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TEXTOS “ESQUERDA DESALINHADA”

A burguesia portuguesa serve para quê ?

1. O impasse presente

O fracasso da gestão capitalista em Portugal está à vista. Depois da venda


dos créditos fiscais, da subida do Iva para 21%, da venda de património
público, da redução dos direitos dos desempregados e dos trabalhadores
com baixa, do congelamento dos salários da função pública durante dois
anos, está tudo pior do que antes. Afinal o célebre deficit ainda se mostra
superior ao que a direita tradicional herdou em 2002.

Para além do ridículo rigor sobre a dimensão quantitativa do deficit e dos


erros de contas - que só demonstram o seu carácter fundamentalmente
político e pouco económico - o deficit não passa de um elemento central de
agressiva redistribuição do rendimento a favor do capital que se vem
verificando sob o patrocínio da Bruxelas.

Das políticas levadas a cabo agora pela nova direita no poder, pretende-se
fazer crer que Portugal é um local onde a população vive com elevados
privilégios (como salários médios de 800 euros ou pensões de 300) e que
todos nos devemos sacrificar.

Todos? Não! Há um punhado de abnegados patriotas que se sacrificam


particularmente. São os chamados empresários que investem as suas
poupanças no imobiliário e nos paraísos fiscais, que transferem os seus
negócios para as chinas, e que, com a sua habitual visão do longo prazo…
mais não querem que enriquecer a grei. Assim, num qualquer 10 de Junho
iremos todos ao Terreiro do Paço agradecer a esses sacrificados a riqueza
que então gozaremos, pela boca do sampaio que então estiver de serviço.

Diziam eles que a retoma viria no cavalo branco da recuperação económica


na Europa e que o esmagamento do poder de compra interno seria
compensado pelo acréscimo de negócios de exportação, verdadeira fonte
de progresso para o neoliberalismo. Nem isso aconteceu nem poderia
acontecer: a própria Alemanha com um aumento da sua qualificada
exportação de 10% em 2004 só viu o produto aumentar 0,7%

Pretenderam também convencer-nos das virtudes, desenvolvimentistas de


mais um impulso decisivo da obra pública, (os estádios de futebol); mas o
que sobrou foram elefantes brancos e a ausência de reais impactos de
eventos como o Euro 2004 (0,1 a 0,2% do PIB, se Constâncio não se
enganou nas contas…); e agora insistem na mesma tecla com a Ota e o
TGV, depois do fracasso do campeonato da vela que entretanto serviu para
fechar a Docapesca.

Mesmo substituindo o tonto Santana pelo robot Sócrates não é mais


possível esconder que o rei vai nu; o modelo (liberalismo económico
selvagem) não vinga numa economia estruturalmente atrasada e os

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protagonistas (empresariato e mandarinato político) não estão à altura do
problema. Quanto aos trabalhadores, todos reconhecem que, “lá fora” até
conseguem ser produtivos, tal como aqui, em muitas empresas de capital
estrangeiro, a despeito da fraca qualificação de muitos.

Costuma dizer-se que os portugueses são um povo simpático mas quanto


às instituições portuguesas… estamos conversados. Mais claramente,
Almada Negreiros dizia: "A burguesia portuguesa tem os defeitos de todas
as burguesias e mais um, o de ser portuguesa". Esses defeitos são, o de ser
atávica, viciada em fraude e corrupção, incompetente tecnicamente,
culturalmente indigente, sem visão de médio ou longo prazo. E, por
consequência precisa, hoje, desmesuradamente de trabalho barato, de um
quadro político de democracia de papelão onde pululam impunes Valentins,
Isaltinos, Jardins e Avelinos, tal como ontem, sob o condicionamento
industrial e a bênção da Igreja ou, mais atrás ainda, através do tráfico
negreiro.

2 - Um pouco de História

É histórica a incapacidade do capitalismo português;

a.Na falhada construção do império no Oriente só a casa real tinha


capacidade para investir pois, quanto a empreendedores privados,
ninguém os viu.
b. A independência de 1640 foi uma oferta inglesa para dividir a
Espanha sem que daí tivessem vindo benefícios para os
portugueses e ainda foi preciso adornar com colónias o dote da
princesa que casou com o rei britânico;
c. Methwen representou a subalternidade ao imperialismo inglês e o
triunfo de uma burguesia rural e comercial;
d. Do ouro do Brasil sobrou o aqueduto das Águas Livres e
investimentos tão produtivos como a igreja de S. Roque ou o
convento de Mafra;
e. As colónias africanas inseriram-se numa política de venda de
matérias primas no mercado internacional e área reservada para a
exportação de produtos de baixo valor, num enquadramento da
sobre-exploração proveniente do trabalho forçado e do imposto de
palhota. As classes dominantes em Portugal criaram uma situação
única: gerou subdesenvolvimento nas colónias e no seu próprio
território, numa contabilidade de saldo negativo.

É, finalmente, uma burguesia despojada de qualquer papel no capitalismo


global que é absorvida pelos poderes dominantes na UE; sem um mercado
interno vasto e rico, sem matérias primas essenciais para vender, sem
indústria ou serviços tecnologicamente evoluídos, sem qualidades de
gestão para além do modelo do baixo salário e da evasõo/fraude fiscal só
resta a subordinação aos ditames do FMI e de Bruxelas a troco dos fundos
comunitários. Tudo isto apoiado numa fraseologia desenvolvimentista e de
geração de ilusões junto da multidão portuguesa de que os apoios
comunitários procediam de instituições beneméritas que visariam a
construção de um "mercado único" com a promoção dos menos ricos a
nababos.

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Definida para toda a UE uma política económica para servir as
multinacionais, o sistema financeiro e o capital mafioso, chegou também a
ideologia da democracia de mercado e o pensamento único para adopção
pelos subserviências locais, no discurso do mandarinato político, nas
reivindicações do patronato, no linguajar modernaço dos plumitivos de
serviço nos media.

E instalaram os mitos da empresa privada, do "empreendorismo", do


negócio, do lucro, do dinheiro fácil, da boa "governança" da tecnologia, da
nova economia, dum mercado de capitais que não há, apontando como
contrapartidas necessárias, temporárias e regeneradoras, o despedimento,
o trabalho extra não remunerado, a moderação salarial para quase todos e
pensões miseráveis; para os poucos restantes, os de elevados rendimentos,
ficaram os benefícios fiscais, o baixo IRC (para aqueles que declaram
lucros...) que se destinam ao investimento, que só representa 10% do PIB,
se se excluir a construção.

Mais em detalhe, realcem-se algumas realizações deste mandarinato


político, desta burguesia portuguesa e veja-se para que precisa a multidão
de trabalhadores e ex-trabalhadores, daquele tipo de escória social.

a.Essa burguesia vem esbanjando improdutivamente os fundos


comunitários para formação, que tem mantido um sistema
educativo gerador de ignorantes e muitos cursos superiores onde
basta ter paciência e dinheiro para sair com um diploma. É óbvio
que para uma burguesia habituada a viver na base de baixos custos
de mão-de-obra, pouco qualificada, sem outras capacidades para a
gestão, a educação é um custo corrente, não um investimento. A
tão invejada Irlanda procedeu à sua reforma educativa moderna no
final dos anos 60!

b. Porque não valoriza as capacidades produtivas dos trabalhadores,


não consegue atrair investimento estrangeiro duradouro ou
produtivo. Prefere apostar apenas no baixo custo do trabalho,
importa-se mais com os benefícios fiscais, a legislação laboral,
numa visão estreita e suicidária, sobretudo se se pensar nas
condições vigentes na Ásia. Só a Espanha é que tem verdadeiro
interesse em investir aqui, para ganhar dimensão e tirar proveitos
da proximidade, enquanto as multinacionais se instalam em Madrid
e não em Lisboa. Quando (não é se) a Autoeuropa fechar as portas
ou reduzir a actividade, que vai fazer a burguesia portuguesa
perante tal quebra no emprego directo e indirecto? Oferecer
trabalhadores portugueses como escravos, não pagos, acentuando
à sua tradição negreira?

c.O sector da construção e obras públicas está sobredimensionado pois


é uma forma de aplicação do afluxo de fundos comunitários, do
capital proveniente da corrupção, de tráfegos e negócios mafiosos e
de alimentar o financiamento ilícito dos partidos do poder, dos seus
dirigentes e a especulação imobiliária, Quando houver um travão a
esse cambão, quantas empresas irão à falência e quantos desses
600 milhares de trabalhadores serão afectados?

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d. As auto-estradas construídas em grande parte com fundos
comunitários têm preços muito elevados, sempre actualizados com
a inflação (os salários nem tanto) afectando a competitividade das
empresas. Embora a circulação automóvel tenha sido, na realidade,
privatizada, nem por isso os impostos diminuíram. E o negócio das
SCUTS revela que se privatizaram troços de circulação, não
rentáveis em termos comerciais, garantindo-se, em alternativa, um
chorudo financiamento público dos seus construtores e
concessionários.

e.Os mais proeminentes dos grandes patrões dedicam-se, na essência,


ao comércio retalhista e imobiliário (Belmiro), imobiliário (Amorim,
RAR) ou actividades tão tecnológicas como a gestão de
participações financeiras, serviços bancários e especulação bolsista.
Fora disso, ainda há os preços de monopólio praticados pela EDP ou
pelo cartel das telecomunicações. E a arrogância da banca,
ancorada nesse monstro de ineficiência que é a CGD, (sob o
harmonioso domínio do bloco central) exclui qualquer preocupação
social ou estratégica, sem investir em actividades produtivas, tão
somente como usurária, manipulando a configuração do sistema
fiscal.

f. Em Espanha, apesar da diferença de dimensão e das semelhanças


climáticas, a área ardida este ano fica por metade do que já ardeu
em Portugal. E, para o ano. cá estarão de novo os mandarins a
recitar os meios e as medidas, os milhões de euros e os planos,
numa ladainha sempre igual. Entretanto, prendem alguns eventuais
incendiários entre os tontos de aldeia e os telejornais relatarão
empolgados, o assunto, como se fosse um encontro de futebol. Que
burguesia no mundo se dá ao luxo de enriquecer à custa dos fogos
florestais, num negócio criminoso já relativamente bem conhecido e
basicamente impune?

g. Há dezenas de anos que se tem consciência da dependência


energética face ao petróleo. A Dinamarca produz energia eólica
para cobrir 20% do seu consumo de electricidade; a Espanha obriga
as novas construções a ter painéis solares e que faz o mandarinato?
A eficiência do consumo energético melhora nos países europeus, e
aqui é cada vez maior a incorporação de energia no produto.

h. Medidas para fomentar o transporte público, não se tomam, de


facto, para não beliscar o forte sector de importadores e retalhistas
da venda de automóveis nem a ostentação saloia do automóvel por
parte de muitos. E como o automóvel é rei, o estacionamento e a
circulação nas cidades é anárquico, não existem verdadeiras redes
de transporte, o ordenamento do espaço não existe, com toda a
carga ambiental que daí resulta. E, como o transporte público gera
naturais deficits, a "solução" apresentada é a privatização, o
aumento das tarifas ou o salto tecnológico ruinoso do monocarril de
Oeiras com 500 passageiros por dia!. A burguesia portuguesa é
imobilista por necessidade de sobrevivência; a sua acção, quando
se verifica, tem subjacente a rapina.

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i. Os compromissos face a Quioto não vão ser cumpridos, Lisboa é uma
das mais poluídas cidades europeias, pois das medidas de melhoria
da qualidade ambiental não será fácil exercer a subtracção de
rendimentos do trabalho. Somente compromissos que se prendem
com o deficit são sagrados porque, com a caução de Bruxelas,
servem para proceder a uma redistribuição favorável aos
capitalistas.

j. Os serviços públicos funcionam mal. Se o sistema de saúde é


miserável, que importa se a manutenção de um trabalhador doente,
improdutivo, tem baixos custos (9 euros por dia para a segurança
social); e, como os salários são baixos e o subemprego elevado, os
custos de imobilização são irrelevantes. Os pensionistas, se
morrerem mais cedo, melhor, pois são fracos consumidores e
gastam o dinheiro da segurança social. Se a arrecadação de
impostos é deficiente há décadas, isso é intencional pois, assim
melhor se financiam empresas marginais, que só desse modo
conseguem sobreviver, serve como amortecedor da recessão e
constitui na verdade uma forma encapotada e sem futuro de gerar
competitividade. Se o empresariato não sente a necessidade de
gente qualificada mas antes de jeitosos e desenrascados (desde
que baratos), adequados ao seu fraco nível tecnológico e de gestão,
que importa que mais de metade da população sofra de iliteracia,
incluindo muitos licenciados?

k.Portugal detém a medalha de bronze na competição europeia da


corrupção e cada vez é mais transparente e descarada a rede
mafiosa partidos-autarcas-imobiliário-futebol, com o sistema
bancário a lavar o produto dessa trafulhice toda. Quando alguém é
apanhado, um aparelho de justiça, pesado, burocratizado e com
regras processuais labirínticas promove processos que se diluem no
tempo e no esquecimento. Por isso, quando algum corrupto é
desmascarado, trata logo de dizer que está tranquilo, pois de facto,
a impunidade é francamente provável;

l. O controlo sobre a administração pública faz-se pela nomeação de


controleiros do partido do poder, incompetentes, subservientes,
poluindo-se os serviços regionais e locais da saúde, da educação e
da segurança social com o produto das escolhas nos órgãos dos
partidos, em regra, o há de pior ao nível distrital ou concelhio.

E as câmaras? Quando há quatro anos a escolha real para Lisboa


era entre Santana e o rebento do Mário Soares, é porque a
degradação bateu no fundo.

Perante esta ocupação da administração pública o que dizem os


media? Que há um problema de produtividade e, claro está, é
preciso acabar com os privilégios dos funcionários públicos.

m. Outra vertente menos badalada sobre a administração pública é


que, em paralelo com a degradação dos serviços, aumenta o
recurso a concursos de empreitadas de estudos. A administração
pública é pastagem para empresas de consultadoria que vivem
disso e, decerto também aí haverá favores e dinheiros para os

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partidos. Sempre que muda o governo, são lançados estudos (os
anteriores são sempre maus) e os mesmos consultores emendam os
seus textos para agradar aos novos mandarins.

n. Segundo o circunspecto Banco de Portugal, cozinha dos dados que


convêm ao poder, onde sobressai o sumo-sacerdote do
neoliberalismo Constâncio, o crescimento médio nominal, anual das
remunerações do trabalho, entre 1999/2004 foi de 6% e o dos
rendimentos de empresas e propriedade … 3%.

Como se vê o capital sacrifica-se pela grei e para que esse espírito


de penitência perdure manteve à frente do BCP- Millenium um tipo
da Opus Dei. Amen.

o.A evasão e a fraude fiscal inerentes à situação descrita no ponto


anterior sobressai de modo claro quando se sabe que um
trabalhador por conta de outrem recebe, em média por mês 750 € e
um esforçado patrão declara, também em média, 850!

Como é óbvio, trata-se do já referido espírito de sacrifício típico do


ideário anglo-saxónico para capitalistas.

p. O Tribunal de Contas aponta nos seus relatórios específicos


irregularidades, actos de má gestão, nas instituições, com maior
evidência para o que se passa na Madeira onde quem mais ordena
é um inveterado consumidor de whisky. Acontece alguma coisa?
Alguém é responsabilizado? Não. Nos EUA ainda recentemente o
presidente da falida Worldcom foi condenado a 25 anos de prisão
por falcatruas contabilísticas.

q. Para finalizar o elenco interminável de misérias da burguesia


portuguesa vamos utilizar um elemento quase caricato. Nem sequer
conseguiram aprovar legislação para impedir o fumo nos
restaurantes como acontece na maior parte da Europa,
prejudicando assim o turismo, para além do bem-estar dos
residentes. Recordam-se como Guterres recuou quando se
pretendeu introduzir limites mais rigorosos para o consumo de
álcool dos condutores?

3 - Que saída ?

No actual contexto a sobrevivência da burguesia portuguesa depende de


dois factores.

a.Um, é a retoma da economia europeia que lhe permitirá acomodar-se


nos últimos lugares da hierarquia do capital, folgando até à próxima
crise.
b. Outro, é a aposta, como se tem visto, no desapossar da multidão,
de rendimentos, direitos e qualidade de vida, numa espiral
empobrecedora cujo fim não se vê. Para já regredimos ao nível de
1995 relativamente ao nível médio da UE.

Um dos aspectos da globalização capitalista de hoje é a criação e constante


ampliação de redes de empresas com um carácter cada vez mais desligado

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do Estado-nação. Ora este foi inventado pelas burguesias nacionais para
assim poderem gerir, à sua maneira, o "seu" património nacional e
amarrarem os "seus" trabalhadores.

Para estes, porém, o Estado-nação só serve enquanto lhes permitir viver


melhor do que os seus congéneres de além fronteiras, num
equacionamento complexo onde existem factores culturais e sociais de
monta. E, quando isso deixa de acontecer, abrem-se as portas para a
emigração e as condições para o enfraquecimento ou dissolução desse
Estado-nação, destruída a base da "coesão nacional", da liderança
burguesa.

É evidente que o aprofundamento das relações intra-comunitárias, ainda


que numa base essencialmente económica, tem arrastado a perda de poder
para os Estados nacionais, nomeadamente dos menos ricos. Parece claro
que, há mais de 20 anos, o capital e a burocracia europeia consideram
Portugal como satélite da Espanha (por muito que custe a esse grande
patriota chamado Alberto João). E, lentamente, sobretudo nas gerações
mais novas, o espanhol já não é detestado mas antes invejado.

No contexto global do capitalismo de hoje que vantagens têm os


trabalhadores portugueses com a gestão do empresariato português e do
seu mandarinato político? A opressão do capital global, sobre a multidão
residente em Portugal fica minorada com a burguesia portuguesa, como
capataz? Se o capital internacional desapossar essa burguesia tosca e
atrasada, a produtividade decerto aumenta e as práticas ancestrais de
compadrio, evasão/fraude fiscal serão menores, pois não se coadunam com
o capitalismo global de hoje. A burguesia portuguesa é uma camada social
que só empata, com um valor acrescentado negativo.

Não se pretende afirmar que o capitalismo global traz a bem-aventurança


eterna aos trabalhadores. Porém, a unidade da multidão humana contra o
capitalismo só é favorecida com a desaparição dos biombos nacionais. Mais
facilmente a multidão humana se une, em larga escala, quando se destaca
a condição de trabalhadores e de cidadãos do mundo do que quando
prevalece a nacionalidade. Veja-se a propósito a unidade conseguida, há
dois anos contra a invasão americana do Iraque e como as multidões se
imbecilizam fanatizadas pelos magnatas do futebol.

O processo de globalização em curso, provoca uma grande centralização do


capital e do poder e exige uma concomitante subordinação, integração e
até esmagamento das burguesias nacionais, pelo que não sobra um grande
papel para o patronato luso e o seu mandarinato político, com realce para a
amálgama de direita constituída por PS-PSD-CDS.

Aliás, é histórica a incapacidade das elites empresariais e,


consequentemente dos seus funcionários políticos. Embora sejam estes que
têm mais visibilidade e portanto polarizam o desprezo e a raiva da
multidão, são os primeiros os grandes responsáveis pois, qualquer elenco
de mandarinato político é facilmente descartável, como se viu com o
ridículo Santana.

Não está aberta uma crise revolucionária em Portugal susceptível de


ameaçar, por baixo a burguesia portuguesa. As principais ameaças para

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esta vêm da pressão do capital global que se repercutam na multidão, com
a assinatura do robot Sócrates.

Dificilmente se pode imaginar uma crise revolucionária transformadora no


âmbito da UE, se de carácter local. Pelo contrário, é necessário um esforço
enorme de concertação entre as esquerdas europeias, pesem embora as
diferenças de desenvolvimento, cultura e organização social; e, para esse
esforço o principal contributo é:

evidenciar junto da multidão que os partidos e sindicatos liberais ou


sociais-democratas, são apenas executores do que interessa ao
sistema financeiro, às multinacionais e ao capital mafioso.
gerar uma maior radicalização e organização das multidões
demonstrando que muitos dos que se dizem de esquerda não
sabem ou não querem aprofundar a oposição ao capital.
estudar e discutir as formas económicas, sociais e políticas
alternativas, do futuro, tendo em vista a extirpação do capitalismo e
do seu comportamento genocida.

Em Portugal não é suficiente nem pedagógico ficar na expectativa da acção


parlamentar das esquerdas, forçosamente limitada. É preciso e é possível
tomar iniciativas que compliquem a gestão do capital.

À luta de massas no quadro sindical, pela despenalização do aborto, contra


a redução dos direitos laborais é preciso juntar o que cada um, à escala
individual ou de grupos pode realizar: apoiar, fomentar e organizar
protestos, desobediência, insubordinação, desassossego; exigir, sem
preocupações legalistas, se necessário; divulgar informação
comprometedora para empresários, mandarins e respectivos agentes, a
todos os níveis. A palavra, a escrita, a internet, o telemóvel, as paredes,
tudo é susceptível de utilização contra o capital.

Setembro 2005

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