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O preço da inovação
Keller diz temer que desta vez o preço da inovação possa
significar perder “uma parte de nós mesmos”, uma preocupação
que ele descreve com as objeções usuais e costumeiras à
comunicação digital: ela não é nada “social”, ela apenas nos
distrai, promove formas de comunicação rasas e triviais e, pior
que isso, ameaça “nossa capacidade de refletir, nossa busca por
significado, a empatia genuína, um senso de comunidade
conectado por algo mais profundo do que comentários sarcásticos
ou afinidade política”.
O motivo real para essa posição surpreendente do jornalista em
relação às redes sociais atuais foi aparentemente uma experiência
com sua filha de 13 anos. Ele conta que ele e sua mulher
recentemente permitiram que a garota abrisse uma conta no
Facebook. “Dentro de poucas horas ela já tinha 171 amigos, e eu
me senti um pouco como se tivesse dado à minha filha um
cachimbo de crack.”
É possível imaginar como Keller pode ter recontado essa
experiência para um grupo de editores sêniores do New York
Times, que também devem ter tido experiências similares com
seus filhos, e como o debate subsequente, permeado de piadas e
interjeições, eventualmente levou alguém a sugerir que ele
escrevesse algo sobre o assunto, porque isso simplesmente
precisava ser dito.
É quase um fato reconhecido que os pais cujas filhas de 13 anos
descobriram uma nova paixão, seja ela o hipismo ou Justin
Bieber, geralmente observam algo semelhante ao que Keller, de
62 anos, experienciou com sua filha: um fascínio incompreensível
e excessivo por um objeto aparentemente trivial. O fato de o editor
executivo do New York Times ter usado isso como uma
oportunidade para diagnosticar um efeito possivelmente destruidor
da alma provocado pela mídia social sugere muita angústia
guardada em relação ao presente (e relativamente pouca
confiança em sua própria filha).
Geração internet
O jornalista não fornece provas para seus vastos temores, a não
ser seu desconforto pessoal. A filha de 13 anos de Keller
provavelmente conhece a maior parte de seus 171 amigos do
Facebook pessoalmente. Muitos estudos nos Estados Unidos e
Alemanha mostraram que, na maior parte dos casos, as redes
sociais na verdade refletem os ambientes sociais reais dos
usuários jovens. Isso não se aplica da mesma forma aos editores
executivos de jornais de 62 anos de idade.
As pessoas acima de 50 anos têm uma desvantagem crítica em
comparação com aquelas abaixo dos 40 (a grosso modo) no que
diz respeito à internet comunicativa: a maioria delas as conheceu
como uma ferramenta de trabalho sem alegria, escrevendo seus
primeiros e-mails para colegas de trabalho ou para o chefe, e não
para uma garota por quem estão secretamente apaixonados. Eles
tiveram contas no Facebook antes de sentir que deveriam, não
porque é ele um canal para seus amigos se comunicarem uns
com os outros. E eles se comunicam, pelo Twitter, por exemplo,
com completos estranhos. Não é terrivelmente surpreendente que
esse tipo de comunicação produza conversas que alguns
caracterizam como “vazias”, “não sociais” ou “triviais”.