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Universidade do Minho

Escola de Engenharia

Sistemas Nanotecnológicos
Como ingredientes na
Indústria Alimentar

Mestrado em Micro/Nano Tecnologias


Guimarães, Março de 2011

Elaborado por:

António Marques (PG 18329)


Natacha Rodrigues (PG 17744)
Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

Índice
Introdução................................................................................................................................2
1. Aplicações da nanotecnologia na Indústria alimentar..........................................................4
1.1 Nanoencapsulados.............................................................................................................5
1.1.1 Aplicações no mercado e aplicações em desenvolvimento.........................................6
1.2 Nano-emulsões..................................................................................................................8
1.2.1 Emulsões múltiplas nanoestruturadas........................................................................9
1.2.2 Emulsões de multicamadas nanoestruturadas............................................................9
1.2.3 Aplicações na indústria alimentar.............................................................................10
1.3 Nanopartículas.................................................................................................................11
Conclusões e perspectivas futuras.............................................................................................12
Bibliografia.................................................................................................................................13

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Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

Introdução

O ponto de interesse da Nanotecnologia é que esta pode ser considerada como


uma ciência que se inspira nas estruturas naturais. Átomos e moléculas estão
organizados em estruturas hierarquizadas e sistemas dinâmicos, que são o resultado
de milhões de anos de experiências da Mãe Natureza.
Iões com diâmetros de 10 nm, como o potássio e o sódio, são responsáveis pela
geração de impulsos nervosos, o tamanho das biomóleculas vitais (açucares, hormonas
e ADN) e a maior parte das proteínas e polissacarídeos encontram-se na escala
nanométrica. Qualquer organismo existe devido a presença, ausência, concentração,
localização e interacção destas nanoestruturas [1].
Ao mesmo tempo, vários alimentos contêm partículas com tamanhos que
variam entre 1-1000 nm são considerados misturas clássicas coloidais. Exemplos como
o leite que é constituído por gotas de gordura de 50 nm, proteínas globulares contidas
em vários alimentos cujo tamanho varia de 10 a 100 nm, polissacarídeos lineares com
espessura de 1 nm (nanoestrutura 1D), entre outros exemplos que existem
naturalmente desde sempre.
As primeiras publicações sobre a aplicação da nanotecnologia na indústria
alimentar apenas surgiram no final do século XX e início do século XXI.
Este atraso é explicado maioritariamente pelo facto do mercado alimentar ser
extremamente conservador e devido às regulações rígidas aplicadas nesta indústria e
na qualidade dos produtos. Estudos recentes revelaram que as regras de segurança,
que regem os produtos derivados da aplicação da nanotecnologia na indústria
alimentar, ainda estão a ser desenvolvidas [2].
Apesar de à primeira vista, não haver urgência em desenvolver alimentos
nanotecnológicos com propriedades especiais, o crescimento das publicações nesta
área foi impressionante. Isto é explicado pelo progresso recente nas tecnologias para o
fabrico de sistemas dispersos constituídos por nanopartículas (1-100 nm) e para o
controlo da sua estrutura e composição [2].
Exemplos recaem sobre ferramentas chave de análise desenvolvidas como o
STM (Scanning Tunneling Microscope) e o AFM (Atomic Force Microscope) [1].
Foi mostrado que as nanopartículas têm inúmeras vantagens, quando
comparadas com o mesmo material na escala macroscópica: uma área de superfície
superior, actividade biológica superior e representam uma alternativa interessante
para transporte de substâncias biologicamente activas (BAS) em alimentos para
melhorar a sua função saudável para o organismo.
Outras razões para o elevado interesse da aplicação da nanotecnologia na
indústria alimentar estão directamente relacionadas com problemas actuais da
sociedade.
O resultado da evolução das tecnologias, nomeadamente computorização e
motorização, é um estilo de vida sedentário, resultando na obesidade. Também se
verificou uma mudança de atitude do consumidor que além de procurar alimentos
com elevado teor nutricional, também se preocupa com o seu impacto na sua
aparência. Por isso, existe uma necessidade emergente de produtos com baixo teor de
gordura mas com o mesmo teor de vitaminas e de outras BAS, tendo em conta que a

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redução de gordura é acompanhada por um decréscimo das vitaminas solúveis em


gordura e outras BAS.
Para produzir alimentos com baixo teor de gorduras mas com teores
equilibrados de vitaminas recorre-se ao desempenho chave da nanotecnologia [2].
Além da resolução desde problema, a nanotecnologia aplicada à indústria
alimentar oferece inúmeras vantagens ao consumidor. O que inclui uma redução
possível na utilização de conservantes, sal, gorduras e surfactantes em produtos
alimentares; desenvolvimento de novos e/ou melhores sabores e de novas texturas e
sensações gustativas.
A produção de alimentos na escala nanométrica também pode aumentar a
absorção e biodisponibilidade de nutrientes e suplementos alimentares no organismo,
quando comparados com os mesmos elementos que não usufruem da escala
nanométrica [3].
Nas embalagens dos alimentos, a utilização de nanocompósitos baseados em
polímeros constituem embalagens mais leves e mais fortes que mantêm os alimentos
seguros durante o seu transporte, mais frescos durante o seu armazenamento e livres
de elementos patogénicos [3]. Embalagens inteligentes, que libertam conservantes
quando a comida se começa a deteriorar; embalagens que contêm nanopartículas, que
destroem microrganismos; embalagens constituídas por materiais biodegradáveis e
amigos do ambiente; filmes que fornecem uma barreira de protecção que bloqueia a
passagem de etileno e de gases como o oxigénio e os nanosensores integrados nas
embalagens para monitorizar o estado dos alimentos durante o seu transporte e
armazenamento. Ao nível de superfícies onde são elaborados os alimentos, como
utensílios de cozinha, são aplicados nanorevestimentos antibacterianos para manter as
condições de higiene durante o processamento dos alimentos [4].
Relativamente ao mercado global dos nanoprodutos no sector alimentar e no
sector das embalagens de bebidas, este apresenta um crescimento contínuo e espera-
se que esta tendência seja mantida ao longo do tempo.
Verifica-se que as novas aplicações estão concentradas principalmente nas
áreas das embalagens de alimentos e nos produtos alimentares na área da saúde, com
alguns exemplos no desenvolvimento de novos alimentos e bebidas [2].
Em relação aos países que apresentam maior desenvolvimento nesta área
emergente, o EUA lideram, seguidos pela China e Japão, sendo que os países asiáticos
(liderados pela China) poderão apresentar o maior mercado de produtos
nanotecnológicos na indústria alimentar.
Ao mesmo tempo, ainda é cedo para declarar que as nanotecnologias já foram
introduzidas no mercado alimentar. Já que este processo apenas teve inicio em 2000
quando a Kraft Foods implementou um laboratório nanotecnológico e 15
universidades em diferentes países começaram a fazer pesquisas em laboratórios. Em
2004, já havia cento e oitenta produtos na indústria alimentar em diferentes etapas de
desenvolvimento e em Março de 2006 mais de duzentos produtos alimentares,
caracterizados pela escala nano, foram apresentados no mercado global [3].
No geral, à volta de 200 companhias em todo o mundo estão envolvidas na
pesquisa activa e desenvolvimento no campo dos produtos resultantes da aplicação da
nanotecnologia na indústria alimentar. Mas, apesar de o progresso ser óbvio, ainda é
mais correcto afirmar que o verdadeiro potencial das nanotecnologias nesta indústria
ainda está no início do processo de reconhecimento [2].

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1. Aplicações da nanotecnologia na Indústria alimentar

As aplicações da nanotecnologia na indústria alimentar podem ser divididas em quatro


categorias [4]:

 Utilização de processos ou materiais nanotecnológicos para desenvolver


materiais que estão em contacto com os alimentos. Esta categoria inclui
nanofiltros; material utilizado nas embalagens dos alimentos e revestimentos
de utensílios de cozinha e equipamento de processamento e estruturas onde se
guarda a comida (louça e tuperwares).

 Ingredientes na escala nanométrica e ingredientes nanoencapsulados, tais


como compostos bioactivos, nutrientes e aditivos.

 Ingredientes de alimentos que foram processados para constituir


nanoestruturas e nano texturas para alterar por exemplo sabores, textura e
consistência dos produtos alimentares.

 Biosensores para monitorizar condições dos alimentos durante


armazenamento e transporte, incluído embalagens com indicadores
integrados.

Além da divisão efectuada em cima, também é apresentado um esquema que


representa uma matriz de aplicações da nanotecnologia na ciência e tecnologia
alimentar. O processamento dos produtos da indústria alimentar recorre a conceitos
de Nanobiotecnologia e outras áreas; os produtos resultantes podem ter diferentes
funções como transportador de um determinado composto activo, ser o próprio
alimento ou participar no empacotamento dos alimentos. Relativamente aos materiais
utilizados, estes podem variar desde nanocompósitos a materiais nano-estruturados. E
por último para manter as propriedades e biossegurança do produto final, surgem
conceitos como nanosensores e nanomarcadores que controlam as propriedades do
produto, como por exemplo a presença de agentes patogénicos e acompanham o seu
percurso [1].

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Processamento:
-Nanobiotecnologia
-Síntese molecular
-Reacções á nanoescala

Produtos:
Manutenção das -Entrega/ Transporte
propriedades: Ciência - Formulação
-Nanosensores Alimentar e -Embalagens
-Nanomarcadores Tecnologia

Materiais:
-Nanocompósitos
-Nanopartículas
-Nanoemulsões
-Materiais nano-estruturados

1. Esquema das aplicações da Nanotecnologia na ciência e indústria alimentar [1].

1.1 Nanoencapsulados

As aplicações nanotecnológicas mais actuais, nas quais se os concentram


maiores esforços, é no desenvolvimento de sistemas encapsulados de nutrientes,
compostos bioactivos, aditivos, suplementos alimentares, entre outros.
O processo de nanoencapsulamento emergiu como uma extensão da
tecnologia de microencapsulamento, que é usada na indústria alimentar há vários
anos.
O principal objectivo é desenvolver nanotransportadores de modo a melhorar a
absorção e a biodisponibilidade dos materiais encapsulados, como vitaminas,
nutrientes ou minerais.
O nanoencapsulamento oferece melhorias em termos de protecção contra a
humidade e oxigénio, permite a libertação controlada dos ingredientes e/ou
suplementos, ajuda disfarçar o sabor de determinadas substâncias e a melhorar a
dispersabilidade de ingredientes e aditivos.
As substâncias nanoencapsuladas também estão a ser desenvolvidas como
constituintes de comida interactiva, que irá permitir aos consumidores modificar a
comida de acordo com as necessidades nutricionais e gostos de cada um.
Vários compostos bioactivos necessitam de protecção, já que são geralmente
instáveis e interagem com oxigénio ou com outros componentes da matriz alimentar.

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Esta protecção pode ser requerida nas várias etapas do produto: armazenamento,
transporte e processamento.
O nanoencapsulamento pode ser utilizado para isolar ingredientes activos,
nutrientes e sabores de outros ingredientes e /ou do oxigénio e humidade. Esta
estratégia almeja o aumento da durabilidade do produto encapsulado.
O elemento chave desta técnica é o desenvolvimento de nanocápsulas que
transportem os nutrientes ou compostos bioactivos ao longo do estômago até ao
intestino delgado sem uma perda significativa do seu conteúdo. Outras das vantagens
desta técnica é o facto de se poder encapsular diversas substâncias, tais como
microrganismos probióticos vivos, que promovem um melhor funcionamento dos
órgãos alvo. Além de proteger os compostos encapsulados das condições gástricas,
também se pode obter elevada solubilidade de ingredientes hidrofóbicos.
A libertação do composto é determinada pela escolha do material constituinte
da nanocápsula, do próprio composto e pela tecnologia utilizada para o
nanoencapsulamento.
Na indústria alimentar os materiais escolhidos para o encapsulamento estão
limitados às proteínas, hidratos de carbono, gorduras e emulsionantes presentes nos
alimentos. A libertação dos compostos num determinado local alvo pode ser
controlada através de um determinado impulso resultante de vários mecanismos. Tais
como: processos de difusão e degradação da nanocápsula com enzimas digestivas;
impulsos como calor, humidade e determinado pH podem provocam a libertação do
composto encapsulado [4].
Algumas nanocápsulas são sensíveis à temperatura e podem ser utilizadas para
libertar ingredientes activos e sabores a uma determinada temperatura, por exemplo,
após aquecimento num microondas ou após adição de água quente em bebidas e
sopas. Outras nanocápsulas dissolvem-se na presença de água ou saliva de modo a
libertarem os compostos, provocando uma explosão de sabores. Outra característica
dos sistemas nanotecnológicos de transporte é o facto de estes poderem atravessar as
paredes das mucosas presentes na boca e nariz [4].
As nanocápsulas também podem ser estáveis num ambiente cujo pH é ácido e
libertar o seu conteúdo quando o valor do pH aumenta. Este sistema pode ser útil,
tendo em conta que existe uma variação de pH ao longo do tracto gastrointestinal.
Uma característica deste tipo de sistemas nanotecnológicos, como indica o
próprio nome, é serem constituídos por uma nanoestrutura que funciona como
transportador de uma determinada substância. Existem vários tipos de nanoestruturas
que podem ser utilizadas como transportadoras: micelas, lipossomas, nanoclusters,
nanocochleates, estruturas nanotubulares provenientes do leite, entre outras.

1.1.1 Aplicações no mercado e aplicações em desenvolvimento

Existe uma variedade de produtos nutricionais e saudáveis, baseados na


tecnologia de transporte na escala nanométrica, que estão disponíveis a nível mundial.
Tais produtos caracterizam-se pela absorção superior, biodisponibilidade no
organismo e libertação controlada [4].
A companhia alemã Aquanova® desenvolveu um transportador baseado em
micelas (estruturas naturais) denominado NovaSOL® com um diâmetro de
aproximadamente 30 nm [4]. Micelas são estruturas esféricas com diâmetros de 5-100

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nm, que se formam espontaneamente, quando um surfactante é dissolvido em água.


As micelas podem ser utilizadas como nanocápsulas para várias substâncias utilizadas
em alimentos [5]. A sua grande vantagem recai sobre o encapsulamento de
substâncias que normalmente são insolúveis na água e podem ser diluídas em água
com a utilização de micelas.
As nanocápsulas da tecnologia NovaSOL® podem conter diversos componentes
activos naturais, que obtêm maior efectividade através da tecnologia de solubilização e
da estrutura baseada em micelas, que são estáveis em ambientes com diferentes
temperaturas e pH, e até mesmo no ácido gástrico.
Esta tecnologia pretende integrar as substâncias activas relevantes em apenas
uma micela, permitindo um transporte mais rápido para o plasma sanguíneo, criando
uma biodisponibilidade máxima da substância activa. Exemplos de substâncias podem
ser vitaminas A e E, antioxidantes, ómega-3 (ácido gordo) e substâncias que reduzem a
gordura para controlo de peso.
Por exemplo no caso da substância activa ser a vitamina E [6] (figura 2), esta
tecnologia é muito vantajosa, já que esta vitamina apenas é solúvel em gorduras,
fazendo com que a sua adição à maior parte dos produtos basicamente constituídos
por água seja conseguida.

Figura 2. Produto nanoencapsulado por uma micela e constituído por Vitamina E (vantagens para o
organismo) que pode ser facilmente adicionado a bebidas [6].

Outra aplicação desenvolvida por uma empresa americana: NanoCluster TM é um


sistema de entrega de micronutrientes e antioxidantes para produtos alimentares.
O produto gerado é uma bebida de chocolate denominada Slim Shake
Chocolate, que se caracteriza por ser suficientemente doce sem adição de açúcares ou
adoçantes. O que explica o seu sabor doce são os nanoclusters de cacau, que são
responsáveis pela intensificação do sabor devido à área de superfície elevada. Outra
vantagem dos nanoclusters é que também protegem os nutrientes até estes atingirem
o local alvo e serem absorvidos pelas células [4].
Outros exemplos, que também pertencem ao grupo dos nanotransportadores,
são os nanocochleates, que encapsulam micronutrientes e antioxidantes e cuja
estrutura é representada na figura 3. São nanotransportadores estáveis cuja estrutura
é baseada em lípidos, mas cujas propriedades são muito diferentes das dos
lipossomas. Já que devido à bicamada lipídica dos lipossomas, estes estão susceptíveis
a serem atacados por condições agressivas do meio em que estão inseridos, tal como
pH e temperatura. Os nanocochleates protegem as substâncias encapsuladas das

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condições exteriores e são considerados a tecnologia mais versátil para


entrega/transporte de substâncias.
São constituídas por iões de cálcio e fosfolipídeos que são constituídos por 75%
de lípidos: phosphotidyl serine (PS), phosphatidic acid (PA), entre outros. A sua
estrutura única consiste numa folha constituída por uma bicamada contínua e sólida
de lípidos e enrolada em forma de espiral, com nenhum espaço aquoso interno [7].
A BioDelivery Sciences International desenvolveu uma tecnologia baseada em
nanocochleates: que são nanopartículas, que podem ser usadas para entregar
nutrientes às células, como vitaminas, licopeno (proveniente do tomate, pode ser
usado como substância benéfica para a saúde e para dar cor) e ácidos gordos como
ómega-3 (apresenta benéficos para a saúde), de um modo mais eficiente, sem afectar
a cor e o sabor dos alimentos.

Figura 3. Estrutura dos Nanocochleates e a sua aplicação comercial da BioDelivery Sciences em bolachas
aparentemente normais, com ómega- 3 adicionado [23].

Ainda existe uma variedade de nanotransportadores que ainda estão em


desenvolvimento, tais como nanotubos resultantes da hidrolização de proteínas do
leite, que são uma alternativa natural para o transporte/libertação de ingredientes.

1.2 Nano-emulsões

Na literatura moderna as emulsões, são muitas vezes referidas como nano-


emulsões. As nano-emulsões foram produzidas e estudadas por muitos anos, e por isso
existe bastante literatura sobre a sua preparação, caracterização e utilização [8].
Uma nano-emulsão é uma mistura de dois ou mais líquidos (como óleo e água)
que não se combinam facilmente. Assim uma nano-emulsão é uma emulsão na qual, o
diâmetro das gotículas é de 500 nm ou menor.
As nano-emulsões podem encapsular componentes dos alimentos funcionais
dentro das suas gotículas. Encapsular componentes funcionais dentro das gotículas,
permite muitas vezes uma desaceleração da degradação por processos químicos,
mudando para isso a engenharia das propriedades da camada interfacial destas [9].

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Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

Na realidade, os diferentes tipos de nano-emulsões com propriedades mais


complexas, como emulsões nanoestruturadas múltiplas, oferecem múltiplas
habilidades de encapsulamento a partir de um único sistema de distribuição, podendo
este transportar várias componentes funcionais. Em estruturas como estas, um
componente funcional poderia ser libertado em resposta a um estímulo ambiental
específico [10].
Devido ao seu pequeno tamanho, as nano-emulsões podem apresentar
algumas propriedades de textura interessantes que diferem das de uma emulsão
contendo gotículas de grande porte. Elas podem comportar-se como um creme viscoso
mesmo em concentrações com perdas de gotículas de óleo, facto que atraiu a atenção
no desenvolvimento de produtos com baixo teor de gordura [11].

1.2.1 Emulsões múltiplas nanoestruturadas

Por exemplo, uma emulsão de água (1)/óleo/água (2) nanoestruturada


consistiria em gotículas de água em escala nanométrica, ou micelas reversas (água (2))
contidas dentro de gotículas de óleo maiores, que estão dispersas na fase aquosa
continua (água (1)). Os componentes dos alimentos funcionais podem ser
encapsulados dentro das gotículas de água (2), da fase de óleo, ou da fase aquosa
externa, tornando possível o desenvolvimento de um sistema de entrega única que
contém vários componentes funcionais. Esta tecnologia pode ser usada para separar
dois componentes da fase aquosa que reajam negativamente um com o outro se
estiverem presentes na mesma fase aquosa. Alternativamente, poderia ser usada para
proteger e libertar um componente de fase aquosa preso no interior de gotículas de
água (2) para um sítio específico, como a boca, estômago ou intestino delgado [12].

1.2.2 Emulsões de multicamadas nanoestruturadas

Estudos recentes têm mostrado que o uso de emulsões de multicamadas, pode


criar novos sistemas de aplicação. Estes sistemas tipicamente consistem em gotículas
de óleo (o núcleo), circundadas por camadas de espessura nanométrica (o escudo),
composto por diferentes polieletrólitos. Estas camadas são formadas camada por
camada, utilizando o método electroestático de deposição (LBL), que envolve a
adsorção sequencial de polieletrólitos sobre a superfície das partículas coloidais com
carga oposta. A Figura 4 mostra um exemplo da abordagem de automontagem para
encapsular gotículas de óleo numa emulsão óleo/água.
Um emulsificante iónico que adsorve rapidamente para a superfície de
gotículas lipídicas durante a homogeneização, é utilizado para produzir uma emulsão
primária contendo pequenas gotículas, depois um polieletrólito de carga oposta é
adicionado ao sistema, que adsorve para a superfície da gota e produz uma emulsão
secundária contendo gotículas revestidas com uma interface de 2 camadas. Este
procedimento pode ser repetido para formar gotas de óleo revestidas por interfaces
com 3 ou mais camadas. Sob certas circunstâncias, as emulsões que contêm gotículas
de óleo rodeado pelas interfaces de camadas múltiplas, foram encontradas para ter
uma melhor estabilidade contra stresses ambientais do que as emulsões convencionais

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Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

de óleo em água com uma única camada de interface [13,14,15]. Além disso, é possível
desenvolver sistemas de distribuição inteligentes, através das propriedades de
engenharia dos reservatórios nanoestruturados em torno das gotas.
Esta tecnologia de engenharia interfacial que utiliza ingredientes de primeira
qualidade (tais como proteínas, polissacarídeos, e fosfolipídeos) e operações de
processamento (como homogeneização e mistura),já é amplamente utilizada na
fabricação de emulsões alimentares.
Portanto, esta tecnologia deve ser economicamente viável e poderia ser
facilmente implementada na indústria de alimentos [12].

Figura 4. Esquema para a formação de nano-camadas em torno das partículas [3].

1.2.3 Aplicações na indústria alimentar

As nano-emulsões foram desenvolvidas para serem utilizadas na


descontaminação de equipamentos de embalagem de alimentos e na embalagem de
alimentos. Um exemplo típico é um produto baseado numa nanomicelle para conter
glicerina natural. Este remove os resíduos de pesticidas das frutas e produtos
hortícolas, bem como o óleo/sujidade de talheres.
As nano-emulsões recentemente têm recebido muita atenção por parte da
indústria de alimentos devido à sua alta transparência. Estas permitem a adição de
nano bioactivos emulsionados e sabores à bebida, sem uma mudança na aparência do
produto. São eficazes contra uma variedade de agentes patogénicos alimentares,
incluindo bactérias Gram-negative.
As nano-emulsões podem ser usadas para a descontaminação da superfície das
plantas que geram alimentos e para a redução da contaminação da superfície da pele
de galinha [16].
O crescimento de colónias de Salmonella typhimurium foi eliminado utilizando
tratamentos baseados em nano-emulsões [17].
O tamanho extremamente pequeno das gotas, a estabilidade cinética e alta
transparência óptica das nano-emulsões em comparação com as emulsões
convencionais, dá-lhe a vantagem da sua utilização em diversas aplicações
tecnológicas. A maioria das publicações sobre aplicações das nano-emulsões fala da
preparação de nanopartículas poliméricas usando um monómero de fase dispersa (o
método de polimerização chamado mini-emulsão) [18,19,20 ].
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Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

Bebidas e alimentos personalizados podem ser produzidos utilizando nano-


emulsões, estas libertam diferentes sabores através de uma activação com calor,
frequência ultra-sónica, pH, ou outros activadores. Os alimentos podem ajustar a sua
cor, sabor ou conteúdo de nutrientes para atender ao gosto, ou necessidade de saúde,
de uma determinada pessoa [21].

1.3 Nanopartículas

As nanotecnologias e nanopartículas irão afectar a cadeia alimentar desde a


produção primária até ao consumidor.
Já se falou da aplicação de nanopartículas em sistemas transportadores de
substâncias que constituem os nanoencapsulados. Mas os nanomateriais e as
nanoestruturas providenciam funções específicas noutras aplicações específicas, além
dos nanoencapsulados, como podemos observar na tabela 1.

Tipo de nanopartículas Aplicação Função


Suplemento Absorção gastrointestinal
alimentar/aditivo reforçada de metal
Materiais de Aumentar as propriedades
embalagem/Armazenamento das barreiras
Dispositivos de preparação Limpar a
Nanopartículas metálicas dos alimentos superfície
Frigoríficos, recipientes para Revestimento
armazenamento Antibacteriano
Purificação da água/ Limpeza Remoção/ Catalisação/
do solo Oxidação de contaminantes
Sprays Frigoríficos, recipientes para Revestimento
armazenamento Antibacteriano
Nanoestruturas complexas Nanosensores em Detecção da deterioração
embalagens dos alimentos
Dispositivos portáteis Avaliação das condições de Monitorização dos
armazenamento contaminantes
Nanopartículas incorporadas Migração dos materiais da Limpeza do oxigénio e
activas embalagem prevenção do crescimento de
patógenos
Filtros com nanoporos Purificação da água Remover patógenos
contaminantes
Nutrientes/alimentos Suplemento Aumentar a captação
nanodimensionais alimentar/aditivo

Tabela 1 Funções e aplicações específicas das Nanopartículas. [22]

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Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

Conclusões e perspectivas futuras

Numa visão geral das aplicações actuais e futuras da nanotecnologias na área


alimentar e nos sectores relacionados, verifica-se a existência de uma variedade de
benefícios para toda a cadeia alimentar – sabores e texturas inovadoras, a potencial
redução na ingestão de sal, gordura e outros aditivos alimentares, melhorar a absorção
de nutrientes e suplementos, preservação da qualidade e frescura, e uma melhor
rastreabilidade e segurança dos produtos alimentares.
Espera-se que a Nanotecnologia ofereça vantagens tecnológicas na produção,
armazenamento, transporte e segurança dos alimentos. Contudo, os produtos
derivados da nanotecnologia precisam de demonstrar competitividade económica
para poderem ser comercializados e até agora essa informação ainda não foi reunida e
apresentada, de modo a tirar conclusões.
Actualmente existem vários produtos lançados no mercado global,
principalmente na área das embalagens de alimentos e em menor quantidade na área
da aplicação dos nanomateriais para filtração de água e outras bebidas e de
suplementos e aditivos nanoencapsulados.
Mas, por exemplo, relativamente aos produtos alimentares inteligentes e
interactivos, a informação que existe actualmente não é muito realista. Uma maneira
de produzir comida interactiva é adicionar ingredientes ou aditivos nanoencapsulados
a um determinado alimento, e o consumidor tem o controlo para activar as
nanocápsulas desejadas a uma determinada frequência de microondas, enquanto as
outras permanecem inalteradas, libertando apenas o sabor, cor ou nutrientes
desejados.
A comida inteligente apenas libertará nutrientes como resposta a deficiências
do organismo detectadas por nanosensores. Neste caso as nanocápsulas que contêm
os nutrientes seriam ingeridas juntamente com a comida mas apenas seriam libertadas
quando necessário.
Relativamente aos dados obtidos sobre os riscos das aplicações
nanotecnológicas na indústria alimentar, ainda não são suficiente para retirar
conclusões sobre a sua viabilidade. Como se sabe, as nanopartículas, devido à escala
que se encontram, podem atravessar todas as barreiras do corpo humano, de
maneiras que ainda não foram esclarecidas, produzindo resultados que ainda não são
perceptíveis e talvez nunca serão passíveis de serem detectados.
Existe falta de informação relativamente ao comportamento, destino e efeitos
dos nanomateriais ao longo do tracto gastrointestinal. Não se sabe quando é que estes
se ligam a outros componentes alimentares, se aglomeram ou permanecem como
partículas livres no tracto gastrointestinal.

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Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

Outro aspecto importante é quando é que um determinado nanomaterial é


digerido, absorvido e metabolizado de maneira diferente comparativamente ao seu
equivalente na macroescala. Se a absorção e a biodisponibilidade dos elementos à
nanoescala é superior, então será preciso reformular as quantidades diárias
necessárias.
Ou seja, antes dos sistemas nanotecnológicos poderem ser lançados no
mercado alimentar, com total confiança, é preciso reunir informação sobre os riscos
provocados na saúde do consumidor, quando ingeridos.

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Introdução às Nanotecnologias e às Técnicas de Fabrico Universidade do Minho

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