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Diretor-Presidente da FUNTRAB
Ananias Costa dos Santos
Ministro da Educação
Tarso Genro
Vice-reitor da UFMS
Mauro Polizer
Edição publicada com recursos do FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador / Ministério do Trabalho e Emprego
Eduardo Ramirez Meza
(Organizador)
Realização:
Projeto Escola de Conselhos/UFMS
escoladeconselhos@nin.ufms.br
Edição de Textos:
Eduardo Ramirez Meza
ramirez@nin.ufms.br
Revisão:
Eduardo Ramirez Meza
Maria de Lourdes Jeffery Contini
Sumário
Apresentação , 7
Introdução à Macroeconomia, 91
Cícero Antônio de Oliveira Tredezzini
Apresentação
O
Plano Plurianual 2004-2007 do Governo Federal pretende-se instrumento ca
paz de colocar em novas bases a Política Pública de Qualificação para que esta,
na condição de política social, assuma caráter de centralidade no planejamento
e na integração das diferentes ações governamentais. Desta forma o fortalecimento dos
espaços públicos ganha realce de gestão participativa e controle social. Um dos desafi-
os colocados neste panorama é promover a integração da Política de Qualificação com as
demais Políticas Públicas de Trabalho e Renda, assim como encontrar as interfaces des-
tas com a educação e com o desenvolvimento sustentável. Isso implica um resgate do
compromisso público com a mudança na vida do trabalhador.
Por seu turno, o Plano Nacional de Qualificação Social e Profissional – PNQ coloca
como desafio o “empoderamento” dos espaços públicos de gestão participativa e contro-
le social, onde enquadra-se determinante o papel da Comissão Estadual de Emprego, no
sentido de que suas ações sejam reflexo, de fato, de seu caráter público, tendo em vista
ser um órgão de participação cidadã e espaço de partilha dos diferentes interesses dos
segmentos da sociedade. O canal de participação da sociedade, através da Comissão
Estadual de Emprego, está aberto. O que parece faltar, contudo, é uma maior
conscientização de seus membros, bem como dos gestores governamentais, sobre a
importância, o papel de cada qual e as estratégias que podem e devem ser utilizadas para a
realização de seus poderes, outorgados pela sociedade, na definição, no acompanhamento e
no controle das Políticas Públicas de Trabalho e Renda em Mato Grosso do Sul.
Para fazer frente aos objetivos acima elencados o Curso, totalizando uma carga
horária de 120 horas/aula, foi organizado a partir das articulações entre 19 aulas/disci-
plinas nomeadas resumidamente: 1) Política e Estado Democrático; 2) Direitos Huma-
nos e Sociais; 3) Políticas Públicas e Sociais; 4) Controle Social; 5) Economia do Trabalho;
6) Desenvolvimento e Direitos Sociais; 7) Globalização, Trabalho e Emprego; 8)
Globalização e Desigualdade Social; 9) Globalização, Meios de Comunicação e Mercado
de Trabalho; 10) O Pensamento Complexo na Gestão de Políticas Públicas; 11) Comuni-
cação e Participação Social; 12) Políticas Públicas de Trabalho e Renda; 13) Sistema
Tripartite de Gestão; 14) Indicadores de Trabalho e Emprego; 15) Qualificação Profissio-
nal no Brasil; 16) Plano Nacional de Qualificação; 17) O Papel da Avaliação; 18) Supervi-
são Operacional, e 19) Interfaces da Política de Qualificação.
A definição dos ministrantes que integram o corpo docente do Curso teve como refe-
rência, para efeitos de escolha, a experiência acadêmica dos professores, com formação e
pesquisas desenvolvidas nas respectivas áreas. O corpo docente é integrado, também, por
profissionais que, comprovadamente engajados e atuantes nas correspondentes áreas, pos-
suem reconhecida experiência e competência para ministrar as aulas/disciplinas propostas.
Apresentação
9
É necessário afirmar, por fim, que o conteúdo do Curso não está integralmen-
te aqui representado, até mesmo porque os textos ora publicados foram produzidos
anteriormente ao desenvolvimento das aulas, certamente enriquecidas por leituras
complementares e pelos debates e discussões promovidas pelos ministrantes e cor-
po discente. Espera-se, ademais, que o presente caderno encontre acolhida para
uma boa leitura.
O
objetivo deste pequeno texto é apenas suscitar reflexões contínuas, em co
mum, sobre a política e as atividades cívicas ligadas ao funcionamento da soci
edade e à procura da resolução de seus conflitos no quadro social-histórico, do
que passa por um Estado democrático no Brasil contemporâneo. É apenas a
conscientização dos cidadãos quanto a seus papéis na comunidade, que pode levar o
grupo alvo deste texto à plena realização de suas tarefas cotidianas no contexto de suas
funções profissionais e políticas.
1
Reações eventuais a este texto podem ser enviados ao seguinte email: dvetauro@nin.ufms.br
Utilizei várias fontes da obra de Susan George, em geral apenas disponíveis em inglês. Minha grati-
dão é extendida por sua compreensão. Vide bibliografia in fine.
12 Política e Estado Democrático: algumas interrogações pontuais
aquela que realiza a nossa humanidade2. Em outros termos, são pelas idéias, represen-
tações, instituições e atos que os homens encenam e realizam a sua humanidade. E,
seguindo nosso mestre, o Estagirito, a dotação de linguagem é o atributo que sela essa
natureza humana dos homens, os distingüindo dos animais (Ibid). É pelo processo de
humanização e socialização que os seres humanos se tornam aptos à sobrevivência como
seres humanos mais ou menos sociais.
A complexidade das sociedades e das relações sociais entre homens nas socieda-
des apresenta dificuldades para análise, sobretudo, relativas às tipologias delas caracte-
rísticas. No caso do mundo contemporâneo, a quase totalidade das sociedades huma-
nas são, mais ou menos, totalmente integradas no que costumamos chamar o mundo
das relações sociais capitalistas, onde a razão capitalista domina com toda a sua fúria. A
expansão ilimitada do domínio racional, no qual o lucro baseado na exploração humana
é sua maior expressão.
2
O ser humano é um zoon politikon, um ser vivo feito para viver em comunidade – ARISTÓTELES,
Política. Trad. Mário Gama Kury. Brasília: UnB, 1990. Livro I.
3
Sociedades a Estado são sociedades dotadas da institutição estatal, cujo aparelho paira acima da
sociedade civil, dominando-a e privando-a de suas possibilidades de autogoverno e autonomia.
David Victor-Emmanuel Tauro
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e serem governados (Op. Cit., Livro IV). Abraham Lincoln reformulou a concepção de
modo mais direto: o governo do povo, pelo povo e para o povo. Tanto a política quanto
a democracia são regimes que, pelo menos nas suas origens (e até a época recente),
instituem sua humanidade através da participação mais ou menos direta das pessoas
que compõem essas comunidades. E, nessas comunidades, com a participação direta da
sociedade nas discussões na tomada das decisões, consideramos que a democracia é
direta e, logo, dispensam essas instituições chamadas “Estados”, já que não existe insti-
tuição político-administativo alguma pairando acima da sociedade. Voltaremos à ques-
tão da democracia mais adiante.
Essa luta pela liberdade caracterizou, também, as lutas sociais nas pequenas cida-
des do norte da Itália, a partir do século XI. Bem antes do liberalismo se tornar uma
4
Conjunto de idéias mais ou menos coesivas relativas a uma realidade, não para esclarecê-la e
transformá-la, mas para velá-la e justificá-la no imaginário.
14 Política e Estado Democrático: algumas interrogações pontuais
doutrina política na Europa ocidental ou nos EEUU., o grito, “Libertà!!!” ecoava em volta
dos Alpes. Era o grito para o direito de se governar, da autonomia.5 Não por acaso,
tampouco, a Suiça vizinha se tornou um dos primeiros países europeus onde a demo-
cracia toma raízes pela segunda vez. Ali, num pequeno país, onde há quatro línguas
oficiais, encontramos o sistema político mais aberto e efetivamente “democrático” no
mundo hoje. É lá que o povo tem o direito efetivamente possibilitado e exercido de
propor, discutir, plebiscitar e ter proclamadas suas leis. Claro, o peso dessa “democra-
cia” ainda não é total, perfeito, acabado. Como processo, a luta pela democratização da
vida nos persegue sem cessar. Mas, o fato de que os Suiços se dão a possibilidade de
votar cada fim de semana para opinar sobre seus projetos locais e nacionais de lei, em
nada cessa as atividades do país, nem os inibe a produzir armas, chocolates, relógios ou
de urdir suas vacas com a regularidade que se tornou classicamente helvêtica. É uma
questão de cultura “democrática” popular.
5
Cf. SKINNER, Quentin. Fundações do Pensamento Politico Moderno. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994, Cap. 1. e Liberty Before Liberalism, Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
6
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Cartes sur la montagne, in Oeuvres Complètes. Paris : nrf Gallimard,
col. La Pléiade, 1979.
David Victor-Emmanuel Tauro
15
A legitimidade se põe num plano contíguo: quantos votos do povo valem um voto
do representante? Nas eleições do dia 3 de outubro de 2004, na cidade de Campo Gran-
de (MS), o mais votado dos vereadores municipais recebeu um pouco mais de 11 mil
votos, o eleito menos votado menos de 3.500 votos. Será que isso realmente é uma
representação legítima da população citadina de mais de 750 mil em Campo Grande? A
legitimidade se põe em outros termos: como qualificar a eleição de um jovem de 18 anos
como edil, cuja única qualidade é de ser sobrinho neto de seu tio avó político? Como no
caso do prefeito-eleito e de seu irmão, o citado mais votado na cidade, ambos filhos de
um pai, político tradicional. Ou o caso parecido, do candidato a prefeito derrotado,
sobrinho do governador em exercício. Será que a política é apenas um assunto de vida
familiar, onde o pater familia é, ipso facto, o maior juiz político na praça? A política pode
ser reduzida a uma profissão exercida por vocação familiar? Ou será que nós todos não
detemos juízo político suficiente e dever compatível para exercer nossas vocações polí-
ticas nós mesmos? Nestes casos, como é que ficou a participação dos cidadãos nos
assuntos públicos da cidade? São estes entes simplesmente relegados a serem especta-
dores passivos a uma apresentação teatral que deve durar pelos próximos quatro anos.
E os perdedores? Quem vai os representar, os vitoriosos? Neste caso, por que foram eles
candidatos com plataformas políticas distintas? A lista de problemas é tão enorme, que
é preferível terminar com a mensagem articulada durante a campanha eleitoral: não
abstenha nem anule seu voto. Caso contrário, não terá o direito de cobrar dos eleitos no
futuro. Dispensamos de comentários maldosos – a autoria da mensagem é do próprio
Tribunal Superior Eleitoral.
2. Do liberalismo à paleo-selvageria
Na modernidade, o sistema político repõe num quadro filosófico determinado: o
do liberalismo. O liberalismo é um credo que surge a partir do ideal da liberdade aplica-
do à instituição social do individualismo possessivo, impresso como parte integrante
do imaginário central da sociedade capitalista. Sistematizado por John Locke, o paradigma
do homem moderno é um ser dotado de direitos – à vida, a liberdade e à propriedade7.
Bem entendido, esse direito à propriedade não é ilimitado: é ele circunscrito por
determinantes sociais. Para o filósofo liberal, os limites da propriedade são os que
permitem o ganho de um sustento apropriado para seu dono e... nada mais. A idéia de
que podemos ter propriedade privada ilimitada é um fantasma patológico. No mundo
inteiro, os governos são vigilantes o suficiente para taxar o que conseguem limitar como
7
LOCKE, John. O Segundo Tratado sobre o Governo Civil. In Obras. São Paulo: Abril Cultural,
Col. Os Pensadores, 1972.
16 Política e Estado Democrático: algumas interrogações pontuais
8
Estado de Previdência.
9
Política econômica americana adotada pelo presidente Roosevelt para combatrer os efeitos malé-
ficos da Grande Depressão dos anos 1930.
David Victor-Emmanuel Tauro
17
foram conjugadas pela criação do terceiro setor na economia, o setor de serviços ofereci-
dos por servidores públicos nas áreas de administração direta: educação, saúde, segu-
rança, habitação, assistência social, etc.
10
Cf. WEBER, Max. Economia y sociedad. Mexico:Fondo de Cultura Económica, 1970, capítulo
sobre a burocracia.
18 Política e Estado Democrático: algumas interrogações pontuais
deveria ter uma inflüência preponderante nas transações cotidianas11, que as grandes
corporações multinacionais deveriam ser vigiadas, que os sindicatos deveriam ser li-
vres e ter uma participação aberta nas decisões das empresas e que os cidadãos deveri-
am ter uma cobertura de proteção social generalizada.
Não que devamos entender a época e esta política estatizante como qualquer for-
ma de socialismo. A prova: durante os 20 anos da ditadura militar brasileira, de 1964 a
1984 (de que ninguém acusou até agora de ser comunista!), os índices econômicos do
IBGE ou do IPEA atestam que mais de 60% da então economia brasileira era dominada/
controlada direta ou indiretamente pelo Estado. Sob os militares, o Estado passou a
controlar até setores de serviços; não apenas setores produtivos como petróleo ou aço,
mas outros setores improdutivos como hotelaria. Por aproximar-se do absurdo, os cus-
tos sociais destas aventuras improdutivas chegaram a serem obscenos.
11
Um exemplo liberal, a partir de uma obra pulicada pela primeira vez em 1944, é suficiente: “Deixar
o mecanismo do mercado ser o único diretor da sorte dos seres humanos e de seu ambiente natural
… resultaria na demolição da sociedade..” Karl Polanyi, The Great Transformation. New York,1957, p. 73.
David Victor-Emmanuel Tauro
19
origem, Hayek era um simples neurologista que aos poucos fez sua carreira em econo-
mia. Em reação as formas de totalitarismo (nazismo, fascismo e stalinismo) consagra-
das nos regimes políticos dos anos 1920 e 1930, publicou seu O Caminho à Servidão
(1944) e, em seguida, dedicou o restante de sua vida a defender ideais de um capitalis-
mo de livre mercado.
Aos poucos, de uma pequena seita, o grupo de Hayek atraiu a atenção dos setores
mais conservadores do capitalismo, que financiaram uma rede substancial de institui-
ções, empregaram pesquisadores, cujos trabalhos e relatórios finais resultaram em pu-
blicações, apresentados em eventos públicos e outras atividades para promover uma
nova ideologia que veio a ser chamada de “neoliberalismo”. A burguesia soube usar as
universidades e outros “thinktanks” muito melhor do que as outras classes sociais.
Como é facil recordar, não há nada de liberal nesta proposta, pelo menos no que diz
respeito à tradição liberal praticada no mundo capitalista: o laissez-faire, laisser passer
foi mais uma ideologia que nunca foi seriamente implementada exatamente por que o
Estado nunca cessou de participar ativamente nos negócios das grandes potências capi-
talistas. O prefixo “neo” vale ainda menos: a política em vigor que vai por este nome há
mais em comum com a idade de selva do que qualquer coisa “nova”. E essa política,
numa idade de exclusão, pode ser classificada de modo mais apta de “paleo-selvageria”.
Médio, golpes fomentados nas Américas Central e Latina, saídas diplomáticas escon-
dendo as derrotas no Vietnam, Campuchea e Laos. Em seguida, veio o ataque maciço no
sitema econômico. Perante as dificuldades engendradas pela crise fiscal do Estado, ha-
via apenas uma política possível: o Estado mínimo. E, em 1979, quando a ideóloga mais
famosa no “neoliberalismo” entrou em campanha para ser eleita líder do Partido Con-
servador da Grã Bretanha, Margaret Thatcher emendou, “There Is No Alternative (TINA)”.
Não há alternativa! A intervenção do Estado será substituída pela Mão Invisível do
mercado livre e a prioridade será o desregulamento das atividades econômicas, a libera-
ção do mercado dos entraves estatais (controles, subsídios, ncentivos, descontos, etc.),
para que as pessoas, as famílias, as empresas, os négocios de toda espécie, as cidades, as
regiões, os países e os blocos, sejam obrigados a se submeterem apenas a uma lei e
prática: a concorrência. Foi particularmente gratificante que as únicas exceções a essa
exigência foram exatamente aquelas que deveriam ser submetidas à concorrência: os
conglomerados multinacionais. Nas últimas três décadas, foi o grupo que menos prati-
cou a concorrência e que mais se beneficiou pelas políticas estatais sob forma de
reestruturações, “mergers”, compras, etc. A lei da selva, (sobrevivência dos mais aptos!)
é aplicável a todos, em relação a todos os recursos, humanos, físico-materiais e financei-
ros, menos às Corporações Multinacionais. Junto com seu grande amigo, o ator dos
filmes série B, o presidente americano, Ronald Reagan, Thatcher avançou que a desi-
gualdade natural entre as pessoas não deveria ser combatida com políticas públicas. Ao
contrário: era necessário deixar a natureza funcionar enriquecendo os meritosos. Quan-
to aos pobres e os que são perdedores: a culpa é deles, não da sociedade! De 1979 em
diante, além da Grã-Bretanha e dos EEUU., países diversos como Austrália ou Grécia,
Bélgica, Alemanha, França, Espanha, Chile, Argentina ou Brasil, aplicaram políticas deri-
vadas deste paradigma, pouco importando se for democrata ou republicano, conserva-
dor ou trabalhista, democrata cristão, social cristão, social democrata ou socialista. O
pensamento único havia triunfado.
Para coroar essa situação, a alternância política esperada com a vitória de Lula e
do Partido de Trabalhadores nas eleições de 2002 simplesmente não aconteceu. A políti-
ca econômica antes praticada pelo o PSDB, ainda está em vigor, um tanto exacerbada,
sob a batuta de homens de confiança do sistema capitalista liderados por Henrique
Meirelles, membro do establishment bancário internacional. O czar da política econô-
mica do país, o ministro Palocci, repete o refrão bordado de Margaret Thatcher, “Não há
alternativa!”.
22 Política e Estado Democrático: algumas interrogações pontuais
BIBLIOGRAFIA
ARISTÓTELES. Política. Trad. Mário Gama Kury. Brasília: UnB, 1990.
GEORGE, Susan. Corporate-led Globalism: A Short History of Neoliberalism. Proceedings
of the Conference on Economic Sovereignty in a Globalising World, Bangkok, 24-26 March,
1999, http://www.globalpolicy.org/globaliz/econ/histneol.htm, consultado em 01/10/2004.
_________. Another World is Possible. In The Nation Magazine, New York, February 16,
2002. http://www.thirdworldtraveler.com/Dissent/AnotherWorldPossible.htm, consul-
tado em 01/10/2004.
________. For Many Countries, there is No fate Wor$e Than Debt. Interview by Michael
Gismondi. Aurora Online, http://www.aurora.icaap.orgarchivegeorge.html, acessado em
01/10/2004.
LOCKE, John. O Segundo Tratado sobre o Governo Civil. In Obras. São Paulo: Abril
Cultural, col. Os Pensadores, 1972.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Cartes sur la montagne, in Oeuvres Complètes. Paris : nrf
Gallimard, col. La Pléiade, 1979.
SKINNER, Quentin. Fundações do Pensamento Politico Moderno. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 1994, Cap. 1. e Liberty Before Liberalism, Cambridge: Cambridge
University Press, 1998.
WEBER, Max. Economia y sociedad. Mexico:Fondo de Cultura Económica, 1970.
23
A
cidadania é sustentada por um tripé que envolve as conquistas históricas do
homem, no que concerne às garantias dos direitos civis, às dos direitos políticos
e às dos direitos sociais. O momento atual mostra que as duas primeiras já con-
seguem ter um ‘status’ mais estabelecido junto à sociedade, diferentemente dos direi-
tos sociais, que em muitos países, como no caso do Brasil encontram-se em níveis mui-
to precários.
As políticas sociais, que deveriam garantir os direitos básicos do indivíduo, como
educação, saúde, habitação, transporte e lazer, não foram implementadas pelo Poder
Público e é no “terreno baldio das políticas sociais” que aparecem os destinatários e
demandatários da assistência social, ou seja, aqueles que foram excluídos dos direitos
sociais básicos. Os excluídos passam a conviver com a miséria, a fome e a morte, carac-
terizando uma vida imersa em “situações de risco”. No Brasil a situação é agravada pelos
alarmantes níveis de desemprego; é possível verificar um grande número de famílias
expostas a essa condição, o que as torna vulneráveis e frágeis na garantia da sua sobre-
vivência e sem nenhuma perspectiva de futuro para as suas vidas.
Tal situação, fruto de anos de uma política excludente e concentradora de renda,
passa a ser alvo de fortes críticas por parte de segmentos da sociedade civil organizada,
especialmente na década de 80, que se posicionam fortemente em favor da revisão da
Carta Constitucional. Esse movimento popular conquista, através da pressão e da parti-
cipação, avanços no que se refere aos direitos sociais, na promulgação da Constituição
de 1988. A nova Carta estabeleceu um re-ordenamento político-institucional das compe-
tências da Federação, dos Estados e dos Municípios, fortalecendo o movimento de par-
ticipação popular na constituição e execução de políticas públicas. Essa participação
fortaleceu os Direitos Humanos no Brasil.
Para podermos fazer uma análise desse movimento de participação popular e for-
talecimento dos Direitos Humanos, é necessário voltarmos um pouco mais na história
da própria constituição dos Direitos Humanos, com vistas a compreender as condições
históricas e sócio-econômicas que propiciaram tal conquista para a humanidade.
24 Direitos Humanos e Direitos Sociais: desafios e perspectivas
Segunda Guerra Mundial, quando 51 países assinaram a carta fundadora das Nações
Unidas. Em 1948 proclamam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 1966
foram firmados dois pactos: Pacto dos Direitos Civis e Políticos e Pacto dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Ambos reafirmam em seus artigos I, que “Todos os
povos têm o direito a sua livre determinação”.
A história dos povos que conquistaram sua independência, no entanto, foi suficiente
para demonstrar que a autodertiminação era, em grande parte, fictícia, visto que os direitos
acabavam perdendo o seu sentido, na medida em que as nações careciam, cada vez mais, dos
meios para satisfazer as necessidades mínimas dos seus povos.
Outra questão importante citada por Pallazzo (1998) foi a forma como os dois grandes
blocos de poder político e econômico, criados durante a Guerra Fria, tratavam de forma dis-
tinta os Direitos Humanos. O Bloco capitalista priorizava os Direitos de Primeira Geração,
apegando-se mais a aspectos formais dos direitos da pessoas humana. No Ex- Bloco comunis-
ta, eram os Direitos de Segunda e Terceira Geração os de maior ênfase aos direitos sociais e
coletivos e aos direitos dos povos do que aos direitos individuais.
Em 1968 realiza-se, em Teerã, a I Conferência Mundial dos Direitos Humanos das Na-
ções Unidas. Nesse encontro, embora limitado pela realidade bipolar, já começa a tentativa
de romper com a dicotomia entre direitos civis e políticos e direitos econômicos e sociais,
proclamando a indivisibilidade e interdependência entre todos eles. Esse processo se com-
pleta na II Conferência Internacional dos Direitos Humanos em 1993, em Viena.
Um importante avanço nessa direção foi a Carta de Argel, em 1976, quando um
grupo de países do mundo não-desenvolvido proclama a Declaração dos Direitos dos Po-
vos, reconhecendo a existência de direitos cujos titulares são os povos, tanto individual
como coletivamente.
Os Direitos proclamados nesta ocasião foram: o direito à existência dos povos; à livre
disposição dos recursos naturais próprios; o direitos ao patrimônio natural comum da huma-
nidade; à autodeterminação; à paz e segurança; à educação; à informação e comunicação e a
um ambiente são e ecologicamente equilibrado.
Podemos observar que o corolário desses direitos todos é o direito ao desenvolvimen-
to, de cuja realização se deriva, com efeito, o respeito à maioria dos direitos e liberdades dos
povos. Em 1986, as Nações Unidas adotam uma declaração sobre o direito ao desenvolvimen-
to, em que se coloca a pessoa como sujeito central do processo.
A vinculação do direito ao desenvolvimento com a pessoa humana resultou num con-
ceito de desenvolvimento humano. Este tipo de desenvolvimento envolve não só variáveis
econômicas mas também, a expectativa de vida, o conhecimento derivado da educação, o
nível de vida, a liberdade política, a proteção ambiental entre outras. Este breve histórico
demonstra os caminhos construídos pela coletividade humana buscando, cada vez mais,
ampliar os conceitos de Direitos Humanos, Direitos Sociais e Desenvolvimento Humano.
26 Direitos Humanos e Direitos Sociais: desafios e perspectivas
Bibliografia Básica
DONNELLY, Jack. Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento. In: PINHEIRO,
P.S. e GUIMARÃES, S.P. (org.) Direitos Humanos no século XXI. Brasília: Senado Federal:
IPRI, 1998. pp.167-208.(Parte I).
DUPAS, Gilberto. A questão do Emprego e da Exclusão Social na Lógica da Economia
Global. In: PINHEIRO, P.S. e GUIMARÃES, S.P. (org.) Direitos Humanos no século XXI.
Brasília: Senado Federal: IPRI, 1998. pp.107-131.(Parte I).
HERRERA, Maria Belela. Desafios que o tema Direitos Humanos coloca para o Século XX.
In: PINHEIRO, P.S. e GUIMARÃES, S.P. (org.) Direitos Humanos no século XXI. Brasília:
Senado Federal: IPRI, 1998. pp.607-622.(Parte I).
PALAZZO, Ludmila Oliveira. A Evolução dos Direitos Humanos e suas novas dimensões.
In: Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia. Psicolo-
gia, Ética e Direitos Humanos. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 1998.
29
1
O autor, explicitando a associação existente entre política e poder, cita HOBBES, que define o
poder como meios adequados à obtenção de qualquer vantagem” e RUSSELL, que o define como
“conjunto de meios que permitem alcançar os efeitos desejados” (BOBBIO, 1998, p.954).
30 As Políticas Públicas Sociais
Embora a política deva ser entendida como uma atividade humana - desenvolvida
em qualquer situação, portanto, face aos interesses definidos neste estudo, restringire-
mos nossa análise ao campo das políticas sociais.
Esta análise nos auxilia a perceber que a política social, além de compensatória,
uma vez que deve atender às necessidades mínimas dos que dela se utilizam, deve ser
caracterizada também como preventiva, contribuindo de maneira efetiva para que de-
terminadas situações sejam evitadas, redistributiva, na medida em que interfere na
concentração de renda, universal, possibilitando a todos, de maneira equânime, o aces-
so às oportunidades e emancipatória, associando, no dizer de DEMO (1996, p.23) a
“autonomia econômica com autonomia política”, o que certamente favorecerá o exercí-
cio da cidadania, possibilitando o surgimento de um nova sociedade: mais justa e, por-
tanto, menos desigual.
PEREIRA (1994, p. 1) observa que nunca se falou tanto em política social como atual-
mente, embora, no Brasil, não haja clareza quanto ao sentido que o termo apresenta, o que
podemos complementar: pela ocorrência da pobreza política, como denomina DEMO. Polí-
tica Social, no entanto, “tem identidade própria” no dizer da autora, que conclui:
“Refere-se a programa de ação que visa, mediante esforço organizado, atender necessidades
sociais cuja resolução ultrapassa a iniciativa privada, individual, espontânea, e requer decisão
coletiva regida e amparada por leis impessoais e objetivas, garantidoras de direitos (...) a política
32 As Políticas Públicas Sociais
social é uma espécie, dentre outras, do gênero política pública (...) embora as políticas públicas
sejam reguladas e freqüentemente providas pelo Estado, elas englobam preferências, escolhas
e decisões privadas podendo (e devendo) ser controladas pelos cidadãos. Política pública ex-
pressa, assim, a conversão de decisões privadas em decisões e ações públicas, que afetam a
todos”. (PEREIRA,1994, p.1-2)
A política social pública deve ser o instrumento utilizado pelo poder público com
vistas ao respeito devido aos direitos sociais garantidos pela Constituição Federal em
vigor2. Por isso, segundo o mesmo autor, deve ser entendida como direito e não como
uma mera concessão de favores, devendo, pelas características que apresenta, ser de-
senvolvida em três linhas, que se complementam: políticas assistenciais, políticas
participativas, e políticas socioeconômicas.
2
Cf. Constituição Federal, p. artigo 6º, complementado pelos artigos 192 e 193.
3
“A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição
à seguridade social” - Art. 203.
Regina Stela Andreli de Almeida
33
Organizações de produção e
SOCIEDADE ECONÔMICA distribuição, cooperativas,
empresas e firmas
4
No sistema capitalista o antagonismo sempre está presente, uma vez que nas relações de
trabalho vemos, de um lado o empregador, cujo objetivo é o lucro e, de outro, o trabalhador que
procura, através da remuneração obtida com a venda da mão-de-obra, melhores condições de
vida, o que significa melhor salário. Ora, para satisfazer os anseios do trabalhador, o lucro do
patrão será reduzido, o mesmo ocorrendo em relação ao lucro por este obtido, que sabemos ser
proveniente da mais-valia.
36 As Políticas Públicas Sociais
Bibliografia
BOBBIO, N., MATEUCCI, N. e PASQUINO, G. Dicionário de Política. 11. ed. Brasília, DF:
UnB, 1998.
BRASIL,. Leis. Constituição: 1988. Texto constitucional de 5 de outubro de 1988 com as
alterações adotadas pelas emendas Constitucionais nº. 1/92 a 16/97 e emendas Consti-
tucionais de Revisão nº. 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições
técnicas, 1997.
DEMO, P.. Política Social, educação e cidadania. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1996.
PEREIRA, P. A. Concepções e propostas das políticas sociais em curso: tendências, pers-
pectivas e conseqüências. Brasília, DF: NEPPOS/CEAM/UnB, 1994.
VIEIRA, Liszt. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 1997.
37
D
evido à complexidade da realidade e às múltiplas possibilidades do conheci
mento, o assunto em pauta: as desigualdades sociais presentes no mundo
globalizado podem ser analisadas a partir das suas determinações econômicas,
sociais, políticas, entre outras. Optamos em discuti-las a partir de seus condicionantes
históricos. Isto porque a história tomada como método envolve a consideração de todos
os aspectos anteriormente citados, ainda que a finalidade didática deste texto não per-
mita faze-lo exaustivamente.
As relações sócio-econômicas e culturais entre as diferentes partes do mundo têm
seu marco fundamental nas expedições empreendidas pelos navegantes a partir do sé-
culo XVI. Um dos exemplos dessas e das suas conseqüências e a chegada dos espanhóis,
portugueses, franceses e holandeses ao continente americano e, especialmente, ao Bra-
sil no período de 1400 a 1500, portanto entre os séculos XV e XVI.
Nestes episódios já são visíveis as implicações sociais, culturais e político-econô-
micas acarretadas para ambas as sociedades e culturas envolvidas. O princípio de desi-
gualdade passa a ser a tônica das relações estabelecidas, pois os mais desenvolvidos e
que, de maneira geral, detinham maiores aparatos econômico e de conhecimentos obti-
veram o controle da natureza física e social e se sobrepuseram aos outros. Um desses
aparatos é o tecnológico. Entretanto, vamos nos dedicar aqui, mais especificamente, ao
processo que se desenvolve na contemporaneidade.
No começo do século XX parecia que se havia descoberto a maneira de distribuir
pelo menos parte da enorme riqueza produzida pelos homens durante os séculos ante-
riores, com um certo grau de justiça entre os trabalhadores dos países mais ricos: o
sistema social-democrata da Europa e o sistema socialista na União Soviética mostra-
vam tais tentativas e possibilidades. Porém, no final do século, a desigualdade voltou
a prevalecer e penetrou inclusive nos ex-países socialistas, onde antes imperava
38 Globalização e Desigualdade Social
tas condições foi a maneira mais eficaz de se construir uma economia industrial basea-
da na empresa privada: combina-la com motivações que nada tivessem a ver com a
lógica do livre mercado (com a ética protestante); com a abstenção da satisfação imedia-
ta; com a ética do trabalho árduo; com a noção de dever e confiança na família; mas sim
desacreditar a noção de rebelião dos indivíduos.
A manutenção e aprofundamento das desigualdades sociais no período atual
tiveram no fim da União Soviética condição determinante importante, pois, além da
supressão de um elemento ideológico, representou o fim de esforços políticos e de in-
vestimentos econômicos para a emancipação universal pela construção de uma alterna-
tiva melhor para a sociedade capitalista. Este objetivo inspirara desde a primeira gera-
ção pré-Revolução de Outubro, os que pretendiam eliminar tudo o que era mal e fazer
uma sociedade sem infelicidade, opressão, desigualdade e injustiça. Tanto que em pou-
co mais de trinta anos após a Revolução Soviética um terço da raça humana vivia sob
regimes comunistas.
O segundo grande movimento contra as desigualdades surge no combate ao
fascismo. Ideologicamente, este baseou-se nos valores e aspirações partilhadas do
Iluminismo e das Revoluções: progresso pela aplicação da razão e da ciência; educação e
governo popular; nenhuma desigualdade baseada em nascimento e origem; sociedades
voltadas mais para o futuro que para o passado. As aspirações não eram distantes da
realidade comum. O capitalismo ocidental, os sistemas comunistas e o Terceiro Mundo
estavam igualmente comprometidos com direitos iguais para todas as raças e ambos os
sexos, mas não de uma forma que distinguisse um grupo do outro. Eram todos Estados
seculares (em contraposição ao que se refere ou pertence à Igreja; temporal, civil, mun-
dano), que rejeitaram a supremacia do mercado e acreditaram na administração e plane-
jamento da economia pelo Estado. Os governos capitalistas de então estavam convenci-
dos de que só o intervencionismo econômico podia impedir um retorno às catástrofes
econômicas do período entreguerras e evitar os perigos políticos de pessoas radicalizadas
a ponto de preferirem o comunismo, como antes tinham preferido Hitler. Países do
Terceiro Mundo acreditavam que só a ação pública podia tirar as suas economias do
atraso e dependência. No mundo descolonizado, seguindo a inspiração da União Sovié-
tica o caminho para o fim das desigualdades parecia ser o socialismo e o planejamento
centralizado. Todas as três regiões do mundo avançavam no pós-guerra com a convicção
de que a vitória abria uma nova era de transformação social.
Porém, assim que não houve mais o fascismo para uni-los, o capitalismo e o co-
munismo voltaram a se preparar para enfrentar um ao outro como inimigos mortais. A
partir de então a diminuição das desigualdades sociais se deveu aos esforços de recu-
peração das conseqüências das Guerras Mundiais. Foi os Estados Unidos da América,
que dominou a economia do mundo após a Segunda Guerra Mundial, pois, simples-
mente continuaram a expansão dos anos da guerra, pois não sofreram danos, aumenta-
40 Globalização e Desigualdade Social
ram seu PNB em dois terços da produção industrial mundial. Entretanto, o grande desen-
volvimento pertenceu a todos os países do capitalismo desenvolvido, ainda que os países
socialistas apresentassem taxas de desenvolvimento superiores a dos capitalistas.
Neste momento o desenvolvimento foi um fenômeno mundial embora a riqueza
geral não chegasse a maioria da população do mundo, as populações cresceram, a expec-
tativa de vida ampliou em até dezessete anos. Inicialmente, a explosão econômica pós-
guerra pareceu apenas uma versão do que acontecia antes: uma globalização da situação
dos EUA pré-1945 e de certa forma era mesmo.
Contudo o mais impressionante nesse período é extensão em que o surto econô-
mico era movido pela revolução tecnológica: radar, motor a jato, a eletrônica e a tecnologia
de informação. Entretanto, o alto custo da pesquisa e desenvolvimento dos produtos
reforçou a enorme vantagem das economias de mercado desenvolvidas sobre as demais.
Tanto que um país desenvolvido típico mantém em atividades para este fim cerca de
mil engenheiros e cientista para cada milhão de habitantes.
Estas novas tecnologias são de capital intensivo e exigem pouca mão-de-obra ou a
substituem. Portanto, precisa de gente cada vez mais, apenas como consumidores. En-
tretanto, o ritmo de crescimento econômico até a década de 1980 não deixou esta condi-
ção clara, pois se continuou a ampliar os postos de trabalho. Além disso, o sistema de
previdência parecia assegurar as condições vigentes em caso de desemprego, para sempre.
Desde o período de expansão econômica do pós-guerra houve uma reestruturação
e reforma do capitalismo com um avanço na globalização e internacionalização da eco-
nomia, conforme o modelo dos EUA.
A primeira reestruturação produziu uma “economia mista”, que ao mesmo tempo
tornou mais fácil aos Estados planejar e administrar a modernização econômica e aumen-
tou enormemente a demanda. Ao mesmo tempo, o compromisso político dos governos
com o pleno emprego e com a redução da desigualdade econômica, isto é, um compromisso
com a seguridade social e previdenciária, pela primeira vez proporcionou um mercado de
consumo de massa para bens de luxo que passaram a ser aceitos como necessidades.
O que parece caracterizar este período e a redução de desigualdades sociais que pro-
moveu foi a conjunção de liberalismo econômico e democracia social, com substanciais
acréscimos da URSS quanto ao planejamento econômico. Por isso políticos, autoridades e
homens de negócio do Ocidente do pós-guerra estavam convencidos de que um retorno ao
laissez-faire e ao livre mercado original estava fora de questão. Alguns objetivos políticos
como: pleno emprego, contenção do comunismo, modernização de economias atrasadas ou
em declínio tinham prioridade e justificavam a presença mais forte dos governos.
Outro aspecto a ser considerado é as mudanças culturais. Entende-se que a Revo-
lução Cultural de fins do século XX caracteriza-se como a vitória do indivíduo sobre a
sociedade. O que acarretou o rompimento dos vínculos dos seres humanos com a textu-
ra social, pois essa textura não consistia apenas nas relações factuais entre os seres
humanos e suas formas de organização, mas também nos modelos gerais dessas rela-
ções e os padrões esperados de comportamento das pessoas umas com as outras; seus
papéis eram prescritos. Daí a insegurança muitas vezes traumática quando velhas con-
venções de comportamento eram derrubadas ou perdiam sua justificação; ou a
incompreensão entre os que sentiam essa perda e aqueles que eram jovens demais para
ter conhecido qualquer coisa alem da sociedade anômica.
Na maior parte do mundo, as velhas texturas e convenções sociais, embora defa-
sadas pelas transformações sociais e econômicas, estavam tensas, mas não em desinte-
gração. Isso era uma felicidade para a maior parte da humanidade, sobretudo os pobres,
pois a rede de parentesco, comunidade e vizinhança eram essenciais para sobrevivência
econômica e, sobretudo para o sucesso num mundo em mudança.
Nas sociedades mais tradicionais, as tensões iriam se mostrar basicamente na medi-
da em que o triunfo da economia comercial destruía a legitimidade da ordem social até
então aceita, baseada na desigualdade, tanto porque as aspirações se tornavam mais iguali-
tárias quanto porque as justificativas funcionais da desigualdade estavam desgastadas. As
instituições mais solapas pelo individualismo moral doas a família tradicional e as igrejas
organizadas tradicionais no Ocidente, que desabaram de no último terço do século.
As conseqüências materiais do afrouxamento dos laços familiares tradicionais
porque era um mecanismo de cooperação social e como tal, foi essencial para a manu-
tenção das economias agrárias e das primeiras economias industriais, locais e globais.
Quando esses laços e solidariedades de grupos não econômicos foram minados, tam-
bém o foram os sistemas morais que os acompanhavam por não serem mais aceitas
como parte de um modo de ordenar a sociedade que ligava as pessoas e que ligava as
pessoas entre si, assegurando a cooperação social e a reprodução, desapareceu a maior
parte de sua capacidade de estruturar a vida social humana. Foram reduzidas a manifes-
tações de preferências individuais e reivindicações de que a lei reconhecesse a supre-
macia dessas preferências. A partir da 1969 estas condições encontraram expressão ide-
ológica em várias teoria do extremo liberalismo do mercado ao “pós-modernismo”, que
tentam contornar o problema do julgamento moral e valores, ou reduzi-las ao único
42 Globalização e Desigualdade Social
Bibliografia
BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Crise Econômica e reforma do Estado no Brasil: para
uma nova interpretação da América Latina. São Paulo: Ed. 34, 1996.
DUPAS, Gilberto. Economia Global e Exclusão Social: pobreza, emprego, estado e o futu-
ro do capitalismo. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
HOBSBAWM, Eric J.. Era dos Extremos: o breve século XX: 19714-1991. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1995.
IANNI, Otavio. A Era do Globalismo. 2ª Ed.. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
MARTIN, Hans-Peter e SCHUMANN, Harald. A Armadilha da Globalização. 3ª Ed. São
Paulo: Globo, 1998.
43
O
propósito deste artigo é discutir sobre a relação entre formação para o mercado
de trabalho, globalização e meios de comunicação. Vivemos em um mundo sem-
pre mais globalizado, onde os meios de comunicação tornaram-se mediadores
da relação que os seres humanos estabelecem com a realidade que lhes circunda. A
globalização e a presença dos meios de comunicação trazem conseqüências não somen-
te para o mundo do trabalho, e sim para a vida social em geral; mas para inserir-se e
manter-se de modo competitivo no mercado de trabalho é necessário, no entanto, ter
em mente alguns dos aspectos centrais e que marcam o modo de ser da sociedade atual,
como é o caso da crescente globalização e da ubiqüidade dos meios de comunicação na
vida hodierna. Vamos debater, então, sobre a interdependência entre meios de comuni-
cação e processo de globalização, e sobre alguns dos aspectos a serem levados em consi-
deração quando nos propomos a formar para o mercado em um mundo globalizado,
onde os meios de comunicação atravessam cada vez mais o contato entre as partes.
E por que preocupar-se com a globalização na planificação que se faz na formação
para o mercado de trabalho? Há algo de singular nesta nova realidade que justifique esta
atenção? O que têm os meios de comunicação a ver com essa configuração social que se
afirma de forma avassaladora sobre a sociedade como um todo? Devemos, antes de mais
nada, entender o papel dos meios na sociedade contemporânea. Para responder estas
questões é importante, também, definir alguns dos rasgos do que entendemos aqui por
globalização, visto que este conceito aparece insistentemente em distintos contextos, e
nem sempre os seus usos coincidem por completo.
Quanto à importância de discutir os meios de comunicação quando falamos de
globalização, devemos considerar que estamos em uma sociedade onde a comunicação e
44 Globalização, Meios de Comunicação e Mercado de Trabalho
Bibliografia
MARCONDES FILHO, Ciro. Sociedade Tecnológica. São Paulo: Scipione, 1994.
PRETTO, Nelson de Luca. Uma Escola com/sem Futuro. Educação e multimídia. Campi-
nas: Papirus, 1996.
THOMPSON, John B.. A Mídia e a Modernidade. Uma teoria social da mídia. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1998.
WURMAN, Richard Saul. Ansiedade de Informação. Como transformar informação em
compreensão. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1991.
47
Ricardo Senna
Mestre em Economia Política pela PUC/SP.
Técnico de nível superior e professor colaborador
do Centro de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
N
as últimas três décadas tem ocorrido mudanças substanciais no ambiente eco
nômico que tem provocado alterações importantes nas relações econômico-fi
nanceiras internacionais e nas formas de organização dos mercados.
Tais mudanças foram cunhadas sob o nome genérico de globalização, entretanto,
seus contornos mais marcantes referem-se aos processos de abertura comercial e finan-
ceira e às permanentes influências sobre o desempenho do padrão de crescimento das
economias nacionais, dado o quadro de excessiva vulnerabilidade externa de economi-
as em desenvolvimento.
O texto apresenta uma breve síntese dos principais movimentos que marcam
essas transformações recentes e analisa suas implicações sobre o mercado de trabalho.
que impediu o desenvolvimento pleno das economias da região. Boa parte dessa crise
foi em função da elevação abrupta da taxa de juros norte-americana, que impôs à econo-
mia internacional um severo processo de ajustamento recessivo.
Dada a combinação de taxas cambiais flutuantes e juros em elevação, o nível de
instabilidade dos mercados aumentou substancialmente, o que implicou na necessida-
de de se criar mecanismos de proteção dos negócios frente às intempéries econômicas.
Em função do desenvolvimento observado nas áreas de telecomunicações e informática,
houve o surgimento dos mercados de derivativos como forma dos investidores se prote-
gerem das instabilidades. O resultado disso foi a gradativa consolidação da importância
da esfera financeira sobre a esfera produtiva, o que tem impacto decisivo sobre os pro-
cessos de geração de trabalho.
Os anos 1990 foram marcados pela retomada das idéias liberais: a crise do
keynesianismo1 em meados dos anos 1970 e a crise da dívida na América Latina nos
anos 1980 abriram espaço para o surgimento do que se convencionou chamar de Con-
senso de Washington.
Economistas e técnicos das instituições multilaterais com sede em Washington e
outros das economias latino-americanas reuniram-se no ano de 1989 para repensar o
processo de desenvolvimento dos países da região. Em síntese, o entendimento do gru-
po reunido foi o de que a crise se deu em função da excessiva intervenção estatal e a má
utilização dos instrumentos de política econômica. As soluções propostas tratavam de
promover os processos de privatização e abertura de mercado, de redefinir o papel do
estado e garantir os direitos de propriedade, ou seja, um retorno às idéias liberais, base-
adas na defesa do livre mercado e na redução do intervencionismo estatal.
Todas essas mudanças provocaram impactos significativos sobre o funcionamen-
to das economias:
- aumento da instabilidade dos preços relativos e das taxas de juros;
- aumento do nível de incerteza;
- as decisões de negócios foram afetadas negativamente;
- mudança de foco da política econômica;
- aumento da importância da esfera financeira sobre a produtiva;
- enfoque da gestão macroeconômica no curto prazo.
Os impactos que serão destacados tratam das mudanças provocados no mer-
cado de trabalho. Isso será discutido a seguir.
1
John Maynard Keynes foi um economista inglês que defendia a intervenção estatal como forma
de se minimizar as flutuações da atividade econômica, especialmente, em momentos de recessão.
Sua teoria defende que o governo execute uma política fiscal expansiva, ou seja, o uso dos gastos
públicos como forma de aumentar os níveis de produção, emprego e renda na economia.
Ricardo José Senna
49
Considerações finais
As características do novo paradigma do mercado de trabalho podem ser sin-
tetizadas abaixo:
- necessidade de se adquirir habilidades e competências específicas;
- promoção da ética e da cidadania;
50 Transformações Mundiais Recentes e Mercado de Trabalho
Bibliografia
ANTUNES, Ricardo. Trabalho, reestruturação produtiva e algumas repercussões no
sindicalismo brasileiro. In: _____. Neoliberalismo, trabalho e sindicatos: reestruturação
produtiva no Brasil e na Inglaterra. 3. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 1999. pp. 71-84.
AZEREDO, Beatriz. Políticas públicas de emprego: a experiência brasileira. São Paulo:
ABET, 1998. (Coleção Teses e Pesquisas, v. 1).
LEITE, E. M. Do “operário padrão” ao “polivalente”: novas fronteiras da qualificação do
trabalho industrial? Estudos Econômicos, 1992, v. 22. (número especial). pp. 63-90.
MARX, K. O capital. A crítica da economia política. São Paulo: Ed. Ciências Humanas (s/d).
MOREIRA, M.; CORREA, P. G. Abertura comercial e indústria: o que se pode esperar e o que
se vem obtendo. Ed. 34, São Paulo, Revista de Economia Política, 1997, v. 17, nº 2, pp. 61-91.
POCHMAN, Márcio. O trabalho sob fogo cruzado. São Paulo: Contexto, 1999.
RIFKIN, J. O fim dos empregos. Trad.: Ruth Gabriela Bahr. São Paulo: Makron Books, 1995.
SAUER, S. Reforma agrária e geração de emprego e renda no meio rural. São Paulo: ABET,
1998. (Coleção ABET – Mercado de Trabalho – Mercado de Trabalho, v.3).
SMITH, A. A riqueza das nações. São Paulo: Abril, 1978. (Coleção Os Economistas).
51
P
ara que tenhamos condições de avaliar o alcance das políticas públicas de trabalho
e renda, é importante que entendamos, em princípio, os problemas para os quais
que tais políticas são direcionadas. Com este intuito procuraremos tecer conside-
rações pertinentes ao desemprego e à exclusão.
A busca por alternativas para a redução do desemprego pode ter início com a
opção por uma das três vertentes apresentadas, já que os procedimentos a serem adotados
dependem das causas consideradas verdadeiras. Sanchis deixa transparecer, com niti-
dez, a relação íntima que a adoção do ideário neoliberal – que trouxe em seu bojo as
aberturas comercial, econômica e financeira - tem com o desemprego.
SINGER (2000, p.59-81) também classifica as diferentes concepções, referindo-se,
em seu trabalho, às visões individualista e estruturalista. No primeiro grupo, que se-
gundo sua leitura é constituído pelos neoliberais1, a exclusão social é entendida como
resultado de fatores individuais, enquanto que no segundo estão inseridos os paradigmas
marxista e keynesiano.
Segundo Singer os individualistas, como vimos em Sanchis, defendem a acumula-
ção do capital humano, rejeitam as políticas de bem-estar e afirmam que o pobre deve
ser estimulado a ajudar-se a si próprio, defendendo, para tanto pressupostos como a
liberdade e a igualdade.
Os estruturalistas têm em comum a visão de que o Estado deve responsabilizar-se
pela economia, nela interferindo tanto através do estímulo a investimentos financei-
ros, quanto através de políticas de bem-estar.
Os marxistas estabelecem distinção entre a exploração e a exclusão. SINGER (2000,
p.73), neste sentido afirma, que: “Marx escreveu certa vez que pior do que ser explorado
pelo capital é não ser explorado por ele, quer dizer, estar excluído do mercado de trabalho”.
Quanto ao segundo enfoque - tentativas de explicações sobre o desequilíbrio entre a
oferta e a demanda no mercado de trabalho – isto é, sobre o desemprego, muitos auto-
res desenvolveram estudos que, conforme nosso entendimento, longe de se contrapo-
rem, terminam se complementando.
FORRESTER (1997, p.7-22) dá ao tema outro tratamento: mais do que estabelecer
nexos entre as leis de mercado e o desemprego, enfoca a realidade do desempregado e
os interesses que podem estar sendo defendidos. Afirma que vivemos um engodo dian-
te de um mundo desaparecido, que teimamos em não reconhecer como tal. Assim, ao
esperarmos a superação de uma crise, aguardamos que a situação anterior a ela retorne
– o que não acontecerá -, deixando de buscar alternativas adequadas. Enquanto isso,
complementando a farsa:
- governos divulgam dados estatísticos manipulados;
- milhares de pessoas são colocadas “entre parênteses” perdendo, com o emprego, o teto, a
1
Pelas características percebidas por Singer na concepção neoliberal, podemos inferir que se
trata da visão denominada por Sanchis como neoclássica.
54 Políticas Públicas de Trabalho e Renda
2
FORRESTER (1997, p.15) comunga com Martins neste sentido ao afirmar, p. “... eles são chamados
de excluídos. Mas, ao contrário, eles estão lá, apertados, encarcerados, incluídos até a medula”.
Regina Stela Andreoli de Almeida
55
3
“Até o século XVIII, a vingança era a única forma de reação à ofensa, conhecida e aplicada. Tratava-
se, a princípio da vingança privada, quando a parte ofendida, revidava” (ALMEIDA, 1993, p. 23-24).
56 Políticas Públicas de Trabalho e Renda
4
A obra citada é “Ajuste e reestruturação nos países centrais, p. a modernização conservadora”, de
M. TAVARES, publicada em Economia e Sociedade nº 1. Campinas, SP, p. IE/Unicamp, 1992.
Regina Stela Andreoli de Almeida
57
Por essas razões a estrutura social brasileira vem sendo contornada por uma fai-
xa, que se alarga cada vez mais: o “locus” dos excluídos. No que concerne à exclusão,
muito há para ser discutido e VAZ (2002, p.105-127) nos auxilia neste sentido, apresen-
tando síntese de pensamentos que, ao se complementarem, retratam, de maneira im-
portante a realidade vigente. Inicia sua reflexão conceituando como exclusão social si-
tuação de privação coletiva no exercício da cidadania plena, o que envolve trabalho e
salário digno, educação, participação social, política e comunitária.
Os autores citados por Vaz, favorecem nosso posicionamento:
a) Xiberras observa que a dificuldade para que a exclusão possa ser identificada e classifica-
da encontra-se na multiplicidade de formas sob as quais esta se apresenta, dentre as quais
podem ser destacadas: as visíveis; as que não são vistas, mas são sentidas; as que são vistas,
mas não são comentadas; e as invisibilizadas. Prossegue sua análise afirmando que a exclu-
são pode ocorrer: tanto pela incapacidade de superar determinada etapa da educação for-
mal, (processo que efetivamente será prejudicial se for acompanhado pela pobreza e/ou
desemprego, lócus da forma mais chocante de exclusão), quanto pela incapacidade que acar-
reta na participação no mercado de trabalho e no mercado de consumo.
b) Wanderley também sinaliza a esfera produtiva ao tratar da exclusão, mas prossegue em
sua análise, abordando os desdobramentos que se iniciam no preconceito, materializam-se
na discriminação e se cristalizam no estigma.
c) Demo desloca o foco do desemprego para o desempregado ao afirmar que o excluído hoje
tem melhor e maior preparo e pode reagir à exclusão e complementa: o trabalhador não
pode ser detentor de apenas força de trabalho, mas inteligência do trabalho (VAZ, 2002, p. 114).
Algumas questões começam a tornar-se mais claras e a mais significativa delas é
que a resignação não é o único caminho. Medidas podem ser tomadas, conduzindo o
inevitável processo de transformação para um norte: a justiça social.
É uma prática constante e efetiva. O grande problema é que os interesses não são
coincidentes e quase sempre os que são defendidos são os das classes dominantes.
Vejamos o que foi planejado e realizado na última década, procurando identificar os
resultados obtidos.
5
Neste estudo o termo trabalhador é utilizado para designar os integrantes da PEA – População
Economicamente Ativa – ocupados ou não – uma vez que, pelo fato de encontrar-se desempregado,
o indivíduo não deixa de ser trabalhador.
6
À guisa de exemplo podemos citar: captação de vagas no mercado de trabalho, emissão de Carteiras
de Trabalho e Previdência Social, cadastramento, seleção e encaminhamento de mão-de-obra, seguro
desemprego e oferecimento de cursos de qualificação e/ou requalificação profissional.
Regina Stela Andreoli de Almeida
59
deixadas pelo ensino básico, ao passo que muitas foram as alusões procurando demons-
trar o contrário.
Em Campo Grande, de 1996 a 1998, pelas informações reunidas podemos afirmar
que, por um lado, houve certo bom senso na eleição dos cursos ministrados, já que o
percentual mais elevado (31,15%) indica a área da informática, posicionando-se, em se-
gundo lugar, os voltados para o setor terciário e para a área administrativa do setor
secundário. Trata-se da qualificação da mão-de-obra realmente absorvida por um merca-
do informatizado e direcionada para a prestação de serviços. Resta-nos saber se, com o
nível de escolaridade apresentado, (pois, conforme o relatório de 96, a população alvo,
em sua maioria, não conseguiu concluir o ensino fundamental), os alunos dispunham
dos organizadores prévios exigidos para a aquisição dos conhecimentos propostos.
Observamos, ainda, na qualificação de trabalhadores da Construção Civil, um cur-
so que se destaca pela simplicidade e importância: a utilização do bambu na construção
civil, que deveria até ter sido expandido para assentamentos rurais (mas não o foi),
onde o plantio do bambu poderia ser adotado como meio de recomposição das matas
ciliares, evitando-se, assim, o assoreamento dos rios e favorecendo, “a posteriori”, a
utilização do bambu também no revestimento de poços convencionais, segundo antiga
técnica chinesa.
Por outro lado, observamos:
- a alocação de recursos em cursos inadequados para os dias de hoje, como os de Datilogra-
fia, ministrados para 413 alunos, que dificilmente vão poder exercitar os conhecimentos
adquiridos, já que máquinas de escrever quase não são mais encontradas;
- que, numa época em que a formação de professores é tão discutida e a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDB, de novembro de 1996, mais rigorosa7, em 1998, após,
portanto, a lei ser sancionada, dentre os cursos da categoria Serviços Pessoais, encontramos
um que se propunha a Qualificar Professores Leigos, com 208 alunos;
- que o próprio Estado foi o maior beneficiado com o desenvolvimento dos programas: 20,26%
dos alunos, em Campo Grande, são servidores públicos, fato que não fica tão claro sem o
cruzamento de informações, pelo fato dos cursos da área de informática serem computados
à parte. Se os servidores que se matricularam nos cursos de informática forem incluídos no
item destinado ao Serviço Público, o número de alunos passa de 2465 para 5687 e a diferen-
ça, em termos percentuais, entre Serviço Público e Informática, é reduzida de 22,72% para
0,69%. Assim, a configuração dos dados sofre alteração, uma vez que o setor de informática
continua ocupando o primeiro lugar, agora com 20,13%,(e não mais os 31,15% anteriores),
7
“A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de
licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida,
como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras
séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal”. - Art. 62 da LDB.
60 Políticas Públicas de Trabalho e Renda
mas o segundo lugar, passa a ser ocupado pela Administração Pública, cujo percentual de
8,43% eleva-se para 19,44% (uma elevação da ordem de 11,01%). Esta postura parece-nos
contraditória quando nos lembramos da proposta governamental, exposta neste estudo, de
acordo com a qual o segmento a ser atingido, através do desenvolvimento dos programas,
deveria ser, prioritariamente, o dos desempregados ou, conforme o texto original “(...) os
que sobrevivem na informalidade, os que ‘sobram’ da modernização ou sequer lograram se
inserir no processo”. SEFOR (1995, p.9).
- preocupação com os trabalhadores de empresas em fase de privatização, como eram, na
época, os da Rede Ferroviária, assim como com os atingidos pela automação, como os Bancá-
rios, o que parece demonstrar a intenção de minimizar os efeitos negativos de outras políti-
cas estatais, decorrentes da adoção do ideário neoliberal.
- no que concerne à comunidade indígena, observamos que, embora muitas equipes, consti-
tuídas por antropólogos, pedagogos e historiadores, dentre outros, atuem junto aos povos
indígenas com vistas à preservação das raízes culturais, os cursos a eles oferecidos parece-
nos não demonstrar tal preocupação8.
Outros aspectos merecem destaque
- só em 1996 os adolescentes autores de atos infracionais9 foram beneficiados com cursos
que poderiam favorecer sua efetiva reinserção social. Não nos parece fácil entender tal fato,
uma vez que o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, no inciso XI, do art. 124, afirma
que “são direitos do adolescente privado de liberdade (...) receber escolarização e
profissionalização”;
- o mesmo ocorreu em relação aos detentos e egressos do Sistema Penitenciário que, segun-
do dados do Departamento do Sistema Penitenciário, abrigava, em Campo Grande, 1.294
internos (DSP, 2000:4). Neste universo, apenas 41 foram beneficiados pelo Programa de
Qualificação/96, não sendo oferecidos cursos nos anos subseqüentes, embora haja amparo
legal para o desenvolvimento de atividades laborais em Estabelecimentos Penais de Regime
Fechado, através da Lei nº. 7.210, de 11/07/8410, e a Divisão de Trabalho do Departamento
não tenha condições de contribuir para que a legislação seja cumprida.
São observações que podem conduzir os planos futuros, evitando que a legislação
vigente seja desconsiderada, que os recursos sejam mal utilizados, que questões volta-
das para o desenvolvimento local sejam consideradas.
Tais aspectos não passaram desapercebidos pelo MTE que, focalizando os ângulos
negativos do PLANFOR, como a permanência no nível compensatório, o enfoque quan-
8
Lembramos que, de acordo com o Quadro nº. 17, em 1998 foram matriculados 274 indígenas nos
cursos: Introdução à Informática, Confecção de malhas, Embelezamento pessoal, Pintura em tecido,
Doces caseiros, Pequenos Reparos Domésticos, Conservação e Higiene de Produtos Alimentares,
Pedreiro em Geral, Eletricista de Auto, Salgadinhos para Festas, Panificação e Mecânica.
9
Os documentos mencionam, erroneamente, Jovens Tipificados Judicialmente, referindo-se aos
que são recolhidos nas Casas de Guarda e Assistência ao Adolescente por ordem judicial.
10
Esta mesma lei protege o egresso do Sistema Penitenciário em seu primeiro ano de liberdade.
Regina Stela Andreoli de Almeida
61
CAPITAL
ECONÔMICO + EMPRESAS
CAPITAL SOCIAL
+ REDES
CAPITAL
HUMANO
EMPREENDEDORES +INICIATIVAS=
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
vamos ter tantos hotéis e não sei o que dentro do Estado. Pega um município e vai olhar o que
eles estão formando: garçom, camareira; nem precisa, tem município que não tem nem hotel.
Em outro ponto do mesmo documento são mencionadas tentativas de direcionar
as atividades para o desenvolvimento local sustentável: 1) na Aldeia Urbana “Marçal de
Souza”; e 2) na Comunidade são Benedito.
As experiências não alcançaram o sucesso possível e desejado por não terem, os
executores, conferido a devida importância ao encontro com as próprias raízes, na cons-
trução da identidade. Segundo os depoimentos registrados o material a ser utilizado na
produção do artesanato “indígena” não correspondia às tradições e na Comunidade de
quilombolas não houve o atendimento das aspirações locais. São pequenos problemas
que representam sérios obstáculos à consecução dos objetivos.
Bibliografia
ALBUQUERQUE, F. em Desenvolvimento econômico local e distribuição do progresso técni-
co, IN: MARTINS, Gabriela I. V. e MARTINS, Cid I. Demarco. Desenvolvimento Local: da
teoria à prática. IN: MARQUES, H. R., RICCA, D., FIGUEIREDO, G. P. de e MARTÍN, J. Carpio
(orgs.). Desenvolvimento local em MS: reflexões e perspectivas. CG, MS: UCDB, 2001.
ALMEIDA, Regina Stela Andreoli de. Educação e Trabalho: as políticas sociais públicas e
o desemprego em Campo Grande/MS. Tese de Doutorado apresentada à Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Franca: UNESP, 2001.
_________. Sistema penitenciário: um estudo sobre a contribuição do Serviço Social no
processo de reinserção social do detento. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Departamento de Serviço Social da UCDB. CG, MS: 1993. Digitado.
BRASIL, Leis. Lei nº. 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacio-
nal. Brasília, DF: Senado Federal Centro Gráfico, 1997.
___________. Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente. 2. ed. C.G.: Conselho Tutelar, s.d.
___________. Lei nº. 7.210, Lei de Execução Penal, de 11/07/1984, publicada no D. O. U.,
de 13/07/1984.
__________. MTE, SEFOR. Educação Profissional: um projeto para o desenvolvimento
sustentado. Brasília, DF: SEFOR, 1995.
64 Políticas Públicas de Trabalho e Renda
T
omamos como marco histórico para a análise da Educação Profissional no Brasil o
Século XIX, marcado política e socialmente pela chegada do Príncipe Regente Dom
João VI e sua corte ao Brasil. Tal fato criou a necessidade de profissionais capacita-
dos para as atividades administrativas, as questões vinculadas as condições econômicas
e de qualidade de vida demandada pela transformação do País em sede de governo Por-
tuguês. Entende-se, então, que as providências tomadas por Dom João VI inauguram os
esforços governamentais para a profissionalização.
Dada as preocupações acima, as suas ações para a Educação Profissional voltaram-
se para a criação de Escolas Superiores: a Academia Real da Marinha, a Academia Real
Militar, que mais tarde foi transformada na Escola Militar de Aplicação, no Rio de Janei-
ro; cujas principais características educacionais eram a oferta de cursos superiores sem
caráter teológico e com direcionamento profissional. Tanto que a Academia Real Militar
tinha a finalidade de formar engenheiros civis.
Posteriormente, implanta Cursos Técnicos Superiores no Brasil através da criação do
Gabinete de Química, no Rio de Janeiro e do Curso de Agricultura da Bahia – em 1812.
*
Texto elaborado para o curso de Gestão Social da Políticas Públicas de Trabalho e Renda, da
Escola de Conselhos da UFMS.
66 História da Educação Profissional no Brasil
Oficinas, fundada em 1906 no Rio de Janeiro e mantida pela Estrada de Ferro Central do
Brasil. Suas principais características educacionais foram que o ensino de Ofício associ-
ava oficina e escola e era, portanto, uma aprendizagem mais sistemática, baseada na
experiência, das empresas ferroviárias de manterem escolas para a formação de operá-
rios destinados à manutenção de equipamentos, veículos e instalações. Em 1924, foi
criada a Escola Profissional Mecânica, cujo funcionamento se deveu a um acordo que
quatro empresas ferroviárias fizeram com o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo pelo
qual cada uma enviava dois aprendizes para freqüentarem um curso de quatro anos,
realizando estágio nas oficinas de uma delas.
O desenvolvimento do Ensino Unificado de Ofícios se deveu a participação do enge-
nheiro suíço Roberto Mange, que juntamente com outros, fundaram em 1931, o Instituto de
Organização Racional do Trabalho (IDORT). O IDORT ganhou força nas empresas, particu-
larmente nas ferroviárias devido as suas características educacionais, que difundiam a dou-
trina da Organização Racional do Trabalho, sistematizada por Frederick Taylor. Baseado nas
soluções tayloristas propunha a implantação de um programa que buscasse evitar desperdí-
cios de tempo, de força de trabalho e de matéria-prima; combater a desorganização adminis-
trativa das empresas, assim como implantar o controle eficiente de custos.
Em 1934, foi criado o Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP)
que se distinguia das demais escolas de aprendizagem de oficio espalhadas pelo país
porque estabeleceu a relação do Estado com as empresas, o que garantiu as regras do
projeto, além dos recursos mínimos necessários para o funcionamento desse mecanis-
mo. O CFESP atendia exclusivamente aos filhos dos ferroviários, e direcionava a forma-
ção para as estradas de ferro; adotava o método taylorista de administração de empresa,
através das séries metódicas, as quais, mais tarde, serão utilizadas em todo o País pelo
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Este modelo do CFESP se expan-
diu para os demais estados brasileiros, principalmente a partir do momento em que o
projeto industrialista foi lançado pelo Estado Novo.
A Segunda Grande Guerra Mundial e o envolvimento direto da Europa e dos
Estados Unidos neste conflito criaram as condições para a implantação de um pro-
jeto que substituísse as importações por produtos feitos no Brasil. A partir daí, é
possível deduzir que o Estado Novo iria precisar de mão-de-obra qualificada, caso
contrário não poderia alcançar esta emancipação. Desta forma, cresceu a importân-
cia da qualificação para a força de trabalho. Tanto que a Constituição de 1937, no
artigo n.º 129, estabelece que
O ensino pré-vocacional e profissional destinados às classes menos favorecidas é em maté-
ria de educação o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução a este dever, fundan-
do institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos estados, dos municí-
pios ou associações particulares e profissionais. É dever das indústrias e dos sindicatos eco-
nômicos criar, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes destinadas aos filhos de
Inara Barbosa Leão
69
seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes
que caberão ao Estado sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a
lhes serem concedidos pelo poder público (CUNHA, 2000, p. 28).
Em 1938, o Estado deu início à regulamentação deste dispositivo com a elaboração de
dois anteprojetos. O primeiro estipulava a criação de escolas de aprendizes industriais
mantidas e dirigidas pelos sindicatos dos empregadores e pelas indústrias. Caberia ao go-
verno a responsabilidade de criar e manter escolas de aprendizes onde sindicatos e indústri-
as não fossem capazes de bancar este empreendimento. A responsabilidade de fiscalização
e de punição aos infratores caberia aos Ministérios da Educação e do Trabalho.
Quando o anteprojeto chegou à direção das indústrias houve resistência por parte
dos empresários devia às despesas para a sua implantação e manutenção. Diante disso,
o governo publica o Decreto-Lei n.º 1.238/39 que visava “assegurar aos trabalhadores,
fora do lar, condições mais favoráveis e higiênicas para a sua alimentação e assegurar-
lhes, ao mesmo tempo, o aperfeiçoamento da educação profissional” (CUNHA, 2000, p. 30).
Apesar das alterações no anteprojeto derivadas as discussões entre governo e em-
presários, somente depois de alguns anos a Confederação Nacional da Indústria (CNI),
ao reconhecer a importância da aprendizagem sistemática para o segmento empresari-
al, acatou a legislação e criou o SENAI com a seguinte explicação:
Inspirados na experiência do Centro Ferroviário do Estado de São Paulo, líderes industriais
idealizaram e defenderam, junto ao empresariado e ao governo federal, uma solução seme-
lhante para as indústrias de todo o País. Em 1939, o Governo criou uma Comissão
Interministerial para estudar o problema da formação da mão-de-obra industrial e regula-
mentar os cursos para trabalhadores da indústria, previstos no Decreto n.1.238, de maio de
1939. Essa Comissão sugeriu ao Governo a instituição de um sistema nacional de aprendiza-
gem industrial, custeado pelas empresas e integrado ao Ministério da Educação. Antecipan-
do-se a qualquer providência neste sentido, a Confederação Nacional da Indústria, obteve
do governo, por meio do Decreto n. 4.048, de janeiro de 1942, a autorização para criar o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, cabendo-lhe todos os ônus da execu-
ção e manutenção e, ainda, as responsabilidades pela organização e direção da instituição,
que lhe ficaria subordinada. (FONTES, apud, CUNHA, 2000, p. 34).
Abordaremos mais detalhadamente o processo de criação e implantação do SENAI
porque se entende que ele foi o grande responsável por delinear no país o pensamento
pedagógico empresarial sobre a educação profissional, mesmo que esta tenha sido pre-
ponderantemente sobre o trabalho no setor industrial.
A implantação do SENAI foi rápida e ganhou a confiança de empresários e gover-
no, particularmente pela eficiência no trato com a formação da força de trabalho. E,
apesar dos desafios impostos pela guerra, o SENAI conseguiu iniciar vários cursos de
aprendizagem em 1944, particularmente no setor metal-mecânico. Naquele momento
histórico, devido às conseqüências da Segunda Guerra Mundial, a atuação do SENAI foi
decisiva na formação de mão-de-obra qualificada para suprir bens e produtos que não
mais estavam sendo importados.
70 História da Educação Profissional no Brasil
talista não podem mais sobreviver com este modelo de organização de trabalho. Para
tanto, a educação assume novamente a incumbência de (con) formar a mão-de-obra às
exigências do capital.
Pelo exposto, considera-se que a Educação Profissional no Brasil começa a se deli-
near de forma mais complexa a partir da década de 1940, com a criação das duas institui-
ções anteriormente apresentadas. Até o final do ano de 1941, a organização do ensino
industrial no Brasil era bastante diferenciada e confusa, situação que insiste em perma-
necer assim até os dias atuais.
Havia escolas de aprendizes artífices, mantidas pelo Governo Federal e direcionadas
aos alunos pobres. Os Estados também mantinham suas próprias escolas industriais
com normas distintas das do governo federal. Instituições privadas também mantinham
escolas de artífices enfatizando seu papel assistencial. As forças armadas, por sua vez,
tinham suas próprias instituições de ensino de ofícios instalados junto às fábricas de
material bélico e estaleiros.
No intuito de padronizar tamanha diversidade, o Governo Federal por meio do
Ministério da Educação estabeleceu uma comissão para elaborar um projeto de Diretri-
zes do Ensino Industrial para o Brasil. No final de 1941, estava pronto o anteprojeto de
Lei Orgânica do Ensino Industrial que foi aprovado pelo Decreto-Lei n.º 4.078, de 30 de
janeiro de 1942. A principal modificação que esta Lei trouxe foi o deslocamento de todo
o ensino profissional para o Grau Médio, que passou a selecionar seus membros, não
mais só pelo item pobreza ou pela condição de desvalido, mas pela realização de vesti-
bulares e testes de aptidão física e mental.
A Lei Orgânica do Ensino Industrial estabelecia que o Ensino Primário destinava-
se a todas as crianças de 7 a 12 anos. O Ensino Médio, para os jovens de 12 anos para
cima e tinha como objetivo formar os cidadãos que, futuramente, iriam comandar a
sociedade. A Exposição de motivos que defendia a aprovação do anteprojeto de reforma
apregoava que
[...] o ensino secundário se destina à preparação das individualidades condutoras, isto é, dos
homens que deverão assumir as responsabilidades maiores dentro da sociedade e da nação,
dos homens portadores das concepções e atitudes espirituais que é preciso infundir nas
massas, que é preciso tornar habituais entre o povo. (CUNHA, 2000, p. 41).
Outra importante novidade que a Lei Orgânica do Ensino Industrial trouxe foi os
cursos técnicos. Também nesta a organização do ensino, em particular o desenvolvido
para a força de trabalho, dava-se pelas necessidades da realidade mercadológica, pois,
segundo Cunha (2000), os fatores que influenciaram a criação dos cursos técnicos, como
os de mecânica, metalurgia, química, eletrotécnica, eletrônica, foram: o aumento da
procura por técnicos industriais devido ao crescimento da produção em determinados
setores da economia; o crescimento da necessidade de racionalização do uso de matéri-
as-primas e recursos energéticos; a substituição do pessoal estrangeiro de alta qualifica-
74 História da Educação Profissional no Brasil
1
Relatório de Avaliação dos Planos Territoriais de Qualificação de Mato Grosso Do Sul -
PLANTEQs – 2003, Campo Grande,UNITRABALHO/UFMS março de 2004.
Inara Barbosa Leão
85
cionado ao grau de cumprimento de metas financeiras), deve-se dar relevância aos be-
nefícios econômicos, sociais e culturais efetivamente trazidos pelas Políticas Públicas
de Qualificação para os/as educandos/as.
Devido ao baixíssimo nível das condições econômicas e sócioculturais da maioria da
população brasileira, qualquer ação que a atinja pode parecer efetiva. Entretanto, alguns
critérios gerais, como os apresentados a seguir, podem se mostrar auxiliares valiosos.
a) Ao tomar-se como parâmetros os pressupostos que vêm sendo enunciados como
basilares para o PNQ, ou seja, a preparação de trabalhadores para manterem-se no mer-
cado de trabalho nas condições geradas pelo ordenamento pautado no chamado modelo
econômico Globalizado, principalmente, no que tange a novas formas de organização da
produção, que estariam sob o predomínio da robotização, da informatização, dos equi-
pamentos computadorizados e da organização dos trabalhadores por equipes
multifuncionais, bem como das formas de gerenciamento sob as exigências de metas de
produção por equipe, da diminuição dos níveis de hierarquia intermediária de
gerenciamento, controle e o aprofundamento da divisão do trabalho em apenas dois
níveis: concepção e execução; tendo em vista o barateamento da produção e a conse-
qüente ampliação das possibilidades de concorrência no âmbito internacional; coloca-
nos diante de algumas interrogações.
A principal explicitação necessária é referente ao tipo de inserção que se propõe
para o Brasil nas relações econômicas internacionais. As análises dos especialistas têm
apontado que ao País estaria reservada a parte do processo produtivo que demanda
mão-de-obra abundante e barata, para a função de execução manufaturada, ficando o
“trabalho intelectual” de concepção e planejamento reservado para os países centrais
do capitalismo. Acatadas tais análises como verdadeiras, teríamos uma necessidade de
qualificação que não apresentaria exigências para além da concatenação entre infra-
estrutura de produção instalada ou em vias de se instalar e preparação geral de parte
dos trabalhadores para disputar as vagas existentes ou previstas.
Nessas circunstâncias, o parâmetro para a avaliação dos PlanTeQs deveria ser o
Plano de Desenvolvimento Local. Isso porque a vigência do ideário de um Estado Míni-
mo, que privilegia a iniciativa privada sem coordenação de uma macropolítica de desen-
volvimento nacional, remete à busca de maiores facilidades de expansão do capital ofe-
recidas pelos governos locais (incentivos ficais, oferta de infra-estrutura, etc.), como um
dos poucos indicadores existentes, para a previsão quantitativa e qualitativa de deman-
da por mão-de-obra.
b) A relevância dos benefícios sociais efetivamente trazidos pelas Políticas Públi-
cas de Qualificação para os educandos, parece-nos que está sendo indicada, principal-
mente, pela ênfase no conceito de cidadania. E esse conceito tem sido marcado pelo seu
aspecto de garantia de direitos. Nesse sentido, a qualificação social e profissional tal
como orientada nos termos da Resolução nº 333/2003, do CODEFAT, e das Diretrizes do
86 História da Educação Profissional no Brasil
PNQ dela emanadas, indicam os conteúdos e a carga horária mínima a serem observa-
dos na organização das ações de qualificação para desenvolvimento das Habilidades como
expressões do que qualificaria para tal.
Porém, no embate das forças dentro da nossa sociedade, a possibilidade de cons-
trução da consciência social e o exercício dos direitos se concretiza pela hegemonização
de uma classe social, que garante direitos por apropriar-se política e institucionalmente
de aparelhos de estado e instrumentaliza-los para a consecução de seus interesses.
Essa realidade, explicitada pelas enormes disparidades sociais do País, não pode
ser solucionada no âmbito dos Planos de Qualificação Profissional. Ela exige o entendi-
mento da cidadania como exercício de poder político. Esse exercício tem sido preparado
por uma escolarização formal que, no caso do Brasil, vem sendo oferecida às classes
hegemônicas por cerca de dezoito anos de escolarização. Para os trabalhadores, essa
possibilidade se mostra, como objeto a ser conquistado, e a qualificação social e profis-
sional, nos moldes ora anunciados, só pode contribuir para tal, se voltada para a eleva-
ção das exigências mínimas de preparação escolar formal e, nunca, como incentivadora
do fornecimento de informações pontuais. Essas informações seriam eficazes, se os
seus destinatários já apresentassem constituídas as funções intelectuais, um conjunto
de conhecimentos e um repertório de comportamentos, a partir dos quais pudessem
elaborar análises e deduções elucidativas da realidade; além de terem espaços
sociopolíticos, onde o exercício da defesa de seus interesses fosse capaz de gerar altera-
ções estruturais que garantissem o atendimento das suas necessidades. Na ausência de
tais condições, a prática desmente a teoria.
c) A relevância dos benefícios culturais efetivamente trazidos pelas Políticas Públicas
de Qualificação, para os educandos, está na dependência direta de aspectos anteriores.
Portanto, não podemos buscar que, nas ações de qualificação profissional, o trata-
mento desse tema o contemple com efetividade, uma vez que teríamos o Estado explicitando
a sua própria condição de detentor do poder em detrimento daqueles a quem deveria repre-
sentar. Não deveria “empoderar”, mas sim atuar conforme as exigências daqueles que ape-
nas lhe ‘outorgaram’ o poder, por serem eles próprios a origem do poder social.
Empoderar, na situação de desemprego, significaria o quê? Devolver à população
a decisão sobre uma política governamental que promova as condições de existência de
emprego, ou reconhecer que o poder próprio da população, que sustenta um sistema
democrático, lhes foi suprimido e não é utilizado para os seus próprios interesses.
c) Analisarmos se a garantia de participação e controle social na elaboração, con-
dução e avaliação da Política Pública de Qualificação se efetiva por meio do fortaleci-
mento do papel do CODEFAT e das CEEs e CMEs. No que tange ao CODEFAT, parece-nos
que a sua participação e o seu controle na elaboração, na condução e na avaliação da
Política Pública de Qualificação já está garantida, até porque é a instância máxima para a
discussão e a resolução do que diz respeito às diretrizes gerais e aos recursos para
financiadores dessa Política Pública.
Diferente é a situação das Comissões Estaduais e Municipais de Emprego que,
assim como as demais Comissões e Conselhos criados a partir da Constituição de 1988,
como elementos de democratização da elaboração e consecução das políticas públicas naci-
onais, vêm carregando suas dificuldades desde então. No caso específico das Comissões de
Emprego, que são tripartites, de maneira geral apresentam como principais limitações: a
diferença de domínio teórico, político e operacional dos seus vários membros.
Esses aspectos que permeiam as suas ações são de conhecimento dos represen-
tantes do Governo que, em geral, hegemonizam a Comissão. A bancada dos empregado-
res, além de ter seus representantes com boa formação educacional e profissional, apre-
senta seus interesses como coincidentes com os do Estado, por ser o segmento capaz de
oferecer o objeto-fim da política (emprego), assim, têm poder de determinação. A banca-
da dos trabalhadores, que deveria ser o segmento determinante, por representar aque-
les a quem a Política Pública se destina, tem sua atuação prejudicada pela parca formação
política, desconhecimento do vocabulário e das rotinas do serviço público e que, devido à
mesma política que incita agora a qualificação profissional, sofreu a perda do seu poder
político e de pressão devido às ações de desmobilização e de destruição dos sindicatos. As
outras condições que enfraquecem a representação dos trabalhadores são a sua baixa
escolarização, o que impede a análise das condições das políticas e a dedução das suas
causas e conseqüências, bem comoo fato de terem vínculos empregatícios que os subordi-
nam aos seus próprios empregadores, limitando os seus espectros de atuação e decisão.
Bibliografia
Introdução à Macroeconomia
N
o alvorecer do século XXI, fala-se muito da nova economia, tecnologia da infor-
mação, em ajuste externo e interno, em globalização dos mercados etc. Assisti-
mos às evidências do impacto destas mudanças no nosso dia-a-dia as vezes sem
nos preocuparmos muito com suas conseqüências. Mas, quais são exatamente os efei-
tos dessas mudanças? Como afetam os padrões de vida e a taxa de crescimento da eco-
nomia? Como as mudanças na economia atingem o emprego e o desemprego, os preços
e o equilíbrio do balanço de pagamentos? Por que razão as rendas são atualmente mais
elevadas do que em 1970 e por que, em 1970, eram mais altas do que tinham sido em
1930? Por que razão alguns países têm inflação alta enquanto outros têm preços está-
veis? Quais as causas da recessão e da depressão e como as políticas públicas podem
evitá-las?
Segundo Stiglitz e Walsh (2003), a melhor forma de entender as repostas a essas
perguntas é recorrer às ferramentas da economia. De acordo com esses autores, “as
percepções básicas que gerações de economistas auferiram com o estudo da economia
continuam sendo fundamentais para o entendimento da economia da informação glo-
bal de nossos dias” (Stiglitz e Walsh 2003, p. 3). Portanto, se desejamos compreender
essas mudanças, os impactos das mesmas no dia das pessoas e dos países, precisamos
fazer uso de conceitos econômicos, buscando compreender em última instância o fun-
damento das leis econômicas. Diante disso, esse curso vai tratar de algumas leis econô-
micas e de como elas podem ser utilizadas para entender o mundo real.
O principal objetivo da teoria econômica é estudar como são determinados os
preços e as quantidades dos bens produzidos e dos fatores de produção existentes na
economia. A economia, atualmente, está dividida em duas partes, ou dois ramos princi-
pais: microeconomia e macroeconomia. O foco central do curso vai ser a macroeconomia.
Mas, o que é a macroeconomia?
Enquanto a microeconomia procura analisar o processo de determinação de pre-
92 Introdução à Macroeconomia
nosso dia-a-dia, e o seu uso é de tal forma generalizado que seria impossível imaginar
um sistema econômico sem moeda. A moeda é um artefato social desenvolvido para
facilitar as trocas no mercado entre agentes individuais. Para entender o papel e as
funções que cumpre a moeda é necessário estudar a natureza e a forma dos mercados
nos quais a moeda é usada. No mercado monetário são determinadas as taxas de juros e
a quantidade de moeda necessária para efetuar as transações econômicas.
As economias modernas são economias abertas. Estão ativamente envolvidas no
comércio internacional e relacionadas com os mercados financeiros mundiais. Diante
disso, percebe-se que um país realiza uma série de transações com o resto do mundo,
envolvendo mercadorias, serviços e transações financeiras. Para melhor compreender e
estudar essas relações, onde os preços dos diferentes países devem ser comparados, e a
moeda de um país deve ser convertida nas moedas dos outros, torna-se fundamental
conhecer o mercado cambial. A taxa de câmbio entre dois países é o preço pelo qual se
efetivam tais transações. É o preço relativo das moedas de dois países.
Portanto, podem-se resumir os objetivos da análise macroeconômica como sen-
do o de estudar como se determinam as seguintes variáveis agregadas: nível de produto
(PIB, PNB), nível geral de preços (IGP, IPC, IPCA etc), taxa de salários, nível de emprego,
taxa de desemprego, taxa natural de desemprego, desemprego sazonal, desemprego
friccional, desemprego estrutural e desemprego cíclico. Papel das expectativas nos des-
locamentos da curva de ajuste da inflação no curto prazo. Taxa de juros, quantidade de
moeda, preço e quantidade de títulos, e taxa de câmbio.
Assim, o objetivo deste curso vai ser o de mostrar sucintamente as principais
variáveis macroeconômicas, discutindo suas relações e suas implicações na formu-
lação das políticas econômicas. Como elas são calculadas e disponibilizadas pelos
institutos de pesquisa, órgãos governamentais e órgãos representativos de classe. É
preciso entender inicialmente que o objetivo do estudo de Economia é formular
propostas para resolver ou minimizar os problemas econômicos, de forma a melho-
rar a qualidade de vida das pessoas.
dentes, sendo, no mais das vezes conflitantes. Afinal, a economia é uma ciência social.
A disciplina “Indicadores de trabalho e emprego” vai procurar dar ao alu-
no elementos teóricos para melhor entender os desdobramentos das políticas
econômicas (salarial, fiscal, monetária e cambial), através do acompanhamento
dos seus principais indicadores*. A experiência da economia brasileira através
do acompanhamento da conjuntura econômica mostrará por outro lado aos dis-
centes, o campo prático e real destes indicadores e suas implicações no proces-
so de desenvolvimento do país, por extensão às suas vidas.
Bibliografia
LUQUE. C.A e SCHOR, S.M. Teoria macroeconômica: evolução e situação atual. In: LOPES
e VASCONCELOS. Manual de macroeconomia. São Paulo: 2000.
MANKIW, N. G. Macroeconomia. Rio de Janeiro; LTC, 1998.
STIGLITZ, J. E & WALSH, C.E. Introdução à macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus,
2003.
*
Por outro lado, a experiência da economia brasileira, através do acompanhamento da conjuntura
econômica, mostrará aos discentes o campo prático...
95
N
as aulas sobre comunicação social e mesmo em conversas com pessoas em geral
quase sempre surgem as perguntas: “A comunicação é algo inerente ao Ser Hu-
mano? O Estado tem obrigação de informar o cidadão sobre suas ações constitu-
cionais?” Este artigo objetiva responder essas duas importantes questões.
Uma das características mais humanas é a comunicação. No entanto, nem sempre
ela é bem utilizada nas relações entre as pessoas. Com o surgimento das cidades e das
inovações tecnológicas, principalmente nas áreas de informação e telecomunicações, o
processo de comunicação social vem ganhando a cada dia mais impulso e eficiência.
Os adventos do rádio, da televisão, do cinema, da imprensa escrita e da Internet
ratificam a tendência de se desenvolver mais e melhores condições do Ser Humano, em
se comunicar coletivamente.
Contraditoriamente, essa mesma tecnologia que facilita a comunicação social tam-
bém estimula a individualidade, o isolamento, o ficar só. Veja que o telefone celular, o
computador e a própria Internet, o vídeo game, o vídeo cassete, o DVD Rom entre outras
traquitanas caminham nessa direção.
Essa contradição é sentida pelas pessoas em geral, que a manifestam em compor-
tamentos “extravagantes” e até exóticos. Porque, conforme já demonstrado pela ciência
e pela história, a Humanidade é gregária, quer dizer, tende a viver coletivamente para
poder cumprir o seu designo neste mundo, na busca de tornar este um lugar digno de se
viver. As organizações em geral, principalmente as públicas, nem sempre se pautam por
esse entendimento, no que se refere à comunicação. Isto tem causado imensos proble-
mas para as pessoas.
Vale lembrar que todo agente público, em qualquer lugar do mundo, deve satisfa-
96 Comunicação é Obrigação Social
E mais, no tópico que rege a Administração Pública, sua Seção I, nas Disposições
Gerais, do Artigo 37 há um reforço sobre as obrigações do Poder Público nesses
assuntos.
Art. 37. A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali-
dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e, também, ao seguinte:
Ainda neste tópico da CRFB há a redação do Parágrafo 1º que ratifica o entendimento sobre
o assunto:
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos
deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar
nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servi-
dores públicos.
Em face ao ora exposto, fica evidenciado e comprovado que a comunicação social
é um dever e uma vocação do Estado democrático brasileiro. Tanto do ponto de vista
essencial (natureza humana), quanto de natureza legal (constitucional). E que os seus
agentes devem se pautar por esse princípio e premissa básicos em todas as suas ações e
comportamentos, no exercício de suas funções profissionais.
Bibliografia
Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 17
set 2004.
A Linguagem do Corpo: O Corpo Fala... Disponível em <http://
www.mundodosfilosofos.com.br/vanderlei17.htm>. Acesso em: 17 set. 2004.
WEIL, Pierre e TOMPAKOW, Roland. O corpo fala. 49 ed. Petrópolis: Vozes, 1983.
CHANLAT, Alain e BEDARD, Rennée. Palavras: A Ferramenta do Executivo, tradução e
adaptação de Mauro Tapias Gomes. In: Chanlat, Jean-François (coord.), O Indivíduo na
Organização - Dimensões Esquecidas. São Paulo: Atlas, 1992.
ETIZIONI, Amitai et alli. Organizações Modernas. 6ª edição, São Paulo: Pioneira, 1980.
TAVARES, Maria das Graças de Pinho. Mitos, Símbolos e Ritos nas Organizações. In:
Cultura Organizacional: Uma Abordagem Antropológica da Mudança. Rio de Janeiro:
Quality Mark, 1991, p. 75-86.
98
99
O
objetivo do presente texto é compartilhar com os leitores algumas reflexões
acerca do processo de institucionalização dos conselhos de políticas públicas,
de maneira geral, e, mais especificamente, a partilha de decisões e responsabi-
lidades entre sociedade civil e governo, circunscritas ao âmbito dos conselhos de políti-
cas públicas da área de emprego e renda na forma do sistema tripartite de gestão.
As considerações aqui apresentadas são produto de algumas indagações que, se-
não evidentes para todos, certamente poderá ser motivo de um olhar mais atento a
partir das coerentes afirmações e insinuações possibilitadas pela leitura dos textos e
pelas discussões havidas durante as aulas do Curso de Gestão Social de Políticas Públi-
cas de Trabalho e Renda, através dos quais já deveremos ter visto, até agora, entre outros
assuntos: condições e ideais políticos que originaram o surgimento do aparelho de Esta-
do no contexto da democracia; a democracia representativa se firmando em detrimento
da democracia direta; processo histórico de construção dos direitos humanos e sociais e
forma como se fazem inscrever em políticas sociais públicas; potencialidades e, tam-
bém, fragilidades do controle social de políticas públicas; globalização e desigualdade
social; papel da comunicação no mercado do trabalho mundializado; economia do tra-
balho e desenvolvimento social; Políticas Públicas de Trabalho e Renda – PPTR e, dentro
desta, política de qualificação profissional.
estar sendo criados sem que haja nenhuma discussão de iniciativa da comunidade ou
sem que a mesma tenha a preparação para assumir, de fato, novas atribuições e compe-
tências no conselho.
Levada a uma consideração extrema, poderia ser elaborada a seguinte expressão:
“Conselho? Invente o seu, é apenas questão de cumprir a uma formalidade mesmo”. Se
esta expressão fizer parte do conteúdo escamoteado por trás dos princípios participativos
e de controle social, que o discurso oficial intenta defender, os conselheiros podem
estar sendo escolhidos sem os critérios adequados, como por exemplo entre amigos ou
partidários do chefe do executivo ou da pasta correspondente (setorial). Tal proposição,
se verdadeira, desencastelaria os conselhos setoriais da posição de novos canais de par-
ticipação popular e de espaços que possibilitam a democracia participativa. Sua existên-
cia estaria sob o controle de quem deveria estar sendo vigiado.
Exemplo concreto de certo grau de subordinação dos conselheiros ao represen-
tante do executivo pode ser extraído das falas de dois conselheiros municipais de saúde
de Campo Grande-MS, contidas em entrevistas realizadas em 2002 (Meza et al.):
[No] nosso regimento [a presidência] é aberta a qualquer conselheiro. A Secretária Munici-
pal de Saúde foi eleita presidente do conselho pela participação profissional, pelo desempe-
nho dela na Secretaria de Saúde Pública. Então eu acredito que (...) todos foram unânimes
nela por capacidade mesmo (....) Não tinha outra candidatura, foi por aclamação. (conselhei-
ro 1)
Foi quase que unanimidade. [a presidente do conselho] é a Dra. Beatriz, a Secretária. Mas
isso foi porque a gente quis, na época (...). Eu, quando estava no primeiro mandato, dois
anos eu fiquei voando igual ‘barata tonta’. Então você precisa de um certo tempo maior pra
você ter mais conhecimento (...). Na época eu achava que não, que tinha que ser ela, mas
agora eu já tenho meu pensamento que, se eu fosse reconduzida novamente, eu ia me
candidatar a presidente, eu não ia deixar mais.” (conselheiro 2)
Não obstante, apesar da previsão legal de controle social, poucos cidadãos têm se
interessado em participar dos conselhos. Mesmo sendo um processo de cima para bai-
xo, a criação dos conselhos municipais pode despertar a sociedade civil para a necessi-
dade de se organizar? Esta é uma possibilidade e, como tal, precisa ser exercitada perma-
nentemente (dada a natural rotatividade dos conselheiros) e, assim, constatada na prá-
tica. A participação da sociedade civil nos conselhos, em muitos casos, pode ter sido
provocada externamente. Até por isso, sua atuação às vezes se restringe aos limites de
extensão da burocracia estatal, o que nos permite considerar a necessidade de avançar
na qualidade política da participação, aí incluídas as marcas propostas por Demo (1996:44-
58): representatividade, legitimidade, participação da base e planejamento participativo
auto-sustentado. Fora desses horizontes, para o autor, a participação ou aproxima-se da
farsa ou é incompetente.
No trabalho realizado no município de Campo Grande-MS (Meza et al., 2002, op.
cit.), ao serem questionados quanto à participação da sociedade civil no processo de
102 O Controle Social no Sistema Tripartite de Gestão
O Tripartismo
Não há uma definição precisa nem uma elaboração teórica desenvolvida sobre o
tripartismo, apesar de se empregar habitualmente na literatura jurídica, social e nos
próprios documentos de diversos organismos internacionais, entre eles e fundamental-
mente a Organização Internacional do Trabalho – OIT.
A OIT, criada pelo Tratado de Paz assinado em Versalhes em 1919, é a Agência
mais antiga do Sistema das Nações Unidas. Considerando – como ficou consignado na
Constituição da Organização – que “só se pode fundar uma paz universal e duradoura
com base na justiça social”, a OIT foi estabelecida com o objetivo de definir e promover
políticas sociais, em nível internacional, numa fase marcada pela revolução industrial.
Desde a origem, a OIT integrou representantes dos governos, das organizações
sindicais e das organizações patronais. A participação de representantes dos emprega-
dores e dos trabalhadores, colaborando em pé de igualdade com os representantes dos
governos, tendo em vista a procura de consensos para promover o bem comum –
tripartismo ou cooperação tripartida – constitui um traço distintivo da OIT em relação
às demais Organizações das Nações Unidas.
Eduardo Ramirez Meza
105
O órgão colegiado pode ser instituído diretamente por decreto do executivo, que
é o meio mais rápido, e receber a denominação de Comissão. Neste caso, contudo, há
que se considerar a sua fragilidade, já que a revogação, anulação ou alteração de um
decreto, em princípio, pode ser realizada a qualquer tempo e dependendo quase que
exclusivamente da vontade do chefe do executivo. Assim, não há garantias sobre o cará-
ter de permanência e independência política necessários para um órgão colegiado desta
Eduardo Ramirez Meza
107
Dificuldades de operacionalização
A participação da base é a alma do processo, pois a participação autêntica é a da
base, que é a sua origem, o poder de baixo para cima. Na cúpula, a liderança representa-
tiva exerce o poder de serviço, não autônomo. Ocorre muitas vezes que, por omissão da
maioria, os presentes passam a representar, sem mais nem menos, o todo e a decidir
por ele, liquidando desta forma a constituição democrática (Demo, 1996: 49-52).
Assim como a legitimidade de um governo se extrai da Constituição, algo similar
deve acontecer nas organizações menores. É legítimo o processo participativo, fundado
em estado de direito, que regulamente de modo democrático e comunitário as regras do
jogo da vida comum. Normalmente esta regulamentação é o estatuto da organização,
onde explicita quem é/pode ser membro, direitos, deveres, como escolhem-se os seus
dirigentes, como se podem mudar as regras, etc. (Demo, 1996: 44-46). A liderança repre-
senta democraticamente a confiança e a esperança da comunidade e, justamente por
isto deve, ser rotativa, deve prestar contas, deve entender-se a serviço da comunidade.
A representação das categorias sociais e profissionais no CODEFAT, assim como
nas Comissões Estadual e Municipais de Emprego, é do tipo vinculada. Ou seja, se dá a
partir da indicação feita pelas organizações sindicais e patronais. Conciliar os imperati-
vos da justiça social com a competitividade das empresas e o desenvolvimento econô-
mico é o desafio que se coloca.
Com relação à rotatividade de membros representantes e da presidência da Co-
missão de Emprego, a Resolução nº 80 do CODEFAT (vide compilação das resoluções em
anexo) determina que “o mandato de cada representante é de até 3 anos, permitida uma
recondução” e que a Presidência da Comissão “será exercida em sistema de rodízio,
entre as bancadas do governo, dos trabalhadores e dos empregadores, tendo o man-
dato do Presidente a duração de 12 (doze) meses e vedada a recondução para perío-
do consecutivo”.
108 O Controle Social no Sistema Tripartite de Gestão
QUADRO 1
Recursos do FAT repassados pelo MTE ao Governo do Estado de Mato Grosso do Sul
para custear ações de qualificação profissional (2000-2004)
(1) Os números apresentados referem-se ao percentual de cada ano em comparação ao ano 2000, considerado,
apenas para efeitos destes cálculos e como um demonstrativo, como marco inicial.
(2) Em 2004 o repasse de recursos consiste de R$ 832.547,00 (para clientelas da qualificação profissional) mais
R$ 226.800,00 (específicos para custear o Serviço Civil Voluntário).
Registre-se que, além dos recursos do FAT, por força da exigência contida no pró-
prio convênio firmado junto ao Ministério do Trabalho e Emprego, o Governo do Estado
Eduardo Ramirez Meza
109
Considerações finais
Apesar de estarem vinculados à estrutura administrativa e precisarem que suas
decisões sejam homologadas pelo chefe do poder executivo, os conselhos são, teorica-
mente, autônomos. Seu funcionamento interno é regido por regras e procedimentos
formulados (ou, ao menos, aprovados) por seus membros. A autonomia das decisões vai
depender da correlação de forças na estrutura de poder, da organização da sociedade
para acompanhar, avaliar e dar suporte às ações propostas.
Como vimos, os conselhos setoriais nascem sob coordenação estatal, de governo.
Caberia à coordenação, segundo nosso entendimento, a tarefa de promover a articula-
ção dos diferentes aspectos e decisões, a fim de dar organicidade às ações do grupo
como um todo. Porém, querendo ou não, à medida em que o grupo se engaja, aprende
no próprio processo de trabalho e torna-se mais capaz para se autodirigir. Ocorre, assim,
um acréscimo no conhecimento dos sujeitos, ao qual corresponde um decréscimo na
diretividade da coordenação.
Não se pode, contudo, superestimar o papel desse arranjo institucional e nele
apostar todas as energias dos movimentos sociais. Os conselhos são mais um espaço de
luta, de negociação, de articulação, mas contêm limitações e ambigüidades, bem como
oferece oportunidades e novos desafios. Há muito a avançar. Apontam-se necessidades
como a adoção de um sistema de divulgação, a articulação inter-conselhos e inter-políti-
cas e a maior participação da sociedade civil, para impedir que a representatividade seja
desviada para atendimento dos próprios benefícios.
A realidade deve ser compreendida como um processo dinâmico, não como algo
estático e imutável. Na medida em que haja melhor compreensão da realidade, pelo
trabalho cooperativo, pela descoberta de relações não visíveis nos fatos em si, pela in-
terpretação dos indicadores de interdependência presentes nos fenômenos sociais,
as pessoas e os grupos deverão organizar o próprio pensamento, desocultando as
ideologias interessadas em separar a compreensão da realidade da necessidade de
sua transformação.
Cabe à comunidade a tarefa de entender-se como a principal “peça” que compõe a
realidade social. Daí decorre a exigência de algo grau de comprometimento de todos
com e por todos ou, em outras palavras, um forte sentido de lealdade comunitária.
Onde houver dificuldade individual, que o debate coletivo possa, na riqueza das discus-
110 O Controle Social no Sistema Tripartite de Gestão
sões dos interesses contrários que se fazem presentes em toda sociedade humana,
desvencilhar-se dos entraves imediatos e reformular-se coletivamente, sempre que
necessário.
Pode-se perceber que a sociedade, de maneira geral, tem se comportado de forma
um tanto quanto apática, mesmo quando está diante de temas tão intimamente relacio-
nados ao seu próprio dia-a-dia. No caso, as políticas públicas. Contudo as possibilidades
estão, na teoria e na lei, colocadas à disposição do controle social. O que parece
estar faltando, portanto, é de fato o esclarecimento coletivo, o que só pode ser al-
cançado partindo-se do conhecimento da realidade em que tais possibilidades estão
sendo colocadas.
Caso queiramos entender que a história seja construída em espaço e tempo deter-
minado, somos obrigados a reconhecer que ela não se repete. Assim sendo, de pouco ou
nada valeria copiar de outros contextos históricos soluções que neles teria dado certo. É,
portanto, no atual contexto histórico, político, econômico e social que devem ser gestadas
as fórmulas adequadas ao exercício do controle social.
Em que pesem os possíveis “vícios” presentes no processo de institucionalização
dos conselhos setoriais, ao que tudo indica estes ainda configuram-se como possíveis
canais de mediação dos interesses coletivos e das políticas governamentais; espaços
adequados, portanto, para o estabelecimento de políticas públicas.
Finalizando, se a realidade é, de fato, muito mais rica que qualquer teoria, qual-
quer pensamento e qualquer discurso que sejamos capazes de elaborar sobre ela, como
propôs Minayo (1994), o presente artigo não foge à regra. É bom que se frise, portanto,
que o presente trabalho não teve, nem de longe, a pretensão de esgotar os assuntos aqui
abordados. Pretendia, antes de mais nada, tão somente provocar reflexões que permi-
tam contribuir para o crescimento da coletividade. É, por isto, apenas mais um
fomentador dos muitos debates que devem ser instalados nos contextos sociais para
imprimir, no fazer social, o sentido que dele desejamos e aí, necessariamente, sob os
aspectos políticos, econômicos e sociais.
Bibliografia
AZEREDO, Beatriz. Políticas públicas de emprego: a experiência brasileira. São Paulo:
ABET, 1998. (Coleção Teses & Pesquisas, v.1)
BRASIL. Constituição (1988). Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1988.
CARVALHO, Maria do Carmo A. A. Conselhos: o que são e para que servem. In: Repente.
n. 4, 1998. Instituto Polis, http://www.polis.org.br, consultado em 15/05/2002.
COMUNIDADE Solidária; IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; PMSS - Pro-
Eduardo Ramirez Meza
111
A
ltera a Resolução nº 63, de 28 de julho de 1994, que estabelece critérios para
reconhecimento, pelo CODEFAT, de comissões de emprego constituídas em ní
vel Estadual, do Distrito Federal e Municipal, no âmbito do sistema público
de emprego.
O CONSELHO DELIBERATIVO DO FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR - CODEFAT,
no uso de suas atribuições legais, em face do disposto no inciso V, do artigo 19, da Lei nº
7.998, de 11 de janeiro de 1.990, e, tendo em vista o necessário aprimoramento do Siste-
ma Público de Emprego,
RESOLVE:
Art. 1º - Alterar a Resolução nº 63, de 28 de julho de 1994, que estabelece critérios para
reconhecimento, pelo CODEFAT, da Comissão de Emprego, a ser instituída por ato do
Poder Executivo dos Estados, Distrito Federal e Municípios, nas condições previstas
nesta Resolução, que tem por finalidade consubstanciar a participação da sociedade organi-
zada, na administração de um Sistema Público de Emprego, em nível nacional, confor-
me prevê a Convenção nº 88, da Organização Internacional do Trabalho - OIT.
Art. 2º - Será reconhecida pelo Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalha-
dor - CODEFAT, Comissão Estadual/Municipal de Emprego, instituída e definida como
um órgão ou instância colegiada, de caráter permanente e deliberativo, que observará os
critérios de funcionamento previstos nesta Resolução.
§ 1º - A Comissão de Emprego, de que trata esta Resolução, é considerada instância
superior em relação as Comissões Municipais que a ela estarão vinculadas, salvo em
casos excepcionais, por decisão conjunta do MTb/CODEFAT e Estados/Comissão.
§ 2º - É facultada a instituição de Comissão, por microrregião, ao nível municipal, quan-
do for constatada a inviabilidade de sua instalação em cada município, de per se, face à
Anexo: Resolução 80, de 19 de Abril de 1995
113
por microrregião;
c) subsidiar, quando solicitado, as deliberações do Conselho Deliberativo do Fundo de
Amparo ao Trabalhador - CODEFAT;
d) propor aos órgãos executores das ações do Programa Seguro-Desemprego (Plano Naci-
onal de Formação Profissional - PLANFOR, Intermediação de Mão de Obra - IMO, paga-
mento do benefício do seguro desemprego), com base em relatórios técnicos, medidas
efetivas que minimizem os efeitos negativos dos ciclos econômicos e do desemprego
estrutural sobre o mercado de trabalho;
e) articular-se com instituições públicas e privadas, inclusive acadêmicas e de pesquisa,
com vistas à obtenção de subsídios para o aperfeiçoamento das ações do Programa Segu-
ro-Desemprego, executadas no âmbito do Sistema Nacional de Emprego, e dos Progra-
mas de Geração de Emprego e Renda (PROGER Urbano e Rural, PRONAF, PROTRABALHO
e PROEMPREGO);
f) promover o intercâmbio de informações com outras comissões estaduais, do Distrito
Federal, bem como com as instituídas no âmbito municipal e por microrregião,
objetivando, não apenas a integração do Sistema, mas também a obtenção de dados
orientadores de suas ações;
g) proceder ao acompanhamento da utilização dos recursos destinados à execução das
ações do Programa Seguro-Desemprego e dos Programas de Geração de Emprego e Ren-
da, no que se refere ao cumprimento dos critérios, de natureza técnica, definidos pelo
CODEFAT;
h) participar da elaboração do Plano de Trabalho do Sistema Nacional de Emprego, em
articulação com as comissões instituídas no âmbito municipal ou por microrregião, bem
como proceder a sua aprovação e homologação, podendo propor alocação de recursos,
por área de atuação;
i) aprovar, mediante parecer, o relatório das atividades descentralizadas, executadas no
âmbito do Sistema Nacional de Emprego;
j) indicar, obrigatoriamente, à Secretaria Executiva do CODEFAT e às Instituições Finan-
ceiras, as áreas e setores prioritários para alocação de recursos no âmbito do Programa
de Geração de Emprego e Renda;
l) avaliar a focalização das ações do Programa de Geração de Emprego e Renda, acompa-
nhando os seus resultados e o cumprimento das diretrizes estabelecidas pelo CODEFAT,
com vistas à constante melhoria do desempenho do Programa;
m) articular-se com entidades da rede de educação profissional, conforme definido no
parágrafo 1º da Resolução CODEFAT 258/00, visando estabelecer parcerias que maximizem
o investimento do FAT em programas de qualificação profissional, intermediação de
Anexo: Resolução 80, de 19 de Abril de 1995
115
Art. 15 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposi-
ções em contrário.
Art. 16 - Os casos omissos e as dúvidas existentes quanto à aplicação desta Resolução
serão dirimidos pelo MTb/CODEFAT.
LUCIO ANTONIO BELLENTANI2
Presidente do CODEFAT
NOTAS:
1
A Resolução nº 80 foi escolhida como o texto-base para esta compilação pois traz uma
reedição completa do texto da Resolução nº 63 (ou seja, dispensa consulta ao texto da Reso-
lução anterior, embora esta nunca tenha sido revogada). As demais resoluções limitaram-se a
introduzir alterações e, portanto, obrigam a consulta ao texto da Resolução nº 80. Assim,
sendo, o presente documento apresenta o texto completo, a partir da Resolução nº 63 e com
alterações introduzidas, pelo CODEFAT, através da Resolução nº 114, de 1º de agosto de
1996; Resolução nº 227, de 9 de dezembro de 1999; Resolução nº 262, de 30 de março de
2001; Resolução nº 270, de 26 de setembro de 2001, e Resolução nº 365, de 11 de janeiro
de 1990 (na verdade esta Resolução é do ano de 2003, mas está publicada, no site do MTE,
com a data equivocada).
2
Tendo em vista que o presente documento foi elaborado tendo como base a Resolução nº
80, preservou-se, aqui, a assinatura do presidente do CODEFAT à época. Os presidentes do
CODEFAT à época de cada uma das Resoluções aqui compiladas foram:
. . .
Projeto Escola de Conselhos
Departamento de Jornalismo/UFMS
Fone/Fax: (67) 345-7609 / 345-7647
E-mail: escoladeconselhos@nin.ufms.br
Cidade Universitária s/nº - Caixa Postal 549
CEP 79070-900 - Campo Grande-MS