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JUIZ DE FORA • segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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Cidade JF HOJE

Testemunho do horror da guerra CARLOS MENDONÇA

platéias diferentes?
•O polonês ‘Sou contra qualquer
— Aleksander — Eu trago meu
Aleksander Henryk testemunho sobre mim. Quando eu violência, sou contra
Laks, de 82 anos, falo eu revivo tudo o que aconteceu.
hoje naturalizado Eu lembro de tudo perfeitamente, ao
ditaduras. As ditaduras
brasileiro, percorre contrário de outros sobreviventes que estragam tudo. Quem
o mundo dando seu não dominam a língua ou começam a tem mais dinheiro tem
chorar ao iniciar o depoimento. Eu
testemunho. consigo me expressar porque as pes-
mais possibilidade de
Aleksander esteve soas ficam sensibilizadas, principal- inverter a verdade’
na cidade e o JF mente os jovens. O público jovem me
HOJE conversou entende mais que o público adulto,
não sei se por curiosidade... Fico feliz
com ele de eles não passarem por privações devem ter seu lugar e Israel também. E
como eu passei. Dizem que dou uma acho que não pode haver guerra. A
Paula Barquette lição de vida. Eu acho que a vida é o terceira guerra está um pouco utó-
principal, ao invés dos nazistas, que pica, porque vários países têm armas
paula.barquette@jfhoje.com.br eram motivados pela morte. E a nossa atômicas, então cada um se guarda,
O que leva um homem, de 82 obrigação é olhar atenciosamente pa- mas tem as guerras locais, tem ter-
anos, a percorrer várias cidades do ra os cidadãos para não haver mais rorismo e isso preocupa.
Brasil e do mundo para dar o tes- mortes. Faço palestras há 40 anos e
domino vários idiomas para chegar a Por que tem um público tão jovem?
temunho sobre sua sobrevivência
diferentes públicos, como o polonês, o — Eu acho que alguns jovens
aos horrores da guerra? A essa
alemão, o português, o inglês e o nem sabem o que significou a Se-
pergunta ele responde com um
iídiche, que era a língua falada pelos gunda Guerra, o nazismo, mas
meio sorriso: “para que essa his-
judeus na Europa. acham bonitos alguns elementos, co-
tória não se repita”.
mo a marcha, a suástica. Isso é muito
Aleksander Henryk Laks é bra- Como foi retornar à Alemanha?
preocupante. Eu acho que a edu-
sileiro naturalizado, ou, como gosta — Todo ano sou convidado pelos
cação pode mudar isso. Assim como
de dizer, é um brasileiro nascido na governos alemão e da Baviera para
tem gente que fala que não houve
Polônia, que constituiu família no fazer palestras em escolas. Lá, tenho
Rio de Janeiro e que relembra, cons- holocausto. Minha família foi resu-
encontros com sobreviventes e pes-
tantemente do seu passado, de olho mida a dois filhos nascidos no Brasil e
soas de várias gerações. Percorro lu- •Aleksander Henryk Laks diz que percorre o mundo contando sua
nos fatos do presente e preocupado gares que estão conservados e que a três netos também brasileiros e a
sobrevivência aos horrores da guerra para que a história não se repita
com suas repercussões futuras. foram palco dos horrores da guerra. duas noras. Sou viúvo. Se não houve
Viúvo, Aleksander Laks conta Fico emocionado, mas falo assim mes- holocausto, onde estão meus paren-
que sua família se resume, hoje, a mo. É uma forma de não deixar as ‘Quando eu cheguei ao Brasil, as pessoas tes? Não posso permitir que des-
dois filhos, três netos e duas no- pessoas esquecerem e refletirem so- mintam a história, por mais horrível
se cumprimentavam nas ruas, livres, que ela tenha sido.
ras. Ele mora em Copacabana, no bre as vantagens de se viver em paz.
Rio, cidade que conheceu como Na Polônia, retornei duas vezes. sorrindo, era um contraste com tudo o
Como vê a política hoje?
turista, há vários anos, quando Quando eu fui libertado pelas tropas que eu tinha conhecido’ — Considerou o voto muito im-
veio visitar suas tias. aliadas, jurei que não ia mais pisar na portante, mas, infelizmente, os po-
Ao longo do tempo, recebeu Polônia e na Alemanha. Mas depois líticos no Brasil não se dão muito valor.
inúmeros reconhecimentos e home- de 60 anos, em uma ocasião em que marcha, meu pai me disse: “olha filho, do, era um contraste com tudo o que O povo vê inúmeros escândalos su-
nagens no Brasil e no exterior e, estive em Israel como delegado para você esta vendo o que é a guerra. eu tinha conhecido. Hoje, a cidade do cessivos. Acho que a democracia não
atualmente, preside a Associação encontro de sobreviventes, acabei re- Quero que você nunca esqueça ou Rio de Janeiro mudou um pouco, já é isso. Sou muito fã de Winston Chur-
Brasileira dos Israelitas Sobreviven- tornando aos dois países. deixe de contar pelo que nós pas- não posso caminhar tão devagar e chill, estadista inglês, que dizia que a
tes da Perseguição Nazista. Mas sua samos”. Ao lembrar de tudo isso, parar a todo instante, pois é perigoso.
Como foi rever Auschwitz? democracia tem muitos defeitos, mas
atividade principal é realizar pales- senti taquicardia e precisei ser me- Hoje, os cariocas têm medo dos as-
— Visitei o campo de concen- não tem nenhum sistema político que
tras em escolas e universidades so- dicado. Ainda assim, reuni forças saltantes e das balas perdidas. Mas
tração de Auschwitz. Lá, minha mãe seja melhor do que ela.
bre o que viu e viveu durante a para filmar um documentário en- não podemos desistir, temos que con-
morreu na câmara de gás. De Aus-
Segunda Guerra Mundial. titulado ‘Marcha para a Vida’. Esse fiar que o mundo vai melhorar. Como esquecer a dor e a tristeza?
chwitz, eu e meu pai fomos enviados
É autor de “O sobrevivente: Me- material tinha 18 horas de filmagens, — Tomo remédio para dormir
para o campo de Crossohouse e, de lá, Como encara a política?
mórias de um brasileiro que escapou foi editado e caiu para meia-hora e — Sou contra qualquer violên- toda noite e fico triste quando conto a
fomos para a Marcha da Morte. An-
de Auschwitz” (Editora Record), que agora tenho um DVD com oito mi- cia, sou contra ditaduras. As dita- história. Mas quando termina a pa-
dávamos sem rumo em pleno inverno,
está na nona edição esgotada e que nutos que eu apresento ao final do duras estragam tudo. Quem tem lestra, me concentro no presente. Sou
dormíamos ao relento e a maior parte
escreveu com a colaboração da edu- meu testemunho. Mostro também mais dinheiro tem mais possibilidade boa companhia, gosto de rir e faço
morria congelada. Não tinha água.
cadora Tova Sender. E, segundo ele, um retrato tirado em 1940, quando de inverter a verdade, dizendo o piada, também não sou ranzinza. Meu
Colocávamos gelo na boca. Quando a
um novo livro está a caminho. eu tinha 12 anos, em uma escola. contrário. Joseph Goebbels, ministro intuito não é que tenham pena de
marcha partiu éramos umas 600 pes-
JF HOJE — Como é para o senhor soas e, em pouco tempo, fomos re- Uma vez libertado, por que o es- da propaganda nazista, dizia que mim, o livro também não foi escrito
lembrar-se de fatos tristes do pas- duzidos a 100, 50 pessoas. Quem colheu o Brasil para viver? uma mentira repetida muitas vezes com esse intuito. O que eu faço é para
sado e contá-los repetidas vezes para ajudava o outro era fuzilado. Nessa — Vim para o Brasil em 1948, virava verdade. Isso ainda acontece alertar que isso nunca mais aconteça
como turista, porque as irmãs de meu hoje e a consequência é que muitos de novo. Esses fatos da guerra ocor-
pai moravam aqui. Me apaixonei pelo ditadores moram em palácios en- reram porque ninguém esperava e o
‘O público jovem me entende mais que o Brasil. Só sabia uma palavra: ‘Escuta’, quanto o povo morre de fome. Eu mal se espalhou tão rápido que nin-
acho isso muito errado. guém reagiu. Por isso, eu digo: quan-
público adulto, não sei se por que ouvi inúmeras vezes no consulado
quando fui retirar o visto para entrar e Qual sua opinião sobre a política do você vir alguma coisa errada, reaja,
curiosidade... Fico feliz de eles não não deixe acontecer. E eu tenho es-
permanecer no país. Quando eu che- internacional?
passarem por privações como eu passei’ guei ao Brasil, as pessoas se cum- — Acho que todos têm direito à perança que a guerra e suas atro-
primentavam nas ruas, livres, sorrin- Justiça. Eu acho que os palestinos cidades não vão se repetir.

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