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PARADIGMA DA CIÊNCIA.
Carlos Eduardo de Vasconcelos é advogado e
professor. Mestre em Direito das Relações Sociais pela
PUC/SP. Presidente da Comissão de Mediação e
Arbitragem da OAB/PE. Membro da Comissão de
Mediação, Conciliação e Arbitragem do Conselho Federal
da OAB. Superintendente em Pernambuco e Diretor de
Pesquisa do Conselho Nacional das Instituições de
Mediação e Arbitragem - CONIMA. Membro do Instituto
dos Advogados de Pernambuco – IAP e do Comitê
Brasileiro de Arbitragem - CBAr. Autor de livros e artigos
em revistas especializadas. Tem formação em negociação
e mediação pela FGV e pelo CEMAPE e em arbitragem
internacional pela CIAC.
1
VASCONCELOS, Maria José Esteves de. Pensamento sistêmico: O novo paradigma da ciência.
Campinas, SP: Papirus, 2002. p. 160.
1
Segue, adiante, um resumo das três dimensões do pensamento
sistêmico, que compõem o paradigma da ciência neste início do século XXI.
2
No dizer de Edgar Morin,2 “a complexidade é a união da simplicidade
com a complexidade; é a união dos processos de simplificação que são
seleção, hierarquização, separação, redução, com os outros contraprocessos,
que são a comunicação, que são a articulação do que foi dissociado e
distinguido; e é a maneira de escapar à alternação entre o pensamento redutor
que só vê os elementos e o pensamento globalizado que só vê o todo”
2
MORIN, Edgard. Introdução ao pensamento complexo. Traduzido do francês por Eliane Lisboa.
Porto Alegre: Sulina, 2006. p. 102 e 103. 120 p.
3
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 2000. pp 25-27.
3
A física também nos trouxe o problema da “desordem” ou da tendência à
desordem, que veio superar o seu principal axioma, de um mundo estável,
ordenado, como uma máquina absolutamente perfeita, onde a desordem não
seria mais que uma ilusão, uma aparência pré-científica. A termodinâmica
comprovou, com Boltzmann, que o calor corresponde à agitação desordenada
das moléculas. Foi a partir de então que se passou a reconhecer que a
entropia corresponde a uma medida de desordem molecular. O
reconhecimento da desordem também contribuiu para uma nova forma de
pensar, que incluísse a indeterminação e a imprevisibilidade dos fenômenos.
4
PRIGOGINE, Ilya. As leis do caos. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: UNESP, 2002. P.
79 a 84.
4
irreversibilidade do tempo, ao passo que, para os sistemas instáveis elas se
tornam fundamentalmente probabilísticas e exprimem o que é possível, e não o
que é certo”.
Com efeito, no mundo onde estamos e que nos abarca há objetos que
obedecem a leis clássicas deterministas e reversíveis, mas que correspondem
a casos simples, quase exceções, como o movimento planetário de dois
corpos, e objetos a que se aplica “o segundo princípio da termodinâmica”; que
constituem a grande maioria. Ainda conforme Prigogine, “É preciso, pois, que
haja, independentemente da história, uma distinção cosmológica entre estes
dois tipos de situação, ou seja, entre estabilidade, por um lado, e instabilidade
e caos, por outro”.
5
física quando Heisenberg formulou seu notável “princípio da incerteza”,
segundo o qual, em mecânica quântica, não se pode ter, simultaneamente,
valores bem determinados para a posição e para a velocidade. Comprovou
Heisenberg que, “ao se lançar luz sobre um elétron, a fim de poder “vê-lo”, isso
inevitavelmente o colocava fora de curso, afetando sua velocidade ou sua
posição”.
5
MATURANA, Humberto. O que se observa depende do observador. Gaia – Uma teoria do
conhecimento. Organizado por William Irvin Thompson. Tradução de Sílvio C. Leite. 3ª ed. São
Paulo: Gaia, 2001. p. 61 a 76.
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Enfim, o terceiro aspecto do novo paradigma remete-nos à dimensão da
intersubjetividade, compreendendo uma teoria científica do observador, co-
construção da realidade na linguagem, determinismo estrutural, acoplamento
estrutural, fechamento estrutural do sistema, objetividade entre parênteses,
espaços consensuais, multi-versa, múltiplas verdades, narrativas, construção
da realidade, sistema observante, visão de segunda ordem, referência
necessária ao observador, auto-referência, reflexividade, transdisciplinaridade.
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É a exigência histórica de abordagens que contemplem essa
complexidade a razão porque, na modernidade tardia que vivenciamos, novos
paradigmas de mediação e justiça restaurativa estão sendo desenvolvidos a
partir de experiências pioneiras, iniciadas nos anos setenta e oitenta do século
XX, em países como o Canadá, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e
França, ampliando espaços para soluções emancipatórias e dialógicas das
disputas, dentro e fora dos sistemas estatais de administração de conflitos.