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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 830.657 - RS (2006/0059630-3)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : BANCO SANTANDER BRASIL S/A
ADVOGADOS : GUSTAVO SALDANHA SUCHY E OUTRO(S)
CRISTIANO BAGGIO E OUTRO(S)
RECORRIDO : LOURDES SCHMITT DA COSTA
ADVOGADO : BRUNO MARTINEZ MAHL
INTERES. : NATURE HEALTH ALIMENTOS
ADVOGADO : ALGEMIRO FERRARI - CURADOR

EMENTA

DIREITO COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO.


INEXISTÊNCIA. DUPLICATA SIMULADA. TÍTULO DE CRÉDITO
CAUSAL. VÍCIO FORMAL INTRÍNSECO. ARGUIÇÃO PELO SACADO.
POSSIBILIDADE.
1. Não há falar em violação ao art. 535 do Código de Processo Civil.
O Tribunal a quo dirimiu fundamentadamente todas as questões
pertinentes ao litígio.
2. O ordenamento jurídico veda, em regra, a oposição de exceções
pessoais a terceiro portador do título de boa-fé. Contudo, por ser a
duplicata um título denominado "causal", exigindo, para sua
emissão, lastro em compra e venda mercantil ou prestação de
serviços, e que depende da aceitação do sacado ou do protesto -
com demonstração do negócio preexistente-, não se pode vedar a
quem figura indevidamente em duplicata como sacado, a arguição
de apontado vício formal intrínseco, conducente à inexigibilidade da
duplicata.
3. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos
do voto do Sr. Ministro Relator.Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti e João
Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 19 de maio de 2011(Data do Julgamento)

MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


Relator

Documento: 1062375 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2011 Página 1 de 11
Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 830.657 - RS (2006/0059630-3)

RECORRENTE : BANCO SANTANDER BRASIL S/A


ADVOGADOS : GUSTAVO SALDANHA SUCHY E OUTRO(S)
CRISTIANO BAGGIO E OUTRO(S)
RECORRIDO : LOURDES SCHMITT DA COSTA
ADVOGADO : BRUNO MARTINEZ MAHL
INTERES. : NATURE HEALTH ALIMENTOS
ADVOGADO : ALGEMIRO FERRARI - CURADOR

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

1. Lourdes Schmitt da Costa ajuizou "ação ordinária para decretação de


nulidade de título" em face do Banco Noroeste S/A e Nature Health Alimentos. Informa que
duplicata mercantil, no valor de R$ 643,00 (seiscentos e quarenta e três reais), foi emitida e
levada a protesto - sem que tenha sido celebrado negócio entre as partes.
O Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Santa Cruz do Sul - RS julgou
procedente o pedido formulado na inicial para declarar a nulidade da duplicata.
Inconformado com a decisão, interpôs o Banco apelação para o Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, que negou provimento ao recurso, por entender que a autora
comunicou ao Banco não ser devido o valor cobrado, não havendo nos autos documento a
justificar a emissão da duplicata, sendo indevido o protesto, em que pese a alegação de
boa-fé do apelante.
O acórdão (fls. 124-127) tem a seguinte ementa:
ação de nulidade e cautelar de sustação de protesto. duplica mercantil.
terceiro de boa-fé.
Sem o aceite e a comprovação do negócio jurídico subjacente, a
autora/sacada não está obrigada pelo título. Duplica mercantil deve
corresponder ao negócio jurídico subjacente.
Apelo não provido.

Embargos de declaração opostos e rejeitados.


Inconformado com a decisão colegiada, interpôs o apelante recurso especial
com fundamento no artigo 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal,
sustentando omissão, divergência jurisprudencial e violação dos artigos 17 e 25 da Lei
5.474/68; 535 do Código de Processo Civil e 17 da Lei Uniforme das Letras de Câmbio e
Notas Promissórias.
Documento: 1062375 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2011 Página 2 de 11
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Sustenta que ao terceiro de boa-fé não podem ser opostas exceções que o
devedor teria contra seu credor originário, pois não conheceu ou participou no negócio jurídico
subjacente, tendo recebido o título por endosso.
Não houve oferecimento de contrarrazões.
Por decisão do Ministro Cesar Asfor Rocha no Ag. 627.902 - RS, foi
determinada a subida do presente recurso especial.
É o relatório.

Documento: 1062375 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/05/2011 Página 3 de 11
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RECURSO ESPECIAL Nº 830.657 - RS (2006/0059630-3)

RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO


RECORRENTE : BANCO SANTANDER BRASIL S/A
ADVOGADOS : GUSTAVO SALDANHA SUCHY E OUTRO(S)
CRISTIANO BAGGIO E OUTRO(S)
RECORRIDO : LOURDES SCHMITT DA COSTA
ADVOGADO : BRUNO MARTINEZ MAHL
INTERES. : NATURE HEALTH ALIMENTOS
ADVOGADO : ALGEMIRO FERRARI - CURADOR

EMENTA

DIREITO COMERCIAL. RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO.


INEXISTÊNCIA. DUPLICATA SIMULADA. TÍTULO DE CRÉDITO
CAUSAL. VÍCIO FORMAL INTRÍNSECO. ARGUIÇÃO PELO SACADO.
POSSIBILIDADE.

1. Não há falar em violação ao art. 535 do Código de Processo Civil.


O Tribunal a quo dirimiu fundamentadamente todas as questões
pertinentes ao litígio.
2. O ordenamento jurídico veda, em regra, a oposição de exceções
pessoais a terceiro portador do título de boa-fé. Contudo, por ser a
duplicata um título denominado "causal", exigindo, para sua
emissão, lastro em compra e venda mercantil ou prestação de
serviços, e que depende da aceitação do sacado ou do protesto -
com demonstração do negócio preexistente-, não se pode vedar a
quem figura indevidamente em duplicata como sacado, a arguição
de apontado vício formal intrínseco, conducente à inexigibilidade da
duplicata.
3. Recurso especial não provido.

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VOTO

O SR. MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO (Relator):

2. Não há falar em violação do artigo 535 do Código de Processo Civil, pois o


tribunal de origem dirimiu todas as questões pertinentes ao litígio, afigurando-se dispensável
que venha examinar uma a uma as alegações e fundamentos expendidos pelas partes.
Além disso, basta ao órgão julgador que decline as razões jurídicas que
embasaram a decisão, não sendo exigível que se reporte de modo específico a determinados
preceitos legais.
3. A questão controvertida é quanto à possibilidade de a sacada, vítima de
emissão de duplicada simulada - sem aceite e sem qualquer lastro em compra e venda ou
prestação de serviço-, sofrer cobrança pelo Banco, terceiro de boa-fé que recebeu o título por
meio de endosso.
3.1. Cumpre consignar que o acórdão recorrido dispôs:
Na hipótese dos autos, o banco apontou para protesto uma duplicata
mercantil no valor de R$ 643,00, com vencimento em 21-7-97. A sacador
constou a empresa NATURE.
A autora, quando recebeu a intimação, comunicou ao banco a circunstância
de não ser devido o valor cobrado, fl. 8 da cautelar.
No processado não consta qualquer documento a justificar a emissão da
duplicata mercantil, a qual é título causal, conforme a Lei 5.474/68, artigos
1º e 20.
Se inexiste a obrigação assumida pela sacada, esta não deve responder
pelo título. Indevido o protesto. Não importa, então, a alegação de boa-fé do
banco apresentante.
A invalidade da duplicata, contudo, conforme o pedido da petição inicial, é
somente em relação ao autor, não impedindo o banco de fazer valer seu
eventual direito contra a sacadora/endossante, de acordo com os princípios
do direito cambiário. (fls. 125-126)

3.2. A legitimidade passiva do Banco é manifesta, pois detém a duplicata


simulada (no caso, título que não tem lastro em compra e venda mercantil ou prestação de
serviços) e sem aceite, tendo inclusive levado a protesto a cártula, mesmo advertido pela
autora.
Assim são os precedentes da Corte:
Comercial e Processual Civil. Duplicata Simulada. Protesto.
Endosso-desconto. Banco Endossatário. Legitimidade. Inoponibilidade das
Exceções Pessoais. Direito de Regresso. Exercício Regular de Direito.
Acórdão Recorrido. Omissão.
- Limitando-se o Tribunal a quo a examinar a apelação sob o enfoque
restrito da devolutividade e a cassar a sentença por "error in iudicando" não
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se pode acoimar o acórdão recorrido de omisso.
- Banco que recebe em operação de desconto duplicata fria e a protesta,
encaminhando o nome do devedor ao Serasa, detém legitimidade para
figurar no pólo passivo de ação de anulação de título, cancelamento de
protesto e reparação de danos morais.
- Ainda que a instituição financeira atue por imperativo legal, no exercício
regular de seu direito, sendo-lhe inoponível as exceções pessoais do
devedor, tais objeções são intrínsecas à responsabilidade civil da instituição
bancária e, portanto, encerram questões meritórias. Podem ser causas de
exclusão da responsabilidade do Banco-endossatário, mas não de sua
legitimidade passiva.
- Restringindo-se o Recurso Especial a temática, ainda não apreciada pelo
acórdão recorrido, inviável se afigura o seu conhecimento por falta de
prequestionamento.
- Agravo no Recurso Especial a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 216.673/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 22/10/2001, DJ 19/11/2001, p. 261)

CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. A instituição financeira que desconta


duplicata mercantil assume risco próprio do negócio. Se a leva a protesto
por falta de aceite ou de pagamento, ainda que para o só efeito de garantir
o direito de regresso, está legitimada passivamente à ação do sacado.
Recurso especial não conhecido.
(REsp 846.536/MG, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/
Acórdão Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em
23/08/2007, DJe 28/10/2008)

AÇÃO ANULATÓRIA DE TÍTULO E CANCELAMENTO DE PROTESTO


CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DUPLICATA SEM
CAUSA. COMUNICAÇÃO.
ENDOSSO TRANSLATÍCIO. RESPONSABILIDADE DO ENDOSSATÁRIO
PELOS DANOS CAUSADOS AO SACADO. VALOR INDENIZATÓRIO.
NÚMERO DE VEZES O TÍTULO PROTESTADO. INADEQUAÇÃO.
Incontroverso o fato de a sacada haver comunicado a ausência de lastro da
duplicata que vem a ser anulada em juízo, o banco endossatário, por
endosso translatício, que levou o título a protesto, tem legitimidade passiva
para ação de indenização e responde, na proporção da sua culpa, pelo
dano experimentado pela sacada com os efeitos do ato, relativamente a ela,
indevido.
O valor da indenização há de observar a parcela de culpa de cada réu, não
devendo corresponder a um número de vezes o título protestado.
Recurso especial conhecido pelo dissídio e parcialmente provido para
conformar o valor indenizatório à atual jurisprudência da Corte.
(REsp 252.481/SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA,
julgado em 23/04/2002, DJ 26/08/2002, p. 225)

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COMERCIAL. DUPLICATA SEM ACEITE E SEM LASTRO COMERCIAL.
ENDOSSATÁRIA. ASSUNÇÃO DO RISCO. RESPONSABILIDADE. DANO
MORAL. CABIMENTO. VINCULAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO. INVIABILIDADE.
O endossatário de duplicata sem aceite e sem lastro comercial assume o
risco de ser demandado por eventuais intempéries relacionadas ao título,
devendo responder por danos morais. Precedentes.
"Inadmissível a fixação do montante indenizatório em determinado número
de salários mínimos" (REsp n. 443.095/SC, relatado pelo eminente Ministro
Barros Monteiro, DJ de 14/04/2003).
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.
(REsp 592939/MG, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA,
julgado em 17/08/2004, DJ 16/11/2004, p. 297)

4. Quanto ao mérito, o artigo 25 da Lei 5.474/68 prescreve que "aplicam-se à


duplicata e à triplicata, no que couber, os dispositivos da legislação sôbre emissão, circulação
e pagamento das Letras de Câmbio".
Com efeito, o título se submete às regras de direito cambial e aos seus
princípios informadores: cartularidade, abstração, autonomia das obrigações cambiais e
inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé.
4.1. Ocorre que a duplicata é título de crédito denominado "causal", nada
obstante a impropriedade da linguagem, pois, na verdade, deve corresponder a uma efetiva
operação de compra e venda mercantil ou a uma prestação de serviços, só podendo a
duplicata ser emitida para "a cobrança do preço de mercadorias vendidas ou serviços
prestados".
Se inexistir plena comprovação do negócio subjacente, as duplicatas são
inexigíveis por vicío originário, que importa sua ineficácia. (FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual
de Direito Comercial. 7. ed., São Paulo: Atlas, pp. 469-471)
4.2. No caso em apreço, a sacada, ora recorrida, não opõe exceção pessoal,
mas sim argúi vício de origem de natureza formal, que conduz à inexigibilidade da duplicata,
cujo negócio jurídico subjacente nem sequer foi demonstrado pela ora recorrente.
Dessarte, a ineficácia da obrigação cambiária, no que tange à autora, é
patente, como observado no recente julgamento do REsp. 774.304 - MT, por mim relatado:
Deveras, o que o ordenamento jurídico brasileiro veda - e isso desde o
Decreto n.º 2.044/1908, passando-se pelo Código Civil de 1916 e,
finalmente, chegando-se à Lei Uniforme de Genebra - é a oposição de
exceções de natureza pessoal a terceiros de boa-fé, vedação que não
abarca os vícios de forma do título, extrínsecos ou intrínsecos, como a
emissão de duplicata simulada, desvinculada de qualquer negócio jurídico
e, ademais, sem aceite ou protesto a lhe suprir a falta. Em realidade, tal
prática foi erigida há muito a ilícito penal (Art. 172 do Código Penal - Emitir

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fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria
vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado ).
Em relação à Duplicata - é até ocioso ressaltar -, a Lei n.º 5.474/68
condiciona a sua emissão à realização de venda mercantil ou prestação de
serviços, bem como a aceitação do sacado ou, na ausência, o protesto
acompanhado de comprovante da realização do negócio subjacente, sem
os quais estará configurado o vício de forma intrínseco, o qual poderá ser
oposto pelo sacado a qualquer endossatário, ainda que de boa-fé.

O precedente tem a seguinte ementa:


DIREITO COMERCIAL. DUPLICATA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.
EMISSÃO IRREGULAR. SIMULAÇÃO. INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES
PESSOAIS A ENDOSSATÁRIOS DE BOA-FÉ. NÃO-APLICAÇÃO. VÍCIO
FORMAL INTRÍNSECO.
1. O que o ordenamento jurídico brasileiro veda - e isso desde o Decreto n.º
2.044/1908, passando-se pelo Código Civil de 1916 e, finalmente,
chegando-se à Lei Uniforme de Genebra - é a oposição de exceções de
natureza pessoal a terceiros de boa-fé, vedação que não abarca os vícios
de forma do título, extrínsecos ou intrínsecos, como a emissão de duplicata
simulada, desvinculada de qualquer negócio jurídico e, ademais, sem aceite
ou protesto a lhe suprir a falta.
2. Em relação à Duplicata - é até ocioso ressaltar -, a Lei n.º 5.474/68
condiciona a sua emissão à realização de venda mercantil ou prestação de
serviços, bem como a aceitação do sacado ou, na ausência, o protesto
acompanhado de comprovante da realização do negócio subjacente, sem
os quais estará configurado o vício de forma intrínseco, o qual poderá ser
oposto pelo sacado a qualquer endossatário, ainda que de boa-fé.
3. Recurso especial conhecido e improvido.
(REsp 774304/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 05/10/2010, DJe 14/10/2010)

No mesmo diapasão:
RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. MULTA. CARÁTER
PREQUESTIONADOR. DESCABIMENTO. COMERCIAL. DUPLICATA. FALTA
DE ACEITE. COMPROVANTE DE ENTREGA DAS MERCADORIAS OU
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. AUSÊNCIA. ENDOSSATÁRIO DE BOA-FÉ.
INOPONIBILIDADE. SACADO.
I - Nos termos da Súmula 98 do Superior Tribunal de Justiça, "embargos de
declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não
tem caráter protelatório." II - A duplicata não aceita e desprovida do
comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação dos serviços não
pode ser oposta ao sacado, mesmo pelo endossatário de boa-fé, a quem se
resguarda o direito de regresso contra o endossante.
III - Ausente o aceite das duplicatas, cabe ao endossatário exigir do
endossante a apresentação do comprovante de entrega das mercadorias
ou da prestação dos serviços, no momento em que realizado o endosso.
IV - Impossibilidade de compensação de dívidas da endossatária com o
sacado, com créditos inscritos em duplicata desprovida de exigibilidade.
Recurso parcialmente provido, apenas, para exclusão da multa dos
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embargos declaratórios.
(REsp 770.403/RS, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 25/04/2006, DJ 15/05/2006, p. 212)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. DUPLICATA. ACEITE. PROTESTO. AUSÊNCIA. CAUSA
SUBJACENTE. INEXISTÊNCIA. FALTA DE EXEQUIBILIDADE.
PRECEDENTES. MULTA. ARTIGO 557, § 2º, DO CPC. DESPROVIMENTO.
(AgRg no Ag 1234304/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,
QUARTA TURMA, julgado em 09/11/2010, DJe 23/11/2010)

5. A título de registro, saliente-se que a decisão recorrida amolda-se


integralmente à jurisprudência desta Corte, pois reconhece que o vício de origem não poderá
ser oposto pelo endossante.
Confira-se:
Protesto. Título sem aceite. Direito de regresso do portador contra o
endossante. Hipótese de desfazimento do negócio subjacente.
1. Já assentou esta Corte que reconhecida a hipótese de desfazimento do
negócio subjacente, o endossatário de boa-fé deve ter resguardado o seu
direito de regresso, embora procedente a cautelar de sustação de protesto
de título sem aceite.
2. Recurso especial conhecido e provido, em parte.
(REsp 549.766/RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 14/06/2004, DJ 06/09/2004, p. 257)

No mesmo sentido, doutrina de nomeada:

A duplicata é, ao mesmo tempo, título causal e à ordem, isto é, liga-se, na


origem, a um negócio de compra e venda mercantil e mantém a mais
importante característica das cambiais: é endossável e apto à circulação de
crédito. Navegaria, pois, entre a causa que lhe deu origem e a ausência
(abstração) dessa causa durante seu percurso circulatório.
Por esta razão, muito lucidamente, Pontes de Miranda afirma que "título
faz-se abstrato com o endosso, ou com o aceite. Com o endosso, que pode
ser antes do aceite, o endossatário providencia para que seja apresentado
para aceite, ou, se à vista, para aceite-pagamento. Antes do aceite não há
ação cambiária - executiva ou não- contra o comprador, pela duplicata
mercantil.
[...]
O valor jurídico é, sobretudo, apreciado porque garante os efeitos cambiais
da duplicata simulada, em benefício dos portadores de boa-fé, respondendo
adequadamente à perplexidade que se levanta contra os que, sustentando
a causalidade absoluta da duplicata, optam por entender que se assim
emitida não pode ser admitida como título de crédito. Resposta que Waldirio
Bulgarelli replica em tom questionador: 'Convém não esquecer a tal
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propósito, que emitida uma duplicata simulada e endossada pelo emitente,
se viesse a não ser considerada duplicata, e, portanto, título de crédito, o
endossatário, terceiro de boa-fé, perderia então o seu direito de receber o
valor do título do endossador e eventuais avalistas?" (NEGRÃO, Ricardo.
Manual de Direito Comercial e de Empresa. 2. ed., São Paulo: Saraiva,
2011, vol. 2, p. 168-170)

Da causalidade da duplicata, note-se bem, não é correto concluir qualquer


limitação ou outra característica atinente à negociação do crédito registrado
pelo título. A duplicata mercantil circula como qualquer outro título de
crédito, sujeita ao regime do direito cambiário. Isso significa, em concreto,
que ela comporta endosso, que o endossante responde pela solvência do
devedor, que o executado não pode opor contra terceiros de boa-fé
exceções pessoais, que as obrigações dos avalistas são autônomas em
relação às dos avalizados, etc. Não é jurídico pretender vinculação entre a
duplicata e a compra e venda mercantil, que lhe deu ensejo, maior do que a
existente entre a letra de câmbio, a nota promissória ou o cheque e as
respectivas relações originárias. (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito
Comercial: direito de empresa. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2008, vol. 1,
p. 459)

Com efeito, é resguardado os direitos de terceiro portador de boa-fé, sem


contudo prejudicar, impondo obrigação descabida, a quem figura indevidamente no título
como sacado.
Vale ressaltar, ainda, que o direito reprime com extremo vigor a emissão de
duplicata simulada.
Observa Ricardo Negrão ser "crime previsto no art. 172 do Código Penal e, em
se tratando de empresário falido - individual ou sociedade empresarial -, poderá sujeitar-se às
penas do art. 168 da Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 - fraude a credores". (NEGRÃO,
Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. 2. ed., São Paulo: Saraiva, 2011,
vol. 2, p. 180)
6. Diante do exposto, nego provimento ao recurso especial.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA

Número Registro: 2006/0059630-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 830657 / RS

Números Origem: 200401252350 36671 57631 70006991400 70008531030

PAUTA: 19/05/2011 JULGADO: 19/05/2011

Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HUGO GUEIROS BERNARDES FILHO
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO SANTANDER BRASIL S/A
ADVOGADOS : GUSTAVO SALDANHA SUCHY E OUTRO(S)
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RECORRIDO : LOURDES SCHMITT DA COSTA
ADVOGADO : BRUNO MARTINEZ MAHL
INTERES. : NATURE HEALTH ALIMENTOS
ADVOGADO : ALGEMIRO FERRARI - CURADOR

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Títulos de Crédito

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti e João Otávio de Noronha votaram
com o Sr. Ministro Relator.

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