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Ativos Intangíveis, Goodwill e Capital Intelectual: uma discussão de aspectos

conceituais e normativos

Resumo

No atual cenário de valorização econômica e gerencial do conhecimento, os ativos


intangíveis vêm ganhando mais espaços nos ambientes corporativos, superando, em alguns
casos, até mesmo os ativos tangíveis, em termos de avaliação econômica, exigindo um
aprimoramento no tratamento contábil desses itens. É nesse contexto que se insere o presente
artigo, tendo por objetivo geral discutir aspectos conceituais e normativos, referentes aos
ativos intangíveis, ao capital intelectual e ao goodwill. Para alcançar esse objetivo maior,
estabeleceu-se os seguintes objetivos específicos: a) conceituar ativos intangíveis, capital
intelectual e goodwill; b) apresentar aspectos legais relativos aos ativos intangíveis, ao capital
intelectual e ao goodwill; e c) elaborar uma síntese dos intangíveis, do capital intelectual e do
goodwill. Trata-se de uma pesquisa de natureza exploratória e bibliográfica. A partir do
quadro teórico e normativo traçado, foi possível comparar essas categorias, identificando
interrelações conceituais e normativas, apresentando em uma síntese conceitual a disposição
desses elementos (ativos intangíveis, goodwill e capital intelectual). Nessa perspectiva obteve-
se que os ativos intangíveis representam a categoria mais ampla, contendo o goodwill e outros
intangíveis; no segundo nível, tem-se o goodwill que abrange elementos de natureza
comercial, profissional, gerencial; e no terceiro nível tem-se o capital intelectual, como sendo
um dos componentes subjetivos do goodwill, resultante da sinergia de ativos tangíveis e
intangíveis (capital humano, capital estrutural e capital cliente).

Palavras-chave: Ativos intangíveis. Goodwill. Capital Intelectual.

1 Introdução
A atual complexidade corporativa tem impactado fortemente os modelos de gestão dos
negócios, tornando o ato de administrar um constante desafio para os gestores. Vários
recursos devem ser simultaneamente gerenciados de modo a produzirem interações sinérgicas
que levem ao alcance dos objetivos organizacionais. Entre os itens a serem primordialmente
gerenciados, destacam-se os ativos intangíveis, posto que, ocupam um lugar de destaque na
gestão patrimonial.
Esses ativos dizem respeito a elementos imateriais, incorpóreos, impalpáveis, ou seja,
sem existência física, mas carregados de significados econômicos, cujo valor é mais
facilmente percebido diante da simples ameaça da sua subtração do portfólio de ativos da
organização do que no cotidiano organizacional. Abrangem uma coleção variada, de marcas e
patentes à competência dos colaboradores, de direitos autorais à imagem da empresa, de
softwares à carteira de clientes e, cada vez mais, impactam nas decisões e na sustentabilidade
dos negócios.
O fenômeno da valorização desses ativos pode ser compreendido no âmbito das
mudanças econômicas, sociais, tecnológicas e outras, às quais a sociedade contemporânea tem
sido submetida. Esse período de gradativas transformações tem sido reconhecido por alguns
teóricos como um período de transição de uma Sociedade Industrial para uma nova sociedade
baseada no conhecimento e em outros elementos intangíveis.
Apesar da inexistência do consenso quanto à denominação mais adequada, o fato é que
na nova Era, alguns elementos antes pouco valorizados nas organizações passaram a ter um
novo status diante da sua capacidade de agregar valor ao negócio. Nesse sentido, Drucker
(1996) anuncia que aos tradicionais recursos econômicos – terra, capital e trabalho – se junta
um quarto item - o conhecimento, o qual está presente nos produtos, nos processos, nas
pessoas, nas bases de dados, nos relatórios, ou seja, permeando toda a organização.
Nesse cenário de valorização econômica e gerencial do conhecimento, os ativos
intangíveis vêm ganhando mais espaços, superando, em alguns casos, até mesmo os ativos
tangíveis, em termos de avaliação econômica. Diante desse panorama tem sido solicitado à
Contabilidade o aprimoramento nas metodologias de reconhecimento, mensuração e registro
desses itens, e o desenvolvimento de novas estratégias para lidar com aspectos do patrimônio
crescentemente significativos e desafiadores.
Do mesmo modo que os ativos intangíveis, outras categorias de ativos da mesma
natureza destacam-se, entre os quais: o goodwill e o capital intelectual, que, não obstante a
dificuldade do tratamento contábil, também requerem uma atenção constante pela onipresença
na atividade empresarial. Na maioria das vezes, a preocupação com esses ativos só é
despertada diante de operações envolvendo a compra e venda de um empreendimento com
vitalidade mercadológica, o que, normalmente, implica em uma valorização patrimonial
superior ao valor contábil registrado.
A presença de elementos que valorizam o negócio e que muitas vezes passam
desapercebidos no processo de gestão, tais como, uma boa reputação no mercado, uma
carteira de clientes fiéis, um ponto comercial privilegiado e colaboradores com autoestima
elevada, pode ser um fator decisivo na determinação do valor das transações entre empresas,
sinalizando que a dinâmica que rege o mundo dos negócios nem sempre é bem captada pelos
padrões contábeis vigentes.
A complexidade envolvida nesse processo fica evidenciada, inclusive, nos debates
teóricos, não havendo, ainda, uma compreensão unânime quanto às características e à
abrangência dessas categorias de ativos. Por outro lado, no campo normativo, tem-se também
tentado aprimorar o tratamento contábil dos ativos intangíveis, no intuito de padronizar a
metodologia a ser aplicada e a apresentação das informações relacionadas a esses itens,
facilitando, assim, análises e comparações entre os patrimônios das entidades.
É com esse intuito que as recentes mudanças normativas na área contábil integram um
amplo processo de mudanças, em nível mundial, de modo a adequá-la ao contexto de
internacionalização dos negócios. No Brasil, em particular, alterações para o tratamento
contábil dos ativos intangíveis têm sido propostas, com a edição de novas normas, adaptadas
às normas internacionais de contabilidade.
Portanto, entende-se que é fundamental ao profissional da área contábil, uma
compreensão adequada dos aspectos conceituais e normativos, relativos a essa temática, pois
desse entendimento depende a correta classificação e análise dos ativos contabilizados e,
assim, a produção de informações que reflitam a efetiva realidade patrimonial, financeira e
econômica das entidades.
É nesse contexto que se insere o presente artigo, tendo por objetivo geral discutir
aspectos conceituais e normativos, referentes aos ativos intangíveis, ao capital intelectual e ao
goodwill. A partir do quadro teórico e normativo traçado, poder-se-á comparar essas
categorias, identificando possíveis interrelações conceituais, com base na literatura pertinente
bem como nos dispositivos legais em vigor. Para se alcançar esse objetivo maior, observou-se
os seguintes objetivos específicos: a) conceituar ativos intangíveis, capital intelectual e
goodwill; b) apresentar aspectos legais relativos aos ativos intangíveis, ao capital intelectual e
ao goodwill; e c) apresentar uma síntese conceitual dos intangíveis, do capital intelectual e do
goodwill.
Trata-se de uma pesquisa de natureza exploratória e bibliográfica. Segundo Gil (2008,
p.27), “as pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão
geral [...] acerca de determinado fato” e é adequada quando o tema em estudo não comporta
facilmente a formulação de hipóteses precisas e operacionalizáveis. Também, segundo o
autor, esse tipo de pesquisa comumente envolve levantamento bibliográfico e documental,
entre outros. A pesquisa bibliográfica tem sua principal fonte de consulta nos materiais já
elaborados, principalmente livros e artigos científicos (GIL, 2008). Em praticamente todas as
investigações, há esse tipo de pesquisa em fontes bibliográficas, todavia, em outras, ela pode
constituir o próprio estudo.
Entende-se ser um estudo pertinente, diante da crescente importância dos recursos
intangíveis nas organizações e do respectivo investimento empresarial na área. Com uma
melhor compreensão do assunto, é possível vislumbrar possibilidades para uma melhor gestão
desses elementos, visando a potencialização do desempenho e do patrimônio empresarial.

2 Ativos Intangíveis, Goodwill e Capital Intelectual: uma breve discussão conceitual


Na história da humanidade há uma sucessão de grandes momentos de mudanças que
mudam o curso da vida e da sociedade. Um desses momentos marcante foi a Revolução
Industrial que afetou sobremaneira o modo de produção até então artesanal, passando para a
massificação na fabricação de bens, iniciando o processo de industrialização, o capitalismo e
as novas relações entre trabalho e capital.
Atualmente, assiste-se a uma nova revolução, agora centrada na informação e no
conhecimento – elementos tipicamente intangíveis -, levando-nos à uma nova Era. A
emergência dessa nova sociedade, ao final do século XX, foi percebida por vários teóricos e
tem recebido várias denominações - Sociedade do Conhecimento (SAVAGE, 1996),
Sociedade em Rede (CASTELLS, 2000), Sociedade Pós-Capitalista (DRUCKER, 1996) – e
requerido respostas para novas situações-problemas.
Agora, segundo Drucker (1996), o conhecimento passou a ser o recurso, ao invés de
um recurso, uma vez que, é o elemento que agrega verdadeiramente valor aos produtos,
enquanto os demais fatores, tradicionalmente presentes no processo produtivo, se tornaram
secundários, pois, com o conhecimento é possível se obter os demais. O surgimento do
conhecimento como um recurso econômico também evidencia a sua relevância como fator de
produção, posto que, se relaciona com habilidades cognitivas inerentes ao ser humano, tais
como, a obtenção e o desenvolvimento de conhecimento, e constitui um recurso inesgotável
por natureza, diferentemente dos recursos naturais, base da sociedade industrial.
Porém, conforme afirma Stewart (1998, p.52), “há apenas um problema: tentar
identificar e gerenciar os ativos baseados no conhecimento é como pescar com as mãos. Não é
impossível, mas torna-se extremamente difícil capturar o objeto do esforço”. Assim,
considerando-se que o conhecimento no sentido amplo é um dos principais elementos que
permeia os conceitos de ativos intangíveis, capital intelectual e goodwill, intui-se a
complexidade de se lidar com os fenômenos contábeis contemporâneos, principalmente, no
âmbito das organizações cujas atividades estão centradas nos ativos do conhecimento.
Devido à sua imaterialidade, surge a necessidade de se entender a essência desses
elementos para se desenvolver estratégias organizacionais adequadas, para gerenciá-lo,
controlá-lo e divulgá-lo, visto que, tão certo quanto a sua virtualidade é o impacto da sua
presença nas entidades, qualquer que seja a categoria em que se enquadre - ativo intangível,
capital intelectual, goodwill.
A contabilidade tradicionalmente é construída a partir da classificação dos elementos
patrimoniais em ativo e passivo. Segundo Stewart (2002, p.38), “ativo é tudo aquilo que
transforma matéria-prima em algo mais valioso.” Os ativos subdividem-se em tangíveis -
dinheiro, terrenos e prédios, instalações, equipamentos e outros itens patrimoniais - e
intangíveis – marcas e patentes, direitos autorais, P&D, bancos de dados, sistemas de
informações, habilidades e capacidades dos funcionários, cultura organizacional, lealdade da
clientela, e assim por diante. Sendo que muitos desses ativos intangíveis não aparecem nos
registros contábeis, apesar de, em muitos casos, serem mais valiosos do que os tangíveis.
Os ativos intangíveis possuem uma natureza bastante diferente do que a dos ativos
tangíveis. Todavia, há certa dependência entre eles, uma vez que coexistem em um mesmo
ambiente organizacional. Carayannis e Watson (2001) acreditam que os ativos tangíveis e
intangíveis possam ser co-gerenciados a partir de uma melhor compreensão da forma como se
relacionam.
Um ativo intangível é aquele que não pode ser percebido pelos sentidos humanos,
posto que, é desprovido de corporificação, de massa, de substância. Kohler (apud
IUDÍCIBUS, 1997, p.203) define intangível como “ativos de capital que não têm existência
física, cujo valor é limitado pelos direitos e benefícios que, antecipadamente, sua posse
confere ao proprietário”.
Os ativos intangíveis compõem uma das áreas mais complexas da teoria da
contabilidade em virtude das dificuldades de definição e, principalmente, por causa das
incertezas a respeito da mensuração de seus valores e da estimação de suas vidas úteis.
Tradicionalmente, atribuir valor a um ativo tangível é mais fácil do que a um ativo intangível,
pois a maioria dos ativos tangíveis não necessita de uma avaliação com maior grau de
subjetividade ou baseada em considerações quanto à valoração a preço de mercado ou de
realização.
Todavia, atualmente, além dos ativos intangíveis, alguns ativos tangíveis devem ser
submetidos a um teste de recuperabilidade, visando a garantir que os ativos não estejam
avaliados contabilmente a valores superiores ao seu valor recuperável. A norma CPC 01
determina a realização do teste de impairment sempre que houver sinais de que o valor
contábil está acima do valor recuperável. Essas perdas por impairment devem ser
reconhecidas se, e somente se, o valor recuperável do ativo for menor do que o seu valor
contábil, o qual deverá ser reduzido ao valor recuperável.
Avaliar elementos intangíveis, que não possuem existência física, não é algo novo na
contabilidade, existindo métodos previstos na contabilidade para se avaliar marcas, P&D e
goodwill, por exemplo. Contudo, apesar de várias metodologias de cálculos terem sido
desenvolvidas ao longo dos anos, ainda há muitas incertezas acerca da contabilização desses
elementos. Predominam metodologias que utilizam indicadores para quantificar os
intangíveis, buscando tratá-los como tangíveis, o que nem sempre é possível por serem
elementos de naturezas diferentes.
O conceito de goodwill encontra-se intrinsecamente atrelado ao de ativos intangíveis,
sendo igualmente desafiador e de difícil apreensão. O goodwill adquirido corresponde a um
dos elementos intangíveis que impactam o patrimônio da organização, sendo reconhecido na
doutrina da Contabilidade há bastante tempo. Monobe (1986 apud ANTUNES, 2000) ressalta
que a primeira aparição do goodwill estava vinculada à terra, e paulatinamente foi sendo
vinculado ao comércio, à atividade industrial, à fidelidade da clientela, à localização
privilegiada, à personalidade dos proprietários, dentre outros.
Em uma antiga classificação, realizada por Coyngton, datada de 1923 (apud
ANTUNES, 2000, p.84-85), o goodwill assume a seguinte divisão:
• goodwill comercial: criado em função, exclusivamente, de toda a empresa,
independentemente das pessoas proprietárias ou administradoras;
• goodwill pessoal: decorrente de uma ou várias pessoas que integram a empresa,
sendo proprietária(s) ou administradora(s);
• goodwill profissional: desenvolvido por uma classe profissional que cria uma
imagem que a distingue dentro da sociedade, propiciando condições de alta
remuneração, como no caso dos médicos, advogados e contadores em alguns países;
• goodwill evanescente: característico de certos produtos que a moda cria e,
portanto, possuem curta duração;
• goodwill de nome ou marca comercial: ocasionado pela imagem do nome da
empresa que produz o produto ou da marca sob o qual é comercializado. Distingue-
se do anterior pela durabilidade.

Esse ativo intangível – goodwill adquirido - corresponde ao valor pago superior ao


valor patrimonial, quando da aquisição de uma empresa, sendo calculado com base em vários
parâmetros, tais como: clientela, ponto comercial, habilidade gerencial, prestígio do negócio,
relacionamento com os empregados, dentre outros. Assim, costumeiramente o goodwill é
reconhecido pela contabilidade financeira apenas quando adquirido por meio da compra de
uma empresa, ou parte dela, sendo registrado como sendo a diferença entre o valor pago pela
empresa (valor de mercado) e o valor dos ativos líquidos.
Em uma perspectiva atual, Monobe (1986, p.65 apud ANTUNES, 2000, p.84) afirma
que, o goodwill corresponde à diferença entre o valor atual de toda a empresa, ou seja, sua
capacidade de geração de lucros futuros, e o valor econômico de seus ativos, apresentando,
portanto, uma característica residual.
Segundo Canning (apud HENDRIKSEN; BREDA, 1999, p.393), “o goodwill é
simplesmente o valor da empresa que somos incapazes de associar a ativos específicos.” A
tendência ao tratamento linear e objetivo do goodwill subestima a complexidade dos
elementos envolvidos e suas interrelações. Ademais, o goodwill criado internamente
(subjetivo) não tem sido contabilizado devido à dificuldade de sua mensuração, não sendo
reconhecido como ativo intangível.
De certo modo é mais fácil mensurar o goodwill diante de uma operação de venda de
uma empresa do que tentar conceituá-lo. Em verdade, com um olhar mais atento, percebe-se
que o goodwill não é gerado na compra ou venda de uma empresa, pois ele já existe
intrinsecamente ao negócio e é gerado pela sinergia entre os ativos tangíveis e intangíveis.
Com efeito, uma máquina, por exemplo, possui seu valor de compra e consta no Balanço
Patrimonial de uma empresa no item Máquinas e Equipamentos, no entanto, as máquinas
precisam ser programadas para realizar suas tarefas e sem os conhecimentos e as
competências dos colaboradores para programá-las, elas não terão utilidade na empresa.
Desse modo, torna-se evidente a presença de ativos intangíveis, em particular do
goodwill, no funcionamento da entidade, e a necessidade do emprego de metodologias
adequadas para a sua gestão e contabilização, pois impactam o desempenho econômico e são
potencialmente geradores de benefícios futuros.
Em princípio, se poderia reconhecer o goodwill a qualquer momento, comparando o
valor de mercado de uma empresa com o valor contábil de seu patrimônio líquido. De
qualquer modo, pouco seria conseguido com esse tratamento, posto que o goodwill representa
vantagens que não são especificamente identificáveis, carecendo de um método lógico de
vinculação dos seus custos a qualquer receita específica em períodos futuros.
Em muitas empresas, o goodwill é o ativo intangível mais importante e,
frequentemente, o de tratamento contábil mais complexo porque carece de muitas das
características associadas a esses ativos, tais como, identificabilidade e separabilidade.
Concorrentemente com o goodwill, nas últimas décadas, uma nova categoria de ativos
intangíveis também tem despertado o interesse e a atenção dos gestores: o capital intelectual,
decorrente da ascensão dos ativos do conhecimento.
Nas organizações modernas, a aplicação desse novo recurso (o conhecimento) tem
produzido grandes benefícios econômicos, atribuídos ao capital intelectual (BROOKING,
1998). Trata-se de um conceito recente, que requer a aplicação de novas estratégias
corporativas, nova filosofia de administração e novas formas de avaliação do valor da
empresa que contemplem o recurso do conhecimento (ANTUNES, 2000).
Cada vez menos os investimentos corporativos destinam-se a máquinas e ferramentas
e mais aos recursos e ao trabalhador do conhecimento. Sem o conhecimento, as máquinas são
improdutivas, por mais avançadas e sofisticadas que sejam (DRUCKER, 1996). De sorte que,
grande parte do sucesso corporativo passou a depender de competências, habilidades e
atitudes dos colaboradores, verdadeiros detentores das capacidades criativas e inovativas,
geradoras de capital intelectual.
Segundo Stewart (2002), a expressão capital intelectual surgiu em 1958. Na ocasião
dois analistas financeiros referiam-se à avaliação de ações de determinadas empresas de
pequeno porte e mencionaram que o capital intelectual dessas empresas seria o seu elemento
isolado mais importante.
O capital intelectual é definido por Brooking (1998, p.12) como uma combinação de
ativos intangíveis, frutos das mudanças nas áreas da tecnologia da informação, mídia e
comunicação, que trazem benefícios intangíveis para as empresas e que capacitam seu
funcionamento. Para Stewart (1998, p.XIII), “o capital intelectual constitui a matéria
intelectual – conhecimento, informação, propriedade intelectual, experiência – que pode ser
utilizada para gerar riqueza”. Também, segundo o autor, capital intelectual é o conhecimento
que transforma as matérias-primas tangíveis ou intangíveis e as torna mais valiosas
(STEWART, 2002).
Historicamente, segundo Antunes (2000), estudos foram inicialmente desenvolvidos
em torno de um dos elementos que compõem o capital intelectual: o capital humano. Alguns
economistas, a partir do século XV, esforçaram-se para encontrar um meio para avaliar
monetariamente o ser humano. Motivados por uma perspectiva econômica os estudos
buscavam estimar perdas com as guerras e com as migrações, por exemplo.
Além do capital humano, o conceito e capital intelectual tende a abranger outros
elementos. Um dos primeiros modelos conceituais desenvolvido para identificar os elementos
formadores do capital intelectual foi o proposto por Edvinsson e Malone (1998), o qual divide
o capital intelectual didaticamente em: capital humano e capital estrutural. O capital humano
corresponde a toda capacidade, conhecimento, habilidade e experiência individuais dos
empregados de uma organização para realizar as tarefas; enquanto o capital estrutural é
formado pela infraestrutura que apóia o capital humano e facilita o fluxo de atividades nas
empresas: equipamentos de informática, softwares, bancos de dados e outros.
Outros autores, como Saint-Onge (1996) e Stewart (1998), incluem o capital cliente
como integrante do capital intelectual, no mesmo nível do capital humano e do capital
estrutural. O capital cliente corresponde ao valor dos relacionamentos externos de uma
organização. São os clientes que garantem a existência da empresa, adquirindo seus produtos
e/ou serviços, por isso a sua lealdade e satisfação tornam-se imprescindíveis. Há vários canais
para se identificar a vitalidade desse capital, entre os quais, nas cartas de reclamação, índices
de renovação, vendas cruzadas, indicações e rapidez de retorno de suas ligações (STEWART,
1998).
Igualmente para Brooking (1998), o capital intelectual pode ser dividido em: ativos de
mercado (marcas, clientes, negócios em andamento, canais de distribuição, franquias etc.);
ativos humanos (expertise, criatividade, conhecimento, habilidade); ativos de propriedade
intelectual (know-how, segredos industriais, copyright, patentes, designs etc.); ativos de
infraestrutura (tecnologias, processos, sistema de informação, métodos gerenciais, banco de
dados etc.).
Essas categorizações do capital intelectual já se tornaram clássicas, sendo bastante
utilizadas nos estudos sobre o tema, pois identificam os principais elementos que atuando
sinergicamente contribuem para uma formação patrimonial sólida e um retorno econômico
superior para a empresa, caso esta priorize deliberadamente os processos geradores de
conhecimento na sua gestão.
Apesar do reconhecimento da sua presença no mundo corporativo contemporâneo,
predominam mecanismos de avaliação do capital intelectual que adotam por parâmetro o
valor de mercado da empresa, o que é uma visão limitada. Esse parâmetro nem sempre é
adequado por ser o capital intelectual um fenômeno presente em qualquer tipo de
organização: privada, pública, não-governamental, já que o mesmo é constituído por
elementos que se fazem presentes em qualquer contexto organizacional, a qualquer tempo.
Entende-se que, quando não for possível uma mensuração precisa, deve-se ao menos
monitorar o impacto e o desenvolvimento desses elementos formadores de capital intelectual
no desempenho organizacional. Talvez o processo de medir seja tão (ou mais) importante
quanto o resultado em si, uma vez que pode proporcionar aprendizados profundos sobre a
organização.
Apesar do interesse que o tema vem despertando nos meios acadêmicos e
corporativos, ainda não há unanimidade quanto ao delineamento e tratamento contábil a ser
dispensado ao capital intelectual. As centenárias práticas contábeis resistem às mudanças e
não sinalizam reformas significativas para breve. A contabilidade financeira, ainda hoje, tem
muita dificuldade em lidar com a repercussão econômica dos elementos patrimoniais
intangíveis, principalmente os ativos baseados em conhecimento, o que causa distorções no
valor dos ativos e do patrimônio líquido das entidades.
Contudo, diante do cenário econômico e tecnológico atual, propício à emergência de
novos produtos ricos em conhecimento, a integração entre elementos tangíveis e intangíveis
tornou-se imperiosa para a agregação de valor ao negócio. Daí a necessidade de se gerenciar
com igual atenção tais elementos, pois à medida que os intangíveis ganham espaço nas
organizações não suportam mais práticas gerenciais e contábeis que os omitam. Na opinião de
Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001, p.315), a abordagem que capacita para o conhecimento
“permitiu que os membros da organização percebessem o valor de vários componentes desses
ativos intangíveis, de modo a torná-los mais gerenciáveis, ainda que não sejam controláveis
como os ativos físicos.”
3 Ativos Intangíveis, Goodwill e Capital Intelectual: uma breve discussão normativa
O fato de os ativos intangíveis não possuírem substância não os excluem das
exigências aplicadas a outros ativos patrimoniais. Com efeito, seu reconhecimento vincula-se
aos mesmos critérios aplicados para todos os ativos, ou seja, deve: a) corresponder à definição
apropriada; b) ser mensurável; c) ser relevante e d) ser preciso1 (HENDRIKSEN; BREDA,
1999).
Segundo esses autores, algumas pessoas alegam que os intangíveis possuem
características que os distinguem dos ativos tangíveis, o que exigiria um tratamento
diferenciado para aqueles, condizente com sua natureza. Algumas das características
diferenciadoras são a inexistência de usos alternativos, a falta de separabilidade e a maior
incerteza quanto à recuperação.
A inexistência dos usos alternativos refere-se ao fato de que, em geral, os ativos
intangíveis retiram seu valor econômico das expectativas de geração de lucros no futuro, de
eventos que não podem ser transferidos para outros usos (por ex: desenvolvimento de
produtos exclusivos). A separabilidade corresponde à inadmissibilidade de separação dos
ativos intangíveis da empresa ou de seus ativos físicos, de modo que, a sua existência e o seu
valor dependem fortemente da integração com os ativos tangíveis da empresa. A incerteza diz
respeito ao elevado grau de insegurança referente ao valor dos benefícios futuros a serem
auferidos (HENDRIKSEN; BREDA, 1999).
No campo normativo nacional tem-se a Lei nº 6.404/76 e as alterações promovidas,
principalmente, através das Leis nº.11.638/07 e 11.941/09, em vários aspectos legais da
contabilidade. Segundo esses dispositivos, no balanço patrimonial as contas do ativo deverão
ser dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos
grupos circulante e não circulante. Este, subdividido em ativo realizável a longo prazo,
investimentos, imobilizado e intangível (Art. 178 da Lei nº 6.404/76 alterado pela Lei nº
11.941/09).
No ativo imobilizado estão os direitos que tenham por objeto bens corpóreos
destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa
finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios,
riscos e controle desses bens (item IV do Art. 179 da Lei nº 6.404/76 com redação dada pela
Lei nº 11.638/07). No ativo intangível encontram-se os direitos que tenham por objeto bens
incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade,
inclusive o fundo de comércio adquirido (item VI do Art. 179 da Lei nº 6.404/76 incluído pela
Lei nº 11.638/07).
Também, segundo a legislação (Art. 183, § 3º, da Lei nº 6.404/76 com redação dada
pela Lei nº 11.941/09), a companhia deverá efetuar, periodicamente, análise sobre a
recuperação dos valores registrados no imobilizado e no intangível, a fim de que sejam:
I – registradas as perdas de valor do capital aplicado quando houver decisão de
interromper os empreendimentos ou atividades a que se destinavam ou quando
comprovado que não poderão produzir resultados suficientes para recuperação desse
valor; ou (incluído pela Lei nº 11.638/07)
II – revisados e ajustados os critérios utilizados para determinação da vida útil
econômica estimada e para cálculo da depreciação, exaustão e amortização (incluído
pela Lei nº 11.638/07).

1
Segundo a Statement of Financial Accounting Concepts SFAC 5, parágrafo 63.
Essas atualizações legais inserem-se no contexto de adaptação das normas contábeis
nacionais ao padrão internacional das IFRS (International Financial Reporting Standards),
em um processo liderado mundialmente pelo IASB (International Accounting Standards
Board), buscando uma convergência dos relatórios financeiros internacionais, requerida pelo
processo de globalização dos mercados. No mesmo sentido, no país, o Comitê de
Pronunciamentos Contábeis2 (CPC) tem editado um conjunto de normas contábeis, cujo
Pronunciamento Técnico CPC 04, de 2008, trata especificamente dos ativos intangíveis.
O CPC 04 prevê duas condições gerais que devem ser atendidas para o
reconhecimento de um ativo intangível, que são: estar enquadrado na definição de ativo
intangível e observância aos critérios de reconhecimento (CPC 04, item 18). Também,
determina que um ativo intangível deve ser reconhecido apenas se for provável que os
benefícios econômicos futuros esperados atribuíveis ao ativo serão gerados em favor da
entidade e se o custo do ativo possa ser mensurado com segurança (CPC 04, item 21).
Segundo esse pronunciamento o ativo intangível é um ativo identificável, controlado e
gerador de benefícios econômicos futuros. Um elemento satisfaz o critério de identificação
quando é separável, ou seja, quando pode ser separado da entidade e vendido, transferido,
licenciado, alugado ou trocado, individualmente ou junto com um contrato, ativo ou passivo
relacionado; ou quando é gerado por direitos contratuais ou outros direitos legais,
independentemente de tais direitos serem transferíveis ou separáveis da entidade ou de outros
direitos e obrigações (CPC 04, item 12).
O controle de um ativo por uma entidade decorre do seu poder de obter benefícios
econômicos futuros produzidos pelo respectivo elemento e de limitar o acesso de terceiros a
esses benefícios, geralmente, através de direitos legais. Todavia, o controle de benefícios
econômicos futuros pode ocorrer por outros meios senão o impositivo legal (CPC 04, item
13). Já, a obtenção de benefícios econômicos futuros oriundos de ativos intangíveis pode
ocorrer por meio da receita da venda de produtos ou serviços, redução de custos ou outros
benefícios produzidos por esses ativos (CPC 04, item 17).
Os vários critérios de reconhecimento dependem do tipo de ativo intangível tratado,
conforme determina o CPC 04. Analisar-se-ão as seguintes situações: a) os ativos intangíveis
gerados internamente; b) o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) adquirido
em uma concentração (ou combinação) de atividades empresariais; e c) o ágio (goodwill)
gerado internamente.
No primeiro caso, ou seja, dos ativos intangíveis gerados internamente, os critérios de
reconhecimento preveem que a entidade deve classificar a geração do ativo em duas fases: de
pesquisa e de desenvolvimento. Caso a entidade não consiga diferenciar a fase de pesquisa da
fase de desenvolvimento de um projeto interno de criação de um ativo intangível, o gasto com
o projeto deve ser tratado como incorrido apenas na fase de pesquisa (CPC 04, item 64).
Segundo essa norma, nenhum ativo intangível resultante de pesquisa (ou da fase de
pesquisa de um projeto interno) deve ser reconhecido, ou seja, os gastos envolvidos nessa
etapa devem ser reconhecidos como despesa quando incorridos (CPC 04, item 65). Essa fase
antecede a de desenvolvimento, sendo considerada mais incerta em termos de retornos.
Por sua vez, um ativo intangível resultante de desenvolvimento (ou da fase de
desenvolvimento de um projeto interno) deverá ser reconhecido somente se a entidade puder
comprovar todas as seguintes condições: a) viabilidade técnica para completar o ativo
intangível de forma que ele seja disponibilizado para uso ou venda; b) sua intenção de
2
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, foi idealizado a partir da união de esforços e
comunhão de objetivos das seguintes entidades: ABRASCA, APIMEC NACIONAL, BOVESPA, Conselho Federal de Contabilidade,
FIPECAFI e IBRACON, visando ao processo de convergência internacional das normas contábeis ( http://www.cpc.org.br/oque.htm).
completar o ativo intangível e de usá-lo ou vendê-lo; c) sua capacidade para usar ou vender o
ativo intangível; d) a forma como o ativo intangível deverá gerar benefícios econômicos
futuros; e) a disponibilidade de recursos técnicos, financeiros e outros recursos adequados
para concluir seu desenvolvimento e usar ou vender o ativo intangível; e f) sua capacidade de
mensurar com segurança os gastos atribuíveis ao ativo intangível durante seu
desenvolvimento (CPC 04, item 68).
O Quadro 1, abaixo, apresenta alguns exemplos de atividades consideradas de em fase
de pesquisa e de desenvolvimento:
Fases Exemplos de Atividades
- Atividades destinadas à obtenção de novo conhecimento;
- Busca, avaliação e seleção final das aplicações dos resultados de pesquisa ou
outros conhecimentos;
Pesquisa - Busca de alternativas para materiais, dispositivos, produtos, processos, sistemas ou
serviços alternativos;
- Formulação, projeto, avaliação e seleção final de alternativas possíveis para
materiais, dispositivos, produtos, processos, sistemas ou serviços novos ou
aperfeiçoados.
- Projeto, construção e teste de protótipos e modelos pré-produção ou pré-utilização;
- Projeto de ferramentas, gabaritos, moldes e matrizes que envolvam nova
tecnologia;
- Projeto, construção e operação de uma fábrica-piloto, desde que já não esteja em
Desenvolvimento escala economicamente viável para produção comercial;
- Projeto, construção e teste da alternativa escolhida de materiais, dispositivos,
produtos, processos, sistemas e serviços novos ou aperfeiçoados.
Quadro 1 – Atividades de pesquisa e de desenvolvimento
Fonte: Elaborado a partir CPC 04, itens 67 e 70.

Quanto ao custo de um ativo intangível gerado internamente, objeto de


reconhecimento contábil, o mesmo se restringe à soma dos gastos incorridos a partir da data
em que o ativo intangível cumpre os critérios de reconhecimento previstos no CPC 04 (item
76). O custo inclui todos os gastos diretamente atribuíveis, necessários à criação, produção e
preparação do ativo para que possa funcionar conforme pretendido pela administração (CPC
04, item 77).
O Quadro 2, abaixo, apresenta exemplos de custos diretamente atribuíveis a ativos
intangíveis e de itens que não representam esses custos:
Custos Exemplos
- Gastos com materiais e serviços consumidos ou utilizados na geração do ativo
intangível;
- Custos de benefícios a empregados relacionados à geração do ativo intangível;
Custos - Taxas de registro de um direito legal;
- Amortização de patentes e licenças utilizadas na geração do ativo intangível.
- Gastos com venda, administrativos e outros gastos indiretos em geral, exceto se
Não-Custos tais gastos puderem ser atribuídos diretamente à preparação de ativo para uso;
- Ineficiências identificadas e prejuízos operacionais iniciais incorridos antes do
ativo atingir o desempenho planejado;
- Gastos com o treinamento de pessoal para operar o ativo.
Quadro 2 – Custos e não Custos atribuíveis a ativos intangíveis gerados internamente
Fonte: Elaborado a partir do CPC 04, itens 77 e 78.

No caso de um ativo intangível gerado internamente, a dificuldade maior para avaliar


se o mesmo se qualifica para reconhecimento reside na dificuldade de se identificar se existe
um ativo que gerará os benefícios econômicos futuros esperados; e determinar com segurança
o custo desse ativo. Em alguns casos, não é possível separar o custo incorrido com a geração
interna de um ativo intangível do custo da manutenção ou melhoria do ágio (goodwill) gerado
internamente ou com as operações regulares da entidade (CPC 04, item 62).
Essa norma determina que a empresa deve possuir o controle do ativo intangível
(restringindo seu uso a terceiros) e poder usufruir seus benefícios econômicos futuros, ou seja,
ser capaz de transformá-lo em caixa. Assim, ainda que a empresa possua um bom ponto
comercial, ela não pode obrigar as pessoas que ali passam a comprarem em seu
estabelecimento; também, mesmo que ela possua um colaborador competente e
compromissado, ela não pode obrigá-lo a permanecer trabalhando, quando não mais for de
seu interesse. Desse modo, não podendo controlar esses ativos, a empresa pode perder seus
benefícios futuros. Portanto, a ausência de direitos legais sobre esses itens impede que eles se
enquadrem na definição de ativos intangíveis.
Uma segunda situação tratada na norma CPC 04 é o ágio por expectativa de
rentabilidade futura (goodwill) adquirido em uma concentração (ou combinação) de
atividades empresariais. O goodwill representa um elemento clássico dentre os ativos
intangíveis e, segundo Hendriksen e Van Breda (1999, p.392) “é o mais importante ativo
intangível na maioria das empresas”.
Esse ágio (goodwill) adquirido representa um pagamento feito como antecipação de
benefícios econômicos futuros de ativos que não sejam capazes de serem identificados
individualmente e reconhecidos separadamente (CPC 04, item 48) e deve ser reconhecido
pelo adquirente, na data da aquisição (CPC 04, item 49).
O CPC 04 define ativo intangível como sendo um ativo não monetário identificável
sem substância física ou o ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) (CPC
04, item 08). A definição de um ativo intangível exige que ele seja identificável, para
diferenciá-lo do ágio pago por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) (CPC 04, item
11). Assim, o pronunciamento técnico do CPC que trata da matéria faz uma distinção entre
outras formas de ativos intangíveis e o goodwill.
De um lado existem aqueles ativos identificáveis, separáveis, que podem ser vendidos
ou transferidos, e resultantes de direitos contratuais, ou seja, são os ativos intangíveis; e do
outro, o goodwill, que é formado por aqueles itens cujos benefícios econômicos futuros são
gerados por ativos adquiridos em uma combinação de negócios, que não são possíveis de
serem identificados individualmente e reconhecidos separadamente.
O ágil (goodwill) adquirido deve ser mensurado, inicialmente, pelo seu custo, ou seja,
o excesso do custo do negócio em relação ao valor justo líquido. A norma também prevê que
esse goodwill não deve ser amortizado e sim, submetido ao teste de recuperação de ativos
(CPC 04, item 55).
Uma outra categoria de ativos intangíveis prevista no CPC 04 é o ágio (goodwill)
gerado internamente que, segundo a norma, não deve ser reconhecido como ativo por não
atender às exigências da definição de ativos intangíveis, ou seja, não é um recurso
identificável, controlado pela entidade ou que pode ser avaliado corretamente pelo custo (CPC
04, itens 59 e 60). Em alguns casos, os gastos são realizados para gerar benefícios econômicos
futuros, mas não representam um ativo intangível por não se enquadrarem na sua definição.
A norma também anuncia que as diferenças entre o valor de mercado de uma entidade
e o valor contábil de seu patrimônio líquido, em determinado momento, podem incluir uma
série de fatores que afetam o valor da entidade, mas essas diferenças não representam o custo
dos ativos intangíveis controlados pela entidade (CPC 04, item 61).
A CPC 04 não faz referência à categoria capital intelectual, como um ativo intangível.
Dentre os tipos analisados, o capital intelectual se aproxima mais do ágio (goodwill) gerado
internamente, o qual não é passível de contabilização pelos parâmetros contábeis e legais em
vigor. Tanto o capital intelectual quanto o goodwill (gerado) estão associados à idéia de
retorno futuro, todavia, independente da intenção de compra/venda da corporação, esses
elementos estarão presentes na organização.
Segundo Antunes (2000) o modelo desenvolvido para mensuração do capital
intelectual constitui uma tentativa de identificar e mensurar alguns ativos intangíveis que,
enquanto não mensurados, integram o goodwill. Com efeito, a identificação desses
intangíveis, faz com que o valor residual do goodwill seja reduzido.
Assim, apesar dos avanços teóricos e das práticas gerenciais inovadoras, a legislação
atual ainda não ampara o reconhecimento contábil de alguns ativos intangíveis,
possivelmente, por contradizer alguns dos princípios contábeis. As recentes mudanças legais
destacam o valor justo para fins de registros contábeis em substituição ao registro pelo custo
histórico, de modo a aproximar a avaliação contábil da percepção externa (mercado). Todavia,
requer ainda a realização de muitos estudos e pesquisas a fim de melhor se compreenderem os
fenômenos que envolvem os intangíveis e o seu impacto patrimonial.

4 Em busca de uma síntese conceitual


Devido à proximidade conceitual dos ativos intangíveis, do goodwill e do capital
intelectual, à interveniência mútua e à relevância desses elementos nos processos para a
conquista de vantagem competitiva, buscar-se-á evidenciar uma síntese conceitual de modo a
correlacioná-los.
Os ativos intangíveis e o goodwill são categorias contábeis há bastante tempo
consagradas na literatura, enquanto que o capital intelectual vem sendo apresentado como
uma nova e importante classe de ativo intangível. No âmbito normativo, as mudanças
parecem ser mais conservadoras e prudentes, visando a incorporação de elementos cujos
impactos patrimoniais são ainda imprecisos.
Entre a força impositiva das normas e as ideias doutrinárias vanguardistas, encontram-
se o mundo real das organizações e os dilemas dos gestores, diante da complexidade da
matéria. Uma compreensão mais clara das complementaridades e divergências entre as
categorias de intangíveis poderá auxiliá-los nas suas análises e decisões.
O Quadro 3, abaixo, apresenta algumas definições e conceitos de ativos intangíveis,
goodwill e capital intelectual.
Conceito/Definição Autores

Ativos Intangíveis
“Ativos intangíveis são aqueles que não possuem existência física, mas, assim Edvinson e Malone (1998,
mesmo, apresentam valor para a empresa. Eles são, tipicamente, de longo prazo p.21)
e de difícil avaliação precisa, até que a empresa seja vendida.”
Classifica os ativos intangíveis em três elementos: estrutura externa, estrutura Sveiby (1998)
interna e competência do funcionário.
Define intangível como “a diferença entre o custo de uma empresa adquirida e a Hendriksen e Breda (2007,
soma de seus ativos tangíveis líquidos”. p. 388)

Goodwill
“O goodwill é simplesmente o valor da empresa que somos incapazes de Canning (apud
associar a ativos específicos.” HENDRIKSEN; BREDA,
1999, p.393)
O goodwill corresponde à diferença entre o valor atual de toda a empresa, ou Monobe (1986, p.65 apud
seja, sua capacidade de geração de lucros futuros, e o valor econômico de seus ANTUNES, 2000, p.84)
ativos, apresentando, portanto, uma característica residual.
“O Goodwill apresenta-se como um conceito mais abrangente do que o do Antunes (2000, p.89)
Capital Intelectual”.
Capital Intelectual
“Capital intelectual constitui a matéria intelectual – conhecimento, informação, Stewart (1998, p.XIII)
propriedade intelectual, experiência – que pode ser utilizada para gerar riqueza.”
“O capital intelectual é o resultado da aferição do conhecimento com objetivos Davenport e Prusak (1998,
econômicos.” p.40)
O capital intelectual é formado pelo conhecimento, pela experiência, Klein (1998, p.1)
especialização e por diversos ativos intangíveis, sendo o responsável pela
posição da empresa no mercado.
Capital intelectual corresponde ao conjunto de conhecimentos explícitos e Paiva (2005)
tácitos, capaz de gerar competências organizacionais, obtido a partir da sinergia
entre a estrutura interna, as pessoas, os relacionamentos externos e os
conhecimentos.
Quadro 3 - Conceitos de ativos intangíveis, goodwill e capital intelectual.
Fonte: Elaboração própria

O quadro acima apresenta as categorias ativos intangíveis, goodwill e capital


intelectual, nas perspectivas de alguns estudiosos, havendo confluência quanto à
intangibilidade dos elementos constituintes. Também se percebe certa integração entre as
categorias, de modo que não é um processo trivial diferenciá-las, conceitualmente ou
normativamente.
Por exemplo, Sullivan e Teece (1994, apud STEWART, 1998) fazem a seguinte
distinção quanto à natureza dos elementos formadores do capital intelectual: recursos
intelectuais e ativos intelectuais. Os recursos intelectuais se referem ao conhecimento, à
experiência coletiva, às habilidades e ao know-how geral dos funcionários da empresa
(goodwill pessoal) e os ativos intelectuais, correspondem ao conhecimento codificado sob o
qual a empresa detém direitos de propriedades (goodwill da marca comercial).
A Figura 1, abaixo, apresenta uma possível visualização gráfica dos ativos intangíveis,
goodwill e capital intelectual. Todavia, devido à imbricada correlação entre esses conceitos
que, em alguns momentos, são mais facilmente separáveis e, em outros, se superpõem e se
fundem, uma categorização objetiva e definitiva pode apresentar-se como uma tarefa bastante
árdua e complexa.

Figura 1 – Interrelação entre as categorias: ativos intangíveis, goodwill e capital intelectual


Fonte: Elaboração própria
Nessa compreensão tem-se que os ativos intangíveis representam a categoria mais
ampla, contendo o goodwill e outros intangíveis (patentes direitos autorais, franquias etc); no
segundo nível, tem-se o goodwill que abrange inclui elementos de natureza comercial,
profissional, gerencial; no terceiro nível tem-se o capital intelectual, como sendo um dos
componentes subjetivos do goodwill, resultante da sinergia de ativos tangíveis e intangíveis
(capital humano, capital estrutural e capital cliente). As linhas tracejadas sugerem que, em
uma perspectiva gerencial, as fronteiras entre esses elementos devem ser analisadas com certa
flexibilidade, a partir da análise de cada contexto.

5 Considerações finais
Este artigo discute aspectos do capital intelectual e goodwill, no contexto mais amplo
dos ativos intangíveis. A ênfase recai sobre os conceitos, a mensuração e os aspectos
normativos, a partir das visões de teóricos e dos dispositivos legais sobre a matéria. Ao final,
apresenta-se uma síntese conceitual, correlacionando as categorias investigadas.
A importância dessa temática decorre da ascensão dos ativos baseados em
conhecimento, o que expôs a insuficiência dos atuais sistemas contábeis para captar a
complexidade dos fenômenos corporativos. A ação “invisível” de elementos patrimoniais
intangíveis, aparentemente insignificantes, não incluídos nos relatórios financeiros/contábeis
da maioria das empresas, deveria ser captada, analisada e integrada às estratégias
corporativas, de modo contínuo. Isso porque se considera relevante a compreensão das
mutações patrimoniais, oriundas não apenas das transações de compra e venda de empresas,
mas de outros fenômenos intangíveis que impactam o valor do patrimônio.
Mesmo diante da sua reconhecida importância e presença inconteste, o tratamento
contábil desses ativos intangíveis muitas vezes é difícil de ser praticado. Por um lado, há os
parâmetros legais que enumeram as condições para o reconhecimento desses ativos, por outro,
há a dificuldade real na sua identificação interna e nas aferições mercadológicas externas, cuja
lógica nem sempre é devidamente compreendida pelos gestores.
Há algum tempo as corporações questionam o tratamento contábil dispensado a esses
ativos, mas só recentemente esses ativos ganharam destaque com as mudanças introduzidas
pelos novos dispositivos legais, no país, no que se refere ao seu reconhecimento, à sua
avaliação, à sua evidenciação e à sua divulgação nas demonstrações contábeis. São avanços
normativos, que possivelmente necessitem de aprimoramentos no decorrer do tempo,
acompanhado a evolução da dinâmica patrimonial e das organizações.
A complexidade envolvida nessa área, faz com que os ativos intangíveis ainda sejam
matéria controversa na área contábil, necessitando atender a uma série de requisitos para
serem devidamente reconhecidos e contabilizados, observando-se os direcionadores legais
que tratam dos eventos envolvendo essa modalidade de ativos. Compreende-se que a
assimilação das diversas manifestações dos ativos intangíveis (goodwill adquirido, goodwill
gerado, capital intelectual etc), poderá auxiliar uma gestão mais eficiente desses elementos,
posto que, não são categorias sinônimas nem independentes, e sim representações,
possivelmente, do fenômeno mais desafiador a ser enfrentado pela Contabilidade.

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