Vous êtes sur la page 1sur 31

Silvia V.

Fridman | Fabiana Rocha

Análise
Econométrica
em Cross-Section
da Demanda por
Medicamentos
no Brasil
[Estudo de Casos]
Coordenação geral: Ciro Mortella
Coordenação técnica OF: Consultoria Econômica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Fridman, Silvia V.
Análise Econométrica em cross-section
da demanda por medicamentos no Brasil: estudo de
casos / Silvia V. Fridman, Fabiana Rocha. --
São Paulo Febrafarma - Federação Brasileira da
Indústria Farmacêutica, 2004

1. Indústria farmacêutica - Brasil


2. Medicamentos - Oferta e procura - Modelos
econométricos 3. Medicamentos - Preços I. Rocha,
Fabiana. II. Título.

04-4837 CDD-615.10151

Índices para catálogo sistemático:

1. Medicamentos: Demanda: Análise econométrica em


cross-section: Farmacologia 615.10151

Fundação Biblioteca Nacional


índice

PA R T E I
Sumário executivo 5
Apresentação 7

PA R T E I I
Estabelecimento da equivalência entre dosagens 11
de medicamentos de uma mesma classe terapêutica
1. Objetivo 11
2. Material utilizado 11
3. Procedimento 11
4. Critérios adotados 12
5. Resultados 14
6. Comentários 15

PA R T E I I I
Características da demanda por medicamentos no Brasil 16
Resultado da regressão 18
Analgésicos 18
Antibióticos 20
Antiinflamatórios 22
Anti-hipertensivos 24
Gasto com medicamentos 25
Comentários finais 29
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

PA R T E I

Sumário executivo

ESTE TRABALHO estima funções demanda para medicamentos das classes


terapêuticas dos analgésicos, antibióticos, anti-hipertensivos e antiinfla-
matórios, a partir de uma pesquisa de campo realizada pela empresa Toledo &
Associados, que abrangeu 735 entrevistas com consumidores em farmácias de
todo o País, no mês de abril de 2003.
Foi elaborado um detalhado trabalho de equivalência teórica, de forma a se
obter uma única substância (numerário) em cada uma daquelas quatro classes
terapêuticas.
Econometricamente, foram estimadas funções demanda para cada classe de
medicamentos, controlando-se preço, renda, riqueza, região da compra e educação.
Os resultados mostram, como esperado, que a demanda por medicamento é
preço inelástico, que a renda não é importante para o acesso da população que vai
às farmácias e que as demais variáveis são, somente em algumas classes, relevantes.
Cada classe terapêutica possui uma estrutura de demanda, o que lança dúvida
sobre a eficiência da prática oficial de regular, homogeneamente, todas as classes.
A inelasticidade da demanda garante que o acesso a medicamentos não
deve ser feito pelo controle de preços. O controle de preços pode prejudicar
mais o excedente do produtor (incentivo à oferta) do que ampliar o excedente
do consumidor (dada a inelasticidade do preço).
A amostra foi obtida sob o regime de preço controlado. O controle de
preços impede que as empresas maximizem lucro e, desta forma, leva-as a
trabalharem na faixa inelástica de curva de demanda. Portanto, justificar a
continuação do controle sob o argumento da inelasticidade é um argumento
circular: deve-se manter o controle porque o controle foi iniciado.
O gasto total com medicamentos foi outra função analisada neste trabalho. Mostra
que a renda e a riqueza explicam muito pouco o gasto da população que consegue
chegar às farmácias, embora o nível de instrução seja um diferencial para o consumo.
A conclusão sustenta que a ampliação do acesso da população aos medica-
mentos só pode ser efetuada por uma política de renda em favor dos social-
mente menos favorecidos, nos moldes do PAMSUS, proposto pela Federação
Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), em 2001.
A política pública de regulação envolve um conjunto amplo e complexo de
informações e análises, no que o setor farmacêutico está disposto a colaborar, a
exemplo deste estudo que a Febrafarma oferece para análise e debate.

estudosFEBRAFARMA [ 5 ]
Silvia V. Fridman
Fabiana Rocha

[ 6 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

Apresentação

OS MEDICAMENTOS são produtos industriais resultantes de itensa pesquisa


básica e tecnológica em modernização contínua. A inovação tecnológica é o
fundamento da concorrência nesta indústria internacionalizada, cujos estímu-
los decorrem da expectativa de retorno econômico e dependem de externali-
dades, principalmente infra-estrutura e marcos regulatórios.
Ao mesmo tempo, a essencialidade do medicamento lhe confere a caracte-
rística singular de ser um bem relativamente caro e necessário. A partir deste
entendimento, países mais desenvolvidos implantaram regimes de assistência
farmacêutica que incluem controle direto de preços e reembolso ao paciente
(França e Itália), reembolso limitado pelo seguro social (Alemanha e Japão) e,
mesmo, controle sobre a taxa de lucro (Reino Unido). Nos Estados Unidos,
foram estimuladas as formas privadas de seguro saúde e de assistência pública
para a população alvo.
Países menores, que não dominam o conhecimento e a tecnologia e, portan-
to, não participam de pesquisa e desenvolvimento de novas drogas, adotam pos-
turas reguladoras agressivas, tabelando preços pelo custo marginal de produção
e de distribuição, que representam cerca de 20% a 50% do custo total dos
medicamentos, deixando para os países mais desenvolvidos o ônus de arcarem
com o custo de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Um país pequeno teria jus-
tificativa em entender que, pelo pouco que representa no mercado mundial, esta
“carona” não afetaria os negócios da indústria, que recuperaria as perdas incor-
ridas no país pequeno, nos mercados dos países ricos, menos sensíveis a preço.
Esta prática tornou-se generalizada no planeta, com as políticas oficiais de
preço orientadas pelos preços médios internacionais. Deste ponto resultam,
especialmente nos Estados Unidos, movimentos de protesto ao aparente subsí-
dio internacional pago pelos norte-americanos1.
Mesmo que as empresas farmacêuticas internacionais segmentem o mercado,
a elasticidade de preço, nos países mais ricos, e suas respectivas reações políticas
aos subsídios são um limite a essa segmentação, o que afeta, em âmbito global, o
estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento. Com isso, as conveniências nacionais

1
Por exemplo, U.S. House of Representatives, Committee on Government Reform and Oversight.
Minority Staff Report, Prescription Drug Pricing in the 1st Congressional District in Maine: An
International Price Comparison. October 24, 1998.

estudosFEBRAFARMA [ 7 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

dos países pequenos passam a gerar um problema mundial. Este quadro permite
especular que, em breve, os países centrais irão se aperceber dos benefícios de
conclamar uma rodada internacional de negociação sobre os limites das regu-
lações nacionais de preços de medicamentos, o que vai exigir, dos países
pequenos e de suas respectivas indústrias, capacitação técnica e informação
para tais negociações.
A política oficial de preço, pela regra do custo marginal, em países que não
oferecem garantia de escala de produção, como o Brasil, afeta as empresas
nacionais que não têm, por questões de externalidades e tributárias, a mesma
produtividade das internacionais.
Ao mesmo tempo, as empresas locais, apesar de concentradas no estágio de
produção de especialidades farmacêuticas, ou seja, operam pouco em produção
de fármacos e praticamente nada em P&D, ao terem seus custos nivelados pelo
custo das empresas internacionais, sem a oportunidade de segmentar merca-
dos, ficam impossibilitadas de dividir perdas. Desta forma, são desestimuladas
a participar de projetos em P&D.
O controle de preço implementado no Brasil não segue exatamente a regra
do custo marginal (marginal cost pricing), mas a de aproximação do custo
médio de produção, sem o componente da taxa de lucro (que teoricamente
deveria compor o custo médio). Mais grave ainda, a fórmula paramétrica, que
vigorou de 2000 a 2002, generalizava o custo médio para todos os produtos,
sem a preocupação de distingüir, por ponderação, os custos referentes aos dife-
rentes processos produtivos. Naturalmente, este procedimento seria impra-
ticável e o controle tentava acertar na média do conceito equivocado de custo,
sabendo que errava na variância.
O resultado foi o barateamento relativo dos medicamentos que, ao lado da
queda no nível de atividade da economia brasileira e do poder de compra das
famílias, implicou uma significativa redução nas margens do setor.
Há várias justificativas formais para o controle de preços, variando desde o
argumento de produto credencial, ao lado da elegância teórica da informação
imperfeita, como se os protocolos de tratamento pudessem ser desconsiderados,
até o tradicional argumento de oligopólio, cujo modelo teórico de comporta-
mento nunca foi explicitado. Em uma indústria com mais de 400 empresas
operando sob regime de livre importação para produtos acabados, dificilmente se
pode ver um oligopólio com poder significativo sobre o mercado. Ainda que
2
assim fosse, como entender o tabelamento de produtos não tarjados, tipo OTC ?
2
OTC (over-the-counter) é a denominação que se dá aos medicamentos que podem ser adquiridos sem
prescrição médica.

[ 8 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

O argumento teórico básico para o controle de preços é o de defesa do exce-


dente do consumidor, o que não justifica reduzir _ ainda mais sem critérios _ o
excedente do produtor: uma regulação voltada para a satisfação da demanda,
sem atenção às restrições da oferta. Desta forma, sem políticas de estímulo à
oferta e de assistência farmacêutica (ampliação de mercado), os excedentes do
produtor e do consumidor compõem o clássico quadro de um jogo de soma
zero. Neste caso, a defesa dos interesses do consumidor, no curto prazo, impli-
ca a desproteção deste mesmo consumidor, no longo prazo.

À luz desta preocupação, os objetivos do presente trabalho são os seguintes:

a) Mostrar que classes terapêuticas distintas perfazem mercados com


parâmetros distintos. Portanto, a generalização da regulação de preços provoca
perdas desconhecidas. Como a particularização é impraticável, o controle é um
equívoco de política, com reflexos de longo prazo na estrutura da oferta.
b) Comprovar que a elasticidade de preço por medicamentos, analisados sob
a categoria de classes terapêuticas, é baixa. Sendo baixa, o acesso da população
não ocorre pelo efeito preço, e a redução de preço (como praticada) aumenta o
excedente do consumidor de forma inelástica, enquanto a redução do excedente
do produtor pode vir a ser elástica, dependendo dos custos, o que configuraria
uma política socialmente ineficiente.

É importante notar também estes aspectos:

a) A elasticidade de preço estudada refere-se à classe terapêutica, vale dizer,


trata-se da elasticidade de preço de um produto tornado homogêneo por meio da
equivalência teórica.
b) O estudo econométrico controla para o efeito renda e riqueza, além de
outros, mesmo sabendo-se que, devido ao fato de a pesquisa ter sido feita em far-
mácias, este efeito renda é distorcido. Isto porque 49% da população com renda
entre zero e quatro salários mínimos respondem por somente 16% do consumo,
e 15% da população com renda acima de 10 salários mínimos consomem 48%
dos medicamentos. Em outras palavras, o nível de renda é o determinante para as
pessoas irem, ou não, às farmácias.

O trabalho parte das informações levantadas pela Toledo & Associados em


farmácias, em todos os estados brasileiros, segundo a representatividade popula-
cional, perfazendo um total de 735 entrevistas com consumidores após a compra
de medicamentos, em um dia no mês de abril de 2003.
estudosFEBRAFARMA [ 9 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

O relatório completo da pesquisa feita pela Toledo & Associados está


disponível na Febrafarma. O tamanho da amostra implica uma probabilidade de
erro, na representatividade, de 10%, e o fato de ter sido realizada em um só dia
não impede a interferência de fatores sazonais (por exemplo, o efeito do clima
sobre o perfil da demanda).
A pesquisa envolveu o levantamento de dados socioeconômicos do com-
prador e de sua família, além de outros itens, como os de averiguar se a compra
seguia prescrição médica, qual o tipo de medicamento adquirido (genérico ou de
marca) e em que região a compra foi feita. Estes elementos foram utilizados como
variáveis de controle na análise econométrica.
As informações sobre os medicamentos adquiridos foram trabalhadas pela
farmacêutica Dra. Silvia V. Fridman, que contou com a colaboração da farmacêu-
tica Dra. Ana Paula Fuzaro, com o objetivo de classificar esses medicamentos em
classes terapêuticas. Uma vez classificados, buscou-se montar, em cada classe te-
rapêutica, a equivalência teórica, o que permitiu traduzir as diversas unidades de
substâncias ativas, na classe, em uma única substância, que assumiu o papel de
numerário das quantidades consumidas.
Este procedimento será explicado mais adiante, no texto da Dra. Silvia V.
Fridman. É importante notar que, sem tal procedimento, não seria possível unir
e quantificar os diversos medicamentos que pertencem a uma mesma classe te-
rapêutica. A Febrafarma não conhece nenhum trabalho econométrico realizado
no Brasil, sobre demanda de medicamentos, que tenha recebido este cuidado
metodológico. A maioria dos trabalhos estima as relações por princípio ativo, o
que leva à separação dos medicamentos concorrentes. Há, ainda, trabalhos que
estimam a demanda por comprimidos, como se fossem homogêneos. Ambas as
linhas de trabalho sofrem de má qualidade nos dados, com conclusões não
generalizáveis ou inúteis.
Os produtos homogeneizados para uma só substância, em cada classe tera-
pêutica, foram analisados econometricamente pela professora Dra. Fabiana Rocha,
que analisou as curvas de demanda pelo método de mínimos quadrados ordi-
nários para cada classe.
A parte II, a seguir, apresenta a metodologia da equivalência teórica, de
autoria da Dra. Silvia V. Fridman. A parte III, de autoria da Dra. Fabiana Rocha,
apresenta os resultados econométricos que antecedem a conclusão.

[ 10 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

PA R T E I I

Estabelecimento da Equivalência
entre Dosagens de Medicamentos de
uma mesma Classe Terapêutica
Subsídio à Fase de Estudo Econométrico

Critérios e Premissas Estabelecidas

Silvia V. Fridman

1. Objetivo desta análise

O OBJETIVO desta fase do estudo é criar um instrumento que, a partir dos


dados e informações obtidos na pesquisa realizada pela Toledo & Associados
em farmácias, permita comparar os gastos realizados pelos consumidores na
compra de medicamentos.

2. Material utilizado

Os dados obtidos na pesquisa foram consolidados pela Toledo & Associados


numa tabela contendo as seguintes informações:
- Consumidor, identificado por um número;
- Nome dos medicamentos adquiridos por consumidor;
- Forma farmacêutica de cada medicamento;
- Apresentação comercial de cada medicamento;
A análise utilizou a tabela fornecida pela Toledo & Associados.

3. Procedimento

Para a realização da análise, os medicamentos relacionados na tabela da Toledo


& Associados foram agrupados em classes terapêuticas. Em seguida, foi calculado
um fator de conversão para estabelecer a equivalência teórica entre as quanti-

estudosFEBRAFARMA [ 11 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

dades dos medicamentos enquadrados em uma mesma classe terapêutica e o


princípio ativo considerado base para aquela classe.

4. Critérios adotados para analisar os dados obtidos


na pesquisa implementada pela Toledo & Associados.

4.1. Seleção das classes terapêuticas analisadas


As classes terapêuticas a serem analisadas foram selecionadas com base nos
seguintes critérios:
- Classes terapêuticas cuja pesquisa apontou como resultado maior incidência
de doenças crônicas na família.
- Classes terapêuticas de reconhecida importância relativa com base na
incidência da doença para a qual os respectivos medicamentos estão indicados.
- Classes terapêuticas para as quais foram citadas no mínimo trinta ocorrên-
cias de medicamentos distintos ou não.

4.2. Critérios para o estabelecimento da equivalência entre as dosagens de


medicamentos pertencentes a uma mesma classe terapêutica
Os medicamentos autorizados para comercialização no País pela
Autoridade Sanitária apresentam segurança e eficácia comprovadas quando
corretamente utilizados. Para efeitos desta análise, não foram consideradas as
diferenças de comportamento entre os medicamentos enquadrados em uma
mesma classe terapêutica. A equivalência entre as dosagens foi estabelecida
com base apenas nas indicações terapêuticas e respectivos esquemas posológi-
cos. Por exemplo, foi estabelecida a equivalência entre os antiinflamatórios
esteroidais, não esteroidais, e os inibidores da enzima ciclogenase (COX),
independentemente do uso.
A seguir serão descritos os critérios utilizados para o estabelecimento da
equivalência entre as dosagens de medicamentos enquadrados em uma mesma
classe terapêutica.

4.2.1. O enquadramento dos medicamentos em classes terapêuticas foi


3
efetuado utilizando-se os critérios do IMS Health .

4.2.2. Os medicamentos formulados com princípios ativos comuns,

3
IMS Health é um instituto de pesquisas especialista na coleta e análise de informações farmacêuticas.

[ 12 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

enquadrados nas classes terapêuticas dos analgésicos e antitérmicos, anti-


enxaquecosos, relaxantes musculares, antigripais e descongestionantes nasais
sistêmicos formulados com paracetamol e ácido acetilsalicílico foram analisa-
dos em um único grupo, para atender o critério de um número mínimo de
trinta medicamentos (ou citações) em cada classe terapêutica analisada.

4.2.3. As informações técnicas sobre os produtos analisados (indicações


terapêuticas, esquemas posológicos e outras necessárias à realização desta
análise) foram obtidas por meio de consulta aos sites específicos na internet;
sites dos laboratórios farmacêuticos fabricantes e no Dicionário de
Especialidades Farmacêuticas – DEF.

4.2.4. Para cada uma das classes terapêuticas analisadas, foi selecionado um
princípio ativo que serviu como base para expressar as quantidades dos
medicamentos adquiridos naquela classe terapêutica, como segue:

Classe Terapêutica Princípio Ativo Base


Antiinflamatórios Diclofenaco
Antibióticos Ampicilina
Analgésicos Paracetamol
Anti-hipertensivos Enalapril

4.2.5. O fator de conversão foi calculado com base no esquema posológico


inicial adulto. Exceção foi feita ao grupo dos analgésicos, no qual se considerou
a dose máxima diária descrita para cada medicamento, e na menor dosagem
diária recomendada permitida para cada medicamento.

4.2.6. A equivalência foi estabelecida considerando-se a concentração do


medicamento (por exemplo, mg/com), o esquema posológico e a forma farma-
cêutica (comprimido, líquido e outras).

4.2.7. Nos casos das associações medicamentosas, a equivalência foi estabele-


cida considerando-se como base o princípio ativo que confere a ação terapêu-
tica da classe analisada.

4.2.8. Os medicamentos nas formas farmacêuticas de colírios e pomadas não


foram analisados devido à dificuldade de se correlacionar os respectivos esque-
mas posológicos.

estudosFEBRAFARMA [ 13 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

4.2.9. Como, praticamente, todos os antibióticos relacionados são eficazes


contra microrganismos Gram positivos (G+) e Gram Negativos (G-), a equi-
valência entre os medicamentos foi estabelecida indistintamente.

4.2.10. Em razão da importância relativa dos medicamentos classificados na


classe terapêutica dos anti-hipertensivos, estes foram analisados independente-
mente das suas especificidades de ação e a equivalência entre as dosagens foi
estabelecida tendo um único princípio ativo base. Desta forma, não foram
consideradas as diferenças de ação entre, por exemplo, os inibidores da enzima
conversora da angiotensina (ECA) e os betabloqueadores. Foi considerado
apenas o efeito redutor da pressão.

5. Resultados

A pesquisa realizada pela Toledo & Associados apresenta uma relação com
1.074 citações de marcas ou nomes dos princípios ativos de medicamentos.
Devido aos critérios adotados (ver item 4), a equivalência entre as dosagens
dos medicamentos foi estabelecida para aproximadamente 42% dos medicamen-
tos relacionados, da seguinte forma:

Classes terapêuticas selecionadas Porcentagem sobre o total de


medicamentos relacionados na pesquisa (%)
Antiinflamatórios 7,30
Analgésicos 22,44
Anti-hipertensivos 7,10
Antibióticos 4,93
Total 41,77

Os demais medicamentos relacionados não constituíram grupos com pelo


menos trinta citações, número mínimo para a análise econométrica.

[ 14 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

6. Comentários

Com o cálculo de um fator de conversão foi estabelecida a equivalência entre


as quantidades dos medicamentos enquadrados em uma mesma classe terapêu-
tica e o princípio ativo considerado base para aquela classe. Desta maneira foi
possível comparar as quantidades dos medicamentos adquiridos pelos consu-
midores entrevistados nas farmácias, de modo a permitir também a compara-
ção entre os gastos realizados por esses consumidores na compra de medica-
mentos. Estes dados foram utilizados no estudo econométrico.
É importante salientar, porém, que na prática, o estabelecimento de uma
equivalência entre medicamentos pertencentes a uma mesma classe terapêuti-
ca nem sempre é possível. Isto devido, principalmente, à especificidade de ação
dos diferentes princípios ativos. O procedimento utilizado nesta análise foi ape-
nas um instrumento que permitiu comparar as quantidades dos distintos
medicamentos mencionados na pesquisa, para a realização do estudo
econométrico.

estudosFEBRAFARMA [ 15 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

Parte III

Características da Demanda
por Medicamentos no Brasil
Fabiana Rocha

A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA, historicamente, tem estado sob um caloroso


debate político e, para compreender as implicações das diferentes propostas, é
fundamental entender, inicialmente, o mercado no qual esta indústria opera.
De interesse fundamental e imediato aparece o grau de sensibilidade da deman-
da por medicamentos aos fatores que a condicionam.
O objetivo deste estudo é estimar equações de demanda para quatro
classes diferentes de medicamentos: antiinflamatórios, antibióticos, analgésicos
e anti-hipertensivos. Estima-se, ainda, uma equação de gasto total com
medicamentos, a fim de verificar os determinantes da decisão de consumo de
medicamentos em geral. Para tanto são utilizadas as informações disponíveis
para uma cross-section das pessoas que compraram os produtos farmacêuticos
no mês de abril de 2003. Os dados foram obtidos pela Toledo & Associados, a
partir de entrevistas feitas com estas pessoas, em farmácias localizadas em todas
as regiões do País. A padronização dos diferentes medicamentos obedeceu ao
estudo de equivalência teórica realizado pela Febrafarma, conforme definido
anteriormente, para que fosse estimada a demanda por um “bem” homogêneo.
Para a avaliação dos determinantes da demanda de mercado para cada
classe de medicamento foi utilizada a seguinte função:

Qi = a + b1Xi + b2Zi + ei

Onde Qi é o logaritmo da quantidade comprada pelo indivíduo i de cada


classe de medicamento, Xi é a matriz de variáveis independentes e inclui o loga-
ritmo do preço pago pelo medicamento pelo indivíduo i e o logaritmo da renda
do indivíduo e Z é a matriz de variáveis de controle, e informa se o medicamen-
to é genérico ou não, se foi indicado pelo médico ou não, qual o número de pes-
soas residentes no domicílio, e quais os indicadores de classe sócioeconômica
dos indivíduos, segundo dados fornecidos pela Toledo & Associados, a partir do
grau de instrução do chefe da família e de ativos possuídos pela família (tele-

[ 16 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

visão, carro, etc.). Uma “dummy” igual a 1 corresponde a um medicamento


4

genérico. Da mesma forma uma “dummy” igual a 1 indica que o medicamento


foi prescrito pelo médico.
Algumas simplificações foram feitas. A pesquisa da Toledo & Associados
classificou os indivíduos em 21 classes de renda diferentes. A fim de preservar
os graus de liberdade, uma vez que para algumas classes de medicamentos o
número de observações não era muito alto, no lugar de utilizar uma variável
discreta para cada classe de renda, optou-se por “criar” uma variável de renda
contínua. Deste modo, fez-se uma interpolação dos limites inferiores e
superiores correspondentes a cada classe de renda, de forma que a cada indiví-
duo fosse atribuído um valor de renda igual à renda média e não a uma
“dummy”. Por exemplo, a quinta faixa de renda da pesquisa corresponde aos
rendimentos entre R$ 201,00 e R$ 600,00. Para as pessoas que disseram estar
nesta faixa de renda foi atribuída uma renda igual a R$ 400,00.
Além disso, optou-se por considerar os indicadores de classe socio-
econômica fornecidos pela Toledo & Associados que resumem as informações
sobre o grau de instrução do chefe de família e sobre os ativos possuídos, em
vez de considerar estas variáveis separadamente. Isso porque as perguntas a
respeito do perfil educacional implicavam também várias categorias, o que
novamente resultava em perda de graus de liberdade. E também a presença de
diferentes perguntas sobre a propriedade de diferentes ativos envolvia neces-
sariamente um certo grau de arbitrariedade na escolha do que a pessoa consi-
derava o ativo mais representativo. Na equação de gasto total, contudo, como
são usadas observações para todos os indivíduos, foi possível fazer a separação
entre os componentes de educação e os ativos/riqueza.
É importante observar, ainda, que o ideal seria usar o número de pessoas
com menos de 6 anos e mais de 60 anos que residem no domicílio. Como esta
informação não estava disponível no questionário, acabou-se por considerar o
número total de pessoas residentes no domicílio.
As tabelas 1, 2, 3 e 4 resumem os resultados obtidos para os analgésicos, os
antibióticos, os antiinflamatórios e os anti-hipertensivos, respectivamente.
Nestas tabelas utiliza-se como medida de renda a renda familiar. A razão para
isto vem do fato de que se espera que, quando um indivíduo ficar doente, na
impossibilidade de ele comprar o medicamento, a família possa ajudá-lo. Por
outro lado, o indivíduo que responde ao questionário com certeza tem maior
conhecimento sobre sua renda do que sobre a renda familiar. Assim, também

4
“dummy” é uma variável que mede uma característica qualitativa dos indivíduos da amostra.

estudosFEBRAFARMA [ 17 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

foram feitas as estimativas com a renda pessoal, uma vez que a resposta à per-
gunta sobre a renda pessoal tem menos ruído do que a resposta à pergunta
sobre a renda familiar.

Resultados da Regressão

Analgésicos

Tabela 1 - Estimativas para a demanda de analgésicos

Variáveis Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5


explicativas
Constante 3,2593 2,8594 2,8662 3,1092 3,1792
(4,4492) (4,2589) (4,2599) (4,4676) (3,3869)
Log Preço -0,5872* -0,6236* -0,6223* -0,6089* -0,6083*
(-8,3261) (-9,6535) (-9,6074) (-9,3120) (-9,2186)
Log Renda 0,1320** 0,1252** 0,1243** 0,1270** 0,1119
(2,0690) (2,1518) (2,1319) (2,1824) (1,4456)
Médico 0,8121* 0,8092* 0,7861* 0,7815*
(5,7394) (5,7042) (5,5133) (5,3456)
Genérico 0,1339 0,1569 0,1577
(0,6175) (0,7231) (0,7183)
Domicílio -0,0398 -0,0391
(-1,3215) (-1,2789)
Classe A -0,0331
(-0,0609)
Classe B 0,0921
(0,1756)
Classe C 0,0791
(0,1502)
Classe D -0,0827
(-0,1545)
R2 0,3086 0,4292 0,4306 0,4369 0,4426
_
R2 0,2998 0,4182 0,4158 0,4187 0,4092

nº obs. 188 188 188 188 188

Notas: Estatísticas t entre parênteses.


*_e ** indicam que as variáveis são estatisticamente significantes nos níveis de 1% e 5%, respectivamente.
R2: R2 ajustado.
Renda corresponde à renda familiar.

[ 18 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

Os resultados indicam:

1. Para qualquer um dos modelos estimados, o coeficiente da elasticidade-


preço é em torno de -0,60 implicando que, para um aumento de 1% no preço
do medicamento a quantidade demandada diminui cerca de 0,60%. Como o
valor da elasticidade-preço é menor do que 1 em termos absolutos, tem-se que
a demanda por analgésicos é inelástica.

2. O coeficiente da elasticidade-renda fica em torno de 0,12. Assim, um


aumento de 1% na renda familiar aumenta a quantidade demandada em cerca
de 0,12%. Os resultados ficam praticamente inalterados se for usada a renda da
pessoa que respondeu à pesquisa, em vez da renda familiar, e por esta razão não
são reportados os resultados das regressões usando-se a renda pessoal.

3. A variável “dummy” para médico é estatisticamente significante, ou seja, é


importante para a demanda de analgésicos se o medicamento foi prescrito pelo
médico. A quantidade média de analgésico consumido é maior quando há pres-
crição médica. Por outro lado, não faz diferença se o medicamento for genérico.
A “dummy” para genérico aparece como estatisticamente não significante.

4. No caso das “dummies” de classe de renda, trata-se, arbitrariamente, a


classe E como classe-base. Nenhuma “dummy” de classe socioeconômica apare-
ceu como estatisticamente significante.

5. Foram utilizadas, ainda, “dummies” de região para se tentar averiguar


uma possível diferenciação regional na demanda. Todos os coeficientes estima-
dos mostraram-se não-significativos (resultados não apresentados).

estudosFEBRAFARMA [ 19 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

Antibióticos

Tabela 2 - Estimativas para a demanda de antibióticos


Variáveis Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5
explicativas
Constante 5,5445 3,9473 4,8462 4,8413 4,5049
(3,3469) (2,6925) (3,1891) (3,3842) (3,0647)
Log Preço -0,2902** -0,4026* -0,4034* -0,4135* -0,3771*
(-1,9875) (-3,1666) (-3,0311) (-3,4638) (-2,9787)
Log Renda 0,2290 0,2342*** 0,0939 0,0734 0,1882
(1,4843) (1,7968) (0,5827) (0,5278) (1,1284)
Médico 0,9787* 0,6827** 0,9078* 0,5901**
(3,6637) (2,3040) (3,5882) (2,0213)
Genérico 0,7121* 0,5647* 0,4941**
(2,9014) (2,4090) (2,0639)
Domicílio -0,0067 -0,1275***
(-0,1408) (-1,8037)
Classe A 2,3397**
(2,2770)
Classe B 0,3761
(0,6606)
Classe C 0,4892
(0,9079)
Classe D 0,7377
(1,3644)
R2 0,1390 0,4052 0,5278 0,5118 0,6037
_
R2 0,083 0,3457 0,4419 0,4246 0,4551

nº obs. 36 36 36 36 36

Notas: Estatísticas t entre parênteses. *, ** e *** indicam que as variáveis são estatisticamente
significantes
_ nos níveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.
R2: R2 ajustado.
Renda corresponde à renda familiar.

Com relação à demanda de antibióticos os principais resultados são os


seguintes:

1. A demanda por antibióticos é, da mesma forma que por analgésicos, de


preço inelástico. Neste caso, observa-se que um aumento de 1% no preço leva
a uma redução ao redor de 0,4% na quantidade consumida.

[ 20 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

2. A renda familiar só aparece como estatisticamente significante quando


controlada pela prescrição médica. Neste caso, para um aumento de 1% na
renda, a quantidade de antibióticos consumida aumenta 0,23%.

O mesmo ocorre quando se usa a renda do indivíduo (resultados não apre-


sentados). A única diferença é que no caso em que se utiliza a renda pessoal, o
logaritmo desta variável aparece também como significante, ainda que somente
a 10%, quando são incluídos na regressão apenas o preço e a renda.

Log (quantidade) = 4,3490 – 0,3613 Log (preço) + 0,3499 Log (renda pessoal)
(2,4171) (-2,2449) (1,8868)
R = 0,2343
2

Mas, novamente, a renda perde significância quando a “dummy” para gené-


rico é incluída.

3. A “dummy” para indicação médica é sempre significante, independente


do modelo, indicando que a quantidade média de antibiótico consumida é
maior quando há prescrição médica.

4. A “dummy” para genérico aparece sistematicamente como significante, e


quando incluída no modelo faz que a renda (familiar ou do indivíduo) deixe de
ser significante. Uma possível explicação para isso é o fato de o medicamento
genérico ser lançado no mercado com preço pelo menos 35% abaixo do preço
do medicamento de referência. Desta forma, dado o preço unitário mais eleva-
do dos antibióticos, o medicamento genérico passa a ser mais importante do
que a renda para explicar a quantidade demandada. Além disso, somente 11 dos
36 indivíduos que compraram antibióticos ganhavam até R$ 400,00. Tem-se,
assim, uma amostra de indivíduos que, provavelmente, responderiam menos à
renda e mais à diferença de preço entre medicamento de referência e genérico.

5. O número de pessoas que moram no domicílio não afeta a quantidade


demandada. Esta variável aparece como significante no último modelo, mas
com o sinal trocado.

6. Nas regressões diferenciadas por regiões tem-se que todas as “dummies”


apresentaram sinal negativo, sendo a “dummy” para a região Norte estatistica-
mente significante no nível de 1%, e para a região Sudeste estatisticamente

estudosFEBRAFARMA [ 21 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

significante no nível de 5%. Assim, nas regiões Norte e Sudeste, a quantidade


média de antibióticos consumida é menor do que na região Sul (resultados não
apresentados).

Antiinflamatórios

Tabela 3 - Estimativas para a demanda de antiinflamatórios


Variáveis Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5
explicativas
Constante 2,4306 2,5120 2,4314 2,6166 2,7284
(3,8003) (3,7637) (3,5744) (3,6078) (3,5171)
Log Preço -0,8304* -0,8246* -0,8316* -0,8249* -0,8282*
(-13,7598) (-13,2929) (-13,1762) (-12,8905) (-13,0372)
Log Renda 0,0995 0,0986 0,1094 0,1036 0,0508
(1,2319) (1,2118) (1,3155) (1,2350) (0,4925)
Médico -0,0693 -0,0786 -0,0816 -0,1159
(-1,5348) (-0,5261) (-0,5437) (-0,7656)
Genérico -0,1461 -0,1854 -0,2461
(0,4821) (-0,8685) (-1,1075)
Domicílio -0,0268 -0,0269
(-0,7597) (-0,7694)
Classe A 0,2540
(1,0564)
Classe B 0,3646***
(1,6582)
Classe C 0,3641***
(1,7748)
Classe D

R2 0,7813 0,7822 0,7843 0,7868 0,8031


_
R2 0,7730 0,7696 0,7674 0,7655 0,7696

nº obs. 64 64 64 64 64

Notas: Estatísticas t entre parênteses. *, ** e *** indicam que as variáveis são estatisticamente
significantes
_ nos níveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.
R2: R2 ajustado. Como ninguém da classe E consumiu antiinflamatório, a classe D aparece como
classe-base.
Renda corresponde à renda familiar.

[ 22 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

No que se refere à demanda de antiinflamatórios, são estes os principais


resultados:

1. A demanda é inelástica ao preço, sendo o coeficiente da elasticidade-


preço igual a 0,83.

2. A demanda por antiinflamatórios não responde à renda. Deve-se obser-


var, contudo, que os controles para os indicadores médico, genérico e domicílio
aparecem, todos, com o sinal contrário ao esperado. De qualquer forma, eles
nunca apresentam significância estatística. O mesmo ocorre quando a renda
pessoal é utilizada, em vez da renda familiar.

3. As “dummies” para as classes B e C são estatisticamente significantes e


positivas, implicando que estas consomem em média uma maior quantidade de
antiinflamatórios do que a classe D.

4. Quando feita a diferenciação por regiões, todas as “dummies” aparecem


com sinal positivo, sendo as “dummies” para as regiões Norte e Centro-Oeste
significantes no nível de 10%, e para a região Nordeste, significante no nível de
5%, indicando que nestas regiões o consumo médio de antiinflamatórios é
maior do que na região Sul.

estudosFEBRAFARMA [ 23 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

Anti-Hipertensivos

Tabela 4 - Estimativas para a demanda de anti-hipertensivos


Variáveis Modelo 1 Modelo 3 Modelo 4 Modelo 5
explicativas
Constante 3,5521 3,5575 3,6566 4,4524
(5,0799) (5,0393) (4,7069) (4,3622)
Log Preço -0,4653* -0,4650* -0,4616* -0,4578*
(-6,9326) (-6,8639) (-6,6687) (-6,3799)
Log Renda 0,1061 0,1072 0,1037 0,0218
(1,2861) (1,2861) (1,2214) (0,1615)
Genérico -0,0636 -0,0636 -0,0528
(-0,3184) (-0,3156) (-0,2559)
Domicílio -0,0189 -0,0265
(-0,3205) (-0,4371)
Classe A 0,1437
(0,2580)
Classe B -0,0669
(-0,1750)
Classe C -0,3279
(-0,9469)
Classe D -0,3431
(-0,8671)
R2 0,4996 0,5007 0,5018 0,5380
_
R2 0,4792 0,4695 0,4594 0,4520

n.obs. 52 52 52 52

Notas: Estatísticas t entre parênteses. *, ** e *** indicam que as variáveis são estatisticamente
significantes
_ nos níveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.
R2 : R2 ajustado.
Renda corresponde à renda familiar.

Com relação à demanda por anti-hipertensivos os principais resultados são


os seguintes:

1. A demanda mais uma vez parece ser preço inelástico, sendo o coeficiente
da elasticidade-preço igual a -0,46.

2. A demanda por anti-hipertensivos não responde à renda. É importante

[ 24 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

notar que os controles para genérico e domicílio aparecem com o sinal contrário
ao esperado. De qualquer forma, eles não apresentam significância estatística. O
mesmo ocorre quando a renda pessoal é utilizada, em vez da renda familiar.

3. Não foi possível testar o modelo 2, pois todas as pessoas que compraram
anti-hipertensivos o fizeram por indicação médica. Assim, não houve possibili-
dade de se definir a “dummy” para prescrição médica, e esta variável não pôde
ser usada como controle.

4. As “dummies” para classe socioeconômica são todas estatisticamente


insignificantes.

5. Quando feita a diferenciação por regiões, somente a região Centro-Oeste


aparece como estatisticamente significante e com sinal negativo (resultados não
apresentados).

Gasto com Medicamentos

Foi estimada ainda uma equação para o gasto total com medicamentos.
Neste caso, foram estimados, inicialmente, quatro modelos diferentes. No
primeiro foi utilizada somente a renda como variável explicativa; no segundo,
além da renda foi utilizado o número de pessoas no domicílio; no terceiro, adi-
cionalmente, as “dummies” de classe socioeconômica e, no último, também as
“dummies” de região. Reportam-se abaixo somente os resultados do último
modelo, uma vez que nos demais somente a renda aparece como significante.

Gasto total = 19,4912 + 0,0010 Renda familiar* – 0,5253 Domicílio – 1,1895 Norte – 5,6785 Nordeste**
(4,8600) (1,9543) (-1,0129) (-0,3521) (-1,8849)
+ 0,7124 Centro-Oeste – 4,2660 Sudeste + 6,6829 Classe A + 3,9846 Classe B + 0,8407 Classe C – 2,6487 Classe D
(0,2141) (-1,5346) (1,4237) (0,9375) (0,1947) (-0,5944)

R2 = 0,044

Obs: Estatística t entre parênteses. * e ** indicam que os coeficientes são estatisticamente significantes
nos níveis de 5% e 10%, respectivamente.

Vale observar que somente a renda familiar aparece como estatisticamente


significante. A “dummy” para a região Nordeste aparece com sinal negativo e

estudosFEBRAFARMA [ 25 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

estatisticamente significante, indicando que o gasto total médio com medica-


mentos nesta região do País é menor do que na região Sul.
Dado o baixo poder explicativo das variáveis selecionadas, outros modelos
foram testados. Os resultados estão resumidos na tabela 5.

Tabela 5 - Gasto total com medicamentos


Variáveis Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4
explicativas
Constante 15,1475 15,3821 6,8621 14,3151
(14,7571) (13,6770) (2,0074) (3,4016)
Renda 0,0025* 0,0026* 0,0023* 0,0016*
(4,3329) (4,2914) (3,8415) (2,5247)
Imóvel -1,1069
(0,6091)
Cômodos 1,7524** 1,4135**
(2,5401) (1,9967)
Primário -9,7049*
Incompleto (-2,8337)
Ginásio -7,3643**
Incompleto (-2,4039)
Colegial -5,0056***
Incompleto (-1,6185)
Superior -6,0524*
Incompleto (-2,5949)
R2 0,0250 0,0253 0,0335 0,0474
_
R2 0,0236 0,0227 0,0308 0,0396

nº obs. 735 735 735 735

Notas: Estatísticas t entre parênteses. *, ** e *** indicam que as variáveis são estatisticamente
significantes
_ nos níveis de 1%, 5% e 10%, respectivamente.
R2: R2 ajustado.
Renda corresponde à renda pessoal.

[ 26 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

Neste caso, utilizam-se como variáveis explicativas, além da renda: i) o fato do


imóvel ser próprio ou alugado. O fato de ser alugado é representado por uma
“dummy” igual a 1 e o fato de ser próprio por uma “dummy” igual a zero; ii) o
número de cômodos; iii) o grau de escolaridade do chefe da família. Primário
incompleto corresponde a uma “dummy” igual a 1 se o chefe da família é analfa-
beto ou tem primário incompleto e igual a 0 de outra forma. Ginásio incomple-
to corresponde a uma “dummy” igual a 1 se o chefe da família tem primário com-
pleto/ginásio incompleto e 0 de outra forma. Colegial incompleto corresponde a
uma “dummy” igual a 1 se o chefe da família tem ginásio completo/colegial
incompleto e 0 de outra forma. Superior incompleto corresponde a uma
“dummy” igual a 1 se o chefe da família tem colegial completo/superior incom-
pleto. Assim, o grupo de referência é superior completo ou mais.
Ainda que o ajuste das regressões seja extremamente baixo, observaram-se
alguns resultados interessantes:

1. A renda aparece sempre como significante, ainda que sistematicamente


com um coeficiente extremamente baixo. Vale lembrar, entretanto, que a renda
pessoal média é de R$ 948,00, ou seja, as pessoas que vão à farmácia são basica-
mente da classe média, com o que se espera de fato que não haja uma resposta
importante do gasto em relação à renda.

2. Quanto maior o número de cômodos da residência, maior o gasto total


com medicamentos. Se esta variável for tomada como “proxy” para riqueza,
constata-se que riqueza (além de renda) também está positivamente associada
ao consumo de medicamentos. Por outro lado, a propriedade de imóvel não
aparece como estatisticamente significante.

3. O nível de educação parece importante para explicar o gasto com medica-


mentos. Todas as “dummies” de educação aparecem como estatisticamente
significantes e com sinal negativo. Dado que o grupo de referência é o dos indi-
víduos mais educados, este resultado indica que os menos educados consomem
em média menos medicamentos. Os coeficientes estimados indicam, ainda, que
os de menor nível de educação consomem menos do que os demais (basta veri-
ficar a magnitude crescente dos coeficientes associados às diferentes “dummies”)
e que não há diferença no consumo médio entre os que têm entre ginásio com-
pleto e superior incompleto (os coeficientes estimados são praticamente os mes-
mos para as categorias colegial incompleto e superior incompleto).

estudosFEBRAFARMA [ 27 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

4. Quando é desconsiderada a renda e feita uma regressão do gasto total,


somente no número de cômodos e no grau de instrução obtém-se os mesmos
resultados discutidos no item 3 anterior.

Gasto total = 16,4693 + 1,5810 Cômodos – 12,2444 Primário – 9,5413 Ginásio – 7,1017 Colegial
(3,9818) (2,2351) (-3,7263) (-3,2340) (-2,3750)
– 7,4930 Superior
(-3,3012)

R2 = 0,0391

5. Quando é feita uma regressão com renda, cômodos, as diferentes “dum-


mies” de educação e as “dummies” de região, os resultados se mantêm. A única
“dummy” de região que aparece como estatisticamente significante é a do
Nordeste, no nível de 5%. O sinal negativo indica que o gasto médio com
medicamento nesta região é menor do que na região de referência.

As principais conclusões do trabalho são as seguintes:

1. É, de fato, importante tratar separadamente as diferentes classes de


medicamentos, uma vez que, como foi visto anteriormente, elas respondem
diferentemente aos diferentes controles.

2. Apesar das diferenças, a magnitude da elasticidade-preço da deman-


da por qualquer classe de medicamentos está de acordo com o esperado.
Desde que se tratam de bens essenciais, a expectativa seria de coeficientes
estimados inferiores a unidade em módulo, implicando uma demanda
inelástica, como de fato foi observado.

3. No que diz respeito à elasticidade-renda, os resultados diferem. A


elasticidade-renda da demanda por analgésicos e antibióticos é bastante
baixa, porém estatisticamente significante. No caso dos antibióticos, contu-
do, a elasticidade-renda deixa de ser importante quando o fato do medica-
mento ser genérico, ou não, passa a ser considerado. No caso dos antiinfla-
matórios e dos anti-hipertensivos, a renda nunca aparece como estatistica-
mente significante.

[ 28 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

4. Ainda que a equação de gasto total não seja a ideal, ela parece indicar
que educação é também importante para explicar consumo de medicamento.
Assim, além de ampliar o acesso, aumentar o grau de instrução dos con-
sumidores faria com que estes passassem a consumir mais.

Comentários Finais

1. Cada uma das classes terapêuticas apresenta uma estrutura de demanda


própria. Este fato indica o grau de complexidade que a regulação oficial, substi-
tutiva das regras do mercado, deveria ter para alcançar os objetivos a que ela
própria se propõe, de eficiência social e econômica. Isto, observando-se mera-
mente o lado da demanda. Uma análise extensiva às diferenças na estrutura de
oferta mostraria que uma regulação eficiente está entre o impraticável e o
impossível. Ao fazer o possível, o governo desconhece a proporção da ineficiên-
cia que gera.

2. As quatro classes terapêuticas analisadas são inelásticas ao preço, depois de


se isolar os efeitos da renda, riqueza, região, classe social e indicação médica:

a. Analgésicos: -0,609
b. Antibióticos: -0,377
c. Antiinflamatórios: -0,828
d. Anti-hipertensivos: -0,465

Vale dizer que uma redução nos preços em 10% aumentaria a demanda por
analgésico em 6,1%, por antibióticos em 3,8%, por antiinflamatórios em 8,3%,
e por anti-hipertensivos em 4,6%.

3. Estes resultados explicam por que o barateamento relativo dos medica-


mentos não implicou aumentou do acesso e mostram que tampouco irá
implicar. Baratear normativamente os preços dos medicamentos não é eficiente,
uma vez que o excedente do consumidor aumenta de forma inelástica e o exce-
dente do produtor (estímulo da oferta) pode sofrer uma redução mais do que
proporcional, dependendo da estrutura de custos, desconhecida pelo regulador.

4. A teoria econômica sustenta que produtos de preço inelástico podem ser


controlados para se evitar margem acima do lucro considerado normal (taxa

estudosFEBRAFARMA [ 29 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

média de retorno da economia). A teoria ensina, ainda, que empresas em mer-


cado imperfeito maximizam o lucro na faixa elástica da curva de demanda.
Sobre o que este ensinamento se aplica aos medicamentos, no Brasil, pode-se
comentar o seguinte:

a. Os insumos da indústria farmacêutica não são, tampouco, produzidos


por uma indústria em concorrência perfeita. Como não há controle de preço
para os insumos, os laboratórios compram de empresas que operam na faixa
elástica das suas respectivas demandas. Há uma assimetria na regulação.

b. A inelasticidade da demanda por medicamentos, confirmada neste estu-


do, sofre de viés de informação. Os dados foram obtidos em um mercado
tabelado. Portanto, os preços refletem uma indústria que não está livre para
maximizar lucros (como todos os demais setores da economia estão). Se a
indústria farmacêutica estivesse livre, operaria na faixa elástica da demanda,
com a taxa de lucro determinando a entrada no setor. Contudo, o tabelamento
que leva a indústria a operar na faixa inelástica acaba sendo o argumento para
que o governo siga tabelando o setor5.

c. Mesmo que este argumento seja desconsiderado pelo governo, não há


justificativa para que os órgãos reguladores devam ir além do tabelamento,
implementando a redução dos preços. Com esta política, sacrifica-se o exce-
dente do produtor (incentivos de oferta), sem benefícios equivalentes ao exce-
dente do consumidor. Uma política ineficiente.

d. Não menos importante, há que se destacar o fato de se estarem estimando


elasticidades de segmentos homogêneos e que não possuem, por construção,
concorrentes (analgésicos, etc). A elasticidade relevante seria aquela, dentro de
um segmento, que avaliasse o mercado empresarial (por exemplo, produtores de
analgésicos contra produtores de analgésicos). Em suma, não há substituto para
o conjunto homogêneo de produtos, logo não surpreende a baixa elasticidade.
Em paralelo, a política de tabelamento, que padroniza o movimento dos preços e
desestimula a concorrência entre empresas, consolida a baixa elasticidade.

5
No início dos anos 1990, estabeleceu-se a polêmica sobre o preço das mensalidades escolares, sob a ale-
gação de ser a educação um serviço essencial e de haver barreiras à entrada. A liberação dos preços, a
partir de 1995, fez aumentar a taxa de retorno no setor, no curto prazo, e o significativo aumento no
número de escolas, no médio prazo, retirando o preço das mensalidades do rol das preocupações oficiais.

[ 30 ] estudosFEBRAFARMA
ANÁLISE ECONOMÉTRICA EM CROSS-SECTION DA DEMANDA
POR MEDICAMENTOS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

e. A renda não explica a demanda por antibiótico (na melhor estimativa) e


tampouco a de antiinflamatório e anti-hipertensivos. Este resultado era espera-
do, uma vez que o nível de renda é o que determina a participação da população
no mercado. Como os dados foram coletados em farmácias, o nível de renda
pré-qualifica a amostra, compondo-a com pessoas com pouca sensibilidade à
renda. O efeito renda incide onde não se pode medir, numa análise de cross-section.

f. Para os analgésicos, a renda influencia a demanda, embora com uma elas-


ticidade baixa de 0,13. Eventualmente, por se tratar de uma classe de produtos
de valor específico baixo, relativamente às demais classes, o nível da renda
exerça um filtro menos rigoroso para o acesso.

g. A indicação médica não é relevante somente para os antiinflamatórios,


sendo que o consumo médio de analgésicos aumenta em 24,6%, devido à indi-
cação médica, o de antibióticos em 12,9% e o de anti-hipertensivos responde
integralmente à receita médica.

h. O número de pessoas no domicílio só é relevante para o consumo de


antibióticos, embora figure sempre com sinal negativo, implicando que quanto
maior o número de pessoas no domicílio, menor o consumo médio. Este resul-
tado pode estar captando um efeito riqueza, ou seja, quanto maior o número
de pessoas, menor a riqueza per capita.

i. O medicamento genérico só é relevante para a classe dos antibióticos e


explica cerca de 10% no aumento do consumo desta classe terapêutica. A
inclusão do genérico, na estimativa da função demanda, não altera, em nenhu-
ma das classes, a elasticidade do preço. O fato de ser genérico, nas classes de
anti-hipertensivos e antiinflamatórios, implica a redução média do consumo,
ou seja, há uma preferência explícita pelo medicamento de marca. Este é um
resultado que precisa ser mais bem estudado, considerando-se o esforço realiza-
do com relação à implantação do genérico.

j. O controle estatístico por classes sociais mostra que esta distinção não é
relevante para o mercado como um todo, uma vez que não há gradação no con-
sumo médio, à medida que se mudem as faixas de renda. Entretanto, a classe A
consome 50% a mais de antibiótico do que a classe mais pobre, e as classes B e
C consomem 13% a mais de antiinflamatórios do que a classe mais pobre.
Nestes resultados confirma-se a hipótese de que o nível de renda filtra a
amostra de consumidores com acesso à farmácia.

estudosFEBRAFARMA [ 31 ]
SILVIA V. FRIDMAN | FABIANA ROCHA

k. A distinção por região geográfica não é relevante para explicar diferenças


no consumo dos medicamentos analisados.

l. O montante de recursos gasto com medicamento é muito pouco explica-


do pelas variáveis de renda, riqueza e nível de instrução. Estas variáveis respon-
dem por, somente, cerca de 4% do comportamento do gasto.

m. Este resultado sugere que pessoas com situação orçamentária menos


restritiva (classes A, B e C) podem ter acesso às farmácias, uma vez que decidam
fazer a compra. A decisão de comprar, certamente, está associada com seu esta-
do clínico e, conforme aponta o estudo, com o grau de instrução, que parece
refletir mais a capacidade de avaliar as conseqüências de se postergar uma
medicação, do que um efeito renda implícito na qualificação do consumidor.

n. Em suma, como esperado, não há efeito renda sobre aquela parte da


população que tem acesso ao mercado. O efeito renda exclui as pessoas do
mercado (não deixa que cheguem às farmácias) e a baixa elasticidade do preço
não permite que sejam incluídas por meio do barateamento normativo e ofi-
cial. A conclusão, portanto, está na transferência de renda para os que não têm
acesso – a exemplo do modelo PAMSUS de assistência farmacêutica, proposto
pela Febrafarma, em 2001.

o. O tabelamento de preços, bem como sua conseqüência mais grave, o


barateamento normativo, agride o incentivo à oferta (reduzindo o excedente do
produtor), preserva o excedente do consumidor relativamente mais privilegiado
e não promove a inclusão dos menos favorecidos.

A política pública de regulação envolve um conjunto amplo e complexo de


informações e análises, no que o setor farmacêutico está disposto a colaborar, a
exemplo deste estudo que a Febrafarma oferece para análise e debate.

[ 32 ] estudosFEBRAFARMA

Vous aimerez peut-être aussi