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É interessante o fascínio que o futuro exerce sobre as pessoas. Talvez porque seja
muito fácil inventá-lo. Mas será realmente possível prever o futuro?
No entanto, nem tudo será assim tão perfeito. Os homens e as mulheres do século
XXX serão completamente carecas. O que pode servir de consolo para alguns é que
todos, sem exceção, serão desprovidos de cabelos. Outros, porém, podem sentir
uma certa dificuldade para criar algo que os diferencie da massa. Quanto às causas
da calvície generalizada, devem ser vistas como uma advertência para os que
abusam dos cortes, dos chapéus, dos bonés, das boinas e das toucas...
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O sabio inglez prevê ainda o desapparecimento dos grande diarios, que
serão substituidos por livros, magazines illustrados e revistas especiaes,
porque – continua Low –, dentro de mil annos, pouco mais ou menos, com
o premir de um simples botão electrico, receber-se-ão informações de
todas as partes do mundo, o que não impedirá que, ao contacto de outro,
se veja na tela-visão, que cada casa possuirá, ao mesmo tempo, uma
corrida de cavallos em Belmont-Park, Longchamps ou Paris, ainda que se
resida numa villa da America ou da Africa.
Delírios futuristas à parte, o fato é que, como mostra Alasdair MacIntyre, uma
inovação conceitual radical é imprevisível porque, já na própria previsão, o conceito
teria de ser, pelo menos, esboçado. Se é esboçado na previsão, não é um conceito
do futuro, mas do presente. Por exemplo: antes da invenção da roda, seria
impossível alguém adiantá-la sem, ao mesmo tempo, inventá-la. Se alguém
dissesse No futuro, existirá a roda, alguém perguntaria: O que é roda? A explicação
do futurólogo já seria a invenção da roda. Entre as previsões do professor Low não
há nenhuma que mencione um conceito radicalmente novo. Nem poderia haver.
Mesmo no caso da tela-visão não há muita novidade, considerando que a
transmissão de sons por meio de ondas de rádio já era conhecida. O realmente
novo é sempre imprevisível. É por isso que a história nunca tem fim, como já
quiseram afirmar. Vem daí a idiotice presente em livros como O fim da ciência
(1996), de John Horgan, em que o autor pretende dizer se a ciência um dia vai
descobrir tudo que há para ser descoberto e chegar, assim, a seu fim. Claro que,
para essa questão, não há resposta e nunca haverá. Simplesmente porque é
impossível antever a existência futura do radicalmente novo.
Fonte
GUTO. A imprevisibilidade do futuro. Blog NCC. [S.l.:s.n.].