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Alterações do Pensamento

Incluído em 16/02/2005

Trata-se, o pensamento, de uma operação mental que nos permite aproveitar os conhecimentos
adquiridos na da vida social e cultural, combiná-los logicamente e alcançar uma outra nova forma de
conhecimento. Todo esse processo começa com a sensação e termina com o raciocínio dialético, onde
uma idéia se associa a outra e, desta união de idéias nasce um a terceira.

Quando percebemos uma rosa branca concebemos, ao mesmo tempo, as noções de rosa e brancura,
daí, conceberemos uma terceira idéia que combina as duas primeiras. Evidentemente, para
concebermos as duas primeiras idéias há a necessidade de que, anteriormente, tenhamos de
experimentar a rosa e também o branco para, numa próxima operação concebermos a rosa branca.

Não há, desta forma, necessidade de termos experimentado uma rosa já branca, assim como, por
exemplo, somos capazes de conceber uma rosa completamente verde, sem que, sequer, a tenhamos
visto.

O raciocínio humano é uma cadeia infinita de representações, conceitos e juízos, sendo a fonte inicial
de todo esse processo a experiência sensorial. Nosso conhecimento se dá através das representações
sensoperceptivas do mundo e delas, elaboramos nossos conceitos, vistos anteriormente. O
pensamento lógico consiste em selecionar e orientar esses conceitos, tendo como objetivo alcançar
uma integração significativa, que possibilite uma atitude racional ante as necessidades do momento.

Pensamento e Juízo
Chama-se juízo o processo que conduz ao estabelecimento dessas relações significativas entre
conceitos e, julgar é, nesse caso, estabelecer uma relação entre conceitos. A função que relaciona os
juízos, uns com os outros, recebe a denominação de raciocínio. Em seu sentido lógico, o raciocínio não
é nem verdadeiro nem falso, ele será sim, correto ou incorreto. Portanto, o raciocínio para ser correto
deve ser lógico e, em Psicologia, o termo raciocínio tem o mesmo sentido de pensamento.

Por outro lado, devemos completar a idéia de que o pensamento não se resume em associações
esparsas e aleatórias, como se combinássemos peças para formação de um mosaico. Devemos
acrescentar à teoria associativa um algo mais que confere ao pensamento uma característica formal,
ou seja, uma capacidade em conseguir dar FORMA às idéias e que, estas, não são apenas a soma de
suas partes, mas sim, uma configuração independente. Isso pode ser exemplificado pela observação
de que uma melodia não se constitui apenas na somatória de suas notas: trata-se de uma coisa nova,
com uma forma independente e original.

Idéias Supervalorizadas
Há situações onde ocorre uma predominância dos afetos sobre a reflexão consciente, com
subseqüente alteração do juízo da realidade e com repercussões secundárias no comportamento social
do indivíduo. As Idéias Supervalorizadas são conhecidas também como Idéias Prevalentes ou Idéias
Superestimadas. É quando o pensamento se centraliza obsessivamente num tópico especialmente
definido e carregado de uma enorme carga afetiva.

A imagem literária através da qual se estigmatiza o possuidor das Idéias Supervalorizadas é a do


indivíduo fanatizado, cuja convicção acerca de sua Idéia Superestimada desafia toda argumentação
em sentido contrário, inclusive a contra-argumentação embasada em elementos lógicos e razoáveis.

Tendo em vista a grande força sentimental propulsora da convicção prevalente, tal pensamento passa
a ser dirigido exclusivamente pela emoção, comumente por uma emoção doentia e com total descaso
para com a lógica ou para com a razão. A necessidade íntima convocada por este psiquismo
problemático pode encontrar algum conforto na adoção de uma crença; seja ela política, religiosa,
filosófica ou artística, de tal forma que o indivíduo se encontra cego para todas as evidências que não
compactuem com sua idéia prevalente.
Tudo aquilo que possa comprometer ou ameaçar o valor e o significado atribuído à Idéia
Supervalorizada é recusado pela consciência e, quanto mais a realidade dos fatos sugerir conclusões
contrárias à tais pensamentos, mais claramente perceberemos a sua não-normalidade.

Forma do Pensamento
Havendo saúde mental os estímulos para que o raciocínio se desenvolva devem provir de fontes
externas e internas. Mas o pensamento não é guiado apenas por considerações estritamente atreladas
à realidade, ele também flui motivado por estímulos interiores, abstratos e afetivos ou até instintivos.
A criação humana, por exemplo, ultrapassa muitas vezes a realidade dos fatos, refletindo estados
interiores variados e de enorme valor para a construção de nosso patrimônio cultural.

Voltar-se para o mundo interno significa que o pensamento se manifesta sob a forma de DEVANEIOS -
uma espécie de servidão das idéias às nossas necessidades mais íntimas, aos nossos afetos e paixões.
Enquanto há saúde mental, entretanto, nossos devaneios são sempre voluntários e reversíveis; eles
devem ser nossos servos e não nossos senhores.

Em estados mais doentios, esses devaneios ou fugas da realidade são emancipados da vontade, são
impostas ao indivíduo de forma absoluta e tirânica. Parece tratar-se de um indivíduo que despreza a
realidade e vive uma realidade nova que lhe foi imposta involuntariamente, da qual não consegue
libertar-se.

A própria concepção da realidade pode sofrer alterações nos transtornos psíquicos. Em determinados
estados neuropsicológicos a realidade pode sofrer alterações de natureza bioquímica, funcional ou
anatômica. Em outros estados, agora de natureza psicopatológica, os elementos da realidade também
podem ser deturpados por fatores afetivos, emocionais ou psíquicos, de forma a prevalecer uma
concepção do mundo determinada exclusivamente pelo interior de ser e não mais pela lógica comum à
todos nós.

Ao pensamento que se afasta da realidade morbidamente, ou seja, doentiamente, damos o nome de


Pensamento Derreísta ou Pensamento Autista. Falamos “se afasta morbidamente da realidade”
porque esse tipo de pensamento não mais depende do arbítrio que todos temos em fantasiar e voltar
à realidade voluntariamente. Ele devaneia obrigatoriamente, sendo negado ao paciente a faculdade de
entendimento dos limites de nossas fantasias, quando nos imaginamos ganhadores da loteria ou
coisas assim, e da realidade, com a consciência plena de nossa situação.

Visto assim, normal seria a dupla capacidade do pensamento, tanto para lidar com a fantasia, quanto
para lidar com o concreto, de maneira livre e autônoma. O ser humano normal deve ter autonomia e
capacidade de passar voluntariamente de uma forma à outra e, principalmente, deve saber
claramente onde começa um tipo de pensamento e termina o outro.

Para aqueles que acreditam ser normal e até desejável que a pessoa tenha seus pensamentos
exclusivamente atrelados ao concreto e ao real, lembramos que essa limitação imposta ao
pensamento, fazendo-o incapaz de afastar-se do absolutamente concreto, leva o nome de
Concretismo, que também é uma alteração da forma do pensamento.

Pensamento Derreísta
O Pensamento Derreista é aquele que se desvia da razão, faltando-lhe tenacidade para se atrelar à
realidade. Sua característica principal e criar, a partir de antigas cognições e novas representações,
um mundo novo e de acordo com os desejos, anseios e angústias.

Bleuler deixou explícito que nos casos de esquizofrenia o pensar se encontra profundamente alterado.
O voltar-se para o mundo interno contribui para que o pensamento se manifeste sob a forma de
devaneio, quando a pessoa pode deixar suas fantasias em total liberdade, de rédeas soltas. Em tais
circunstâncias, o pensar não obedece às leis da lógica e, nos casos mais acentuados, tudo transcorre
como se o indivíduo estivesse submerso num verdadeiro estado onírico. Para Bleuler, o Pensamento
Derreísta obedece às suas próprias leis e utiliza as relações lógicas habituais apenas na medida em
que são convenientes mas, de qualquer forma, ele não se acha ligado de nenhuma maneira a essas
leis lógicas. O Pensamento Derreísta está dirigido pelas necessidades íntimas do paciente, o qual
pensa mediante símbolos, analogias, conceitos fragmentários e vinculações acidentais.
Ao contrário do Pensamento Derreísta temos o Pensamenso Realista. A clínica nos mostra claramente
que essas duas formas de pensar podem coexistir justapostas num mesmo paciente. Ao lado das
marcantes alterações derreísticas, realisticamente os pacientes podem se orientar perfeitamente bem
no tempo e no espaço, podem ter suas ações perfeitamente adequadas e se adaptam à alguma parte
de sua realidade pragmática, podendo nos parecer normais em muitas circunstâncias.

Pensamento Realista
O Pensamento Realista é aquele que consegue compatibilizar com naturalidade, ou seja,
fisiologicamente, tanto a parte formal do raciocínio, quanto a parte mágica natural à todo ser humano,
ou seja, tanto o raciocínio orientado pela lógica, quanto os devaneios espiritualizados e sublimes do
ser humano. Essa harmonia entre a lógica e o mágico, desejável no ser humano normal, recomenda o
ditado de que "não importa se a aventura é louca, desde que o aventureiro seja lúcido".

No território do pensamento mágico abrigamos todas nossas crenças, nossas paixões, nossas
superstições, enfim, nosso mundo da fantasia e da magia. No território do pensamento formal e
lógico, habitam os conceitos, as suposições, as deduções, as induções, as idéias racionalizadas e,
principalmente, a noção exata para valorizarmos adequadamente nosso próprio lado mágico. Veja ao
lado o Concretismo, que é um exagero do Pensamento Realista.

CURSO DO PENSAMENTO
Inibição do Pensamento
Pelo curso do pensamento podemos ver, inicialmente, seu ritmo. Quanto à isto, o pensamento pode
manifestar-se normal, rápido ou lento. Em seu ritmo lento temos a Inibição do Pensamento. A inibição
do pensamento é um sintoma que se manifesta por lentidão de todos os processos psíquicos. Nos
enfermos em que existe inibição do pensamento, observa-se também grande dificuldade na percepção
dos estímulos sensoriais, limitação do número de representações e lentidão no processo e evocação
das lembranças.

Os pacientes com inibição do pensamento mantêm-se apáticos, não falam espontaneamente nem
respondem às perguntas com vivacidade, respondem lentamente ou com dificuldade. A perturbação é
também qualitativa ou seja, atinge a essência do pensamento e se acompanha, geralmente, de um
sentimento subjetivo de incapacidade. Junto com inibição do pensamento pode haver ainda
sentimento de pouco interesse, de imprecisão a respeito das opiniões, dificuldades para a escrita e
lentidão para andar. Esses pacientes revelam dificuldade de compreensão, de iniciar uma
conversação, de escolher palavras, enfim, eles pensam com grande esforço.

Fuga de Idéias
A Fuga de Idéias é uma alteração da expressão do pensamento caracterizada por uma variação
incessante do tema e uma dificuldade importante para se chegar a uma conclusão . A progressão do
pensamento encontra-se seriamente comprometida por uma aceleração associativa, a tal ponto que, a
idéia em curso é sempre perturbada por uma nova idéia que se forma. Segundo Bleuler, na Fuga de
Idéias os doentes geralmente são desviados da representação do objetivo através de quaisquer idéias
secundárias. Assim, no pensamento com Fuga de Idéias, o que há não é uma carência de objetivos
mas uma mudança constante do objetivo devido a extraordinária velocidade no fluxo das idéias.

A sucessão de novas idéias, sem que haja conclusão da primeira, torna o discurso pouco ou nada
inteligível. Há, pois, passagem de um assunto para outro sem que o primeiro tenha chegado ao fim:
"eu não gosto de batatas, mas acho que em São Paulo o clima é melhor. Porque o senhor não compra
um carro novo ?"

Normalmente costumamos observar 4 características na Fuga de Idéias:


1. Desordem e falta aparente de finalidade das operações intelectuais: mesmo
quando há certa relação entre os conceitos, o conjunto carece de sentido e de
significado;
2. Predomínio de associações disparatados;
3. Distraibilidade. Facilidade de se desviar do curso do pensamento sob a influência
dos estímulos exteriores;
4. Freqüente aceleração do ritmo da expressão verbal.
O paciente com fuga de idéias é incapaz de concentrar sua atenção, dispersando-se numa
multiplicidade de estímulos sensoriais sem se aprofundar em nada. A Fuga de Idéias normalmente
está associada a aceleração do psiquismo, ou TAQUIPSIQUISMO: um estado afetivo comumente
encontrado na hipomania ou mania, ou seja, na euforia. Seria como se a eloqüência na produção de
idéias superasse a capacidade de verbalizá-las. Diz-se LOGORRÉIA ou VERBORRAGIA para o
fenômeno de produção aumentada de palavras, o qual, pode ser ou não acompanhada de Fuga de
Idéias.

Na prática psiquiátrica o observador pode ter a falsa impressão de que o paciente verborrágico (com
ou sem Fuga de Idéias) tem uma crítica aumentada e arguta. Entretanto, ainda que seja capaz de
observações perspicazes e ferinas, isso se deve à perda da inibição social que normalmente
acompanha os estados maníacos e, de fato, o que se vê é mais uma atitude de inconveniência do que
um juízo crítico apurado. O homem sadio não diz muitas coisas que poderiam ser ditas porque, em
certas ocasiões e circunstâncias alguns comentários não são recomendados pela ética. Tais
considerações não existem nos pacientes eufóricos.

Bloqueio ou Interceptação do Pensamento


Nesses casos há uma interrupção brusca da idéia em curso e o fluxo do pensamento fica bloqueado,
cessando repentinamente. É como se, durante uma exposição discursiva, um raio caísse bem próximo
da pessoa que fala e, pelo susto, interrompesse imediatamente a exposição. Depois do susto
normalmente existe a pergunta: " o que estava mesmo dizendo?" e, em seguida, pode retomar a idéia
inicial. Isso é um bloqueio ou interceptação do pensamento.

Normalmente o bloqueio sugere uma espécie de força interior que supera a intenção de concluir o
tema por alguns instantes; trata-se de uma motivação interna bloqueadora do curso do pensamento.
Podemos encontrar bloqueios relacionados a fortes emoções mesmo na vida psíquica normal. Nos
estados patológicos as forças interiores (complexos, delírios, paixões) produzem boas razões para os
bloqueios. Nesses casos, havendo uma interrupção da idéia em curso haverá, conseqüentemente,
uma interrupção do discurso.

Na esquizofrenia observa-se com freqüência o aparecimento inesperado de interceptação das idéias. O


doente começa a expor um assunto qualquer e, subitamente, se detém. As vezes, depois de alguns
instantes, volta a completar o pensamento interrompido, outras vezes, inicia um ciclo de pensamento
completamente diferente.

Perseveração
É a repetição continuada e anormalmente persistente na exposição de uma idéia. Existe uma
aderência persistente de um determinado pensamento numa espécie de ruminação mental, como se
faltasse ao paciente a formação de novas representações na consciência. Percebemos que há uma
grande dificuldade em desenvolver um raciocínio, seja por simples falta de palavras, por escassez de
idéias ou dificuldade de coordenação mental. Por definição a Perseveração do Pensamento é a
repetição automática e freqüente de representações, predominantemente verbais e motoras, que são
evocadas como material supérfluo nos casos em que existe um déficit na evocação de novos
elementos ideológicos.
A Perseveração está incluída nos distúrbios do curso do pensamento por sugerir que a temática em
pauta se encontra limitada a um curso circular, que não tem fim e repete-se seguidamente. Havia um
paciente epiléptico que dizia: "então a minha mãe corria atrás da gente com uma faca, aí eu ia buscar
a Genizinha que sabia benzer ela, então chegava e benzia e minha mãe corria atrás da gente com
uma faca, aí eu ia buscar a Genizinha que sabia benzer ela, então chegava e benzia minha mãe que
corria atrás da gente..."

Observamos Perseveração do Pensamento em alguns casos de agudização psicótica, nos quais há


significativa desestruturação da consciência e um determinado estímulo interno passa a se
assenhorear de toda personalidade naquele momento. Também observamos em determinados
Estados Crepusculares, onde, patologicamente há um significativo estreitamento da consciência.

Circunstancialidade ou Prolixidade
Aqui, o paciente revela uma incapacidade irritante para selecionar as representações essenciais
daquelas acessórias, ou seja, o pensamento foge da pauta principal e perde-se no detalhamento
trivial. Aparece um grande rodeio em torno do tema central, uma riqueza aborrecedora de detalhes e
circunstâncias sem propósitos práticos e pormenores desnecessários, tornando o discurso bem pouco
agradável. À esta situação chamamos de VISCOSIDADE ou discurso Viscoso ou, quando esta é uma
das características constante da pessoa, pode-se chamá-la de pessoa Viscosa. Um exemplo
contundente de viscosidade é a conversa ou a atitude de alguns bêbados, muito inconvenientes e dos
quais não é fácil se livrar.

Na Circunstancialidade aparece, como é natural, um certo grau de ansiedade por parte do interlocutor,
provocada pela morosidade na conclusão da idéia. Um paciente, perguntado se tinha ido fazer uma
tomografia, cuja resposta deveria ser algo como sim ou não, dizia: " bem, tive que ir terça feira
passada porque o movimento do escritório às terças é menor; na segunda feira é que tem mais
serviço, porque o pessoal deixa tudo para ser resolvido às segundas. Até que foi bom eu ter deixado
para a terça, porque, lá no serviço do tomógrafo, eles também devem ter mais movimento de
segunda, que por sinal é um dia terrível. Acho que (brincando) a semana deveria começar pela terça".

A Prolixidade produz um curso do pensamento muito tortuoso e o tema central fica seriamente
prejudicado pelas divagações inúteis e pelos comentários paralelos. Em seu diálogo o paciente viscoso
tem sempre algo a acrescentar e de tal forma que o fim da conversa fica desagradavelmente
comprometido. No consultório ele é capaz de levantar-se muitas vezes antes de ir embora e sentar
novamente para acrescentar mais alguma coisa, absolutamente sem importância.

Incoerência
Na Incoerência há uma grande desorganização na estrutura sintática com períodos em branco e frases
soltas no meio da exposição de uma idéia. Freqüentemente a Incoerência está associada a transtornos
que comprometem o estado da consciência. É como se faltasse ao paciente condições homeostáticas
para a organização das idéias e para sua capacidade de comunicação verbal. O Estado Crepuscular é
um bom exemplo de Distúrbio da Consciência, onde a capacidade de organização do pensamento
encontra-se seriamente comprometido. Também na Turvação da Consciência pode haver Incoerência.

O pensamento incoerente é confuso, contraditório e ilógico. Enquanto na Fuga de Idéias percebemos a


passagem repentina de uma idéia para outra, na Incoerência o que interrompe o curso do pensamento
são fragmentos soltos de idéias aleatórias; como se o pensamento estivesse pulverizado.

Conteúdo do Pensamento
Além dos Distúrbios da Forma e dos Distúrbios do Curso do Pensamento, elementos valiosíssimos na
propedêutica psíquica, devemos verificar também os Distúrbios do Conteúdo do Pensamento. Este
conjunto sintomático completará esta grande área do psiquismo a ser pesquisada, o Pensamento. Para
a elaboração do diagnóstico psiquiátrico será necessário, além do Pensamento, também a verificação
de duas outras grandes áreas; a Afetividade e o Comportamento.

O exame do Conteúdo do Pensamento mostra-nos a essência do ser, o elemento mais refinado e


sublime da pessoa e aquilo que ela tem de mais íntimo dentro de si. A dificílima tarefa de avaliação do
conteúdo do pensamento remete-nos a um dos campos mais polêmicos da argüição do ser humano: a
valoração de suas idéias.

Entre o examinador e o examinado vibram as mais variadas tendências culturais, as mais diversas
inclinações filosóficas, todas as sutilezas da ética, da moral e da religião, deparam-se ainda, a
tonalidade afetiva e a natureza dos sentimentos pessoais de cada um. Portanto, julgar idéias é
sinônimo de julgar pessoas, uma atitude tão incrível quanto julgar a arte, tão espinhosa quanto definir
a beleza. O bizarro e o majestoso saltam logo aos olhos, mas entre um e outro há uma infindável
variação de nuances entre o sadio e o patológico.

Examinando o Conteúdo do Pensamento estaremos tocando o cerne da personalidade, o miolo do ser


psíquico e o resultado final em que o indivíduo se encontra neste dado momento. O Conteúdo do
Pensamento comporta todo perfil dos conceitos, dos juízos, da atividade intelectiva e da afetividade de
cada um.

A psicologia evolutiva aponta para a prevalência do Pensamento Mágico no homem primitivo, tal como
uma espécie de pensamento pré-lógico, onde as fronteiras entre o real e o irreal são demasiadamente
imprecisas. Tal PENSAMENTO MÁGICO está ainda bastante presente nas crianças e em adultos
carentes de um socorro imediato às suas angústias e impotências. Está bem sabido, conforme Nobre
de Melo observa, que esta não é a maneira habitual de pensar e de proceder do homem adulto e
civilizado de nosso tempo. Este ser civilizado deve pautar sua conduta pelos princípios que regem o
PENSAMENTO LÓGICO ou PENSAMENTO REFLEXIVO.

Há, entretanto, na mentalidade deste homem civilizado um grande número de reminiscências


residuais primitivas e mágicas que vivem se reativando em circunstâncias especiais, tais como na
ansiedade, na paixão, na incerteza, no sofrimento inconsolável, no perigo iminente e na desrazão . É
assim que o ser humano moderno, motivado por sua angústia, insegurança e sofrimento, será capaz
de apelar ao sobrenatural e à fantasia. É desta forma, subestimando a lógica e a razão absoluta, que
nosso pensamento acabará tocando o irracional e a magia através de práticas individuais e íntimas
variadas.

Assim sendo, constatamos, num sem-número de sistemas culturais e numa infinidade de pessoas, a
utilização de todo um vasto arsenal de recursos mágicos para aplacar a angústia e o desespero.
Aceitando esta convivência paralela e harmônica do mágico e do lógico na consciência do homem
normal, podemos entender melhor o astronauta que não dispensa seu pé-de-coelho, ou o cientista
que carrega uma pirâmide de cristal, o criminoso que porta um crucifixo, o aluno que só entra em
provas sempre com o mesmo lápis, o jogador que veste a mesma cueca por ocasião de uma partida
importante e assim por diante. O Pensamento Mágico e primitivo revive sempre nas crianças,
esporadicamente nos adultos normais e predomina nos estados mórbidos ou de grande sofrimento
emocional.

É desta forma que surpreendemos o irreal e ilógico no conteúdo e nas elucubrações do pensamento
supervalorizado, delirante, obsessivo ou fóbico. Tais atitudes mentais são consideradas como uma
espécie de REGRESSÃO da personalidade, onde vemos surgir toda a simbólica ancestral dos estágios
mais remotos da evolução psicológica da espécie humana. São mecanismos de defesa mantidos em
estado de latência mas susceptíveis de reascenderem todas as vezes em que se proceder uma ruptura
no equilíbrio funcional da personalidade.

O Juízo e a Lógica, por outro lado, são duas operações intelectuais exercidas pelo pensamento
reflexivo ou lógico. Porém, não obstante, nossos juízos estão sempre impregnados pela afetividade e
pela vontade, de tal forma que todo julgamento é predominantemente subjetivo. Conforme Nobre de
Melo, pode-se dizer que um juízo crítico, por mais fundamentado que possa ser, revela, às vezes,
muito mais a natureza da pessoa que julga do que a qualidade da coisa julgada. Desta forma a própria
razão, objeto do raciocínio lógico, também deve passar pela individualidade afetiva e, portanto, terá
sempre uma racionalidade relativa por excelência.

Não será demais enfatizar que, em se tratando de conteúdo do pensamento, devemos levar em
consideração todas as querelas sócio-culturais que permeiam a existência da pessoa considerada. A
valorização do pensamento como um todo deverá, obrigatoriamente, relevar todas as circunstâncias
atreladas ao panorama vivencial. Não fosse assim, com toda a certeza um dinamarquês consideraria
um fenômeno francamente psicótico um pai de santo da Bahia. Da mesma forma, seria possível, à um
observador menos avisado, classificar os japoneses kamikazes dentro das depressões suicidas.

Assim, o pensamento flui em função das associações e da forma. Representa um modo de ligação
entre conceitos, uma seqüência de juízos e o encadeamento lógico de conhecimentos, de maneira
dinâmica e contínua. Por outro lado, pode o pensamento abstrair-se em pressuposições hipotético-
dedutivas, sem relação obrigatória com a realidade objetiva, em operações formais que aparecem no
ser humano à partir dos 11 ou 12 anos.

Segundo Bleuler, no pensamento também está incluído algo de energético que se origina da
afetividade: a finalidade, o conteúdo, o ritmo, a fluência e o tipo de pensamento são dirigidos pelas
necessidades, interesses e tendências atuais. Emoções intensas, estado de ânimo, grau de vigília e
cansaço podem modificar o pensamento. ... "no pensamento vive, portanto, o homem em sua
plenitude".

O conhecimento humano representa um processo que começa com a sensação e termina com o
raciocínio dialético. A sensação e o raciocínio são momentos diferentes, aspectos ou graus do mesmo
processo do conhecimento. Por isso, não se pode separá-los. O mundo exterior age sobre nossos
órgãos dos sentidos, provocando neles as sensações, e essas sensações em conexão indissolúvel com
a atividade do pensamento oferecem o conhecimento dos objetos e de suas propriedades.

Sob a denominação de alterações do pensamento estudam-se as alterações da segunda fase do


processo do conhecimento, isto é, os distúrbios do conhecimento racional ou intelectual constituído
pela formação dos conceitos, a constituição dos juízos e elaboração do raciocínio.

Desenvolvimento do Pensamento (cognição)


No desenvolvimento do cérebro das crianças existem fases e etapas muito bem definidas, como se o
exercício dessa função psíquica dependesse do aprimoramento do órgão, tanto quanto a habilidade
para andar, falar, escrever, etc.

Segundo o modelo proposto por Jean Piaget, existem dois processos sobre os quais o ser humano vai
organizar suas experiências e adaptá-las ao que foi experimentado, constituindo assim o perfil de sua
consciência.

Estes processos seriam a Adaptação e a Organização. A Adaptação seria um processo de ajustamento


ao ambiente existencial em torno do ser. No ser humano, ao contrário dos animais, essa adaptação
não deve se reduzir exclusivamente às reação de agressões do meio e as respostas necessárias à
sobrevivência do indivíduo e da espécie. No ser humano, a adaptação ao meio significa, sobretudo, a
adaptação emocional ao meio.

A Organização da experiência inclui processos de combinação das informações provenientes dos


órgãos dos sentidos e o desenvolvimento de uma sábia tendência a classificar ou agrupar esses
estímulos em conjuntos ou sistemas. Trata-se do processamento mental das informações oferecidas
pela existência e captadas pelo indivíduo através de seus sentidos (veja em PsiqWeb, Percepção,
Sensopercepção, Procepção e Representação da Realidade).

Conhecer a evolução do desenvolvimento do pensamento infantil é importante para o entendimento


do paralelo desenvolvimento da consciência. Piaget dividiu o desenvolvimento do pensamento da
criança em quatro estágios:

I - Estágio Sensório-Motor
Esse estágio vai do nascimento até os dois anos de idade. Predomina, neste estágio, a atividade
sensorial (dos 5 sentidos) e, quase totalmente, o bebê opera com ações do tipo olhar, tocar, pegar e
sugar.

Aproximadamente com um mês de vida o bebê vai substituindo seus reflexos básicos e inatos (pegar,
sugar, etc) por atitudes mais elaboradas, apesar de ainda sensoriais; aborda os objetos e pessoas de
maneiras novas. Durante esse primeiro período de Piaget, um pouco mais (até 4 anos), é onde ocorre
a maturação sensório-motora descrita na neurociência, faltando ainda a maturidade das regiões
frontais e pré-frontais.

II - Estágio Pré--Operacional
O Estágio Pré-Operacional vai dos 2 aos 6 anos e se caracteriza pelo egocentrismo da criança. Nessa
fase ela não consegue entender que as outras pessoas também têm direito de pensarem e agirem de
forma diferente da sua.

Até os cinco anos, as crianças desenvolvem a percepção de formas, e os circuitos neurais da


linguagem amadurecem mais ainda. A partir daí a linguagem organiza as ações, as quais passam a
ser intencionais.

A partir dos 5 ou 6 anos o cérebro da criança começa a se especializar e os hemisférios (direito e


esquerdo) passam a se ocupar de funções diferentes e bem definidas. Predominando em um a
emotividade e em outro a cognição.
É nessa fase que a criança consegue, mais eficientemente, orientar seu corpo no espaço. Inicia-se o
desenvolvimento do raciocínio lógico-formal, mas ainda predomina o raciocínio indutivo, isto é, a
criança vê que duas coisas acontecem ao mesmo tempo e supõe que uma é a causa da outra.

Nessa época as crianças conseguem classificar objetos através da similaridade, havendo grande
maturação de áreas sensoriais associativas sem, no entanto, conseguir-se ainda e plenamente um
raciocínio formal.

III - Estácio Operacional Concreto


O Estágio Operacional Concreto vai dos 6 aos 12 anos. Nessa fase a criança se habilita para o
esquema das operações, tais como a soma, a subtração, a multiplicação, a ordenação serial.

É nesse estágio que ela consegue desenvolver um raciocínio indutivo, bem como superar mudanças
imediatas, considerar a relação lógica envolvida nos acontecimentos. Basta considerarmos a
habilidade natural das crianças com essa idade para joguinhos de vídeo ou computador.

Mas elas ainda apresentam dificuldades em lidar com questões abstratas. Com a gradual maturidade
dos lobos frontais, dá-se início ao raciocínio formal e a maior percepção emocional (veja acima a Área
Pré-Frontal).

IV - Estágio operacional Formal


O Estágio Operacional Formal acontece dos 12 anos em diante. O desenvolvimento macroscópico do
cérebro e das micro-redes neurais nessa fase já é praticamente satisfatório. A principal aquisição
desse período é aprender a pensar e lidar com as idéias e objetos. A criança começa a considerar
conscientemente as coisas imaginárias e as possíveis, torna-se capaz de lidar com os problemas de
forma sistemática e metódica.

Nessa fase acrescenta-se ao pensamento indutivo, a recém criada lógica dedutiva, e é quando se
tornam mais evidentes os eventuais déficits de desenvolvimento intelectual.
A partir dos 10 anos se observa um predomínio das funções simbólicas sobre a motora. O pensamento
abstrato se torna independente da referência física e concreta das experiências.

Mais adiante, na adolescência, a pessoa já será capaz de formular hipóteses a partir de fatos abstratos
e não concretos. Esta presente agora, o aspecto mais elaborado de pensamento humano; desprender-
se do concreto. Os circuitos neurais macroscópicos já estão praticamente todos desenvolvidos e o
cérebro adolescente se assemelha ao dos adultos.

Como vimos, o desenvolvimento do pensamento, através dos 4 estágios descritos por Piaget, se dá
lentamente entre o nascimento e os 15 anos, aproximadamente. O mérito da observação de Piaget se
afirma na constatação extremamente regular da sucessão desses estágios.

Entretanto, embora a sucessão dos estágios seja sempre a mesma, a velocidade desse
desenvolvimento pode variar entre as diversas pessoas e entre os diversos meios sócio-culturais.

Com o passar do tempo toda a personalidade passa a ser absorvida pela Idéia Supervalirozada, a qual
passa a exigir que se coloque à sua disposição todo comportamento do indivíduo. Este, por sua vez,
será insuflado até o limite de verdadeiras façanhas ou atitudes heróicas, quando não, protagonista de
tragédias monumentais. Encontramos o fanatismo presente em variadas figuras de nosso mundo
cultural, em heróis épicos, em líderes religiosos e políticos, em personalidades carismáticas (como
líderes religiosos, promovedores de suicídios coletivos).

Outra curiosidade que freqüentemente acompanha a trajetória dos indivíduos fanatizados é o fato de
seu fanatismo aumentar ainda mais diante das situações que coloquem em risco a hegemonia de seus
ideais. Isso faz com que suas atitudes adquiram muito mais ânimo e energia e se direcionem com
heroísmo ao combate dos inimigos.

Com muita freqüência as Idéias Supervalorizadas coexistem com uma intelectualidade normal,
portanto, até certo ponto, tais pacientes continuam gozando de perfeita mobilidade social e
satisfatório desempenho ocupacional. Como a personalidade toda acaba por ser possuída pelas Idéias
Supervalorizadas, logo a conduta social e ocupacional passam a servir aos propósitos fanatizados.
Vem daí o empenho descomunal com que tais indivíduos atiram-se às suas tarefas, desde que, estas,
como dissemos, atendam as aspirações superestimadas.

De modo geral, a idéia superestimada, prevalente ou supervalorizada reflete os traços dominantes da


personalidade do indivíduo, daí a razão pela qual ele se identifica de modo completo com o seu
conteúdo. De modo geral, as idéias superestimadas exercem uma influência danosa -sobre o
pensamento, orientando-o de maneira inflexível em determinada direção. Essas idéias podem ser
consideradas patológicas quando estão em francas oposição ao ambiente e à lógica comum à todos e
adquirem esse caráter francamente patológico quando impulsionam a conduta do indivíduo também
por caminhos contrários à lógica e à razão. A diferença entre essas idéias e as idéias delirantes é que
nas supervalorizadas, faltam as características principais dos delírios, tais como a certeza subjetiva, a
impossibilidade de influência e de conteúdo e o fato de não serem totalmente estranhas ao eu como
ocorre no delírio.

Os indivíduos perdidamente enamorados, os cientistas, magistrados, militares, sacerdotes, políticos,


seguidores de seitas esdrúxulas, cultuadores da saúde e do corpo, integrantes de cultos exóticos,
pesquisadores de fenômenos ocultos e sobrenaturais, simpatizantes de entidades que pesquisam
extra-terrestres, etc, quando possuidores de personalidade mais frágil e tenuamente atrelada à
realidade, podem manifestar Idéias Supervalorizadas acerca de suas atividades e, ao mesmo tempo,
como dissemos, conseguir manter uma satisfatória capacidade para o convívio social. Sem dúvida,
esta situação mental limítrofe ou borderline aumenta a periculosidade destes indivíduos,
principalmente tendo em vista o fato de que nosso sistema sócio-cultural nem sempre tem critérios
para diferenciar o ideal do possível. A retórica, a eloqüência, a boa apresentação social e, às vezes,
um diploma universitário ou uma boa conta bancária têm sido condições suficientes para atestar a
sanidade mental, principalmente se a pessoa estiver trajando terno e gravata.

Há sempre a possibilidade das Idéias Supervalorizadas contaminarem outras pessoas, notadamente


quando divulgadas por alguém com poder de projeção social. Não é incomum um fanático conseguir
lotar o estádio do Maracanã com 150 mil pessoas, dispostas a doarem seus bens e despojarem-se de
seus óculos mediante a promessa de que estarão curados de seus problemas de visão. Se as Idéias
Superestimadas conseguirem atender os anseios íntimos dos espectadores elas, sem dúvida, os
contaminarão. Numa retrospectiva histórica podemos detectar grandes grupamentos sociais que se
deixaram envolver por Idéias Superestimadas, convenientemente propagadas, as quais resultaram em
verdadeiro holocausto. E não faltam, hoje em dia, mais e mais novas correntes seguidoras de
verdadeiros Ideais supervalorizados à respeito de variadíssimos temas de nosso cotidiano: a
xenofobia, o nacionalismo, a "verdadeira palavra de Cristo", a cultuação do corpo, o esdruxulismo de
antigos conhecimentos orientais (os quais, se fossem tão pródigos, teriam coletado inúmeras
invenções para o benefício da humanidade, como por exemplo, as vacinas, a eletricidade, o rádio, o
raio x, etc), e outras excentricidades típicas de quem não consegue se adaptar ao convencional de sua
cultura.

Idéias Obsessivas
A intromissão indesejável de um pensamento no campo da consciência de maneira insistente e
repetitiva, reconhecido pelo indivíduo como um fenômeno incômodo e absurdo, é denominado de
Pensamento Obsessivo. Portanto, para que seja Obsessão é necessário o aspecto involuntário das
idéias, bem como, o reconhecimento de sua conotação ilógica pelo próprio paciente, ou seja, ele deve
ter crítica sobre o aspecto irreal e absurdo desta idéia indesejável.

Por definição, o pensamento obsessivo se constitui de representações que, sem uma tonalidade
afetiva explicativa, aparecem na consciência com o sentimento de persistência obrigatória,
impossibilitando seu afastamento por esforços voluntários e, conseqüentemente, dificultando e
entorpecendo o curso normal das representações, mesmo que o indivíduo se dê conta de sua falta de
fundamento, a falsidade de seu conteúdo e o caráter francamente patológico do fenômeno.

As Obsessões estão tão enraizadas na consciência que não podem ser removidas simplesmente por
um aconselhamento razoável, nem por livre decisão do paciente. Elas parecem ter existência
emancipada da vontade e, por não comprometerem o juízo crítico, os pacientes têm a exata noção do
absurdo de seu conteúdo mental. Em maior ou menor grau, as Idéias Obsessivas ocorrem em todas
as pessoas, notadamente quando crianças. Podem aparecer, por exemplo, como uma musiquinha
conhecida que "não sai da cabeça", ou a idéia de que pode haver um bicho debaixo da cama, ou que o
gás pode estar aberto apesar da lógica sugerir estar fechado. Em crianças aparecem como um certo
impedimento em pisar nos riscos da calçada, uma obrigatoriedade em contar as árvores da rua ou os
carros que passam, etc. Estas idéias obrigatórias, quando exageradas e promovedoras de significativa
ansiedade ou sofrimento, constituem quadro patológico.

A temática das Idéias Obsessivas pode ser extremamente variável, entretanto, em grande número de
vezes diz respeito à higiene, contaminação, transmissão de doenças, bactérias, vírus, organização ou
coisas assim. É muito freqüente também a existência de Idéias Obsessivas sobre um eventual impulso
suicida, como por exemplo saltar da janela de edifícios, ou em ser acometido subitamente por
impulsos de agressão e ferir pessoas, principalmente os filhos. Neste último caso a obsessão está
justamente em acreditar que, diante de um mal estar súbito, vir a perder o controle e executar,
impulsivamente, aquilo que sugere tais idéias.

São muitos os exemplos de pessoas que adotam uma conduta excêntrica motivadas pela obsessão da
contaminação ou pelo medo continuado de contágio diante de qualquer coisa que lhes pareça
suspeita. Há ainda, casos de pessoas que se sentem extremamente desconfortáveis quando próximas
de objetos pontiagudos, facas, foices, etc, devido a idéia indesejável de que podem, repentinamente e
misteriosamente, perder o controle e matar uma pessoa querida. Um paciente teve que retornar das
férias porque, estando hospedado num apartamento do quinto andar, ficava o tempo todo ansioso
devido a idéia de que poderia saltar pela janela se um impulso incontrolável viesse à sua consciência.
Em todos estes casos o paciente tem pleno juízo do absurdo de seus pensamentos e reconhece,
sofridamente, sua impotência em controlá-los.

Desta feita, a Obsessão é um processo mental que tem caráter forçado, uma idéia associada a um
sentimento penoso que se apresenta ao espírito de modo repetido e incoercível. São idéias impostas
ao psiquismo, incômodas e sentidas como involuntárias, as quais entram na mente contra uma
resistência consciente.

Por outro lado a similaridade entre Obsessões e Fobias (tratadas mais adiante) foi observada já em
1878 por Westphal, criador do termo FOBIAS OBSESSIVAS. Seriam medos que dominam a
consciência, apesar da vontade do paciente que não consegue suprimi-los, embora reconheça-os
como anormais. Aliás , vê-se muito bem, nos exemplos supra-citados, o componente de medo que
normalmente acompanha as idéias Obsessivas. A Obsessão de doença e contaminação pode ser
entendida como uma Fobia de doença, uma ruminação mental sem fim em torno da possibilidade de
sofrer qualquer tipo de doença .

Ainda que o fenômeno obsessivo seja distinto do fenômeno fóbico, é sempre bom ter em mente que
ambos podem ser faces distintas de uma mesma moeda ou, o que mais provavelmente poderia ser, a
fobia originando obsessão e vice-versa.

Fobias
Tal qual a Obsessão, a Fobia intromete-se persistentemente no campo da consciência e se mantém aí
independentemente do reconhecimento de seu caráter absurdo. A característica essencial da Fobia
consiste num temor patológico que escapa à razão e resiste a qualquer espécie de objeção, temor este
dirigido a um objeto (ou situação) específico .

A Fobia é um medo específico intenso o qual, na maioria das vezes, é projetado para o exterior
através de manifestações próprias do organismo. Essas manifestações normalmente tocam ao sistema
neurovegetativo, tais como: vertigens, pânico, palpitações, distúrbios gastrintestinais, sudorese e
perda da consciência por lipotímia. As manifestações autossômicas externadas pela fobia têm lugar
sempre que o paciente se depara com o objeto (ou situação) fóbico.

O pensamento fóbico é tão automático quanto o obsessivo e o paciente tem plena consciência do
absurdo de seus temores ou, ao menos, sabem-no como completamente infundados na intensidade
que se manifestam. Resistem, os temores, a qualquer argumentação sensata e lógica. Aliás, o medo
só será fóbico quando considerado injustificável pelo próprio paciente e, concomitantemente, for capaz
de produzir reações adversas comandadas pelo sistema nervoso autônomo.
O medo na Fobia ataca de modo incontrolável diante de objetos e circunstâncias de todo naturais e,
diante das quais, mesmo o paciente reconhecendo como ridículas, não poderá dominar-se. A
denominação das Fobias diversas guarda uma relação etimológica com as situações desencadeadoras:
Agorafobia (espaços abertos ou sair de casa); Claustrofobia (lugares fechados); Acrofobia (alturas);
Ailérofobia (gatos); Antropofobia (gente); Zoofobia (animais); Xenofobia (estranhos); e assim por
diante.

As Fobias podem ocorrer juntamente com qualquer outro sintoma psiquiátrico, podem fazer parte de
variados graus de ansiedade e de depressão ou ainda, em várias neuroses e psicoses. De fato, não se
trata de nenhum sintoma patognomônico de algum quadro psicopatológico específico.

Veja mais sobre Fobias em Transtornos Fóbico-Ansisos

Delírios
Jaspers define o Delírio com sendo um juízo patologicamente falseado e que apresenta três
características:

1. Uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente


inabalável;
2. Impenetrabilidade e incompreensibilidade psicológica para o indivíduo normal, bem
como, impossibilidade de sujeitar-se às influências de correções quaisquer, seja
através da experiência ou da argumentação lógica e;
3. Impossibilidade de conteúdo (da realidade) .

Esta tríade proposta por Karl Jaspers é aceita pela psicopatologia clássica, notadamente pela
tendência organodinâmica. É contestada, principalmente os itens 2 e 3, por autores psicodinâmicos,
mais por uma questão de nosografia que de fenomenologia.

A prática clínica da psiquiatria deixa bem claro a constatação da primeira regra de Jaspers. Diante de
um paciente delirante, cuja ruptura com a realidade é evidente, não conseguimos demover tal
Conteúdo do Pensamento mediante qualquer tipo de argumentação. Caso o paciente deixe-se
convencer pela argumentação da lógica, razoavelmente elaboradas pelo interlocutor, decididamente
não estaremos diante de um delírio, mas sim de um engano por parte do paciente ou de uma
formação deliróide. Para ser delírio a convicção dever ser sempre inabalável. A argumentação racional
não deve afetar a realidade distorcida ou recriada de quem delira, independentemente da capacidade
convincente e da perseverança daquele que se empenhar nesta tarefa infrutífera.

Em relação à segunda regra, Jaspers alerta sobre a impossibilidade do Delírio ser compreendido por
pessoas que mantém vínculo sólido com a realidade. A lógica da realidade do delirante não é aplicável
à lógica dos indivíduos normais, daí a falta de compreensão psicológica do Delírio: carece relação
entre a temática delirante e os elementos da realidade, notadamente com a conjuntura vivencial do
paciente. Ao postular esta regra tríplice Jaspers definia aquilo que chamamos de DELÍRIO
PRIMÁRIO, ou seja, uma idéia falseada da realidade, cujas fantasias não desfilam elementos
redutíveis de uma realidade especialmente vivida. Em outras palavras, esta irredutibilidade do Delírio
quer dizer que não pode haver uma relação compreensível entre o tema delirante e possíveis vivência
causadoras. O que se confunde, às vezes, são histórias de afastamento da realidade posteriores à
traumas emocionais mas, como já dissemos, trata-se aqui de idéias deliróides e não de delírios
francos.

Caso o Delírio se apresente de forma a sugerir um determinado mecanismo defensivo contra uma
forte ameaça psíquica, normalmente angustiante, falamos em DELÍRIO SECUNDÁRIO ou IDÉIA
DELIRÓIDE. Aí sim, podemos reduzi-lo à uma análise vivencial e psicodinâmica plausível. Foi o que
aconteceu com um jovem de 23 anos, vítima de um acidente do trabalho que lhe custou a perda de
quatro dedos da mão direita. Nos dias seguintes ao acidente começou apresentar uma expressiva
inadequação afetiva (ao invés de aborrecido, mostrava-se feliz) e com um delírio no qual julgava-se
Deus, cheio de poderes, auto suficiente e ostensivamente ameaçador para com as pessoas que dele
duvidavam. Resumidamente, está claro que tal ideação emancipada da realidade era por demais
compreensível: tratava-se de um mecanismo de defesa psicotiforme no qual, em COMPENSAÇÃO à
mutilação e deficiência o seu poder passou a ser infinito. Trata-se pois de uma Idéia Deliróide (ou um
Delírio Secundário), o qual habitualmente pode fazer parte de numa Reação Psicótica Aguda.
Delírios com temática semelhante ou mesmo igual ao exemplo exposto podem aparecer em pessoas
sem nenhuma vivência justificadora, sem nenhuma possibilidade de redução dinâmica vivencial.
Apenas aparecem e, aí sim, na impossibilidade de conteúdo ou de compreensibilidade estaremos
diante de Delírio Primário. A Idéia Deliróide seria conseqüência de um estado afetivo subjacente e
perfeitamente relacionável com uma vivência expressiva, por isso secundário.

A Idéia Delirante, ou Delírio, espelha uma verdadeira mutação na relação eu-mundo e se acompanha
de uma mudança nas convicções e na significação da realidade . O delirante encontra-se imerso numa
nova realidade de forma à desorganizar a sua própria identidade e se desorganiza pela ruptura entre o
sujeito e o objeto, entre o interno e o externo, ou seja, entre o eu e o mundo.

Apesar do romantismo literário acerca da presumível viagem libertadora proporcionada pelos delírios
por libertar o delirante das agruras de uma realidade sofrível, esta alteração do pensamento é
considerada pela psicopatologia como uma das formas mais óbvias de empobrecimento mental, uma
fixação regressiva e doentia que coloca o paciente num estreitíssimo corredor de possibilidades, numa
quase ausência de livre arbítrio. Quer dizer exatamente o contrário daquilo que considerava a
patologia da libertação; o delirante não é capaz de pensar aquilo que ele quer pensar, não tem
possibilidades de admitir alternativas, falta lhe opção de raciocínio e é obrigado a conduzir-se
estritamente nos trilhos estabelecidos pela sua doença.

É tal o empobrecimento mental do delirante que Henri Ey trata do assunto no capítulo reservado à
Semiologia da Alienação da Pessoa e considera o Delírio como uma modificação radical das relações
do indivíduo com a realidade. Trata-se, conforme Ey, de um distúrbio que se relaciona essencialmente
com a concepção do mundo, manifestando-se através de uma inversão das relações do Ego com a
realidade, enfim, uma alienação do Ego .

Segundo Kraepelin, "Delírios são idéias morbidamente falseadas que não são acessíveis à correção por
meio do argumento". Bleuler, por sua vez, dizia que " Idéias delirantes são representações inexatas
que se formaram não por uma causal insuficiência da lógica, mas por uma necessidade interior. Não
há necessidades senão afetivas", determinava ele. Como percebemos, Kraepelin parece deter-se mais
naquilo que entendemos por Delírio Primário, enquanto Bleuler já ventilava uma possibilidade do
Delírio Secundário. Segundo Kurt Schneider a Ideação Delirante pode apresentar-se através de três
configurações semiológicas :

Percepção Delirante
Fala-se em Percepção Delirante quando o paciente atribui, à uma percepção normal da realidade, um
significado anormal sem que, para isso, existam motivos compreensíveis. Não existe, neste caso, uma
verdadeira alteração da percepção mas é a interpretação dessa percepção que sofre um juízo crítico
distorcido, patológico e com uma significação muito especial.

Nas Percepções Delirantes um acontecimento trivial, uma palavra despretensiosa, um acontecimento


cotidiano, são representados com uma significância toda particular e morbidamente distorcidos por
interpretações mágicas, ameaçadoras e cheias de conotações misteriosas. Normalmente as
Percepções Delirantes se fazem em caráter de auto-referência, ou seja, tudo o que acontece à sua
volta passa a referir-se ao paciente, a ele dirigido e com propósitos claramente comprometedores de
sua pessoa.

Um paciente, exemplo de ideação auto-referente, ouvindo na televisão uma orientação sobre a AIDS,
considerou haver uma suspeita geral acerca da possibilidade dele estar sofrendo da doença e, para
ele, os comentários da TV eram uma prova de que todos estivessem suspeitando de sua
contaminação. Um outro, vendo que a esposa tinha modificado a disposição dos frascos de perfume
sobre a penteadeira, considerou isso um indício seguro de estar sendo traído. Mais um, vendo que seu
cunhado havia comprado relógio novo, deduziu estar ele recebendo dinheiro de seus inimigos com o
propósito de denunciá-lo.

Estas Percepções Delirantes normalmente compõem aquilo que chamamos de Delírio Sistematizado,
ou seja, uma ideação organizada tal qual uma historieta; com começo, seqüência e fim. A temática
central, na maior parte das vezes, é de referência ao paciente. Assim, DELÍRIO DE REFERÊNCIA é
uma idéia delirante cuja temática implica sempre em prejuízo, perseguição, dano ou punição do
paciente. É um tipo de Delírio freqüentemente encontrado nas Percepções Delirantes.
Ocorrência Delirante
Resulta de uma crença delirante, puramente subjetiva, sem a necessidade de um estímulo a ser
percebido. Não há um estímulo percebido com significação anormal, como acontece na percepção
delirante, o que existe é uma Idéia Delirante independente da motivação ambiental.
O conteúdo da Ocorrência Delirante se refere, principalmente, a convicções de ordem religiosa,
política, de capacidades especiais do paciente, podendo haver também uma temática de ciúme e
perseguição. É sinônimo de REPRESENTAÇÕES, COGNIÇÕES ou INTUIÇÕES DELIRANTES.
A caricatura do louco, estigmatizado pelo indivíduo que se considera Napoleão Bonaparte, exemplifica
bem uma Ocorrência Delirante, ou seja, sem necessidade de interpretar estímulos ambientais ele
simplesmente se acha Napoleão. Nossos exemplos mais comuns são de pacientes que se julgam
possuidores de poderes sobrenaturais, telepatas, místicos, porta-vozes de divindades. Também os
perseguidos, como uma senhora que referia uma cruel perseguição pelos vizinhos. Estes,
seguidamente, viviam colocando animais peçonhentos em sua casa, instigando toda sorte de
infortúnios. Na realidade estes vizinhos nem existiam, o prédio ao lado era um conjunto de escritórios.

Reação Deliróide
Em artigo de 1910, Jaspers relata dois casos que substanciam brilhantemente essa divisão entre Idéia
Delirante e Idéia Deliróide . Ele sustentou, a certa altura, que o verdadeiro delírio de ciúme diferia de
qualquer outra forma de produção mórbida de ciúme porque, em primeiro lugar, não partia de fatos
reais (premissa falsa), logicamente aceitáveis e razoavelmente possíveis. Depois, porque não
guardava nenhuma relação compreensível com disposições específicas de personalidade, com
eventuais preocupações, com alguns complexos, conflitos ou com a dinâmica dos acontecimentos
atuais. Para Jaspers, o verdadeiro delírio de ciúme não podia, pois, ser explicado como traço de uma
personalidade anormal no curso de seu desenvolvimento, mas sim, como algo novo que se inseria, em
dado instante na linha vital do indivíduo, fazendo supor um desvio abrupto ou de uma quebra, uma
profunda transformação qualitativa da própria estrutura pessoal.

Desde essa época foram estabelecidas as diferenças essenciais entre as estruturas Delirantes e
Deliróides. Jaspers afirmava que o verdadeiro delírio é um fenômeno primário por excelência. Como
fenômeno primário ele queria dizer psicologicamente incompreensível para o homem normal,
portanto, sem compreensibilidade à nossa personalidade e sem nenhuma semelhança com eventuais
vivências psíquicas que somos capazes de representar coerentemente. Essas idéias resultam
totalmente estranhas para nós, sendo, por isso, impenetráveis psicodinamicamente. Além do aspecto
impenetrável, os juízos verdadeiramente delirantes devem trazer ainda o timbre da certeza subjetiva
absoluta, da convicção interior irremovível. Essa não-influência psicológica seria, segundo Jaspers,
outra característica típica da idéia delirante verdadeira, atestando assim sua irredutibilidade e
incorrigibilidade, tanto por meio da persuasão lógica e irresistível, como através da evidência
esmagadora dos fatos em contrário.

Na Depressão Grave, como sabemos e bem atestou Kurt Schneider, embora a tristeza vital seja
considerada primária, no sentido de ser também incompreensível e psicologicamente irredutível, dela
deriva e se vincula toda a gama de Idéias Deliróides depressivas. Essas Idéias Deliróides são pseudo-
delírios ou Delírios Secundários, como os denomina Jaspers, por tomá-los psicologicamente
compreensíveis e dentro do quadro clínico geral em que se formam. Atualmente fala-se também em
Delírio Humor-Congruentes .

O mesmo fenômeno se observa no tocante às idéias de grandeza, tão bem observadas em estados
maníacos como expressão natural do sentimento de onipotência. Nesses casos também devemos
considerar o classicamente chamado delírio de grandeza como pseudo-delírio ou Idéias Deliróides, e
não só aqueles observados nos maníacos, como também nos raros casos da paralisia geral
progressiva. Nos maníacos estas Idéias Deliróides se mostram compreensíveis e explicáveis em função
da forma clínica expansiva da doença e, nos luéticos, são explicáveis, portanto secundários, em razão
do processo mórbido orgânico-cerebral subjacente, portanto, são igualmente secundários. Assim, pois,
as Idéias Deliróides podem ocorrer em abundância e secundariamente nos estados maníacos e
depressivos, nas psicoses orgânicas, em certos oligofrênicos leves , em personalidades psicopáticas,
nos sociopatas e nas psicoses reativas.

O tema do delírio, entretanto, não é suficiente para dizermos tratar-se de uma Idéia Delirante ou
Deliróide. Assim como Jaspers baseou-se em delírios de ciúme para definir a Vivência Delirante
Primária, Bleuler se baseia no mesmo delírio de ciúme, porém em alcoólatras, para discorrer sobre
uma Vivência Delirante Secundária.

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