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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Programa de Pós-Graduação em História
Disciplina: Formação Social do Brasil: História, Racismo e Sociedade.
Aluna: Vanessa Adriano Marinho

PACHECO, João Pacheco de. Ensaios em Antropologia Histórica. Rio de Janeiro,


UFRJ,1999.

Texto 1: Entrando e saindo da mistura: os índios nos censos nacionais


Texto 2: Cidadania, racismo e pluralismo: a presença das sociedades indígenas na
organização do Estado Nacional brasileiro

Os textos mencionados são de autoria do antropólogo João Pacheco de Oliveira,


professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que desenvolve pesquisas sobre a
temática indígena, especificamente sobre os índios da Amazônia e do Nordeste do Brasil.
Já coordenou projetos sobre monitoramento de terras indígenas no Brasil, além de
participar por várias vezes da Comissão de Assuntos Indígenas da Associação Brasileira
de Antropologia. O livro é uma coletânea de oito ensaios, produzidos em épocas e
contextos variados, mas que tratam, de uma forma geral, do compromisso da história com
o trabalho do antropólogo, tendo como foco a temática indígena em diversos aspectos.
O autor utiliza a história como ferramenta para quebrar a visão do índio como um
ser localizado somente no passado da formação da sociedade brasileira e visa destacar
que estas construções localizadas sobre o índio fazem parte de um processo construído
historicamente e que, portanto, não é isento de intencionalidades que influenciam
diretamente políticas públicas e ações governamentais.
No texto Entrando e saindo da mistura: os índios nos censos nacionais, o autor
faz um levantamento nos censos realizados no país para identificar a presença e a
permanência da categoria indígena como categoria censitária, a fim de perceber em que
medida a manutenção desta categoria representa uma atitude diferenciada do Estado em
relação à população indígena no país.
Num primeiro momento, o autor faz uma crítica aos estudos nas áreas de história
e antropologia relacionados à população indígena, dizendo que a primeira raramente é
vista como um mecanismo de produção de sentidos e como um meio de se observar as
transformações de uma determinada estrutura, enquanto que a segunda privilegia o
resgate da dimensão cultural, elegendo indicadores como língua, usos e costumes para
analisar as diferentes etnias, esquecendo – como consequência dessa extrema
especificidade – que a população indígena é tratada como uma unidade frente ao Estado e
à sociedade brasileira.
Partindo deste ponto, ou seja, da necessidade de perceber a população indígena
como uma unidade, o autor destaca a importância dos dados gerais, como os
demográficos, para compreender as características atuais e a história dessa população. Ele
chama a atenção também para o fato de que as questões relativas aos índios não devem
ser pensadas considerando-se somente o seu contingente populacional – que no Brasil, se
comparado com outros países da América Latina, é baixíssimo – uma vez que estas
questões envolvem fatores como ordenamento territorial, proteção ambiental, política
mineral e energética e relações internacionais.
O autor identifica três modalidades de dados presentes nos censos oficiais
brasileiros sobre a população indígena: a específica, que fornece informações em
separado sobre determinado segmento; a englobante, cujos registros misturam as
características desse segmento conjuntamente com outros, dentro de uma característica
mais geral; e a universal, onde a população é descrita e contabilizada sem nenhum
destaque para as variáveis étnicas e raciais. Estas modalidades, entretanto, não estão
isentas de intencionalidade, sobretudo as duas últimas. Enquanto que a primeira – que o
autor identifica nos censos de 1872, 1890, 1940 e 1950 – impede uma análise mais
fundamentada da evolução demográfica da população indígena, as outras ofuscam a
presença indígena no bojo da população brasileira: a segunda modalidade, identificada
pelo autor nos censos de 1940, 1950, 1960 e 1980 dilui a presença indígena na temática
da miscigenação e a terceira, identificada nos censos de 1900, 1920 e 1970 omite os
indicadores étnicos e raciais a fim de descrever um país moderno e integrado.
Em outro momento do texto o autor trata do “enquadramento sociológico” do
censo, que é também revestido de intencionalidade, além de operar num campo social
carregado de interesses e representações. Os censos respondem a uma demanda de
formação da identidade nacional brasileira e, neste sentido, o fruto da miscigenação entre
o português, o africano e o indígena seria o brasileiro por excelência. A crença nesta
concepção, segundo o autor, tem dois desdobramentos: o primeiro que diz respeito à ideia
de que as três raças contribuíram igualitariamente e assim são valorizadas na formação da
nacionalidade – além do fato de terem suas características complementares para formar o
mestiço brasileiro (pensamento de Gilberto Freyre); e o segundo desdobramento que
anula as diversidades em benefício daquilo que João Pacheco chama de “apologia da
mistura”, ou seja, sendo o brasileiro fruto das três raças fundantes, estaria solucionado o
problema dos conflitos raciais e das contradições sociais, mascarando aquilo que se
conhece como racismo à brasileira.
No intuito de sanar este conflito, a categoria pardo surge nos censos para tratar
destas questões. O surgimento desta categoria atende a uma intencionalidade social,
transformando o censo numa ferramenta científica legitimadora do discurso da
mestiçagem. É importante destacar que, segundo o autor, a categoria pardo, ao mesmo
tempo assimila e sectariza os indivíduos, e pressupõe a mistura entre somente duas
partes: negros e brancos. Ou seja, o índio estaria excluído. Outra forma de exclusão do
índio nos censos é justificada pelos recenseadores pelo fato de muitos habitarem lugares
de difícil acesso ou de falarem línguas diferentes; isso quer dizer que para estas pessoas,
os índios continuam sendo exteriores à sociedade nacional, segundo o autor. Para ele, a
representação do índio como exterior e primitivo está em consonância com políticas
governamentais, classificações sociais e padrões de dominação que influenciam a
população indígena desde o período colonial.
Outro ponto destacado pelo autor é a complexidade que envolve a categoria
pardo. Primeiramente ele diz que esta categoria pode servir para reforçar o discurso da
mestiçagem bem como para reforçar as ideias relativas à tendência ao progressivo
branqueamento da população brasileira. Além disso, deve-se entender que a categoria
censitária pardo difere regionalmente, tendo características próprias, por exemplo, na
região norte e sul do país. Analisando o censo de 1940 o autor identifica que há uma
predominância de pardos na região norte em relação à região sul, de maioria branca, e
indica que os pardos tendem a aumentar a sua participação na população nacional em
virtude de sua facilidade de registro e por possuir menores conotações estigmatizantes. A
particularidade do pardo na região norte, onde se observou uma pequena participação de
estrangeiros – europeus e africanos – na composição da população local, indica que os
indivíduos assim classificados possuem ascendência ou identidade indígena.
Segundo o autor, a categoria pardo enquanto mistura entre grupos de cor não
poderia contemplar a condição indígena porque esta diz respeito a um status jurídico, ou
seja, trata de especificar seus direitos de sua relação com o Estado. Além disso, dentro de
cada sociedade indígena há uma série de variáveis raciais, o que inviabiliza ainda mais a
categorização do indígena como pardo. O indígena como categoria censitária específica
aparece somente no censo de 1872 onde são denominados de caboclos e contabilizados
junto com a população livre – uma vez que a escravização de índios já havia sido
proibida. Neste censo e no censo de 1890 há um aumento significativo no contingente de
caboclos registrados e para o autor esse aumento se justificaria como resultado da união
entre ex-escravos e indígenas, cujos descendentes seriam classificados – assim como os
indígenas – como caboclos e não como pardos.
Os censo de 1940 e 1950 trazem um outro dado que permite rastrear o contingente
populacional indígena , que é o item “pessoas que no lar falam outra língua além do
português”, onde se inclui, além das línguas europeias, as línguas faladas pelos
indígenas. O autor alerta, sobre esta questão, que a análise deste item não deve ser
tomada como aspecto exclusivo sob o risco de sub-representar os índios e que, por outro
lado, as características e estereótipos negativos a eles atribuídos os induz a ocultar sua
identidade indígena, o que pode mascarar os resultados da investigação. Além disso, o
autor também chama a atenção para o fato de que os recenseadores limitam suas
pesquisas aos índios considerados integrados e de fácil acesso, limitando ainda mais a
participação indígena nos censos. Esta característica destaca uma prática de classificação
dos índios que remonta ao período colonial, onde os índios eram vistos de acordo com
seu grau de classificação ou conflito. Existia, no primeiro século de colonização, uma
diferenciação entre os índios mansos e os índios bravos, e esta dupla classificação era
feita segundo a sua relação com o Estado o que reforça ainda mais a ideia do vínculo
entre as estatísticas sociais com as políticas de governo e as representações sociais.
Neste sentido, com o advento da República, a questão indígena ganha destaque
por causa da expansão das ferrovias e das comunicações assim como por causa dos
conflitos gerados pelos colonos europeus. O autor chama a atenção para a política
indigenista do marechal Rondon, que apesar de verbalmente se opor a catequese e à
civilização dos índios praticadas pelos missionários acreditava que esta ação seria eficaz
somente para os índios assimilados, uma vez que aqueles mais arredios representavam
um obstáculo ao progresso e à civilização. Apesar disso, João Pacheco diz que a política
do Marechal Rondon era voltada para os índios mais arredios porque eram eles que
controlavam diretamente algumas parcelas significativas do território nacional e que
resistiam às determinações do governo. Isso significa dizer que, a exemplo das guerras
justas do período colonial, os índios são simbolicamente exterminados, uma vez que o
objetivo desta política é transformá-los em uma população diretamente controlada pelo
Estado através do estabelecimento de um mecanismo tutelar. O autor diz ainda que o
cuidado com a questão indígena passou a ser gerido pelos militares, inspirados na política
rondoniana, e o registro e controle da população indígena passou a ser de
responsabilidade do SPI.
Os censos de 1900 e 1920 deixaram de contabilizar os negros e os índios
separadamente alegando que todos são cidadãos e fazer esta distinção era desnecessário e
discriminatório. . No censo de 1940 os chamados caboclos passaram a ser inseridos na
categoria pardo, o que os transforma numa mera subdivisão da categoria mestiço e cujas
informações sempre dependiam de outras repassadas pelo SPI. Esta dependência
institucional, de acordo com o autor, tem como consequência a visão, bastante difundida
no período, da igualdade entre a condição de índio e a de tutelado pelo SPI, ou seja,
aqueles que não forem alvo da ação deste órgão são recenseados como qualquer
brasileiro.
Somente com a constituição de 1988 é que os índios passaram a ter previsto o
direito à gestão de seus assuntos internos de acordo com sua própria cultura, o que
reduziu a prática daquilo que o autor chama de “indigenismo tutelar”. Estas políticas de
incentivo à autonomia da população indígena conduziram à observação de um acentuado
crescimento desta população e do número de etnias, além disso o autor observa que
aumentaram também o número de comunidades que assumiram sua identidade indígena,
bem como a presença de lideranças indígenas nos debates acerca de políticas públicas
voltadas para os índios. Para concluir, o autor diz que é necessário entender a realidade
contemporânea da população indígena para além das representações dominantes sobre o
índio, geradas no período colonial e ressignificadas no discurso cotidiano após a
independência.
O texto seguinte, Cidadania, racismo e pluralismo: a presença das sociedades
indígenas na organização do Estado Nacional brasileiro, como o próprio título indica
trata da formação do Estado brasileiro e da participação das sociedades indígenas nesta
formação. Primeiramente, o autor trata das características do modelo ocidental de
organização política- o Estado-Nação – que, enquanto coletividade, tem como
característica a expansão territorial exclusiva, mecanismos próprios de controle social e
uma proposta exclusiva de relacionamento entre os indivíduos. Sua atuação seria a
expressão de uma vontade coletiva, expressa através de uma democracia representativa e
baseada na livre expressão das ideias e nas escolhas racionais dos cidadãos. O
pensamento iluminista, inspirador do Estado-Nação, condena as organizações
intermediárias entre o Estado e o indivíduo, vistas como impedimento ao fortalecimento
das instituições estatais. De acordo com João Pacheco, o contato dos indivíduos com suas
tradições étnicas e locais implicaria numa “inserção parcializada na totalidade”, ou seja,
não possibilitaria um efetivo pertencimento nacional.
Como alternativa ao modelo iluminista de organização do Estado, o autor
exemplifica com os Estados criollos, surgidos na América, que resultava da aplicação
deste modelo a sociedades bastante diferenciadas em termos culturais. O modelo de
Estado-Nação só se aplicou efetivamente nas colônias da América Latina após a
independência e trouxe consigo a homogeneização linguística e cultural, bem como a
invenção de tradições compartilhadas e a crença numa origem comum. Esta unidade, por
sua vez, estava em consonância com o modelo de Estado-Nação que pregava o
pertencimento nacional e servia como mote para aglutinar as práticas locais.
O Estado que surgia, de acordo com o autor, se caracterizava pelo encontro de três
fatores: por ser o beneficiário direto de um processo de conquista e destruição das
comunidades autóctones; pela heterogeneidade cultural e linguística e pela diversidade
racial, esta última ligada a um sistema hierarquizado de status sócio econômico; pelos
extensos espaços interiores, que poderiam se transformar em regiões de fronteira para a
expansão de seu sistema produtivo.
O controle dos recursos econômicos demandava uma postura oposta, por parte
do Estado, àquela pregada pelo modelo liberal. Se este estava pautado em ideais de
liberdade, igualdade e fraternidade - formalmente falando - as práticas cotidianas se
caracterizavam no reconhecimento e na reprodução das desigualdades de status no
interior da população indígena.
O autor chama a atenção para dois discursos recorrentes com relação às
sociedades indígenas, que dizem respeito à contribuição do índio na formação do povo
brasileiro e ao índio como objeto de políticas públicas no país. Sobre o primeiro, o autor
ressalta que há, ora um enaltecimento da diversidade,fundado no mito das três raças, ora
uma “apologia da mistura”, enaltecedora da mestiçagem baseada neste mesmo mito. Mas,
neste sentido, a mestiçagem tinha o claro objetivo de limpar a raça, agregando somente as
características positivas do negro e do índio ao homem branco - é o “racismo à
brasileira” de Roberto da Matta. No que diz respeito à segunda forma de discurso, o autor
observa que as representações sobre o índio sempre destacam sua condição de
primitivismo e de proximidade com a natureza e que, quando estas representações tem
como foco a sua condição de humanidade, é sempre no intuito de demonstrar sua extrema
simplicidade ou para apontar seu exotismo.
Em seguida o autor faz uma severa crítica aos conteúdos escolares que mantém
uma concepção sobre o índio no passado, como se ele já não mais existisse, e o coloca
como impedimento ao desenvolvimento econômico do país. Ele é sempre mostrado
como dotado de um caráter ambíguo: ou é o índio “bom”, aliado da coroa e dotado de
sentimentos nobres; ou é o índio “mau”, mercenário e traiçoeiro, aliados dos invasores.
Ele destaca ainda que estudos recentes indicam que tem aumentado a percepção acerca da
influência indígena em vários campos da cultura brasileira, entretanto, ainda que se
observe esta realidade, ele continua sendo visto no passado através de vestígios e
influências longínquas.
Mesmo a ideologia indigenista, de acordo com João Pacheco, não rompeu com a
representação do índio como um ser no pretérito, o que houve foi apenas uma
ressemantização de conceitos seguida de uma sobreposição destes conceitos à
representações genéricas sobre o índio. É nesta perspectiva que se enquadra a política de
Rondon, que acreditava estarem os índios num estado rudimentar de desenvolvimento,
mas que, através da proteção e assistência do Estado poderiam gradativamente ser
inseridos em funções produtivas na vida moderna. O mote da política indigenista de
Rondon foi baseado na sua atuação como diretor da comissão de linhas telegráficas de
Mato Grosso, que culminou com a criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). O
trabalho da comissão resultou num contato pacífico com alguns grupos indígenas,
permitindo a implantação e manutenção do sistema de telegrafia no interior do país. Esta
ação, como se pode observar, é vista mais como mérito da atuação do Marechal Rondon
do que como uma atitude dos índios frente ao desenvolvimento do país.
O autor destaca que o principal mérito do SPI foi ter conseguido salvar da ação
destrutiva das frentes de expansão algumas sociedades indígenas. Esta postura teve
continuidade com os trabalhos dos sertanistas da FUNAI, órgão que sucedeu ao SPI, e
estes, segundo o autor, viam os índios como “meros repositórios de virtudes prestes a
serem perdidas mediante o contato interétnico”. Sendo assim, suas ações se voltam para
aqueles índios que não foram corrompidos pelas instituições de brancos. Mais
recentemente, a FUNAI recomenda que os sertanistas evitem o contato com grupos
isolados, a não ser que vise garantir a autonomia destes grupos em seu território.
Uma marca da política indigenista brasileira, segundo João Pacheco, é servir
como um mecanismo compensatório frente à conquista e à dominação das sociedades
indígenas. Além disso, ainda de acordo com o autor, esta política era delineada a partir
dos objetivos de iniciativas governamentais setorizadas, reunindo dados que mascaravam
a realidade das sociedades indígenas. Dados como os demográficos indicavam que a
parcela da população indígena brasileira era pouco significativa e fragmentada e que,
portanto, a questão indígena seria mais uma questão de sensibilização da opinião pública
“para o trágico destino dos índios, convencendo o Estado a agir na defesa de uma
população reduzida, fragmentada e desvalida”.
Felizmente, este modelo paternalista – de acordo com o autor – já foi superado e
hoje percebe-se sua importância dentro do território nacional e para o desenvolvimento
econômico do país, sobretudo pelo fato de que as terras ocupadas e reivindicadas pelos
índios chegam a mais de 10% do território nacional e compreendem desde jazidas
minerais a áreas de importantes recursos hídricos, áreas de fronteiras ou de eixos vitais
de transporte e de comunicações. Sendo assim, o autor alerta que seria ingênuo pensar a
política indigenista como uma questão de menor envergadura ou acreditar que o
governo não tem interesses diretos envolvidos nas pendência existentes sobre esta
questão. Os dados atuais sobre o perfil demográfico da população indígena desfaz
aquela interpretação do índio como habitante de uma frágil tribo isolada no meio da
floresta, interpretação esta que serve para justificar as políticas de tutela destes grupos por
parte do Estado. Este novo olhar sobre a população indígena alerta par ao fato de que o
índio não deve ser considerado como uma unidade cultural, mas sim como uma
identidade legal acionada para obter o reconhecimento de direitos específicos. Esta
compreensão conduz as lideranças indígenas a praticarem em suas comunidades – de
acordo com o autor – um sentimento de solidariedade na reivindicação de direitos
decorrentes deste status jurídico de índio, comuns a outros grupos indígenas.
Apesar do avanço que tem se observado em relação às políticas para os povos
indígenas – sem entrar no mérito de que elas são suficientes ou não para atender às
demandas destes povos – ainda há quem questione estas novas políticas. Argumenta-se
que o reconhecimento dos direitos indígenas é apenas um caminho para a
internacionalização da Amazônia, por parte das grandes potências e que “os índios
constituem uma parcela privilegiada da população rural brasileira, pois retêm extensas
parcelas de terra (seriam 'índios latifundiários')e exploram com grandes lucros os recursos
naturais que possuem (seriam então 'índios ricos' e também virtualmente 'antiecológicos',
pois seriam predadores do meio ambiente)”. Esta visão é baseada ainda naquele olhar do
índio como um ser atemporal, e os índios verdadeiros são considerados falsos ou
corrompidos pelos brancos, estes servem somente de bode expiatório para o distorcido
panorama agrário brasileiro, segundo o autor.
Para concluir, João Pacheco diz que apesar das mudanças observadas, ainda são
bastante remotas as possibilidades de reconhecimento legal do caráter pluralista do país, e
que, diante disso, jamais chegou a ser cogitada, por exemplo, a possibilidade de ter no
poder Legislativo índios representantes da população indígena, com mandatos
decorrentes de eleição e de indicação dos próprios índios, como acontece em outros
países da América Latina.
O que estes dois textos indicam é que a discussão sobre a questão indígena no
Brasil sempre foi perpassada pelos interesses das elites políticas e agrárias, que utilizaram
das mais diversas ferramentas – desde a categorização nos censos populacionais até a
manipulação de informações veiculadas pela imprensa – como forma de inviabilizar a
manutenção dos interesses dos povos indígenas por eles próprios. A política tutelar
visualizada até hoje, mesmo que não tão intensa quanto em épocas anteriores, coloca o
índio sempre numa posição de dependência de instituições alheias a sua cultura, e
relegam a segundo plano o seu protagonismo seja na formação ou seja na organização da
sociedade brasileira como um todo. É neste sentido que o autor destaca a importância do
entrecruzamento entre o estudo histórico e o trabalho antropológico, afim de identificar
em que medida o objeto de estudo do antropólogo foi influenciado pela conjuntura
histórica e qual o resultado que se observa desta influência. Entretanto, a expectativa do
autor é bastante positiva no sentido de que os avanços observados em relação às políticas
indígenas no país, sem demonstrar, no entanto, sua insuficiência diante das reais
necessidades da população indígena brasileira.

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