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Com efeito, se o evento danoso e o dano aparecem como pressupostos necessários da
obrigação de indenizar, é certo que sua presença num caso concreto não será suficiente
para autorizar que alguém seja condenado à satisfação, assim que, tratando-se de
responsabilidade subjetiva ou objetiva, é necessário que haja uma relação de
causalidade que se interponha entre o prejuízo e o fato lesivo que o antecedeu.
Dentre os ilustres juristas brasileiros, Caio Mário da Silva Pereira afirma: “É
pressuposto essencial da reparação, em regra, a imputabilidade da falta, contratual ou
extracontratual, ao agente”. Em termos científicos o nexo de causalidade se chama
meio de conhecimento, “in casu”, meio para conhecer o autor do dano, a culpa, o dano,
a ilicitude, o prejuízo causado a outrem.
A necessidade de determinação do nexo de causalidade entre um antecedente e um
conseqüente é, na oportuna lição de Eduardo Jorge Laje, um imperativo de razão que,
não admitindo que nada provenha do nada, indaga da origem das coisas e das relações
que enlaçam, seja nas ciências da natureza, seja nas ciências do espírito, entre as quais
se inclui o Direito.
Para Francisco Manoel Pereira Coelho, o “momento” causalidade, no quando dos
pressupostos da responsabilidade civil, distingue-se por se ele que nos permite
determinar a extensão do dever de indenizar, fixar a sua medida ou o seu quantum, dizer
até onde é que ele vai, que prejuízos, quais prejuízos, devem ser reparados.
Sabiamente, Gisele Leite conceitua o nexo causal como o vínculo, a ligação ou
relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado.
A relação causal, portanto, estabelece o vínculo entre um determinado comportamento e
um evento, permitindo concluir, com base nas leis naturais, se a ação ou omissão do
agente foi ou não a causa do dano. Determina se o resultado surge como conseqüência
natural da voluntária conduta do agente.
Também segue o mesmo entendimento o doutrinador Flávio Tartuce, segundo qual a
responsabilidade civil não pode existir sem a relação de causalidade entre o dano e a
conduta do agente. Se houver dano sem que a sua causa esteja relacionada com o
comportamento do suposto ofensor, inexiste o nexo causal, não havendo a obrigação de
indenizar.
Sérgio Cavalieri Filho é mais incisivo afirmando que pode haver responsabilidade
sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem nexo causal, isto é, sem o
elemento referencial entre a conduta e o resultado.
A causalidade não deve ser confundida com a culpabilidade, pois é perfeitamente
possível ocorrer não somente culpa sem nexo causal, como se dá disparo de arma de
fogo com a intenção de matar pessoa já morta; mas, também, nexo causal sem culpa,
como se verifica no homicídio levado a efeito em legítima defesa. A aferição do nexo
causal deve, sempre, antecipar a apuração da culpabilidade: previamente se estabelece a
ocorrência da relação causal entre o evento danoso e as conseqüências danosas, para,
numa etapa posterior, julgar, quando for o caso, a presença da culpa.
O problema do estudo jurídico da causa foi primeiramente proposto por doutrinadores
da área criminal, que até nossos dias permanecem em debate sobre as questões da causa.
O direito civil trouxe algumas das teorias propostas pelos penalistas para seu campo de
atuação, embora, não haja uma preocupação ao nível em que o problema se propõe.
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Existe uma dificuldade enorme quando se procura chegar ao critério usado para se
definir a causa de um fato. Quando se fala em fato jurídico, há a presunção de ter havido
uma modificação no mundo exterior por ordem, por intervenção de seres humanos.
Cada acontecimento faz parte de uma cadeia de causas onde uns fatos são
antecedentes e outros são conseqüentes. Cada um, dentro de seu campo de interesse,
constitui a condição que considera como sendo a mais importante para ser a causa.
Assim, a causa, necessariamente, deverá ser uma condição, que, se for suprimida, fará
com que o evento não se dê. E aí reside todo o problema proposto pelas teorias jurídicas
sobre a causa: saber qual das condições é a que efetivamente contribuiu para o evento
danoso, qual das condições pode ser considerada a causa sem a qual não ocorreria o
fato.
Mais difícil que saber a causa sem a qual não ocorreria o dano é a hipótese de
causalidade múltipla, ou seja, quando há uma cadeia de condições, várias circunstâncias
concorrendo para o evento danoso, e temos que precisar qual dentre elas é a causa real
do resultado. Flávio Tartuce as divide em:
a. Causalidade ordinária, conjunta ou comum – aquela que existe entre as
condutas coordenadas ou dependentes de duas ou mais pessoas, que de forma
relevante participam para a produção do evento danoso; todos os agentes
respondem solidariamente.
b. Causalidade acumulativa – é existente entre as condutas de duas ou mais
pessoas que são independentes entre si, mas que causam o prejuízo. Cada
agente deverá responder na proporção de suas culpas.
c. Causalidade alternativa ou disjuntiva – é aquela existente entre as condutas de
duas ou mais pessoas, sendo que apenas uma das condutas é importante para
ocorrência do evento danoso. Somente o ofensor responderá.
Sérgio Cavalieri Filho diz que as concausas são circunstâncias que concorrem para o
agravamento do dano, mas que não tem a virtude de excluir o nexo causal desencadeado
pela conduta principal, nem de produzir o dano. O dano surge da coincidência de várias
circunstâncias e decorre de causas diversas, basta que o autor seja responsável por uma
delas, sempre que desta provenha o dano, estabelecida a sua relação com as demais. As
divida em:
a. Concausas preexistentes – são condições que já existiam quando da conduta do
agente, embora agravantes do resultado, em nada diminuem a responsabilidade
do agente, o qual responde pelo resultado mais grave, independentemente de ter
ou não conhecido da concausa antecedente que agravou o dano. Por exemplo, o
agente que provoca lesão leve na vítima e esta morre, pois era hemofílica.
b. Concausas supervenientes ou concomitantes – a causa superveniente não produz
o resultado, mas o reforça, ocorre já depois do desencadeamento do nexo causal,
embora concorra também para o agravamento do resultado, em nada favorece o
agente. Por exemplo, a vítima de atropelamento que tem demora no seu socorro
e acaba perdendo muito sangue, provocando seu falecimento.
A meu ver, de acordo com tais teorias, o fato preexistente à conduta não afeta no
nexo causal ou algum fato superveniente agravam o resultado, mas não beneficiam o
réu. Deveria beneficiar, pois se o réu causasse um dano a alguém que não tenha
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problema preexistente ou superveniente ao evento danoso, as conseqüências seriam
mais amenas, por isso, é importante, realmente, que haja uma averiguação seria do caso
concreto e solução proporcional aos fatos.
Carlos Roberto Gonçalves caracteriza tal exposição de concausas sucessivas, em que
se estabelece uma cadeia de causas e efeitos.
Para tentar amenizar o problema da causalidade múltipla a doutrina criou algumas
teorias para explicá-las:
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B. Fato de terceiro: há ruptura do nexo causal em virtude de alguém que, entre o
fato do demandado e o prejuízo do demandante, insere uma ação que é causa
determinante do dano verificado: é o que, por exemplo, ocorrerá se alguém
empurrasse o indivíduo sob as rodas de um automóvel que está passando,
causando-lhe gravíssimos ferimentos. Considera-se terceiro toda pessoa distinta
da vítima ou do demandado.
Para Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, do conceito de terceiro
“estarão excluídas aquelas pessoas por quem o agente responde, como os filhos,
tutelados, curatelados, prepostos, empregados etc., de modo que, nessa
qualidade, não lhe será, em qualquer hipótese, permitido eximir-se de
responder, invocando, para a excludente do fato de terceiro.”
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terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de
dolo ou culpa”.
Para seu entendimento, a interpretação desse preceito constitucional, que impõe
a responsabilidade do Estado pelos danos causados aos particulares, leva à
conclusão de que, primeiro lugar, consagra a responsabilidade objetiva e direta
de todas as pessoas de Direito Público, ancorada na atual teoria publicista do
risco criado ou teoria do risco administrativo. Logo, dispensa a necessidade de
se perquirir a culpa do serviço público, bastando a comprovação do dano
causado ao particular, em decorrência da prestação de um serviço público
qualquer.
Evidentemente, alcança as três fundamentais funções exercidas pelo Estado:
administrativa, legislativa e a jurisdicional, não havendo razão jurídica, lógica
ou razoável para se excluir qualquer delas de sua abrangência, daí a
possibilidade de se sustentar a tese de uma responsabilidade unitária do Estado.
Por fim, referido preceito constitucional tem incidência em quaisquer situações
de danos causados pelo Estado, independentemente de sua origem ou da
natureza da atividade lesiva.
Na jurisprudência do STF, a responsabilidade civil das pessoas jurídicas de
direito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços
públicos, responsabilidade objetiva, com base no risco administrativo, ocorre
diante dos seguintes requisitos: do dano, da ação administrativa e desde que haja
nexo causal entre o dano e a ação administrativa.
Bibliografia:
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