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LÍNGUAS INDÍGENAS: A QUESTÃO PURI-COROADO1

Vlademir José Luft2


Luciana Maghelli3
Juliano Resende4

Existem duas maneiras de entendermos o elemento indígena no Brasil, e quem

sabe no mundo. Uma remete-nos ao conhecimento popular, onde o índio é considerado

um elemento exótico e totalmente diferente do “civilizado”, portanto, passível de ser

tutelado. A outra maneira, relaciona-se à forma como o mundo acadêmico-intelectual

entende este elemento. Evidentemente esta visão dependerá das flutuações ideológicas

de cada época. De qualquer forma, pode-se perceber que, com raras exceções, o

indígena é encarado como um elemento que não faz parte do domínio da História.

Infelizmente a tendência da historiografia brasileira tem sido a de manter os índios

no domínio da Antropologia e/ou da Etnologia. Isto faz com que estes trabalhos, que são

de suma importância para estas respectivas áreas, fiquem sem uma visão contemporizada

e crítica da sociedade indígena. Além disso, o historiador fica com a impressão de que

este assunto não faz parte de seu objeto de estudo, logo, ele não tem qualquer

responsabilidade sobre sua análise.

É evidente que se tivermos em mente um conceito de história tradicional, ou seja,

a História que se inicia, no caso brasileiro, com a chegada da armada de Pedro Alvares

Cabral em 1500, logicamente os índios anteriores à esta data não serão do âmbito da

1 Caderno de Criação, ano V, número 15 - junho, Universidade Federal de Rondônia - Centro de Hermenêutica do Presente, Porto Velho - RO, 1998, pp. 4-11.
2 Professor e Pesquisador da UNESA; Doutorando em História Social do IFCS-UFRJ; Bolsista do CNPq., a nível de Doutorado; Coordenador do Programa
Arqueológico Puri-Coroado apoiado pela UNESA.
3 Bacharelanda em Arqueologia; Mestranda em História Social do IFCS-UFRJ; Estagiária do Programa Arqueológico Puri-Coroado apoiado pela UNESA; Bolsista
de Iniciação científica da UNESA.
4 Bacharelando em Arqueologia; Estagiário do Programa Arqueológico Puri-Coroado apoiado pela UNESA; Bolsista de Iniciação Científica do PIBIC-CNPq.-
UNESA.
Historia, e os posteriores somente o serão na medida em que complementarão o contexto

europeu da época. Para os autores desta linha, os índios aparecem somente em alguns

momentos da História do Brasil, como por exemplo, com a chegada da armada de Pedro

Alvares Cabral, com as tentativas de escravização ou com os aldeamentos.

Se a Arqueologia que defendemos é uma História das sociedades passadas, que

busca tratar o maior número possível de documentos, é necessário que comecemos a

trabalhar com os grupos indígenas. Como o historiador, que se volta cada vez mais para

as análises interdisciplinares envolvendo as mais diversas áreas do conhecimento, cabe ao

arqueólogo fazer uso de fontes e metodologias, o mais abrangentes possível, visando

conhecer o processo histórico da sociedade com a qual estiver trabalhando.

Esta não foi a preocupação da grande maioria dos que escreveram sobre as

sociedades indígenas no Brasil em épocas passadas. Observando a historiografia

tradicional sobre o indígena brasileiro, pode-se constatar que este, o índio, é visto como

sendo um bloco único com características gerais. Isto ocorreu por falta de conhecimento

prévio de cada grupo por parte dos cronistas e dos autores posteriores a eles. Desta

maneira, o conhecimento sobre o índio brasileiro foi sendo passado de geração em

geração de forma pouco crítica por parte dos historiadores.

Como conseqüência desta visão acrítica, a maior parte das obras sobre os índios

brasileiros, não são análises que se detêm nas particularidades de cada um dos grupos.

Por sua vez, a Arqueologia, que trabalha com esses grupos nos mais diversos

momentos de sua história, muito pouco tem feito no sentido de recuperar aquela

sociedade com a qual está trabalhando, tampouco de segui-la ou mesmo de escolher a

sociedade com a qual irá trabalhar. Seu intuito, na maioria das vezes, é de estabelecer
panoramas gerais, muito longe das particularidade e dos modos de vida de cada grupo

nos mais diversos momentos históricos.

Um bom exemplo do que acabamos de dizer é a área do Norte Fluminense, Estado

do Rio de Janeiro, conhecida em sua quase totalidade pela expressão “baixada dos

Goitacases”, tradicionalmente identificada como tendo sido ocupada pelos índios

Goitacá. O que acontece é que encontramos nela diversos outros grupos, tais como os

Puri, os Coroados e os Coropó. Os viajantes e depois os historiadores e arqueólogos não

se preocuparam, ou não tiveram conhecimentos suficientes, para fazer as distinções entre

cada grupo. Desta maneira, foi traçado um “modelo” do que seria o indígena e a

ocupação desta área somente a partir dos Goitacá. Esse fato tem provocado, em nosso

entender, uma série de distorções na realidade da ocupação desta e de muitas outras áreas.

Desta forma é muito comum ler a respeito de uma possível identificação entre os

índios Puri e Coroado e os índios Goitacá, chegando, alguns autores, a afirmação de que

aqueles teriam sido os descendentes dos índios Goitacá, quando estes teriam chegado ao

território das Minas Gerais. Devemos assinalar que desde o século passado encontramos

viajantes que fazem esta ligação. Neste sentido, Eschwege, Wied, Saint-Hilaire e

Martius já diziam que Puri, Coroado, Coropó e Goitacá tinham origem comum.

Ehrenreich também os considera tribos aparentadas, constituindo uma família lingüística

do tronco Gê.

No entanto, ao interarmo-nos do que diz Métraux, observamos que tais

argumentações poderiam não ser verdadeiras, não existindo provas de natureza científica

que as comprove. A grande crítica que faz aos pesquisadores é de aceitar o que foi

afirmado anteriormente, sem realizar qualquer exame crítico. Foi exatamente o que fez,
por exemplo, Burmeister, ao considerar como ponto pacífico a identificação entre

Coroados e Goitacás proposta por Saint-Hilaire. Métraux vai ainda mais além, ao afirmar

que não existe qualquer dado lingüístico que possibilite esta aproximação, acrescentando

que somente a História e a Etnografia podem responder acerca da viabilidade ou não

daquela afirmação. Além do mais, como aliás já foi dito, não conhecemos uma só

palavra do vocabulário Goitacá, não havendo de fato como presumir uma identidade

lingüística entre este grupo indígena e os Puri-Coroado. Portanto, é nosso objetivo

trabalhar com uma sociedade ou um grupo indígena específico, procurando seguí-lo no

tempo e no espaço para demonstrar a forma como tem vivido. É assim que, desde que

foi criado em 1992, o Programa Arqueológico Puri-Coroado apresenta, como proposta de

trabalho, uma pesquisa intensiva e interdisciplinar, visando recuperar a maior quantidade

possível de informações a respeito dos grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó. Neste

sentido, tem sido realizado um cuidadoso levantamento bibliográfico, a partir do qual

tornou-se possível, ainda que primariamente, localizar, geográfica e temporalmente,

através de fontes documentais, estes grupos naquela que poderia ser sua principal área de

ocupação e que estaria representando as mesmas áreas historicamente ocupadas por

índios Puri, coroado e Coropó no passado, ou seja, Nordeste do Estado de São Paulo,

Norte do Estado do Rio de Janeiro, Sudeste do Estado de Minas Gerais e Sul do Estado

do Espírito Santo.

Transformada em questão de trabalho devido à importância que tem para que se

possa traçar um mapa de dispersão Puri, Coroado e Coropó, a língua, falada por estes

grupos, faz parte de um universo de informações, referentes a estas sociedades, que

constituem, neste momento, um dos objetos de nosso estudo.


Com isto posto, nossa intenção não é, de forma alguma, neste trabalho, questionar

o que hoje é consenso perante os pesquisadores, nem mesmo dizer qual foi a língua

falada por estes grupos indígenas. Pretendemos sim, apresentar algumas reflexões que

possam nos auxiliar na elucidação do que consideramos, em nosso Projeto de Pesquisa,

uma questão de trabalho.

Baseados em observações, estudos, opiniões e classificações apresentadas por

diversos estudiosos e “curiosos” sobre o assunto, que por sua vez também estão baseados

em suas próprias viagens ou nas narrativas de viajantes e cronistas que percorreram os “

... sertões das Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro ... ”, procuramos fazer um

levantamento que possa direcionar nosso trabalho para aquela que poderia ter sido a

língua destes índios. Sobre isto, um ponto parece concenso entre a maioria dos

lingüistas: a afinidade que existiria entre os grupos Puri, Coroado e Coropó,

invariavelmente mencionados em conjunto, como fazendo parte de uma mesma família

ou então como uma língua sendo “dialeto” da outra.

Dentre os estudos que estamos manuseando, podem ser citados autores como

Theodoro Sampaio5, Hermannn Burmeister6, Paulo Hhrenreich7, Alfred de Métraux8,

5 SAMPAIO, Theodoro. Os naturalistas viajantes dos séculos XVIII e XIX e o progresso da ethnographia indígena no Brasil. In: Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro, tomo especial - tomo II, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1915, pp. 543-594. _________________. O tupi na geografia nacional, São
Paulo, Comp. Ed. Nacional, 1987.
6 BURMEISTER, Hermann. Viagem ao Brasil através das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais: visando especialmente a história natural dos distritos auri-
diamantíferos. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia/USP, 1980. ______________________. Viagem ao Brasil através das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Livraria Martins Editôra, São Paulo, 1952. ______________________. Reise nach Brasilien, durch die Provinzen von Rio de Janeiro und Minas-Geraes, Berlin,
1853.
7 EHRENREICH, Paulo. A ethnographia da América do Sul ao começar o século XX. ___________________. Divisão e Distribuição das Tribus do Brasil
Segundo o Estado Actual dos Nossos Conhecimentos. In: Revista da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, Tomo VIII, anno de 1892, 1° boletim. Redactor,
Dr. Antonio de Paula Freitas. Rio de Janeiro. Typ. de G. Leuzinger e Filhos, Rua do Ouvidor 31. ___________________. Die Ethnographie Südamerikas im
Beginndes XX. Jahrhunderts, unter besonderer Berückssichtigung der Naturvölker. Archiv für Antropologie, Braunschweig, neue Folge, tomo III, 1905.
___________________. Die Puris Ostbrasiliens - Zeitschrift für Ethnologie, Berlin, tomo XVIII, 1886 (Verhandlungen, pp.185-188). ___________________. Die
Einteilung und die Verbindung der Völkerstämme Brasiliens nach dem gegenwärtigen Stande unsrer Kenntnisse, Petermanns Mitteilungen. Gotha, tomo XXXVII,
1891.
8 METRAUX, Alfred de. Les Indiens Waitaka. In: Journal de la Société des americanistes, número 21, pp. 107-126, Paris, 1929. _______________. The Puri-
Coroado linguistic family. In: HANDBOOK of South American Indians, Washington, volume I, p.523-530, 1946.
Auguste de Saint-Hilaire9, Ayron Dall’Igna Rodrigues10, Paul Rivet11, Chestmir

Loukotka12, Alberto Noronha de Torrezão13, Estevão Pinto14 e Curt Nimuendajú15, entre

outros.

No Caso do Brasil, segundo Rodrigues as condições para a realização de estudos

linguísticos não são favoráveis, devido, principalmente, à grande diversidade linguística e

a pouca, ou nenhuma, documentação das línguas indígenas. Apesar disso, a Linguística

Comparativa ainda é considerada pelos linguistas, um dos melhores métodos para o

estudo das línguas. Apesar disso, um bom exemplo de estudo de Linguistica

Comparativa para o Brasil pode ser o trabalho realizado por Loukotka acerca da estrutura

das línguas faladas pelos Puri, Coroado e Coropó.

Definida como o estudo da língua através de uma espécie de confronto de

palavras, seus sons, seus aspectos gramaticais e de sintaxe de duas ou mais línguas, a

Lingüística Comparativa é uma das metodologias mais utilizadas pelos estudiosos.

Neste sentido, o lingüista observa as semelhanças e as discordâncias entre as línguas,

concluindo, a partir de uma análise de suas estruturas, se pertencem, ou não, por

exemplo, ao mesmo tronco lingüístico. Estes estudos permitem concluir, também, sobre

as influências detectadas na língua, ou nas línguas, em análise, por outras línguas. Estas

influências são denominadas de “intrusões”.


9 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Voyages dans le district des diamans et sur le littoral du Brésil - Voyages à l’intérieur du Brésil, seconde partie. Paris, tomo I et II,
1833.
10 RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas Brasileiras - Para o conhecimento das línguas indígenas, Coleção Missão Aberta, editora Loyola, São Paulo, 1986.
___________________________. Os estudos de ligüística indígena no Brasil. In: (Org. SCHADEN, Egon), Estudos Brasileiros. Homem, Cultura e Sociedade no
Brasil
11 RIVET, Paul. Langues de l’Amérique du Sud et des Antilles. In: Les Langues du Monde, par un groupe de linguistes. Paris, 1924, pp. 638-707. ___________.
Langues américaines - Dans Les langues du monde par un groupe de linguistes, Paris, 1925. ___________. Les Malayo - Polynésiens en Amérique. In: Journal de
la Société des Américanistes de Paris, nouvelle série, tomo XVIII, 1926.
12 LOUKOTKA, Chestmir. Línguas Indígenas do Brasil, Revista do Arquivo Municipal, vol. LIV, São Paulo, 1939.
13 TORREZÃO, Alberto de Noronha. Vocabulário Purí. In: Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Tomo LII, parte I, 10/20 trimestre,
Tip. Laemmert Q CD, Rio de Janeiro, 1889, Pgs. 511 - 514.
14 PINTO, Estevão. Os Indígenas do Nordeste, Coleção Brasiliense, vol. XLIV, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1935.
15 NIMUENDAJU, Curt. Mapa Etno-Histórico, Rio de Janeiro, IBGE, 1987
II - OS PRINCIPAIS ESTUDOS RELACIONADOS A LÍNGUA PURI

O primeiro exemplo, e talvez o principal estudo sobre a línguística Puri, é o

realizado por Loukotka. Em seu trabalho, fez um estudo comparativo das estruturas das

línguas faladas pelos grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó, utilizando-se de alguns

vocabulários desta língua e buscando indicar as semelhanças e diferenças existentes entre

eles, bem como procurando identificar a presença, ou não, de influências de outros

grupos indígenas e de seus referidos troncos lingüísticos.

Rodrigues, por sua vez, classifica a chamada família lingüística Puri como

integrante do tronco Gê. Segundo ele, as línguas que fazem parte deste tronco possuem

toda uma série de características em comum, tais como identidade histórica, semelhanças

de sons e até mesmo caracteres gramaticais. O chamado tronco lingüístico Gê é

constituído em sua maior parte pela Família lingüística Gê, a qual abrangeria, segundo o

referido autor, as línguas faladas em regiões de campos cerrados que cobririam uma

extensa parte do país. No entanto, a própria constituição do tronco lingüístico Gê é ainda

hipotética, englobando línguas faladas ainda hoje, como por exemplo o Maxakalí e o

Borôro, mas também línguas extintas, como por exemplo, as línguas da família Kamakã.

Ainda segundo Rodrigues, dentro de mesmo tronco Gê, teriam existido outras três línguas

distintas, ou seja, a Puri, a Coroado e a Coropó, as quais seriam pertencentes à família

lingüística Puri, que teriam sido faladas até fins do século XIX em três regiões: Leste do

Estado de Minas Gerais, Oeste do Estado do Espírito Santo e Oeste do Estado do Rio de

Janeiro.
Para Sampaio, os grupos índios Puri e Coroado deveriam fazer parte do tronco

lingüístico Gê. Da mesma forma, Pinto classifica os grupos indígenas Puri e Coroado

como as principais tribos do tronco lingüístico Gê.

Rivet, por sua vez, divide as tribos de língua do tronco Gê em quatro grupos:

Orientais, Setentrionais, Centrais e Meridionais. Além disso, classifica os grupos Puri e

Coroado como fazendo parte do grupo lingúístico Gê Oriental.

Já no entendimento de Métraux, a língua Coropó estaria relacionada com a língua

dos grupos Coroado. Além disso, acredita também, que a língua Puri seria um dialeto

surgido a partir da língua Coroado.

Além de todos estes estudiosos, não podemos deixar de mencionar o nome de

Nimuendaju que diz tratar-se, a língua Puri, de uma língua isolada.

Pode-se observar, porém, que existe uma discordância, entre os autores citados,

acerca das origens da língua falada pelos grupos indígenas Puri e Coroado. Em outras

palavras, não há um consenso a respeito do tronco lingüístico do qual faria parte a língua

falada por estes grupos.

De qualquer maneira, percebe-se claramente uma tendência no sentido de se

classificar a língua falada pelos grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó como

pertencentes ao tronco lingüístico Gê.

III - AS FONTES DOCUMENTAIS

Em seu trabalho com as línguas Puri, Coroado e Coropó, Loukotka, utilizou-se de

14 documentos ligüísticos, fazendo com eles um trabalho de Lingüística Comparativa,

onde a comparação dos vocabulários tinha como princípio a busca de semelhanças, de


qualquer natureza, com o objetivo de saber da possibilidade de se poder afirmar que as

mesmas formavam uma família lingüística própria. Vale lembrar que a tendência da

época, no que diz respeito aos estudos lingüísticos, era exatamente o desmembramento de

línguas do tronco Gê e a formação de famílias isoladas.

As fontes escritas de cuja existência se tem conhecimento, ou seja, os

vocabulários destes grupos são: 7 vocabulários de língua Coroado; 4 vocabulários de

língua Puri; e 3 vocabulários de língua Coropó.

Loukotka teria utilizado-se de 12 destes documentos, não tendo conseguido

acesso a apenas dois deles: um de origem Coroado e outro de origem Coropó, os quais

haviam sido mencionados por Martius (1863)16 que informava terem sido elaborados por

Schott, um dos integrantes de uma expedição austríaca que esteve no Brasil no período de

1815 a 1817.

Estes vocabulários foram estudados em sua versão original, sendo que os dois

maiores, compostos por palavras da língua Coroado, são de autoria de dois padres

capuchinhos italianos que residiam na Aldeia da Pedra. Fragmentos destes vocabulários

foi publicado por Eschwege (1818)17 e Martius, devido, principalmente, ao apoio

recebido, por estes, do Capitão francês Guido Thomaz Marlière. Deve-se esclarecer

ainda, que os vocabulários em questão comtêm 900 palavras, as quais teriam sido

recolhidas sem nenhum método. Assim sendo, o seu estudo tornou-se difícil, uma vez

que faltavam palavras importantes, para fins de comparação, bem como podia-se podia-se

perceber claramente que as palavras listadas corresponderiam apenas aos interesses

religiosos de catequese dos índios.

16 MARTIUS, Karl Friedrich Phillipp von. Glossaria linguarum brasiliensium, Erlangen, Druck von Junge e Sohn, 1863.
17 ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig. Journal von Brasilien oder vermischte Nachrichten von Brasilien, auf wissenschaftlichen Reisen gesammelt, Gr. H.S. Landes -
Ind. Comp., Weimar, 1818.
Outros dois dos 14 vocabulários mencionados são: um de autoria de Coutinho

(1816)18 que, de acordo com alguns, poderia ser pouco confiável; e outro constituído por

palavras e frases de origem Puri colhidas por Torrezão. Este último foi de considerável

importância para os trabalhos de Loukotka.

Pode-se concluir, graças ao estudo comparativo realizado por Loukotka com as

tribos indígenas Puri e Coroado, que em termos linguisticos as mesmas deveriam ter

estado bem próximas, uma vez que percebe-se, entre elas, uma série de semelhanças.

Loukotka acredita, inclusive, na possibilidade de a língua Puri constituir uma espécie de

dialeto da língua Coroado. Quanto ao Coropó, não se pode dizer o mesmo, apresentando

palavras estranhas àqueles dois idiomas e exibindo muitas semelhanças com palavras

originárias de outras línguas também pertencentes ao tronco Gê. Com relação à primeira

afirmativa, acreditamos ser plenamente possível uma vez que vários autores constituintes

da extensa bibliografia consultada em nosso projeto falam da existência de uma só nação

indígena Puri-Coroado em tempos passados, a qual teria posteriormente se desmembrado

em razão de múltiplos conflitos internos em dois grupos: os Puri e os Coroado. Talvez a

razão da proximidade entre as duas línguas residisse em uma suposta origem comum.

Depois de uma extensa narrativa a respeito de características fonéticas,

gramaticais e de sintaxe das línguas Puri, Coroado e Coropó, estudadas

comparativamente, Loukotka finalmente pode concluir que as três línguas formam uma

família lingüística independente, sendo porém influenciada por outros idiomas indígenas,

em sua maioria pertencentes ao tronco Gê. Desta forma, definiu o autor a chamada

Família Coroado da seguinte forma: destacam-se dois idiomas puros, o Puri e o Coroado,

18 COUTINHO, José Joaquin Cunha de Azeredo. Ensaio economico sobre o comercio de Portugal e suas colonias, Typ. Academia Real das Sciências, 2a edição,
Lisbonne - Portugal, 1816.
ambos sofrendo influências das línguas Botocudo e Maxacalí; em contrapartida, o

Coropó seria uma língua mesclada, influenciada pela língua Caingangue.

Esta classificação, bem como as que dizem respeito a outras línguas que

desmembrou do tronco Gê, foram reconhecidas mundialmente como verdadeira

contribuição para o avanço da lingüística indígena brasileira; tendo sido agrupadas sob o

título “Classificação das Línguas Indígenas da América do Sul”, apresentada no 26°

Congresso Internacional de Americanistas em Sevilha. Loukotka também publicou

trabalhos no Jornal da Sociedade dos Americanistas de Paris, nos quais ressaltava a

necessidade da criação de novas famílias lingüísticas, bem como o desmembramento de

outras. Sua classificação das línguas indígenas da América do Sul foi considerada das

mais completas que até então haviam sido estruturadas, tendo, conseqüentemente, se

tornado famoso nos círculos americanistas. Loukotka desmembrou do bloco Gê as

famílias Caingangue, Kamekan,Maxacalí, Coroado, Patachó e Botocudo. Seus trabalhos

rapidamente se difundiram, versando sempre sobre lingüística indígena; assim, estudou a

Família Coroado, o dialeto Chetá, a família Maxacalí, a família Kamakan e muitos

outros.

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