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Instituto Superior de Educação e Ciências

Trabalho de Projecto da Licenciatura de Engenharia da Protecção Civil

Pico de Hubbert - Análise Morfológica aplicada à Gestão do Risco

(Abordagem Multidimensional de Problemas Complexos)

EnquadramentoTeórico

Autor: Nuno Miguel Alves de Sousa

Orientador: Doutor José Luís Ribeiro

1
1. AGRADECIMENTOS

Na fase final da frequência da Licenciatura de Engenharia de Protecção Civil, não poderia


deixar de manifestar de os sentidos agradecimentos a todos quantos, de um modo directo ou
indirecto, possibilitaram a realização deste trajecto nobre que assenta no estudo dos saberes
académicos que permitem dar cumprimento aos objectivos fundamentais da Protecção Civil:
Prevenir, Atenuar, Socorrer e Apoiar as populações em situação de Acidente Grave ou
Catástrofe ou na sua iminência.

Iniciando pelos mais próximos, um grande obrigado à Vanda, “minha” enorme esposa, que
assegurou de modo firme a gestão dos assuntos correntes da família e a educação da nossa
filha. O teu nome fica ligado a este trabalho pelo teu apoio e confiança constantes. A ti
também Inês, com os teus 9 anos mostras-te estar à altura de apoiar a mãe na minha ausência.

Aos meus pais que sempre fizeram força para que o seu filho se formasse e com o seu auxílio
financeiro possibilitaram esta aventura. Muito Obrigado.

À Câmara Municipal de Setúbal pelo seu apoio sem exigência de contrapartidas, em especial
à pessoa do Coordenador do Serviço Municipal de Protecção Civil e Bombeiros de Setúbal,
Sr. José Luís Bucho.

Ao Ex-Comandante da Companhia de Bombeiros Sapadores de Setúbal, Eng.º Mário Macedo


pela sugestão para que frequentasse o Curso de Engenharia de Protecção Civil, acreditando
que teria as qualidades necessárias para a sua frequência, e pelo seu contributo na qualidade
de docente das Cadeiras de Riscos Tecnológicos e Análise de Risco, onde sempre manteve a
postura que o caracteriza, a de rectidão e não beneficiação do seus conhecidos.

Aos colegas de trabalho que sempre me apoiaram quando tinha alguma dúvida ou necessitava
de efectuar alguma troca de serviço para me poder deslocar para a frequência de aulas, o meu
igual obrigado.

2
2. PRÓLOGO
1
“Por mim vai-se à cidade que é dolente

por mim se vai até à eterna dor,

por mim se vai entre a perdida gente.

Moveu justiça o meu supremo autor:

divina potestade fez-me e tais

a suma sapiência, o primo amor.

Antes de mim não houve cousas mais

do que as eternas e eu eterna duro.

deixai toda a esperança, vós que entrais.

Estas palavras em letreiro escuro

escritas vi por cima de uma porta;

e disse: «Mestre, o seu sentido é duro.»”

Canto III – Porta do Inferno

1
Moura, Vasco Graça. A Divina Comédia de Dante Alighieri – 3.ª Edição (pág. 47). Bertrand Editora, 1997.

3
3. RESUMO

A Protecção Civil tem como objectivos a prevenção, atenuação, socorro e apoio em situações
de acidente grave ou catástrofe, exercendo-se, entre outros, no domínio do levantamento,
previsão, avaliação e prevenção dos riscos colectivos. O presente trabalho procura validar a
necessidade de integração da terminologia dos problemas complexos no conjunto empírico de
áreas sobre as quais recai o processo de Gestão do Risco, como manifestação de novas áreas
de análise que não as que derivem dos convencionais riscos Naturais e Tecnológicos. O Pico
do Petróleo, é actualmente considerado, entre outros, como um risco colectivo com potencial
sistémico de rápida propagação de impactes a sectores vitais das sociedades contemporâneas
ocidentais. Será apresentada uma metodologia de análise, a Análise Morfológica Geral
(Multidimensional), desenvolvida para áreas de estudo sobre acontecimentos futuros, análise
de políticas e gestão estratégica.

Sendo uma técnica de análise pouco conhecida, sobre a qual existe pouca literatura, será
desenvolvido um estudo de caso fictício, com participantes fictícios e variáveis seleccionadas
nos relatórios resposta já elaborados por várias cidades mundiais ao problema da escassez de
recursos petrolíferos (Projecto II), de forma a ilustrar as possibilidades oferecidas pela Análise
Morfológica Geral. Em função do número de variáveis associadas a um problema complexo
multidimensional, o cálculo combinatório resultante da sua conjugação pode gerar um número
elevado de combinações de difícil gestão sem auxílio de uma ferramenta computacional. No
âmbito deste trabalho foi formalizado um pedido de apoio académico pro bono à Swedish
Morphological Society, a qual colaborará na produção de resultados, através da utilização do
software MA/CarmaTM (Computer-Aided Resource for Morphological Analysis),
desenvolvido pela Swedish Morphological Society.

4
4. ÍNDICE

1. Agradecimentos ................................................................................................................. 2

2. Prólogo ................................................................................................................................ 3

3. Resumo ............................................................................................................................... 4

4. Índice .................................................................................................................................. 5

5. Introdução .......................................................................................................................... 6

6. Enquadramento Teórico ................................................................................................... 9

Protecção Civil ....................................................................................................................... 9

Transição ............................................................................................................................ 9

Riscos Colectivos ............................................................................................................. 11

7. Problemas Complexos ..................................................................................................... 19

Pico de Hubbert .................................................................................................................... 30

8. Análise Morfológica ........................................................................................................ 33

9. Referências Bibliográficas e outras ................................................................................ 45

10. Epílogo .............................................................................................................................. 47

5
5. INTRODUÇÃO

Agostinho da Silva escreve, em 1940, na 3.ª série da obra “Iniciação – Cadernos de


Informação Cultural”, o caderno 2“O Petróleo”. Neste caderno (pág. 16), Agostinho da Silva,
avante ao seu tempo argumenta: “O petróleo é essencial para a civilização moderna: aparece
como veremos em grande número de actividades, mas o seu papel é preponderante no que
respeita aos transportes; o aumento do número de veículos automóveis, de linhas de aviação,
de navios que o utilizam nos seus motores torna-o um produto indispensável; se o petróleo se
esgotasse subitamente, aniquilaria toda a organização de transportes de mercadorias e o
mundo sofreria a maior catástrofe da sua história.”

Em Outubro de 2010, setenta anos após a publicação do caderno “O Petróleo”, na reunião


anual promovida pela Association for the Study of Peak Oil (ASPO), ocorrida em
Washington, o 3Dr. James Schelesinger efectuou uma dissertação com o título “The Peak Oil
Debate is Over”. Na sua apresentação afirmou que os defensores do Pico do Petróleo
ganharam o argumento intelectual, destacando o constrangimento que a ordem política
constitui para organização da resposta à ameaça que o Pico do Petróleo coloca às sociedades
actuais e futuras, conforme argumentou Agostinho da Silva, ao reconhecer o potencial de
catástrofe sistémica no caso de esgotamento súbito do Petróleo. Schelesinger argumenta que
“a ordem política responde ao que o público acredita hoje, não sobre o que acreditará
amanhã”, defendendo que a classe política “é resistente à implementação de acções que
inflijam dor e sacrifício sobre os que votam”, concluindo afirmando que os políticos aplicam
a prescrição Bíblica do Livro de Mateus (6:34): “Portanto, não devem andar preocupados
com o dia de amanhã, porque o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada
dia o seu mal.”
4
Colin Campbell define o Pico do Petróleo como “a taxa máxima de produção de petróleo em
qualquer área considerada, reconhecendo-se a sua qualidade de recurso finito, sujeito ao
decaimento de produção”, ironizando que 5“esta teoria é bastante simples e qualquer
consumidor de cerveja a entende. O copo começa por estar cheio e acaba vazio e quanto mais
rápido se beber mais rápido a cerveja desaparece.”

2
In: http://en.calameo.com/read/0000397117c18f92edf2b
3
Ex-Chairman da Comissão de Energia Atómica (1971-73); Ex-Secretário da Defesa (1973-75), Ex-Secretário
da Energia (1977-79) e Ex-Director da Central Intelligence Agency dos Estados Unidos da América.
4
In: http://en.wikipedia.org/wiki/Colin_Campbell_(geologist)
5
In: http://www.independent.co.uk/news/science/world-oil-supplies-are-set-to-run-out-faster-than-expected-
warn-scientists-453068.html

6
Hirsh (2005), no relatório “Peaking of World Oil Production: Impacts, Mitigation, and Risk
Management”, argumenta que o alcançar do pico de produção, apresenta “um problema de
gestão do risco sem precedentes aos Estados Unidos da América e ao Mundo. À medida que
nos aproximamos do pico do petróleo os combustíveis e a volatilidade de preços sofrerá um
impacto dramático, e, sem medidas atempadas de mitigação, os custos económicos, sociais e
políticos não terão precedentes. Existem medidas viáveis de mitigação, quer do lado da oferta
e da procura, mas para terem impactes substanciais, devem ser iniciadas com uma década de
avanço em relação ao pico.”

Apresentada uma síntese dos principais constrangimentos que um cenário de escassez de


petróleo coloca às sociedade modernas (Hirsh), e sendo defendido que, em tese, o poder
político não define e não aplica, de modo ordinário, medidas que possam representar custos
políticos devastadores, associadas à execução de políticas de minimização das expectativas
sobre aquilo que a sociedade considera tangível, mas que por força da escassez de recursos
energéticos se torna intangível (Schelesinger). Surge então a pergunta: Que modelo de gestão
do risco holístico adoptar num problema complexo com elevado potencial de afectação da
estrutura económica, social e política?

O conhecimento ao longo dos séculos fornece uma única certeza. Não existem modelos
6-7
definitivos. Peter Burke (2000) transcreve Ludwik Fleck: “Whatever is known has always
seemed systematic, proven, applicable and evident to the knower. Every alien system of
knowledge has likewise seemed contradictory, unproven, inapplicable, fanciful or mystical.”

A sociedade contemporânea ocidental assume, sustentada na informação que lhe é fornecida,


o conhecimento sistemático, provado, aplicável e evidente de que o seu modo de vida é
inalterável. Legget (2007) reconhece-o na declaração que profere ao Jornal “The
Independent”: 8«In 1999, Britain's oil reserves in the North Sea peaked, but for two years after
this became apparent, Mr. Leggett claims, it was heresy for anyone in official circles to say
so. "Not meeting demand is not an option. In fact, it is an act of treason," he says». Verificam-
se nestas palavras o brotar de que todo o conhecimento vindo de sistemas externos é
contraditório, não provado, inaplicável, irreal ou místico.

6
Burke, Peter. A Social History of Knowledge - From Gutenberg to Diderot. Marston Book Services Limited,
Oxford (2000).
7
Tradução própria: «O conhecimento pareceu sempre sistemático, provado, aplicável e evidente para o
conhecedor. Todo o sistema externo de conhecimento parece contudo contraditório, não provado, inaplicável,
irreal ou místico.»
8
Tradução própria: «Em 1999, as reservas de petróleo no Mar do Norte atingiram o Pico, mas dois anos após a
sua constatação, afirma o Sr. Legget, era uma heresia para alguém nos circuitos oficiais afirmá-lo. “Não
satisfazer a procura não é uma opção. De facto, é um acto de traição,” afirma.»

7
O presente trabalho pretende dar continuidade ao argumento intelectual dos defensores do
Pico do Petróleo, reconhecido por Schelesinger, efectuando uma revisão de literatura
(Projecto II) sobre o estado da arte referente à temática do pico do petróleo, em concreto sobre
relatórios problema e relatórios respostas, questionando a abrangência da definição legal do
termo Protecção Civil e a integração de problemas complexos não convencionais no processo
de gestão do risco, com apresentação/aplicação de uma técnica de análise de risco
multidimensional como instrumento de suporte à decisão para gestão de problemas
complexos.

8
6. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Protecção Civil

Transição

Castells (2010) identifica o momento actual como de transição. A organização social


contemporânea, em rede, dependente nas suas crescentes e infinitas conexões e
interdependências, pode sujeitar-se à verificação de vulnerabilidades não conceptualizadas
quando surgem riscos colectivos que não se enquadram no mix de actividades em rede de uma
área particular, em concreto na área da Protecção Civil. A verificarem-se tais
vulnerabilidades, será fruto de uma intelectualidade refém de paradoxos fixos no passado, no
não reconhecimento de uma nova sociedade em rede e a sua sujeição a fenómenos globais,
que indirectos, podem afectar decisivamente o quadro de missão das organizações. Castells
argumenta, que a actual mudança estrutural, incorpora diversas expressões manifestadas em
processos multidimensionais, processos que desafiam a capacidade de gestão das instituições
políticas baseadas nos Estados-Nação e nas exigências das comunidades locais.
9
“The urgency of a new approach to understanding the kind of economy, culture, and society
in which we live is heightened by crises and conflicts that have characterized the first decade
of the twenty-first century. The global financial crisis; the upheaval in business and labor
markets resulting from a new international division of labor: the unstoppable growth of the
global criminal economy; the social and cultural exclusion of large segments of the population
of the planet from global networks that accumulate knowledge, wealth, and power; the
backlash of the disaffected in the form of religious fundamentalism; the rekindling of
national, ethnic, and territorial cleavages, ushering in the negation of the other, and thus the
widespread resort to violence as a way of protest and domination; the environmental crisis
epitomized by climate change; the growing incapacity of political institutions based on the

9
Castells, Manuel. The Rise of the Network Society – The Information Age: Economy, Society and Culture
Volume I (Second Edition). Blackwell Publishing, Lda. United Kingdom (2010).
9
Tradução própria: «A urgência de uma nova abordagem para compreensão do tipo de economia, cultura e
sociedade na qual vivemos é realçada pelas crises e conflitos que caracterizaram a primeira década do século
vinte e um. A crise financeira global, a ruptura no ambiente dos negócios e dos mercados de trabalho resultante
da nova divisão internacional do Trabalho: O crescimento imparável da economia global do crime; a exclusão
social e cultural de largos segmentos da população planetária das redes globais de acumulação de conhecimento,
saúde e poder; a reacção negativa dos marginalizados na forma de fundamentalismo religioso; o reacendimento
das clivagens nacionalistas, étnicas e territoriais, florescendo na negação dos outros, e como tal, a disseminação
da violência como meio de protesto e domínio; a crise ambiental epitomizada pelas alterações climáticas; o
crescimento da incapacidade das instituições políticas baseadas nos Estados-Nação e nas procuras locais: Estas
são várias expressões diversificadas de um processo multidimensional, de mudança estrutural que ocorre no
meio da agonia e da incerteza. Estes são sem dúvida tempos conturbados.»

9
nation-state and local demands: these are all diverse expressions of a process of
multidimensional, structural change that takes place in the midst of agony and uncertainty.
These are indeed troubled times.”

No despontar de tempos conturbados aflora a necessidade de olhar de modo crítico para o


processo de gestão do risco, dos riscos colectivos, que no escopo do presente trabalho,
dedicado ao tema Pico de Hubbert, se materializa como um problema complexo.

10
Riscos Colectivos

À protecção civil incumbe a 10prevenção de riscos colectivos. O reconhecimento da expressão


de Castells “these are indeed troubled times” obriga analisar a concepção subjacente à
abrangência dos conceitos “risco”, “acidente grave” e “catástrofe”. Porquê? Porque a
definição sustenta-se na prevenção dos riscos colectivos em caso de ocorrência de acidente
grave ou catástrofe, de atenuar os seus efeitos e proteger e socorrer as pessoas e bens em
perigo quando aquelas situações ocorram. Configura o Pico de Hubbert um acidente grave ou
uma catástrofe? Hirsh defende que o alcançar do pico de produção do petróleo, apresenta “um
problema de gestão do risco sem precedentes aos Estados Unidos da América e ao Mundo”.
11
Tony Blair (13 de Setembro de 2000), após o bloqueio das refinarias do Reino Unido, que
conduziram ao esgotamento de combustível em 1400 postos de abastecimento da TOTAL,
1070 da SHELL, aproximadamente 1620 da ESSO, 1100 dos 1500 da BP e 1350 da
TEXACO, afirmou, admitindo a severidade da crise: "12There is a real danger now for the
National Health System and other essential services. Lives are at risk." O Primeiro Ministro
Britânico reconheceu que devido à ausência de combustíveis, e por curta duração, vidas
estavam em risco. O objectivo da protecção civil consiste na prevenção dos riscos colectivos
inerentes a situações de acidente grave ou catástrofe. Qualquer das definições (acidente grave
ou catástrofe) considera a susceptibilidade de atingir pessoas, com eventual surgimento de
vítimas.

Decorrente da mesma crise, Sir Peter Davis, Chefe executivo da cadeia de distribuição
Sainsbury (13segundo dados de 2010 fornece 19 milhões de clientes por semana) assinalou
preocupações sobre a distribuição alimentar, escrevendo ao Primeiro Ministro Tony Blair
afirmando que a cadeia de stocks na distribuição estaria exausta em “dias em vez de
semanas”.
14
O protesto iniciou-se em 5 de Setembro de 2000 e findou a 14 de Setembro, um dia após a
declaração pública de Tony Blair. Bastaram 9 dias de interrupção no fornecimento de
produtos petrolíferos no Reino Unido para a geração de uma crise nacional grave. As
ambulâncias receberam instruções para manter a velocidade abaixo dos 34,2 Km/h em todas
as deslocações não feitas em emergência para poupança de combustível.
10
N.º 1, do artigo 1.º, da Lei n.º 27/2006, de 3 de Julho (Lei de Bases da Protecção Civil)
11
In: http://www.independent.co.uk/news/uk/home-news/protesters-give-blair-60-day-ultimatum-699113.html
12
Tradução própria: «Existe agora o risco real para o Sistema Nacional de Saúde e outros serviços essências.
Vidas estão em risco.»
13
In: http://www.j-sainsbury.co.uk/index.asp?pageid=12
14
In: http://www.iwar.org.uk/cip/resources/PSEPC/fuel-price-protests.htm

11
Finda a crise, o Governo Britânico 15definiu os serviços essenciais que seriam primeiramente
abastecidos:

 Serviços de Emergência
 Forças Armadas
 Trabalhadores das áreas da saúde e apoio social
 Indústria alimentar
 Agricultura, tratadores de animais e veterinários
 Trabalhadores essenciais das centrais nucleares
 Águas, esgotos e drenagem
 Distribuidores de energia e combustíveis
 Transportes públicos
 Táxis licenciados
 Guarnições de salva-vidas costeiros
 Trabalhadores dos aeroportos e da aviação
 Correios, comunicação social e telecomunicações
 Trabalhadores do governo central e local
 Trabalhadores dos serviços financeiros essenciais incluindo os envolvidos na entrega
de dinheiro e cheques.
 Trabalhadores dos serviços prisionais
 Recolha e gestão de resíduos urbanos e industriais
 Serviços funerários
 Escolas e colégios especiais para população com deficiências
 Funcionários essenciais dos serviços diplomáticos

Neste trabalho considera-se, no reconhecimento da transversalidade da presença dos produtos


derivados do petróleo nas diversas actividades da sociedade humana, ilustrada no caso
exposto do Reino Unido (2000), que a sua afectação/diminuição comportará um risco
colectivo para as pessoas e para os seus bens, não por via directa, mas por via da afectação de
sectores vitais à organização da sociedade ocidental contemporânea, organizada em modelos
de concentração urbana e peri-urbana, com deslocação maciça de pessoas, bens e matérias-
primas por vias de comunicação percorridas pelo sector dos transportes (rodoviários,
ferroviários, aéreos e marítimos) cuja fonte primária de energia deriva do petróleo, na
organização da distribuição alimentar alicerçada em cadeias stocks e de distribuição que não

15
In: http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/925662.stm

12
garantem um fornecimento continuado de alimentos e bens em caso de crise, e que depende
de uma cadeia de produção mundial para manutenção da capacidade da oferta do cabaz de
produtos solicitado pela procura (carne, peixe, produtos agrícolas, frutas, automóveis, roupas,
açúcar, etc.); na utilização no sector agrícola de catalizadores para aumentos da produção
(fertilizantes) e de inibidores do florescimento de espécies invasoras (vegetais e insectos -
herbicidas e insecticidas) que derivam do petróleo.

Verificadas as condições que imponham uma interrupção de curta duração ou uma diminuição
gradual da oferta de petróleo para satisfação das necessidades sociais, a sociedade confronta-
se com efeitos globais configurando-se um problema multidimensional complexo,

O processo de prevenção de riscos colectivos pressupõe a realização de uma análise de risco,


integrada num processo global de gestão do risco.

A gestão do risco pode ser definida como as acções desenvolvidas por uma organização para
direcção e controlo das actividades relacionadas com o risco.

Toda a acção incluiu um processo. O processo de gestão do risco assume a aplicação


sistemática de políticas de gestão, de procedimentos e práticas para as actividades de
comunicação, consultoria, definição do contexto, identificação, análise, avaliação, tratamento,
monitorização e revisão do risco.
16
Como pode então ser definido o risco? A norma ISO/FDIS 31000 define o risco como o
“efeito da incerteza sobre os objectivos”. Concretizando o seguinte:

Nota 1: Um efeito é um desvio do esperado – positivo ou negativo.

Nota 2: Os objectivos podem ter diferentes aspectos (tais como objectivos financeiros, de
segurança e saúde, e objectivos ambientais) e podem aplicar-se a diferentes níveis
(estratégicos, organizacionais, de projecto, de produto e processo).

Nota 3: O risco é usualmente caracterizado pela referência aos potenciais eventos e


consequências, ou a uma combinação dos dois.

Nota 4: O risco é usualmente expresso em termos de uma combinação de consequências


de um evento (incluindo alterações nas circunstâncias) associado à probabilidade da sua
ocorrência.

16
ISO/FDIS 31000:2009(E). Risk management - Principles and guidelines (Final Draft).

13
Nota 5: A incerteza é o estado, ainda que parcial, da deficiência de informação
relacionada com a compreensão ou conhecimento sobre um evento, suas consequências
ou probabilidade.

A definição dos critérios de risco deve ser considerada pela organização que realiza o
processo de gestão do risco, segundo uma óptica de reflexão dos seus valores, dos seus
objectivos e dos recursos disponíveis. Contudo alguns critérios podem ser impostos ou
derivarem do enquadramento legal em vigor.

No caso do Pico de Hubbert, um município necessitaria de analisar quais os sectores passíveis


de afectação em caso de disrupção no fornecimento de produtos petrolíferos no curto e longo
prazo e na sua sequência, verificar no quadro das suas atribuições legais, se deverá proceder à
implementação de um processo de gestão do risco.
17
Os municípios dispõem de atribuições nos seguintes domínios:

a) Equipamento rural e urbano;

b) Energia;

c) Transportes e comunicações;

d) Educação;

e) Património, cultura e ciência;

f) Tempos livres e desporto;

g) Saúde;

h) Acção social;

i) Habitação;

j) Protecção civil;

l) Ambiente a saneamento básico;

m) Defesa do consumidor;

n) Promoção do desenvolvimento;

o) Ordenamento do território e urbanismo;

p) Polícia municipal;
17
N.º 1, do artigo 13.º, da Lei n.º 159/99 de 14 de Setembro (Estabelece o quadro de transferência de atribuições
e competências para as autarquias locais)

14
q) Cooperação externa.

A "Peak Oil Task Force” da cidade de Bloomington (Estados Unidos da América - 2009),
considerou que os domínios do contexto económico, dos serviços municipais, dos transportes,
do uso do solo, da habitação e da sustentabilidade poderiam ser afectados.

A cidade de Bristol (Reino Unido - 2009) considerou os seguintes factores: coesão social,
planeamento de emergência, transportes e acessibilidade, alimentação, cuidados de saúde,
serviços públicos, sectores económicos chave, energia e infraestruturas.

A “San Francisco Peak Oil Preparedness Task Force” (Estados Unidos da América - 2009)
estudou os sectores da energia, economia, segurança alimentar, transportes, distribuição de
água, gestão de resíduos e reciclagem, serviços de emergência, construção, protecção de
populações vulneráveis, funções sociais.

Dunedin, a segunda maior cidade da Ilha Sul da Nova Zelândia (2010), considerou os sectores
da indústria, agricultura, floresta, turismo, comércio e negócios, universidade, aeroporto,
transporte de bens e mercadorias.

A cidade de Maribyrnong (Austrália - 2009) seleccionou as áreas da entrega alimentar, gestão


de resíduos, gestão de frotas, manutenção de edifícios, serviços e comunicações, tecnologia de
informação, cuidados materno-infantis, infra-estruturas e manutenção de estradas,
planeamento estratégico (estradas) e planeamento estratégico (segurança alimentar).

Portland (Estados Unidos da América - 2007), dedicou atenção à análise do uso do solo,
transportes, alimentos e agricultura, ambiente económico e serviços públicos.

Quando comparados os sectores/áreas sobre os/as quais algumas cidades mundiais se


debruçaram para início de materialização de um processo de gestão do risco, verifica-se uma
concordância, na generalidade, dos sectores/áreas objecto de atenção com o domínio de
atribuições dos municípios portugueses.

No âmbito da protecção civil municipal, define a Lei n.º 65/2007, de 12 de Novembro que são
objectivos fundamentais da protecção civil municipal, entre outros, a prevenção no território
municipal dos riscos colectivos e a ocorrência de acidente grave ou catástrofe deles
resultantes; e atenuar na área do município os riscos colectivos e limitar os seus efeitos,
exercendo-se a actividade de protecção civil, entre outros, no levantamento, previsão,
avaliação e prevenção dos riscos colectivos do município; e análise permanente das
vulnerabilidades municipais perante situações de risco.

15
Deparamo-nos então com os outros dois termos: acidente grave ou catástrofe e com a
necessidade de prevenção, atenuação e limitação dos seus efeitos. Defender-se-á
seguidamente que a legislação da protecção civil não permite a necessária clareza, inibindo
uma abrangência superior devido ao conceito dos riscos colectivos, manietado na sua
liberdade pela associação directa, contudo ambígua, aos termos acidente grave e catástrofe.
Regressemos aos riscos para adiante avançar.
18
Quando consultado o site da Autoridade Nacional de Protecção Civil, na área Prevenção e
Protecção, verifica-se a enunciação de duas grandes famílias de riscos, os naturais e os
tecnológicos. Olhados em detalhe os subgrupos ali constantes; os Naturais: Sismos, Cheias,
Secas, Incêndios Florestais, Precipitações Intensas, Trovoadas, Ondas de Calor, Vagas de
Frio, Nevões, Ciclones, Tornados, Acidentes Geomorfológicos e Segurança de Barragens; e
os Tecnológicos: Substâncias Perigosas em Indústrias e Armazenagens, Transporte de
Mercadorias Perigosas, Gasodutos e Oleodutos, Emergências Radiológicas, Ameaças NRBQ.

Podemos inferir que a ameaça sistémica da escassez de recursos petrolíferos, configurada


como multidimensional, com justificação nos sectores/áreas objecto de estudo por diferentes
cidades mundiais (ver pág. 14/15), não integra o mix de riscos analisados por parte da ANPC.
Tal poder-se-á dever ao conceito associado dos riscos colectivos inerentes a situações de
acidente grave ou catástrofe. Este trabalho defende o estudo da extensão dos conceitos de
acidente grave ou catástrofe e sua aplicabilidade a outras tipologias de risco que não se
enquadram no mix convencionado, mas que pela sua integração sistémica, possuem a
probabilidade de contaminação, com efeitos potencialmente devastadores de um espectro
alargado de sectores da sociedade, com consequências superiores aos riscos
convencionalmente tipificados. Relembre-se as palavras de Agostinho da Silva: “O mundo
sofreria a maior catástrofe da sua história”.

A leitura desta afirmação conduz-nos à ideia de escala. Existe uma diferença quanto à escala e
magnitude dos impactes devidos aos efeitos adversos dos acidentes, emergências, crises,
desastres e catástrofes?

As catástrofes diferem qualitativamente dos desastres e das emergências no que concerne ao


desmembrar da vida social, deixando as comunidades de funcionar organicamente (JÖnsson,
2007; fundamentado em Quarantelli, 1997). Quarantelli define um desastre como algo que
inflige impactes significativos na sociedade, em termos de consequências negativas de larga

18
In: http://www.prociv.pt/PrevencaoProteccao/Pages/Apresentacao.aspx

16
escala, contudo, no caso de um desastre, ainda remanescem várias actividades da sociedade
em funcionamento suportando essa mesma sociedade. O investigador distingue igualmente a
diferença qualitativa que existe entre desastres e emergências, argumentando que as
emergências podem ser confrontadas pelos recursos locais, enquanto um desastre exige a
assistência de entidades externas.

Já o conceito de acidente (JÖnsson, 2007; fundamentado em Hollnagel, 2004) pode ser


definido como “um evento ou ocorrência de curta duração, súbita e não expectável, geradora
de efeitos indesejados”. Se atentarmos que um sistema complexo, incorpora um largo número
de componentes de definição ou materialização vaga, e que estes interagem de diferentes
formas, verifica-se a estreiteza do conceito de acidente.

Primeiro, um acidente é tendencialmente observado como um efeito nas actividades humanas


em vez de ser observado pela ocorrência de per si, como por exemplo um acidente
tecnológico. Quando ocorre uma explosão, a primeira pergunta incorpora empiricamente as
seguintes interrogações: Quantas pessoas ficaram feridas, qual o n.º de mortos, quais os danos
nas infra-estruturas, nos edifícios, no tecido socioeconómico? Só num segundo momento é
dedicada atenção às causas, ou seja, à ocorrência de per si.

Segundo, a modelação e análise de acidentes incide preferencialmente na identificação das


causas e condições que conduzem à verificação de eventos/acidentes críticos. A concordância
com esta assumpção afasta o foco da atenção da escala do evento. A determinação da raiz, da
origem, da causa do evento é o desencadeante para a classificação do evento como potencial
acidente. Mas não só. O desencadeante deve possuir características que despoletem efeitos
indesejados. Se os efeitos forem de curta duração, ainda que súbitos e não expectáveis,
estamos na presença de um acidente grave. Na possibilidade dos meios e recursos locais
poderem efectuar a atenuação, o socorro e o apoio os agentes locais lidam com uma
emergência. Se a magnitude dos efeitos nefastos do acidente suplantarem a capacidade de
resposta local, necessitando de apoio e meios externos, estamos num cenário de desastre.

A Lei de Bases da Protecção Civil define catástrofe como “o acidente grave ou a série de
acidentes graves susceptíveis de provocarem elevados prejuízos materiais e, eventualmente,
vítimas, afectando intensamente as condições de vida e o tecido socioeconómico em áreas
ou na totalidade do território nacional”.

17
Ora uma catástrofe é definida como o acidente grave ou série de acidentes graves, sobre o
qual já se elaboraram algumas considerações. Importa assim analisar a definição à luz da Lei
portuguesa. Um acidente grave “é um acontecimento inusitado com efeitos relativamente
limitados no tempo e no espaço, susceptível de atingir as pessoas e outros seres vivos, os
bens ou o ambiente.”

Podemos então perguntarmo-nos: O que é um acontecimento inusitado? Define a legislação


da Protecção Civil o termo? Decorrente do estudo das diferentes peças legais verifica-se que
19
não. Após consulta em dicionário, inusitado significa: (Lat. Inusitatu), adj. Desusado,
desconhecido, estranho, novo, extraordinário, invulgar.

Terá o legislador permitido uma ambiguidade na ausência de definição do termo, de modo a


não limitar o campo de estudo da gestão do risco, fruto das elevadas interdependências e
ligações internas e externas das sociedades contemporâneas, num mundo crescentemente
globalizado?

Este projecto assumirá que sim. Assumirá que o legislador, na sua ponderação, decidiu
utilizar um termo de definição aberta, no qual possam ser incluídos fenómenos
desconhecidos, novos, extraordinários e invulgares, não concretizando quais os
acontecimentos inusitados que podem conformar um acidente grave ou catástrofe, permitindo
à protecção civil, e aos que estudam os perigos potenciais, a análise das ameaças mais
relevantes para prevenção dos riscos colectivos, independentemente da sua natureza. A
20
dovela central (chave) são os efeitos e a(s) causa(s). A definição legal portuguesa de
acidente grave permite, fruto da não definição do significado de “acontecimento inusitado”
que se possa abordar o processo de estudo e análise do risco, quer pela causa (factores
desencadeantes, simples ou complexos), negligenciando a escala de tempo entre a
manifestação da causa e a ocorrência do evento, ou simplesmente o evento em si (momento
da ocorrência).

A assumpção desta realidade amplificará e possibilitará a diversificação das áreas de estudo


no campo da protecção civil, caminhando-se para uma matriz de perspectiva holística, não
somente centrada nos riscos clássicos (naturais e tecnológicos), mas sim em todos e quaisquer
factores de risco que sejam susceptíveis de afectar intensamente as condições de vida e o
tecido socioeconómico em áreas ou na totalidade do território nacional.

19
Dicionário Universal da Língua Portuguesa – 1.ª Edição. Texto Editora, Lisboa, 1995.
20
In: http://es.wikipedia.org/wiki/Dovela

18
7. PROBLEMAS COMPLEXOS

Um sistema pode ser considerado complexo, se incorporar um largo número de componentes


de definição ou materialização vaga, que interajam de diferentes formas. Relida a definição
não é possível deixar de observar a ambiguidade que a mesma integra. Um largo número de
componentes não precisa, não concretiza um espaço coerente para quantificação analítica.
Acolhendo a sustentação de envolvimento de um largo número de componentes torna-se
complexa a análise das suas interacções. Rittel and Webber (1973), defenderam que a
“procura de bases científicas para confrontação dos problemas das políticas sociais está
destinado a falhar, devido à natureza destes problemas.” Estes problemas podem alcunhar-se
de complexos. JÖnsson (2007) sustenta que o espectro alargado dos sistemas existentes numa
sociedade de risco e de gestão da emergência, podem ser classificados como
sociotecnológicos e complexos. São sociotecnológicos porque envolvem sistemas e sub-
sistemas tecnológicos (equipamentos de diferentes tipo) e um quadro social (indivíduos,
grupos, organizações). Esta visão (Rittel and Webber) é contraditória com a lógica cartesiana.
Com a publicação do 21”Discours de La Méthode Pour Bien Conduire Sa Raison, Et Chercher
La Vérité Dans Les Sciences”, Descartes (1637) distinguiu 4 momentos, que se traduzem:

 “O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse
claramente como tal; ou seja, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e de
não compreender nada mais no meu julgamento que não se apresentasse tão clara e
distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum de duvidar dela.

 O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades sob exame em tantas parcelas
quantas possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las.

 O terceiro, o de conduzir os meus pensamentos em tal ordem, iniciando pelos objectos


mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, degrau a
degrau, até ao conhecimento dos mais complexo, e presumindo uma certa ordem
mesmo nos objectos entre os quais segundo a sua própria natureza não se precedem ou
antecedem naturalmente uns aos outros.

 E por último, o de efectuar em todos os casos, enumerações tão completas, e revisões


tão gerais para que eu possa assegurar que nada fora omitido.

Esta longa série de razões simples e fáceis, pelas quais os geómetras costumam alcançar as
conclusões das suas mais difíceis demonstrações, conduziu-me à imaginação de que todas as
21
In: http://www.gutenberg.org/files/13846/13846-h/13846-h.htm

19
coisas, até ao nível de conhecimento onde o Homem é competente, se entrelaçam mutuamente
da mesma forma, e de que não existe nada afastado de nós para além do nosso alcance, ou
tão escondido que não possamos descobri-lo, desde que nos abstenhamos da aceitação da
verdade pelo falso, preservando continuamente nos nossos pensamentos a ordem necessária
para a deduzir uma verdade de outra.”
22
Lagadec (2009) argumenta que a ciência do risco foi desenvolvida e consolidada segundo
uma forte filosofia cartesiana. Esta desenvolveu-se segundo “a identificação, o isolamento, a
medição, a estatística, as lições do passado, as boas práticas, as respostas eficazes prontas a
utilizar”. Argumenta ainda que “o conhecimento” desenvolveu-se para a gestão de crises,
relacionado com a vigilância, alertas, mobilização, equipas de crise, centros de crise, planos
de crise, comunicações de crise, mitigação, recuperação e exercícios de crise. No caso de
eventos magnificados aplica-se a mesma lógica: planos mais detalhados, ferramentas mais
poderosas, mais coordenação e mais concentração de poder. Lagadec argumenta finalmente
que esta visão está ultrapassada em larga medida, atribuindo a sua fundamentação ao
reconhecimento de que os problemas que enfrentamos desenvolveram-se muito além das
fronteiras compartimentalizadas da gestão da emergência, desenvolvem-se para a vastidão
23
instável e caótica da “Terrae Incognitae”. O dicionário on-line Merrian-Webster define
“Terrae Incognitae” como território desconhecido: um País não explorado ou campo do
conhecimento.

A ciência desenvolveu-se para lidar com problemas controláveis. Problemas associados à


definição de políticas não podem ser conclusivamente descritos. Além disso, numa sociedade
pluralista e reconhecedora da diversidade, nada existe comparável com a indisputabilidade
dos bens públicos; atente-se a propósito da indisputabilidade dos bens públicos com a recente
24
crise política ocorrida na Tunísia, que em área distinta da protecção civil, revela a
importância da complexidade da afectação dos fenómenos sociais por fenómenos que
inconcebivelmente ocorreriam em situação de equidade. O Pico de Hubbert possui o potencial
para gerar situações de inequidade, logo complexo. Voltando ao exemplo, o facto de
Mohamed Bouazizi se imolar frente à Câmara Municipal de Sidi Bouzid, no dia 17 de
Dezembro de 2010, devido à polícia ter confiscado a sua banca de venda de vegetais,
perdendo a única forma de ganhar o seu sustento, ele que era um Engenheiro de Tecnologias
22
Lagadec, Patrick. A New Cosmology of Risks and Crises: Time for a Radical Shift in Paradigm and Practice.
The Policies Studies Organizations. 2009.
23
In: http://www.merriam-webster.com/dictionary/terrae%20incognitae
24
In: http://www.opendemocracy.net/dyab-abou-jahjah/tunisia-moment-of-destiny-for-tunisian-people-and-
beyond

20
de Informação desempregado, gerou um movimento de revolta nacional obrigando o
Presidente Ben Ali a procurar refúgio na Arábia Saudita, deixando instalado no País o Estado
de Emergência.

O que seria controlável isoladamente (polícia confisca uma banca de venda de vegetais não
licenciada, garantindo o cumprimento da Lei) transformou-se num evento social de
proporções incertas, simplesmente porque a definição das políticas não pode ser
conclusivamente descrita quando se trata da indisputabilidade dos bens públicos (o acesso ao
emprego, a fonte de rendimento). Relembre-se a Crise no Reino Unido em 2000. A
dificuldade de acesso a fonte de energia a preços acessíveis (indisputabilidade do bem
público), conduziu a protestos que encerraram as refinarias, com as consequências já
descritas. O acto isolado de aumento dos combustíveis transformou-se num evento social de
proporções não previstas, que colocaram os sistemas vitais do país sobre pressão.

Rittel (1973) sustenta que as políticas de resposta aos problemas sociais não podem ser
classificadas de modo claro como correctas ou falsas; e não faz sentido falar sobre “soluções
óptimas” para problemas sociais sem que antes se verifique a imposição de qualificações
severas. Mais grave, não existe soluções óptimas no sentido da obtenção de respostas
definitivas e objectivas.

Ritchey (2010) adopta os dez critérios para problemas complexos definidos por Rittel (1973).

Pela sua importância no contexto deste trabalho transcreve-se para a língua portuguesa
(tradução própria), com eventuais adaptações, as dez propriedades sugeridas por Rittel (1973)
para as questões relacionadas com o planeamento de problemas complexos.

1. Não existe uma fórmula definitiva para um problema complexo.


Para qualquer problema de variáveis controláveis, pode ser desenvolvida uma fórmula
contendo toda a informação que a computação necessita para resolução do problema,
assumindo que se conhece a área de estudo.

Tal não é possível nos problemas complexos. A informação necessária para


compreensão do problema depende da ideia do investigador para a sua resolução. O
que é dizer: De modo a descrever o problema complexo em suficiente detalhe, o
investigador tem que desenvolver um inventário exaustivo de todas as soluções
concebíveis à frente do tempo. A razão deve-se a que cada pergunta que solicite
informação adicional depende do entendimento do problema e da sua resolução
naquele momento. A compreensão e a resolução do problema estão concomitantes

21
uma com a outra. Assim, de forma a antecipar todas as questões, de modo a antecipar
toda a informação requerida para resolver o problema antes do tempo, é necessário o
conhecimento de todas as soluções concebíveis. (Rittel 1973)

Ritchey (2010) argumenta que Jonathan Rosenhead (1996) apresentou os seguintes


critérios para resolver os problemas de planeamento social complexos:

 Acomodar perspectivas de alternativas múltiplas em vez de prescrição de


soluções singulares
 Funcionamento de grupos de interacção e iteração em vez de cálculos em
gabinete fechado
 Gerar o sentimento de pertença ao espaço de formulação do problema através
de transparência
 Facilitar a representação visual gráfica para exploração sistemática, em grupo,
de um espaço solução
 Focalização nas relações entre as alternativas discretas em vez de variáveis
contínuas
 Maior concentração na possibilidade do que na probabilidade

2. Problemas complexos não possuem regras delimitadoras.


Na resolução de um problema matemático ou na elaboração de um plano de
financiamento, a resolução do problema ou o cronograma das operações de financeiras
assume que o problema será resolvido e que as operações do projecto de
financiamento tem um término que culmina no cumprimento das obrigações
vinculadas ao processo de financiamento, em suma, existem fórmulas e critérios que
informam o quanto ou quando foi alcançado o espaço solução.

Rittel argumenta que tal não acontece no planeamento de problemas complexos. Nos
problemas complexos nunca se chega a um final, a uma operação completa ou a uma
solução correcta. Tal deve-se à não possibilidade de definição de critérios objectivos
numa corrente de causas dinâmicas e evolutivas, que interagem num sistema aberto,
num sistema que permeia a troca constante de energia, matéria ou informação com o
meio de forma a produzir uma readaptação constante às condições em mudança. O
investigador, planeador ou decisor de problemas complexos, param os processos de
investigação, análise, planeamento, decisão, implementação e avaliação quando
esgotam os recursos disponíveis, quando é atingido um resultado “suficiente” ou
quando sentem que”fizemos o possível…”.

22
3. As soluções para problemas complexos não são verdadeiras ou falsas, são
aceitáveis ou não aceitáveis.
Existem critérios convencionados para avaliar objectivamente se a solução de uma
equação ou problema proposto é correcta ou falsa. Estas soluções podem ser
analisadas por avaliadores independentes que dominem os critérios associados ao
problema, e as respostas derivadas apresentar-se-ão, na maioria dos casos, sem
ambiguidade.

Para problemas complexos, tal não se verifica. Normalmente, verifica-se que podem
existir equipas que estão igualmente dotadas de recursos, igualmente interessadas ou
com igual atribuição de competências para avaliação de soluções, ainda que não
tenham o poder formal de decisão para determinação do correcto ou incorrecto. É
expectável que os seus julgamentos variem de acordo com o seu grupo ou interesses
pessoais, com o seu conjunto de valores e as suas predilecções ideológicas. A sua
avaliação das soluções propostas pode ser exprimida como boa ou má, ou mais
provavelmente, como melhor ou pior, ou como satisfatória ou suficientemente
aceitável.

4. Não existe um teste último e imediato para a solução derivada de um problema


complexo.
Para problemas lineares, é possível determinar o quantificar o quanto uma solução é
aceitável. A verificação de uma solução está inteiramente sobre controlo das poucas
pessoas envolvidas e interessadas no problema.

Com problemas complexos, qualquer solução, após a sua implementação, pode gerar
vagas de consequências com magnitudes e intensidades – virtuais e sem ligação – que
se prolonguem por extensos períodos de tempo. Mais frequentemente, as
consequências da solução, em momentos posteriores, podem comportar repercussões
indesejáveis que suplantaram as vantagens identificadas, ou as vantagens alcançadas
até ao momento em que são avaliadas. Em tais casos, o decisor ficaria em posição
mais favorável, caso decidisse não executar o plano.

As consequências não podem ser verificáveis antes da dissipação total das ondas de
repercussão da implementação de um plano, e não existe forma de mapear todas as
ondas através de todas as vidas afectadas avante do tempo ou dentro de um espaço-
tempo definido.

23
5. Toda a solução para um problema complexo é uma “operação de tiro único”;
devido à inexistência de oportunidade para aprendizagem por tentativa-erro,
toda a tentativa conta significativamente.
Em ciências e no campo das matemáticas, nos jogos de xadrez, na resolução de
puzzles ou no design de engenharia mecânica, a resolução de problemas pode tentar
várias soluções sem receio ou penalização dos resultados. Qualquer que seja o
resultado destas experiências individuais, tal não tem significância para o sistema
associado ou para o curso evolutivo das questões sociais.

No planeamento de problemas complexos toda a solução implementada tem


consequência. A solução adoptada regista um percurso, deixa um registo, que não
pode ser desfeito. Não se pode construir uma auto-estrada para ver como funciona, e
depois corrigi-la de forem detectadas performances insatisfatórias. Grandes decisões
sobre a coisa pública são irreversíveis, e as consequências que deixam tem um longo
período de vida. O efeito de experiências curriculares (educação) na vida de um aluno
vai acompanhá-lo ao longo da sua vida adulta.

Quando as acções a tomar são irreversíveis e quando as suas consequências são de


longo prazo, todas as tentativas contam. E qualquer tentativa para reverter a decisão ou
para a corrigir das consequências indesejáveis, colocam um novo problema complexo,
que por seu turno está sujeito aos mesmos dilemas.

6. Os problemas complexos não possuem um conjunto enumerável (ou uma


descrição exaustiva) de soluções, nem existe um conjunto de operações
permissíveis bem descriminadas que possam ser incorporadas no plano
Não existe critério que permita provar que todas as soluções para um problema
complexo foram identificadas e consideradas.

Pode acontecer que nenhuma solução seja encontrada, devido à inconsistência lógica
do enquadramento da problemática inicial (por exemplo, a resolução do problema
pode chegar a uma descrição que requeira que o acontecimento A e não-A aconteçam
aos mesmo tempo). A pressão do Problema “alterações climáticas” induz a
necessidade de diminuir de emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera
(CO2 ou CO2 equivalente), sendo proposta uma diminuição de 20% nas emissões de
CO2 até 2020, menos emissões que derivam da queima de produtos com origem fóssil
(combustíveis-petróleo). O acontecimento A  aumento do preço dos combustíveis,

24
gera pouca variação na procura devido a este segmento ter uma 25procura não elástica,
não existindo produtos substitutos em dimensão e quantidade suficiente para que as
populações e a economia não sintam os efeitos de forma extremamente negativa
quando os preços dos combustíveis aumentam. As emissões não se reduzem por
menor procura, diminuem-se por arrefecimento geral da economia, devido ao aumento
generalizado de preços, diminuindo-se o consumo geral de bens (consumo das
famílias); o que conduz ao encerrando de empresas e ao aumento do desemprego, com
toda a pressão que estes problemas colocam aos Estados. O acontecimento não-A 
não aumento do preço dos combustíveis, não diminui a procura porque os
consumidores, sendo um produto essencial, não sentem necessidade de diminuir a
procura, verificando-se, em caso de crescimento económico, um aumento da procura
pela maior disponibilidade de rendimento disponível, o que potencia o consumo.

Para o problema “alterações climáticas”, quer a adopção do acontecimento A ou o


não-A, não fornecem uma resposta clara quanto à política a executar (diminuição dos
gases com efeito de estufa), sendo na sua matriz um problema complexo, não se
verifica um conjunto de operações permissíveis bem discriminadas que possam ser
incorporadas no plano.

Nos problemas complexos de problemáticas indefinidas e de espaços solução


indefinidos, o conjunto de planos de acção apoia-se num julgamento realístico, na
capacidade de acomodar ideias “exóticas” e na existência de confiança e credibilidade
entre o planeador e o público, que em conjunto decidirão: “Sim, vamos tentar isto.”

7. Todo o problema complexo é essencialmente único.


Para dois problemas em estudo, podemos encontrar uma propriedade que os distinga,
tal como podemos encontrar um infinito número de propriedades que os relacione,
mas cada um é único em sentido trivial. A expressão “essencialmente único” pretende
destacar que apesar de um roll extenso de similitudes entre um problema e os que o
antecedem ou precedem, existirá sempre uma propriedade adicional distintiva que será
de importância desproporcionada.

Não existem classes de problemas complexos, no sentido em que as fórmulas para a


obtenção de soluções possam ser desenvolvidas para aplicação generalizada a todos os
membros da mesma classe.

25
In: http://www.energybulletin.net/node/27600

25
Pode-se definir uma estratégia de implantação obrigatória de espaços agrícolas nas
cidades a partir do momento quem que se atinja determinado valor crítico no preço
combustíveis, devido ao potencial de afectação nas cadeias de stocks e distribuição
alimentar. As diferenças entre as cidades, no seu estilo de vida, mais urbano ou mais
bucólico, os espaços de reserva agrícola existentes, os recursos hídricos disponíveis
para rega, o saber existente sobre o ciclo de produção das colheitas, a existência de
sementes, a existência de alfaias agrícolas, entre outros, diferem de cidade para cidade,
sendo necessário, atempadamente, efectuar estudos que garantam a sustentabilidade
alimentar no caso de ruptura nas cadeias de distribuição, o que é passível de ocorrer no
caso de interrupções de fornecimento de combustíveis de curto prazo ou da diminuição
da oferta num movimento de declínio progressivo e contínuo.

Qualquer medida ou programa complexo é único em função das características sociais


locais e dos recursos locais disponíveis. A estratégia A aplicada na Cidade X pode não
ser eficaz na cidade Y, dados os factores endógenos de cada território. No cenário do
Pico de Hubbert é imperativo analisar, localmente, município a município, as
características de cada concelho. Não podem ser aplicados modelos segundo uma
visão assente num mundo globalizado.

8. Todo o problema complexo pode ser considerado uma derivação de outro


problema
Um problema pode ser descrito como a discrepância entre o estado actual de
determinado problema e o estado em que deveria estar. O processo de resolução do
problema inicia-se com a procura da razão causal explicativa da discrepância. A
remoção da causa coloca outro problema do qual o problema original é um sintoma.
Ao invés, pode ser considerado o sintoma de outro problema de complexidade
superior.

Ficticiamente, os sectores da agricultura, pescas e transportes assumem que o preço


sustentável para um litro de gasóleo é 1€. Contudo, devido às leis da oferta e da
procura, verifica-se em determinado momento que o custo do litro de gasóleo é de
1,5€. O problema encontra-se na discrepância entre o valor óptimo de sustentabilidade
(1€) e o valor real pago nos postos de abastecimento (1,5€). Ao resolver o problema, o
governo pode optar por subsidiar estes sectores da economia (agricultura, pescas,
transportes) diminuindo ou eliminando a discrepância existente. Ao iniciar o processo
de resolução da discrepância e removendo a sua causa (diferença de preços) descobriu

26
o problema original (sintoma), a diminuição das reservas existentes de petróleo
convencional. Ao remover a discrepância, descobriu um sintoma de complexidade
superior. Não existindo mais capacidade produtiva para extracção de petróleo
convencional, os preços já não voltarão ao valor de sustentabilidade (1€). Contudo, o
Governo, fruto dos programas de diminuição dos deficits públicos, necessita de
efectuar cortes no lado da despesa do estado, nomeadamente nos subsídios nos
sectores da agricultura e pescas, devido a um novo acordo europeu para o sector da
agricultura e pescas. Ao retirar os subsídios atribuídos o valor de um litro de gasóleo já
não é de 1,5€, é de 2€. A resolução da discrepância inicial revelou um problema de
complexidade superior.

Surge aqui uma dificuldade com a aplicação das medidas (Rittel define-o como
incrementalismo). Esta doutrina (incrementalismo) sugere a aplicação da política de
pequenos passos, na esperança do contributo sistemático para o melhoramento global.

Se contudo, o problema for “atacado” num nível baixo (adição de um nível de


incremento), tal pode resultar numa deterioração superior, porque pode ser mais difícil
lidar com eventuais problemas subsequentes de ordem superior. Melhorias marginais
não garantem uma melhoria global

9. A verificação de uma discrepância na representação de um problema complexo


pode ser explicada de variados modos. A escolha da justificação determina a
natureza da resolução do problema
O “aumento do preço dos combustíveis” pode ser explicado pela verificação de
concertação estratégica de um oligopólio criado pelos refinadores, ou pelo aumento de
impostos sobre os produtos petrolíferos, ou pela ocorrência de um ciclone tropical no
Golfo do México com danos em várias plataformas petrolíferas, ou pela verificação de
um golpe militar num país produtor de petróleo, ou pela diminuição de oferta pelos
Países Exportadores de Petróleo (OPEP), ou pela existência de uma guerra, ou pela
verificação do atingimento do pico do petróleo… Qual é a explicação mais certa? Não
existe uma regra ou um procedimento para determinar a explicação correcta ou
conjunto de combinações. A razão é a de que ao lidar-se com problemas complexos
existem mais formas de refutar uma hipótese do as que são permissíveis em ciência.

O método científico confronta as evidências em conflito do seguinte modo: “Sob as


condições C e assumindo a validade da hipótese H, o efeito E deve ocorrer. Agora nas
condições C, E não ocorre. Consequentemente H deve ser refutado.

27
Traduzindo num estudo prático: Sob as condições “subsidiar as energias renováveis”,
assumindo a validade da hipótese “exaustão do petróleo convencional”, o efeito do
“aumento evolutivo dos preços nos combustíveis deve surgir”. Agora nas condições
“subsidiar as energias renováveis”, o “aumento evolutivo dos preços nos combustíveis
deve surgir” não ocorre. Consequentemente a “exaustão do petróleo convencional”
deve ser refutada.

No contexto dos problemas complexos verificam-se mais modos de admissibilidade de


soluções. Podemos negar que o efeito E não ocorreu, ou podemos explicar a não
ocorrência de E pelos processos de intervenção adoptados sem abandonar H. Um
Exemplo: Podemos negar que o efeito do “aumento evolutivo dos preços nos
combustíveis deve surgir” não ocorreu, ou podemos explicar a não ocorrência do
“aumento evolutivo dos preços nos combustíveis deve surgir” sem abandonar a
hipótese “exaustão do petróleo convencional”

Ao lidar com problemas complexos, as fundamentações usadas na argumentação são


mais enriquecedoras do que as permitidas no discurso científico, porque a essência
única do problema (proposição 7) e a impossibilidade de uma experimentação rigorosa
(proposição 5) não possibilitam a colocação da hipótese a um teste rigoroso.

A escolha sobre a fundamentação é arbitrária em sentido lógico. Na realidade são os


critérios pessoais que guiam a escolha. As pessoas escolhem as explanações que
consideram mais plausíveis. De um modo não muito exagerado, podemos afirmar que
todas as pessoas seleccionam a explanação discrepante que melhor encaixa nas suas
intenções e que se conforma com o seu plano de acção. A visão geral do analista é o
factor determinante para explicação das discrepâncias, e como tal, determinante para a
resolução de problemas complexos.

10. O planeador não tem direito a errar


26
Karl Popper argumenta no “The Logic of Scientific Discovery”, que é princípio da
ciência que as soluções para os problemas são meramente hipóteses oferecidas para
refutação. Esta premissa baseia-se na visão de que não existem provas para as
hipóteses, só potenciais refutações. Quantas mais tentativas de refutação, maior será a
sua corroboração. Consequentemente, a comunidade científica não acusa os seus
membros de postularem hipóteses para mais tarde serem refutadas.

26
Science Editons, New York, 1961.

28
No mundo do planeamento de problemas complexos, tal imunidade não é tolerada.
Neste campo o objectivo não é a procura da verdade, mas a melhoria de algumas
características do mundo onde as pessoas vivem. Existe confiança nos planeadores em
relação à consequência das acções que estes desenvolvem, uma vez que os seus efeitos
podem afectar com impacte significativo as pessoas afectadas por estas acções.

Somos assim conduzidos para a conclusão de que os problemas com que os


planeadores se defrontam, são complexos e incorrigíveis, pois estes desafiam os
esforços de definição das suas fronteiras e de identificação das suas causas, e como tal,
expondo a sua natureza problemática. O planeador que trabalhe com sistemas abertos
é aprisionado na ambiguidade da sua rede causal. Mais frequentemente, a
preconização de soluções futuras são confundidas por um novo quadro de dilemas
derivado do crescente pluralismo do público contemporâneo, cuja avaliação das
propostas são julgadas segundo um sem fim de escalas contraditórias e diferentes.

29
Pico de Hubbert

O que é o Pico do Petróleo?

O Pico do Petróleo significa o ponto no tempo a partir do qual a produção de petróleo está no
seu máximo. Após esse momento a produção de petróleo declina. O significado do Pico do
petróleo mundial traduz-se em pela primeira vez, a oferta mundial ser incapaz de satisfazer a
procura crescente de petróleo e seus derivados.

O conceito do pico do petróleo está associado à Teoria de Hubbert. Esta teoria postula que
para qualquer área geográfica, desde uma região de produção individualmente considerada até
à escala mundial, a taxa de produção de petróleo tende a seguir uma curva hiperbólica.

27

Após este ponto, a oferta continuará em declínio num momento em que a expectativa, na
óptica da procura projectada é de subida.

28

27
In: http://www.bristol.gov.uk/ccm/cms-service/stream/asset/?asset_id=32277111
28
World Energy Outlook 2010, Presentation to the Press – International Energy Agency (Novembro 2010)

30
29

O mundo tem funcionado operacionalmente num ambiente onde o aumento da oferta de


petróleo tem respondido ao aumento da procura devido ao aumento populacional e das
necessidades tecnológicas. O Pico do Petróleo chega numa nova era de produção contínua
onde estaremos a operar em regime de escassez energética constante. Para atingir
prosperidade económica continuada será mais difícil e exigirá maior medidas eficiência e
inovação.

O Petróleo não se esgotará no momento em que atinja o Pico, contudo será cada vez mais
escasso e consequentemente mais caro.

Este factor será potenciado pelo aumento da procura, não só pelo aumento populacional nos
países em desenvolvimento, mas também pela industrialização da Índia e da China. A procura
de produtos petrolíferos por parte da China e Índia crescerá exponencialmente.

Ao passarmos pelo Pico do Petróleo é extremamente provável verificarem-se impactos em


todos os aspectos da gestão camarária e da comunidade que servimos.

Quando será atingido o Pico?

Muito embora existam variadas opiniões sobre quando será atingido o Pico do Petróleo, existe
um sentimento partilhado de que o Pico do Petróleo será atingido muito em breve.

Um número de investigadores credíveis e cientistas acreditam que o pico na produção de


petróleo já foi atingido ou ocorrerá dentro de poucos anos.

O antigo geólogo chefe e vice-presidente da British Petroleum, Colin Campbell, acredita que
a produção de petróleo convencional, de extracção mais barata e mais fácil, atingiu o pico no
ano de 2005. As suas estimativas apontam para que o petróleo leve seja um recurso mais raro
por volta de 2011.

29
World Energy Outlook 2010, Presentation to the Press – International Energy Agency (Novembro 2010)

31
Jean Laherrere, um administrador de topo da companhia Total Oil, defendeu que o pico do
petróleo ocorreria em 2007. Laherrere contribuiu com os seus estudos de refracção sísmica
para a descoberta do maior campo petrolífero em África. Na Total Oil supervisionou as
técnicas de exploração realizadas mundialmente.

32
8. ANÁLISE MORFOLÓGICA

Ritchey (2010) define a Análise Morfológica Global como um método para estruturação e
investigação do total de relações contidas num modelo multidimensional, não quantificável,
dos problemas complexos. Foi originalmente desenvolvida por Fritz Zwicky, um astrofísico e
cientista aeroespacial suíço que desenvolveu a sua actividade no Instituto de Tecnologia da
Califórnia.

Rictchey (2010) identifica o trabalho de Zwicky (1966), “Discovery, Invention, Research


through the Morphological Approach”, no qual o pai da descoberta da Matéria Negra
presente no universo, sumariza 5 passos iterativos do processo:

Primeiro passo: O problema, para ser resolvido, tem que ser formulado de modo muito
conciso.

Segundo passo: Todos os parâmetros que possam ter importância para a solução de um
determinado problemas devem ser localizados e analisados.

Terceiro passo: A caixa morfológica ou a matriz morfológica, que contém as soluções


potenciais do problema, é construída.

Quarto passo: Todas as soluções contidas numa caixa morfológica, são escrutinadas em
detalhe, no que respeita aos propósitos que se pretendem atingir.

Quinto passo: As soluções óptimas adequadas são… seleccionadas e aplicadas na prática,


desde que existam os meios necessários disponíveis. Esta redução à prática requer, no geral,
um novo estudo morfológico.

Zwicky (Ritchey 2002) desenvolveu a “Caixa de Zwicky” para demonstrar as vantagens dos
campos morfológicos sobre os campos topológicos. A figura infra representa uma “Caixa de
Zwicky” e a respectiva representação de uma opção (posicionamento) num campo
morfológico.

33
Campo Morfológico Tridimensional

Parâmetro x Parâmetro y Parâmetro z

X1 Y1 Z1

X2 Y2 Z2

X3 Y3 Z3

X4 Y4 Z4

O campo morfológico ilustrado traduz a posição da esfera. A posição da esfera representa um


conjunto de opções combinatórias que o investigador se propõe analisar. No processo de
análise morfológica o investigador permite-se avaliar um conjunto de valores (condições)
mudando a esfera de posição num espaço tridimensional.

Num campo topológico poderíamos ter o seguinte problema:

A - Corte de Curto Prazo


Sim Não
Sim
B - Diminuição Gradual

A/B B

0
Não A
(zero)

O mesmo problema expresso campo morfológico fica com a seguinte apresentação.

A - Corte de Curto Prazo B - Diminuição Gradual

A B

~A ~B

No exemplo morfológico salientado temos:

N = (n.º de parâmetros) = 2

P1 - Parâmetro 1: A - Corte de Curto Prazo

34
P2 - Parâmetro 2: B - Diminuição Gradual

Assim assume-se que P pode expressar-se do seguinte modo:

P1, P2, P3, P4… PN

Vx é o número de condições no campo de valores de um determinado parâmetro Px tal que o


total de campos morfológicos é definido quantitativamente por:

Assim, o total de configurações simples Tcs num campo morfológico (numa configuração com
uma e uma só condição sob cada parâmetro) é:

P1 P2 P3

P1V1 P2V1 P3V1

Tcs = v1 * v2 * v3 … Vn

ou

Tcs =

O total de configurações complexas Tcc num campo morfológico de n parâmetros e n


condições (v1, v3, v3…Vn) para cada parâmetro é:

Caso 1

P1 P2 P3
P1V1 P2V1 P3V1

P1V2 P2V2 P3V2

P1V3 P2V3 P3V3

P1V4 P3V4

Tcc = P1Vn * P2Vn * P3Vn

Ou:

Total de Configurações Complexas (Tcc) = 4 * 3 * 4 = 48

35
Vejamos como se comporta o nosso campo morfológico com mais dois parâmetros além dos
supra ilustrados:

Caso 2

P1 P2 P3 P4 P5

P1V1 P2V1 P3V1 P4V1 P5V1


P1V2 P2V2 P3V2 P4V2 P5V2
P1V3 P2V3 P3V3 P4V3 P5V3
P1V4 Vn=3 P3V4 P4V4 P5V4

Vn=4 Vn=4 P4V5 Vn=4


P4V6
Vn=6

Tcc = P1Vn * P2Vn * P3Vn * P4Vn * P5Vn

Ou:

Total de Configurações Complexas (Tcc) = 4 * 3 * 4 * 6 * 4 = 1152

A rápida conclusão que podemos retirar da adição de mais dois parâmetros (com mais dez
condições) foi a de passarmos de um campo morfológico de 48 combinações para 1152. Se
porventura fosse necessário adicionar mais um parâmetro com 4 condições, subiríamos para
4608 combinações complexas.

Ritchey (2010) apresenta a matriz de verificação cruzada de consistência, comparando cada


par, de cada condição, em cada parâmetro com todos as condições de todos os parâmetros.
Um bloco de parâmetros consiste em todos as condições par-a-par entre todos os blocos,
verificados de forma cruzada como se numa matriz de tipologia bidimensional.

Voltamos ao exemplo anterior (caso 1):

P1 P2
P1V1
P1V2
P1V3
P1V4
P1V1
P1V2
P1V3

P2V1
P2 P2V2
P2V3
P3V1
P3V2
P3
P3V3
P3V4

36
O número de blocos no interior de uma matriz de verificação cruzada de consistência é dado
pela seguinte expressão, onde N = n.º de Parâmetros:

No caso anterior N = 3, logo:

No caso ilustrado onde se aumentaram dois parâmetros (caso 2) a matriz de verificação


cruzada de consistência é a seguinte:

P1 P2 P3 P4
P1V1
P1V2
P1V3
P1V4
P1V1
P1V2
P1V3
P1V1
P1V2
P1V3
P1V4
P1V1
P1V2
P1V3
P1V4
P1V5
P1V6
P2V1
P2 P2V2
P2V3
P3V1
P3V2
P3
P3V3
P3V4
P4V1
P4V2
P4V3
P4
P4V4
P4V5
P4V6
P5V1
P5V2
P5
P5V3
P5V4
Assim:

onde N = n.º de Parâmetros = 5:

37
Número de pares para verificação cruzada de consistência

O número de pares para verificação da consistência é o número total de pares relacionados


(TPr) no modelo, e é expresso pela seguinte fórmula:

No caso 2 temos 5 parâmetros, logo:

Vi1 Vi2 Vi3 Vi4


P1 P2 P3 P4
P1V1
P1V2

P1V3

P1V4

P1V1
P1V2

P1V3

P1V1

P1V2

P1V3

P1V4

P1V1

P1V2

P1V3
P1V4

P1V5

P1V6
P2V1
Vj2 P2 P2V2
P2V3
P3V1
P3V2
Vj3 P3
P3V3
P3V4
P4V1
P4V2
P4V3
Vj4 P4
P4V4
P4V5
P4V6
P5V1
P5V2
Vj5 P5
P5V3
P5V4

Assim resulta:

TPr = [Vi1*(Vj2+Vj3+Vj4+Vj5)]+[Vi2*(Vj3+Vj4+Vj5)]+[Vi3*(Vj4+Vj5)]+(Vi4*Vj5) ⇔

TPr = [4*(3+4+6+4)]+[3*(4+6+4)]+[4*(6+4)]+(6*4) = 68 + 42 + 40 + 24 = 174

Obtivemos como quantitativo total para verificação da consistência, 174 pares.

38
Relembremos que no Caso 2, inicialmente, após constituição do campo morfológico tínhamos
1152 possibilidades de combinações complexas. Após a elaboração da matriz de verificação
cruzada de consistência, retiramos 978 combinações que exigiriam um enorme desgaste no
processo de análise.

Coeficiente de Conectividade

Num modelo morfológico, a conectividade reporta-se às diferenças endógenas das variáveis


de origens, campos ou características distintas e à forma como estas se podem interligar. A
pergunta base resultante é: Como é que cada parâmetro se relaciona com os outros
parâmetros?

Ritchey (2010) argumenta que existem duas possibilidades: Ou os dois parâmetros em estudo
são ortogonais, ou seja, independentes um do outro, ou possuem constrangimentos mútuos.

Desde que os valores sejam relacionados por consistência mútua, então podemos afirmar que
num par ortogonal Px e Py, qualquer valor de Px é consistente com qualquer valor de Py.

Os valores ortogonais podem assumir assim a seguinte classificação:

“-“ significa que “é consistente com…” ou “pode coexistir com…”.

Se um valor ortogonal Pk, for ortogonal para com todos os outros parâmetros do modelo
morfológico, então tal significa que a sua variabilidade não tem efeito sobre o resto do
modelo. Um parâmetro assim é exógeno ao sistema.

Os pares de parâmetros são mutuamente constrangidos quando pelo menos um par de valores
(condições) de um bloco de parâmetros é inconsistente, impossível ou inviável. “?” pode
representar uma relação altamente improvável, e “X” uma contradição extrema entre valores
(condições). Aplicando o esquema de símbolos e respectivo significado ao Caso 1 teríamos a
seguinte Matriz de Verificação Cruzada de Consistência (MVCC).

P1 P2
P1V1
P1V2
P1V3
P1V4
P1V1
P1V2
P1V3

P2V1 - - - -
P2 P2V2 - - - -
P2V3 X - - -
P3V1 - - - - - - -
P3V2 - - - ? - - -
P3
P3V3 - ? - - - - -
P3V4 - - X - - - -

39
E no caso 2:

Vi1 Vi2 Vi3 Vi4


P1 P2 P3 P4

P1V1
P1V2

P1V3

P1V4

P1V1
P1V2

P1V3

P1V1

P1V2

P1V3

P1V4

P1V1

P1V2

P1V3
P1V4

P1V5

P1V6
P2V1 - - - -
Vj2 P2 P2V2 - - - X
P2V3 - - - -
P3V1 - - - ? - - -
P3V2 - - X - - - -
Vj3 P3
P3V3 ? - - - - - -
P3V4 - - - - - - -
P4V1 - - - - - - - X - - -
P4V2 - - X - - - - - - - -
P4V3 - X - - - - - - X - -
Vj4 P4
P4V4 - X - - - - - - - X -
P4V5 - X - - - - - - - - -
P4V6 - - X - - - - - - - -
P5V1 X - - - - - - - - - ? - - - - - -
P5V2 - - - X - - - - X - - - X - - X -
Vj5 P5
P5V3 - X - - - - - - X - - - X - - - -
P5V4 X - - ? - - - - - - ? - - - - - -

Do exemplo dado podemos concluir o seguinte (Caso 1):

 O valor P1V1, do parâmetro P1, é consistente com o valor P2V2, do parâmetro P2.
 O valor P1V2, do parâmetro P1, é altamente improvável com o valor P3V3, do
parâmetro P3.
 O valor P1V3, do parâmetro P1, é uma contradição extrema com o valor P3V5, do
parâmetro P3.

A classificação da relação entre os valores caracterizadores dos parâmetros é realizada


segundo uma base lógica ou empírica, realizada por grupos de trabalho, constituídos para a
realização de uma análise sustentada na partilha de conceitos e de modelação de um quadro
comum. Segundo Ritchey, os grupos de especialistas não devem ser em número superior a 6-7
pessoas. Se for necessário um maior leque de áreas de conhecimento, podem ser convidados
especialistas por áreas de competências para sessões específicas de trabalho, ou para
realização de trabalho em grupos paralelos.

40
Existem dois tipos de ligação entre parâmetros.

 Ligados – quando apresentam constrangimentos mútuos entre os valores dos


parâmetros.
 Não ligados – Quando os parâmetros são ortogonais (independentes)

P1 P2

P1V1
P1V2
P1V3
P1V4
P1V1
P1V2
P1V3
P2V1 - - - -
P2 P2V2 - - - -
P2V3 X - - -
P3V1 - - - - - - -
P3V2 - - - ? - - -
P3
P3V3 - ? - - - - -
P3V4 - - X - - - -

Na matriz supra representada temos os pares de parâmetros P1-P2 e P1-P3 com Ligados. O
par de parâmetros P2-P3 possui pares ortogonais, sendo Não ligados.

Neste caso temos 3 parâmetros sendo o número total de ligações (blocos) entre estes
parâmetros dado pela expressão:

Ritchey define três rácios importantes na análise morfológica:

1. O Coeficiente de conectividade ( ): O rácio entre o número de blocos de parâmetros


constrangidos (BPc) e o número total de ligações entre blocos de parâmetros.
Do exemplo dado anteriormente resulta (Caso 1):

O Coeficiente de Conectividade é de 66 por cento (66%).


No Caso 2:

41
2. O Coeficiente de Consistência ( ): O rácio do número de pares constrangidos dos
valores (condições) dos parâmetros da Matriz de Verificação Cruzada de Consistência
(Cx) com o número total de pares de valores da Matriz (Ct).
Do exemplo dado resulta (Caso 1):
Vi1 Vi2
P1 P2

P1V1
P1V2
P1V3
P1V4
P1V1
P1V2
P1V3
P2V1 - - - -
Vj 2 P2 P2V2 - - X -
P2V3 X - X ?
P3V1 - - - - - - -
P3V2 - - - ? - - -
Vj 3 P3
P3V3 - ? - - - - -
P3V4 - - X - - - -

Onde,

Ct = [Vi1*(Vj2+Vj3)]+[Vi2*(Vj3)] ⇔ Ct = [4*(3+4)]+[3*(4)] = 28 + 12 = 40

e,
Cx = número de pares (condições) constrangidos = 4
logo,

No caso 2:

Ct = [Vi1*(Vj2+Vj3+Vj4+Vj5)]+[Vi2*(Vj3+Vj4+Vj5)]+[Vi3*(Vj4+Vj5)]+(Vi4*Vj5) ⇔

Ct = [4*(3+4+6+4)]+[3*(4+6+4)]+[4*(6+4)]+(6*4) = 68 + 42 + 40 + 24 = 174

42
Cx = número de pares (condições) constrangidos = 24
Logo,

3. O Coeficiente Solução ( : O rácio entre o número de configurações simples no


espaço solução (Espsol) com o número de configurações simples no espaço total de
configurações.
Do exemplo dado resulta (Caso 1):

Onde,

Se aplicado ao caso 2 verifica-se o seguinte:

Verifica-se, no Caso 1, que quando os parâmetros são poucos e possuem poucas


condições, o espaço solução (83%) apresenta grande amplitude em relação ao número
total de configurações iniciais (100%). No Caso 2, mais complexo, observa-se
facilmente que o espaço solução (15%) reduz-se substancialmente quando comparadas
as combinações possíveis iniciais (100%).

43
Quadro Comparativo Resumo - Caso 1 Vs Caso 2

(a) (b) (c)


(2) (3)
Coeficiente (4) (5) Coeficiente (6) (7) Coeficiente
(1) Total de Número de Coeficiente de
de Total de Número de de Espaço Espaço do Espaço
Casos Parâmetros Blocos Blocos Constrangimento
conectividade células na células Consistência Total Primário de Solução
N (parâmetros) Constrangidos (b) / (a)
( ) Matriz constrangidas ( Problema Solução (7) / (6)
N(N-1)/2 (parâmetros)
(3) / (2). (5) / (4) (
1 3 3 2 66% 40 7 17,5% 48 40 83% 0,265= 26,5%
2 5 10 7 70% 174 24 13% 1152 174 15% 0,185=18,5%
a 5 10 2 20% 174 24 13% 1152 174 15% 0,650=65,0%

Gráfico - Caso de Estudo Ritchey (2010) defende que a relação que melhor representa as
propriedades formais do constrangimento pela avaliação permitida
90% pela Matriz de Verificação Cruzada de Consistência (MVCC), é o
Caso 2; 83% Coeficiente de Constrangimento Este Coeficiente
Quocinete Espaço Solução (c)

80%
70% representa a distribuição dos constrangimentos em relação ao espaço
60% total da MVCC. A hipótese é que para um dado , os
constrangimentos do modelo tendem a ser maiores se estiverem
50%
somente concentrados em poucos blocos de parâmetros, em vez de
40% estarem distribuídos de modo mais uniforme por toda a matriz [caso a
30% do quadro comparativo onde só se mudou o valor da coluna (3)].
20% Assim, deve existir uma relação entre o Coeficiente de
Caso 1; 15% Caso a; 15%
10% constrangimento ( , e o Coeficiente Solução ,
0%
representativo do tamanho relativo do espaço solução.
0.00% 20.00% 40.00% 60.00% 80.00%
Quando se verifica um desvio do ponto (caso 2) para a parte superior
Quociente de Constrangimentos (d) do gráfico produz-se um espaço solução relativamente grande (83%), o
que é uma contradição com o que se pretende.

Ritchey interroga-se sobre a causa das divergências verificadas, sem adiantar uma solução. Afirma, fruto da sua experiência, que o primeiro factor pode dever-
se à escala do modelo ou, o segundo, às relações lógicas da exclusão mútua de valores ou da sua existência concorrente.

44
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E OUTRAS
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Editora, 1997.
 Wiman, Oliver. OECD Studies in Risk Management - Innovation in Country Risk
Management. OECD, 2009.
 Brahin, Philippe et al. Country risk management: Making societies more resilient.
Swiss Reinsurance Company Ltd. (2010)
 World Economic Forum. Global Risks 2010 - A Global Risk Network Report.
Cologny/Geneva (2010).
 Mander, Jerry et all. Manifesto on Global Economic Transitions. San Francisco,
International Forum on Globalization, September 2007.
 Al-Husseini, Moujahed. World production of conventional petroleum liquids to 2030:
A comparative overview. Website: http://www.gulfpetrolink.net/v14n1-Husseini.pdf
 Hopkins, Rob. The Transition Handbook: From Oil Dependency to Local Resilience.
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Mitigation, and Risk Management. Science Applications International Corporation,
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 Whitehorn, Will et al. The Oil Crunch - Securing the UK’s energy future. UK Industry
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 Fowle, John R.; Dearfield, Kerry L.. Risk Characterization Handbook. U.S.
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 Heinberg, Richard. Peaking of World Oil Production - Speech given by Richard
Heinberg in San Francisco, California. International Relations and Security Network
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 Smith, Mark A.; El-Katiri, Mohammed; Main. Steven J.. Climate Change and the
Energy Crunch. Defence Academy of the United Kingdom (October 2010).
 Mander, Jerry et al. Manifesto on Global Economic Transitions - Confronting the
Global Triple Crisis: Catastrophic Climate Chaos ✴ The End of the Era of Cheap
Energy—Peak Oil and Gas ✴ Global Resource Depletion—Fresh Water, Forests,
Oceans, Soil, & Wildlife Extinctions. The International Forum on Globalization. The
Institute for Policy Studies. Global Project on Economic Transitions (September
2007).
 European Comission. EU Energy and Transport in Figures - Statistical pocketbook
2010. European Union (2010).
 Fingar, C. Thomas. Global Trends 2025: A Transformed World. National Intelligence
Council (November 2008).
 Preparing for Peak Oil - Local Authorities and the Energy Crisis. The Oil Depletion
Analysis Centre and the Post Carbon Institute (2008).
 Lagadec, Patrick. A New Cosmology of Risks and Crises: Time for a Radical Shift in
Paradigm and Practice. The Policies Studies Organizations. 2009.
 Dicionário Universal da Língua Portuguesa – 1.ª Edição. Texto Editora, Lisboa,
1995.
 ODAC: The oil Depletion Analysis Center Reports and Resourses

45
Website: http://www.odac-info.org/reports-resources
 ASPO: The Association for the Study of Peak Oil&Gas
Website:www.peakoil.net
 The Oil Drum – Discussions about Energy and Our Future
Website:www.theoildrum.com
 Ritchey, Tom. General Morphological Analysis - A General Method for Non-
Quantified Modeling. Swedish Morphological Society (1998).
 Ritchey, Tom. Modeling Multi-Hazard Disaster Reduction Strategies with Computer-
Aided Morphological Analysis. Swedish Morphological Society (2002).
 Ritchey, Tom. Wicked Problems – Social Messes. Decision Support Modelling with
Morphological Analysis. Swedish Morphological Society (2010).
 Building a positive future for Bristol after Peak Oil - Report
Website:http://www.bristol.gov.uk/ccm/cms-service/stream/asset/?asset_id=32277111

46
10.EPÍLOGO
30
“Tal como homem que em dúvidas acerta,
e que em conforto a temerosa agrura
muda, sendo a verdade descoberta,
me mudei eu; e como quem descura
me viu o guia e ali lhe fui no encalço
ao subir no ressalto, rumo à altura.
Leitor, tu vejas bem como agora alço,
minha matéria e disso, por mais arte,
não vás maravilhar-te, se eu a calço.
Aproximando, éramos na parte,
que lá onde antes roto parecia
o muro, ou com tal fenda que o reparte,
Vi uma porta e três degraus havia
de cor diversa, sendo o acesso aí,
e um porteiro que nada lá dizia.
E com os olhos mais e mais abri,
o vi sentar no alto do degrau então,
de rosto tal que olhá-lo não sofri;
tinha uma espada nua em sua mão
e espelhava em nós seus raios tais
que eu insistia erguendo o rosto em vão.
«Dizei-me de onde sois e que buscais?»
começou de dizer: «quem vos aporta?
e vede se a subir vos não lesais.»
«Dama do céu que o sabe nos exorta»,
meu mestre lhe responde, «e há um instante
nos disse; «Por lá ide: é ali a porta.»
«E ela os passos vossos bem adiante»,
recomeçou o tão cortês porteiro:
«E junto a estes degraus, pois vinde avante»”.
Canto IX – Sonho de Dante. Despertar e retoma da caminhada.

30
Moura, Vasco Graça. A Divina Comédia de Dante Alighieri – 3.ª Edição (pág. 381-382). Bertrand Editora,
1997.

47

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