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entende este elemento. Evidentemente esta visão dependerá das flutuações ideológicas
de cada época. De qualquer forma, pode-se perceber que, com raras exceções, o
indígena é encarado como um elemento que não faz parte do domínio da História.
no domínio da Antropologia e/ou da Etnologia. Isto faz com que estes trabalhos, que são
de suma importância para estas respectivas áreas, fiquem sem uma visão contemporizada
e crítica da sociedade indígena. Além disso, o historiador fica com a impressão de que
este assunto não faz parte de seu objeto de estudo, logo, ele não tem qualquer
a História que se inicia, no caso brasileiro, com a chegada da armada de Pedro Alvares
Cabral em 1500, logicamente os índios anteriores à esta data não serão do âmbito da
1 Caderno de Criação, ano V, número 15 - junho, Universidade Federal de Rondônia - Centro de Hermenêutica do Presente, Porto Velho - RO, 1998, pp. 4-11.
2 Professor e Pesquisador da UNESA; Doutorando em História Social do IFCS-UFRJ; Bolsista do CNPq., a nível de Doutorado; Coordenador do Programa
Arqueológico Puri-Coroado apoiado pela UNESA.
3 Bacharelanda em Arqueologia; Mestranda em História Social do IFCS-UFRJ; Estagiária do Programa Arqueológico Puri-Coroado apoiado pela UNESA; Bolsista
de Iniciação científica da UNESA.
4 Bacharelando em Arqueologia; Estagiário do Programa Arqueológico Puri-Coroado apoiado pela UNESA; Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC-CNPq.-
UNESA.
Historia, e os posteriores somente o serão na medida em que complementarão o contexto
europeu da época. Para os autores desta linha, os índios aparecem somente em alguns
momentos da História do Brasil, como por exemplo, com a chegada da armada de Pedro
trabalhar com os grupos indígenas. Como o historiador, que se volta cada vez mais para
Esta não foi a preocupação da grande maioria dos que escreveram sobre as
tradicional sobre o indígena brasileiro, pode-se constatar que este, o índio, é visto como
sendo um bloco único com características gerais. Isto ocorreu por falta de conhecimento
prévio de cada grupo por parte dos cronistas e dos autores posteriores a eles. Desta
Como conseqüência desta visão acrítica, a maior parte das obras sobre os índios
brasileiros, não são análises que se detêm nas particularidades de cada um dos grupos.
Por sua vez, a Arqueologia, que trabalha com esses grupos nos mais diversos
momentos de sua história, muito pouco tem feito no sentido de recuperar aquela
sociedade com a qual irá trabalhar. Seu intuito, na maioria das vezes, é de estabelecer
panoramas gerais, muito longe das particularidade e dos modos de vida de cada grupo
do Rio de Janeiro, conhecida em sua quase totalidade pela expressão “baixada dos
Goitacá. O que acontece é que encontramos nela diversos outros grupos, tais como os
cada grupo. Desta maneira, foi traçado um “modelo” do que seria o indígena e a
ocupação desta área somente a partir dos Goitacá. Esse fato tem provocado, em nosso
entender, uma série de distorções na realidade da ocupação desta e de muitas outras áreas.
Desta forma é muito comum ler a respeito de uma possível identificação entre os
índios Puri e Coroado e os índios Goitacá, chegando, alguns autores, a afirmação de que
aqueles teriam sido os descendentes dos índios Goitacá, quando estes teriam chegado ao
território das Minas Gerais. Devemos assinalar que desde o século passado encontramos
viajantes que fazem esta ligação. Neste sentido, Eschwege, Wied, Saint-Hilaire e
Martius já diziam que Puri, Coroado, Coropó e Goitacá tinham origem comum.
do tronco Gê.
argumentações poderiam não ser verdadeiras, não existindo provas de natureza científica
que as comprove. A grande crítica que faz aos pesquisadores é de aceitar o que foi
afirmado anteriormente, sem realizar qualquer exame crítico. Foi exatamente o que fez,
por exemplo, Burmeister, ao considerar como ponto pacífico a identificação entre
Coroados e Goitacás proposta por Saint-Hilaire. Métraux vai ainda mais além, ao afirmar
que não existe qualquer dado lingüístico que possibilite esta aproximação, acrescentando
daquela afirmação. Além do mais, como aliás já foi dito, não conhecemos uma só
palavra do vocabulário Goitacá, não havendo de fato como presumir uma identidade
tempo e no espaço para demonstrar a forma como tem vivido. É assim que, desde que
possível de informações a respeito dos grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó. Neste
através de fontes documentais, estes grupos naquela que poderia ser sua principal área de
índios Puri, coroado e Coropó no passado, ou seja, Nordeste do Estado de São Paulo,
Norte do Estado do Rio de Janeiro, Sudeste do Estado de Minas Gerais e Sul do Estado
do Espírito Santo.
possa traçar um mapa de dispersão Puri, Coroado e Coropó, a língua, falada por estes
o que hoje é consenso perante os pesquisadores, nem mesmo dizer qual foi a língua
falada por estes grupos indígenas. Pretendemos sim, apresentar algumas reflexões que
diversos estudiosos e “curiosos” sobre o assunto, que por sua vez também estão baseados
... sertões das Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro ... ”, procuramos fazer um
levantamento que possa direcionar nosso trabalho para aquela que poderia ter sido a
língua destes índios. Sobre isto, um ponto parece concenso entre a maioria dos
Dentre os estudos que estamos manuseando, podem ser citados autores como
5 SAMPAIO, Theodoro. Os naturalistas viajantes dos séculos XVIII e XIX e o progresso da ethnographia indígena no Brasil. In: Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, tomo especial - tomo II, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1915, pp. 543-594. _________________. O tupi na geografia nacional, São
Paulo, Comp. Ed. Nacional, 1987.
6 BURMEISTER, Hermann. Viagem ao Brasil através das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais: visando especialmente a história natural dos distritos auri-
diamantíferos. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia/USP, 1980. ______________________. Viagem ao Brasil através das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Livraria Martins Editôra, São Paulo, 1952. ______________________. Reise nach Brasilien, durch die Provinzen von Rio de Janeiro und Minas-Geraes, Berlin,
1853.
7 EHRENREICH, Paulo. A ethnographia da América do Sul ao começar o século XX. ___________________. Divisão e Distribuição das Tribus do Brasil
Segundo o Estado Actual dos Nossos Conhecimentos. In: Revista da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, Tomo VIII, anno de 1892, 1° boletim. Redactor,
Dr. Antonio de Paula Freitas. Rio de Janeiro. Typ. de G. Leuzinger e Filhos, Rua do Ouvidor 31. ___________________. Die Ethnographie Südamerikas im
Beginndes XX. Jahrhunderts, unter besonderer Berückssichtigung der Naturvölker. Archiv für Antropologie, Braunschweig, neue Folge, tomo III, 1905.
___________________. Die Puris Ostbrasiliens - Zeitschrift für Ethnologie, Berlin, tomo XVIII, 1886 (Verhandlungen, pp.185-188). ___________________. Die
Einteilung und die Verbindung der Völkerstämme Brasiliens nach dem gegenwärtigen Stande unsrer Kenntnisse, Petermanns Mitteilungen. Gotha, tomo XXXVII,
1891.
8 METRAUX, Alfred de. Les Indiens Waitaka. In: Journal de la Société des americanistes, número 21, pp. 107-126, Paris, 1929. _______________. The Puri-
Coroado linguistic family. In: HANDBOOK of South American Indians, Washington, volume I, p.523-530, 1946.
Auguste de Saint-Hilaire9, Ayron Dall’Igna Rodrigues10, Paul Rivet11, Chestmir
outros.
Comparativa para o Brasil pode ser o trabalho realizado por Loukotka acerca da estrutura
palavras, seus sons, seus aspectos gramaticais e de sintaxe de duas ou mais línguas, a
exemplo, ao mesmo tronco lingüístico. Estes estudos permitem concluir, também, sobre
as influências detectadas na língua, ou nas línguas, em análise, por outras línguas. Estas
realizado por Loukotka. Em seu trabalho, fez um estudo comparativo das estruturas das
línguas faladas pelos grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó, utilizando-se de alguns
Rodrigues, por sua vez, classifica a chamada família lingüística Puri como
integrante do tronco Gê. Segundo ele, as línguas que fazem parte deste tronco possuem
toda uma série de características em comum, tais como identidade histórica, semelhanças
constituído em sua maior parte pela Família lingüística Gê, a qual abrangeria, segundo o
referido autor, as línguas faladas em regiões de campos cerrados que cobririam uma
hipotética, englobando línguas faladas ainda hoje, como por exemplo o Maxakalí e o
Borôro, mas também línguas extintas, como por exemplo, as línguas da família Kamakã.
Ainda segundo Rodrigues, dentro de mesmo tronco Gê, teriam existido outras três línguas
lingüística Puri, que teriam sido faladas até fins do século XIX em três regiões: Leste do
Estado de Minas Gerais, Oeste do Estado do Espírito Santo e Oeste do Estado do Rio de
Janeiro.
Para Sampaio, os grupos índios Puri e Coroado deveriam fazer parte do tronco
lingüístico Gê. Da mesma forma, Pinto classifica os grupos indígenas Puri e Coroado
Rivet, por sua vez, divide as tribos de língua do tronco Gê em quatro grupos:
dos grupos Coroado. Além disso, acredita também, que a língua Puri seria um dialeto
Pode-se observar, porém, que existe uma discordância, entre os autores citados,
acerca das origens da língua falada pelos grupos indígenas Puri e Coroado. Em outras
palavras, não há um consenso a respeito do tronco lingüístico do qual faria parte a língua
classificar a língua falada pelos grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó como
mesmas formavam uma família lingüística própria. Vale lembrar que a tendência da
época, no que diz respeito aos estudos lingüísticos, era exatamente o desmembramento de
acesso a apenas dois deles: um de origem Coroado e outro de origem Coropó, os quais
haviam sido mencionados por Martius (1863)16 que informava terem sido elaborados por
Schott, um dos integrantes de uma expedição austríaca que esteve no Brasil no período de
1815 a 1817.
Estes vocabulários foram estudados em sua versão original, sendo que os dois
maiores, compostos por palavras da língua Coroado, são de autoria de dois padres
recebido, por estes, do Capitão francês Guido Thomaz Marlière. Deve-se esclarecer
ainda, que os vocabulários em questão comtêm 900 palavras, as quais teriam sido
recolhidas sem nenhum método. Assim sendo, o seu estudo tornou-se difícil, uma vez
que faltavam palavras importantes, para fins de comparação, bem como podia-se podia-se
16 MARTIUS, Karl Friedrich Phillipp von. Glossaria linguarum brasiliensium, Erlangen, Druck von Junge e Sohn, 1863.
17 ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig. Journal von Brasilien oder vermischte Nachrichten von Brasilien, auf wissenschaftlichen Reisen gesammelt, Gr. H.S. Landes -
Ind. Comp., Weimar, 1818.
Outros dois dos 14 vocabulários mencionados são: um de autoria de Coutinho
(1816)18 que, de acordo com alguns, poderia ser pouco confiável; e outro constituído por
palavras e frases de origem Puri colhidas por Torrezão. Este último foi de considerável
tribos indígenas Puri e Coroado, que em termos linguisticos as mesmas deveriam ter
estado bem próximas, uma vez que percebe-se, entre elas, uma série de semelhanças.
dialeto da língua Coroado. Quanto ao Coropó, não se pode dizer o mesmo, apresentando
palavras estranhas àqueles dois idiomas e exibindo muitas semelhanças com palavras
originárias de outras línguas também pertencentes ao tronco Gê. Com relação à primeira
afirmativa, acreditamos ser plenamente possível uma vez que vários autores constituintes
razão da proximidade entre as duas línguas residisse em uma suposta origem comum.
comparativamente, Loukotka finalmente pode concluir que as três línguas formam uma
família lingüística independente, sendo porém influenciada por outros idiomas indígenas,
em sua maioria pertencentes ao tronco Gê. Desta forma, definiu o autor a chamada
Família Coroado da seguinte forma: destacam-se dois idiomas puros, o Puri e o Coroado,
18 COUTINHO, José Joaquin Cunha de Azeredo. Ensaio economico sobre o comercio de Portugal e suas colonias, Typ. Academia Real das Sciências, 2a edição,
Lisbonne - Portugal, 1816.
ambos sofrendo influências das línguas Botocudo e Maxacalí; em contrapartida, o
Esta classificação, bem como as que dizem respeito a outras línguas que
contribuição para o avanço da lingüística indígena brasileira; tendo sido agrupadas sob o
outras. Sua classificação das línguas indígenas da América do Sul foi considerada das
mais completas que até então haviam sido estruturadas, tendo, conseqüentemente, se
outros.