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Mesmo ocorrendo de modo incipiente e com menor elaboração teórica, é riquíssima a discussão sobre
os problemas da organização entre marxistas nas três primeiras décadas do século XX. Ainda no final do
Internacional, a cisão que resultou na criação da Internacional Comunista (1919), a repercussão positiva da
organização bolchevique na Revolução de Outubro (1917) entre os trabalhadores e a derrota definitiva das
tentativas revolucionárias na Europa ocidental nos anos 1920, a teoria da organização política ganhou novos
aportes.
No discurso encerramento do XI Congresso do Partido Comunista Russo, Lenin disse que “Não se
pode separar mecanicamente as questões políticas das questões de organização”. Tanto Georg Lukács (1885-
1970) quanto Antonio Gramsci (1891-1937), cada um à sua maneira, foram influenciados pelas teses do
revolucionário russo. O húngaro afirmava, em 1922, que “se a tática for separada da organização (...), o
conceito de tática cairá inevitavelmente no dilema do oportunismo e do golpismo”1. O italiano, por sua vez,
escreveu no cárcere que “a unidade entre teoria e prática não é um dado empírico mecânico, mas um devir
histórico” que se realiza mediante “a posse real e concreta de uma concepção do mundo coerente e unitária” 2.
Para todos eles, a organização do partido político capaz de realizar a revolução exigia o desenvolvimento
medida em que são escassas as contribuições atuais do marxismo sobre os problemas da organização,
questão tão mais necessária quanto mais a crise capitalista avança sobre uma classe trabalhadora
insuficientemente organizada e ideologicamente fragilizada para provocar uma crise orgânica do bloco
Com o presente trabalho, a partir da análise das Observações metodológicas sobre a questão da
organização (1922) de Lukács e dos Cadernos do cárcere (1929-1935) de Gramsci, pretendemos identificar
as relações complementariedade entre os referidos autores. Afinal, qual a semelhança de seus respectivos
textos e em que medida podem contribuir para a solução de problemas atuais no movimento socialista neste
início de século?
1
LUKÁCS, Georg. História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. São Paulo: Martins Fontes,
2003, p. 582.
2
GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978, p. 72.
2. As Observações metodológicas de Lukács
Não é recomendável estudar a produção intelectual de Lukács sem antes refletir sobre o momento de
sua evolução política em que os textos foram escritos. O próprio autor – referindo-se no prefácio de 1967 à
obra História e consciência de classe (HCC), de 1923, na qual foi publicado o ensaio que ora analisamos –
disse encontrar em seu universo intelectual relativo ao período de produção do livro “de um lado, tendências
Lukács havia ingressado no Partido Comunista Húngaro em dezembro de 1918, foi Vice-comissário
do Povo para a Educação Popular, durante a Comuna Húngara de 1919 e, posteriormente, participou
ativamente das lutas internas do PC, desferindo críticas ao que denominava “sectarismo burocrático” da
orientação que tinha o apoio da Internacional Comunista. O esquerdismo e o voluntarismo deste período
eram influenciados por sua tradição intelectual do romantismo utópico e pela atmosfera política entre os
comunistas da época – era generalizada a expectativa segundo a qual a vaga revolucionária, iniciada na
Rússia soviética, logo se espraiaria por todo o Ocidente4. Pode-se dizer que esta obra lukacsiana expressa um
Para alguns analistas, HCC é um perfeito resumo das idéias que defendeu entre 1919 e 19226. Outros
consideram que, mesmo havendo certa continuidade entre o Lukács de 1922-1923 e o de 1920-1921, a
ruptura é profunda com o período de 1919-1920, sendo o momento crucial deste movimento a publicação de
foram escritas depois que Lukács foi derrotado politicamente no interior de seu partido, quando passou a
trabalhar na construção de HCC – o que incluía a revisão dos ensaios escritos nos anos anteriores para serem
agrupados coerentemente na estrutura intelectual do livro. Sua virada em direção ao leninismo parece indicar
3
LUKÁCS, Op. Cit., p.4
4
NETTO, José Paulo. Georg Lukács: o guerreiro sem repouso. São Paulo, Brasiliense, 1983, p.36-9.
5
LÖWY, Michael. A evolução política de Lukács: 1909-1929. São Paulo: Cortez, 1998, p.226.
6
NETTO, Op. Cit. p. 39.
7
LÖWY, Op. Cit . p. 209.
qual era sua avaliação naquele momento das condições de superação da reificação do pensamento burguês
pelo proletariado8.
De acordo com Lukács, “a organização é a forma de mediação entre teoria e práxis” e “só pode ser
desenvolvida organicamente a partir da própria teoria da revolução”. Assim, “toda orientação ‘teórica’ ou
divergência de opinião tem de ser transformada instantaneamente em questão de organização, se não quiser
permanecer uma mera teoria ou opinião abstrata, se tem realmente a intenção de mostrar o caminho para sua
realização”. Assim se constitui sua crítica ao economicismo fatalista que “sempre relutou em extrair das
por conta desta postura, reunia em seu interior perspectivas “rigorosamente divergentes e excludentes”,
sendo que, como consequência, suas “resoluções não podiam indicar nenhuma orientação para a ação
concreta, permanecendo sempre ambíguas nesse aspecto e permitindo as mais distintas interpretações” 9.
dominação escravizante e alienante das relações reificadas sobre os homens, a submissão do processo da
produção às necessidades e valores humanistas, o início do “reino da liberdade” depende de uma “mudança
ideológica do proletariado, que se desenvolveu no capitalismo sob a influência das formas de vida da
sociedade burguesa”: a “única solução para esta crise é a livre ação do proletariado”. Neste caso, “o
conhecimento correto que o proletariado tem a respeito de sua própria situação histórica é o mais
Portanto, um partido revolucionário “precisa ter como referência o próprio proletariado”, pois “nessa
comunista são, na verdade – do ponto de vista da história mundial –, o mesmo processo. Eles se condicionam
8
NOBRE, Marcos. Lukács e os limites da reificação: um estudo sobre História e consciência de classe. São Paulo:
Editora 34, 2001, p.104.
9
LUKÁCS, Op. Cit . p.526-33.
10
Ibidem, 548-9.
11
Ibidem, 537.
mutuamente, portanto, da maneira mais íntima na práxis cotidiana, embora seu crescimento concreto não
homogênea, às crises econômicas objetivas. Grande parte do proletariado permanece sob a influência
intelectual da burguesia e o aprofundamento da crise econômica por si só não o remove desta posição: o
violento e intenso que a própria crise13. Trata-se, portanto, de aproveitar “a possibilidade de dar outro rumo à
das forças de produção da sociedade, livrando-as dos imperativos do capital, é “querer o ‘reino da liberdade’
e dar o primeiro passo consciente na direção de sua realização”. Neste momento, “a unidade real de teoria e
prática, inerentes, por assim dizer, apenas inconscientemente às ações anteriores do proletariado, emergem de
modo claro e consciente”. Deste modo, o partido comunista “é a forma organizada da preparação consciente
para este salto e, deste modo, o primeiro passo consciente para o reino da liberdade”14. Nele, “o caráter
prático e ativo da consciência de classe se afirma, por um lado, como princípio que influencia diretamente as
ações singulares de todo indivíduo , por outro, simultaneamente como fator que co-determina
conscientemente o desenvolvimento histórico”. Assim, não apenas a mediação entre teoria e práxis, mas
também “a mediação entre o homem e a história” é decisiva para definir a constituição do partido comunista
tornando-o apto a “mediar a ação de cada membro individual e a atividade de toda a classe”15.
Para José Paulo Netto, no plano político, participando das expectativas de uma iminente revolução em
escala mundial, Lukács defende idéias inspiradas em Rosa Luxemburgo – tanto sua teoria da acumulação do
capital quanto as suas propostas acerca do papel organizador do partido16. Porém, quando diz que ela erra ao
“sobrevalorizar o caráter orgânico desse processo [no qual a organização tem de nascer como produto da
luta] e subestimar a importância do elemento consciente e de organização consciente nele”, Lukács contradiz
Netto. Ademais, afirma também que “a reunião consciente e interna da vanguarda revolucionária numa
organização, ou seja, o surgimento real de um partido comunista permanece como o ato consciente e livre
dessa própria vanguarda consciente” e “é uma forma autônoma da consciência de classe do proletariado que
12
Ibidem, 577.
13
Ibidem, p.538.
14
Ibidem, p.555-6.
15
Ibidem, p. 560.
16
NETTO, Op. Cit . p. 40.
serve ao interesse da revolução”. Para Lukács, portanto, é preciso compreender o partido “ao mesmo tempo
como um fenômeno independente e subordinado”. Tudo isso aproxima o húngaro da concepção bolchevique
Em sentido diferente, Löwy considera que, mesmo com reservas explícitas às teses luxemburguistas,
Luxemburgo e em Lenin, como uma tentativa de síntese entre ambos.17. A afirmação de Lukács segundo a
qual, “a organização comunista só pode ser formada na luta e ser realizada se cada membro se conscientizar,
pela sua própria experiência, da validade e da necessidade dessa forma de união”, ou seja, se houver
“interação entre espontaneidade e controle consciente”, corrobora com esta análise. Em defesa do elemento
espontâneo, Lukács entende que “a convocação dos militantes para que eles participem com toda a sua
“Se cada membro do partido se empenhar com toda sua personalidade, com toda sua existência, na vida
do partido, o mesmo princípio de centralização e de disciplina deve zelar pela relação recíproca e viva entre a
vontade dos membros e da liderança do partido, e para garantir a vontade e os desejos , as sugestões e as críticas
dos membros sejam devidamente consideradas pela liderança”18.
“E somente quando o Partido Comunista se torna um mundo de atividade para todos os seus membros é
que pode superar o papel de espectador do homem burguês diante do curso inevitável dos acontecimentos que
ele não consegue compreender e de sua forma ideológica, a liberdade formal da democracia burguesa. (...) A
verdadeira democracia, a anulação da separação entre direitos e deveres não é nenhuma liberdade formal, mas
uma atividade solidária e internamente coesa dos membros de uma vontade coletiva” 19.
europeia de sua geração. Mas, diferentemente de Lukács, ainda jovem definiu-se pelo marxismo e pelos
bolcheviques, em rejeição ao positivismo e ao reformismo. O período entre 1921 e 1926 pode ser
considerado como uma fase de transição entre o jovem Gramsci, igualmente esperançoso na revolução
mundial, e o teórico do cárcere que meditará sobre a derrota da revolução no Ocidente. Aprisionado em 1926
após a ascensão do fascismo na Itália, as reflexões de Gramsci no cárcere ganham outro estatuto categorial,
mais avançado, mas também mais afastado da luta política imediata. Em março de 1928, ele anunciou, por
17
LÖWY, Op. Cit . p. 222.
18
LUKÁCS, Op. Cit . p. 589.
19
Ibidem, p. 591.
correspondência, um plano intelectual para o longo período que teria de sobreviver na cadeia: tratava-se de
partido e das massas trabalhadoras. Nesta empreitada os temas de juventude são recorrentes, mas a forma de
tratamento difere, seja por razões de método ou por razões circunstanciais, históricas e que dizem respeito às
condições do cárcere, à censura e às fontes disponíveis na época para subsidiar os estudos históricos de
Gramsci20.
Os Cadernos do Cárcere são formados pelas notas que redigiu na prisão, de 1929 a 1935. Ou seja,
iniciado somente quando, depois do processo penal, conseguiu mais calma e concentração e finalizado antes
que suas doenças se agravassem a ponto da impossibilitá-lo de trabalhar, o que ocorreu nos dois últimos anos
de sua vida. Os 34 cadernos escolares que preencheu com suas notas e apontamentos são apresentados como
tendo caráter provisório, como esboços a desenvolver, uma primeira base da pesquisa que o italiano se
propunha a realizar com o objetivo de produzir uma obra que fosse destinada a durar für Ewig (para a
eternidade). No cárcere sua maneira de escrever sofreu uma alteração fundamental: trabalhava nos cadernos
muitas vezes simultaneamente, o que impede que saibamos precisamente a ordem cronológica dos textos, e
reescrevia passagens inteiras às vezes mudando uma ou outra palavra – fato minuciosamente analisado por
Oliveiros S. Ferreira21. A obra não foi completada e as notas esparsas foram publicadas primeiro por Palmiro
Togliatti entre 1948 e 1951, que as reagrupou por grandes temas, favorecendo uma leitura mais fluida,
militante, mas também dirigida. Em 1975, Valentino Gerratana publicou os textos na sua “ordem espacial”
em que aparecem nos cadernos originais, sendo de mais difícil leitura e apreensão e interessando mais aos
especialistas22. No Brasil, data dos anos 1960 as primeiras traduções da edição de Togliatti e é de 2002 a
Analisar as concepções gramscianas de organização sem enquadrá-las no quadro geral de sua teoria
revolucionária nos levaia a um empobrecimento de sua contribuição para o problema do partido político.
Todavia, nos limites do presente trabalho, nos propomos a elucidar aquelas que nos parecem ser as questões
20
SECCO, Lincoln. Gramsci e a revolução. São Paulo: Alameda, 2006, p. 107-8.
21
FERREIRA, Oliveiros S. Os 45 cavaleiros húngaros: uma leitura dos Cadernos de Gramsci. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1986.
22
GRUPPI, Op. Cit. p. 65; SECCO, Op. Cit. p. 126-8;
centrais sobre organização, buscando relacioná-las, sempre que possível, com alguns conceitos centrais da
Gramsci analisou as seguidas derrotas dos comunistas nos países eurpeus ocidentais e tirou conclusões
importantes:
“No Oriente, o Estado era tudo e a sociedade civil era primitiva e gelatinosa; no Ocidente entre Estado e
sociedade civil havia umarelação equilibrada: a um abalo do Estado imediatamente se percebia uma robusta
estrutura da sociedade civil. O Estado era apenas uma trincheira avançada, por trás da qual estava uma robusta
cadeia de fortalezas e casamatas; a proporção varia de Estado para Estado, como é evidente, mas precisamente
Com base nestas particularidades, elaborou-se uma correlação entre guerra de movimento e revolução
permanente, por um lado, e entre guerra de posição e hegemonia civil, por outro. Nas sociedades em que a
sociedade civil encontra-se desenvolvida, elas tornou-se “uma estrutura muito complexa e resistentes a
sociedade civil são como o sistema das trincheiras na guerra moderna” 24. Portanto, onde a hegemonia
exercida pelo bloco histórico, dirigido pelas classes dominantes, impõe uma difusão em profundidade de sua
visão de mundo, “a passagem da guerra de movimento (e do ataque frontal) à guerra de posição também no
campo político (...) parece ser a mais importante questão de teoria política colocada pelo período do pós-
“Um grupo social pode e mesmo deve ser dirigente já antes de conquistar o poder governamental (é
essa uma das condições principais para a própria conquista do poder); depois, quando exerce o poder, e
mesmo que o conserve firmemente nas mãos, torna-se dominante, mas deve continuar a ser também
‘dirigente’.26” Mas a questão que se coloca, então, é como conduzir este grupo social à condição dirigente,
permitindo a ele alcançar a supremacia, o momento sintético que unifica as duas esferas da superestrutura
(sociedade civil e sociedade política, hegemonia e dominação, consenso e coerção, direção e ditadura)?
Gramsci considera que “Todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no
mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, organicamente, uma ou mais camadas de
23
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2007, p. 151-2
24
Ibidem, p. 152.
25
Ibidem, p. 150.
26
Ibidem, p.150.
intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico,
mas também no social e político”27. Portanto, o intelectual orgânico das classes subalternizadas, sobretudo da
classe operária – que tem um vínculo essencial com a estrutura econômica por sua posição essencial na
produção material da sociedade –, tem função importante a cumprir no partido que articula-se como
condottiero (condutor das armas e da vontade popular). Ele deve constituir o elo de ligação entre o partido
Contudo, o agente da vontade coletiva transformadora, o partido comunista – que Gramsci designa
pelo nome de “moderno Príncipe”, inspirado em Maquiavel – não pode mais ter suas funções atribuídas a
uma pessoa singular, uma vez que nas sociedade modernas, mais complexas, cabe a um organismo social o
desempenho das tarefas. Para Gramsci, “todos os homens são intelectuais” – ainda que nem todos assumam
esta função específica na sociedade. Portanto, o processo de construção de uma vontade coletiva, de elevação
partido político29, afinal, nele “a necessidade já se tornou liberdade e disso nasce o enorme valor político
(isto é, de direção política) da disciplina interna de um partido e o valor de critério dessa disciplina na
“não como aceitação passiva e servil de ordens, como execução mecânica de instruções (...), mas como
uma assimilação consciente e lúcida da diretiva a ser realizada. (...) A disciplina não anula, portanto, a
personalidade e a liberdade: a questão da ‘personalidade e liberdade’ não se coloca no nível da disciplina, mas no
nível da ‘origem do poder que determina a disciplina’. Se essa origem é ‘democrática’ (...) e não um ‘arbítrio’ ou
liberdade”31.
propósito, a ação política real das classes subalternas, enquanto política de massa e não simples aventura de
27
MOURA, Alessandro de. “Movimento operário, intelectuais e o partido revolucionário em Gramsci”. In: Filosofia e
Educação: Revista Digital do Paideia, v. 2, n. 1, abril-setembro de 2010, p. 24
28
Ibidem, p. 35-6.
29
COUTINHO, Op. Cit. p. 169
30
SADER, Emir (org.). Gramsci: poder, política e partido. São Paulo, Expressão Popular, 2005, p.122.
31
Ibidem, p. 126.
grupos que fazem propaganda de si mesmos para a massa”32. A luta por essa unidade entre movimento de
tarefa central do partido – não uma seita doutrinária e aventureira, mas o partido de massas que encontra a
dialética entre objetividade e subjetividade, entre espontaneidade e consciência33 e, também, entre estrutura e
4. Considerações finais
Nestas passagens pudemos observar inúmeros pontos de contato entre Lukács e Gramsci no que se
espaço de livre intervenção militante e meiador da construção de uma vontade coletiva; b) o reduzido
relação dialética, unitária e sintética entre espontaneidade e direção consciente nas lutas sociais; d) o vínculo
processo produtivo da sociedade capitalista; entre outros. Destacamos, porém, que o aporte de Gramsci à
teoria revolucionária da filosofia da práxis, por sua originalidade e significado político e estratégico, como
orientador da vontade coletiva, incorpora, nega e supera, dialeticamente, a obra luckacsiana de seu tempo34.
Se estes textos podem contribuir para a solução de problemas atuais no movimento socialista, e em
que medida isto pode ocorrer, isto depende menos de Gramsci e de Lukács e mais dos comunistas
contemporâneos. Nunca é demais lembrar que os clássicos, sendo escritos por pessoas que são produto de
seu tempo histórico, trataram de problemas de uma época passada e, no presente caso, de uma região
longínqua. Se os problemas persistem e são produtos de um tempo histórico e uma geografia específicas, a
questão já não está mais colocada nos clássicos: a tarefa de respondê-la está inconclusa.
5. Bibliografia
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2007.
FERREIRA, Oliveiros S. Os 45 cavaleiros húngaros: uma leitura dos Cadernos de Gramsci. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1986.
32
Ibidem, p. 113.
33
COUTINHO, Op. Cit. p. 172.
34
Foge aos nossos limites uma comparação com o conjunto da obra de Georg Lukács, finalizada com a Ontologia do
ser social (1970).
FORNAZIERI, Aldo. “Lukács e os problemas da organização”. In: FORNAZIERI, Aldo (ed.). Teoria do
partido revolucionário. São Paulo: Brasil Debates, s/d.
_________. Maquiavel, a política e o Estado moderno. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1976.
GRUPPI, Luciano. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978.
LÖWY, Michael. A evolução política de Lukács: 1909-1929. São Paulo: Cortez, 1998.
LUKÁCS, Georg. História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
MOURA, Alessandro de. “Movimento operário, intelectuais e o partido revolucionário em Gramsci”. In:
Filosofia e Educação: Revista Digital do Paideia, v. 2, n. 1, abril-setembro de 2010.
NETTO, José Paulo. Georg Lukács: o guerreiro sem repouso. São Paulo, Brasiliense, 1983.
NOBRE, Marcos. Lukács e os limites da reificação: um estudo sobre História e consciência de classe. São
Paulo: Editora 34, 2001.
PORTELLI, Hugues. Gramsci e o bloco histórico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
SADER, Emir (org.). Gramsci: poder, política e partido. São Paulo, Expressão Popular, 2005.