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A imprevisibilidade do futuro

É interessante o fascínio que o futuro exerce sobre as pessoas. Talvez porque seja
muito fácil inventá-lo. Mas será realmente possível prever o futuro?

No banco de dados da Folha de S. Paulo, encontra-se uma matéria, publicada pela


Folha da Manhã em janeiro de 1925, em que um livro de um incerto professor A. M.
Low é resenhado. O professor não se intimidou e já foi logo apontando suas
previsões para o até hoje longínquo ano de 2925. Com toda essa antecedência, não
é difícil liberar a criatividade.

Os que estiverem vivos no final do terceiro milênio terão a vantagem de não


precisar mais dormir. Vejam só, internautas notívagos, será possível passar toda a
madrugada navegando sem que o dia seguinte seja desperdiçado. O repórter da
Folha da Manhã esclarece...

A energia vital, que conserva o funccionamento do corpo, é, não há de


negar, uma fucção eletrica. Si se pudesse obter um systhema pelo qual o
corpo absorvesse essa eletricidade da atmosphera, certo não seria
necessario o somno para que se recuperassem as energias dispendidas e
se continuasse a viver.

O professor Low acredita na proximidade dessa invenção, que evitaria ao


homem, cançado pelo trabalho ou pelo prazer, a necessidade de um somno
restaurador, effeito que elle obteria directamente do ether, por intermedio
de suas vestes, perfeitamente apparelhadas com um metal conductor e
ondas de radio que lhe proporcionariam a parte de energia necessaria para
continuar de pé, por mais um dia.

Dess'arte, nas farras ou defronte á mesa de trabalho, receber-se-ia,


através das vestes, a energia reparadora, sufficiente para que o prazer ou
a tarefa continuassem por tempo indefinido, sem o menor cançaço.

Não é uma maravilha? Nossa estadia no planeta aumentaria em 30%.

No entanto, nem tudo será assim tão perfeito. Os homens e as mulheres do século
XXX serão completamente carecas. O que pode servir de consolo para alguns é que
todos, sem exceção, serão desprovidos de cabelos. Outros, porém, podem sentir
uma certa dificuldade para criar algo que os diferencie da massa. Quanto às causas
da calvície generalizada, devem ser vistas como uma advertência para os que
abusam dos cortes, dos chapéus, dos bonés, das boinas e das toucas...

Referindo-se á queda do cabello, o professor Low affirma que, dentro de


mil annos, a raça humana será absolutamente calva. E attribue estes
effeitos aos constantes cortes de cabello, tanto nos homens como as
mulheres e aos ajustados chapéos, que farão cahir a cabelleira que
herdamos dos monos - doadores liberaes do abundante pêlo que nos cobre
da cabeça aos pés, mas que a pressão occasionada pelos vestidos e
calçados fará desapparecer totalmente.

Finalmente, no meio de tantas previsões escalafobéticas, o grande professor Low


dá uma quase dentro. Só não foi mais exato porque a cautela o fez chutar sua bola
de cristal com tanta força, que não só passou por cima do travessão, como
ultrapassou os limites do estádio e foi cair no ano de 2925. Com a palavra o
entusiasmado repórter...

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O sabio inglez prevê ainda o desapparecimento dos grande diarios, que
serão substituidos por livros, magazines illustrados e revistas especiaes,
porque – continua Low –, dentro de mil annos, pouco mais ou menos, com
o premir de um simples botão electrico, receber-se-ão informações de
todas as partes do mundo, o que não impedirá que, ao contacto de outro,
se veja na tela-visão, que cada casa possuirá, ao mesmo tempo, uma
corrida de cavallos em Belmont-Park, Longchamps ou Paris, ainda que se
resida numa villa da America ou da Africa.

Delírios futuristas à parte, o fato é que, como mostra Alasdair MacIntyre, uma
inovação conceitual radical é imprevisível porque, já na própria previsão, o conceito
teria de ser, pelo menos, esboçado. Se é esboçado na previsão, não é um conceito
do futuro, mas do presente. Por exemplo: antes da invenção da roda, seria
impossível alguém adiantá-la sem, ao mesmo tempo, inventá-la. Se alguém
dissesse No futuro, existirá a roda, alguém perguntaria: O que é roda? A explicação
do futurólogo já seria a invenção da roda. Entre as previsões do professor Low não
há nenhuma que mencione um conceito radicalmente novo. Nem poderia haver.
Mesmo no caso da tela-visão não há muita novidade, considerando que a
transmissão de sons por meio de ondas de rádio já era conhecida. O realmente
novo é sempre imprevisível. É por isso que a história nunca tem fim, como já
quiseram afirmar. Vem daí a idiotice presente em livros como O fim da ciência
(1996), de John Horgan, em que o autor pretende dizer se a ciência um dia vai
descobrir tudo que há para ser descoberto e chegar, assim, a seu fim. Claro que,
para essa questão, não há resposta e nunca haverá. Simplesmente porque é
impossível antever a existência futura do radicalmente novo.

* Em alguns trechos do texto foi mantida a grafia original.

Fonte
GUTO. A imprevisibilidade do futuro. Blog NCC. [S.l.:s.n.].

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