozinhos, 40% dos recursos do
mundo, sendo que cada cidadão norte-americano gasta em energia, anualmente, 9,73
Toneladas Equivalentes de Petróleo (TEP), enquanto os 48 países mais pobres ficam com
apenas com 0,38 TEP.
Helene e Helene (1997, p. 105) também comentam, sobre o elevado consumo norte-
americano destacando que: “um jovem que tenha nascido naquele país em 1973, estará
destinado a descartar durante toda a sua vida (a expectativa de vida nos Estados Unidos é
de 76 anos): 126 toneladas de lixo”. Segundo os autores, esse indivíduo irá gerar essa
enorme montanha de lixo consumindo, dentre outras coisas, 98 milhões de litros de água; 52
mil quilos de ferro e aço; 6 mil quilos de papel e 50 mil quilos de alimentos.
3 A RECICLAGEM DE LIXO
• Papel
Recicláveis - papel de escritório (impressora, carta, blocos de anotações, copiadora); papel ondulado
(papelão); cartões e cartolinas; papéis de embalagens; jornais e revistas; aparas (termo usado para
designar todo tipo de papel coletado para reciclagem).
Não-recicláveis - papel vegetal; papel-carbono; papel sanitário usado; papéis revestidos com parafina
e silicone; papel impregnado com substâncias impermeáveis à umidade; papéis contaminados com
produtos químicos nocivos à saúde.
• Vidro
Recicláveis - embalagens para garrafas de bebidas alcoólicas, refrigerantes, águas, sucos; potes
para armazenamento de produtos alimentícios; cacos de vidro.
Não-recicláveis - espelhos; vidros planos; vidros automotivos; lâmpadas, tubos de televisão e
válvulas; ampolas de medicamentos; vidros temperados (uso doméstico).
• Metal
Recicláveis - ferrosos - ferro e aço; não-ferrosos - alumínio, cobre, chumbo, níquel e zinco. A sucata
metálica pode ser reciclada mesmo quando enferrujada. A desvantagem é que alguns metais de
revestimento precisam ser removidos ou diluídos antes do reprocessamento.
Uma atenção especial deve ser dada ao plástico por causa da grande dependência
que o atual modo de vida (de consumo) tem para com essa resina de petróleo (polímero).
Para Calderoni (2003, p. 226) as características responsáveis pelo crescimento do plástico
no mercado são: “impermeabilidade, maior resistência a perfuração e transparência (em
oposição ao papel e papelão); inquebrabilidade e baixo peso (em contraposição ao vidro);
baixo preço e transparência (em relação ao alumínio); indeformabilidade e leveza (em
relação a folha de flandres). Destoante de sua utilidade, o plástico torna-se um grande vilão
para o meio ambiente principalmente por causa de suas qualidades - durabilidade e leveza.
Sobre a sua durabilidade, conta-se em dezenas, e até mesmo centenas, de anos o tempo de
decomposição de alguns tipos de plásticos. A sua leveza, faz com que ele represente apenas
de 4% a 7% da massa total de lixo, embora o seu volume corresponda a cerca de 15% a
20% desse lixo. Isso gera problemas na hora da compactação do lixo no aterro sanitário
porque cria camadas impermeáveis que dificultam a circulação dos gases e líquidos
originados da decomposição da matéria orgânica.
A queima do plástico também é prejudicial a saúde humana e ao meio ambiente
porque, alguns plásticos, durante a sua combustão, podem liberar gases tóxicos. É o caso do
PVC (Policloreto de vinila) que, durante a sua queima, libera cloro resultando na formação do
ácido clorídrico (Canto 1995, D’Almeida e Vilhena, 2000).
A coleta seletiva, além dos catadores, é realizada pelo poder público ou pela
iniciativa privada e, segundo o caráter logístico e operacional, se divide em duas
modalidades: a coleta seletiva domiciliar (porta a porta), onde os veículos circulam
recolhendo o lixo das residências como na coleta convencional, e a entrega voluntária onde
as pessoas, espontaneamente, se dirigem a um determinado local para entregar o seu lixo
reciclável. Estes locais de entrega voluntária são denominados Postos de Entrega Voluntária
(PEVs).
Os PEVs, geralmente, são confeccionados na forma de caçambas, contêineres,
tambores, cestos, entre outros formatos, em diversos tamanhos, capacidade volumétrica e
de materiais (metal, plástico, fibra de vidro, lona etc.), sendo devidamente identificados, por
nomes ou cores para receber os diferentes tipos de lixo previamente selecionados pela
população. Geralmente os PEVs são instalados em áreas comerciais, praças, clubes,
supermercados, escolas, dentre outros, porque são locais públicos e com grande afluxo de
pessoas.
Quanto às cores dos PEVs aqui no Brasil elas foram regulamentadas pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA),
por meio da Resolução 275 de 25 de abril de 2001 (Brasil 2003) da seguinte forma: azul -
papel/papelão; vermelho - plástico; verde - vidro; amarelo - metal; preto - madeira; laranja -
resíduos perigosos; branco – resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde; roxo - resíduos
radioativos; marrom – resíduos orgânicos; cinza - resíduo geral não reciclável ou misturado,
ou contaminado não passível de separação.
b) recipientes para armazenar o lixo reciclável - geralmente são utilizados quatro recipientes
para se guardar o lixo reciclável, um para cada tipo diferente de material - papel, vidro, metal
e plástico, no entanto, a medida em que o projeto for colocado em prática uma readequação
poderá ser feita quanto a excluir ou aumentar o numero de recipientes de um ou outro
material (isto ocorre muito com o plástico devido a grande quantidade de embalagens). Cada
material tem sua particularidade, o papel/papelão, por exemplo, se ficar exposto a chuva irá
se deteriorar; o vidro deverá ser armazenado com segurança para que não ocorram
acidentes com as crianças. Quanto as latinhas de alumínio, devido ao seu alto valor de
revenda, forçosamente será necessário que se providencie um lugar a parte,
preferencialmente fechado a chave, para que as mesmas não comecem a “desaparecer”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reciclagem de lixo na escola deve ser encarada como uma boa oportunidade para
que o professor possa discutir com os alunos noções e conceitos sobre a responsabilidade
social e ambiental que cabe a cada um na produção e na destinação final do lixo. É um
debate importante porque, muitas vezes, a “culpa” pela baixa eficácia de um programa de
coleta seletiva recai sobre a população, acusada de não colaborar com campanhas e
atividades voltadas à minimização do lixo. No entanto, lembremos que a reciclagem é
apenas uma maneira de tratar frações do lixo; daquilo que foi produzido na forma de
mercadoria (e embalagem) pelo setor produtivo (industrial/comercial). Portanto, é no setor
produtivo que a redução no olume de lixo deve começar.
A reutilização das embalagens, junto com a redução e a reciclagem, compõe a
trilogia proposta pela Agenda 21 para tratar o lixo visando a redução de seu volume. A
reutilização, ou reuso, implica em se aproveitar a embalagem de um determinado produto
para uma outra função com pouca, ou nenhuma, mudança em sua estrutura original.
Contudo, na atualidade, devido à grande especificidade dos produtos, o setor
produtivo, criador e dono das embalagens, pouca reutilização tem dado às mesmas. Então, o
reuso das embalagens recai sobre o cidadão comum que, por meio de campanhas
promovidas pela mídia televisiva, matérias de jornais e revistas e outros meios de
comunicação, é instigado a reaproveitar todo tipo de embalagens que existe no interior de
sua residência. É freqüente, nessas campanhas de incentivo, aulas e dicas sobre como o
cidadão pode confeccionar artigos de decoração, brinquedos e utilidades domésticas a partir
de, por exemplo, garrafas PET. Mas, a capacidade de absorção e utilização desses novos
artigos é bem inferior aos índices de produção das garrafas PET que, em 2005, aqui no
Brasil consumiu 374 mil toneladas de resina PET contra 174 mil toneladas que foram
recicladas. A reciclagem atingiu algo em torno de 47% do total de garrafas PET produzidas
no país. Se comparado com os índices dos Estados Unidos da América, que no mesmo
período apresentou um índice de reciclagem de 22%, o Brasil até que apresenta números
satisfatórios para a reciclagem da PET, mas, não podemos esquecer que, consoante com a
reciclagem de alumínio, estes elevados índices são conseguidos devido a conjuntura social e
econômica do país que força milhares de pessoas a recolherem esses materiais pelas ruas
(catadores) como forma de sobrevivência.
Outro ponto importante de discussão que a reciclagem de lixo na escola pode
propiciar é sobre a questão do atual padrão de consumo da sociedade e sua relação com a
imensa geração de lixo. Diferenciar os bens de consumo necessários dos bens de consumo
supérfluos faz-se imperioso para que possamos formar cidadãos conscientes e quem sabe,
até possamos pensar em consumo sustentável.
REFERÊNCIAS
D’ALMEIDA, Maria Luiza Otero; VILHENA, André (Coord.). Lixo municipal: Manual
de gerenciamento integrado. 2ª ed. - São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000.
SANTOS, Luiz Cláudio dos. A questão dos resíduos sólidos urbanos: uma
abordagem socioambiental com ênfase no município de Ribeirão Preto (SP).
Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2004. 120 f.
WORLD BANK. Data & Statistics - Quick Reference Tables. GNI per capita 2002,
Atlas method and PPP. Data & Statistics - Quick Reference Tables. Population 2002.
<http://www.worldbank.org/data/quickreference/quickref.html>. Acesso em: 21
setetembro 2003.