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Ivan Angelo estreou em 1961, com uma coletânea de contos, Duas Faces.
Escrevemos na época, para louvar o ficcionista “feito, definitivo”, que surgia. Seu
nome entrava para o pequeno grupo, mas significativo, de contistas brasileiros
novos, tais como Trevisan, Rawet, Louzeiro, Veiga, Fonseca, Scliar, Vilela.
Alguns anos mais tarde, quando preparávamos a edição de A Nova Literatura, parte
dedicada ao conto, escrevíamos em relação à estréia de Ivan Angelo: “Depois dessa
sua experiência, de 1961, Ivan Angelo não voltou a publicar ficção; falou-se que
estava escrevendo um romance e a julgar pelo tempo de silêncio, e com base no
seu primeiro livro, esperamos que a nova obra do autor venha sacudir mais uma
vez a pasmaceira que às vezes se abate sobre nossa ficção”.
O novo livro de Ivan Angelo não veio sacudir a tal pasmaceira, porque
atravessamos uma fase realmente rica em nossa ficção, com inúmeros autores,
consagrados e novos, dando o melhor de sua experiência. Mas o fato é que o
romance de Ivan Angelo, A Festa (Vertente Editora), é uma cacetada, como diria
João Antônio, uma obra rica de significado social e expressiva como experiência
estética.
Sem dúvida que a experiência anterior, da narrativa curta, lhe deu a matriz e o
ponto de partida para o novo livro. E é na aparente diversificação temática e
técnica que Ivan Angelo constrói o seu mundo artístico, que é dialeticamente o
“real empírico” e o testemunho que se faz documento.
Ivan Angelo, na abertura de seu romance, que leva o título de Documentário, lança
para o leitor certos dados objetivos da realidade social e política: vários instantes
da vida brasileira. Os dados reais estão lançados, como se toda esta parte servisse
de epígrafe para o livro. O que se tem depois é a ficção propriamente dita, a
técnica narrativa exemplar, os personagens que nos são desnudados pela inventiva
do autor. São reais tais personagens? Não interessa, pois eles agora servem na
condição de tipos num determinado meio. Quer o burguês desocupado ou o
delegado de política social bombástico ou a jovem prostituta ou o jovem militante
político, apareçam como peças da engrenagem, Marcionílio, o nordestino
injustiçado, completa o painel, que é o resultado da experiência real e estética do
ficcionista.
Trecho:
"...
Vestiu o maiô e o roupão, e em jejum mesmo caminhou até a praia. Estava tão fresco e
bom na rua! Onde não passava ninguém ainda, senão ao longe a carroça do leiteiro. Continuou a
andar e a olhar, olhar, olhar, vendo. Era um corpo a corpo consigo mesma dessa vez. Escura,
machucada, cega - como achar nesse corpo-a-corpo um diamante diminuto mas que fosse
feérico, tão feérico como imaginava que deveriam ser os prazeres. Mesmo que não os achasse
agora, ela sabia, sua exigência se havia tornado infatigável. Ia perder ou ganhar? mas
continuaria seu corpo-a-corpo com a vida. Alguma coisa se desencadeara nela, enfim.
E aí estava ele, o mar.
Aí estava o mar, a mais ininteligível das existências não-humanas. E ali estava a mulher,
de pé, o mais ininteligível dos seres vivos. Como o ser humano fizera um dia uma pergunta
sobre si mesmo, tornara-se o mais ininteligível dos seres onde circulava sangue. Ela e o mar.
Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega
de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas
compreensões...."
O Santo E A Porca
(Ariano Suassuna)
Eudoro Vicente manda uma carta a Eurico dizendo que lhe pedirá o
seu bem mais precioso.
Na casa do comerciante, moram a filha Margarida, a irmã de Eurico,
Benona, a empregada Caroba e, já há algum tempo, Dodó, filho do
rico fazendeiro Eudoro. Dodó vive disfarçado, finge-se de torto, deformado e sovina.
Assim conquistou Eurico, que lhe atribuiu a função de de guardião da filha, quem Dodó
namora às escondidas.
O desenrolar dos fatos se desencadeira com a carta enviada por Pinhão, empregado de
Eudoro e noive de Caroba, empregada de Euricão. Eudoro informa que fará uma visita
para pedir esse bem tão precioso a Eurico, que fica apreensivo, pois pensa que lhe
pedirá dinheiro emprestado. Eurico insiste em de dizer pobre, repetindo as frases: "Ai a
crise, ai a carestia".
Na sala da casa de Eurico, onde as cenas se desenrolam, há uma estátua de Santo
Antônio, de quem Eurico é devoto, e uma antiga porca de madeira, a quem ele dedica
especial atenção e que logo o público saberá que esconde maços de dinheiro.
Caroba, muito esperta, percebe que Eudoro pedirá margarida em casamento, é assim
que ela entende o bem mais precioso de Eurico que o fazendeiro, pai de Dodó, quer
saber. Então ela arma um circo para alcançar alguns objetivos: ganhar algum dinheiro,
pois quer casar com Pinhão, casar Dodó e Margarida além de Eudoro e Benona, que já
tinham sido noivos há muitos anos. Eudoro, viúvo, querias Margarida, mocinha;
Benona, solteirona, queria Eudoro, fazendeiro; Margarida queria Dodó, pois o amava;
Caroba e Pinhão se queriam; Euricão queria a porca, ou será que queria a proteção de
Santo Antônio para a porca?
Caroba negocia uma comissão com Eurico para ajudá-lo a tirar vinte contos de Eudoro
Vicente, antes que este peça dinheiro a Eurico. Acertam-se. Aí Caroba convence
Benona que Eudoro virá pedi-la em casamento e se dispõe a ajudá-la. São então tramas
de Caroba: fazer Eurico pedir vinte contos a Eudoro para o casamento (na realidade,
para um jantar); convencer Benona de que Eudoro viria pedi-la em casamento; fazer
Eudoro acreditar que pede Margarida; fazer Eurico crer que Eudoro pede Benona; armar
um encontro entre Eudoro e Margarida na penumbra; ficar no lugar de Margarida, com
o vestido dela.
Conseqüências das armações de Caroba: Dodó sente ciúme de Margarida, pois pensa
que ela irá encontrar-se com Eudoro; Pinhão sente ciúme de Caroba quando sabe que
ela irá em lugar de Margarida; Euricão desconfia que querem roubar sua porca
recheada, pois ouve falarem em devorar porca e pensa ser a sua, quando é a do jantar
que se encomendou para receber Eudoro; Pinhão desconfia de Eurico e o observa,
porque este age estranhamente.
Na hora do encontro entre Margarida e Eudoro, Caroba tranca Margarida no quarto,
manda Benona permanecer também no seu e vai, vestida de Margarida, receber Eudoro.
Dodó vê Caroba e pensa ver Margarida, pois está com o vestido dela. Para não ter que
se explicar, Caroba o empurra e tranca no quarto com Margarida. Caroba então veste
roupa de Benona e esta a de Margarida. Caroba então recebe Eudoro vestida de Benona.
Ele é enganado: pensa estar conversando com a antiga noiva, que se insinua a ele, na
penumbra não percebe que é Caroba. Ela o leva ao quarto de Benona e o tranca com a
ex-noiva, por quem agora já está novamente interessado.
Pinhão ao sair do esconderijo onde estivera observando a cena, vê Caroba e pensa ser
Benona e tenta seduzí-la. Ela reage e bate em Pinhão e o manda esperar por Caroba, que
tira as roupas de Benona e diz que acompanhou toda a cena, bate outra vez em Pinhão,
mas na confusão começam a se beijar. Aí destrancam as portas dos quartos de
Margarida e Dodó, Benona e Eudoro, e entram em outro.
Dodó e Margarida saem do quarto e pensam ter sido surpreendidos por Eurico, que
entra em casa dizendo estar perdido.Na verdade Eurico havia saído para enterrar sua
porca recheada dentro do cemitério. A conversa entre Eurico e Dodó é engraçada, pois
ambos se enganam: Dodó fala de Margarida, enquanto Eurico fala da porca que
desapareceu. Eurico pensa que o rapaz lhe roubou a porca, já que este o traiu. No
desespero, Eurico finalmente revela que a porca estava cheia de dinheiro guardado há
tantos anos.
Com os gritos da discussão, Pinhão e Caroba saem do quarto. Depois Eudoro e Benona
do seu. A cena é divertida: são três casais que de repente estão juntos e felizes ante
Euricão lamentando a perda da porca. Graças a Caroba os casais se entendem sem
Euricão nem Eudoro perceberem o engano de que foram vitimas. Margarida desconfiou
de Pinhão e afirmou que ele pegara a porca. Eurico lhe salta no pescoço e Pinhão acaba
contando, mas exige vinte contos para dizer onde escondeu a porca, os vinte contos que
Eurico conseguiu emprestados de Eudoro com a ajuda de Caroba. Com o vale do
dinheiro na mão, mostra a porca que estava na casa mesmo.
Então, Eudoro faz Eurico perceber que aquele dinheiro era velho e havia perdido o
valor. Eurico se desespera. Tentam dissuadi-lo da importância do dinheiro, mas ele
manda todos embora e fica só, com a porca e o Santo, tentando entender o que
aconteceu, qual o sentido de tudo que houvera.
O corpo
Esse é um livro de contos, o primeiro chama-se:
Meu cão: um menino pobre que com um “feitiço” fez um capeta para si. Com seu
capeta aprontava muitas, roubova bola de gude e enganava os outros quando criança,
quando adulto planejou, no dia da mulher, jogar soda na cara de uma, tudo encorajado
pelo capeta dele, bebeu pra criar coragem, brigou por conta da espuma do chope, a
vítima escolhida foi embora, e por fim ele só acabou bêbado.
Touro sob espora: um homem tinha matado muitos animais, mas mulher ainda não, foi
até a casa de uma, juntos beberam, ele se manteve sóbrio, mas a mulher já estava “alta”,
levou-a à banheira e ali matou-a, ainda lembrava-se que no tapete dormia um gato.
Vênus de Milo é a história de Dr.Plínio, um ex-juíz e sua esposa fiel, Sara, ele fica
apenas lembrando o passado junto a sua fascinação por braços.
Dente de ouro: uma forte chuva causou um raio que matou os primos Jerônimo e Bento
Matos, o irmão de um dos dois, João Batista, no dia da vigília pelos mortos buscou
Benevides para retirar os quatro dentes de ouro de um dos falecidos, assim fez, saindo
da casa pouco andou morreu por conta de um raio.
Nariz de gelo: narra apenas a visita de um rapaz a um necrotério e a descrição das coisas
horríveis que lá viu.
Mindinho seu vizinho: um rapaz que depois de um roubo, como castigo, teve os dedos
da mão direita arrancados e assim os empedimentos e a vergonha que tal desfalque lhe
causava.
A morte ao vivo é divido em cenas que mostram um homem que morre acompanhado
da série de informações fornecidas pela sua televisão ligada.
Ai-de, Ai-dos: em uma sala de espera de exames, todos que esperavam estavam
absorvidos pela televisão, de tal forma que apenas um homem e uma menina notam a
chegada de mais uma pessoa.
Ciscos nos olhos: O homem estava lendo, era natal, aparece então à sua frente um
menino ensangüentado, ele prefere não parar a leitura muitas vezes enterrompida, o
menino fica imóvel desconcentra o homem que não cede, quando esse fecha a história o
menino não estava mais lá.
Pré-amar e pré-amor: Helena, uma adolescente apaixonada por seu professor, Heitor,
chama a atenção ao máximo. Pediu a ele uma entrevista, lhe falou com franqueza, ele
iniciou um discurso e ela simplesmente foi e nunca voltou.
Peixe-mãe: fala sobre um homem que ficou rico e vivia em uma mansão, fato que nunca
imaginara. Então lembra sua infância, quando sua mãe sumiu e ele nem percebeu, e
criou-se sozinho na praia dos pescadores.
Uma flor no meio do caminho: O pai sofre um derrame e não leva mais a vida de bebida
e mulheres, fica na cadeira, em casa e paralítico, a mãe fica cuidando dele, ela aos nove
anos fora trabalhar de doméstica-babá, aos quinze virou recepcionista, o escritório era
tão escuro e não se acostumava com a claridade do lado de fora quando ia embora, por
isso não viu o carro e por isso talvez não chegou em casa.
Boca mouca: Uma mulher que depois de mudar de número, telefone e CEP viu que
tinha se esquecido de si mesmo no endereço antigo, então vai em busca dos amigos
passados, Rita sua melhor amiga, descobriu, tinha se tornado surda e muda, e assim
também reencontra a todo.
Gilberto Mendonça Teles publicou seu primeiro livro de poesia, Alvorada, em 1955.
Tem influência da poesia de Apollinaire, Camões, Carlos Drummond de Andrade, Cruz
e Sousa, García Lorca, João Cabral de Melo Neto, Jorge Guillen, Manuel Bandeira,
Olavo Bilac, Raul de Leoni e Raymond. Pertence à Terceira Geração do Modernismo
(1945/1962).
O crítico Mário da Silva Brito afirmou, sobre sua obra: a poesia tem sido para ele
[Gilberto Mendonça Teles], predominantemente, um jogo de armar. (...) Para tanto, não
hesita em casar vocábulos, ou fraturá-los, ou remontá-los, ou cruzá-los, ou decompô-los
e recompô-los. É um oleiro a lidar o idioma como um barro que se pode amoldar em
variadas formas."
É uma poesia altamente intelectual, a de Mendonça Teles. Mas também sabe ele que a
inteligência não vale a pena, se a alma é pequena... Seus melhores poemas traduzem o
ideal equilíbrio entre essas duas forças.
Poema escolhido: