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LINHAS DE FORÇA DA ARQUELOGIA PORTUGUESA ENTRE OS

SÉCULOS XVI E XIX

Concebendo-se a si próprio como um movimento de revitalização dos princípios


estruturantes da cultura clássica, o Renascimento contribuiu para o desdobramento de
uma verdadeira paixão pelos vestígios materiais dessa mesma antiguidade clássica, que
se materializou na realização de escavações, com o fito de pôr a descoberto os restos do
passado greco-romano, e instituiu-se, desta forma, como precursor da prática
arqueológica.
Esta, no entanto, tinha como função essencial trazer à luz do dia monumentos e objectos
que, pela sua beleza, dessem a ver a perfeição a que tinha chegado a cultura artística da
antiguidade, assumindo, assim, uma função eminentemente estética e exemplar. Para
além desta função estética, os “monumentos”, deste modo trazidos à luz do dia,
serviam, também, “de “ornamento”, ou “ilustração”, a discursos sobre o passado que se
construíam com outras fontes, que não as materiais.” (Fabião, 1999: p.106 )
Este período de Arqueólogos-Antiquários inicia-se, entre nós, no século XVI, com as
obras do renascentista português André de Resende, e tem o seu ponto culminante que,
simultaneamente, marca o fim do predomínio desta corrente, no labor de Joaquim
Possidónio Narciso da Silva, principal responsável pela fundação da Real Associação
dos Architectos e Archeologos Portugueses, em 1872.
Este século XIX, marcado pelo culminar do projecto dos Arqueólogos-Antiquários, não
só no sentido em que este atinge o seu clímax no projecto corporizado pela atrás
referida Associação, mas, ainda, no sentido em que este clímax é o sinal do início da sua
decadência, é, também, o século de desdobramento de uma arqueologia científica, e da
sua irreversível expansão e enraizamento sociocultural.
Arqueologia científica cujo desenvolvimento está ligado, essencialmente, aos trabalhos
empreendidos pela segunda comissão geológica, onde pontificaram Carlos Ribeiro,
Pereira da Costa e Nery Delgado.
Não por acaso, a emergência desta arqueologia científica está directamente ligada ao
estudo da Pré-História: estudo radicalmente despojado da possibilidade de recorrer a
documentos escritos para o conhecimento da realidade desta época, os Pré-Historiadores
viram-se na necessidade de romper com a tradicional dependência em relação a esse
tipo de fontes e, deste modo, a darem uma importância fundamental não só à análise da
materialidade dos “objectos”, o que implicava um conhecimento profundo das suas
tipologias, mas também à sua disposição no espaço (horizontal e vertical) revelado pelas
escavações, o que determinou o desenvolvimento do método estratigráfico.
Alem disso, “O concurso harmónico e integrado de diversas áreas científicas para o
conhecimento da realidade humana pretérita, recorrendo à Paleontologia, à
Antropologia Física e aos estudos comparados das tradições populares e dos povos
primitivos actuais (consubstanciando uma nova área científica então designada por
“Paletnologia”), conduziu a abordagens da realidade arqueológica de uma forma
“moderna” (…).” (Cardoso, 2001: p.16)
A par com este desenvolvimento da arqueologia científica, verifica-se, como já
referimos, a afirmação inexorável da sua relevância social. Esta alicerça-se na
desagregação de um conjunto de valores que estruturavam, não só a mundividência
geral de uma época mas, também, a forma como o Homem pensava a sua origem e as
estruturas de coesão social. “O recuo “político” do cristianismo serviu apenas para
reforçar a convicção de que era necessário substituí-lo por outra crença colectiva.
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Acreditava-se que nenhum povo sobreviveria ao confronto entre ricos e pobres, se a
todos os cidadãos não fosse dado um ideal colectivo capaz de os unir. Em 1862, o
grande historiador Inglês Lord Acton observou que esse substituto, o equivalente ateu
da velha fé cristã, era algo que se começava a chamar «nacionalismo». Em breve, os
europeus seriam franceses, ingleses e alemães com a mesma intolerância e ferocidade
com que tinham sido protestantes e católicos três séculos antes.” (Ramos, 1994: p.566)
Esta necessidade de fundar historicamente a Nação, e de nela alicerçar a vivência da
comunidade política, juntamente com uma procura de justificação laica “para a origem
do Homem e do Mundo” (Fabião, 1999: p. 106), vai ter como consequência o desdobrar
da arqueologia entre a investigação pura e a preservação/valorização de monumentos,
entre o universal e o nacional.
Esta última vertente teve como principais expoentes José Leite de Vasconcelos, Martins
Sarmento e os membros da Sociedade Carlos Ribeiro.
Todos eles tinham como objectivo estruturante do seu trabalho a tentativa de fundar, no
mais remoto passado, a unidade étnico-cultural do povo português, através de um
“projecto nacionalista, cujo discurso de suporte se funda na convicção de uma
continuidade cultural existente na fachada ocidental da Península Ibérica, desde as mais
remotas eras até ao tempo presente.” (Fabião, 1999: p.116 )
Este discurso fundacional e identitário, visando legitimar a existência de uma
nacionalidade portuguesa desde um passado imemorial teve, no entanto, uma vida
relativamente curta, esvaindo-se nos inícios do século XX, na medida em que “nunca se
conseguiu demonstrar de uma forma convincente a “utilidade” da arqueologia para a
fundamentação do Nacionalismo português, que mais vantajosamente se nutriu de
outras fases/épocas da nossa História.” (Fabião, 1999: p.117 )
A vertente da investigação pura, preocupada, essencialmente, com o estudo de questões
relacionadas com a Humanidade em geral, procurando conhecer os diversos processos
da sua evolução e desenvolvimento, teve o seu principal núcleo de cultores nos
membros da segunda comissão geológica. Estes, mais que tentar fundar uma qualquer
estrutura identitária, procuraram, acima de tudo, conhecer a realidade Humana em toda
a sua complexidade, e nas suas diversas facetas. E foi esta vertente que criou raízes, e se
prolongou nos objectivos da arqueologia contemporânea.

Bibliografia
Cardoso, J. L. (Nº4 de 2001). Como Nasceu a Arqueologia em Portugal. O
Estudo da História , pp. 9-30.

Cardoso, J. L. (2007). Pré-História de Portugal. Lisboa: Universidade Aberta.

Cardoso, J. L. (2007). Pré-História de Portugal. Lisboa: Verbo.

Fabião, C. (Nº 8 IIª Série de Outubro de 1999 ). Um século de Arqueologia


em Portugal. Al-Madan , pp. 104-126.

Jorge, V. O. (2007). Arqueologia Património e Cultura. Lisboa: Instituto


Piaget.

Matos, O. (2007). Notas Soltas Sobre a “Descoberta” da Arqueologia no


Século xix. Praxis Aarchaeologica , pp. 75-96.

2
Ramos, R. (1994). A Segunda Fundação. In J. M. (Direcção), História de
Portugal Vol. VI. Lisboa: Círculo de Leitores.

Jorge Manuel de Matos Pina Martins Prata

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