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5 exemplos que merecem ser copiados

| 07.02.2007

Eis um ponto de partida para governadores e prefeitos dispostos a


fazer uma boa administração: inspirar-se nos raros modelos de
gestão publica de qualidade

Divulgação

Praia de Pajuçara, em Maceió: estímulo aos empreendedores

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Por Gustavo Paul e Suzana Naiditch

EXAME Tão logo passou a ressaca da festa de posse na virada do ano, os


governadores eleitos acordaram para a dura realidade econômica dos estados
que hoje administram -- em geral com contas tão desequilibradas que
impossibilitam até mesmo honrar pagamentos corriqueiros, como a folha de
pessoal. Isso para não citar o dinheiro destinado a investimentos, que virou
artigo de luxo no Brasil. Dificuldades semelhantes são enfrentadas por milhares
de prefeitos pelo país afora, à frente de municípios que vivem quase à mingua.
Trata-se de um problema recorrente a cada troca de governo, quando a
autoridade que sai deixa o estado ou a cidade praticamente falidos para o
sucessor. Ao impor sanções para os maus governantes, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, sancionada no ano 2000, foi o primeiro passo no
sentido de atenuar esse problema. Mas o caos que aflorou nas últimas semanas
mostra o quanto ainda precisa ser feito para melhorar a gestão pública do país.
A boa notícia é que existem, sim, exceções. EXAME foi a campo e localizou bons
casos de administração pública, que podem ser replicados em todo o país,
desde que os governantes estejam dispostos a ousar, a enfrentar resistências e
a adotar medidas às vezes impopulares. Os resultados compensam, como se
comprova nos exemplos.

1 - Ataque à burocracia
Não é de hoje que a burocracia inferniza a vida dos empresários e desestimula
o surgimento de novos empreendedores no Brasil. O calvário nas repartições
públicas é velho conhecido dos milhões de brasileiros que já tentaram abrir um
novo negócio. Levantamentos do Banco Mundial mostram ser necessários em
média 152 dias para abrir uma empresa no país, enquanto na Austrália, apenas
três. A novidade é que, aos poucos, isso começa a mudar. Vêm surgindo, ainda
que de forma esparsa, iniciativas de desburocratização, principalmente para os
micro e pequenos empresários. É o caso das Centrais de Atendimento
Empresarial Fácil, que reúnem em um só local instituições municipais, estaduais
e federais responsáveis pelo processo de legalização de empresas. Entre as 21
existentes, a Central Fácil de Alagoas é citada como modelo pelo Serviço
Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas (Sebrae). Em Maceió, a
capital alagoana, já é possível abrir uma empresa em apenas seis dias -- antes
a espera era de 124 dias. Bom senso foi o principal ingrediente necessário para
viabilizar a iniciativa. "Fizemos uma verdadeira faxina nos procedimentos e nos
documentos exigidos dos empreendedores", diz Renata Fonseca, diretora
técnica do Sebrae alagoano.

A Central Fácil é mais que a concentração de dez órgãos públicos em um


mesmo lugar -- algo que já ajuda, pois evita uma maratona de visitas que
levaria dias. Funcionando como uma linha de montagem, os guichês são
dispostos na ordem ideal para análise dos documentos -- um papel analisado é
transferido para a mesa ao lado até a conclusão do processo. Para simplificar a
vida do cidadão, 24 documentos foram dispensados. Absurdos, como pedir uma
cópia autenticada da carteira de identidade dos sócios para cada órgão, foram
extirpados: basta uma cópia apenas. Atestados e certidões negativas podem
ser obtidos no próprio local.

Não foi fácil chegar ao formato final -- foi preciso um ano e meio de
negociações com órgãos públicos do município, do estado e da União. "Tivemos
de convencer as instituições de que abrir mão de documentos não significava
perda de poder", afirma Renata. A prefeitura de Maceió concordou em não mais
exigir comprovantes de quitação do imposto predial e territorial do imóvel dos
cinco anos anteriores para aprovar uma nova empresa. "Abrir um negócio e
cobrar impostos são coisas que não devem se misturar", diz Renata. O ataque à
burocracia trouxe como principal conseqüência um intenso movimento de
legalização de empresas informais -- foram 8 000 negócios que regularizaram a
situação. No final das contas, até a prefeitura saiu ganhando, já que a
arrecadação de taxas municipais cresceu 140%. Bom para todos.

2 - Compras pelo computador


Ao assumir o comando de Minas Gerais, em 2003, o governador Aécio Neves
viu-se diante de um estado virtualmente quebrado por um déficit de 2,4 bilhões
de reais nas contas públicas. Sem dinheiro para investir e pagar o
funcionalismo, a alternativa para tocar o governo foi a adoção de um amplo
conjunto de medidas de gestão para tirar o estado da insolvência. Um dos
problemas atacados foi o das compras governamentais, cujo volume alcançou
3,8 bilhões de reais em 2006. Com 63 órgãos fazendo licitações separadamente
para adquirir todo tipo de material, as compras do governo mineiro eram
desorganizadas e obscuras. Fornecedores cobravam do estado preços muito
acima dos do mercado. A solução foi concentrar as compras de vários órgãos
em pregões feitos por meio eletrônico. "Com essa mudança, ganhamos
economia de escala e fortalecemos o poder de barganha com os fornecedores",
diz Ana Cristina Braga Albuquerque, diretora da Superintendência Central de
Recursos Logísticos e Patrimônio de Minas Gerais. "Em 2003, Minas foi o
primeiro estado a tornar obrigatório o uso de pregões eletrônicos para licitações
de bens e serviços que podem ser utilizados em toda a máquina pública."
Nesses leilões, que representam 97% das licitações feitas pelo governo, são
comprados desde carteiras escolares até carros de polícia.

A principal virtude do pregão eletrônico, que nos últimos anos espalhou-se por
outros estados, municípios e pelo governo federal, é a transparência. Feito pela
internet e aberto a todos os interessados, ele evita arranjos entre os
concorrentes e joga os preços para baixo. "Mais empresas participam, o que
aumenta a oferta, e com isso há redução nos valores", afirma Renata Vilhena,
secretária adjunta de Planejamento e Gestão do estado. Nesse tipo de licitação,
ganha quem oferece o menor preço. O resultado é uma economia acumulada
de 803 milhões de reais de 2003 a 2006, o que representa ganho de 23%
sobre o valor inicial das compras. A metodologia criada pe lo governo mineiro
integra o pregão a um sistema de registro de preços, o que permite o controle
de todo o processo, desde o planejamento até o pagamento. Por isso, mereceu
aval do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que
concordaram em utilizá-lo nos projetos locais que financiam. A lição é que a
tecnologia pode -- e deve -- ser um instrumento para os gestores públicos.

3 - Cidade plugada
No discurso que fez ao assumir seu segundo mandato, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva prometeu informatizar todas as escolas públicas brasileiras até o
final de 2010. Se atingir esse objetivo, será um grande feito para um país em
que o acesso à tecnologia da informação é restrito a pouco mais de 20% da
população. No pequeno município fluminense de Piraí, distante 80 quilômetros
do Rio de Janeiro, desde 2004 a era digital já deixou de ser uma promessa para
seus 23 000 habitantes. No início da década, a prefeitura local dispunha apenas
de duas linhas telefônicas para atender às suas necessidades e servir à
população. Hoje, toda a cidade, incluindo secretarias municipais, escolas,
postos de saúde e terminais de passageiros, está plugada à internet em banda
larga. Foram colocados à disposição dos cidadãos 25 000 endereços de e-mail
gratuitos. "Aqui, a infra-estrutura montada para informática tem a mesma
prioridade das redes de água, luz e transporte", diz Franklin Dias Coelho,
coordenador-geral do projeto Piraí Digital, concebido pela prefeitura. Nas
escolas municipais, os computadores não são usados apenas nas aulas de
informática mas também são ferramentas para o ensino das outras matérias. O
projeto viabilizou ainda um convênio com as três universidades públicas do Rio
de Janeiro, que passaram a oferecer cursos superiores a distância para a
população local -- os alunos formados no Ensino Médio podem estudar sem sair
de Piraí, pois as aulas são disponibilizadas pela internet. Cursos mais curtos
também são oferecidos. Em quiosques digitais espalhados pela cidade, a
população pode acessar ofertas de emprego, informar-se sobre serviços da
prefeitura e até fazer reclamações ou pedidos por meio de uma ouvidoria
online. Nas zonas rurais, também foram instalados quiosques públicos com
internet para permitir, entre outras coisas, que os agricultores acompanhem as
cotações de produtos do campo e os preços de insumos.

A informatização de Piraí tornou-se viável com o programa de financiamento do


BNDES para modernização da administração tributária dos municípios. O então
prefeito, Luiz Fernando de Souza -- atual vice-governador do Rio de Janeiro --,
descobriu que o dinheiro que seria usado para conectar as secretarias também
era suficiente para incluir as escolas e os terminais públicos. Parcerias com
empresas instaladas no município, como a cervejaria Cintra, o banco Real e a
fabricante de papel de cigarro Schweitzer Maudit, completaram o orçamento,
viabilizando a compra e a manutenção dos equipamentos. A instalação da rede
de banda larga híbrida -- por cabo e sem fio -- custou cerca de 2 milhões de
reais e valeu à cidade três prêmios internacionais e três nacionais. Em 2005, a
revista americana Newsweek fez uma reportagem sobre cidades do mundo todo
que se destacam pela oferta de acesso à internet. Piraí foi uma das cinco
apontadas, ao lado de Nova York, Londres, Tóquio e da neozelandesa Auckland.
Além disso, as ações de inclusão digital renderam uma homenagem da Unesco,
órgão da ONU voltado à educação. "No passado, investir em estradas era a
forma mais rápida de conseguir o desenvolvimento. Atualmente o caminho do
crescimento são as infovias", afirma Coelho.

4 - Combate à informalidade
Se tudo der certo, a cena abaixo em breve ficará apenas na memória dos
porto-alegrenses. Os mais de 1 000 camelôs instalados no centro da capital
gaúcha deverão ser transferidos para centros populares de compras (CPCs). O
primeiro, sobre um terminal de ônibus, ficará pronto nos próximos meses. O
investimento, de 12 milhões de reais, será bancado pela iniciativa privada, que
cobrará aluguel dos comerciantes. Quando estiverem no novo centro, os ex-
ambulantes passarão também a recolher uma pequena taxa para a prefeitura.
"A melhor forma de aumentar a receita sem elevar a carga tributária é
alargando a base de contribuintes", diz Cristiano Tatsch, secretário da Fazenda
de Porto Alegre. Para convencer os camelôs a se transferir para o CPC, a
prefeitura está fazendo um levantamento do custo que cada ambulante tem
para estocar sua mercadoria e transportá-la diariamente. A proposta é que a
soma dos valores do aluguel e da taxa municipal seja inferior ao custo atual.
Para garantir que o espaço liberado nas calçadas não seja invadido por novos
camelôs, a Câmara de Vereadores aprovou uma lei que proíbe o comércio nas
ruas de Porto Alegre a partir do funcionamento dos CPCs.

Reduzir a informalidade, estimada em 40% da economia local, é uma das


prioridades da atual administração da capital gaúcha. Também para estimular
os empreendedores a legalizar o negócio, a prefeitura cortou sensivelmente o
tempo médio para liberar um alvará de funcionamento -- a espera, antes de 20
dias, caiu para 15 minutos, se os documentos estiverem em ordem. A
prefeitura também foi atrás de pequenos empreendedores da periferia que não
regularizavam sua situação por falta de escritura do imóvel ou de habite-se.
Desde setembro, uma lei instituiu o alvará provisório para que a empresa possa
funcionar até que esses documentos sejam providenciados. De lá para cá, já
foram emitidos mais de 1 000 alvarás provisórios.

Medidas simples como essas permitiram que a prefeitura saísse do buraco.


Quando o atual prefeito, José Fogaça, assumiu o cargo, há dois anos, o
município vinha de três exercícios seguidos com déficit, desempenho que
fechou as portas dos financiamentos internacionais para Porto Alegre. O quadro
começou a mudar logo após a eleição, quando Fogaça foi procurado pelo mais
eminente empresário da cidade: Jorge Gerdau Johannpeter, dono do grupo
Gerdau. Criador do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade, ele
ofereceu seus técnicos e os da Fundação Christiano Ottoni, de Minas Gerais,
para ajudar a prefeitura a adotar ferramentas modernas de gestão e treinar os
funcionários. "Percebi que poderia transmitir a experiência de mais de 15 anos
em qualidade total para dentro da minha paróquia", diz Gerdau.

5 - Ganho de produtividade
Motivar o funcionário para elevar a produtividade e reduzir custos é um dos
principais desafios de qualquer administrador. Se ele for do setor público, o
problema é ainda maior, já que a estabilidade no emprego limita o risco de
demissão, um argumento sempre poderoso para estimular os funcionários. A
solução encontrada em Goianésia, cidade de 50 000 habitantes distante 180
quilômetros de Goiânia, foi achar outro argumento de motivação, tão eficaz
quanto a punição -- o bolso do empregado. Desde 2003, para receber
gratificações e ganhar promoções, os 1 300 funcionários da prefeitura local são
submetidos a avaliações anuais de desempenho. Nesses balanços, são
observados quesitos como faltas sem justificativa, apresentação de atestados
médicos para obter licenças, pontualidade na entrega dos serviços e zelo com o
equipamento público. As alterações do estatuto do funcionalismo incluíram
outra novidade, que está sendo implantada aos poucos: o salário flexível. No
ano passado, a Secretaria de Infra-Estrutura, responsável pela área de obras,
começou a fazer avaliações mensais de desempenho dos funcionários. De
acordo com o resultado, o funcionário pode receber no mês um bônus de até
80% do salário -- um chefe de seção que tenha uma remuneração de 1 500
reais pode levar mais 1 200, caso seja bem avaliado. "A experiência deu certo e
será estendida neste ano para outras três secretarias", diz Otávio Lage de
Siqueira Filho, empresário e prefeito da cidade reeleito em 2004, que trouxe da
iniciativa privada a inspiração para mudar o perfil do funcionalismo.

Ao atrelar ganhos salariais à produtividade, o prefeito mudou hábitos típicos de


servidores públicos, em geral associados à falta de compromisso com sua
clientela -- a população. "Antigamente, se um servidor faltasse três vezes no
mês ou se o caminhão da prefeitura ficasse parado uma semana, o salário seria
depositado da mesma forma e quem perdia era o município", diz Cristiano
Carvalho, secretário de Infra-Estrutura de Goianésia. Era comum equipamentos
públicos ficarem dias parados para manutenção, por problemas reais ou não.
Agora, como máquina parada ou malconservada tira pontos na avaliação do
funcionário responsável, esses problemas foram quase extintos. "O que o
governo economiza em manutenção e com mais horas trabalhadas compensa o
aumento de gastos com a folha", afirma Carvalho. O mesmo se deu com a
apresentação de atestados médicos para justificar faltas: uma licença de mais
de três dias por mês elimina o ganho extra e prejudica as notas anuais do
servidor. Com as mudanças, a média mensal de dias de trabalho perdidos no
funcionalismo caiu quase 40% em 2006.

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