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A Modinha
Esse relato nos mostra uma elite baiana impaciente com as regras da
elegância européia e que, basta ficar um pouco embriagada para “cair na folia”
negra. Negra mas já miscigenada, pois era comum a fusão coreográfica entre as
danças africanas e ibéricas, o que torna vã qualquer tentativa nos dias de hoje
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local desses encontros era a tipografia do poeta Francisco de Paula Brito (1809-
1861), onde se reuniam amigos que formavam a chamada “Sociedade Petalógica”
(que vem de peta = mentira). Na Sociedade, reunia-se toda sorte de gente: artistas,
políticos, funcionários públicos, gente do povo, eruditos, professores, sendo,
inclusive um deles o escritor Machado de Assis (1839-1908).
Dessa geração de novos compositores de modinhas, surge Laurindo Rabelo
(1826-1864), Alexandre Trovador (?-1886) além do próprio Paula Brito.
A modinha assim renovada ganha fôlego até o início do século XX nas
composições de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), quando cede espaço para
um gênero que igualmente surgiu das classes mais populares, e tornou-se a música
representante da cultura nacional: o samba, que foi relegando a modinha aos
sertões brasileiros onde sobreviveu na forma da canção sertaneja, cuja trajetória
segue até os dias de hoje, dividindo-se em inúmeros gêneros.
O Lundu
Os viajantes europeus foram a principal fonte de informações sobre o lundu
(londu, landu, lundum, etc.), descendente direto do batuque africano, primitivamente
uma válvula de escape para os escravos.
Seus relatos descrevem-no como dança à qual a umbigada (movimento em
que os pares fazem bater um no outro a região do umbigo) conferiria um caráter
lascivo. No século XVII o lundu teria perdido seu caráter coreográfico,
transformando-se em música para ser cantada, que declarava, agora
expressamente, seu caráter brasileiro.
A umbigada transforma-se então em reverência, e o lundu volta a ser
dançado, desta feita nos salões da sociedade. Da mesma forma que a modinha,
nascida na corte e criada em berço abastado, integrou-se com o correr do tempo de
forma definitiva à musicalidade popular, falando então diretamente às classes menos
favorecidas, o lundu abandonou aos poucos, pelo seu intenso convívio com as
modinhas, o caráter intrinsecamente popular e passou a fazer parte da realidade
cotidiana das sociedades cultas.
A modinha mistura-se aos poucos ao lundu, emprestando-lhe às vezes o
lirismo árcade lusitano e tomando para si o ritmo sincopado afro-brasileiro. Mesmo
sendo capaz de distinguirmos as várias etapas de transformações da modinho e do
lundu, ainda sim, fica difícil a princípio, discernir com clareza a modinha popular da
mais culta, o lundu africano do lundu-canção, o lírico do satírico.
BIBLIOGRAFIA:
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4.ª ed. 4.ª reimp. São Paulo: Edusp, 2008.
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