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Apelação Cível n. 2009.

030708-0, de Balneário Camboriú


Relator: Des. Luiz Carlos Freyesleben

PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE


JULGADA PROCEDENTE. APELO DO RÉU. CERCEAMENTO
DE DEFESA INOCORRENTE. ILEGITIMIDADE PASSIVA NÃO
CARACTERIZADA. PRELIMINARES AFASTADAS. MÉRITO.
ALEGAÇÃO DE POSSE MANSA, PACÍFICA E DE BOA-FÉ.
IRRELEVÂNCIA. DEMANDA VISANDO À CONCESSÃO DA
POSSE AO DETENTOR DO TÍTULO DO DOMÍNIO. AUTOR
PORTADOR DO TÍTULO DO DOMÍNIO. RÉU SEM TÍTULO.
POSSE INJUSTA CONFIGURADA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ.
AUSÊNCIA DOS REQUISITOS. RECURSO DESPROVIDO.
Não há cerceamento de defesa por falta de intimação do réu
sobre a juntada, pelo autor, de decisão proferida pelo Superior
Tribunal de Justiça, sobretudo quando o recurso foi interposto
pelo próprio réu.
É legítimo para o polo passivo de ação de imissão de posse
quem detém a posse do bem em litígio.
"A ação de imissão de posse tem como objetivo conferir a
posse de propriedade a quem nunca teve, desde que possua
como fundamento o título aquisitivo do imóvel" (Des. Jaime
Ramos).
A configuração da litigância de má-fé de que trata o artigo 17
do Código de Processo Civil depende da presença concomitante
dos elementos objetivo e subjetivo: o primeiro consiste no dano
processual de má-fé, repousante no efetivo prejuízo causado à
parte contrária; o segundo consiste no dolo ou na culpa grave da
parte maliciosa, cuja prova há de ser efetiva, não se admitindo a
mera presunção.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.


2009.030708-0, da comarca de Balneário Camboriú (3ª Vara Cível), em que é
apelante Adelino Campigotto e apelado Mário Aparecido Leite Cangusu Prates:
ACORDAM, em Segunda Câmara de Direito Civil, por votação unânime,
desprover o recurso. Custas legais.

RELATÓRIO

Adelino Campigotto apela de sentença da doutora Juíza de Direito da 3ª


Vara Cível da comarca de Balneário Camboriú que, em ação de imissão de posse,
movida contra ele por Mário Aparecido Leite Cangusu Prates, julgou o pedido
procedente em parte, imitindo o autor na posse do apartamento n. 202 e do box de
garagem do Edifício Pipeline, situado em Balneário Camboriú.
O apelante suscita preliminares de cerceamento de defesa, de
ilegitimidade passiva e de carência de ação.
Alega, ainda, haver conexão entre esta ação e o Agravo de Instrumento
n. 2008.008113-8, assim como com a Ação de Reintegração de Posse n.
005.08.001559-4, razão por que requer sua reunião.
No mérito, diz que o apelado não contava com título inquestionável, a
respeito do imóvel, na ocasião do aforamento desta ação.
Insiste em que o autor ingressou, sub-repticiamente, no imóvel objeto
desta ação, ou seja, sem a competente autorização do possuidor e sem ordem judicial
que o imitisse na posse do bem, havendo, pois, praticado esbulho. Por estas razões,
requer a anulação da sentença ou sua reforma, visando à improcedência do pedido.
Requer, finalmente, a condenação do apelado por litigar de má-fé.
O apelado contra-arrazoou, requerendo a manutenção da sentença.

VOTO

É apelo de Adelino Campigotto de sentença da doutora Juíza de Direito


da 3ª Vara Cível da comarca de Balneário Camboriú que, em ação de imissão de
posse, movida por Mário Aparecido Leite Cangusu Prates, julgou o pedido
parcialmente procedente.
A preliminar de cerceamento de defesa não pode vingar, ainda que o
apelante entenda que houve a juntada de documento novo ao processo, do qual não
foi ele intimado a manifestar-se. Contudo, nos termos do artigo 398 do Código de
Processo Civil, não houve aludido cerceamento, pois se extrai do processo juntado,
pelo autor, de decisão proferida no Agravo de Instrumento n. 1.062.003, interposto
pelo próprio réu no Superior Tribunal de Justiça, como também da cópia da certidão
de trânsito em julgado de referida decisão. Dessa forma, conclui-se que o réu já tinha
conhecimento do conteúdo de ambos os documentos, que além do mais são públicos,
não havendo razão para acolher-se o alegado cerceamento de defesa. Assim,
afasta-se a preliminar aventada.
O apelante suscita, ainda, preliminar de ilegitimidade passiva, alegando

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que esta ação deve ser proposta contra o vendedor do imóvel, a construtora Zain.
Entretanto, não tem razão, pois a ação de imissão de posse deve ser ajuizada pelo
proprietário não possuidor contra o possuidor não proprietário. Todavia, o apelante
confessa estar de posse do imóvel, razão por que ocupa, legitimamente, o polo
passivo da demanda.
No tocante ao pedido de conexão desta ação com o Agravo de
Instrumento n. 2008.008113-8 e a Ação de Reintegração de Posse n.
005.08.001559-4, também não pode prosperar, pois, tanto a ação de reintegração de
posse quanto o recurso de agravo de instrumento já transitaram em julgado, com os
pedidos do réu tendo sido julgados improcedentes em ambas as contendas.
A preliminar de carência de ação confunde-se com o mérito deste
processo, razão por que a análise deverá dar-se conjuntamente.
No mérito, o apelante quer a reforma da sentença porque o autor não
ostenta o título de propriedade do imóvel.
Na verdade, a sentença, subscrita pela doutora Dayse Herget de
Oliveira Marinho, é de ser mantida integralmente, por seus próprios fundamentos,
tanto que me louvo de seus termos, integrando-os a este voto.
Disse Sua Excelência:
Na hipótese, apesar de não haver o registro da propriedade do bem no Ofício
Imobiliário, o autor detém título idôneo à transferência do domínio, qual seja, a
sentença homologatória do acordo entabulado nos autos da execução de título
extrajudicial nº 9517/99, que tramitou perante o 6º Juízo de Direito da Comarca de
Cuiabá-MT.
Colhe-se dos autos que o autor ingressou com a mencionada execução em
face de Zain Engenharia Planejamento e Construções Ltda. e Álvaro Luiz Zain, tendo
havido transação, pela qual os executados deram em pagamento da dívida, entre
outros, o apartamento nº 202 e box de garagem do Edifício Pipeline, localizado nesta
cidade (fls. 51/53). O acordo foi homologado por sentença, que transitou em julgado
em 24/10/2002, conforme certidão de fls. 424/425.
O réu ingressou então com ação anulatória, objetivando desconstituir o acordo
formulado, que foi julgada improcedente em primeiro grau (fls. 16/32) e confirmada
em grau de recurso (fls. 41/50). Inconformado, o réu interpôs recurso especial que,
no entanto, não foi admitido, conforme se colhe da decisão de fl. 435, com trânsito
em julgado em 18/08/2008.
Desta feita, tornou-se definitiva a sentença prolatada nos autos da ação
anulatória que rejeitou a pretensão do réu no sentido de invalidar o acordo havido
entre o autor e a construtora do Edifício.
Por conseguinte, permanece hígido o acordo homologado judicialmente que
conferiu ao autor a propriedade do imóvel em cuja posse pretende imitir-se, apesar
de, como dito, ainda não ter havido o registro do título no álbum imobiliário.
Nesse aspecto, o Superior Tribunal de Justiça já admitiu que a propriedade do
autor da imissão de posse seja aferida com base em outros documentos que não a
matrícula do imóvel, conforme se infere do seguinte precedente:
"RECURSO ESPECIAL - IMISSÃO NA POSSE - PROVA DA PROPRIEDADE -
INÉPCIA DA INICIAL – CONVENCIMENTO DO MAGISTRADO - NULIDADE
SANADA - SUSPENSÃO DA AÇÃO - DESNECESSIDADE.
1. Em regra, o autor da ação de imissão na posse deve provar, com a inicial, a

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propriedade do imóvel.
2. Contudo, é lícito ao juiz extrair dos elementos dos autos sua convicção, tanto
mais, quando o réu não reclama contra a falta da certidão de registro do imobiliário.
3. A juntada posterior dos documentos comprobatórios da propriedade deve
ser admitida, especialmente quando já se passaram vários anos desde a propositura
da ação.
4. Mera existência de ação anulatória de alienação do imóvel questionado não
suspende ação de imissão na posse" (RECURSO ESPECIAL Nº 254.458 – RJ. J. em
22.02.2005).
Ressalta-se que o réu, na contestação, não se insurge especificamente quanto
à inexistência do registro da propriedade na matrícula do imóvel, limitando-se a
sustentar a pendência da ação que discutia a validade do acordo. Por esse motivo é
que na audiência de conciliação as partes concordaram em sobrestar este feito até o
julgamento do Recurso Especial interposto.
Assim, tenho que suficientemente demonstrado que o autor é proprietário do
imóvel em questão.
Além disso, o bem está perfeitamente delimitado e, com o trânsito em julgado
da sentença proferida na ação anulatória, a posse do réu passou a ser injusta,
estando presentes, assim, os requisitos necessários à procedência do pedido de
imissão (fls. 437-443).
Assim, não se pode dizer, tal como observou a eminente Magistrada,
que o autor não ostenta prova da propriedade do imóvel, pois, ao contrário, possui ele
essa prova, conforme acordo escrito, celebrado com a construtora Zain e
judicialmente homologado.
Acerca do tema colhe-se da jurisprudência deste Tribunal:
A ação de imissão de posse, embora excluída do texto legal do Código de
Processo Civil em vigor, é aceita atualmente pela sistemática processual na forma da
ação ordinária. A ação de imissão de posse tem como objetivo conferir a posse de
propriedade a quem nunca teve, desde que possua como fundamento o título
aquisitivo do imóvel (Ap. Cív. n. 2004.004412-7, de Içara, rel. Des. Jaime Ramos, j.
20-02-2008).
Por isso, houve-se com acerto a Dra. Juíza de Direito ao julgar
procedente o pedido do autor para imitir-se na posse do imóvel objeto da lide. De
outro lado, a alegação do apelante de que o autor esbulhou-lhe a posse, a questão já
foi dirimida na Ação de Reintegração de Posse n. 005.08.001559-4, aforada pelo réu
contra o autor, cujo recurso foi julgado por esta Câmara em 11-3-2010, por acórdão
de minha relatoria assim ementado:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ATO
DECORRENTE DE DECISÃO JUDICIAL. INEXISTÊNCIA DE ESBULHO.
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. RECURSO DESPROVIDO.
"Contra atos judiciais não cabe a manutenção, mas embargos e meios próprios
de defesa" (J. M. de Carvalho Santos) (Ap. Cív. n. 2008.054051-5, de Balneário
Camboriú, j. 11-3-2010).
Assim, não cabe discutir, nesta ação, eventual esbulho praticado pelo
réu, pois esta Câmara reconheceu a inexistência de esbulho, tendo a decisão
transitado em julgado.
Finalmente, pretende o apelante a aplicação das penas de litigância de

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má-fé ao apelado, mas não tem razão. Para a caracterização da lide temerária, a que
se refere o artigo 17 do Código de Processo Civil, há necessidade da presença,
coeva, dos elementos do tipo, o objetivo e o subjetivo. O primeiro consubstanciado no
dano processual evidenciado e o segundo, ou elemento subjetivo, revelado no dolo ou
na culpa grave da parte maliciosa. Essa prova há que ser feita, efetivamente, não
podendo ser aquilatada com base na presunção.
Esta é a orientação do Superior Tribunal de Justiça:
PROCESSUAL CIVIL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. RECONHECIMENTO.
PRESSUPOSTOS.
I – Entende o Superior Tribunal de Justiça que o artigo 17 do Código de
Processo Civil, ao definir os contornos dos atos que justificam a aplicação de pena
pecuniária por litigância de má-fé, pressupõe o dolo da parte no entravamento do
trâmite processual, manifestado por conduta intencionalmente maliciosa e temerária,
inobservado o dever de proceder com lealdade (REsp n. 418.342/PB, rel. Min. Castro
Filho, j. 11-6-2002).
À míngua de tais requisitos afasta-se a litigância de má-fé. Assim, em
face de todo o exposto, voto pelo conhecimento e desprovimento do recurso do réu
Adelino Campigotto.

DECISÃO

Nos termos do voto do Relator, por votação unânime, conheceram do


recurso e negaram-lhe provimento.
O julgamento foi realizado no dia 14 de outubro de 2010 e dele
participaram os Exmos. Srs. Des. Nelson Schaefer Martins (Presidente) e Henry Petry
Junior.
Florianópolis, 20 de outubro de 2010.

Luiz Carlos Freyesleben


RELATOR

Gabinete Des. Luiz Carlos Freyesleben

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