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CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DE
COMUNIDADES PESQUEIRAS NA BAÍA DE
GUANABARA COMO SUBSÍDIO À ELABORAÇÃO DE
UM NOVO MODELO DE GESTÃO PARA A PESCA DE
PEQUENA ESCALA
ORIENTADORA
Msc. DEBORAH BRONZ
149p.
ii
Davi Henrique Xavier Branco Carioni Rodrigues
______________________________________
PhD. Gian Mario Giuliani
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
______________________________________
PhD. Marcus Polette
Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar
iii
AGRADECIMENTOS
Aos meus amigos queridos, a todos, inclusive aqueles amigos cuja amizade
tenha durado apenas um lampejo de segundo. Saibam que estão na minha
essência, que fluem e continuarão fluindo dentro. Aos meus companheiros da
oceanografia, que dividiram momentos brilhantes.
iv
A oceanografia [...] é uma arte antes que uma ciência, mas como
todas as grandes artes demanda o concurso de todas as ciências.
Por isso prefiro dizer que a oceanografia é arte e ciência ao
mesmo tempo. A ciência tem aspirações infinitas. Na realidade,
porém, ela é cruelmente limitada pela infinita fraqueza da
inteligência humana e pela infinita transcendência dos
fenômenos naturais.
02 de setembro de 1940
v
ABSTRACT
In spite of the importance of the fishery industry at the Guanabara bay, a hard
natural and social environment persists creating difficulties to its social
reproduction. Contemporary debates show that one of the reasons behind this
situation is related to the inadequacy of the tools and policies that have been
applied to fishery management, usually not adapted to fishery peculiar social
and natural features. The aim of this monograph lies on the comprehension of
fishery practices, with the general objective of the establishment of a new set of
variables that could support the design of a new management project to the
Guanabara bay fishery. The research was carried out in four communities:
Quinta do Caju and Tubiacanga (Rio de Janeiro City), Praia de Olaria (Magé
City) and Gradim (São Gonçalo City). The data was collected through the use of
the techniques available at the Rapid Rural Appraisal. The results show the
presence of several types of fishing activity, each one based in a particular set
of fishing practices and environmental perceptions. Furthermore the Guanabara
bay fish commercialization chain is long and the communities have a trustless
perception about the role played by the government structures, by the public
policies and by the public investments. Yet, the local fishermen institutions don´t
count with the support of a great number of fishermen.
vi
RESUMO
vii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ............................................................................... IV
ABSTRACT .............................................................................................. VI
RESUMO ................................................................................................. VII
SUMÁRIO ............................................................................................... VIII
LISTA DE FIGURAS ................................................................................. X
LISTA DE FOTOS .................................................................................... XI
LISTA DE QUADROS ............................................................................ XIII
1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
2 OBJETIVOS ..................................................................................... 11
2.1 GERAL ................................................................................................. 11
2.2 ESPECÍFICOS...................................................................................... 11
3 JUSTIFICATIVA ............................................................................... 11
4 ÁREA DE ESTUDO ......................................................................... 13
5 METODOLOGIA .............................................................................. 20
5.1 PLANO AMOSTRAL ............................................................................. 20
5.2 MÉTODO DE APREENSÃO DOS DADOS .......................................... 22
5.2.1 ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA E DOCUMENTAL ............................................. 26
5.2.2 OBSERVAÇÕES DE CAMPO ................................................................. 26
5.2.3 ENTREVISTAS ................................................................................... 28
5.3 ESCOLHA DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS ......................................... 30
5.4 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS ........................................... 32
5.5 RESUMO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................ 34
6 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA BAÍA DE
GUANABARA .................................................................................. 36
6.1 POLUIÇÃO ........................................................................................... 36
6.2 PERCEPÇÕES SOBRE MUDANÇAS AMBIENTAIS ........................... 38
6.3 SOCIOECONOMIA............................................................................... 41
6.3.1 POPULAÇÃO ..................................................................................... 42
6.3.2 EDUCAÇÃO ....................................................................................... 43
6.3.3 SANEAMENTO ................................................................................... 45
6.3.4 SÍNTESE DOS DADOS SOCIOECONÔMICOS ............................................ 46
6.4 MARCOS POLÍTICOS E INSTITUCIONAIS ASSOCIADOS
À ATIVIDADE PESQUEIRA ................................................................. 47
viii
7 DIAGNÓSTICO DA ATIVIDADE PESQUEIRA ............................... 53
7.1 PRÁTICAS PESQUEIRAS ................................................................... 53
7.1.1 TUBIACANGA .................................................................................... 54
7.1.2 QUINTA DO CAJU .............................................................................. 56
7.1.3 GRADIM ........................................................................................... 61
7.1.4 PRAIA DE OLARIA .............................................................................. 68
7.2 COMPOSIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E IMPORTÂNCIA DAS
ESPÉCIES ALVO ................................................................................. 75
7.3 DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO NA PRODUÇÃO
PESQUEIRA ........................................................................................ 77
7.4 ECONOMIA PESQUEIRA .................................................................... 79
7.5 ORGANIZAÇÃO LOCAL DA PESCA ................................................... 89
7.5.1 ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES LIVRES DE TUBIACANGA .................... 89
7.5.2 COLÔNIA Z-12 .................................................................................. 92
7.5.3 ASSOCIAÇÃO DOS PESCADORES LIVRES DO GRADIM E ADJACÊNCIAS ... 94
7.5.4 COLÔNIA Z-09 ................................................................................ 101
8 ANÁLISE CRÍTICA ........................................................................ 108
8.1 DA METODOLOGIA........................................................................... 108
8.2 DOS RESULTADOS .......................................................................... 109
8.2.1 TIPOLOGIA DA PESCA NA BAÍA .......................................................... 109
8.2.2 PRESSÕES SOCIOECONÔMICAS ....................................................... 110
8.2.3 PRESSÕES AMBIENTAIS ................................................................... 113
8.2.4 REGULAÇÃO DO ACESSO AOS RECURSOS PESQUEIROS ..................... 114
8.2.5 TERRITORIALIDADE E CONFLITOS PELO USO DO ESPAÇO MARÍTIMO .... 116
8.2.6 DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E ECONOMIA PESQUEIRA ................... 118
8.2.7 ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA DA PESCA ........................................... 120
9 CONCLUSÕES .............................................................................. 124
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................. 127
ix
LISTA DE FIGURAS
x
LISTA DE FOTOS
xi
Foto 7.28: Compradores se aglomeram no entorno de uma
embarcação. ................................................................................ 83
Foto 7.29: Caminhão frigorífico do principal comprador de
pescado de Olaria. ...................................................................... 84
Foto 7.30: Pequeno comprador local de pescado limpando um
tabuleiro de sardinhas para revendê-las com maior
valor agregado. ........................................................................... 85
Foto 7.31: Comprador de peixaria de Duque de Caxias. .............................. 86
Foto 7.32: Sede da Colônia z-12. ................................................................. 92
Foto 7.33: Vista do píer da Quinta do Caju, e no centro ao
fundo, a sede da Associação dos Pescadores. ........................... 94
Foto 7.34: Sede da APeLGA. ....................................................................... 96
Foto 7.35: Detalhe da fachada da APeLGA ................................................. 96
Foto 7.36: Sede da Colônia Z-09................................................................ 102
Foto 7.37: Reunião de pescadores na Colônia Z-09. ................................. 103
xii
LISTA DE QUADROS
xiii
1 INTRODUÇÃO
1
Figura 1.1: Esquema de diferenciação das pescarias de grande e pequena escalas. Fonte:
Adaptado de Berkes et al. (2001).
1
Dentre os exemplos das variações dos modos de pesca tem-se a produção artesanal de
grande porte da Região Norte Fluminense e as empresas pesqueiras da Baixada Litorânea
Fluminense, onde predominam a utilização do mesmo tipo de embarcação, de médio porte.
Por sua vez, a atuação dos arrasteiros, da “redinha” na captura do caranguejo (IBAMA,
2002) e do puçá grande na captura do peroá (Vianna et al. 2006) correspondem à
modalidade artesanais que apresentam grande impacto ambiental. O fácil acesso aos meios
de produção também não deve ser notado como uma característica intrínseca à pesca
artesanal, haja vista a presença de importante variação regional deste aspecto
socioeconômico da atividade pesqueira (Diegues, 1983).
2
separação entre estas duas categorias ocorre através do recorte estabelecido
pelo controle individual dos pescadores sobre seus meios de produção. Já para
o Decreto no 3.668/00 é determinante para a divisão entre pesca artesanal e
industrial o tamanho da embarcação e a tonelagem de arqueação bruta.
2
Muito embora que, neste período, fossem hegemônicas as opiniões que expressassem
ceticismo em relação à necessidade de gerir as práticas pesqueiras, conforme pode ser
observado no fragmento da palestra de Thomas Huxley, apresentada na abertura da
Fisheries Exhibition (1882): “Eu acredito que a pesca do bacalhau, da cavala e do arenque,
e provavelmente a de qualquer outra pescaria oceânica é inesgotável; nada que fizermos
seriamente afetará o número de peixes. E qualquer tentativa de regular estas atividades
significará, conseqüentemente, a natureza de ser uma iniciativa sem propósito” (Huxley,
1883).
3
imprecisos e as políticas de gestão incapazes de lidar com a diversidade das
formas pesqueiras e com as limitações institucionais (capitais físico e humano)
dos países pobres (Berkes et al. 2001; Dias Neto, 2001; Marrul Filho, 2001;
Mace, 2001).
3
O IBAMA trouxe à gestão da pesca um olhar muito distinto daquele presente na SUDEPE:
marcou que o potencial pesqueiro nacional era muito inferior daquele que havia sido
especulado em anos anteriores; e defendeu a relevância que havia no estabelecimento de
medidas de conservação de estoques ameaçados. Após alguns anos de sucessivos
desgastes institucionais, o IBAMA perdeu força política e passou a dividir a responsabilidade
da gestão de pesca com o Departamento de Pesca e Aqüicultura, criado dentro do
Ministério de Agricultura e Pecuária. Uma das primeiras medidas do DPA foi retomar a
política de incentivos fiscais, que havia sido interrompida pelo IBAMA. Como já ocorria
desde o período em que a SUDEPE fomentava os incentivos, os principais beneficiados
continuaram sendo um pequeno grupo de empresários, enquanto os pescadores de
pequena escala continuaram preteridos. Por este motivo e por outros, Dias Neto (2002)
considera a criação do DPA um reflexo da influência política exercida por este grupo de
empresários sobre o Governo Federal.
4
Tendo em vista acontecimentos recentes, onde inúmeros funcionários do IBAMA foram
presos pela Polícia Federal, por receberem propina para não autuar pescadores de sardinha
que pescavam em período de defeso.
5
Howard Scott Gordon nasceu no Canadá, onde se graduou em economia. Embora o centro
de suas pesquisas tenha se baseado em teoria monetária e política, seu artigo publicado em
1954, sobre a teoria econômica de recursos de propriedade comum (como os recursos
pesqueiros), continua sendo constantemente re-editado.
4
Hardin6 defendiam que o problema da degradação dos recursos pesqueiros
afina-se à forma como os recursos são apropriados e percebidos pelos grupos
de usuários que os utilizam. Para os estudiosos, quando apropriados sem um
claro regime de propriedade, os recursos pesqueiros tenderiam à degradação
e, por extensão, ao colapso da atividade. Gordon (1957:124), por exemplo,
destaca que:
6
Nascido em 1915, nos Estados Unidos da América, Garrett Hardin graduou-se em zoologia,
especializando-se em microbiologia, anos mais tarde. Entre 1963 e 1978 foi professor de
Ecologia Humana na Universidade de Santa Bárbara, na Califórnia. E foi justamente durante
este período que o pesquisador, cujo foco de pesquisa era o crescimento populacional,
escreveu um dos seus mais célebres trabalhos, “the tragedy of the commons”.
7
Hardin (1968) utiliza a metáfora de um pasto comum que possui uma dada capacidade de
suporte, e que é explotada no limite desta capacidade por um determinado número de
usuários. O problema surge quando cada usuário avalia os benéficos e os custos de se
adicionar mais um animal ao rebanho. Neste momento, segundo Hardin, a matemática é
simples, e a decisão atingida por cada usuário é a mesma, pois na medida em que o
benefício de adicionar mais um animal é individualizado a cada pastor, e os custos
relacionados a sobre-explotação do pasto são compartilhados por todos, haveria uma
grande vantagem na adição de mais um animal. Os seres-humanos estariam dessa forma
“aprisionados” a sua própria e inevitável destruição. O estudioso conclui: “Liberdade diante
de um recurso de uso comum, gera a ruína de todos”.
5
determinadas regiões e da intensificação da privatização dos recursos
pesqueiros, por outro, estimulou uma produção científica que enfatizou
exatamente o contrário do que havia proposto. Ou seja, trouxe à luz do debate
o papel fundamental desempenhando por inúmeras comunidades de
pescadores na promoção da conservação de recursos pesqueiros e dos
ecossistemas marinhos.
8
Destacam-se na literatura dos comuns os trabalhos realizados por Acheson (1975), Berkes
(1985; 1986; 1987 e 1991); Ostrom (1986; 1988 e 1990), Agrawal (1989), Bromley e Cernea
(1989), Binder (1991) e Bromley (1992).
9
Este documento foi aprovado em assembléia ordinária das Nações Unidas durante a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada no
Rio de Janeiro em 1992.
6
“As questões ambientais são melhores manejadas quando há a participação de
cidadãos conscientes (...). Em nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso
apropriado sobre informações relacionadas ao meio ambiente (...) e ter a
oportunidade de participar do processo de tomada de decisão (Princípio 10 –
10
UNCED , 1992)”.
10
UNCED corresponde à sigla para: United Nations Conference on Environment and
Development.
11
Fikret Berkes é um ecologista com atuação destacada em temas relacionados à co-gestão
adaptativa e comunitária dos recursos naturais de uso comum, conhecimento tradicional e
local, complexidade e resiliência de ecossistemas naturais. Além de liderar inúmeros grupos
de pesquisa, o estudioso ocupa uma cadeira de docente na Universidade de Manitoba,
Canadá.
12
Alguns exemplos de sistemas de co-gestão da atividade pesqueira podem ser encontrados
em: Berkes et al. (1991); Binder & Hanbidge (1991); Bland & Donda (1995); Mahfuzuddin et
al. (1995); Costa et al. (2000); Reis & Rodrigues (2003); Alcorn et al. (2004); e Cerdeira &
Camargo (2007).
7
participação da comunidade no processo decisório pode variar, de um âmbito
estritamente informativo ao âmbito efetivamente gerencial13.
Sobre este último aspecto, destaca-se que ainda não há uma teoria disponível
que descreva de modo consistente o surgimento de organizações locais
dedicadas à gestão da atividade pesqueira (Ostrom, 1990b). Porém já é
possível identificar um conjunto de aspectos socioeconômicos, culturais e
ambientais que, embora não sejam definitivos, tem se mostrado como
facilitadores a ocorrência de iniciativas comunitárias (Berkes et al. 2001).
13
Arnstein (1971), por exemplo, apresenta uma descrição de diferentes modos de participação
e não-participação da comunidade no processo de tomada de decisão sobre a gestão dos
bens comuns, públicos, da vida social em geral. Conforme caracteriza o próprio autor, a
escada para a participação possui oito degraus onde, no primeiro se encontra a não-
participação (manipulação) e no último a participação plena (controle comunitário).
8
sistemas socioambientais de interesse; e (2) que se defina de um amplo
repertório de regras, que sejam culturalmente aceitas.
Na baía de Guanabara, por sua vez, não são notórias quaisquer evidências de
gestão comunitária ou co-gestão da atividade e dos recursos pesqueiros. Nela
atuam, pelo menos, 3.000 pescadores, que, em geral, pescam utilizando
pequenas e médias embarcações motorizadas, ou à remo, e aparelhos de
pesca com pequena e moderada sofisticação tecnológica, tais como redes de
arrasto, cerco e espera, caniço e linha-de-mão. Os desembarques de uma
14
Para citar apenas algumas das dezenas de publicações existentes sobre gestão comunitária
e co-gestão, encontram-se: Costa (1992); Begossi (1995); Reis e D‟Incão (2000); Marrul
Filho (2001); Cardoso (2001); Medeiros (2002); Silva (2002); Reis e Rodrigues (2003);
Seixas e Berkes (2005); Vieira (2005); MMA (2006a; 2006b); Rebouças et al. (2006);
Cerdeira e Camargo (2007).
9
importante produção15 pesqueira ocorrem ao longo de toda a orla da baía, em
pelo menos 32 comunidades pesqueiras (IBAMA, 2002).
15
De acordo com IBAMA (2002), foram capturados, entre 2001e 2002, 19.000 toneladas de
pescado, sendo 12.000 toneladas de sardinha boca-torta. Este número correspondeu a
aproximadamente 30 % de todo o volume de pescado capturado para o Estado do Rio de
Janeiros, tanto para o ano de 2000, quanto para o ano de 2001 (IBAMA, 2003; IBAMA,
2004).
16
Cabe ressaltar que os pescadores da Guanabara vêm reagindo à situação em que se
encontram através da realização de inúmeros protestos, como os de: (1) 20 de março de
2003, contra a suspensão do pagamento das indenizações pelo derramamento de óleo
ocasionado pela Petrobras; (2) 25 de setembro de 2003, pela construção de um terminal
pesqueiro e pela redução do preço do óleo combustível; (3) 04 de junho de 2007, contra a
Petrobras e os prejuízos causados pelo desastre ambiental de 2000; (4) 27 de agosto de
2007, contra as obras da empresa Suzano Petroquímica; (5) 01 de setembro de 2007, pela
despoluição da baía de Guanabara e pela revisão dos projetos de instalação das refinarias
e petroquímicas na bacia de drenagem; (6) 01 de outubro de 2007, contra a poluição da
baía de Guanabara e contra a criminalização dos pescadores da Guanabara; (7) 5 de junho
de 2008, em protesto às pretensas práticas abusivas realizadas pelos empreendedores da
área do petróleo e gás (PESCA, 2008).
10
Conforme mencionado, um projeto de co-gestão não deve ser imposto, mas
sim negociado com o grupo de usuários do recurso que se pretende regular.
Deve ser, deste modo, suficientemente adaptável e capaz de absorver as
demandas comunitárias. Para isso, propõe-se que, em um primeiro momento,
seja realizado um diagnóstico que torne possível vislumbrar as variáveis que
afetem as relações socioambientais inerentes a esta atividade (Berkes et al.
2001).
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
2.2 ESPECÍFICOS
3 JUSTIFICATIVA
11
Sim, existe. Talvez seja difícil acreditar, mas é um fato. Embora o senso
comum estranhe, ou até mesmo desconheça, a baía de Guanabara mantém
uma produção importante, tanto no que tange ao volume de pescado
desembarcado (19.000 toneladas entre 2001 e 2002), quanto ao número de
pescadores envolvidos com a atividade (entre 3.000 e 18.00017).
17
Há uma grande dissonância com relação ao número de pescadores em atividade na baía de
Guanabara. Geralmente os números mais conservadores, como os apresentados em IBAMA
(2002) e nas estatísticas da SEAP, estão baseados em estimativas e no cadastro voluntário
destes atores. Números mais expressivos, por sua vez, costumam associar-se aos dados
disponibilizados pelas organizações locais (Colônias e associações) e regionais (federação
e confederação) de pesca.
12
Todavia, adaptada as novas condições ambientais da Guanabara a pesca
sobrevive ao tempo. Não existe a mesma diversidade ou a mesma quantidade
de determinados peixes e o preço do pescado é menor. Ainda assim, a pesca
de pequena escala, na qual se inclui a pesca artesanal, é capaz de garantir a
mínima segurança alimentar para famílias que hoje convivem com uma severa
situação de pobreza.
4 ÁREA DE ESTUDO
13
encontrar associada ao mais importante núcleo urbano-industrial da costa
brasileira (Kjerfve et al. 1997; Amador, 1996).
Centrada nas coordenadas 22º 50‟ sul de latitude e 043º 10‟ oeste de longitude
(Figura 4.1), a Guanabara apresenta uma superfície total de 384 km2 18, sendo
que de espelho d‟água, ou seja, descontada a área ocupada pelas ilhas e
ilhotas, a baía possui 328 km2 (Kjerfve et al. 1997; Amador, 1996).
A baía pode ser dividida em uma parte oceânica e outra continental, em virtude
da predominância de fenômenos oceânicos sobre continentais, e vice-versa.
Entre estas duas seções encontra-se uma passagem estreita, com apenas
1,6 km de extensão, compreendida entre o Forte de São João (município do
18
Estes valores consideram como limite externo da baía de Guanabara, o arco imaginário
formado pela conexão de Copacabana (município do Rio de Janeiro) e Itaipu (município de
Niterói) passando pelas ilhas Pai, Mãe e Menina.
14
Rio de Janeiro) e a Fortaleza de Santa Cruz (município de Niterói) (Amador,
1996).
A região hidrográfica20 (Figura 4.2), da qual faz parte a Guanabara, possui uma
área de 4066 km2. É alongada no sentido leste-oeste, e possui a extensão
máxima de 115 km (PDRHBG, 2005).
19
De acordo com o dicionário livre de geociências, talvegue corresponde “a linha formada pela
interseção das duas superfícies formadoras da vertente de um vale. É o local mais profundo
do vale” (DLGeo, 2008).
20
Considerando apenas a região interna da baía de Guanabara.
15
Figura 4.2: Bacia de drenagem da baía de Guanabara.
16
totais médias raramente superam os 100 mm.mês-1, sendo muito comum o
registro de valores inferiores a 50 mm. O período chuvoso raramente
ultrapassa seis dias de chuva (Amador, 1996; PDRHBG, 2005).
O aporte de água doce faz com que a baía seja classificada como um estuário,
que segundo Pritchard (1967 apud Amador, 1996:68) corresponde a “um corpo
d‟água costeiro, semi-fechado, com livre comunicação com o mar, no qual a
água salgada é mensuravelmente diluída com a água doce oriunda da
drenagem continental”.
21
O número de Richardson expressa a razão entre a energia hidrostática de uma camada de
água doce e a energia cinética necessária para quebrar a estratificação da coluna d‟água.
17
Nestas condições se estabelecem distintas cadeias tróficas, compostas por
diferentes nichos diversos e espécies variadas de fauna e flora. De acordo com
Bonecker (1997), a baía de Guanabara se constitui no “sistema costeiro
semifechado com maior ocorrência de espécies de larvas de peixes
identificadas”, e Jablonski (2008, comunicação pessoal)22 sugere, a partir de
levantamentos bibliográficos comparativos, que a baía de Guanabara se
constitui em uma das baías brasileiras mais importantes em termos de
diversidade numérica de espécies ícticas.
18
al. (1996), o espelho d‟água da baía de Guanabara adjacente à Quinta do Caju
é classificado como de vulnerabilidade crítica, haja vista a pressão antrópica
exercida sobre esta área.
Cabe ressaltar que a orla do Gradim foi muito modificada pelo aterro que
originou a BR-101. Nesta área havia uma grande floresta de manguezal. Hoje,
nas marés mais baixas, nota-se apenas uma larga planície lamosa que se
estende de fronte a algumas casas e a própria Rodovia.
19
5 METODOLOGIA
Com relação aos dados disponibilizados por IBAMA (2002), foram tomados os
valores de produção total de pescado obtido para o período estudado (2001-
2002) para cada local de desembarque. Estas foram classificadas em quartis
entre: pequena produção (0-33 toneladas), média baixa produção (33-72
toneladas), média alta produção (72-175 toneladas) e alta produção (175-990
toneladas).
23
O índice de pressão antrópica, por sua vez, foi definido por Cruz et al. (1998) baseado no
Índice de Transformação Antrópica, que consiste em uma avaliação areal de diferentes tipos
de uso da terra. Cada tipo fora previamente ponderado de acordo com o método de
expertos (definição de pesos para cada tipo de uso, considerando o nível de modificação
antrópica). Como resultado obtém-se uma escala que varia de 0 a 10, onde quanto mais
próximo do valor máximo encontra-se a unidade geográfica analisada (no caso as sub-
bacias de drenagem da baía de Guanabara) maior será a pressão antrópica exercida sobre
ela.
20
Cruz et al. (1998), por sua vez, classificaram as sub-bacias de acordo com
quatro índices de pressão antrópica, a saber: pouco degradadas (índice entre 0
e 2,5), regulares (2,5 a 5), degradadas (5 a 7,5) e muito degradadas (7,5 a 10).
Figura 5.1: Classificação das localidades onde ocorrem desembarque pesqueiro na baía
de Guanabara.
21
rodoviário, presença de hotéis). Ao final foram selecionadas as seguintes
comunidades:
Figura 5.2: Localização das comunidades de pescadores da baía de Guanabara que foram
estudadas.
22
governamentais, era baseada exclusivamente em estudos controlados por
agentes externos às comunidades. Além disto, enfocavam o ambiente físico ao
social, desconsideravam grupos marginalizados e negligenciavam o
conhecimento local (Seixas, 2005).
Em virtude disto, nos anos 80 operou-se uma mudança radical nos meios pelos
quais eram realizados os estudos e projetos de desenvolvimento. Desde então
o conhecimento local/tradicional sobre a ambiente físico e social, gerado no
interior das comunidades, passou a ser reconhecido como fundamental ao
processo de pesquisa, planejamento, implementação e monitoramento destes
projetos (Seixas, 2005).
23
Por estes princípios, o DRR se constitui em uma abordagem qualitativa, que
preza por dados descritivos e se preocupa com a qualidade das informações,
bem como envoltos por uma assembléia de idéias e expressões ao invés de
números (Dunn, 1994).
Figura 5.3: Possíveis triangulações utilizadas para ratificar uma informação sobre um
mesmo tema. Fonte: Adaptado de Wilde (2001).
24
As triangulações correspondem a uma técnica do DRR onde uma mesma
informação/dado/variável é verificada sobre diferentes perspectivas. Nesta
monografia os dados referentes à caracterização da área de estudo foram, por
exemplo, trianguladas através da comparação dos dados obtidos através de
fontes secundárias (levantamento bibliográfico e análise documental), por
fontes primárias (entrevistas com os pescadores) e por informações coletadas
durante o II Seminário sobre Gestão Socioambiental para o Desenvolvimento
da Aqüicultura e Pesca no Brasil.
Dunn (1994) considera que o DRR coloca inúmeras questões sobre quem
possui o conhecimento relevante para lidar com uma determinada questão,
bem como possui a capacidade de envolver todas as pessoas interessadas em
processos de desenvolvimento socioambiental.
O DRR também trás alguns riscos, que podem ser evitados ou mitigados. O
envolvimento da população pode representar um aumento de expectativas, que
se não forem bem trabalhadas podem gerar frustrações e falta de apoio
durante a continuidade da pesquisa/projeto. Outros aspectos que dificultam a
utilização do DRR associam-se a: identificação de atividades ilegais e a
emergência de conflitos na comunidade (Wilde, 2001).
25
Muitos pescadores já se encontram desmotivados a participar de pesquisas, e
muitos se esquivaram das perguntas ou solicitaram para não se envolver,
justamente por terem criado expectativas que não foram alcançadas por
estudos anteriores. Não houve contato com qualquer conflito explicito entre os
membros de qualquer uma das comunidades de pescadores investigadas, e a
identificação de práticas ilegais ocorreu apenas quando foram denunciadas
pelos próprios pescadores.
26
Durante os trabalhos de campo foram realizadas observações diretas,
participativas e não estruturadas, sobre a dinâmica de sociabilização, as
condições socioeconômicas dos pescadores, as condições ambientais de suas
localidades e as suas práticas pesqueiras. As observações também foram
importantes no processo de identificação dos atores que se tornaram
informantes-chave25, em algumas das localidades pesquisadas. Neste caso,
foram observados comportamentos de liderança espontânea de alguns
pescadores frente aos demais, ou então, o reconhecimento da comunidade
sobre a experiência e conhecimento de um determinado pescador. Também
foram observados pescadores com experiência prévia na participação de
programas de coleta de dados para o IBAMA,
O tempo de observação em cada localidade não foi igual, porém, com exceção
de Tubiacanga, transcorreu ao longo de todo o dia. Nesta localidade as
observações ocorreram durante uma manhã, e na qual foi possível notar
apenas alguns pescadores em atividade. Na maior parte do tempo, as
observações fundamentaram a caracterização ambiental e um pouco da frota
sediada neste local.
Na Quinta do Caju, visitada durante dois dias, foi observado o ambiente natural
e social que circunda os pescadores desta localidade. As práticas pesqueiras
observadas ficaram restritas ao momento de armação das embarcações, de
concerto dos petrechos e de sociabilização dos tripulantes, que estavam
prestes a embarcar, em um bar localizado próximo ao píer. A observação
também ocorreu nos espaços de organização política dos pescadores.
25
Os informantes-chave correspondem a indivíduos que não são necessariamente da
comunidade, mas que por estabelecer um grande convívio com ela, têm as suas percepções
ambientadas àquela realidade. Os informantes podem ajudar decisivamente no processo de
investigação de campo, servindo muitas vezes de interlocutor entre o entrevistador e o
público alvo (Whyte, 1977:36). Nesta pesquisa, todos os informantes eram das comunidades
que faziam parte.
27
do pescado; confecção/reparo de petrechos; comercialização do pescado;
organização local da pesca; relação entre organizações de pesca; relação
entre pescadores e intermediários.
5.2.3 Entrevistas
28
incidiram sobre suas localidades e comunidades de pescadores. Nas quatro
localidades visitadas foi possível dialogar com antigos pescadores.
O tempo de cada entrevista variou de poucos minutos até pouco mais de uma
hora. As entrevistas mais longas foram realizadas com os líderes comunitários,
posto que, de acordo com os próprios, a disponibilidade para a realização de
entrevistas e de fornecer informações sobre a comunidade de pescadores que
representa faz parte de uma das incumbências do cargo de presidente da
associação/Colônia.
29
envolvidas“, posto que as suas decisões concernentes ao meio ambiente estão
baseadas, tanto em valores objetivos, quanto subjetivos.
De acordo com Berkes et al. (2001), a escolha das variáveis de uma pesquisa
orientada ao diagnóstico dos contextos socioeconômicos, políticos e naturais,
em que se encontram as atividades pesqueiras possui um papel muito
importante para a fundamentação de propostas de implementação de um
processo de gestão participativa da atividade pesqueira.
30
Quadro 5.2: Variáveis utilizadas como referência para a realização do diagnóstico
ambientais das comunidades pesqueiras estudadas.
Regionais
(1) oportunidades presentes na legislação e (3) dinâmicas de comercialização do pescado,
nas estruturas administrativas governamentais em níveis regional, nacional e internacional.
que estimulem o estabelecimento da gestão (4) presença e atuação de
participativa instituições/organizações supra-regionais, tais
(2) surgimento de novas tecnologias como cooperativas de produção cuja
pesqueiras, desenvolvidas fora da comunidade abrangência inclui mais de uma comunidade
Locais
(11) tradição de relações cooperativas e de
(5) percepção, pelas lideranças comunitárias, mútuo socorro pelos membros da comunidade
de crises relacionadas às condições dos
recursos pesqueiros (12) grau de interação com os sistemas
político e econômico
(6) composição, distribuição e importância das
espécies alvo (13) medida de dependência dos recursos
pesqueiros
(7) presença de feições ambientais que
possibilitem a definição de fronteiras (14) organizações políticas e o suporte de
geográficas lideranças
(8) tecnologias utilizadas (15) conhecimento local sobe os recursos
(10) nível de desenvolvimento social e (16) direitos de uso e o sistema de
homogeneidade cultural da comunidade gerenciamento dos recursos e da atividade
pesqueira
Comunitárias
(17) educação. (21) valores culturais.
(18) experiência. (22) satisfação com o trabalho na pesca.
(19) tamanho e tipo de pesca. (23) conhecimento ecológico.
(20) tecnologia utilizada. (24) multiplicidade ocupacional.
31
destes atores localizados em diversas comunidades (leis e mercados
internacionais).
Observações
bibliográfica
Entrevistas
Variáveis
Análise
regionais
5 Tecnologias utilizadas x x x
6 Nível de desenvolvimento social e homogeneidade cultural da comunidade x x x
7 Organizações políticas e o suporte de lideranças locais x x
Direitos de uso e o sistema de gerenciamento dos recursos e da atividade
8 pesqueira x x
32
interferir na proposição de um sistema de co-gestão para a organização do
setor pesqueiro da Guanabara.
33
Figura 5.4: Distribuição das variáveis pelas demais seções da monografia.
34
35
6 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DA BAÍA DE GUANABARA
Neste diagnóstico estão presentes algumas das variáveis propostas por Berkes
et al. (2001), a saber: (1) oportunidades presentes na legislação e nas
estruturas administrativas governamentais que estimulem o estabelecimento da
gestão participativa; (2) presença e atuação de instituições/organizações supra-
regionais, tais como cooperativas de produção cuja abrangência inclui mais de
uma comunidade; (5) percepção, pelas lideranças comunitárias, de crises
relacionadas às condições dos recursos pesqueiros; e (10) nível de
desenvolvimento social.
6.1 POLUIÇÃO
36
óleo combustível e 12 estaleiros. E, além dos 2.000 navios que freqüentam a
Guanabara anualmente, existem as centenas de pequenas e médias
embarcações pesqueiras e de lazer, além das barcas para o transporte de
passageiros (Kjerfve et al., 1997; Amador, 1996; Silva et al. 2007).
37
Assoreamento: as taxas de sedimentação da baía de Guanabara são
10 vezes superiores às taxas apresentadas há 35 anos atrás (Kjerfve et al.,
1997; Godoy et al. 1997; Amador, 1996).
Foram 1,3 milhões de litros de óleo combustível (tipo MF-380) lançados na baía
de Guanabara após o rompimento do duto PE-II, que liga a REDUC ao terminal
da Ilha D‟Água. O vazamento começou uma da manhã e só foi percebido às 5
horas, pois os mecanismos de controle de fluxo do combustível bombeado
também falharam (Acselrad & Mello, 2002).
De acordo com Kampel & Amaral (2001), a mancha de óleo atingiu diversos
ecossistemas, incluindo praias, costões rochosos e manguezais localizados na
parte norte/nordeste da baía, como as praias do litoral de Magé, de Paquetá,
da Ilha do Governador e de São Gonçalo. A Área de Proteção Ambiental de
Guapimirim, um dos mais importantes nichos ecológicos da região, também foi
severamente afetada.
A Figura 6.1 mostra que a extensão da mancha de óleo estimada para o dia 19
de janeiro de 2000, ou seja, um dia após o vazamento, já se espalhava por
uma área de 133,45 km2, 34 % do espelho d‟água.
38
Figura 6.1: Mancha de óleo estimada a partir do processamento de imagem de satélite
para o dia 19 de janeiro de 2000. Fonte: Kampel & Amaral (2001)
Nos dias que se seguiram, Kampel & Amaral (2001) pontuam que a extensão
da mancha foi aumentando, chegando a atingir outras regiões nas partes
nordeste (Magé) e leste (São Gonçalo) da baía.
Este vazamento, embora tenha sido um dos mais trágicos ocorridos no Brasil,
não se constitui no maior vazamento acidental nem mesmo na baía de
Guanabara. Em 1975 foram derramados acidentalmente 5,8 milhões de
toneladas de óleo do navio grego Tarik, fretado pela Petrobras (Monteiro,
2003).
39
conseguiram uma histórica vitória na justiça, que lhes garantiu o recebimento
de indenização por danos morais pelo incidente (além de indenização por
perdas materiais). Estima-se a multa indenizatória em um bilhão de reais.
Talvez, este último aspecto seja o mais relevante, posto que até o momento a
indenização não foi paga, apenas alguns pescadores que aceitaram realizar
acordos com a Petrobras receberam algum tipo de ressarcimento. De fato, os
prejuízos econômicos e o empobrecimento das comunidades pesqueiras
aumentaram a expectativa pelo recebimento da indenização, fato presente na
fala cotidiana dos pescadores.
O conflito pela utilização de uma área definida como de uso restrito se amplia
quando esta área é um pesqueiro tradicional. Um caso emblemático desta
26
http://www.cibg.rj.gov.br/detalhenoticias.asp?codnot=95&codman=28
40
situação corresponde ao boqueirão, área onde se encontra uma base da
marinha (que delimita uma área de exclusão com raio de 500 metros a partir da
linha de costa), e uma plataforma de concreto que atenderá ao funcionamento
de uma planta de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) da
PETROBRAS (esta instalação também delimita uma área de exclusão de 500
metros no seu entorno), mas que era tradicionalmente ocupada pelos
pescadores.
6.3 SOCIOECONOMIA
41
do Caju, quando não estiverem referenciadas a este (FIRJAN, 2002), ou a
qualquer outro estudo, tratar-se-ão de dados coletados em campo.
6.3.1 População
A Quinta do Caju, por sua vez, foi fundada no século XIX por Dom João VI. O
Rei acreditava que nas praias da região encontraria areias medicinais que
poriam fim às sarnas que tanto o incomodavam. Um pouco mais tarde,
pescadores portugueses oriundos da região de Póvoa da Várzea também se
estabeleceram na área.
42
provável que, em alguns anos, haja um decréscimo no número de moradores,
posto que lá reside uma grande população de idosos.
6.3.2 Educação
43
haja queixas sobre sua qualidade. O índice de analfabetismo é de 6,5º% e a
escolaridade média das pessoas com 25 anos ou mais é de 6,4 anos. Os
pescadores também possuem um baixo nível de escolaridade, sendo este um
pouco superior entre os mestres e armadores.
O nível de escolaridade dos habitantes de Magé é muito baixo, uma vez que
mais de 50 % da população não possui mais de 7 anos de estudo. Os índices
de analfabetismo também são elevados. Na população com mais de 15 anos,
10 % são analfabetos (ano 2000). Este percentual é, no entanto, muito mais
satisfatório do que o apresentado na década de 70 do século passado, quando
quase 30 % da população era analfabeta. Nota-se a ocorrência de uma grave
distorção série-idade, proporcionada pelo atraso escolar, pela entrada tardia na
escola e, principalmente, pela repetência.
44
6.3.3 Saneamento
A Quinta do Caju, embora seja uma comunidade bem servida por um serviço
de coleta do esgoto sanitário, sofre com a falta de mesma oportunidade nas
comunidades vizinhas. O Canal do Fundão encontra-se assoreado e
extremamente poluído.
45
de um sistema adequado de tratamento foi pautada por um dos pescadores
entrevistados como sendo um dos maiores problemas da comunidade.
46
6.4 MARCOS POLÍTICOS E INSTITUCIONAIS ASSOCIADOS À
ATIVIDADE PESQUEIRA
Do final do século XIX ao início do XX, por exemplo, a principal ação realizada
pelo Estado em direção à pesca esteve relacionada à organização das
comunidades pesqueiras em Colônias, que por sua vez estariam subordinadas
à Marinha Brasileira (Lei 447, em 19 de maio de 1846). O mote desta política
esteve relacionado com a salvaguarda da soberania brasileira sobre toda a sua
faixa costeira, posto que transformou todos os pescadores afiliados às Colônias
em exército de reserva (OLIVEIRA et al. 2007, 2008).
47
Ministério da Agricultura. A SUDEPE atuou com foco na expansão da produção
pesqueira sob os moldes capitalistas, através do fortalecimento do, então
incipiente, setor industrial. A linha de ação desta autarquia se pautou na
abertura de inúmeras linhas de crédito e incentivos fiscais, que visaram
consolidar a pesca enquanto uma grandiosa indústria de base 27 (Dias Neto,
2002).
27
Conforme destaca Diegues (1983), o Governo brasileiro fracassou ao tentar estimular a
consolidação de uma grande indústria pesqueira, uma vez que não contou com pontos de
referência adequados no que diz respeito à capacidade produtiva do mar brasileiro, à
experiência do empresariado e ao desprezo pelas potencialidades e infra-estruturas
incipientes que já existiam. Das 131 empresas que receberam suporte governamental
através de diversos incentivos, pelo menos 40 % foram a falência.
48
De acordo com Dias Neto (2002), os bons resultados alcançados pelo IBAMA
na regulação do uso dos recursos pesqueiros não agradaram a todos atores
ligados à cadeia produtiva da pesca. Àqueles que, no passado, estavam mais
comprometidos com a política de incentivos fiscais (sejam eles políticos ou
empresários) se tornaram um dos grupos mais reativos a atuação do IBAMA.
49
As dificuldades emergidas no processo de gerenciamento da atividade
pesqueira, decorrentes da divisão de responsabilidades e da falta de
entendimento entre os dois atores governamentais, ficam notoriamente
expressa no artigo escrito por Alexandre Espogeiro, presidente do Sindicato
dos Armadores de Pesca do Estado do Rio de Janeiro:
“Nenhum barco de pesca pode trabalhar com dois mestres [pois] os pescadores
não vão produzir nada. Vão passar o tempo todo discutindo as ordens dos dois, e
tudo vai acabar em prejuízo e desordem. Quem manda na pesca: a SEAP ou o
IBAMA?” (Espogeiro, 2004)
50
A proposta metodológica contida na Política Territorial da Pesca e Aqüicultura,
de ampliação do diálogo com as comunidades pesqueiras, parece contradizer a
critica realizada por Mendonça & Valencio (2008) sobre o caráter que
predomina nas relações que a SEAP mantém com a pesca artesanal. Segundo
os estudiosos:
51
Na esfera municipal pouca ênfase é dada à atividade pesqueira. Nenhuma
prefeitura possui uma secretaria dedicada exclusivamente aos assuntos da
pesca. Apenas São Gonçalo possui uma subsecretaria, que se encontra
subordinada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e
Tecnologia.
52
7 DIAGNÓSTICO DA ATIVIDADE PESQUEIRA
Com exceção destes últimos grupos, para a maioria dos pescadores das
comunidades estudadas a atividade pesqueira é tida como principal fonte de
28
Os pescadores de Olaria destacam a participação de um policial local nas pescas de
temporada. Segundo o relato dos entrevistados, o funcionário público já coagiu alguns
pescadores, buscando obter maiores vantagens na pescaria, como a utilização de alguns
pesqueiros.
53
renda. As bases das unidades produção29 são essencialmente provenientes da
própria localidade, o que inclui a mão-de-obra, no caso das pescas com mais
de um tripulante. A finalidade do pescado produzido é essencialmente
comercial, sendo negociado especialmente com atravessadores. Também se
nota a utilização de parte da produção (geralmente espécies de baixo valor
comercial) para o consumo próprio.
Há, no entanto, uma grande variação entre as comunidades no que diz respeito
às técnicas pesqueiras predominantes em cada uma delas. As razões para
estas diferenças podem ser encontradas na história de cada localidade e nas
condições ambientais que predominam em cada uma delas (que influi, por
exemplo, na distribuição dos organismos dentro da baía).
7.1.1 Tubiacanga
29
Consideram-se as bases das unidades produtivas da pesca o conjunto de atividades que
servem como suporte à realização da pesca, de modo que, sem ela, o desenvolvimento da
atividade não seria possível. Como exemplo, destacam-se: fábricas/fornecedores de gelo,
comerciantes e artesãos de embarcações e aparelhos de pesca e fornecedores de insumos
que integram o rancho (alimentação levada a bordo durante as viagens).
54
Figura 7.1: Esquema de utilização do candombe. Fonte: Bernardes e Bernardes (1950).
55
traineiras também costuma atravessar a barra da baía, para realizar cercos de
sardinha e tainha.
A história da Quinta do Caju revela que este foi um dos maiores núcleos
pesqueiros do Brasil, fato destacado por alguns estudos realizados na década
de 50 e 6030. Este fato também se encontra marcado na memória dos
pescadores que ainda hoje vivem por lá.
30
Algum dos estudos que ressaltam a importância que já teve a pesca praticada pelos
pescadores da Quinta do Caju são: Bernardes e Bernardes (1950); Bernardes (1958) e Brito
Soeiro (1960).
56
que, por volta de 1900, introduziram a rede balão embarcada31 (Figura 7.2). Na
década de 50, inovaram através do arrasto com portas32, já com a utilização de
embarcações motorizadas. Alguns anos depois trouxeram o beam-trawl33
(Bernardes, 1958).
Figura 7.2: Pesca com rede de balão. Fonte: Bernardes e Bernardes (1950).
31
Nesta modalidade de arrasto o movimento da embarcação era obtido quando os pescadores
puxavam uma corda, que se encontrava amarrada em algum ponto de referência localizado
em terra. A abertura longitudinal da rede era garantida pela presença de hastes, localizadas
a proa e popa das canoas e por um arranjo de amarrações de cabos. Já a abertura vertical
era garantida pela utilização de calões.
32
Nesta modalidade o arrasto é realizado por apenas uma embarcação motorizada. A rede,
tracionada junto ao fundo, é mantida aberta pela utilização das portas. Estas consistem em
duas pranchas confeccionadas de madeira, ou metal, mais ou menos planas, e que são
posicionadas a bombordo e estibordo da embarcação. As portas são lançadas ao mar antes
da rede, geralmente com o apoio de um alador. Ao se movimentarem as portas geram uma
força ortogonal ao sentido em que estão sendo puxadas, e por este motivo mantém a
abertura longitudinal da rede. A abertura vertical é obtida pela utilização de lastros e bóias.
33
Este é o método mais simples de arrasto, empregado apenas por uma embarcação. A rede
fica aberta em virtude da utilização de uma estrutura rígida, geralmente confeccionada em
metal, como em uma draga.
57
guardar pertences pessoais, rancho, ferramentas e outros objetos (Foto 7.1 e
Foto 7.2).
O arrasto é simples, ou seja, a embarcação puxa apenas uma rede. Esta, por
sua vez, tem forma de funil, com comprimento 15 metros na tralha inferior. A
abertura da malha do corpo da rede varia de 18 a 30 mm, sendo muito comum
a utilização da malha „20‟. Também se costuma utilizar as portas, cada uma
com aproximadamente 23 m (Keunecke, 2006; Viana et al., 2006). Uma
adaptação muito comum realizada pelos arrasteiros da Quinta do Caju consiste
na utilização de uma corrente, conhecida localmente como “draga”, que é
anexada a tralha inferior da rede, e que serve para “abrir caminho” no fundo da
baía34.
34
As correntes procuram proteger a rede, principalmente, dos remanescentes dos currais, que
se encontram completamente imersos em vários pontos da baía de Guanabara.
58
O óleo diesel, que custa R$ 2,00 o litro, representa o insumo que mais onera a
produção. O consumo de óleo diesel em uma viagem é de, em média, 50 litros.
O gelo e o rancho também são insumos fundamentais a pescaria do camarão,
mas não representa um custo no processo produtivo dos arrastos.
Nos cercos, as traineiras são auxiliadas por uma embarcação menor, que
geralmente não é motorizada. A função desta embarcação e segurar uma das
extremidades da rede, enquanto a traineira contorna o cardume. As redes
35
As “alvitranas” correspondem a uma espécie de cerco de emalhar, ou seja, que capturam o
peixe na medida em que este se embola na rede.
36
As embarcações que utilizavam as redes traineiras, em virtude de sua diferença das demais
embarcações, na ocasião do início dos cercos com este petrecho, acabaram por serem
reconhecidas, pelos pescadores, através do nome do aparelho, fato que persiste até hoje.
59
utilizadas possuem abertura de 13 milímetros, 35 metros de altura e 500
metros de comprimento (Foto 7.3).
37
Moitão é uma denominação local do alador de rede tipo power block.
60
vez que nenhum mestre-proprietário possui subvenção ao preço do óleo; o
gelo, geralmente conseguido de graça nas fábricas de enlatamento de
sardinha; e o rancho (assim chamada a alimentação dos tripulantes).
7.1.3 Gradim
61
produção no Gradim. Pescadores do Gradim.
38
Esta modalidade de pesca será apresentada mais a seguir, ao longo da descrição das
práticas pesqueiras utilizadas pelos pescadores da Praia de Mauá.
39
Uma rede é basicamente composta pela combinação de três peças: o pano, a bóia e o
lastro. O primeiro corresponde a uma malha (com diferentes aberturas) em formato
retangular (em diferentes combinações de altura e comprimento) e que responde,
efetivamente, à captura do pescado. Por sua vez, a bóia (cortiça) e o lastro (chumbada ou
poita), são um conjunto de pequenos flutuadores e pesos fixados ao longo da rede em suas
arestas superior e inferior, responsáveis pela manutenção da abertura vertical da rede
(também existem diferentes combinações de bóias e lastros, bem como de materiais
utilizados).
62
O seu comprimento e altura variam bastante, e a escolha das dimensões do
petrecho encontra-se relacionados diretamente com o custo de sua produção e
manutenção, espécie-alvo e método de pescaria. Com relação ao custo, é
importante ressaltar a importância do entralhamento40. Esta atividade
representa um custo adicional às pescarias, algo em torno de R$ 30,00 no
Gradim. Em muitos casos, os próprios pescadores realizam o entralhamento,
procurando, desta forma, reduzir os seus custos de produção.
Foto 7.7: Redes de emalhe dispostas sobre as embarcações dos pescadores artesanais
do Gradim.
40
O entralhamento corresponde à montagem da rede, ou seja, da costura das bóias e dos
lastros ao pano.
41
Uma braça possui aproximadamente 1 metro.
63
motorizadas, circundam os peixes, e assim que se fecha o cerco, começam a
bater na água de modo a induzir o pescado a nadar contra as redes, e a
ficarem emalhados (Figura 7.3).
Figura 7.3: Esquema da rasca de bater, ou cerco. Fonte: Bernardes e Bernardes (1950).
42
A espia corresponde a uma das partes do curral, que será caracterizado mais adiante, ao
longo da descrição das práticas pesqueiras da Praia de Olaria.
64
Figura 7.4: Esquema de pesca de cerco sem parceria com a utilização de estruturas de
currais desativados. Fonte: Adaptado de Bernardes e Bernardes (1950).
As redes de meia água não ficam próximas à superfície, e suas alturas são
definidas pela profundidade local de onde se está pescando. Para manter as
65
redes na profundidade desejada, os pescadores substituem a cortiça (material
que oferece flutuabilidade a rede) por garrafas PET. Estas não são amarradas
diretamente na rede, e sim às cordas que se conectam a elas. Desta forma, o
comprimento da corda regula a profundidade que a rede ficará com relação ao
espelho d‟água (Foto 7.9). Estas redes têm se popularizado em virtude da
poluição, pois elas acabam por escapar do lixo flutuante.
Foto 7.9: Detalhe do arranjo de garrafas pet utilizadas para manter as redes flutuando.
66
custo de no máximo R$ 40,00 a botija. O botijão é o próprio tanque de
combustível e é levado a bordo das pequenas embarcações. A instalação é
improvisada e geralmente realizada pelos próprios pescadores. Embora os
pescadores não tenham se recordado de nenhum incidente, a percepção entre
alguns deles, de que a instalação do gás ocorre de forma improvisada, tem
repercutido como mais um aspecto que aumenta o risco de vida durante as
pescarias (Foto 7.10).
Foto 7.10: Detalhe do botijão utilizado nas pequenas embarcações dos pescadores do
Gradim.
67
Foto 7.11: Embarcações de arrasto do Foto 7.12: Detalhe da porta utilizada para
Gradim. manter a rede aberta.
Olaria, por sua vez, também representa outra área tradicionalmente ligada à
atividade pesqueira, como indica o mapa de pesca elaborado por Lísia
Bernardes e Nilo Bernardes em 1950. Neste documento a localidade aparece
43
Espinhel corresponde a uma modalidade de pesca de linha, onde um conjunto de anzóis
(número de anzóis é variável) é fixado a um cabo principal, amarrado à embarcação em uma
de suas extremidades e a uma bóia de sinalização na outra. O espinhel pode ser
posicionado junto ao espelho d‟água e a meia água, quando o objetivo é a captura de
espécies pelágicas é próximo ao fundo, quando são alvo as espécies demersais. A posição
do espinhel na coluna d‟água é definida, sobretudo, pelos arranjos de bóias que intercalam
os anzóis. Esta é uma modalidade de pesca passiva, uma vez que fica parada, ou com um
reduzido movimento, a espera do organismo.
68
representada como importante núcleo pesqueiro do estado (Bernardes e
Bernardes, 1950).
Figura 7.5: Esquema da pesca denominada tribobó. Fonte: Bernardes e Bernardes (1950).
44
Nota-se de um tempo que não existe mais e que o adiantado da vida não lhe permitirá rever
uma situação como esta. As histórias contadas por este pescador eram acompanhadas por
olhos alegres, como quem enxergasse uma realidade, que frente aos fatos cotidianos, só
poderiam ser fantasiosos. Peixes que saltam para dentro do barco, redes fora d‟água,
parecem para este personagem da praia de Olaria algumas das fantasiosas histórias que
está habituado a ouvir de seus companheiros pescadores.
69
O curral também é uma técnica antiga, apreendida pelos brasileiros dos índios
nativos da Guanabara (Bernardes & Bernardes, 1950; Amador, 1996). Mesmo
com o extermínio dos tupis, a técnica continuou sendo largamente empregada,
pois além de ser altamente rentável45, permite uma produção razoavelmente
estável, diferentemente das outras técnicas (Bernardes, 1958).
De acordo com IBAMA (2002:10) “os currais são artes de pesca fixas,
confeccionados com esteiras de bambu e tendo como fundação, troncos de
árvores dos manguezais ou de eucalipto. A madeira do mangue, cuja utilização
constituía prática comum, vem sendo substituída pelo eucalipto. Não há, no
entanto, números precisos quanto ao consumo de cada tipo de madeira. Para a
construção de um curral são necessários 150 a 180 troncos, com diâmetro
variando de 3 a 8 cm e altura entre 5 e 7 metros”. De acordo com Esteve (1995
apud IBAMA, 2002) a vida útil de um curral é de aproximadamente um ano,
após este período é necessário que seja realizado uma grande manutenção de
suas estruturas.
45
No passado à pesca com curral era muito próspera. Conta um pescador: “Com a renda
gerada era possível ter uma boa vida, casa própria, dar boa educação para os filhos, e até
realizar algumas estribeiras, como comprar carros e outros bens com dinheiro vivo, à vista”.
Muitos dos curraleiros de Olaria, a despeito dos grandes lucros obtidos com os currais, não
conseguiram acumular capital, justamente por acreditarem que tamanha fartura não poderia
jamais acabar.
70
largura de modo a realizar uma seleção de tamanho entre cada cerco. Desta
forma facilita-se à despesca e reduz-se a predação.
Figura 7.6: Esquema de cercado fixo, curral, armado no fundo da baía de Guanabara.
Fonte: Bernardes e Bernardes (1950).
Cada pescador possui uma forma diferente de amarrar a porta dos currais. O
“nó de espia” é uma espécie de identidade do curral46. Este procedimento já foi
mais utilizado, quando os currais rendiam mais. Hoje, ainda há “roubo” dos
pescados, mas em uma escala muito inferior.
46
Cada pescador possui um nó próprio que utiliza para amarrar a porta do curral. Como é o
único que sabe dar o nó que lhe pertence, o proprietário do curral saberá quando outro
pescador estiver retirando peixes sem o seu consentimento, já que deixará a porta amarrada
de um modo distinto. Esta técnica foi muito empregada, caindo em desuso nos dias de hoje.
71
com auxílio de um puçá, também denominado por chavavá, sarrico ou
passava. No passado os currais eram despescados diariamente, haja visto a
fartura, hoje em dia, em média a despesca ocorre a cada 3 dias (Foto 7.13 e
Foto 7.14).
47
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, através da Resolução nº 302 e no uso
das competências que lhe são conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,
regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto
nas Leis nos 4.771, de 15 de setembro e 1965, 9.433, de 8 de janeiro de 1997, resolve, no
Art. 2º, que o manguezal constitui às áreas de preservação permanente.
72
com o aumento da pressão social para a preservação desta vegetação, a
utilização dos currais ganhou mais um empecilho: o custo.
Cabe ressaltar que a utilização dos currais no Estado do Rio de Janeiro foi
regulamentada em 2005, pela Instrução Normativa nº 14, do Ministério do Meio
Ambiente. Nesta norma, encontram-se especificações técnicas para a
construção dos currais, sua identificação e legalização perante os órgãos
fiscalizadores competentes. Esta Norma indica que no caso específico da APA
de Guapimirim, as regras de utilização de currais seguem regulamentação
específica.
Em Olaria, só foi possível conversar com dois curraleiros, cada um deles era
proprietário de aproximadamente 30 currais cada um. Mas, de acordo com
relatos dos pescadores da área, existem mais, em torno de 20 a 30
pescadores, cada um proprietário de 2 a 3 currais.
73
Outra modalidade muito difundida em Magé corresponde à rede de espera. A
abertura de malha mais comum é a de 25 mm, mas outras são empregadas de
acordo com a espécie alvo. O tralhamento da rede é realizado por um pescador
que se especializou nesta atividade. Para realizar esta atividade de cada pano
de rede (aproximadamente 30 metros) é cobrado R$ 30,00, descontados os
custos com materiais (bóias e chumbos) (Foto 7.16).
74
da maré e de tempo para evitar que a rede embole nos restos de curral e se
danifique. A rede também é muito danificada por siris.
48
Silvio Jablonski, Faculdade de Oceanografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
49
Muitos pescadores entrevistados comentarem sobre a mudança de odor na carne da tainha.
Em alguns casos, o cheiro era tão desagradável que tornava o peixe impróprio para o
consumo.
75
edentulus), a tainha (Mugil liza), a corvina (Micropogonias furnieri), a espada
(Trichiurus lepturus), o bagre (Genidens genidens e Netuma barba) e os
camarões rosa e cinza (Farfantepenaeus paulensis e Litopenaeus schmitti,
respectivamente) (Foto 7.17, Foto 7.18, Foto 7.19, Foto 7.20).
Foto 7.17: Tabuleiro com corvinas. Foto 7.18: Pescadores negociam o preço
do camarão cinza.
Foto 7.19: Tabuleiro com sardinhas. Foto 7.20: Presidente da APeLGA mostra
um bagre para a fotografia.
76
Dentre as demais espécies que freqüentam a baía apenas durante um estágio
do seu ciclo de vida, constam: o parati, a sardinha, e algumas manjubas (que
entram na baía para crescer) e a enchova, algumas espécies de linguados, a
corvina e a pescadinha (que entram na baía para a reprodução) (Bizerril e
Costa, 2001).
Dentre as espécies que têm todo o seu ciclo de vida na baía de Guanabara
destaca-se a sardinha boca-torta (Jablonski, 2008, comunicação pessoal50).
Apesar disto, é mais comum ouvir do pescador da Guanabara que ele “pesca
na baía toda” e que ele vai “onde o peixe está”. Estas constatações, talvez dois
dos maiores consensos que existiram entre os pescadores entrevistados, pode
indicar que a maioria das espécies explotadas distribui-se amplamente pela
baía.
50
Silvio Jablonski, Faculdade de Oceanografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
77
as traineiras, presentes na Quinta do Caju e os pescadores de curral de Olaria
(Foto 7.21).
78
bordo mais complexa que nas demais pescarias praticadas na baía de
Guanabara.
79
Foto 7.22: Grande número de pescadores negociam os preços de venda do pescado que
acabaram de desembarcar no Gradim.
80
Para o desembarque também é muito comum que seja utilizado o serviço de
carregador, que são pescadores, ou moradores locais que transportam o
pescado do barco até o local onde ficam todos os compradores. Não é
obrigatório, mas geralmente se encontra condicionado ao fato de que os
pescadores não possuem tabuleiros para transportar o peixe. O serviço custa
51
A atuação desta associação será descrita no próximo item.
81
Foto 7.26: Pescado sendo pesado por um diretor da Associação de Pescadores.
52
É uma queixa recorrente entre os pescadores o fato dos intermediários praticarem um preço
combinado.
53
Embora nenhum dos grandes atravessadores que atuam no Gradim seja desta localidade, o
fato de freqüentarem-na há muito tempo, fez com que se estabelecessem laços afetivos
entre estes e os pescadores. Recentemente, utilizando-se desta relação, o presidente da
APeLGA solicitou aos atravessadores a doação de sacos de cimento para a construção de
um piso na área onde o pescado é comercializado. Os intermediários atenderam ao pedido,
ajudando, ainda, no mutirão da obra.
82
Foto 7.27: Local de desembarque de Olaria
83
pescado em um caminhão frigorífico até o CEASA onde o comercializa na
“rampa”54 (Foto 7.29).
54
Denominação particular dada pelos intermediários de Magé a uma área externa ao CEASA
onde o pescado é comercializado sem a intermediação do leiloeiro.
84
Dois outros intermediários se destacam na praia, não pelo volume de pescado
que adquirem, mas pela persistência diária na negociação destas pequenas
quantidades: “é o que o dinheiro da para casar”, afirmam. Um deles costuma
limpar o peixe antes de revendê-lo. Deste modo garante uma margem maior de
lucro (Foto 7.30).
Foto 7.30: Pequeno comprador local de pescado limpando um tabuleiro de sardinhas para
revendê-las com maior valor agregado.
55
Esta é a forma como alguns atravessadores locais denominam os intermediários que
ocasionalmente participam da comercialização do pescado.
85
Foto 7.31: Comprador de peixaria de Duque de Caxias.
56
Esta é a forma como alguns atravessadores locais denominam os comerciantes que não
freqüentam a Praia de Olaria diariamente.
86
VG. Neste caso há uma negociação explicita do preço entre os atravessadores
habituais e que repercute em uma maior margem de lucro para os pescadores.
57
Este ator não pode ser identificado.
58
Em IBAMA (2002), tem-se uma cotação da boca-torta, também vendida diretamente para as
indústrias de processamento, em R$ 0,25. Ou seja, o preço praticado em 2008 é 24 %
inferior. Deve-se ponderar, no entanto, que naquele ano os pescadores tinham que arcar
com o gelo.
87
pescado é monitorado ao desembarcar (temperatura), e são adquiridos apenas
os peixes considerados frescos.
88
A importância do CEASA e a sua distância dos produtores fazem jus às
reclamações ouvidas durante as pesquisas de campo sobre o fechamento do
entreposto pesqueiro da Praça XV.
59
Pontos de comercialização do pescado localizados no município de Niterói e onde também
se praticam leilões do pescado.
89
através do esforço dos próprios pescadores que promoveram um mutirão
comunitário.
60
Nenhuma delas foi efetivamente realizada.
90
Escola da Pesca Artesanal;
91
7.5.2 Colônia Z-12
“Ele só estava lá porque não tinha mais ninguém interessado. Se não fez nada,
pode-se dizer que os pescadores também são responsáveis, pois não cobraram
nem assumiram qualquer postura que pudesse modificar aquela situação”.
92
comunitário combativo. Como principais vetores de desunião encontram-se: a
intensificação da competição por trabalho e o deslocamento de todas as
práticas que possuíam um caráter comunitário, para práticas individualistas.
93
tempo, além de ser um canal próprio para o recebimento de pedidos de
socorro.
Foto 7.33: Vista do píer da Quinta do Caju, e no centro ao fundo, a sede da Associação
dos Pescadores.
94
Naquela oportunidade, um dos principais fatores que motivaram o
fortalecimento da associação foi à construção da rodovia BR-101, que
ameaçava a permanência dos pescadores na Praça do Peixe.
A Colônia com jurisdição em São Gonçalo era a Z-08, que tem sua sede
localizada no município de Niterói. Na opinião de Cícero, a Colônia Z-08 nunca
foi comprometida com os pescadores do Gradim. Segundo este ex-pescador e
líder comunitário, a Colônia estava mais interessada em atender os interesses
dos armadores de Niterói.
“As Colônias não foram criadas pelos pescadores. Foram criadas pela Marinha, e
até hoje ainda é possível encontrar a influencia do Estado sobre os interesses e
decisões estabelecidos pela diretoria de algumas Colônias. Os presidentes das
Colônias eram indicados pelo Governo Federal. Alguns presidentes destas
organizações só queriam defender o interesse dos armadores, ou dos
empresários da pesca, que em muitos casos eram presidentes da Colônia,
vereadores, prefeitos, deputados...”.
61
Como visto anteriormente, até a Constituição de 1988 a pesca era organizada pelo Estado, e
não era permitido o livre associativismo.
95
O descontentamento com a Colônia fez com que as lideranças dos pescadores
de São Gonçalo se mobilizassem para participar do Seminário da Pastoral da
Pesca, em Brasília, 1985. Cícero foi o representante escolhido, e ao retornar,
iniciou uma mobilização que culminou, em 1991, na fundação da Associação
dos Pescadores Livres do Gradim e Adjacências, APeLGA.
A Colônia Z-08 rejeitou a idéia e desde então nunca houve uma tentativa de se
estabelecer algum tipo de parceria entre as duas organizações de pescadores.
Pelo contrário, além de discordar politicamente da fundação da APeLGA, a Z-
08 tentou processar a associação e seus representantes em algumas
oportunidades. Seu Cícero entendia estas atitudes da Colônia como uma forma
de inviabilizar o trabalho da APeLGA ou de desacreditá-la frente aos
pescadores.
96
das lideranças comunitárias do Gradim teve grande evidência pública. Foram
inúmeras aparições em diversos meios de comunicação, como televisão e
jornais. A APeLGA foi reconhecida como de utilidade pública e, favorecida pela
conjuntura política na época, também ganhou o direito de emitir a carteira de
pescador, até então uma responsabilidade exclusiva da Z-08.
97
A associação também não promoveu qualquer iniciativa para aumentar a
participação dos pescadores nos assuntos relacionados à gestão da APeLGA.
O próprio Cícero afirmava que a “a associação não é dos pescadores, é para
os pescadores”.
“Na APeLGA a situação era semelhante à Colônia (Z-08), onde ninguém sabe o
que fala no estatuto. Quando assumimos a diretoria da associação no final de
2007, primeiro provisoriamente e depois eleitos, tiramos que nossa primeira ação
seria convidar os pescadores para uma reunião para apresentarmos à eles o
estatuto da APeLGA, bem como seus direitos e deveres enquanto associados”.
98
negada, em oportunidade e qualidade, pelo próprio Estado, informa Zé
Mesquita.
Desta forma, para Zé, existe entre os pescadores artesanais do Gradim uma
profunda falta de informação e uma extensa lacuna de conhecimento
proporcionado pela educação formal. Esta condição é explorada por outros
atores sociais que compartilham o uso da Guanabara com os pescadores,
como forma de desestabilizar o movimento social representado pelas
associações e Colônias de pesca.
99
No entanto, Zé Mesquita destaca que não se trata desta atual educação formal
que necessitam os pescadores. Zé acredita que os pescadores possuem um
conhecimento prático que deve ser considerado pela educação formal, que
deve se mesclar com o conhecimento científico. A discussão em pauta neste
processo educacional não deve se abster em analisar as condições específicas
de vida dos pescadores e moradores do Gradim.
100
Zé Mesquita aponta que o Estado tem atuado na direção do fortalecimento dos
valores que hoje hegemonizam as relações sociais, ao invés de combatê-los e
por este motivo, em muitos casos, a gestão tem privilegiado interesses
privados a interesses públicos, ou comunitários.
Para Zé “a sociedade não muda por decretos, muda por visões”. Em outras
palavras, o líder comunitário quis caracterizar o aspecto prático da lei que
muitas vezes só é realizável quando a comunidade a compreende e a defende,
ou quando se estabelece uma significativa estrutura coercitiva.
101
Foto 7.36: Sede da Colônia Z-09.
Em breve a Colônia irá passar por uma mudança estatutária, cuja principal
modificação está na transformação da Colônia em sindicato. Esta iniciativa tem
como objetivo principal aumentar a renda da Colônia, uma vez que perderá a
obrigatoriedade de repassar a Federação das Colônias 12 % do que arrecada
com as mensalidades de R$ 8,00 pagas pelos seus sócios.
102
e foi a responsável pelo levantamento dos pescadores afetados pelo
vazamento de óleo de 2000.
No entanto, foram eleitas algumas diretorias que não fizeram outra coisa senão
usurpar o patrimônio dos pescadores, nas palavras de Aderbal, “os sucessivos
equívocos escolhidos para cuidar do patrimônio dos pescadores quebraram a
103
Colônia”. A sede estava abandonada e não eram realizados projetos de
assistência aos pescadores.
62
É importante complementar que a participação dos pescadores em eventos organizados
pela Colônia é mais expressiva quando estes estão relacionadas à divulgação de
empreendimentos realizados na região, que possam alterar as condições de vida dos
pescadores, em oposição aos eventos que dizem respeito aos assuntos da própria Colônia,
como prestação de contas e discussões sobre mudanças do estatuto.
63
O Projeto Manguezal faz parte de uma medida de compensação executada pela Suzano
Petroquímica, uma empresa que desflorestou áreas de mangue para passar dutovias. Sua
implementação irá empregar 100 pessoas durante um ano e na negociação com a empresa
que causou o impacto ficou acordado que os empregados seriam pescadores.
104
Embora Aderbal avalie que os resultados alcançados até o momento pela sua
gestão sejam bastante satisfatórios, parece que ainda não conseguiu atingir
unanimidade. Muitos pescadores entrevistados foram da opinião que nada
mudou na atual diretoria com relação às demais diretorias que já geriram a Z-
09. Ainda faltaria transparência com relação ao uso do dinheiro arrecadado
com as mensalidades e da administração dos gastos da instituição, assim
como haveria falta de combatividade.
A Z-09 mantém uma boa relação com as demais Colônias de pesca da baía de
Guanabara, com exceção da Z-10, que abrange as praias da Ilha do
Governador.
64
No Projeto Baía Limpa, pescadores são capacitados para recolherem parte do lixo flutuante
da baía de Guanabara. Espalhadas por pontos de desembarque de pescado, encontram-se
núcleos de pesagem e compra do lixo coletado pelos pescadores.
105
aumento da produtividade pesqueira e da renda gerada pela atividade
pesqueira.
Pelo que foi possível ouvir dos pescadores, a associação Homens do Mar
possui uma postura diferente da Colônia no que diz respeito às estratégias de
negociação com as empresas causadoras de impacto e com o poder público.
Enquanto a Colônia busca dialogar em audiências ou em reuniões específicas,
a Homens do Mar tem um perfil mais combativo, caracterizado pela realização
de barquetas e outros protestos em vias públicas.
106
sobre a pesca, e as medidas mitigadoras e compensatórias não têm sido
executadas. Em virtude desta situação, 40 pescadores realizaram um cerco ao
canteiro de obras, utilizando suas embarcações, durante aproximadamente 40
dias (entre abril e maio).
107
8 ANÁLISE CRÍTICA
8.1 DA METODOLOGIA
108
8.2 DOS RESULTADOS
109
Foi observada a presença de um grande número de pescadores amadores,
cuja relevância para este estudo associa-se ao surgimento de conflitos
relacionados com a disputa pela utilização dos pesqueiros com os demais
pescadores artesanais. A atuação da pesca amadora na baía ocorre sobretudo
no verão, sendo os principais aparelhos de pesca utilizados: a linha e a vara.
Com vistas a contribuir para este detalhamento apresenta-se, com base nos
trabalhos de Diegues (1983) e de Berkes et al. (2001), a pesca desenvolvida
nas comunidades pesquisadas como de pequena escala, onde:
110
trabalhos de campo alguns puderam ser notados, considerando as críticas
realizadas pelos pescadores.
65
Cf. First essay on population, 1798 e Second essay on population, 1803.
66
Cf.The population bomb, 1968.
111
Este contraste também é evidente na baía de Guanabara. Os pescadores,
embora se localizem em uma região extremamente rica67, não se sentem tão
afortunados quanto os empresários, que investem em empreendimentos
industriais e portuários na Guanabara, no que diz respeito às possibilidades de
desenvolvimento de suas respectivas atividades. Este contraste também
transparece no discurso dos pescadores em falas como: “os pescadores estão
sendo expulsos da baía pelos empresários, pelas indústrias [..] são eles é que
ganham dinheiro na baía de Guanabara”.
Lima & Pereira (1997 apud Mendonça & Valencio, 2008) identificaram que a
falta de educação formal e principalmente o analfabetismo podem comprometer
a capacidade de engajamento dos pescadores em ações coletivas, dificultando
o estabelecimento de um grupo com autonomia política e econômica.
Embora na área de estudo possa se encontrar uma boa oferta de vagas para o
ensino fundamental e médio, os pescadores destacam que a estrutura das
escolas não é compatível com as suas realidades de trabalho e, por este
motivo, mesmo com as oportunidades, não há motivação para se
comprometerem com a atividade educacional ou acadêmica.
67
Só a cidade do Rio de Janeiro possui o 2º maior Produto Interno Bruto do Brasil e 30º do
mundo.
112
Os pescadores que participam deste acordo encontram-se submetidos às
mesmas carências dos pescadores da Guanabara com relação ao acesso ao
ensino formal (PDA, 2006a; PDA, 2006b).
68
Aproximadamente 50% da população mundial vive numa faixa de até 150 km da costa.
113
Conforme destaca Berkes et al. (2001), esta percepção pode ser importante no
que tange a proposição, construção e manutenção de um sistema de co-
gestão. Diegues (2001) aponta que muitas comunidades de pescadores
passaram a propor sistemas de manejo comunitário, a partir da percepção e
rejeição coletiva das condições de degradação ambiental dos ecossistemas
explotados por eles.
114
Neste sentido, justifica-se a sensação compartilhada por muitos pescadores
com relação ao abandono da pesca na baía pelos atores governamentais, e
suas respectivas referências às atitudes clientelistas/eleitoreiras mantidas por
políticos locais na promoção de melhorias para o setor. Outro fator de
indignação corresponde a falta de clareza no tocante ao processo de
regulamentação da licença de pesca. Problemas desta natureza têm deixado
muitos pescadores em situação de ilegalidade com relação ao desenvolvimento
de sua profissão.
115
marcantes em termos de promoção do uso sustentável dos recursos
pesqueiros (Berkes, 1986; Acheson, 1998; Bender, 2000; Basurto, 2005; MMA,
2006a; MMA, 2006b).
Deste modo, presume-se que a pesca na baía possa estar submetida a uma
pressão pesqueira inadequada, influenciada pela dificuldade de regulação do
acesso aos recursos pesqueiros, pela desarticulação comunitária e pelo baixo
nível de organização social do setor. Além de provocar uma redução na renda
per capita dos pescadores, pode ser indutora de conflitos entre estes atores
pela disputa da utilização de pesqueiros.
116
criação e a manutenção de instituições de propriedade que encorajam o uso
sustentável dos recursos.
Cabe ressaltar ainda que a criação de áreas exclusivas para a pesca artesanal
corresponde a uma reivindicação antiga dos pescadores, expressa, por
exemplo, como uma das propostas encaminhadas pelo Movimento Nacional
dos Pescadores (MONAPE) em 1991 (Cardoso, 2001).
Não foi possível obter informações precisas sobre a forma como são utilizados
os pesqueiros, a não ser o vago comentário reproduzido em todas as
comunidades: “todos pescam na baía toda”. Esta informação indica que
embora não há um acordo explicito entre os pescadores com relação a
69
Silvio Jablonski, Faculdade de Oceanografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
117
definição de qualquer tipo de regra de uso dos recursos pesqueiros, existiria
uma organização intrínseca e subentendida por todos. Talvez, uma única
exceção corresponderia a ordem de chegada no pesqueiro, ou seja, aquele
que chega primeiro a um pesqueiro têm o direito de ser o primeiro a pescar.
Se uma regra local de caráter tão simples não é respeitada, o que se pode
esperar de uma regra estabelecida, imposta e não fiscalizada pelos agentes
governamentais? De acordo com a legislação pesqueira nacional,
embarcações de arrasto não podem operar em águas costeiras a partir da cota
batimétrica de 5 metros. No entanto não é o que se observa.
70
Duas práticas foram descritas pelos pescadores da Guanabara como desrespeitosas ao
critério de chegada. A primeira é chamada de “afogamento”, ou seja, o pescador que
chegou depois ancora sua rede sobre a do pescador que chegou antes. A segunda é
conhecida por “sombreamento” e ocorre quando o pescador que chegou depois posiciona
sua rede à frente da rede do pescador que havia chegado primeiro.
118
vem desempenhando outras atividades econômicas com vistas a ampliação da
receita familiar.
Muitos intermediários, inclusive alguns que atuam nas pequenas firmas, são
ex-pescadores e moradores dos locais onde desembarcam o peixe. Por este
motivo acabam por estabelecer com os demais pescadores uma relação de
compadrio.
119
A boa convivialidade entre os pescadores e comerciantes não é um fenômeno
singular a baía de Guanabara, haja visto os comentários realizados por Marrul
Filho (2001). De acordo com o estudioso esta situação foi um dos fatores
responsável pelo fraco desempenho das medidas governamentais – décadas e
70 e 80 – que visaram cooperativar os pescadores e reduzir os impactos dos
intermediários.
120
uma mesma cidade71. As associações – por não possuírem este entrave legal –
compreendem núcleos bem mais localizados de pescadores.
Em alguns casos, como citado por Cardoso (2001), a falta de legitimidade das
organizações comunitárias é derivada da manutenção de pequenas oligarquias
no poder das Colônias e associações. Estas, compostas por armadores ou
líderes apoiados por empresários do ramo pesqueiro local, conservam políticas
antiquadas de representação, dando poucas oportunidades de manifestação
dos interesses da base composta pelos pescadores artesanais. Por outro lado,
antigas lideranças, uma vez retiradas democraticamente da administração das
Colônias, utilizando o seu maior poder econômico constroem associações com
o intuito de dificultar o trabalho das Colônias e de se manter na política
pesqueira.
Esta relação não foi identificada na baía, a não ser em Olaria, quando um
grupo derrotado na eleição (que não era a situação), se organizou para fundar
71
As Colônias vêm se adequando lentamente a regulamentação que garante à apenas uma à
jurisprudência sobre todo o município (Lei Federal nº 11.699/2008). No município do Rio de
Janeiro, por exemplo, existem, pelo menos, cinco Colônias: Ilha do Governador, Ramos,
Caju, Copacabana e Guaratiba.
121
uma associação de pescadores72. Hoje, entre ambas existe uma grande
rivalidade e dissonância com relação aos meios de reivindicação.
72
Informação obtida através das entrevistas realizadas com alguns componentes da diretoria
da gestão 2008 da Colônia Z-09.
73
A Z-08, sediada em Niterói, por exemplo, tem jurisprudência desde este município até
Guapimirim. A Z-09, por sua vez, em toda Magé e a Z-10 em toda a Ilha do Governador.
74
Na baía de Guanabara a APeLGA possui uma atuação mais abrangente que as demais,
incorporando localidades vizinhas ao Gradim. Porém a APeLT atua apenas conjuntamente
com os pescadores de Tubiacanga, sub-bairro da Ilha do Governador.
122
base de representados, deve ser levada em consideração no desenho de um
programa de gestão participativa na baía. O problema de comunicação entre
estas instituições não é pequeno e há uma acirrada rivalidade em muitas delas.
Deve-se atentar também para a questão da legitimidade das lideranças locais
frente as suas próprias bases e a dificuldades que existentes para incorporação
de mais pescadores ao processo administrativo destas organizações.
123
9 CONCLUSÕES
124
(mangues, rios, costões, praias...) significaria a redução da capacidade
produtiva da Guanabara.
125
predomina na gestão pública deste setor, ou seja, um processo verticalizado de
tomada de decisão baseado no comando e controle.
126
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