Qualquer legislação serve (desde que tenha os decretos 6514/08, que é a
regulação da lei de crimes ambientais, e o 6527/08, que trata da regulamentação do Fundo Amazônia), mas a professora recomenda a da RT. Além do <www.planalto.gov.br>, temos o <www.soleis.adv.br>, que possui um leque maior de legislação. A respeito de bibliografia, em princípio qualquer livro serve. Paulo Lemi Machado é um excelente livro, mas é muito grande. Paulo de Bessa (sem ser o manual) e Marcelo Abelha são outra opções. O primeiro é o mais didático e o segundo apenas tem a parte geral. Outra boa opção é o de Terence Trennepohl. A prova é dividida em duas partes: múltipla escolha sem consulta e discursiva com consulta apenas a legislação (mesclando questões práticas – retiradas, em partes, dos casos trabalhados em sala de aula – e conceituais). Há, ainda, um trabalho facultativo valendo 0,5.
História do Direito Ambiental
A necessidade do Direito Ambiental surge com a constatação da
degradação do meio ambiente. O dano ao meio ambiente surge contemporaneamente ao estabelecimento do homem em sociedade, pois é sempre necessário que se retire da natureza recursos naturais para sua sobrevivência. A diferença entre as civilizações antigas e o paradigma atual é a extensão do dano, que é muito maior hoje. A escassez de recursos naturais e as catástrofes ambientais de difícil recuperação somente ganharam dimensões preocupantes na atualidade, daí a razão de precisarmos de uma regulação acerca do tema ambiental para tentar coibir práticas que colaborem para este quadro e fomentar aquelas que apresentam uma maior sustentabilidade.
19/02
◆ Artigo 225, CFBR/88- remissão ao artigo 81, parágrafo único, inciso I do
CDC. O artigo inaugura o tratamento constitucional é do capitulo VI, no seu artigo 225. O artigo denota a conotação difusa do direito ambiental. O direito ambiental é difuso por excelência.
◆ Conceito Legal de MA = Artigo 3, I e Lei 6938/81
Ate 81 havia a visão patrimonialista do direito ambiental. Em 81 tivemos a
lei mais importante da nossa temática, que é da "política nacional do meio ambiente". Essa legislação é anterior a constituição de 88. A lei 6938 deu um tratamento autônomo ao direito ambiental. O Brasil foi signatário da primeira convenção mais importante do direito ambiental que foi a convenção da ONU de Estocolmo de 72. Ao lado da legislação que rege a política do meio ambiente, temos o conceito de meio ambiente. Com o advento da constituição da republica, temos o rompimento com o ordenamento jurídico anterior. Essa lei, é considerada constitucional porque se coaduna com a concepção de tutela e proteção previstas com a constituição de 88. Constituição da republica está no topo (pirâmide de Kelsen), a legislação infraconstitucional ou se coaduna com o que está em cima, ou é revogado pela teoria da não recepção.
Artigo 3, inciso I - conceito de meio ambiente infraconstitucional. Ele é
acrescentado por considerações doutrinárias por não ser só aspecto de proteção dos elementos da natureza de forma isolada, mas sim, uma forma de abranger também as relações humanas. É a integração e inclusão do homem com a sociedade e natureza. É a noção de meio ambiente cultural.
◆ Os direitos difusos = Posição do STF
No conceito legal de direitos difusos, que será aplicado na noção de direito ambiental (direito ambiental é difuso por excelência). O direito difuso é indeterminado, por ser de interesse de toda a humanidade. Não há como se identificar o direito publico subjetivo de determinada sociedade ou grupo social. Noção de direitos difusos tanto na legislação do CDC que ressalta o caráter de indeterminação do sujeito.
◆ Conceitos doutrinários de Meio Ambiente.
Segundo Carlos Alberto Bittar, "o conceito de direitos difusos está bem delimitado na legislação (artigo 81, parágrafo único, inciso I do CDC) e refletem aquilo que transcende ao indivíduo, podendo ser exercitado em conjunto em razão de elementos comuns (circunstâncias de fato). As pessoas aqui são indeterminadas" (quantidade indeterminada de pessoas que não podem ser precisamente delimitadas). Ex: direito ao meio ambiente equilibrado. O caráter difuso é pulverizado ao direito. Todo mundo precisa de um ambiente ecologicamente equilibrado. Portanto, essa noção pertence a todos, uma vez que todos precisam de um meio ambiente equilibrado. ✍ O direito ambiental é classificado como macrobem (exemplo: fauna, flora), porque ele é visto de forma centralizadora e abrangente de todos os microbens que gozam da nossa proteção Meio ambiente = macrobem numa consideração incorpórea e imaterial. Reparação de danos morais na tutela ambiental Meio ambiente: Natural, Artificial ,Cultural e do Trabalho.
05/03
Seria o direito ambiental um ramo autônomo ou seria um ramo
pertencente ao direito administrativo e constitucional? Conceitos doutrinários de direito ambiental: Édis Milaré: complexo de princípios e normas reguladoras das atividades humanas que direta ou indiretamente possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando a sua sustentabilidade. Princípio da equidade intergeracional: art. 225, caput, in fine, da CF. Toshio Mukai: conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do Direito, reunidos por sua função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao meio-ambiente. Paulo de Bessa Antunes: um Direito que se desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio-ambiente, direito sobre o meio-ambiente, e direito do ambiente. É um direito humano fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais. Meio ambiente -> natural; -> artificial; -> cultural; -> do trabalho. Meio ambiente natural é aquele composto pela fauna, flora, recursos hídricos, minerais, etc., envolvendo em tal classificação o elemento mais comum de identificação com a natureza. Meio ambiente artificial diz respeito à noção de cidades sustentáveis e está relacionado com os objetivos da política urbana nos termos dos artigos 182 e 183 da Constituição, bem como da lei 10.257/01 (Estatuto da cidade). Meio ambiente cultural -> Arts. 215, 216 e 218 da CF -> promoção das mais variadas formas de promoção cultural
12/03
“O meio ambiente cultural corresponde à proteção do patrimônio cultural,
uma vez que não apenas a natureza stricto sensu está protegida pela legislação. Seus elementos referem-se à formação dos grupos nacionais de expressão, criações artísticas, tecnológicas, paisagísticas, ecológicas, científicas, dentre outras, nos moldes dos arts. 215, 216 e 218 da Constituição Federal.” “O meio ambiente do trabalho diz respeito à proteção da pessoa humana em seu ambiente de trabalho nos termos dos arts. 7º, XXII, e 200, VII e VIII, da CRFB.” Atualmente o Ministério Público do RJ enfrenta o caso de fazendas nos Campos dos Goytacazes que colocam seus trabalhadores em situação análoga a de escravidão, que seria um caso em que se aplicaria a noção de meio ambiente do trabalho. “O patrimônio genético deve ser entendido como o conjunto de seres vivos todos, incluindo os homens, animais, vegetais e microorganismos que constituem a biodiversidade do planeta.” (Luiz Paulo C.) Aqui entra a questão dos organismos geneticamente modificados e a necessidade de sua regulação da aplicação de manipulação genética em qualquer ser vivo, para que resultados danosos não acabem o ocorrendo devido a falta de cautela e normas de segurança. A regulação legal está na Lei 11105/05 e no art. 225, §1º, II, IV e V, da Constituição. Um exemplo do dano que pode advir destes organismos ocorreu em São Paulo, onde uma plantação de eucaliptos geneticamente modificados do Grupo Votarantim consumia tanta água que passou a faltar para a população local.
Princípios de Direito Ambiental
O primeiro é o princípio democrático, ou do acesso democrático, que
determina que a elaboração das políticas públicas ambientais deve ser realizada garantindo a participação do cidadão de forma efetiva nesta, seja através de entidades da sociedade civil ou até mesmo de particulares. A audiência pública é um dos principais instrumentos para garantir esta participação. “Com o princípio democrático é assegurada a participação do cidadão na proteção do meio ambiente, bem como o exercício de uma postura ativa na elaboração das políticas públicas na forma do artigo 225, §1º, VI, da Constituição da República.” O estudo de impacto ambiental (EIA) é uma das formas de se valer este princípio, já que este será necessariamente publicizados, para que todos possam saber quais as consequências de determinada empreitada possivelmente danosa ao meio ambiente. “O princípio da equidade intergeracional constitui o legado que as gerações atuais devem deixar para as gerações futuras, na forma do caput do art. 225 in fine da Constituição da República.” O princípio da prevenção e o princípio da precaução estão intimamente ligados. O primeiro diz respeito a impactos ambientais já conhecidos, ou seja, já se sabe que determinada atividade possui potencial para a produção de determinados danos. Há previsibilidade. “Na análise do princípio da prevenção deve ser empreendida uma tutela preventiva acerca dos impactos ambientais já conhecidos. Diversamente, o princípio da precaução possui interação com a incerteza científica, isto é, a incerteza acerca das consequências de determinadas atividades relacionadas ao meio ambiente não devem servir como fundamento para que medidas protetivas deixem de ser adotadas (princípio 15 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO 92).” Outro princípio é o “princípio da avaliação prévia dos impactos ambientais, que nada mais é que uma forma qualificada do princípio democrático, nos termos do art. 9º, III e IV, da PMNA (Lei 6938/81)”, que tratam explicitamente do licenciamento e fiscalização de empreendimentos de possíveis impactos ambientais como instrumento da política ambiental nacional. “O princípio da responsabilidade (ou da tutela integral)acarreta consequências ao poluidor, seja pessoa natural ou jurídica, que responderá pelos danos ambientais nas tríplices e independente esfera (sic) civil, penal e administrativa.” A responsabilidade em matéria ambiental, então, se divide em administrativa (poder de polícia – art. 78 do Código Tributário Nacional – “a responsabilidade adminstrativa em matéria ambiental guarda íntima relação com o poder de polícia, na medida em que constitui restrição ao exercício de direitos individuais em prol do meio ambiente com base no princípio da supremacia do interesse público sobre o particular”), civil (danos materiais, que incluem os danos emergentes e os lucros cessantes, e danos morais ambientais, a respeito dos quais há controvérsia doutrinária) e penal (que se estende à pessoa natural e à pessoa jurídica praticando crime ambiental).
19/03
Sempre fundados numa noção de tutela integral, temos a idéia de
reparação integral como ponto de partida do princípio da responsabilidade. Assim, deve-se buscar o retorno o tanto quanto possível ao status quo ante, a configuração inicial anterior à lesão. Logo, analisamos a responsabilidade ambiental sob um tríplice aliança: administrativa, civil e penal. O fundamento legal para esta responsabilização integral esta no art. 225, §3º, da Constituição, que fala expressamente destas três formas de proteção, sempre se pautando pelos princípios particulares de cada um destes ramos do Direito. Por exemplo, apenas os ilícitos ambientais mais graves é que serão vistos como crime, devido ao princípio da ultima ratio do Direito Penal. Uma mesma conduta pode violar uma ou mais destas esferas, uma não condiciona a outra. São interdependentes. “O art. 225, §3º, consagra o princípio da responsabilidade, também nominado por alguns como princípio da reparação integral. Neste prisma, com fundamento na tutela e preservação máxima do meio ambiente a proteção pode se dar nas três esferas (penal, administrativa e civil), que são interdependentes, considerando que uma mesma sanção pode violar uma ou mesmo todas as categorias.” “Tem-se a aplicação dos três atributos do poder de polícia (discricionaridade, autoexecutoriedade e coercibilidade) também em sede ambiental, razão pela qual a doutrina costuma denominar de poder de polícia ambiental” Aqui não temos a visão de causador do dano e vítima individual, como na responsabilidade civil tradicional, mas sim causador do dano e sociedade como um todo, pois o direito ambiental propicia uma tutela difusa. Uma das forma de se tentar fazer valer esta proteção é através da utilização das astreintes, impondo multas diárias altíssimas para coibir aquele determinado dano ambiental. Outra é através de políticas de compensação ambiental, por exemplo determinando o replantio de enormes áreas. Uma outra questão controversa é o dano moral ambiental, que seria uma forma de dano moral coletivo. Esta possibilidade estaria prevista pelo art. 13 da Lei 7347/85, que trata da Ação Civil Pública, e de seu preâmbulo. A responsabilide penal em matéria ambiental é pautada pela resposabilidade penal de pessoa jurídica. Para contornar o problema colocado pelo fato das pessoas jurídicas não poderem agir com culpabilidade, o que faz com que elas não possam cometer crimes, já que a culpabilidade é elemento essencial do crime, utilizamos a teoria da dupla imputação, que nos traz a necessidade de que a denúncia traga a expressa a conduta praticada pela pessoa física que fomentou aquela ação em nome da pessoa jurídica. Vide HC 93.867. A teoria da desconsideração da pessoa jurídica possui como base legal o art. 50 do CC, art. 28 do CDC e art. 4º da Lei de Crimes Ambientais.
26/03
O princípio do poluidor e usuário pagador (princípio 16 da ECO-92 e art.
225 c/c 170 da Constituição) nos traz duas dimensões da proteção ambiental. No caso do poluidor, temos que as externalidades negativas devem ser ressarcidas ou reparadas por este, por exemplo promovendo programas de educação ambiental, de plantio de árvores ou de instalação de filtros poluidores. O pagador também deve pagar em alguns casos, principalmente numa sociedade como a nossa, de consumo em massa. Não é que se possa poluir, mas há uma necessidade de produção de certos danos para a manutenção desta sociedade. “O princípio do poluidor pagador reflete a análise das regras econômicas de mercado, produção e consumo, manifestando a necessidade em exigir que o poluidor arque com os custos das medidas de prevenção e controle da poluição. Tais medidas de controle e o uso racional dos recursos escassos demanda um custo que se reflete no preço dos bens e serviços. A finalidade é justamente internalizar no preço dos produtos todos os custos sociais (externalidades negativas, que podem ser entendidas como a combinação entre privatização dos lucros e socialização das perdas) causados pela produção desse mesmo bem.” O princípio do desenvolvimento sustentável “reflete a compatibilização do progresso econômico, científico e tecnológico com a máxima proteção ao meio ambiente segundo a perspectiva que se trata de um direito humano fundamental”. Alguns autores criticam esta expressão, pois se trataria de uma visão muito capitalista da relação do homem com o meio ambiente, perdendo de vista que o direito ao meio ambiente saudável é sobretudo um direito fundamental do homem, e nunca algo subsidiário em relação à Economia.
Competências Ambientais
A competência ambiental se divide em três aspectos: jurisdicional,
legislativa (competência concorrente – art. 24, VI, da Constituição Federal) e material (ou implementadora, que se refere ao poder de polícia e atuação administrativa). Quanto à competência jurisdicional, vide art. 109, IV, da Constituição. Em matéria ambiental, a competência dependerá de se a violação for em relação a bens ou interesses da União. Nestes casos, o processo deverá tramitar na Justiça Federal, por exemplo no caso de empreendimento que viola normativa do IBAMA. O conflito negativo de competências em temática ambiental é comum entre Justiça Federal e Justiça Estadual, sendo a resolução dada pelo STJ (art. 105, I, 'd'). Vide agravo regimental no conflito de competência nº 93083/PE; conflito de competência nº 55704/SP; e conflito de competência nº 92327/SP. A competência para legislar em relação ao meio ambiente, o art. 24, VI, da CFRB, estabelece a competência concorrente entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Na verdade, este dispositivo não traz a competência municipal, para tal conclusão precisamos combiná-lo com o art. 30, I e II, que determinam a suplementação da legislação estadual e federal pelo Município no que couber e o poder de legislar sobre interesse local. A União deve editar normas gerais e os demais entes federativos sobre os interesses mais próximos de si. Por último, temos a competência ambiental implementadora, que trata da fiscalização e proteção concreta. Isto nada mais é que a manifestação do poder de polícia, a atuação administrativa de um órgão de execução, respeitando e fazendo valer o princípio da legalidade. A regra é a competência comum ou concorrente (solidariedade, ampliação da proteção ambiental ou horizontalidade da proteção ao meio ambiente). O problema surge nas possibilidades de bis in idem, nas quais se discute se mais de um ente federativo poderia impor penalidades e sanções aos violadores de normas em defesa do meio ambiente. Em princípio temos a noção de predominância dos interesses quanto à divisão entre os entes federativos, mas é possível que um interfira na esfera do outro, caso um deles não cumpra seu papel, graças exatamente a noção de horizontalidade da proteção ao meio ambiente.
30/04
Onus Probandi
A regra geral quanto ao ônus da provaestá no art. 333 do Código de
Processo Civil, que traz uma forma de distribuição deste chamada de teoria estática, segundo a qual aquele que alega é quem deve provar o alegado. Há alguns casos, porém, de inversão do ônus da prova. Nestes, uma das partes alega determinado fato e se toma isto como verdadeiro, cabendo a parte contrária provar que tal afirmação é falsa. Isto ocorre, por exemplo, no caso das relações de consumo, pois o Código de Defesa do Consumidor entende o consumidor como hipossuficiente e, portanto, estabelece tal inversão do ônus da prova. Evidente que esta afirmação deve ser verossímel, plausível de ocorrer, para que esta inversão de fato se verifique, pois não teremos tal solução caso a afirmação seja absurda. Tal exigência está presente no art. 6º, VIII, que diz que a afirmação deve ser verossímel ou o alegante hipossuficiente, mas a jurisprudência vê os critérios como cumulativos e não alternativos. No campo ambiental, também temos um dos pólos da relação como hipossuficiente. Por exemplo, num caso de poluição causada por determinado produto inventado por certa companhia, evidente que o Ministério Público não terá o conhecimento técnico e científico suficiente para realizar uma análise pormenorizada das consequências desta atividade. A hipossuficiência técnica ou científica é muito comum no âmbito ambiental, por isso é o próprio poluidor quem deve comprovar que seu produto, cadeia produtiva ou prática se mantém dentro dos parâmetros legais determinados. Como o ônus da prova é invertido, caso o poluidor, por exemplo, não comprove que seu produto não é poluente, a alegação do autor da ação será considerada verdadeira e, portanto, o processo será encerrado com julgamento de mérito em detrimento do pólo passivo. A doutrina sustenta a aplicação por analogia do art. 6º, VIII, do CDC às demandas ambientais tendo por base o art. 117 do mesmo diploma, que permite a aplicação de parte do CDC às demandas relativas aos direitos difusos, mas esta parte não inclui o art. 6º, que é tido como aplicável por empréstimo. Outra forma de sustentar a inversão do ônus probatório em matéria ambiental é a teoria da carga dinâmica do ônus da prova que diz que para verificar de quem é o ônus probatório não importa se quem alegou é autor ou réu, mas sim se tal pessoa é quem possui as melhores condições de comprovar tal fato. Assim, frente a toda alegação o juiz casuísticamente deverá avaliar tal alegação e a capacidade de cada uma das partes de comprovar tal alegação fazendo o ônus recair sobre aquela que estiver em melhores condições de fazê-lo. Marcelo Abelha defende a aplicação desta teoria no Direito Ambiental, pois o princípio basilar deste ramo é o da hipossuficiência científica, o que corrobora a aplicação desta tese. Outra questão é se é possível que o juiz de ofício inverta o ônus da prova, independente da parte que alegou ter pedido tal inversão. A doutrina ambientalista entende que é sim possível, pois o Direito Ambiental trata de direito humano fundamental. A tutela maximizada inclui necessariamente a adoção de mecanismo protetivos, inclusive processuais. Evidente, porém, que o juiz deverá dar conhecimento a outra parte de tal inversão, para que ela saiba que é ela quem deverá contraditar a alegação apresentada. Isso se deve ocorrer durante o despacho saneador. No caso consumerista, há controvérsia o juiz deve assim agir ou se ele pode fazer tal inversão apenas na sentença. A professora sustenta, no caso ambiental, que o juiz deverá sempre avisar durante o despacho saneador.
07/05
Conforme salientado por Fredie Didier Jr., “é possível traçar como
características da teoria dinâmica do ônus da prova: 1) o encargo não deve ser repartido prévia e abstratamente, mas sim casuísticamente; 2) sua distribuição não pode ser estática e inflexível, mas dinâmica; 3) pouco importa na sua subdivisão a posição assumida pela parte na causa (se autor ou réu); 4) não é relevante a natureza do fato probando – se constitutivo, modificativo, impeditivo ou extintivo do direito – mas quem tem mais possibilidade de prová-lo.”
Política Nacional do Meio Ambiente e o SISNAMA (Lei 6938/81)
Segundo Paulo Bessa, “Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é uma
política pública que tem por objetivo a preservação melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar ao país condições de desenvolvimento sócio-econômico, os interesses da segurança nacional e a dignidade da vida humana.” A PNMA possui uma série de objetivos (art. 4º), que se dividem em institucionais (definição de áreas prioritárias de ação governamental), ecológicos (estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais), gerenciais (difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, formando uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico) e econômicos (compatibilização do desenvolvimento econômico com a preservação e equilíbrio do meio ambiente).” Os princípios da PNMA estão presentes no art. 2º de sua lei. O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) materializa toda a estrutura institucional brasileira no que tange à qualidade ambiental, a proteção do meio ambiente, cuja definição se encontra no art. 6º da Lei 6938. O art. 9º da Lei traz um rol dos instrumentos da PNMA, que inclui, por exemplo, zoneamentos. Art. 1º, I, da Resolução 237/97 do CONAMA: A natureza jurídica do licenciamento ambiental é de procedimento administrativo. Licenciamento ambiental é diferente de licença, pois, enquanto que o primeiro é procedimento administrativo, a segunda é ato administrativo produzido pelo procedimento administrativo. Estas licenças possuem natureza especial, pois são concedidas por prazo certo e o preenchimento dos requisitos legais não implica necessariamente na expedição da mesma (a natureza de ato vinculado está mitigada), pois sempre devemos estar atentos às normas e princípios de proteção ambiental. “O licenciamento ambiental caracteriza-se como procedimento complexo com regulação básica pelo Decreto 99274 e pelas resoluções do CONAMA e pelas resoluções do CONAMA, tal como a 237/97, que contém conceitos importantes sobre este procedimento administrativo.” “A licença ambiental possui natureza especial e segundo o art. 10 da resolução 274/00 o IBAMA (autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente) exerce função de caráter supletivo na concessão da licença.” A licença pode ser de três ordens: prévia (vigora na fase de planejamento do projeto), de instalação (a ser adota no momento de implantação da atividade) ou de operação (permite o efetivo início das atividades); vide Resolução 237 do CONAMA. A avaliação dos impactos ambientais comporta uma série de resoluções que demonstram que existem diversas formas de avaliação, sendo a mais importante o estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental, vide art. 225, §1º, IV, da Constituição Federal. A Resolução 9 do CONAMA, no art. 32 da Lei 9784/99 e no art. 15 da Lei de Biossegurança (Lei 11105) trazem a possibilidade de realização de audiência pública em sede de estudo de impacto ambiental. Tal audiência pode ser convocada de ofício, por provocação do Ministério Público ou por cinquente cidadãos, sendo que ela pode ser feita em lugares distintos, visando a maior divulgação e publicidade do procedimento ambiental. 14/05
Avaliação dos Impactos Ambientais
· EIA-RIMA - §1º, IV, do art. 225 da CF.
· Audiência Pública Resolução 09 do CONAMA Lei 9.784/1999 Lei 11.105/2005 · Da função socioambiental da propriedade Arts. 5º, 182 e 184 da CF. Art. 1228, CC/2002. Disposições no Estatuto da Cidade O EIA-RIMA é o “Estudo de Impacto Ambiental - Relatório alguma coisa”. É necessário quando há atividade que interfira no meio ambiente. Na verdade, a necessidade ou não do EIA-RIMA será determinada pelo órgão ambiental atribuído para tanto no caso concreto e pela legislação emanada deste órgão. São vários os órgãos reguladores; existe um, por exemplo, para o controle marítimo, um para o controle florestal, etc. A feitura do EIA-RIMA é, segundo orientação jurisprudencial, atribuição do Poder Executivo. A instalação do EIA-RIMA seria questão discricionária do Poder Executivo, o que geraria certa proteção contra a atuação do Poder Judiciário na análise do mérito, apesar da tendência flexibilizadora do controle dos atos discricionários (o caderno de Administrativo I trata desta temática muitíssimo melhor). “Impacto ambiental é uma modificação súbita do meio ambiente, seja ela natural ou artificial. Os impactos ambientais podem ser positivos ou negativos, sendo que os impactos ambientais negativos acarretam alteração adversa do meio ambiente, denominada degradação ambiental. Exemplificativamente, a poluição é um dos maiores fatores de degradação. Do ponto de vista jurídico, a poluição juridicamente relevante é aquela que reflete o lançamento no meio ambiente de matéria, energia ou qualquer outro elemento fora dos padrões determinados pelos órgãos ambientais. Nos termos do inciso IV do §1º do art. 225 da CF, os empreendimentos de grande porte causadores de potencial ou significativo impacto ambiental devem ser submetidos a estudos prévios, cabendo ao Poder Executivo, por meio de seus órgãos de controle ambiental, decidir em quais hipóteses é cabível a realização do EIA. A atribuição é exclusiva do Executivo. (ADIN nº 1505/ES, Relator Ministro Eros Grau). No caso das atividades com instalações potencialmente poluidoras e causadoras de degradação, a licença concedida sem o prévio EIA é nula de pleno direito, cabendo ao Judiciário declarar tal nulidade. A questão do enquadramento da atividade e a necessidade de elaboração do EIA-RIMA deve ser demonstrada pelo administrador de forma fundamentada por ato administrativo próprio.” Para que o eia tenha validade, existem duas premissas orientadoras: legitimidade jurídica e legitimidade técnica, isto é, respeito à legalidade e análise técnica apurada, porém em linguagem compreensiva, para que todos tenham acesso. As audiências públicas (Art. 32 da Lei 9.784/1999) são uma das etapas de licenciamento ambiental. A audiência pública serve para democratizar a questão ambiental, atendendo ao princípio da ampla informação. Ela é meramente consultiva, pluralizando o debate na sociedade. Vide ainda o parágrafo único e caput do art. 15 da Lei 11.105/2005. A convocação das audiências públicas pode ser feita ex officio, ou a requerimento do MP ou a requerimento de 50 cidadãos.
21/05
Princípios Relativos à Função Sócioambiental da Propriedade
A necessidade de se ter em vista a função social da propriedade vem já
com a Constituição de 1988. Com esta concepção, a titularidade da propriedade somente é legítima se exercida de acordo com um conjuntos de princípios e normas que fazem parte da noção de função social, exigindo que o uso, gozo e fruição da coisa gerem frutos à sociedade. O mesmo se passa com a função ambiental da propriedade, que faz com que a propriedade deva ser utilizada visando sempre a tutela do meio ambiente. Por isso, relendo a noção de função social, falamos em função sócioambiental, pois a propriedade, para ser legítima, deve cumprir não só sua função social, mas também ambiental. Com isto, abandona-se, no Direito, a visão puramente patrimonialista e de dominação acerca da propriedade. Daí termos, por exemplo, os arts. 12 e 14 da Lei 6938, que condicionam o licenciamento ao respeito das normas ambientais e prevêem penalidades aos que desrespeitarem tais imposições, respectivamente. Temos alguns dispostivos que trazem esta noção de função sócioambiental, tais como os arts. 182, 184 e 186 da Constituição, assim como o art. 1228 (em especial seu §1º) do Código Civil e os artigos supracitados da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente. “A política traçada pelo constituinte rompeu com o paradigma clássico e patrimonialista da propriedade, outrora considerada absoluta e refletindo o poder do dominus. Neste diapasão, a estrutura do direito de propriedade da posse está inequivocamente vinculada ao cumprimento de sua função social na medida em que o exercício da propriedade deve reverter em proveito tanto do titular quanto para toda a coletividade. A função social do propriedade impõe a observância absoluta da normativa ambiental, tendo sido erigido ao patamar de direito e garantia fundamental inafastável por conta do art. 60, §4º (cláusulas pétreas). Em sequência, o art. 1228 do Código Civil, notadamente seu §1º, corrobora a disciplina constitucional que decorre de uma interpretação sistêmica dos seguinte artigos: 5º (incisos XXII e XXIII), 170 (incisos II, III e VI), 186 (incisos I e II) e 225 (caput, §1º, III e VII, e §3º).” “Segundo José Afonso da Silva, a função social da propriedade não se confunde com os sistema de limitação da propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito ao proprietário; aquela à estrutura do direito mesmo, à propriedade. Enfim, a função social se manifesta na própria configuração estrutural do direito de propriedade, pondo-se concretamente como um elemento qualificante na pré-determinação dos modos de aquisição, gozo e utilização.” O Estatuto da Cidade é outro importante diploma legal no tratamento da tutela ambiental. Vide art. 2º (diretrizes gerais), 4º (instrumentos de política urbana, como temos zoneamento ambiental, III, 'c'). 28/05
Responsabilidade Civil Ambiental
A responsabilidade civil em sede ambiental pode se dar tanto por ação ou
omissão, sendo que tal conduta não precisa ser analisada quanto ao seu aspecto subjetivo, ou seja, não avaliaremos a presença ou não de culpa lato sensu, se o sujeito violou o dever de diligência e cuidado ou se queria o resultado. Vide art. 14, §1º, da Lei 6938/81. O dano, entretanto, deve estar sempre presente, diferentemente da culpa. O dano cria a necessidade de reparação, buscando sempre retornar integralmente ao status quo ante. Este dano pode ser de duas naturezas: material (que se subdivide em danos emergentes e lucros cessantes) e moral (no que faz surgir a questão da possibilidade de dano moral coletivo, que ainda não é aceita pela doutrina de forma unânime, mas que pode cumprir um papel importante para o direito ambiental – os doutrinadores que defendem esta possibilidade argumentam que a coletividade tem sentimentos a serem tutelados, assim como o indivíduo, enquanto que a corrente oposta argumenta exatamento o oposto, que pelo fato de ser coletividade não possui esta dimensão moral). Além do dano, por último, precisamos do nexo de causalidade, ligando a conduta praticada ao dano produzido. Na responsabilidade civil utilizamos a teoria da causalidade adequada. Como a culpa não é exigida para a responsabilização, para impedir a formação do dever de indenizar uma das principais defesas é a prova da quebra do nexo causal. Isto pode ocorrer por força maior (serve para especificar o evento inevitável), caso fortuito (serve para especificar o imprevisível – pode ser interno, quando a circunstância se insere nos riscos normais da atividade, ou externo, quando o fato está fora deste âmbito, sendo que só o segundo exclui o nexo causal), fato exclusivo da vítima ou fato exclusivo de terceiro. Há, porém, casos excepcionais onde nem mesmo a prova de não haver nexo de causalidade excluirá o dever de indenizar. Na verdade é apenas na matéria ambiental que se admite esta responsabilização total, através da teoria do risco integral em caso de dano nuclear. Este entendimento é majoritário, mas não unânime. 04/06
A teoria do risco integral é aquela que não admite nem as excludentes de
responsabilidade. O fato exclusivo de terceiro, a força maior e o caso fortuito, neste sentido, não serviriam para excluir a responsabilidade. Como dito na aula passada, nos casos de dano nuclear, aplica-se a teoria do risco integral. Este é o único caso em que se aplica tal teoria. “Segundo a doutrina majoritária, a teoria do risco integral é aplicada excepcionalmente, sendo considerada uma modalidade extremada da doutrina do risco, destinada a justificar o dever de indenizar, inclusive nos casos de inexistência do nexo de causalidade (o que não ocorre na responsabilidade objetiva, pois, embora dispensável o elemento culpa, a relação de causalidade é imprescindível). Para a teoria do risco integral, o dever de indenizar se faz presente apenas em face do dano, ainda nos casos de conduta exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior. A justificativa reside na consideração de que o perigo oferecido pela manutenção da atividade nuclear é tal que, independentemente de outro fator, o dano será imputável à entidade pública responsável (art. 21, XXIII, CF, e art. 8º da Lei 6.453/77).” Tutela do meio ambiente Vide Lei 7.347. Artigos importantes da Lei, segundo a professora: 1º, 3º, 4º, 6º. “É importante verificar a causa de pedir e o pedido, ainda que se trate de uma ação popular e de uma ação civil pública, pois a doutrina reconhece a possibilidade de se caracterizar litispendência”, ainda que os legitimados, nas duas ações, sejam diferentes. Os legitimados para intentar ação civil pública estão listados no art. 5º da Lei. Pode-se ajuizar ação cautelar em favor do meio ambiente (art. 4ª da Lei), visando a garantir a efetividade de uma futura ação civil pública. Os legitimados para esta medida cautelar serão os mesmos legitimados para a ação civil pública futura. Os cidadãos, portanto, uma vez que não são legitimados para ação civil pública, também não são legitimados para a medida cautelar que visa assegurar a futura ação civil pública. Para os cidadãos, no entanto, existe o instituto da ação popular. Vide inquérito civil público - art. 8º, §1º da Lei. Ler, para a próxima aula, a Lei 7.347.