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RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 11 n.

2 Abr/Jun 2006, 15-25

Cobrança pela Drenagem Urbana de Águas Pluviais:


Bases Conceituais e Princípios Microeconômicos

Vanessa Cançado, Nilo de Oliveira Nascimento e José Roberto Cabral


UFMG – Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos – niloon@ehr.ufmg.br

Recebido: 14/07/05 – revisado: 26/09/05 – aceito: 18/11/05

RESUMO

Em um cenário de crescente restrição orçamentária do setor público, novas formas de custeio dos serviços de drena-
gem urbana das águas pluviais são discutidas. Como alternativa ao tradicional financiamento por meio de impostos sobre
propriedade, surge a possibilidade de uma cobrança individualizada dos serviços via taxa de drenagem. Esta poderia impli-
car em ganhos de justiça tributária e eficiência alocativa. Mas as peculiaridades econômicas da drenagem urbana, ofertada
em regime de monopólio natural e com características de bem público, dificultam a individualização do débito. Este artigo,
em uma abordagem teórico-conceitual, discute estas peculiaridades, a viabilidade de criação da taxa à luz da teoria econômi-
ca e qual a metodologia tarifária mais adequada para este fim.

Palavras-Chave: drenagem pluvial, taxa de drenagem, cobrança

INTRODUÇÃO des e a questão do valor na drenagem urbana. Estas


características orientam a base metodológica para
criação de uma taxa de drenagem, assunto discutido
Nos debates que envolvem a drenagem ur- na seção seguinte. Nesta são apresentadas várias
bana, a dimensão econômico-financeira assume metodologias tarifárias e determinada a que melhor
importância. Discutem-se não apenas novas tecnolo- se ajusta a uma taxa de drenagem. Por último são
gias, minimizadoras de custo e de impactos ambien- mostradas a conclusão e referências do trabalho.
tais, mas também formas alternativas no custeio dos
serviços. O financiamento via Tesouro municipal,
principalmente por meio do Imposto sobre Propri- CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS DOS
edade Territorial Urbana – IPTU, esbarra na restri- SERVIÇOS DE DRENAGEM URBANA
ção orçamentária do setor público, onde a drena-
gem pode não ser percebida como prioridade polí-
tica. Ganham ênfase os possíveis benefícios da cria- Bem público e monopólio natural
ção de uma taxa sobre os serviços como forma de
garantir os investimentos necessários ao setor. Em-
bora a sua adoção tenha complicadores pelas carac- Os mecanismos de mercado que regulam os
terísticas da oferta e demanda no setor, existem bens e serviços privados não funcionam adequada-
ganhos de eficiência alocativa quando a cobrança mente para os serviços de drenagem urbana. Isto
está relacionada com o consumo individual pelos porque estes possuem características de bens públi-
serviços. A taxa possibilita uma distribuição social- cos, como a não excludência e a não rivalidade.
mente mais justa dos custos ao onerar mais os usuá- Portanto, não é possível excluir um agente de seu
rios que utilizam mais o sistema. consumo: quando oferecido os serviços, todos po-
Este artigo apresenta as bases conceituais e dem ou vão obrigatoriamente consumi-los (não
princípios microeconômicos que podem orientar excludência). Além disso, nos limites do sistema, a
uma forma alternativa de financiamento da drena- demanda de um usuário não afeta a disponibilidade
gem urbana das águas pluviais: a cobrança individu- de outros (não rivalidade). Sua oferta é feita em
alizada pelos serviços. Em uma primeira parte são regime de monopólio natural: há um único ofertan-
apresentadas as características econômicas dos servi- te dos serviços e este apresenta custos médios de-
ços, onde se discutem oferta, demanda, externalida- crescentes ao longo do intervalo relevante de pro-

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dução, em outros termos, economias de escala até o biente urbano (Debo & Reese, 1995:11). Cada pro-
limite da capacidade. prietário de imóvel urbano é um consumidor deste
Estas características implicam em um com- sistema, e sempre que ele aumenta a área imperme-
portamento econômico diferenciado daquele dos abilizada de sua propriedade, gera demandas extras
bens ou serviços privados. Algumas peculiaridades pelo serviço. Ressalte-se que a drenagem urbana é
relacionadas à oferta, demanda, produção de exter- um bem essencial. Embora alguns o utilizem mais
nalidades e determinação do valor dos serviços são ou menos, é impossível deixar de usufruí-lo.
mostradas a seguir. A grande variabilidade na intensidade, du-
ração e freqüência das precipitações reflete em uma
Características de oferta “demanda” estocástica pela drenagem com grande
variação ao longo do tempo (durante o ano, o mês,
O dimensionamento dos sistemas de drena- o dia e até mesmo a hora). Em conseqüência, o
gem ocorre por meio de avaliação hidrológica e sistema é dimensionado para operar freqüentemen-
hidráulica. A estimativa de cenário futuro de im- te com capacidade ociosa.
permeabilização ou a impermeabilização máxima Normalmente bens e serviços essenciais,
prevista em legislação municipal é utilizada como sem substitutos e que são ofertados por um único
parâmetro nestas avaliações. prestador apresentam demanda inelástica em rela-
A partir deste dimensionamento, a rede de ção ao preço: preços maiores não afetam significati-
drenagem é implantada e os serviços disponibiliza- vamente as quantidades consumidas. Esta inelastici-
dos à população. Eles são oferecidos na mesma dade ocorre na drenagem urbana e é predominante
“quantidade” para todos os beneficiários. Os indiví- nos serviços de infra-estrutura. Ela é uma das princi-
duos podem avaliar a drenagem de maneira desi- pais variáveis utilizadas na regulação de preços das
gual ou terem diferentes participações na demanda empresas de utilidade pública para garantir o equi-
agregada dos serviços por meio da propriedade dos líbrio de interesses entre ofertante (aumentar o
terrenos e impermeabilização dos mesmos, mas lucro) e usuários (diminuir o pagamento).
todos têm disponíveis a mesma quantidade para Apesar da inelasticidade, é possível que a
consumo. São indivisíveis na ótica da oferta, mas cobrança específica pelo uso dos sistemas de drena-
divisíveis na perspectiva da demanda. gem leve ao uso mais “racional” do solo urbano - ou
Como ocorre com freqüência nos serviços a uma maior consciência do impacto daquela pro-
públicos, a provisão da drenagem urbana envolve priedade nos custos envolvidos na drenagem - do
custos fixos elevados, essencialmente os investimen- que a cobrança via impostos gerais. Uma das princi-
tos na implantação das redes de drenagem, com pais funções da taxa ou tarifa é exatamente fazer
longo prazo de maturação, e custos marginais pe- esta ligação entre oferta e demanda. Ademais, pre-
quenos, quase nulos. Nestas condições, um preço de sume-se a existência de alguma sensibilidade, ainda
eficiência econômica, aquele que se iguala ao custo que pequena, da demanda em relação a variações na
marginal dos serviços, pode não ser capaz de cobrir taxa sobre os serviços.
os custos de implantação e operação do sistema: o
custo marginal tende a ser menor do que o custo Externalidades
médio. O ideal microeconômico de que a receita
com a venda de uma unidade adicional de produto Externalidades são efeitos econômicos cola-
seja igual ao valor dos recursos que foram utilizados terais de um processo de produção ou consumo que
para produzi-la não permite a viabilidade financeira não são considerados na formação de preço de mer-
do empreendimento. cado do produto (Lanna, 2001). São efeitos que
Como solução, a tendência é que a adminis- interferem no consumo das pessoas ou na produção
tração pública (o regulador) defina um preço que das firmas, porém de difícil quantificação pela não
permita o ponto de equilíbrio para a prestadora: existência de um mercado para eles.
produzir em um nível onde o preço se iguale aos O sistema de drenagem pluvial é um grande
custos médios de produção. produtor de externalidades, negativas e positivas. A
alteração de regimes hidrológicos, assoreamento,
Características de demanda poluição de corpos d’água, presença de metais pe-
sados na água são exemplos de externalidades nega-
Quando ocorre a demanda pelos serviços de tivas. Como exemplos positivos, o emprego de bacias
drenagem urbana? Quando é lançado no sistema de de detenção com o desenvolvimento de áreas verdes
drenagem o escoamento superficial gerado no am- e terrenos para esporte e os efeitos benéficos da

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drenagem sobre a saúde da população (Baptista & de gerar valores sociais relevantes, como áreas para
Nascimento, 2002:35). lazer e beleza ambiental, com aumento do bem estar
da população. Por outro lado, a canalização de um
O valor nos serviços de drenagem urbana córrego pode ser adequada sob uma ótica privada,
mas originar problemas ambientais. É possível agre-
Os mecanismos de mercado não funcionam gar valor a uma área, construindo medidas que mi-
bem na alocação dos bens públicos. Os consumido- nimizem as inundações locais, mas diminuir valores
res não podem comprar quantidades ou qualidades a jusante, transferindo o problema da enchente para
diferentes do bem ou serviço público, por exemplo, outra região.
de uma praça ou de segurança pública: de algum No caso de bens privados transacionados via
forma, eles (ou a administração pública ou o presta- mercado a determinação do valor (de troca) não é
dor) têm que decidir a viabilidade da oferta de de- muito problemática. Em função de suas necessida-
terminado serviço público, em que nível deve ser des, preferências e capacidade de pagar, as pessoas
oferecido e com quais características qualitativas. decidem individualmente as quantidades consumi-
Para isto a análise do valor é fundamental. das de determinado bem e serviço. Supostamente
Existem principalmente três classes de valor maximizam a utilidade que encontram no consumo
associadas aos bens e serviços (Lanna, 2001; Daun & dessas quantidades conforme permitem os seus or-
Clark, 2000): valores de uso, valores de opção de uso çamentos. Cada consumidor, ao resolver o quanto
e valores de existência. A primeira refere-se aos be- comprar dos vários bens e serviços, leva a um padrão
nefícios adquiridos com o uso físico do bem. Por geral de consumo de eficiência econômica, a um
exemplo, nadar em um rio, práticas de lazer em um nível “ótimo” de consumo e oferta dos bens. A hipó-
parque e a Floresta Amazônica enquanto fonte de tese central desta teoria é de que o consumo de um
madeiras nobres. O valor de uso não possui uma indivíduo não afeta a utilidade das outras pessoas, o
relação direta com o valor de troca. Um bem pode que pressupõe a inexistência de externalidade de
ser essencial, mas não ser “vendável”, não ter nin- consumo.
guém disposto a pagar por ele. A atmosfera é um Nos serviços com características de bem pú-
exemplo. Geralmente, o valor de troca está associa- blicos, como a drenagem urbana, tal processo de
do a uma situação de escassez do bem. A água, antes definição de valor ocorre de maneira diversa. Apesar
percebida como abundante e de livre acesso, sem de cada indivíduo perceber os valores de maneira
valor econômico, hoje é considerada bem escasso. diferente, portanto avaliar os bens de maneira dife-
Por isso o atual debate sobre formas de avaliar o seu rente, suas utilidades estão inexoravelmente ligadas,
valor de troca e precificá-la. uma vez que todos são obrigados a dispor do mesmo
O valor de opção de uso relaciona-se ao uso nível de bem. Neste caso, os mecanismos de merca-
potencial de um bem. Há um certo desconhecimen- do dificilmente funcionam na definição de sua pro-
to do seu valor de uso corrente, mas se espera o seu visão eficiente.
conhecimento futuro e de que ele seja relevante. A Esta situação é exemplificada por Variam
percepção deste valor está presente nas estratégias (1997): existem três colegas de quarto, um fumante
de preservação ambiental: a Floresta Amazônica, por e dois não fumantes. A quantidade de fumaça seria
sua diversidade biológica, pode vir a ser uma grande um bem público e os não fumantes reivindicam o
fonte de medicamentos. direito ao ar puro. O fumante pode propor que eles
O valor de existência ou de não-uso ocorre troquem um pouco do ar puro por uma compensa-
pela própria existência do bem, independente de ção financeira. Surgem dilemas: os não fumantes
sua utilização física. Sua presença e imagem já lhe têm que concordar entre si o quanto dessa fumaça
conferem valor. Ele está ligado a aspectos afetivos, seria permitida e qual deveria ser a compensação.
psicológicos ou ambientais: parentes, amigos, pesso- Os dois colegas podem possuir preferências e recur-
as em geral, patrimônio histórico, preservação am- sos muito diferentes, um pode ser mais sensível ou
biental etc. mais rico do que o outro. Extrapolando-se este e-
As três classes de valor existem nos serviços xemplo para uma região percebem-se as dificulda-
de drenagem. O valor de uso é claro pela necessida- des para um acordo sobre o valor e o nível adequa-
de de se drenar o escoamento gerado pela imper- do de um bem público. Qual deveria ser a poluição
meabilização do solo. As possíveis externalidades permitida em um rio? Como o poluidor poderia
positivas geradas pelo sistema agregam mais valor compensar a sociedade por ter diminuído a quali-
aos serviços, de uso e de não uso. Uma alternativa dade da água? Qual deve ser o nível de preservação
local, como a construção de bacia de detenção, po- ambiental? Qual deve ser o período de retorno utili-

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zado no dimensionamento de um sistema de drena- 2. gerar os recursos financeiros para a expan-


gem? Quais são os custos e benefícios sociais de se são da rede de serviços;
implantar um sistema de drenagem que preserve o 3. sinalizar para o consumidor a escassez rela-
córrego e seu entorno em relação a outro que o tiva da oferta;
canalize e permita a exploração imobiliária à sua 4. papel racionalizador do consumo;
margem? Qual dos sistemas irá gerar mais valor? 5. remunerar o capital utilizado na produção;
Estas são questões difíceis de serem respon- 6. ser instrumento da política social do gover-
didas exatamente porque envolvem externalidades e no.
bens públicos. A prática tem sido a utilização de
alguns mecanismos extramercados para valoração As funções 1 e 2 visam a sustentabilidade fi-
dos bens públicos. São os chamados métodos obser- nanceira dos serviços: ressarcimento dos custos de
vados e hipotéticos diretos ou indiretos. Por meio investimento, operação e manutenção necessários à
destes, utiliza-se o mercado de bens privados para prestação dos serviços, além de gerar um excedente
inferir sobre o valor de determinado bem público para ampliação dos mesmos. Estes investimentos são
ou cria-se um mercado hipotético para o bem que se geralmente rebatidos ao longo de um período de
aproxime ao máximo de um mercado real. Para isto, amortização propiciado por empréstimos levantados
métodos como avaliação contingente e de preços para financiamento das obras.
hedônicos ganham relevância. Na avaliação contin- A terceira e a quarta função estão associadas
gente é criado um mercado hipotético em um pro- à eficiência econômica: nos serviços de drenagem,
cesso de entrevista individual onde o indivíduo de- ao estímulo ao uso racional do solo a fim de evitar a
clara ou indica sua disposição a pagar pelo bem impermeabilização desnecessária deste.
público inserido neste mercado (DAP) ou, alternati- Na demanda pelo serviço de drenagem as-
vamente, a disposição a aceitar um pagamento com- pectos como necessidade, preferência e restrição
pensatório pela renúncia de determinado nível do orçamentária não são integralmente considerados
bem (DAA). Sua base teórica está nas preferências pelo usuário, pois o serviço é percebido como “da-
do consumidor via função de utilidade individual. O do”: existe uma oferta única, permanentemente
método de Preço Hedônico considera que o preço disponível, independente do nível de consumo. Por
de um bem ou serviço é função de vários atributos, ser tão presente, e na ausência de uma cobrança
cujo efeito é possível de ser isolado do seu preço. específica pelo seu uso, quando eficaz, ele tende até
Aplicação usual deste método ocorre nas análises a ser ignorado pelos usuários.
sobre mudanças de preços de residências como Esta é uma situação que, além de não inibir
função de várias características, com destaque para a impermeabilização desnecessária do solo, estimula
aquelas que retratem a qualidade ambiental. o “carona”: como o serviço é obrigatoriamente ofer-
tado no mesmo nível para todos os usuários, utilizá-
lo mais significa, indiretamente, pagar menos por
INDIVIDUALIZAÇÃO DA COBRANÇA: ele. O carona é facilmente observável na vida cotidi-
TAXA DE DRENAGEM URBANA ana: é o sonegador de tributos ou aquele que faz
ligações clandestinas para acesso aos serviços públi-
cos e privados. O sonegador sabe que os seus impos-
A utilização de uma taxa de drenagem é tos, individualmente, não afetam o nível de bens e
uma forma de sinalizar para o usuário a existência serviços públicos. Por outro lado, ao sonegar, ele
de valor nos serviços de drenagem. Existem custos aumenta a sua renda para o consumo privado. “Dei-
na provisão da drenagem urbana que variam princi- xar o outro fazer” é ótimo na ótica individual, mas
palmente em função da parcela de solo impermeabi- ineficiente do ponto de vista da sociedade como um
lizada. E a drenagem urbana gera benefícios sociais todo.
positivos, valores de uso e não uso. Em suma, a dissociação entre o consumo
A definição adequada da tarifa ou taxa pos- individual e o pagamento por este consumo - ou os
sibilita que esta cumpra algumas funções, o que custos gerados por este consumo - não incentiva a
depende do objetivo a ser alcançado com a receita racionalização da demanda, não há um esforço para
tarifária. Seis funções podem ser enumeradas (An- evitar a impermeabilização do solo. Em conseqüên-
drade, 1998): cia, os consumos agregados desses serviços tendem a
ser superiores aos que seriam necessários.
1. cobrir os custos de produção dos serviços; A quinta função da tarifa é remunerar ade-
quadamente os agentes econômicos envolvidos no

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empreendimento. A receita gerada pela prestação do serviço. Sendo estes divisíveis, parece a me-
dos serviços constitui parte da composição do capital lhor política cobrá-los. (grifo nosso) (Bastos,
a ser empregado no investimento e define a maior op.cit., p.167)
ou menor necessidade de recursos financeiros com-
plementares. A cobrança pelos serviços públicos pode ser
A sexta função, a utilização da taxa sobre os via tarifa – ou preço público – ou taxa. A primeira
serviços públicos como instrumento de redistribui- opção é utilizada quando o serviço implica alternati-
ção de renda, está ligada a alguns objetivos sociais va, quando o indivíduo pode escolher entre usá-lo
mais amplos (Andrade, 1998): ou não. É o que ocorre nos serviços de transporte
público, telefonia ou distribuição de energia elétrica
· assegurar um padrão mínimo de vida a to- domiciliar.
dos os indivíduos (objetivo da base míni- A segunda alternativa, a cobrança via taxa,
ma); está presente nos serviços públicos com utilização
· contribuir para diminuir os problemas da obrigatória pela população, independente de seu
distribuição de renda, objetivo a ser perse- uso efetivo. Basta apenas que os serviços tenham
guido por qualquer política governamental, sido disponibilizados à sociedade pela administração
qualquer que seja seu objetivo principal pública. Nos termos da Constituição Federal (1988),
(objetivo de equalização subsidiária); artigo 145, inciso II:
· reforçar a igualdade de oportunidades en-
tre os indivíduos (objetivo da meritocracia). Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios poderão instituir os seguintes
No Brasil, uma das principais formas de uti- tributos:
lização social da tarifa ou taxa sobre os serviços pú- (...)
blicos ocorre via concessão de subsídios dos usuários II. Taxas, em razão do exercício do poder de polí-
de maior poder aquisitivo para os de menor, assim cia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de
como dos grandes para os pequenos usuários. A serviços públicos específicos e divisíveis, prestados
Companhia de Saneamento de Minas Gerais – CO- ao contribuinte ou postos a sua disposição.
PASA/MG, por exemplo, utiliza a sistemática em
cascata na definição da sua estrutura tarifária. Exis- A divisibilidade é a característica essencial
tem tarifas diferenciadas segundo blocos de consu- dos serviços para que ocorra a sua individualização
mo de água e segundo a categoria do usuário – resi- (uti singuli) e, por conseguinte, a cobrança via taxa
dencial, pública, comercial, industrial ou residencial ou tarifa. Embora o sistema de drenagem seja “im-
com tarifa social. Algumas tarifas estão acima da posto” à população, é possível estimar a contribui-
tarifa média (subsidiadores) e outras abaixo (subsi- ção de cada terreno no escoamento pluvial lançado
diados). às redes. A indivisibilidade ocorre na oferta e não na
demanda. Pode-se identificar o usuário do serviço e
Definição jurídica da taxa a magnitude do uso. O mesmo não ocorre na segu-
rança pública ou na iluminação de praias. São servi-
A escolha de uma taxa como forma de re- ços voltados para uma pluralidade de pessoas, onde
muneração da drenagem urbana tem respaldo não não se consegue determinar qual seria mais direta-
apenas na esfera econômica, mas também no Direi- mente aquinhoada.
to Administrativo. Segundo Bastos (1994), os servi- A conclusão é que a remuneração por taxa
ços públicos dos serviços de drenagem, que têm caráter obrigató-
rio e divisibilidade de demanda, parece adequada
prestados sob a forma de fruição “uti universi” do ponto de vista tributário. Ressalta-se que a taxa,
são financiados pelos próprios cofres públicos, que ao contrário da tarifa, é um tributo, portanto sujeito
se abastecem fundamentalmente de impostos. Por às especificidades do Direito Tributário.
outro lado, a prestação “uti singuli” cobra-se dire-
tamente do usuário, exceto quando previsto em lei Definição metodológica da taxa
sua prestação gratuita, o que não é regra, mesmo
porque não atende ao princípio da boa política No início do artigo foi apontado que uma
tributária, que consiste em repartir tanto quanto cobrança pelos serviços que defina o preço igual ao
possível os ônus com aqueles que se beneficiem custo marginal não é viável em grande parte dos
serviços de utilidade pública, entre eles, a drenagem

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urbana de águas pluviais. Formas alternativas de o consumo é não excludente, pois se trata de bem
precificação podem ser utilizadas, seguindo objeti- público, os indivíduos, a fim de pagarem menos ou
vos de eficiência econômica ou sustentabilidade nada pela demanda do bem, ou mesmo por desco-
financeira. Algumas utilizam o custo marginal como nhecimento, nem sempre estão dispostos a revelar o
critério de cobrança, porém em uma base mais am- valor de seus benefícios. O resultado é uma arreca-
pla, com a incorporação de custos sociais, um hori- dação subotima de recursos que pode não ser sufici-
zonte temporal maior ou a viabilidade financeira do ente para financiar a provisão do serviço.
empreendimento. Outras têm a disposição marginal Nos serviços de drenagem urbana, esta op-
a pagar ou o custo médio como referência. ção poderia ser utilizada em obras locais de controle
de inundações quando os benefícios são mais bem
· Preço igual ao custo marginal social percebidos e os beneficiários estão mais sensíveis aos
danos. No caso de uma cobrança generalizada e
Esta forma de cobrança define o preço igual continuada pelos serviços clássicos de drenagem
ao custo marginal. Mas este não se restringe à mu- para fins de financiamento haveria dificuldades para
dança do custo de operação e manutenção com a sua operacionalização e implementação.
variação no número de usuários. Os custos sociais
decorrentes daquela atividade também são incorpo- · Regra Ramsey ou Regra de Preços Públicos
rados no cálculo, como problemas de drenagem,
aumento da insegurança em relação ao risco de Esta regra, que pode ser utilizada em firmas
inundações, poluição da água ou as enchentes a multiproduto ou quando é feita uma discriminação
jusante. de preços sobre serviços ou consumidores, possibili-
A adoção de uma tarifa via custo marginal ta a criação de uma estrutura de preços que leve à
apresenta restrições, pois pode implicar em perdas maximização do bem-estar social com a garantia de
financeiras para a prestadora dos serviços de drena- receita que cubra os custos.
gem (custo médio maior do que o custo marginal, Segundo a regra de Ramsey, para se alcan-
mesmo o social). Outra dificuldade é a quantifica- çar o objetivo financeiro e de eficiência, deve-se
ção, em termos monetários, da ampla gama de cus- adicionar na cobrança via custo marginal uma mar-
tos incorporados ao cálculo da tarifa. gem sobre este custo na proporção inversa da elasti-
cidade-preço da demanda dos consumidores. Logo,
· Preço igual ao benefício marginal quanto menor for a elasticidade-preço da procura
pelo serviço, maior deve ser o preço cobrado em
Esta alternativa de cobrança ocorre nos bens relação ao seu custo marginal. Matematicamente,
públicos com consumo não rival e custos marginais
bastante baixos ou nulos. A provisão do bem deve
ocorrer, pois gera benefícios marginais positivos, e ¶c j
esta envolve custos fixos que precisam ser remune- ¶x j æ 1 ö
rados. A cobrança via benefício marginal aloca o pj - = açç ÷÷ (2)
bem de acordo com o retorno econômico para cada pj ç ej ÷
è ø
usuário. O seu preço efetivamente se iguala ao seu
valor para o usuário. Em termos matemáticos, Onde,
pj = preço do bem j
pi = ∂u / ∂q (1) ∂cj / ∂xj = custo marginal na produção do bem j
α= constante de proporcionalidade que reflete a
Onde, diferença relativa entre benefícios e custos margi-
pi = preço cobrado do usuário i nais
u = utilidade do bem para o usuário i εj = elasticidade-preço da demanda pelo bem j
q = quantidade consumida do bem pelo usuário i
A somatória destes desvios com os custos
A relação ∂u / ∂q reflete a disposição mar- marginais deve cobrir integralmente os custos de
ginal a pagar pelo consumo do bem. produção do serviço.
Esta alternativa tem complicadores. Primei- A alternativa de Ramsey, com qualidades fi-
ramente é necessário conhecer os benefícios margi- nanceiras e de eficiência econômica (evita-se o so-
nais individuais, o que apresenta dificuldades. Como brelucro), pode ser ineficaz do ponto de vista social,

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pois elasticidades menores levam a tarifas maiores. Como solução alternativa define-se uma taxa
Os usuários com menor nível de renda pagariam equivalente ao custo médio de produção, priorizan-
maiores tarifas pelos serviços públicos do que os de do o financiamento do sistema com a recuperação
maior rendimento, pois, por terem menores opções dos custos associados ao mesmo. Este é o procedi-
de consumo, usualmente possuem uma demanda mento usual na cobrança dos serviços de abasteci-
menos elástica. O mesmo ocorreria com os serviços mento de água. Ao priorizar o financiamento, a
essenciais em relação aos supérfluos (Andrade, eficiência é negligenciada, pois quaisquer que sejam
1998). Lanna (2001) mostra o exemplo da elastici- os gastos, inclusive as perdas, eles são rateados entre
dade-preço da procura de água pela indústria. Ela os consumidores.
tende a ser maior do que a do usuário doméstico, O Quadro 1, em anexo, sintetiza as alterna-
basicamente pelas opções tecnológicas de suas fun- tivas de cobrança discutidas.
ções de produção que permitem uma maior variabi-
lidade na demanda de água. Por conseguinte, os A cobrança pela drenagem urbana via
preços da cobrança de abastecimento doméstico custo médio dos serviços
seriam maiores do que os do usuário industrial.
Além disso, é necessária informação detalhada sobre A definição de uma taxa sobre os serviços de
as demandas individuais dos bens e as elasticidades- drenagem associada ao custo médio torna obrigató-
preço de demanda dos serviços de drenagem urbana rio o claro conhecimento dos custos associados a sua
são de difícil quantificação. prestação. Os custos dos serviços de drenagem ur-
bana para fins de financiamento podem ser dividi-
· Custos de Longo Prazo dos principalmente em dois:

As metodologias que utilizam análises de a) Custos de capital: custo de implantação do


longo prazo pressupõem mudanças no tamanho da sistema de micro e macrodrenagem (plane-
unidade produtiva, com movimentos de retração ou jamento, projeto, construção etc). Envolve
expansão. Têm como base o custo marginal ou o grande aporte de recursos para cobri-lo. É o
custo médio de longo prazo. No primeiro caso, tra- custo inicial de prestação dos serviços,
balha-se com as variações futuras do custo por uni- quando o sistema ainda não está em opera-
dade adicional produzida. No segundo, utiliza-se ção. Pode ser considerado fixo, pois é de-
não a variação, mas o custo total por quantidade terminado a partir do dimensionamento do
produzida. sistema que se baseia na perspectiva de de-
Esta forma de cobrança apresenta vantagens manda máxima.
por sinalizar o comportamento futuro do custo e do b) Custo de manutenção do sistema: limpeza
valor econômico do bem, garantido a receita para de bocas-de-lobo e redes de ligação, vistorias
expansão dos serviços. A principal desvantagem são em estruturas de macrodrenagem (e.g.: ca-
exatamente as incertezas sobre o desempenho futu- nais, bueiros, dissipadores de energia, etc.)
ro do projeto, principalmente com o desenvolvi- e recuperação de patologias estruturais. São
mento tecnológico. custos associados ao desgaste da rede, à de-
posição de lixo e sedimentos no sistema, aos
· Preço igual ao Custo Médio problemas de projeto etc. As evidências são
de que a magnitude deste custo tem relação
No Brasil, onde praticamente inexistem in- estreita com as velocidades de escoamento e
formações precisas sobre a demanda dos serviços de com a qualidade da água transportada pela
drenagem, com análises de elasticidades e de bene- estrutura (Belo Horizonte, 2001). Obvia-
fícios marginais, e sem experiências de medição do mente, o fator tempo é um componente
consumo individual dos serviços e a sua cobrança, fundamental no planejamento da manuten-
existem muitas dificuldades na utilização metodoló- ção.
gica das alternativas marginalistas – alternativas que
contemplam primordialmente a eficiência econômi- A soma destes dois componentes do custo
ca. Por outro lado, metodologias de longo prazo só representa o custo total (CT) de prestação dos servi-
são possíveis em um horizonte de planejamento ços de drenagem urbana. O custo médio (Cme)
onde ocorrem mudanças nos fatores fixos de produ- determinado em relação ao volume de escoamento
ção, no “tamanho” do sistema de drenagem. urbano é:

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Quadro 1 - Modelos de Cálculo Tarifário

Determinação
de Tarifas Situação Vantagens Problemas
(Taxas)
Falta de interesse ou impossibi-
lidade de definir a tarifa a este
= Custo Margi- Maximização do bem–estar nível: monopólio natural; ma-
Mercado Concorrencial
nal social ximização de lucros por uma
empresa monopolista; tarifas
com funções redistributivas etc.
Aloca-se o bem de acordo
- Consumo não rival com o retorno econômico
= Benefício - Custo marginal nulo e para cada usuário. A capaci- - Omitir os verdadeiros benefí-
Marginal custo fixo positivo dade de pagamento do con- cios. Incentivo ao carona.
- Provisão monopolística sumidor é central na meto-
dologia.
- As tarifas podem ser indesejá-
Ramsey Prices. veis do ponto de vista distribu-
Discriminação de preços Maximização do bem-estar
A tarifa apro- tivo.
sobre serviços ou sobre social com garantia de recei-
xima-se do - Requer informações detalha-
consumidores. ta que cubra os custos.
custo marginal. das sobre as demandas indivi-
duais.
- Privilegia-se a sustentabilidade
- Definição de tarifa não
- Necessidade de cobrir financeira. A maximização do
abusiva que garanta a viabili-
custos (custos marginais bem-estar social não é garanti-
= Custo Médio dade financeira da firma.
pequenos e custos fixos da.
- Relativa facilidade de im-
muito elevados) - Determinação dos verdadeiros
plementação.
custos da firma.
Eficaz, principalmente
quando, com o aumento Forma dinâmica de tarifação,
da escala de produção, com a incorporação de cená- - Dificuldades para conhecer os
= Custo Margi-
os custos marginais rios futuros de planejamen- custos marginais de longo
nal de Longo
aumentarem de forma to. Possibilidade de maximi- prazo (incertezas, mudanças
Prazo
mais acelerada do que zação do bem-estar social no tecnológicas etc.).
os custos médios do longo prazo.
sistema.
Forma dinâmica de tarifação,
com a incorporação de cená-
Forma dinâmica de - Dificuldades para conhecer os
= Custo Médio rios futuros de planejamen-
tarifação, com a incor- custos de longo prazo (incerte-
de Longo to. Possibilidade de garantir
poração de cenários de zas, mudanças tecnológicas
Prazo recursos financeiros para
planejamento futuros. etc.).
expansão do sistema no
longo prazo.

Cme= CT/ ( ∑vj+vv ) (3) pelo sistema


vv = volume produzido nas áreas públicas, como vias
e praças, coberta pelo sistema
Onde:
vj = volume lançado pelo imóvel j Alternativamente, pode-se relacionar o custo
Σvj = volume produzido na área de lotes coberta com a parcela de solo impermeabilizada:

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RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 11 n.2 Abr/Jun 2006, 15-25

Alternativamente, pode-se incorporar na


Cme= CT/ ( ∑aij + aiv) (4) cobrança a área bruta da propriedade com a suposi-
ção de que a área permeável tem participação não
Onde: desprezível no volume de escoamento gerado. A
aij = área impermeabilizada do imóvel j participação de ambas as áreas, permeável e imper-
Σaij = parcela do solo impermeabilizada pelos meável, no cálculo da cobrança deve ser feita com
imóveis na área urbana coberta pelo sistema de ponderação criteriosa que reflita a contribuição de
drenagem cada uma no escoamento lançado à rede de drena-
aiv= parcela do solo impermeabilizada pelas vias gem.
na área urbana coberta pelo sistema Alguns fatores de modificação podem ser
incorporados a esta taxa básica: um plano de paga-
Neste artigo utiliza-se como expressão do mento para cobrança de residência unifamiliar, uma
custo médio a equação acima, e a partir dela é feito sobretaxa para bacias específicas que necessitem de
o rateio de custo entre os usuários do sistema. maiores investimentos, uma sobretaxa para proprie-
dades localizadas em áreas inundáveis, créditos so-
Parâmetros de Cobrança bre a taxa em propriedades que possuem sistemas
de detenção ou retenção local, fator de desenvolvi-
Debo & Reese (1995) definem algumas ba- mento e uso do solo, fator de nível do serviço etc.
ses possíveis para uma taxa básica sobre os serviços Estes fatores são usados para garantir a equidade ou
de drenagem, sempre com o objetivo de onerar para aumentar a facilidade de implementação e
segundo uma estimativa da demanda individual dos gerenciamento da cobrança.
serviços: Uma taxa que tenha como objetivo a recu-
peração dos custos associados ao investimento, se
§ área impermeável; linear, pode ser definida como:
§ área impermeável e área bruta;
§ área impermeável e porcentagem imperme-
ável; Taxa de drenagem = p x aij (5)
§ área impermeável ponderada por um fator
ligado à declividade; Onde:
§ área bruta e um fator de intensidade de de- p = custo médio do sistema por metro quadrado de
senvolvimento; área impermeável (CT / Σ aij+aiv)
§ área bruta com uso extensivo de fatores de aij = área impermeabilizada do imóvel j
modificação.
Neste caso, o custo é rateado segundo as
Como a parcela de solo impermeabilizado é demandas individuais e os proprietários de imóveis
determinante no dimensionamento dos sistemas de não arcam com o custo relacionado à área imper-
drenagem e o principal responsável pela especifici- meável das vias, que fica sob responsabilidade do
dade do escoamento urbano em relação ao escoa- setor público. A simplicidade desta taxa possibilita
mento gerado em um ambiente natural, parece que cada usuário compreenda a forma de cobrança
apropriado que a cobrança pelos serviços incida e sua base de incidência.
sobre a área impermeável da propriedade (equação Adicionalmente, pode-se utilizar a tarifação
4). Uma taxa assim concebida, além de cumprir a pelo custo do serviço. As tarifas, além de remunerar
função de recuperação dos custos associados aos os serviços, possuem uma margem que proporciona
serviços, incorpora o componente econômico da ao investidor uma taxa interna de retorno razoável:
cobrança, citado anteriormente nas funções três e
quatro das taxas. Receita – (despesas + depreciação + impos-
Em análise sobre as características e impac- tos) = s x base de capital (6)
tos de diferentes modalidades de financiamento dos
serviços de drenagem, Baptista & Nascimento Onde:
(2002) destacam as vantagens de uma taxa que inci- Receita = taxa de drenagem + impostos gerais (par-
da sobre a impermeabilização do solo: base física, ticipação do setor público no financiamento da
caráter incitativo e equidade. Mas existem proble- drenagem urbana devido à impermeabilização das
mas como a dificuldade de implementação, os im- vias)
pactos legais e políticos e a opinião pública. s = taxa de remuneração do capital investido (taxa

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Cobrança pela Drenagem Urbana de Águas Pluviais: Bases Conceituais e Princípios Microeconômicos

interna de retorno) ra a criação de uma taxa são um primeiro passo para


Base de Capital = investimentos já realizado e em a análise de alternativas de financiamento da drena-
operação (“custo histórico”) gem urbana. Já existe estudo com simulações envol-
vendo a definição da magnitude da taxa de drena-
Usualmente as tarifas que incidem sobre os gem urbana, considerando os custos de implantação
serviços de saneamento básico utilizam esta forma e manutenção do sistema clássico de drenagem em
de cobrança no Brasil. A definição das tarifas pelo uma bacia hidrográfica hipotética, e qual seu impac-
regime de custo pelo serviço está presente no Decre- to na renda familiar.
to no 82.587 de 1978, que cria normas para as tarifas
das Companhias Estaduais de Saneamento Básico,
ainda hoje em vigor em várias delas. AGRADECIMENTOS
Outra questão que envolve a remuneração
dos serviços de drenagem é a possível necessidade
de cobrança de um valor mínimo sobre os proprie- Este projeto foi apoiado pela Financiadora
tários de lotes não ocupados, uma vez que tenha de Estudos de Projetos com recursos do Fundo Se-
sido disponibilizado o sistema. Simulações com o torial CT-HIDRO (FINEP-CT-HIDRO-URBAGUA).
custo total dos serviços, formas de rateio e o impacto O segundo autor beneficiou-se de uma bolsa de
em novas urbanizações ou urbanizações existentes produtividade em pesquisa do CNPq.
são importantes na definição da taxa sobre o lote
não ocupado.
REFERÊNCIAS

CONCLUSÃO
ANDRADE, Thompson A. Tarifas das Utilities em um
Contexto de Liberalização/ Privatização. In:
Compreender as características econômicas REZENDE, Fernando; PAULA, Tomás Bruginski
dos serviços de drenagem urbana é uma forma de (coord.). Infra-Estrutura: Perspectivas de Reor-
discutir o seu valor e custo para o usuário, algo ne- ganização e Financiamento. Brasília: IPEA,
gligenciado pela suposição de que o serviço de dre-
1998.
nagem é um bem público indivisível. Mas, se na
BAPTISTA, Márcio B.; NASCIMENTO, Nilo O. Aspectos
oferta dos serviços clássicos de drenagem a indivisi-
Institucionais e de Financiamento dos Sistemas
bilidade está clara, o mesmo não ocorre na deman-
da, onde é possível estimar o volume de escoamento
de Drenagem Urbana. RBRH-Revista Brasileira
lançado na rede de drenagem oriundo de cada ter- de Recursos Hídricos, Porto Alegre, RS, v. 7,
reno. n.1, p. 29-49, jan/mar 2002.
Identificar o usuário individual e sua de- BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Administrativo.
manda pelos serviços, com a utilização da área im- São Paulo: Saraiva, 1994.
permeável de cada propriedade como parâmetro, BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Plano Diretor
possibilita uma forma mais justa de rateio dos custos de Drenagem de Belo Horizonte. Belo Horizon-
da drenagem urbana. A discriminação deste rateio te, 2001.
poderia vir sob a forma de taxa, o que não significa DAUN, Margaret C.; CLARK, David. Flood Risk and
o aumento do nível geral de tributos ou da receita Contingent Valuation Willingness to Pay Stud-
tributária. A taxa pode vir sob a forma de um acrés- ies: A Methodological Review and Applied
cimo no IPTU cobrado ou de uma redução no Analysis. Technical Report 6. Institute for Urban
mesmo conforme se impermeabilize o terreno mais Environmental Risk Management. Marquette
ou menos do que a média. Procura-se apenas sugerir University, Milwaukee, WI, August 2000.
uma alternativa de financiamento da drenagem DEBO, Thomas N.; REESE, Andrew J. Municipal Storm
urbana, com ganhos de transparência, racionalidade Water Management. Lewis Publishers: Boca
econômica e eficiência tributária. Raton, 1995.
Ao associar explicitamente custo e área im-
LANNA, Antonio Eduardo. Economia e Recursos Hídri-
permeabilizada, a taxa pode incitar ao uso racional
cos: Parte I. Universidade Federal do Rio Gran-
do solo urbano e sinalizar claramente que a urbani-
zação implica custos sociais.
de do Sul, Instituto de Pesquisas Hidráulicas,
As bases conceituais e microeconômicas pa- Programa de Pós-Graduação em Recursos Hí-

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RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos Volume 11 n.2 Abr/Jun 2006, 15-25

dricos e Saneamento Ambiental, 2001 (apostila


de curso).
VARIAN, Hal R. Microeconomia: Princípios Básicos. Rio
de Janeiro: Campus, 1997.

Charging for Urban Storm Water Drainage: Con-


ceptual Basis and Microeconomic Principles

ABSTRACT

In an environment of growing public budget


restrictions, new solutions to finance urban storm water
drainage services are discussed. As an alternative to tradi-
tional local property taxes there could be a specific charge
for drainage services via a drainage tax. This tax could
mean better allocation and socially fairer distribution of
costs. Nevertheless, the economic peculiarities of urban
drainage, as a matter of public interest and offered as a
monopoly, make it difficult to create a specific tax. Adopt-
ing a theoretical and conceptual approach, this article
discusses these peculiarities, the possibility of establishing a
drainage tax based on economic theory and the most ap-
propriate methodology for this purpose.
Keywords: storm water drainage; drainage tax; water
charges.

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