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Plano Color:
Heterodoxia e Fracasso na Condução da Política de Estabilização
Leandro B. Levone (*)
A macroeconomia brasileira possui problemas estruturais muito graves,
acumulados nas últimas décadas. Após o “Milagre Econômico”, entre meados dos anos 60
e a década de 70, assistiu-se a uma aceleração inflacionária simultaneamente a uma
redução das taxas de crescimento que, a exceção de curtos períodos, marcaram a economia
brasileira até o início da década de 90.
No período que antecedeu à elaboração do Plano Collor, sucessivas tentativas
de estabilização da economia vieram à tona. Todas fracassaram. Foram três planos:
Cruzado, Bresser e Verão.
O problema fundamental dos Planos anteriores foi a convivência com um
quadro de dispersão dos preços relativos, que acabou por inviabilizar suas propostas. Como
durante o período de altas taxas de inflação o aumento de preços era feito de forma
desordenada, existia um determinado dia em que os preços de determinada matéria-prima
estaria ajustada, e noutro defasada, pois era grande a oscilação de preços. E como aqueles
planos entravam em vigor sem aviso-prévio, e em geral promoviam congelamento, o
governo não considerava este desalinhamento. Por exemplo, se os insumos para a produção
de autopeças estivessem, naquele dia “D”, devidamente reajustados, e os preços do produto
final estivessem defasados, o Plano “quebrou” os empresários deste setor, porque uma vez
congelado, eles não poderiam alterar o preço, mesmo tendo em vista o aumento dos custos
de produção.
Ou seja, aqueles que haviam aumentado seus preços antes da vigência do novo
plano foram beneficiados, e os que planejavam aumentar seus preços logo em seguida
foram prejudicados. O Cruzado, assim como os outros planos, não realizou ajustes
generalizados dos preços relativos nas vésperas do dia “D”, de congelamento.
A inflação, portanto, voltava com cada vez maior força. Em janeiro, fevereiro
e março, a inflação chegou a 56, 73 e 84%, respectivamente. Diante deste cenário, assume
a presidência, no dia 15 de março de 1990, o presidente Fernando Collor, anunciando um
ambicioso programa de estabilização. A análise dos motivos que levaram às decisões
tomadas, as medidas adotadas, os resultados e suas conseqüências são o objetivo do
presente texto.

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Os absurdos índices inflacionados acima faziam com que a moeda perdesse o
poder de transacionar muito rapidamente, configurando um quadro de destruição do padrão
monetário. O Banco Central estava refém do mercado financeiro devido ao alto déficit
público.
Na verdade, o Brasil não tinha condições de honrar seus compromissos, e o
mercado estava progressivamente mais desconfiado desta capacidade de pagamentos do
Estado. Instalou-se uma grave crise de confiança.
As relações, portanto, entre o Estado e o mercado estavam muito tensas, e este
passou a exigir cada vez mais do Estado, para emprestar dinheiro. As taxas de juros
deveriam ser altas e o prazo muito curto. A renovação dos títulos brasileiros deveria ser
diária – overnight. Diariamente, o governo deveria dar satisfação de suas dívidas.
Sem outra saída, o governo brasileiro atendia as exigências. Seus títulos
tinham alta rentabilidade, dentro do overnight. Com isso, a dívida aumentava, e o problema
tornava-se uma “bola de neve”. Em economia, produziu-se um claro cenário de ciranda
financeira.
Com isso, o Banco Central perdeu a capacidade discricionária de fazer política
monetária, definindo as taxas de juros, pois se ele desatendesse as exigências dos credores,
não seria possível levantar dinheiro para o pagamento das dívidas.
Existia, ainda, uma outra exigência do mercado: o risco zero. O governo
vendia o título às instituições financeiras e garantia que iria recomprá-lo, caso este banco
não conseguisse vendê-lo. Ou seja, se o banco não vendesse o título ao final do dia, o
Estado recomprava o título pelo valor de face.
Instalou-se um caos econômico. O governo estava “na parede” e não tinha
nenhuma saída de emergência ortodoxa. O problema de qualquer Ministro da Fazenda era
de gestão. Ele deveria oferecer, para honrar seus compromissos:

 Juros altos;
 Prazo curto;
 Risco zero.

A “desobediência” à tríade acima implicava de fuga de capitais. E esse era o


dilema do Presidente Fernando Collor e da Ministra Zélia Cardoso de Mello: manter a
regra que estava vigente ou parar de oferecer juros altos.

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No resto do mundo, crescia cada vez mais a prática de políticas ortodoxas,
cujo entendimento é que o desempenho da economia depende apenas de
microfundamentos (empresário e trabalhador – microeconomia). A política monetária e
fiscal, portanto, nada podia fazer para melhorar a produção e o nível de emprego. Do outro
lado, os heterodoxos (Keynesianos) consideram que as políticas fiscal e monetária são,
sim, importantes para melhorar o produto e emprego.
E uma saída ortodoxa, no caso brasileiro era demasiadamente arriscada, pois
caso o governo baixasse as taxas de juros, o mercado pararia de comprar títulos públicos.
Tecnicamente, sairia de M4 (ativos financeiros) e iria passar a investir em dólar, ouro e em
ativos reais, como imóveis e produtos não-perecíveis, tais como óleo, azeite, pneu etc. Este
seria o clássico cenário de hiperinflação, onde nenhum agente econômico confia mais na
moeda nacional.
A mudança da regra do jogo, baixando os juros, aumentando o prazo e
acabando com a oferta de risco zero, obviamente desagradaria os credores, que, ao buscar
novos investimentos em ativos reais, fariam com que seus preços explodissem.
Uma saída para esta delicada situação poderia ser a negociação. Entretanto, o
mercado poderia, além de não aceitar, “se assustar”, sair velozmente de M4 e quebrar o
país.
O único jeito encontrado pela equipe econômica, então, foi o calote
compulsório, ou seqüestro dos ativos financeiros; decisão inesperada e marcadamente
heterodoxa. O governo prendeu o dinheiro em M4 para evitar fuga de capitais.
Naquele cenário, não era possível implantar a âncora cambial porque o Brasil
não tinha reservas em dólar. Ou o governo negociava ou ele seqüestrava os ativos
financeiros. Alguns economistas entendem que o governo deveria negociar primeiro e, se
percebesse um movimento generalizado de fuga, aí sim deveria prender em M4.
Entretanto, a Ministra Zélia não negociou. Decretou três dias de feriado bancário e
congelou os ativos.
Decisão tomada, restava definir a implementação. Obviamente, parte dos
ativos deveria estar disponível a cada agente econômico em M1 (oferta da moeda -
liquidez). E esta liberação deveria ser tão grande que não causasse recessão da economia
(crise de liquidez) e tão pequeno que não provocasse especulação (ouro, dólar, imóveis
etc).
A referência do Plano Cruzado, último período em que o Brasil viveu uma
rápida estabilidade, indicava que a relação M1 relação ao Produto Interno Bruto (PIB) era

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de 9%. Antes da implantação do Plano, a relação era de 13%. Quando o governo Collor
seqüestrou os ativos financeiros, ele só deixou 4% de M1/PIB.
A primeira medida do Plano Collor, portanto, foi o seqüestro dos ativos
financeiros, que correspondeu a 70% dos ativos financeiros. Para quem tinha caderneta de
poupança, o limite liberado foi de apenas cinqüenta mil cruzeiros. Quem possuía valores
superiores a estes, somente poderia sacar após dezoito meses, em doze prestações, com
correção monetária e uma taxa anual de juros de 6%.
A segunda medida foi o congelamento dos preços e salários. Na prática, esta
decisão não produziu nenhum efeito, pois com crise de liquidez e recessão econômica, não
haveria possibilidade de reajustes.
A terceira medida foi a redução do tamanho do Estado, que diminuiu seu papel
na economia e um grande rigor fiscal. Foi emblemático a demissão de alguns servidores
públicos concursados, que tiveram que entrar na justiça para serem readmitidos. Eles
acabaram retornando ao emprego, pois esta medida era desprovida de legalidade. Ou seja,
o governo estava tentando reduzir o déficit ao desespero. Afinal, ninguém mais emprestaria
dinheiro ao Brasil, que passou a ser um mercado de elevadíssimo risco, devido ao calote
interno (moratória interna).
Este era o cerne do Plano Collor. Se o governo tivesse mantido suas decisões
iniciais, a inflação com certeza acabaria. Mas ele não segurou a retenção do dinheiro
conforme planejara. Tentou criar critérios para, em doses homeopáticas, liberar dinheiro
para o setor X ou Y. Por exemplo, empresas que tivessem mais de 250 funcionários
poderiam sacar antes do prazo etc. Mas diante de tal cenário de desconfiança, tentar
estabelecer critérios é acabar com os critérios.
Neste momento, a economia foi aberta aos importados. Entretanto, a abertura,
em um primeiro momento, foi apenas institucional, pois com a demanda em retração, não
era possível importar muito.
Collor prendeu dinheiro, liberou antes do prazo e a inflação já havia retornado
em maio de 1990, ganhando força a partir de então. O retorno vigoroso da inflação é
justificado pela volta da liquidez. E isso é consenso entre todos os economistas. Porém,
existem diferentes visões, de três distintas correntes, as quais apresenta-se a seguir:

 Corrente Monetarista: Segundo estes economistas, o retorno da inflação é devido


às expectativas racionais. Isto significa que, quando o governo libera o dinheiro,
volta a inflação. E se a expectativa é racional, os agentes econômicos antecipam as

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decisões dos políticos, que pareciam inevitáveis. Ou seja, era uma batalha para se
antecipar ao iminente aumento de preços, para desta forma, evitar maiores perdas. A
base desta conclusão, portanto, é expectacional.
 Corrente Keynesiana: Para os Keynesianos, a volta da liquidez gerou pressões
sobre a demanda e o consumo. E os empresários, ainda contaminados pela histórica
inércia inflacionária, aumentaram os seus preços, uma vez que isto era legitimado
pelo aumento do consumo. Ressalte-se ainda que o PIB de 1990 sofreu retração de
4%. Entretanto, de abril a outubro ele subiu. E este aumento sazonal do consumo
justifica, para os Keynesianos, justifica o aumento de preços. Para estes economistas,
enfim, o foco da volta da inflação é na economia real, e não em especulações
expectacionais, como para os monetaristas.
 Corrente Neo-Estruturalista: O cenário dos preços relativos era de dispersão. A
análise desta corrente comparou o Plano Cruzado, entendendo que quando houve o
congelamento, os preços estavam dispersos. E o raciocínio para o Plano Collor é que
os preços continuaram a ter um quadro de dispersão dos preços relativos quando
havia falta de liquidez e o consumo estava reprimido. Voltando a liquidez, voltou a
inflação.

Em resumo, para os monetaristas, voltou a liquidez, voltou a expectativa


racional, voltou a inflação. Para os Keynesianos, voltou a liquidez, aumentou o consumo,
voltou a inflação. Para os neo-estruturalistas, voltou a liquidez, diagnóstico de dispersão
dos preços relativos, voltou a inflação.
A tabela a seguir mostra a evolução da inflação no Brasil no período Collor, de
acordo com o IGP-M:

Ano Inflação Acumulada


1990 1.699,87%
1991 458,38%
1992 1.174,67%
1993 2.567,34%
Fonte: Fundação Getúlio Vargas

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Autores consagrados como Bresser e Nakano1 afirmam categoricamente que o
Brasil viveu neste período em análise a hiperinflação. Entretanto, mesmo com taxas tão
absurdas, não se pode afirmar que o Brasil viveu hiperinflação, pois sua definição técnica é
a falta de reconhecimento, na moeda, como reserva de valor pelos agentes econômicos.
Todavia, o Brasil viveu mais um período de inflação crônica.
A justificativa da volta da inflação mais correta talvez seria da corrente neo-
estruturalista, pois somente quando a equipe econômica do governo conseguiu construir
um vetor que alinhasse os preços relativos, destruiu a escalada do índice geral de preços,
como a URV, que seria anunciada pela próxima gestão econômica.
O Plano Collor fracassou em sua tentativa de acabar com a inflação,
provavelmente por desconsiderar o caráter inercial da inflação brasileira. Além disso,
provocou recessão e produziu uma crise de credibilidade sobre a economia nacional, que
jamais será esquecida.

1
, Luiz Carlos & NAKANO, Yoshiaki. Hiperinflação e Estabilização no Brasil: o primeiro Plano Collor.
Revista de Economia Política, vol. 11, n.º 04, out-nov, 1991.

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