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UNIVERSIDADE AUTÓNOMA DE LISBOA, LUÍS DE CAMÕES

MESTRADO EM PSICOLOGIA, COM ESPECIALIZAÇÃO EM CLÍNICA E

ACONSELHAMENTO

UNIDADE CURRICULAR DE PERTURBAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA


PESSOA

Docente: Prof. Doutor Raul Guimarães Lopes


Discente: Valéria da Silva - 20080431

Estudo de Caso

Resumo: Este trabalho tem como objectivo, um estudo de caso, tendo por base dados

apurados na entrevista feita a pessoa em causa. A biografia da mesma, as possíveis

perturbações e cuidados propostos também serão abordados. O trabalho ainda terá uma

componente teórica, onde serão revistos alguns conceitos fundamentais para a

compreensão do tema, que é Saúde Existencial.

Palavras - chave: Entrevista, Biografia, Perturbações, Cuidados, Saúde Existencial.

Abstract: The purpose of this article is a case study, based on the information taken by

an interview done with the person in study. Her biography, her possible perturbations

and proposed care will be the issues in this article. The work will have a theoretical

component, where some fundamental concepts will be revised, to help understand the

main issue, which is Existential Health.


Key – words: Interview, Biography, Perturbations, Care, Existential Health.

Apresentação biográfica da Pessoa

Darei a minha entrevistada o nome fictício de Maria Rita. Portanto, a Maria Rita tem 47

anos, nasceu em Angola, filha de pais angolanos, tendo um irmão. Teve uma infância,

que ao seu ver foi bastante normal e feliz. Vivia num meio familiar coeso, que lhe

proporcionou desenvolver-se numa atmosfera de paz e segurança. Aos doze anos, tem a

sua primeira paixão, por um colega da escola. No entanto tem que sair de Angola com

toda a sua família, praticamente “fugida”, vindo viver para Portugal, este contacto acaba

por força das circunstâncias sendo abruptamente interrompido (já em Portugal, tentam

na idade uma reaproximação, que não é de todo concretizada). Aos doze anos, vê-se

obrigada a adaptar-se a uma nova realidade, marcou-a muito o facto de os pais terem

perdido praticamente todos os bens que possuíam. Segue sua vida escolar, no Liceu,

ultrapassando algum preconceito, por serem rotulados, como “retornados”, rótulo que

nem sequer correspondia a sua condição real. Conclui os seus estudos, já a trabalhar em

part time, e tira o Curso de Técnica de Turismo.

Maria Rita casa-se aos vinte e seis anos, estando apaixonada, mas diz ter ficado marcada

a sua paixão da adolescência. Seu casamento é um tanto conturbado, pois é marcado por

constantes traições por parte do marido, dividiam suas vidas entre Lisboa e Porto,

passando algumas vezes semanas sem estarem juntos. Já desiludida com a degradação

do seu casamento, conhece aquele que viria mesmo a ser “o amor da sua vida”, para

logo a seguir separar-se do seu marido, pondo fim, a dez anos de casamento.

Maria Rita começa então uma nova relação aos 36 anos com o João, que também é

pautada por muita liberdade e independência por parte de ambos. Mantiveram-se

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vivendo em casas separadas, mesmo com o passar do tempo e com uma maior

proximidade entre eles.

Maria Rita engravida do João, sendo que a gravidez não fazia parte dos planos de

nenhum dos dois. Entretanto o seu pai adoece, e lhe é diagnosticado um Tumor

Cerebral, vindo o mesmo a falecer um mês depois. Com estes acontecimentos Maria

Rita acaba por sofrer um aborto espontâneo, a seguir ao sepultamento do pai. Diz que

ela e o João reagiram com frieza diante deste facto.

Maria Rita no entanto, enfrentou mais dissabores em relação a saúde, quando foi

diagnosticado em João um Cancro no pulmão, já em estágio avançado. Acompanhou

todo o processo do tratamento, indo inclusivamente viver para a casa do João, sendo a

única que se ocupava dos seus cuidados. Confessa ter sido um período extremamente

difícil, tendo presenciado aquilo a que ela chamou de “degradação” do seu

companheiro. Diz ter momentos que se vai a baixo, ainda por conta desta perda e

também pela falta que sente do seu país natal.

Maria Rita neste momento, tem um companheiro com quem vive, e diz ser o objectivo

da sua vida, ver sua única sobrinha, a quem considera como uma filha, formada e bem

na vida.

Saúde Existencial

“Mais que mera saúde orgânica ou forma estética corporal, a Saúde Existencial é um

tecido bem tramado de sentimento de co-pertencer, co-responder ao mundo podendo

transformá-lo, e o sentimento de integrar, verdadeiramente, o corpo.”

(Leonel de Souza)

A Saúde Existencial, está relacionada de forma directa, com o facto de existir, e não

apenas viver. Segundo Lopes (2006), existir é não ceder a inautenticidade, é ser

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persistente apesar de todos os obstáculos que possam surgir, enquanto realiza-se algo

com valor.

Viver, de acordo com Lopes (2006) é algo que acontece, através de tendências

primárias, por impulsos, por motivos superficiais, enquanto existir, é algo muito mais

profundo, que nos leva a realizar valores por nós eleitos, para os quais somos atraídos.

Lopes (1982) nos dá uma ideia, clara e profunda do que a tarefa de existir, comporta em

si. Como assumir a Liberdade, ser-se responsável, e comprometido com o seu Devir,

responder ao chamado de sua vocação, e acima de tudo, “ Existir é um acto de coragem

e de Fé”.

Porém, ter Saúde Existencial, não é apenas Existir, mas sim, Existir Autenticamente, o

que segundo Lopes (2006) é possível, quando o existente, exerce sua possibilidade de

escolha e decisão em consonância com o seu “projecto existencial”.

Autenticidade de acordo com Lopes (2006) é uma tarefa existênciária de escolher a si

próprio, tarefa que percorre todas as esferas da existência (a estética, a ética e a

religiosa). Segundo Almeida Oliveira (2007) existir autenticamente implica ter a

coragem de olhar de frente a possibilidade do próprio não-ser, de sentir a angústia de ser

– para – a morte. A existência autêntica significa aceitação da própria finitude. No

existir autenticamente o homem constrói-se, segundo o seu próprio projecto. Existe

autenticamente quem leva em consideração a morte

(http://www.geocities.com/slprometheus/html/heidegger.htm).

Segundo Lopes (2006), o existente morre todos os dias, para as suas falhas e para tudo

aquilo que contraria, o pleno exercício do seu “vocatio”. O existente irá imortalizar-se à

medida que vai existindo com ética, e com ética religiosa, buscando a perfeição de si,

servindo como modelo e vivendo a “ coragem de ser” (Lopes, 2006).

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De acordo com Carl Rogers (1985) o termo congruência é fundamental para tudo aquilo

que vem ser a base em terapia, e nas interacções subjectivas de uma maneira geral.

Congruência indica uma relação entre experiência, consciência e comunicação.

Autenticidade por sua vez, não pode ser considerada sinónimo de congruência. Segundo

a visão de Heidegger (Ser e Tempo) ser autêntico é poder-ser -si mesmo, e autenticidade

tem uma correspondência com “cuidado (cura), é o chamado para o cumprimento de si-

mesmo.” Portanto ser autêntico, pode ser interpretado, como possuindo a si mesmo,

compreendendo a si mesmo. Assim como inautenticidade é quando deixa-se de ser si-

mesmo para viver o impessoal, quando perde-se o cuidado de si.

Descrição da Entrevista

No decorrer da entrevista (Anexo A), pode-se perceber que a entrevistada Maria Rita,

tem como factos marcantes em sua vida, a sua vinda com a família para Portugal e a

morte do seu companheiro.

Com sua mudança para Portugal ressente-se de ter deixado parte importante da sua vida

para trás e fala da sua adaptação., “ Odiei o Liceu, comecei a odiar as pessoas, odiar

entre aspas, não é, eu não consigo odiar ninguém. Para já, o frio, cheguei aqui em 1976,

no dia 1 de Março, com temperatura de 0º grau, quando eu saí de lá, com 40ºgraus,

depois a adaptação de uma nova vida”. Maria Rita diz que nem ela nem os seus

familiares perderam a “maneira africana de ser”. Nesta altura, percebe que sente

demasiada falta do seu país … “Mas hoje com 47 anos, eu sinto falta do meu país, da

minha terra, de várias coisas, a liberdade, a maneira de estar, a maneira de ser das

pessoas, o espaço, a amplitude, tudo isto, o calor, o calor, o calor não em termos de

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temperatura, mas o calor Humano. Pronto. E depois aquela história, o stress contínuo

que nós vivemos na Europa, não acontecia isto…”

A doença e morte do seu companheiro, também lhe deixaram marcas profundas., “Era,

horrível. Por acaso eu estava a assistir a degradação de uma pessoa, com 1,80, que tinha

80 quilos de peso, que é uma figura… ele era um homem, interessante, muito

interessante… Só que é assim, eu sou uma pessoa que consigo lhe dar com estas coisas,

ninguém me via a chorar…”.

Maria Rita argumenta consigo própria para não cair, para não entregar-se ao desânimo,

diz que não resolveria os seus problemas, tomar medicamentos. Passou logo após a

morte do João, momentos de esgotamento., “Teve uma altura em que a única coisa que

eu queria fazer, era dormir, Só a noite, atenção. Era um cansaço sobre humano…mas é

contra a minha natureza entrar em depressão.” Esforça-se para não demonstrar fraqueza

diante das outras pessoas, muito embora, sinta-se fraca, com alguma frequência., “Ao pé

das pessoas, nunca dei parte fraca, não sou pessoa de dá parte fraca ao pé das pessoas,

não gosto… quando estava sozinha, então aí me deixava levar na onda.”

Diz durante a entrevista que tem sido difícil sair da cama todos os dias, mas reage logo,

dizendo em tom de brincadeira, que ficar na cama, não ia senão, lhe aumentar os

problemas. Declara uma grande frustração, diante da impotência que experimenta em

relação a situação das coisas e pessoas que a cercam., “Complica-me muito o sistema

nervoso, eu não poder ajudar pessoas que eu acho que devia ajudar.”

Expõe ser ela o alicerce de toda a família, mas que tem sempre o apoio do irmão., “O

meu irmão é o meu «ai Jesus». A minha sobrinha, é como se fosse minha filha. Não sou

uma pessoa de grandes afectividades…adoro a minha família, somos uma família unida,

coesa, mas não sou melosa.”

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Por fim, Maria Rita que no inicio da entrevista afirmou que ia vivendo por viver, e que

não havia nada que desse real sentido a sua existência, termina fazendo uma avaliação

sobre si própria e admitindo ter no futuro da sobrinha, um objectivo de vida.,

“Considero-me uma boa pessoa, não estou a me auto elogiar, atenção, não sou

prepotente a este ponto, mas acho que sou uma boa pessoa, neste momento, com esta

idade, considero-me mesmo uma óptima pessoa, foi com os meus erros todos, que eu

aprendi a ser a pessoa que eu sou hoje… O objectivo da minha vida é ver a minha

sobrinha bem-criada e bem formada na vida, quero ver a menina bem na vida.”

Possíveis Perturbações

Após uma análise da entrevista efectuada pode-se perceber que a entrevistada vive em

função de ocultar os seus sentimentos, em suas palavras insistia em afirmar, a sua

capacidade para “dar a volta por cima sozinha”, no entanto o que foi emergindo no

decorrer da entrevista, foi um ser exaurido, desanimado e triste. Falou sobre o

sentimento de impotência, em relação ao estado das coisas que a cercam. A própria diz

que, vai vivendo por viver, o que segundo Lopes (2006) é uma forma de desespero.

Apesar de ir com o movimento da massa e de até esboçar algum interesse pelo futuro da

sobrinha, fica patente a ausência de um projecto existencial. Inautenticidade, quando o

impessoal, se sobrepõe, ao ser si-mesmo.

Cuidados propostos

De acordo com Lopes (2006) a crise pode levar a pessoa a uma situação correspondente

a estar próxima de um precipício, possibilitando o salto, o que acontecendo no âmbito

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da existência pode trazer um novo estado gerado por actualizações realizadas no

existente, trazendo de volta a esperança e a redescoberta do seu projecto existencial.

O processo de renovação, segundo as esferas existenciais (estética, ética e religiosa) é o

caminho para que a Maria Rita obtenha Saúde Existencial, para tal proponho que ela

tenha um acompanhamento psicológico de acordo com a Perspectiva Existencial.

Conclusão

No decorrer deste trabalho, pudemos perceber o quão importante são os acontecimentos

na vida de uma pessoa, a nível de possibilitar o encontro de si-mesma ou o desencontro,

causando desespero, inautenticidade, etc. O desespero pode impulsionar para o salto

existencial, trazendo autenticidade para a existência da pessoa, e desta forma Saúde

Existencial ou pode mantê-la num estado de inautenticidade, gerando um existir doente.

“Escolher a si mesmo, ser autor de seu próprio roteiro, ser livre e por conseguinte

responsável”, não são de todo tarefas fáceis. Já dizia Kierkegaard ser a Existência tarefa

(Lopes, 2006). Tarefa árdua, não deixar que o desespero venha ao nosso encontro, que

instale-se em nossa vida, anulando a nossa Existência. Maria Rita perdeu-se de si, e hoje

vive ao sabor das massas, vive o social, o impessoal, mas como este trabalho mostra

renovar é possível, e é nisso que acreditamos. Com o acompanhamento adequado,

Maria Rita poderá Existir Autenticamente, e desta forma ter Saúde Existencial.

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Referências Bibliográficas
Almeida Oliveira, J. (2007). www.facapa.edu.br

Leonel de Souza, L. (s. d.). www.redepsi.com.br

Lopes, R., G. (1982). Progresso em terapêutica psiquiátrica. Porto: HCF. (p.305-

318).

Lopes, R., G. (2006). Psicologia da Pessoa e Elucidação Psicopatológica. Porto/

Maia: Higiomed Edições.

Rogers, C., R. (1985). Tornar-se pessoa (7ª ed). Lisboa: Moraes editores.

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