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Apontamentos sobre o caso Hans

Francisco José Bezerra Santos

Palavras-chaves: neurose; fobia; inibição; sintoma; angústia

Apesar das especificidades presentes na análise com crianças - presença dos


pais, utilização de brinquedos, desenhos - há apenas uma psicanálise. O trabalho que
ocorre no sujeito, quer seja o adulto com sua divisão constitutiva bem estabelecida, quer
seja a criança, um sujeito em formação, é o trabalho analítico. Este foi um dos pontos
que mais discutimos no percurso do nosso cartel “Os casos clínicos de Freud”.
Notamos uma certa impaciência em alguns momentos das reuniões,
especialmente quando discutíamos as longas seqüências dos diálogos entre o menino e
seu pai. O quanto daqueles significantes tocava cada sujeito participante do cartel foi
algo mencionado em algum momento. Esta referencia é importante para lembrar que o
trabalho de texto, no cartel, não é sem a transferência à letra de Freud. Letra que
convoca o analista tanto na intensão, quanto na extensão.
Mas indo além destas questões, ou melhor dizendo, prosseguindo na companhia
delas, o texto freudiano sobre Hans possui um certo caráter de fundação. Funda-se uma
prática de psicanálise com crianças. Assim, foi possível escolher, entre várias
possibilidades de leitura, uma que privilegia este aspecto de invenção, de um novo
modo de usar a psicanálise. Sem colocar em questão se Hans serviu ou não para
“provar” a justeza das concepções freudianas sobre a sexualidade infantil, o Édipo e a
neurose, o fato é que o próprio Freud sabia do legado que deixava ao ancorar nas letras
do seu texto os restos da experiência, o que era possível de transmissão, ou seja “ o que
da fobia do pequeno Hans se pode extrair de universalmente válido para a vida e
educação”. 1
Ainda haverá um grande intervalo temporal antes de Freud vir a falar de práticas
impossíveis, entre elas, a educação 2 Quanto ao o significante “vida”, este é muito vasto
em possíveis leituras para aqui ser tomado. .Assim,,os apontamentos que se seguem
tentam rastrear indícios de futuros avanços na psicanálise e extrair algo novo do texto a
partir de sua releitura com Lacan.
1- Escreve Freud: “ Um dia, na rua, Hans adoece de angustia: ainda não pode
dizer do que tem medo”3. Algo do real irrompe nesse passeio. A angústia, afeto que não
engana, não é sem objeto4. O que se presentifica de modo invasivo como real, neste
instante ainda não tem recobrimento, por parcial que seja, do simbólico. Podemos
supor, neste tempo, que o simbólico ainda não cruzou com o real, na sequência
contingente que pode vir a produzir o enodamento borromeu (aqui tomando como
referência o trabalho no qual Solal Rabinovitch tentou articular o nó e a clínica 5).
Haveria, ao instante da irrupção da angústia, a presentificação do que é do objeto
,mas sem a sua representação. Em termos freudianos, ele é preciso em afirmar que o
significante “cavalo” é aquele que por um período servirá para se dizer do que se tem
medo. Passamos da angústia ao sintoma (fobia) o que não vai deixar de trazer efeitos
inibitórios em Hans. Se articulam aqui os registros S,I,R. Não se poderia, de imediato,
afirmar que se trata de um enodamento borromeu, mas juntos eles estão. É
possível,ainda não certo, que se concluirá a operação de extração de gozo,o objeto a
será produzido e o enodamento borromeu dos três registros ocorrerá.

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2- “A posição da “fobia” dentro do sistema das neuroses segue indeterminado até
hoje” 6. Se a neurose por excelência é a histeria, tendo a obsessão como seu dialeto7, o
que é da fobia? Refere-se a um tempo lógico, no qual esta aponta como bússola para a
constituição do sujeito dividido. A dúvida freudiana sobre a fobia não deixou de ser
retomada por Lacan no seu seminário “ De um Outro ao outro” ao estabelecer uma
analogia com a plataforma8 giratória das linhas de trem como indicativa deste tempo
fundamental na constituição do sujeito.
No trabalho da análise, o significante “cavalo” percorre o campo das significações. Seu
surgimento amarra-se ao emergir de Hans do acesso de angustia: “ primeiro conteudo
que ele deu à sua angustia, rezava: um cavalo me mordeu” 9. O simbólico vela algo
do real. Com a fobia, diz Freud “ o doente pode ficar liberado da angustia, mas só às
custas de suas inibições”10. Insistência no texto dos significantes inibição, sintoma e
angustia, nomes freudianos para o imaginário, simbólico e real, muito tempo antes do
escrito de 1926 que os terá como titulo.
3- Contra o ‘furor sanandi’ que Freud criticará nos futuros artigos sobre a técnica,
ele já adverte o analista que não só é impossível mas “perigoso em certas
circunstancias, procurar a cura da fobia de modo violento”11. Se tal advertência já é
bem conhecida , não deixa de ser sintomático do espírito de nosso tempo pensar que as
chamadas terapias cognitivo-comportamentais, aquilo que no atual momento se
apresenta como o mais “moderno” tratamento, defende exatamente a referencia oposta.
Calar o sintoma do sujeito :não escutá-lo a não ser para auscultá-lo.
A psicanálise se posiciona noutro lugar que não o meramente terapêutico, um
simples recurso dito psicoterápico de apoio à medicina. Freud reitera: “não aspiramos
ao êxito terapêutico em primeiro lugar”12. Nesta perspectiva, há que se construir o
sintoma analítico. Além e/ou com a angustia,, o sintoma como enigma para o sujeito se
superpõe ao que é da ordem da queixa apresentada pela criança ou seus pais. Uma
observação do texto aponta a direção do tratamento: “não é raro que apenas após um
trecho de trabalho psicanalítico alguém se dê conta do genuíno conteúdo de uma fobia,
do texto correto de um impulso obssessivo (...) [e isto coloca o analista] “na rara
situação de ter que ajudar a doença para conseguir que se lhe preste
atenção”13.Observação que vale para o exercício da análise independentemente da
faixa etária do analisante e marca também uma diferença com os tratamentos
psicoterápicos.
4- A neurose do adulto, diz Freud “se enoda àquela angustia infantil, é sua
continuação”14. A neurose nada mais é que a própria e necessária condição para a
existência do sujeito , isto é, ,se ele não for psicótico. A constatação freudiana de que a
neurose é a mesma, aponta para um além das especificidades da análise com crianças.A
partir desta, se constatamos que ocorrem alterações nas articulações entre inibição,
sintoma e angustia, poderíamos supor que a análise é uma, do sujeito infantil ao sujeito
adulto, mesmo quando já não se tratasse do mesmo analista:é sempre a questão do
sujeito o que conta. De todo modo, não seria razoável supor um final de análise nestes
atendimentos com crianças :se o final implica, pelo menos a experiência da travessia
da fantasia fundamental e a constatação da inexistência do Outro, uma análise
com criança vai na direção de construir esta fantasia fundamental e possibilitar que haja
um Outro que deseja, ilusão necessária e constitutiva em certo tempo lógico.
Freud já problematizava neste escrito o que seria um final de análise embora não
tenha usado os termos que viriam a ser habituais: “ a análise com efeito, não desfaz o
resultado do recalque: as pulsões que foram então sufocadas seguem sendo sufocadas”
15
mas acrescenta que ela “substitui o processo de recalque que é automático e
excessivo” 16 por aquilo que denominou “juízo adverso(verurteilung)”.17 De todo

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modo, interessa interrogar se o resultado do recalque não desfeito poderia ser lido não
apenas como o irredutível que resta do sintoma , mas um resto frente ao qual o sujeito
se reposiciona. A euforia de certo tempo inicial da história da psicanálise que acreditava
na eliminação do sintoma aqui já não marca sua presença.
Por fim, dispensando comentários, resta uma fala de Freud a Hans. Em seu único
encontro, Freud se volta ao pequeno sujeito e lhe dirige a palavra. É o relato do que, no
só depois ,se constatará como um ato analítico.Algo de oracular aqui permanece
ressoando : “Essa tarde pai e filho me visitaram (...) lhe revelei que tinha medo de seu
pai justamente por querer tanto sua mãe (...)”Que há muito tempo, antes que ele vi esse
ao mundo, eu já sabia que chegaria um pequeno Hans que ia querer muito sua mãe e
por isso se veria obrigado a ter medo do pai ”18.

Notas e Referências Bibliográficas

1. FREUD,S.Analise da fobia de um menino de cinco anos,1909, in Obras Completas.


Amorrortu Editora,Buenos Aires,2000,vol X p.113
2._______ Análise Terminável e Interminável,1937.idem, vol XXIII,p.249
3._______Análise da fobia de um menino de cinco anos idem p.93
4. LACAN,J Seminário,livro 10,A angústia Jorge Zahar editor,Rio de
Janeiro,2005.p.101
5 . RABINOVITCH,S.Entre traço e re-escrita.In Transfinitos 5. Autentica Editora,Belo
Horizonte,2007,p. 345-360
6. FREUD,S.Analise da fobia de um menino de cinco anos.idem p. 94
7.________ A propósito de um caso de neurose obsessiva,1909,idem,vol X,p.124
8. LACAN,J.Seminário,livro 16,De um Outro ao outro Jorge Zahar editor,Rio de
Janeiro,2008,p.298
9.FREUD,S. Analise da fobia de um menino de cinco anos.idem,p.97
10. idem, p.95
11. idem,p 96
12. idem,p 98
13. idem, p. 101
14. idem, p. 114
15. idem, p. 116
16. idem, p. 116
17. idem,p.116
18. idem,p 36

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