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Horizonte – Leitura Holística / Nº 13 – Novembro de 2007 – pág.

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Línguas Sagradas

Para isso o rei enviou uma equipe composta pelo seu


O Sagrado na Escrita ministro chefe, Thonmi Sambhota (thon-mi-sambhota, tib.) e
dezesseis outros estudantes para a Caxemira, situada no
noroeste da Índia, para estudarem sânscrito e a literatura
a língua do Tibete budista. Tonmi elaborou um alfabeto tibetano composto por trinta
consoantes, quatro vogais, e seis letras extras da escrita
sânscrita, além disso, redigiu a primeira gramática da linguagem
tibetana.
Posteriormente, o rei Sena Legjing (sad-na-legs-‘jing, tib.)
instituiu uma comissão especial formada por indianos e por
Fabiano Moraes monges tibetanos para supervisionar as traduções e padronizar os
termos a partir das originais em sânscrito. O seguidor de Sena
(artigo baseado em projeto orientado por
Legjing, o rei Ralpachen (ral-pa-can, tib. 817-836), apoiou esta
Virgínia B. B. Abrahão – Universidade comissão e o seu trabalho resultou numa linguagem tibetana
Federal do Espírito Santo) uniforme e gramaticalmente sólida.

Oralidade e Escrita As letras sagradas tibetanas


A partir da obra Linguagem, escrita e poder de Maurizzio A respeito dos aspectos sagrados da escrita tibetana,
Gnerre, pode-se observar que na tradicional visão científica Stevens afirma que, embora os tibetanos tenham sofrido
grafocêntrica ocidental as culturas de tradição oral têm sido influência chinesa no que tange a organização do Governo e o
consideradas, por séculos seguidos, inferiores e menores em padrão social, os aspectos religiosos, a orientação espiritual e a
relação às culturas de tradição escrita. Gnerre afirma: “É difícil concepção de uma escrita como sagrada são herança de sua
achar qualquer avaliação explícita dos aspectos positivos das aproximação com a Índia. A influência da lingüística indiana e o
culturas orais, às vezes definidas de forma negativa como uso adaptado da língua escrita sânscrita levaram ao Tibete o
culturas ‘sem tradição escrita’”. (Gnerre, 1998: 47) conceito de que todas as letras são símbolos sagrados. No
Como primeiro ponto positivo, o autor afirma ser óbvio entanto, os tibetanos entenderam que cada povo deve recriar e
que nas culturas de tradição oral ou predominantemente orais, utilizar estes símbolos e sons em seu próprio idioma. Por este
nas quais a comunicação verbal ocorre presencialmente, face- motivo, a pronúncia dos mantras pelos tibetanos é muito
a-face, a escrita seja vista, no que tange o seu valor informa- diferente do som destes mesmos mantras em sânscrito
tivo presente na ação comunicativa, uma opção incompleta, bramânico. Os tibetanos não traduziram os mantras para a sua
pouco confiável, passível de falsificações. A comunicação oral língua, no entanto, a existência de uma escrita com base no
face-a-face, por sua vez, é, em um só tempo, verbal, gestual e sânscrito, porém distinta desta, e a pronúncia proveniente de
presencial e, portanto, viva e tridimensional. uma língua falada pré-existente tornaram o som dos mantras algo
Outro aspecto positivo das culturas de tradição oral um tanto singular.
citado por Gnerre foi levantado por Goody e Watt: Segundo Stevens, um mantra escrito ou uma sílaba-raiz
As sociedades com escrita, simplesmente porque não
sagrada escrita, para os tibetanos, são tão poderosos quanto a
dispõem de sistema de eliminação, nem de uma amnésia
fala. O mantra por eles considerado mais poderoso Om mani
estrutural, evitam que o indivíduo participe plenamente do total da
padme hum é composto por seis sílabas: om om ma ni pad me hum.
hum.
tradição cultural, ao passo que isso é possível nas sociedades
Em uma tradução essencial, podemos representá-lo através das
ágrafas. (Goody e Watt, 1962, 1968:32: Citado por Gnerre,
seguintes palavras: A realização (Om
(Om)) de vislumbrar o absoluto
1998: 73)
(Mani – jóia) dentro do relativo (Padme – lótus) para além das
Nas sociedades de tradição oral ou naquelas de tradição
referências ilusórias de tempo, espaço e individualidade (Hum).
escrita nas quais prepondera a comunicação oral, as interações
Este mantra tem sido escrito, recitado, conduzido e impresso em
verbais tendem a ser de um falante para um ou poucos
toda parte do Tibete – sobre rochas, em montanhas, em
interlocutores que, com freqüência, interagem com o falante
bandeiras de oração, em objetos diversos e em sinos, que quando
principal.
tocam representam seu poder de liberação. Além de ter sido
O Sânscrito e a Lingüística Indiana impresso aos milhões em rolos de papel que são cuidadosamente
colocados dentro de rodas de oração, giradas incessantemente
O estudo da escrita tibetana requer um apanhado básico pelos tibetanos.
da lingüística indiana, sobretudo do sânscrito, do qual a escrita Para os tibetanos, um texto, ou mesmo uma sílaba escrita
do Tibet se originou. no seu alfabeto é respeitada como elemento sagrado. Eles não
Kristeva afirma, em A história da linguagem, que o põem um texto no chão, não pisam nem passam por cima de uma
processo de organização da linguagem e da reflexão que a ela escritura. Para desfazer-se dos escritos é necessário cremá-lo.
se refere, tomou, na Índia, uma direção distinta do que se Documentos desnecessários são cuidadosamente colocados em
pode observar nas outras civilizações. Este processo “talvez cavernas e deixados para que naturalmente sejam consumidos
constitua a mais antiga base da abstração lingüística moderna” pelo tempo. Textos desgastados, fragmentos de livros sagrados e
(Kristeva, 1983:103). manuscritos e outros pedaços de papel importantes são
Segundo a autora, as teorias indianas tiveram como depositados em relicários especiais. Para um tibetano, as letras
base o sânscrito, língua da literatura védica, considerada língua são tão sagradas quanto os próprios Budas e seres iluminados.
“perfeita”, que surgiu há mais de mil anos antes da nossa era e
que não é mais falada desde o século III a.C., substituída Leia a matéria completa em nosso blog:
desde então pelo Prakrit,
Prakrit, ou prácrito. A partir desta época http://revistahorizonte.blogspot.com
foram decifrados e traduzidos para o prácrito os textos poéticos
míticos e religiosos do sânscrito, o que deu origem à gramática Fabiano de Oliveira Moraes
de Panini e à lingüística indiana. Esta lingüística tinha como www.fabianomoraes.com.br
inspiração os textos decifrados, e interpretava uma teoria Graduando em
lingüística já presente nos textos sagrados. “Portanto, a Letras/Português pela
fonética e a gramática indiana organizaram-se em estreita Universidade Federal do Espírito
relação com a religião e o ritual védicos, e representam o Santo - Brasil, contador de
“estrato” dessa religião” (Kristeva, 1983:104). histórias, escritor
e conferencista, idealizou e
A Escrita Tibetana: Histórico coordena o site Roda de
John Stevens, em Sacred calligraphy of the east,
east, afirma Histórias, um portal na internet
que, embora existam evidências de uma escrita perdida Shang- sobre a arte de contar histórias.
shung Pönpo (Zhang-zhung-bom-po, tib.), pertencente ao Ministrou a oficina: Janelas dos
período anterior ao florescimento do budismo na região sentidos,
sentidos, com abordagem da
tibetana, acredita-se, geralmente, que o Tibete não teve concepção tibetana das
linguagem escrita até o reinado de Songtsen Gampo (srong- sensações evocadas pela
tsan-sgam-po, tib. 617-699), que, depois de ser convertido ao criação de imagens, ambientes
budismo pelas suas duas esposas, ordenou a introdução de um e paisagens mentais, presentes
alfabeto com o intuito de propagar o budismo entre os seus no processo de contar e escutar
súditos. histórias.

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