Vous êtes sur la page 1sur 6

AVALIAÇÃO DOS CONSTRANGIMENTOS DA ATIVIDADE DE TRABALHO DE

AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM DE UM HOSPITAL PEDIÁTRICO: a gestão


individual e coletiva do risco de acidente de trabalho

Davidson Passos Mendes, M.Sc.


Universidade Federal de Itajubá
CEP: 35900-375 Itabira, Minas Gerais
Email: davidsonmendes@unifei.edu.br

Palavras-chaves: Enfermagem Pediátrica, Carga de Trabalho, Engenharia Humana

Este estudo teve por objetivo identificar estratégias, utilizadas pelos trabalhadores de enfermagem (auxiliares e técnicos), de
gestão do risco no trabalho, numa tentativa de se compreender o processo saúde-doença vivenciado por esses atores. Foram
utilizados para análise e coleta de dados, através do método da Análise Ergonômica do Trabalho, 24 trabalhadores de
enfermagem, entre efetivos e contratados e, observadas as estratégias de ação e regulação desses sujeitos trabalhadores frente
às interfaces que lidam. No processo de trabalho na Instituição, os trabalhadores encontram-se expostos a todas as cargas de
forma intensa e específica, gerando desgaste físico e mental, que se aproxima do sofrimento psíquico.

Key-works: Pediatric Nursing, Workload, Human Engineering

The objective of this study is to identify the strategies used by the nursing workers (technical assistants) to manage the risk of
accident during work activities in order to comprehend the process of health and illness experienced by such professionals.
Twenty four workers among steady and temporary were selected for data collection by using the method of Ergonomics Work
Analysis, and the strategies for action carried out by them as well as the strategies of regulation were also observed in relation
to the interfaces they deal with. In the work process at the institution the workers find themselves exposed to every sort of work
load in an intensive and specific way which leads to physical and mental strain approaching to psychical suffering.

setor é, essencialmente, de trabalho intensivo


1 INTRODUÇÃO (MENDES, 2008). Na literatura científica cresce o
número de comunicações referentes a agravos
Os hospitais diferem de outras instituições pela psíquicos, a medicalizações e a suicídios de
marcante complexidade e peculiaridade dos serviços trabalhadores de enfermagem (GOMES, 2006).
prestados, sendo aqui analisados, a partir de uma visão
macro e micro. Sob o prisma macro, o hospital assume Atualmente, o trabalho de enfermagem é integrante do
um papel social, econômico, político e científico, tal trabalho coletivo em saúde, é especializado, dividido e
como diversas instituições. Na visão micro, a análise se hierarquizado entre auxiliares, técnicos e enfermeiros
desenvolve na compreensão de seus aspectos internos, de acordo com a complexidade de concepção e
focalizando-se as observações em seus atores e nas execução. A enfermagem, embora detenha autonomia
relações que estabelecem entre si. O ponto forte do relativa em relação aos demais profissionais, subordina-
hospital é a interface pessoa-pessoa, apesar da crescente se ao gerenciamento do ato assistencial em saúde
importância que a tecnologia tem alcançado nos últimos executado pelos médicos.
tempos. É o relacionamento entre seres humanos que dá
dinamicidade a todo o sistema, transformando-o em As atividades dos profissionais de enfermagem são
algo extremamente complexo, diferenciando-o assim de fortemente tensiógenas, devido às prolongadas jornadas
outras instituições (MENDES, 2008). de trabalho, ao número limitado de profissionais e ao
desgaste psicoemocional nas tarefas realizadas em
A divisão do trabalho no hospital reproduz em seu ambiente hospitalar (MENDES, 2008).
interior a evolução e a divisão do trabalho no modo de
produção capitalista, sendo preservadas, no entanto, as Na prática do cuidado, os trabalhadores de enfermagem
características caritativo-religiosas. O hospital carrega o estão expostos a riscos advindos do desenvolvimento de
ônus da dor, da doença e da morte desde sua criação atividades assistenciais diretas e indiretas, cuidados
(NAVARRO, 2006). prestados diretamente a pacientes e em organização,
limpeza e desinfecção de materiais, de equipamentos e
A incorporação de novas tecnologias não significa, do ambiente (GOMES, 2006, NAVARRO, 2006).
nesse setor, o “alívio da labuta humana”, ao contrário, o
As atividades executadas pelos trabalhadores de 2.1 Hipótese
enfermagem apresentam situações que exigem tomadas
de decisões e organização de tarefas originando cargas O adoecimento da população de enfermagem, auxiliares
as quais podem ser reduzidas, através de adequado e técnicos, ocorre em virtude da diversidade de vínculos
preparo profissional. empregatícios existentes na instituição, associado à
complexidade do objeto (paciente pediátrico), dos
Essa situação induz a necessidade de um contínuo rodízios constantes entre os setores, da supervisão de
processo de adaptação entre trabalho e trabalhador, para enfermagem ocorrer à distância e da não construção da
que a assistência prestada ao cliente seja de boa horizontalidade no trabalho, diminuindo a possibilidade
qualidade e o trabalhador desempenhe suas atividades de regulação da população trabalhadora.
sem prejuízo de sua saúde física e mental (MENDES,
2008). 3 RESULTADOS
3.1 Caracterização geral
É na situação real de trabalho que a atividade permite
identificar os determinantes que condicionam a sua O hospital analisado é uma unidade hospitalar de uma
interação com o meio. O processo incessante de fundação estatal, que é considerada a maior rede de
construção de estratégias e modos operatórios pelo hospitais públicos da América Latina: possui 23
sujeito, para responder às exigências do trabalho, é o unidades assistenciais, das quais 14 são localizadas na
que distancia as noções entre o trabalho prescrito e o capital e 9 no interior do Estado, abrigando 13 mil leitos
real (GOMES, 2006, MENDES, 2008). operacionais, distribuídos entre Hospitais, Hospital-Dia,
Serviços de Atenção a Toxicômanos, Pronto Socorro,
Em busca de elementos de resposta às questões uma unidade administrativa e MG transplantes (Fonte
levantadas, fruto de uma demanda previamente local). Tem como princípio assistir com qualidade
constituída, estabelecemos foco sobre a atividade de crianças referenciadas pelas macrorregiões do Estado de
trabalho do auxiliar e técnico de enfermagem de uma Minas Gerais e dos municípios que compõem a
instituição pediátrica, vinculada a um complexo de microrregião e a Região Metropolitana de Belo
urgência/emergência, com o objetivo de identificar Horizonte, como centro de referência em atendimento
estratégias de regulação e gestão de riscos no trabalho, ambulatorial e de internação e para os programas
numa tentativa tanto individual quanto coletiva de se especiais do Governo em relação à pediatria,
minimizar a incidência dos acidentes de trabalho e instituindo-se, ainda, como um hospital de ensino.
preservar a qualidade produtiva. A assistência prestada envolve diversas categorias
profissionais atuantes na pediatria, como: clínica
2 METODOLOGIA médica, enfermagem, fisioterapia, psicologia, terapia
ocupacional, serviço social, terapia nutricional,
A abordagem metodológica utilizada foi baseada na fonoaudiologia e serviços administrativos.
Análise Ergonômica do Trabalho – AET (GUÉRIN,
2005). Trata-se de um método qualitativo-descritivo de 3.2 Os elementos: auxiliares e técnicos de
ação da ergonomia definido como a descrição das enfermagem
atividades de trabalho ou dos trabalhadores, a partir de
três etapas (observação da atividade, entrevista semi- As atribuições específicas aos Técnicos e Auxiliares de
estruturada e entrevista em auto-confrontação). Foram Enfermagem são:
analisados 24 profissionais, entre auxiliares e técnicos Executar cuidados integrais de enfermagem aos
de enfermagem, sendo 22 contratados e 2 efetivos. Por pacientes, sob supervisão do enfermeiro, integrando as
meio das entrevistas, na percepção dos trabalhadores equipes assistenciais multiprofissionais, buscando
(auxiliares e técnicos), buscam-se as imagens e transdisciplinariedade e o cumprimento dos protocolos
representações utilizadas por eles para expressar as técnicos das ações; executar tratamentos prescritos nas
vivências do trabalho/sofrimento/prazer na atividade de unidades assistenciais sob supervisão do enfermeiro,
enfermagem. Busca-se desvendar o discurso, obedecendo normas institucionais e de biossegurança e
verbalizações, enquanto uma estrutura de representação os protocolos assistenciais; executar ações assistenciais
que conduz à subjetividade e informa sobre as de enfermagem correlatas com as funções de auxiliares
características organizacionais desse trabalho, bem e técnicos de enfermagem (Dados internos, 2010).
como dos processos de regulação postos em prática.
Quadro I - Profissionais de Enfermagem (auxiliares aumentando a carga cognitiva (tomada de decisão),
e técnicos) - AeTE principalmente. Os rodízios de profissionais AeTE são
constantes entre os setores do hospital.
Urgência e Emergência
(Semi-internação, classificação de risco, As relações multidisciplinares acontecem tanto de
micronebulização e pequenos procedimentos) forma destrutiva como construtiva. As interfaces
citadas, de maior conflito, são entre os AeTE e
Auxiliares e Técnicos de Enfermagem enfermeiro, entre AeTE e médicos e entre os AeTE e
1 - Contrato administrativo família. Porém, observa-se que um grande número de
Feminino 20 diurno 21 noturno profissionais racionalizou nas respostas, provavelmente,
Masculino 01 diurno 00 noturno devido ao medo de punição.
Total 21 21
Auxiliares e Técnicos de Enfermagem O ‘disfuncionamento’ parece ocorrer devido ao
2 – Efetivo relacionamento entre os membros da equipe, associado
Feminino 10 diurno 11 noturno
ao rígido controle do tempo, a forma como o setor é
Masculino 01 diurno 01 noturno
organizado, a falta de materiais e equipamentos
Total 11 12
adequados, o estado crítico de saúde do paciente, a
Fonte: Dados internos, 2010
dupla/tripla jornada feminina de trabalho e à baixa auto-
estima (valor social) do trabalhador de enfermagem.
3.3 Processo de Trabalho: O objeto e o meio de Associam-se aos condicionantes já citados, os rodízios
trabalho na enfermagem constantes dessa população trabalhadora nos diversos
setores do hospital.
No processo de trabalho, nota-se que a natureza do
objeto (paciente pediátrico) é caracterizado por crianças 4 DISCUSSÃO
de ambos os sexos, de risco à vida variado e
dependentes, na sua maioria. Há também o cuidador, A doença no trabalho é fenômeno oriundo de modos de
geralmente a mãe, que em virtude da situação, participa trabalhar concretos em contextos específicos de
da assistência tanto de forma produtiva quanto produção (ECHTERNACHT, 2008). As análises de
destrutiva. situações de trabalho realizadas pela ergonomia da
atividade e pela ergologia consideram de modo
O saber constitui-se no cotidiano do trabalho e no saber particular a distância sempre existente entre as
fazer. Muitas vezes os métodos e técnicas são prescrições das tarefas a serem realizadas e o trabalho
realizados de modo não terapêutico pela diversidade do real (MENDES, 2008).
objeto de trabalho dos AeTE.
Porém, essa relação entre o humano em atividade de
Na organização e divisão do trabalho, percebe-se o trabalho e o meio produtivo não pode ser compreendida
quanto os AeTE possuem uma visão crítica do enquanto uma relação determinística. No que se refere à
dimensionamento de pessoal e à necessidade de que ontogenia humana, o meio não age diretamente sobre a
sejam adotados critérios para uma proporcionalidade ordem biológica. 'Saúde' e 'Doença' são realidades
mais equilibrada entre o número de pacientes construídas a partir de uma complexa interação entre as
designados a cada trabalhador. A diversidade de concretudes da condição humana e a elaboração de
vínculos empregatícios ocasiona sentimentos de sentidos. Essa elaboração pressupõe um debate entre a
abandono dos contratados em relação aos direitos normatividade vital e a normatividade social, o que
trabalhistas. Os efetivos possuem uma margem de significa que as relações entre cada homem e seu meio
regulação maior, muitas vezes próximas da mobilizam em si mesmo um complexo sistema de
desobediência hierárquica, gerando conflitos, valores que fundamenta sua atividade normativa. A
principalmente, com a chefia imediata. vida não é indiferente às suas próprias condições, ao
contrário, viver é posicionar-se (MENDES, 2008).
A inserção no mercado de trabalho ocorre, na maioria
das vezes, em virtude da situação de desemprego e não O ponto de vista da atividade humana constitui o cerne
por opção. da abordagem ergonômica (SCHWARTZ, 2000). As
análises do trabalho que aí se baseiam evocam,
A supervisão de enfermagem ocorre à distância, o que necessariamente, as relações entre os valores, os saberes
dificulta o compartilhamento de saberes, experiências, e o agir em competência, configuradas na
especificidade das situações concretas de trabalho, o As causas de adoecimento em uma unidade pediátrica
que exige fazer emergir a experiência de quem trabalha. se tornam mais significativas, haja vista a natureza e as
Este posicionamento gera conseqüências para a características próprias do setor, como as dificuldades
produção dos saberes sobre o trabalho humano e, no relacionamento interpessoal, a lida com o sofrimento
especialmente, no campo das relações saúde-trabalho. e com a morte do cliente, ao ritmo e à carga de trabalho
A experiência humana no trabalho constitui-se através realizado, às condições inadequadas para as atividades
de uma permanente gestão de si mesmo, condição para laborais e ao não reconhecimento pelo trabalho
o agir em competência nas situações produtivas, o que desenvolvido. Fato observado no hospital analisado e
pressupõe que o ato de trabalhar não se restringe a um verbalizado: “Elas tinham que ter outro nome, por que
uso hetero-determinado de homens e mulheres pelos enfermeira é quem cuida e elas só escrevem. Por isso
gestores dos sistemas de produção, mas é também uma que tá todo mundo indo embora. Daqui a pouco não
experiência de si mesmo, uma relação com a própria tem mais ninguém aqui”.
história.
Também verbalizado por um trabalhador de
Nas situações analisadas neste estudo não há como enfermagem: “Não tem uma pessoa aqui que não tem
fazer uma negação da subjetividade. Em todas as dor, é na perna, na coluna”. Os AeTE apontam a
situações faz-se apelo a uma atividade humana situada e questão do vínculo empregatício ser uma questão de
confrontada à historicidade dos eventos, incorporando conflito. “Os efetivos podem não vir trabalhar, que está
competências particulares, capazes de lidar com o tudo bem. Se nós não viermos, estamos na rua.
singular, os imprevistos e os fatos atípicos, tendo como Trabalhamos mais, ganhamos menos. Somos muito
objeto de trabalho o paciente pediátrico, retrato do meio mais cobrados”. Também verbalizado: “Os contratos
social e cultural do qual é inserido e da relação com o trabalham com medo. A gente ‘rala’ a mesma coisa e
cuidador, geralmente a mãe, além das interfaces com as ainda fica de fora de tudo”. Segundo os AeTE
quais lida: o médico, o paciente criança, os enfermeiros contratados, o contrato é um vínculo frágil, que não
e os parentes dos pacientes. garante a motivação no trabalho. Fato verbalizado: “Os
contratados só estão aqui porque realmente precisam,
Segundo Cabral (1995) “a criança é fruto do ambiente mas eles já ficam procurando outra coisa lá fora,
em que vive, ou seja, sua organização familiar irá porque sabem que em 2 anos 'estão' na rua, e eles
influenciar suas experiências infantis e todo seu 'estão' certos”. Fato confirmado por outro trabalhador:
processo de socialização”. Portanto, o trabalho de “Com esse contrato de 2 anos o pessoal não tem
enfermagem que cuida de crianças exige atuar sobre as estímulo, tá todo mundo indo embora”. Independente
diferenças culturais existentes dentro dos grupos de ser contratado ou efetivo percebe-se o quanto é
sociais, e sobretudo, ao estilo de cuidar da mãe que foi intensa a carga de trabalho para ambos os vínculos.
herdado culturalmente.
O poder decisório desses trabalhadores é pequeno,
A organização hospitalar tem como principais objetivos dependente da supervisão de enfermagem e de outros
a satisfação do trabalhador e a atenção personalizada ao setores e suas possibilidades de ação são dependentes
paciente (PAGLIARI, 2008). No entanto, muitas das regras de funcionamento da instituição. Possuem
instituições são extremamente burocráticas e a gerência múltiplas tarefas, como expressado: "a carga aqui é
de enfermagem não tem participação efetiva na muito grande, a gente trabalha demais da conta. Faz de
formulação dos planos institucionais, piorando a tudo”. Também verbalizado comumente: “Aqui todo
situação do trabalhador de enfermagem, favorecendo a mundo toma remédio controlado, tá todo mundo
sobrecarga de trabalho e, por sua vez, desencadeando o depressivo”.
risco para o adoecimento (MENDES, 2008).
A falta de supervisão constante e direta da chefia
Nos últimos anos, o absenteísmo na enfermagem em imediata proporciona intensa desproteção, gerando
instituições hospitalares tem sido fonte de estudo e sentimentos de solidão, pois, muitas vezes, assumem
preocupação de muitos administradores, visto que determinadas decisões sem possuírem autonomia
desencadeiam problemas tanto de ordem organizacional suficiente.
como, principalmente, de ordem econômica, onde se
calcula que pelo menos 35% dos dias de trabalho As relações multidisciplinares estabelecidas com os
perdidos, anualmente, são por motivos de ordem demais trabalhadores manifestam-se por meio de
psicológica (MENDES, 2008; PAGLIARI, 2008). sentimentos positivos e negativos. Os sentimentos
negativos são expressos pela culpabilização, pelos
episódios de agressividade dos pacientes e família, intensificação da carga cognitiva, mediada ou não pela
pelos comentários depreciativos, gerando sentimentos supervisão de enfermagem.
de desânimo, cansaço e desgosto, pois demonstram a
falta de reconhecimento pelo trabalho realizado. A A humanização da assistência enfocando a participação
exposição a longas jornadas de trabalho, a precarização e envolvimento dos pais, muitas vezes é vista pelos
das relações de trabalho, a desvalorização salarial, as enfermeiros a partir de uma perspectiva instrumental e
graves deficiências das condições de trabalho, tecnológica do processo, ou seja, com valor
desencadeiam além de processos físicos e emocionais, essencialmente funcional. Partindo deste pressuposto,
sentimentos que revelam trabalhadores com a auto- os pais tornam-se problemas que necessitam ser
estima em queda. Há que se destacar também as resolvidos ao invés de participantes e colaboradores no
verbalizações sobre a falta de tempo: falta de tempo cuidado da criança. Como verbalizado: “os
para si mesmo, para o exercício da subjetividade, o acompanhantes ajudam, mas às vezes atrapalham
lazer, as várias formas de aprendizado e o próprio também”.
cuidado consigo mesmo, particularmente, com a saúde.
Os positivos se revelam na construção da Um dos fatores marcantes que dificulta o
horizontalidade, parcerias de trabalho, coletividades relacionamento entre pais e enfermeiros é a inexistência
trabalhadoras em que um profissional auxilia o outro, de uma demarcação entre o cuidado a ser desenvolvido
compartilha a sua competência e dessa forma reduz a pelos pais e pela equipe de enfermagem. As atividades
carga de trabalho, ampliando a regulação, minimizando de responsabilidade dos pais estão na dependência da
assim, o risco de adoecimento. gravidade da doença do filho e do poder de negociação
estabelecido na relação entre profissionais e família.
O processo de trabalho tem imposto a esses
trabalhadores intenso uso de seu corpo e mente como Verifica-se que tanto o absenteísmo como rotatividade
instrumentos de seu trabalho. As constantes solicitações possam estar fortemente relacionados a sentimentos de
do trabalho, evidentes pela obrigatoriedade de cumprir insatisfação no ambiente de trabalho.
as tarefas, não permitem a destinação de um tempo
específico para pausas durante a jornada de trabalho, Uma pesquisa acerca da subjetividade do trabalho no
principalmente pela manhã. O tempo é, primeiramente, hospital verificou que o desgaste intenso da saúde do
da produção em torno do qual se organizam todos os trabalhador deve-se, principalmente, à sua impotência
outros tempos da existência social. Como verbalizado: frente a uma estrutura hierárquica centralizadora. A
“São dois e eram para ser quatro, a escala vive alienação, a impossibilidade de agir criativamente na
desfalcada. Temos que fazer. Não tem uma pessoa aqui relação cotidiana de trabalho e os estreitos limites
que não tem dor, é na perna, na coluna. Na nossa folga colocados pela organização do trabalho ao uso de seu
sentimos dores e muitas”. saber surgem como causa de sofrimento e desgaste
(MENDES, 2008). Fato observado e verbalizado:
A dimensão temporal é um elemento forte e da maior “Essas enfermeiras querem que agente faça o trabalho
importância nesse contexto, estando associada às delas, já não basta o quanto agente trabalha!”.
urgências e emergências decorrentes da
imprevisibilidade dos eventos (ECHTERNACHT, A exposição do AeTE às cargas de trabalho foi por eles
2004) e seu uso social deveria diferir do uso de outras percebidas como geradoras de desgaste físico e mental.
organizações, especialmente daquelas onde essa O desgaste físico é relatado como os problemas na
dimensão assume um caráter de tempo de produção, coluna, nos braços e ombros que, apesar de
associado ao controle quantitativo, à precisão e à inespecíficos, são sentidos pelos trabalhadores e os
disciplina, ou seja, o tempo usado no sistema mesmos associam com a jornada de trabalho. As dores
capitalista, tornou-se um bem de consumo (MENDES, são sentidas pelos trabalhadores e, muitas vezes, esses
2008). não conseguem associar momento ou situação que as
provocou. Muitas dores estão associadas às cargas
O saber é caracterizado pelo conhecimento dos AeTE a submetidas devidas à característica da assistência da
respeito do seu cotidiano de trabalho, muitas vezes, enfermagem.
estabelecido por um saber-fazer, com pouco
conhecimento técnico-científico. O fazer, na maioria Além dos processos de desgaste que se tornam visíveis,
das vezes, se estabelece no cotidiano do trabalho, nas outros, não visíveis, também são vivenciados, que
práticas, mas, em situações de variabilidade, há uma ‘marcam’, profundamente os AeTE como o desgaste
mental. A insatisfação e o desânimo pelo trabalho
realizado geram desconforto. O desânimo sentido pode ato de produzir. É atribuído ao significado do trabalho a
se somar ao estado de cansaço ou fadiga, tornando-se função de gerar êxito, realização profissional,
importante fator de desgaste mental. crescimento pessoal, desafios intelectuais,
responsabilidade e satisfação quando do contato com o
A complexidade dessas ações aponta para a dialética da conteúdo da tarefa. Assim sendo, para ser significativo,
construção dos sistemas defensivos. O mesmo objeto deve haver uma tentativa de combinar produtividade e
que faz sofrer também faz resistir. A organização do condições de trabalho, ou seja, busca de uma correlação
trabalho desencadeia mecanismos psíquicos entre necessidades físicas e psicossociais dos
adaptativos. De acordo com os saberes pode-se trabalhadores aos métodos, processos e instrumentos de
observar que em presença das contingências da trabalho usados por eles. Devemos buscar implementar
atividade há situações adaptativas, em que a população condições que possam proporcionar regulações mais
trabalhadora monta a horizontalidade e, assim, ameniza amplas e, com isso, minimizar os riscos de
o efeito da carga de trabalho sobre sua condição adoecimento.
trabalhadora. A população mais competente estabeleceu
estratégias de regulação. Essa regulação acontece tanto REFERÊNCIAS
individual quanto coletiva.
ECHTERNACHT, E.H. Alguns elementos para a
reflexão sobre as relações entre Saúde e Trabalho no
Todas essas assertivas permitem afirmar que os
Brasil. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, v.2,
desajustes no trabalho conduzem a um estado indicativo
n.2, p. 85-89, abr-jun, 2004.
de transtorno. O trabalho deve ter como finalidade o
desenvolvimento das potencialidades humanas, ECHTERNACHT, E. H. Atividade humana e gestão da
favorecendo os laços cognitivos e intelectuais. O saúde no trabalho: Elementos para a reflexão a partir
profissional não deve ser vítima do seu trabalho e, sim, da abordagem ergológica. Laboreal, 4, (1), 46-55, 2008.
um instrumento essencial para tal tarefa, dotado de ELIAS, M. A.; NAVARRO, V. L. A relação entre
sentimentos, valores e qualidades fundamentais para o trabalho, a saúde e as condições de vida: negatividade
desempenho pleno do seu papel. e positividade no trabalho das profissionais de
enfermagem de um hospital escola. Revista Latino-
5 CONCLUSÃO americana de enfermagem, 14(4), 517-25, jul-ago,
2006.
A AET não pretendeu condenar ou defender a posição
ou ponto de vista da equipe de enfermagem. Contudo, é GOMES, G.C.; FILHO, W.D.; ERDMANN, A. L. O
uma tentativa de entender a atitude e o comportamento sofrimento psíquico em trabalhadores de UTI
deste profissional frente aos conflitos vividos no seu interferindo no seu modo de viver a enfermagem.
dia-a-dia tendo como agente do seu cuidar a criança Revista de enfermagem UERJ, jan-mar, 2006; 14(1):93-
hospitalizada. 9.
GUÉRIN, FRANÇOIS et. al. Compreender o trabalho
Este estudo nos levou a entender que o trabalho do para transformá-lo: a prática da ergonomia. São
profissional AeTE vai além da “habilidade técnica” e Paulo: USP, Fundação Vanzolini, Edgard Blücher,
passa a ter um outro papel em um cenário diferente. 2005. 200p.
Tais categorias necessitam ser sujeitos sociais
participativos, críticos, inovadores, transformadores e MENDES, D.; SILVA, A.; BARBOSA, C.; LIMA, J.;
inseridos em uma sociedade que também está se OLIVEIRA, M.; MATOS, V. Um olhar sobre a
modificando, mesmo que, às vezes, de maneira lenta. atividade de trabalho de auxiliares e técnicos de
enfermagem de uma instituição psiquiátrica: em busca
Considerando a categoria processo saúde-doença, os de transformações. Anais do XV Congresso Brasileiro
AeTE estão expostos a todas as cargas de trabalho, de Ergonomia, Porto Seguro, Bahia, 2008.
potencializadas pelas cargas psíquicas. A exposição PAGLIARI, J.; COLLET, N.; VIEIRA, C. Sofrimento
gera o processo de desgaste que se caracteriza em psíquico da equipe de enfermagem na assistência à
desgaste físico e mental. A potencialização das cargas criança hospitalizada. Revista Eletrônica de
psíquicas leva, também, ao processo de desgaste mental enfermagem, v. 10, n. 01, p. 63 – 76, 2008.
mais intenso do que o físico.
A realização pessoal surge como fator valorativo do SCHWARTZ, Y. Trabalho e uso de si. Revista
trabalho, significando que o labor deve proporcionar Proposições, Campinas (Unicamp), v. 11, p 34-50, jul.
satisfação/prazer, aspecto que se considera inerente, ao 2000.

Vous aimerez peut-être aussi