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Diretor do "New York Times" diz

que internet deixa as pessoas


burras; você concorda?
DER SPIEGEL
Christian Stöcker

A internet nos torna burros. Ela nos rouba a alma, esvazia


nossas personalidades e reduz nosso tempo de atenção.
Essa ideia nonsense agora está sendo expressa por uma
fonte inesperada: Bill Keller, diretor executivo do New York
Times, jornal que sabe bem como usar a rede.

A demonização das ferramentas, não apesar de sua utilidade,


mas por causa dela, é um dos argumentos falsos mais ridículos no
debate recente sobre a internet e a digitalização. Calculadoras de
bolso diminuíram nossas habilidades matemáticas, dizem alguns,
tornando-nos menos capazes de fazer cálculos de cabeça do que,
digamos, eram as pessoas nos anos 50.
Os discos rígidos dos computadores e cartões SD dos telefones
celulares estão roubando o resto da capacidade de memorização
que a maldita mídia impressa já nos havia tirado. No momento, os
sistemas de GPS estão destruindo nosso senso de direção. Ah, as
muitas formas como as máquinas estão nos privando de pensar e
fazendo com que nossos cérebros murchem. “Estamos
terceirizando nossos cérebros”, escreveu o editor executivo do
New York Times Bill Keller na última quarta-feira. De acordo com
sua lógica, resolver problemas do mundo real – fazer contas,
armazenar informação e encontrar o caminho nas ruas – é um
passo na direção errada, porque isso nos deixa cada vez mais
com os cérebros flácidos.
O lamento de Keller sobre nossas capacidades cognitivas e
habilidades mostra o absurdo que é quando alguém estende seus
argumentos um pouco mais para o passado. Hoje, muito poucas
pessoas sabem fazer cestas, assar pão ou arar a terra com um
boi, um rastelo ou um arado. Na verdade, só o esforço físico de
arar um campo seria demais para nós. Todos na Alemanha leram
críticas suficientes nos últimos anos sobre os beneficiários de
seguro social que simplesmente não estavam à altura da difícil
tarefa de colher aspargos ou pepinos.
Mas o fato é que a maior parte da população economicamente
ativa dificilmente seria capaz de fazer essas tarefas ou outras
similares. Não há dúvidas de que um fazendeiro do século 18 era
mais forte do que nós somos hoje, e que ele provavelmente era
capaz de suportar a dor sem reclamar tanto (e, por isso, também
tinha uma vida bem mais curta). Isso sugere que o declínio da
humanidade deve ter começado com a invenção do maquinário
agrícola movido a vapor, ou com o uso dos cavalos de carga.
Criticar o progresso tecnológico levando em conta as maneiras
pelas quais ele facilita nossas vidas é tanto absurdo quanto
reacionário. E, no entanto, esta atitude expressa de forma aberta
e clandestina, está ganhando força mais uma vez. Isso acontece
por causa da velocidade com a qual a tecnologia digital está
mudando o mundo atualmente, o que alguns veem como uma
experiência dolorosa.
A digitalização parece ser percebida como algo mais tortuoso
quanto mais tarde ela entra na vida de uma pessoa. Apenas como
um parêntese: está cientificamente provado que a capacidade do
ser humano se ajustar às mudanças começa a declinar
rapidamente por volta dos 35 anos.

O experimento masoquista de Keller


Bill Keller nasceu em 1949. À primeira vista, sua revolta contra o
mundo digitalizado parece tão surpreendente porque, como ele
mesmo escreve, seu próprio jornal, o New York Times, “abraçou
as novas mídias com um estilo criativo e vencedor de prêmios”. O
jornal foi um dos primeiros a criar o cargo de “editor de mídias
sociais” para profissionalizar a interação entre o site do New York
Times e as redes sociais como o Facebook e Twitter. Na verdade,
o Times é visto como um modelo de jornalismo online.
O próprio Keller usa o Twitter. Para escrever o artigo, ele fez o
que chamou de “uma espécie de experimento masoquista”, no
qual tuitou “#OTwitterDeixaVocêBurro. Discuta”, e esperou para
ver o que acontecia. Como era de se esperar, a maioria dos
twiteiros discordaram de Keller. Essa, a propósito, é a mesma
maneira como as pessoas no mundo offline na Alemanha
reagiriam se dissessem a elas que são ou estão se tornando
burras: elas ficariam irritadas. É um experimento fácil. Qualquer
um pode tentar: basta entrar num bar esportivo, numa biblioteca,
ou numa aula de samba e gritar em alto e bom som: “o futebol, a
leitura ou o samba deixam as pessoas burras! Discutam!”
Em contraste com o resultado presumível desses experimentos do
mundo real, o tweet de Keller, surpreendentemente, não
desencadeou apenas rejeição. Na verdade, como ele escreveu,
também “produziu alguns poucos momentos de ironia” e “alguns
pontos honestamente óbvios”, incluindo a observação: “depende
de quem você segue”. O professor de jornalismo Jeff Jarvis, a
quem Keller não citou em seu artigo, respondeu a ele pelo Twitter:
“Bill. O NYT não nos diz mais o que discutir. O Twitter sim. ;-)”
Entretanto, Keller concluiu, baseado em sua avaliação pessoal
das reações ao seu tweet: “quer o Twitter deixe ou não as
pessoas burras, ele certamente faz com que algumas pessoas
inteligentes pareçam burras.”

O preço da inovação
Keller diz temer que desta vez o preço da inovação possa
significar perder “uma parte de nós mesmos”, uma preocupação
que ele descreve com as objeções usuais e costumeiras à
comunicação digital: ela não é nada “social”, ela apenas nos
distrai, promove formas de comunicação rasas e triviais e, pior
que isso, ameaça “nossa capacidade de refletir, nossa busca por
significado, a empatia genuína, um senso de comunidade
conectado por algo mais profundo do que comentários sarcásticos
ou afinidade política”.
O motivo real para essa posição surpreendente do jornalista em
relação às redes sociais atuais foi aparentemente uma experiência
com sua filha de 13 anos. Ele conta que ele e sua mulher
recentemente permitiram que a garota abrisse uma conta no
Facebook. “Dentro de poucas horas ela já tinha 171 amigos, e eu
me senti um pouco como se tivesse dado à minha filha um
cachimbo de crack.”
É possível imaginar como Keller pode ter recontado essa
experiência para um grupo de editores sêniores do New York
Times, que também devem ter tido experiências similares com
seus filhos, e como o debate subsequente, permeado de piadas e
interjeições, eventualmente levou alguém a sugerir que ele
escrevesse algo sobre o assunto, porque isso simplesmente
precisava ser dito.
É quase um fato reconhecido que os pais cujas filhas de 13 anos
descobriram uma nova paixão, seja ela o hipismo ou Justin
Bieber, geralmente observam algo semelhante ao que Keller, de
62 anos, experienciou com sua filha: um fascínio incompreensível
e excessivo por um objeto aparentemente trivial. O fato de o editor
executivo do New York Times ter usado isso como uma
oportunidade para diagnosticar um efeito possivelmente destruidor
da alma provocado pela mídia social sugere muita angústia
guardada em relação ao presente (e relativamente pouca
confiança em sua própria filha).

Geração internet
O jornalista não fornece provas para seus vastos temores, a não
ser seu desconforto pessoal. A filha de 13 anos de Keller
provavelmente conhece a maior parte de seus 171 amigos do
Facebook pessoalmente. Muitos estudos nos Estados Unidos e
Alemanha mostraram que, na maior parte dos casos, as redes
sociais na verdade refletem os ambientes sociais reais dos
usuários jovens. Isso não se aplica da mesma forma aos editores
executivos de jornais de 62 anos de idade.
As pessoas acima de 50 anos têm uma desvantagem crítica em
comparação com aquelas abaixo dos 40 (a grosso modo) no que
diz respeito à internet comunicativa: a maioria delas as conheceu
como uma ferramenta de trabalho sem alegria, escrevendo seus
primeiros e-mails para colegas de trabalho ou para o chefe, e não
para uma garota por quem estão secretamente apaixonados. Eles
tiveram contas no Facebook antes de sentir que deveriam, não
porque é ele um canal para seus amigos se comunicarem uns
com os outros. E eles se comunicam, pelo Twitter, por exemplo,
com completos estranhos. Não é terrivelmente surpreendente que
esse tipo de comunicação produza conversas que alguns
caracterizam como “vazias”, “não sociais” ou “triviais”.

O fato de que essas pessoas sintam que falta qualidade nas


conversas provavelmente tem mais a ver com seu trabalho do que
com a internet. É tão impossível tirar conclusões gerais sobre os
efeitos da mídia social na vida espiritual da humanidade a partir
dessa noção como é impossível tirar conclusões gerais sobre a
utilidade das polias para o diâmetro médio do bíceps do homem
moderno.

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