Vous êtes sur la page 1sur 105

Índice

ÍNDICE...................................................................................................................................................................1

INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................2

1. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS NO BRASIL................................................................................................4


EURYCLIDES ZERBINI...............................................................................................................................................7
2. TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS DO DOADOR AO RECEPTOR...............................................................8

3. ÓRGÃOS E TECIDOS PARA TRANSPLANTE.........................................................................................11

4. FUNÇÃO DOS ÓRGÃOS DOADOS.............................................................................................................12

5. ESTADO DE COMA E DE MORTE ENCEFÁLICA.................................................................................14

6. ERRO MÉDICO. O QUE FAZER?...............................................................................................................16


DIREITO À SAÚDE..................................................................................................................................................21
ORGANIZE-SE!.......................................................................................................................................................22
7. AUDITORIA E ERRO MÉDICO..................................................................................................................23

8. TRANSPLANTE CARDÍACO NEONATAL E INFANTIL.......................................................................25


MÉTODOS.............................................................................................................................................................26
RESULTADOS.........................................................................................................................................................30
9. SERVIÇO DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS...................39
HISTÓRICO............................................................................................................................................................39
10. TMO – SOCIEDADE BRASILEIRA DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA..............................40

11. SERVIÇOS CADASTRADOS PARA REALIZAÇÃO DE TRANSPLANTES – SUS...........................42

12. HOSPITAIS CADASTRADOS PARA REALIZAÇÃO DE TRANSPLANTES – SUS.........................43

13. TRANSPLANTES REALIZADOS – SUS...................................................................................................44

14. CENTRAIS DE TRANSPLANTES..............................................................................................................45

15. LEI N° 9.434 DE 4 DE FEVEREIRO DE 1997...........................................................................................49

16. DECRETO Nº 2.268.......................................................................................................................................59

17. COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO.......................................................................................................83

18. ANEXOS.........................................................................................................................................................90
I. NÃO-DOADOR VAI TER RG DIFERENTE...................................................................................................................90
II. VONTADE DE DOAR ÓRGÃOS CAI COM NOVA LEI.....................................................................................................92
Novo Documento..........................................................................................................................................93
III. RG DE NÃO-DOADOR COMEÇA A SER EXPEDIDO....................................................................................................94
IV. PARA IGREJA, PROJETO PREVÊ EXPROPRIAÇÃO .....................................................................................................96
Evangélicos..................................................................................................................................................96
Judaísmo......................................................................................................................................................97
V. FALTAM ESTRUTURAS MÉDICA E HOSPITALAR.........................................................................................................98
2
VI. HOMEM PODE RECEBER RIM DE PORCO............................................................................................................100
CONCLUSÃO....................................................................................................................................................101

BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................................104

ANEXO...............................................................................................................................................................105

Introdução

Remoção de órgãos, tecidos ou células de um ser vivo ou morto

seguida de sua implantação em outro da mesma espécie ou não do

doador. Podem ser transplantados pele, osso, cartilagem, veias, córneas,

pulmão, coração, fígado, pâncreas, rim, intestino, medula óssea, células

do fígado e células do pâncreas produtoras de insulina. O transplante é

indicado nos casos de falência desses órgãos, tecidos e células quando

não há a possibilidade de recuperação de suas funções com outros

recursos.

O doador do órgão pode ser um parente do receptor (doador

vivo) ou um indivíduo com morte cerebral confirmada (doador cadáver). É

sempre necessário haver compatibilidade sangüínea e imunológica entre

o doador e o receptor para evitar a rejeição do organismo ao novo órgão.

A rejeição ocorre em cerca de 90% dos transplantes e é bem controlada

em 90% a 95% dos casos com o uso de drogas. imunodepressoras.

O principal problema hoje é a desproporção entre o número de

transplantes necessários e o de doadores disponíveis. Em virtude de

melhores resultados alcançados, ampliaram-se as indicações dos

transplantes e, com elas, o número de pacientes em lista de espera. Por

outro lado, o desenvolvimento tecnológico e das medidas de segurança

contra acidentes levaram à redução do número de doadores cadáveres.


3
No Brasil estima-se que 10 mil pessoas estejam na lista de

espera por um órgão. No entanto, segundo o Censo Nacional de

Transplantes de Órgãos, foram realizados 1.462 transplantes entre

1º/1/1997 e 30/6/1997.

Para tentar reduzir a espera, foi aprovada em 1997 uma nova lei

de transplantes, que estabelece a doação presumida. Todo indivíduo com

morte cerebral será doador de órgãos a menos que em vida tenha

incluído o aviso "não doador" em sua carteira de identidade.

É preciso informar a população e esclarecê-la a respeito de todos

os tópicos sobre a doação de órgãos, as leis e os direitos de cada cidadão

que se encontre em situação por ela abrangida para que se cumpra o

perfeito espírito da lei sem danos a quem quer que seja.


4

1. Transplante de Órgãos no Brasil

A atividade de transplantes de órgãos com finalidade terapêutica

teve início no país na década de 60. Nos anos seguintes, este tipo de

tratamento não se difundiu face à baixa sobrevida dos pacientes

transplantados.

Na década de 80, com o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas,

de equipamentos de manutenção da vida dos pacientes, com a

possibilidade de determinação da compatibilidade entre doador e

receptor e dos medicamentos contra rejeição, o transplante de órgãos se

difundiu no país.

A primeira Lei brasileira para regulamentar os transplantes e a

captação de órgãos foi editada em 1992. Esta Lei não previa os critérios e

controles para distribuição de órgãos. Assim, cada centro transplantador

adotou critérios próprios para estes procedimentos e escolha dos

receptores. Isto resultou em disparidades quanto aos critérios de acesso

aos transplantes, agudizados pelas diferenças sócio-econômicas entre as

regiões, estados e municípios onde se realizava o atendimento.

Paralelamente, com a evolução tecnológica e o aumento do

acesso aos serviços de saúde, crescia o número de pacientes com

indicação de transplantes em velocidade maior que a disponibilidade de

órgãos.

A Lei n.° 9.434, sancionada em 1997, estabeleceu as condições

legais para a modificação do panorama de transplantes no país. Criou o

Sistema Nacional de Transplantes – SNT, que tem como componentes


5

principais a Coordenação Nacional, as Centrais de Captação, Notificação

e Distribuição de Órgãos – CNCDOs, regionais e estaduais e os

estabelecimentos de saúde onde são realizados os transplantes.

Está previsto um sistema articulado entre a Coordenação

Nacional, e os gestores das listas estaduais ou regionais atuando sobre as

atividades de notificação da morte encefálica, de captação de órgãos e

sua distribuição. O funcionamento deste sistema se dará por meio de

banco de dadas com atualização de informações em tempo real, e com

disponibilização para todo o pais durante 24 horas por dia.

Atualmente existem no país, 12 Centrais de Notificação, Captação

e Distribuição de órgãos para transplantes. Em curto prazo serão 16,

permitindo a cobertura de todo território nacional. São 115 os Hospitais

cadastrados pelo SUS, públicos, universitários e filantrópicos realizando

transplantes, sendo que 109 de rim, 09 de coração, 06 de fígado, 03 de

pulmão e 13 de medula óssea.

No ano de1996, foram realizados pelo SUS, 1954 transplantes,

dos quais 1501 de rim, 65 de coração, 115 de fígado, 06 de pulmão, 267

de medula óssea e 1551 de córnea.

Foram aplicados 36 milhões de reais, com procedimentos

diretamente relacionados aos transplantes (retiradas de órgãos,

transplantes e intercorrências), e 37 milhões com procedimentos de

laboratório (imunogenética, dosagem de imunossupressores) e

medicamentos contra rejeição.

No primeiro quadrimestre de 1997 foram realizados 569

transplantes, sendo 420 de rim, 15 de coração, 40 de fígado, 01 de

pulmão e 93 de medula óssea. O SUS financia cerca de 90% de todos

estes procedimentos.
6

O processo de estruturação do Sistema Nacional de Transplantes

vem sendo discutido há dois anos e está em fase final de implementação.

As novas metas estipulam o numero de 15 doações por milhão de

habitantes, a ser alcançado em 3 anos, contrapondo-se à atual taxa de 3

a 5 doações por milhões de habitantes por ano.

Para viabilizar estas metas, o Ministério da Saúde está

promovendo:

 estimulo à consolidação das Centrais de Transplantes e a

criação de novas em regiões ainda desassistidas;

 fornecimento de sistemas de computação para informatização

das atividades em rede nacional, em convênio com a Fundação do Brasil;

 treinamento de 120 captadores de órgãos e multiplicadores

deste treinamento em cooperação com o governo Espanhol;

 criação do Banco Nacional de Medula Óssea a partir da

integração dos Bancos já existentes nos Estados e da expansão das suas

atividades;

 inclusão na Tabela de Procedimentos do SUS das atividades

relacionadas à procura de doadores, captação e transplante de órgãos

doados.

Neste ano, o conjunto de ações que vêm sendo articuladas

devem ser implementadas, e iniciará uma nova fase para os transplantes

no país, com um sistema mais ágil, transparente, justo e controlado pelo

Estado.
7
Euryclides Zerbini

Cirurgião paulista (1912-1993). Entrou para a história da

medicina nacional ao realizar a primeira cirurgia de transplante de

coração humano no Brasil, em 1968.

Euryclides de Jesus Zerbini nasceu em Guaratinguetá e formou-se

pela Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de São Paulo

(USP), dedicando-se primeiro à cirurgia geral.

Aos 28 anos tornou-se professor livre-docente e especializou-se

em cirurgia torácica. Em 1942 realizou a primeira cirurgia cardíaca do país

em um garoto de 6 anos - que iria reencontrar 50 anos mais tarde em

uma festa organizada para comemorar o feito.

Dois anos mais tarde viajou para os EUA, onde trabalhou ao lado

do sul-africano Christiaan Barnard, que em 1967 foi o pioneiro em

transplantes de coração no mundo.

Em 1947 monta em São Paulo um grupo de especialistas no

Hospital das Clínicas. Seu sonho é realizado em 1975 com a construção

do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP (INCOR).

Aos 73 anos, em 1985, fez o primeiro transplante de coração em

portador da doença de Chagas.

Morreu em 1993, em São Paulo, aos 81 anos, vítima de câncer .


8

2. Transplante de Órgãos do Doador ao Receptor

O transplante de órgãos somente é indicado em casos graves,

quando o risco do paciente, em razão da falência de seu órgãos, for maior

que as riscos associados à realização do transplante.

Indicado o transplante, o paciente é inscrito na lista única

correspondente ao órgão que necessitar, e realiza os exames para

identificação do seu tipo de compatibilidade imunológica iniciando o seu

período de espera pelo doador.

A identificação do doador se dá entre os pacientes graves,

geralmente vítimas de acidentes e violência, nas quais ocorre a morte

encefálica.

Na morte encefálica, como o próprio nome indica, ocorre a perda

irreparável das células que compõem o cérebro e o tronco cerebral. É

uma condição irreversível que caracteriza-se pela ausência das funções

vitais, exceto os batimentos cardíacos que permanecem, dado o grau de

autonomia que o coração apresenta em relação ao controle pelo sistema

nervoso. No entanto, esta atividade cardíaca só não deixa de existir em

poucos minutos, se o paciente estiver sendo assistido por respirador

artificial e recebendo cuidados intensivas para que possa, sob a ação de

drogas, ter preservado a pressão sangüínea, a temperatura corporal e o

controle da produção de urina, entre outras funções. Nestas condições

consegue-se manter o coração e outros órgãos funcionando apenas por

poucos dias, uma vez que sem a atividade encefálica, mesmo as técnicas
9

mais avançadas são insuficientes para prolongar por mais tempo esse

estado de conservação artificial.

Em todos os países onde é realizado o diagnóstico de morte

encefálica, os exames com essa finalidade são realizados por equipes

médicas especializadas, em estrita observação aos protocolos adotados.

No Brasil, o protocolo que deve ser seguido para a realização do

diagnóstico de morte encefálica é o editado pelo Conselho Federal de

Medicina, que o atualizou, em função da Lei nº 9.434, de 1997, por meio

da resolução CFM nº 1.480, de 8 de agosto de 1997.

A Central de Transplante, quando é notificada sabre a ocorrência

de um caso de morte encefálica, providencia para que sejam feitos

exames na pessoa que morreu para determinar o seu perfil imunológico e

detectar se existe alguma doença que contra-indique a utilização dos

órgãos para transplante.

Existindo a possibilidade de transplante, a Central autoriza a

remoção dos órgãos e faz uma comparação entre os dados do doador

com os dados das suas listas de receptores referentes a cada tipo de

órgão disponível. A seleção dos receptores é feita segundo o tempo de

espera na lista e o grau de compatibilidade imunológica e anatômica com

o órgão disponível.

Após a remoção, o cadáver deve ser reconstituído de modo a

recuperar sua aparência anterior à intervenção.

Selecionados os receptores, a Central comunica-se com o centro

transplantador que está atendendo o paciente, que é preparado para a

cirurgia enquanto o órgão está sendo transportado até o hospital.


10

O tempo de viabilidade do órgão entre a retirada e o

transplante, varia para cada tipo, sendo que para o coração e pulmões

são 2:00 hs., fígado 4:00 hs., rim 24:00 hs. e córnea até 7 dias.
11

3. Órgãos e Tecidos para transplante


12

4. Função dos Órgãos Doados

 Coração: Para substituição completa do coração.

 Válvulas cardíacas: Para substituir válvulas defeituosas.

 Pulmões: Para substituição completa dos pulmões. Em casos

de câncer ou deficiência pulmonar.

 Rins: Para substituição completa de um dos rins.

 Fígado: Para substituição completa ou parcial do fígado. Em

casos de cirrose hepática ou outras doenças do fígado.

 Medula óssea: Para restauração das funções de glóbulos

brancos do sangue e sistema imunológico celular. Usada em pessoas com

leucemia, displasias sangüíneas e doenças do sistema imune.

 Pâncreas: Para substituição completa ou parcial do pâncreas.

Também pode ser realizado somente o transplante das ilhotas de

Langerhans que sintetizam a insulina, em caso de Diabetes graves.

 Córneas: Utilizadas em casos de cegueiras ou deficiência

visual.

 Pele: Para cirurgia reconstrutiva em casos de queimaduras

graves.

 Dura mater: Para fazer reparos nos tecidos que revestem o

cérebro e a medula espinhal.

 Ossos do ouvido interno: para restauração da audição.

 Cartilagem costal: Para cirurgia reconstrutiva.

 Crista ilíaca: Feita em vários blocos, pode ser usada para

fusão espinhal.
13

 Cabeça do fêmur: Usada para substituição (prótese) do

quadril.

 Tendão de patela: Para fazer reparos em joelhos lesados.

 PELE: Para salvar a vida de um indivíduo severamente

queimado.

 Ossos longos: Húmero, fêmur e tíbia podem servir como uma

substituição parcial ou completa para pacientes com câncer. Estes ossos

podem também serem secionamos em pequenos pedaços para

preencherem defeitos dos ossos, beneficiando então muitos receptores.

 Fascia lata: Esta tecido cobre o músculo da coxa e pode ser

usado para reparar pálpebra caída (ptose palpebral) em crianças

 Veia safena: Usada para substituir artérias coronarianas

danificadas em cirurgia de revascularização do miocárdio (pontes de

safena).
14

5. Estado de Coma e de Morte Encefálica

O transplante de órgãos somente é indicado em casos graves,

quando o risco do paciente, em razão da falência de seu órgãos, for maior

que os riscos associados à realização do transplante.

Indicado o transplante, o paciente é inscrito na lista única

correspondente ao órgão que necessitar, e realiza os exames para

identificação do seu tipo de compatibilidade imunológica iniciando o seu

período de espera pelo doador.

A identificação do doador se dá entre os pacientes graves,

geralmente vítimas de acidentes e violência, nos quais ocorre a morte

encefálica.

Na morte encefálica, como o próprio nome indica,, ocorre a perda

irreparável das células que compõem o cérebro e o tronco cerebral. É

uma condição irreversível que caracteriza-se pela ausência das funções

vitais, exceto os batimentos cardíacos que permanecem, dado o grau de

autonomia que o coração apresenta em relação ao controle pelo sistema

nervoso. No entanto, esta atividade cardíaca só não deixa de existir em

poucos minutos, se o paciente estiver sendo assistido por respirador

artificial e recebendo cuidados intensivos para que possa, sob a ação de

drogas, ter preservado a pressão sangüínea, a temperatura corporal e o

controle da produção de urina, entre outras funções. Nessas condições,

consegue-se manter o coração e outros órgãos funcionando apenas por

poucos dias, uma vez que sem a atividade encefálica, mesmo as técnicas
15

mais avançadas são insuficientes para prolongar por mais tempo esse

estado de conservação artificial.

Em todos os países onde é realizado o diagnóstico de morte

encefálica, os exames com esta finalidade são realizados por equipes

médicas especializadas, em estrita observação aos protocolos adotados.

No Brasil, o protocolo que deve ser seguido para a realização do

diagnóstico de morte encefálica é o editado pelo Conselho Federal de

Medicina, que o atualizou, em função da Lei n.° 9.434, de 1997, por meio

da resolução CFM n n.° 1.480, de 8 de agosto de 1997.

O diagnóstico de morte encefálica, além de servir para a

identificação de doadores potenciais de órgãos para transplantes,

também é empregado como critério para interrupção dos cuidados

médicos a que estiver submetido o paciente, bem como a desconexão dos

equipamentos de suporte à vida, sem que seja caracterizado ato de

imperícia médica ou prática de eutanásia, uma vez que a morte já

ocorreu.
16

6. Erro médico. O que fazer?

Ao ter a idéia de escrever sobre este assunto, tão polêmico

quanto fatal às pessoas por ele atingidas, coloquei-me a pensar no que

seria o “Erro médico”,ou como classifica-lo, pois para mim, esta frase está

ligada a outras palavras, tais como: Imperícia, Negligência e Erro. Busquei

suas origens no Dicionário e descobri:

 Imperícia: Deriva do Latim imperitia de imperitus (ignorante,

inábil, inexperiente), entende-se como falta de prática ou ausência de

conhecimento, que se mostram necessários de uma profissão ou de uma

arte qualquer;

 Negligência: Deriva do Latim – negligentia, é um descuido,

desleixo, uma falta de diligência, incúria, preguiça, com falta de

desatenção e um profundo menosprezo;

 Erro: Deriva do Latim error, de errar, (enganar-se, estar

errado, desviar-se), podemos entender, como falsa concepção acerca de

um fato, ou de uma coisa, podendo ser o falso, tomando com verdadeiro e

vice-versa.

As definições encontradas são assustadoras quando as ligamos à

Saúde, e atingem no Brasil milhares de pacientes, visto que a saúde não

se encontra em boas condições. Quando dizemos boas condições, não

queremos apenas, aqui, relacionar os recursos tecnológicos existentes no

mundo moderno e avançado de hoje, que garantem cem por cento de

segurança e eficácia, mas sim os recursos que são imprescindíveis a uma


17

estabilidade mínima e necessária na saúde para a população existente.

A situação pendente, com relação a esse fator, tem inúmeros causadores

de ordem político-econômica que variam desde a dependência econômica

à proliferação de Escolas de Medicinas pelo Pais afora; a frustração do

Médico récem-formado em relação aos baixos salários e da nossa omissão

de quando vemos alguém atingido e nada fazemos, ou nada fazíamos

anteriormente, Mas isso começa, embora timidamente, a mudar, pois a

partir do momento que começamos tomar conhecimento dos

instrumentos e Órgãos de Defesa da nossa CIDADANIA, estamos como

pacientes, começando a cobrar do médico a mesma atenção e os mesmos

direitos que se cobra do vendedor de televisão ou do corretor que oferece

um imóvel. Nessas situações, há um lado que presta serviço e que vende

um produto e um outro que paga por isso.

Estamos aprendendo com entidades que defendem os

consumidores e com movimentos sociais criados para defender os nossos

direitos. E também, as soluções rápidas que os consumidores vêm

obtendo no PROCON e em Tribunais de Pequenas Causas estimulam os

pacientes a brigar por seus direitos. A tendência é que as denúncias

aumentem ainda mais. Isto não quer dizer, porém, que, distratos e

descasos médicos estejam crescendo; o que vem aumentando é a noção

de cidadania dos pacientes. Eles sabem mais sobre seus direitos e estão

cobrando, e sobre isto tem-se consolidado o entendimento de que o

contrato entre paciente e médico é de meios, e as infringências

contratuais são, portanto, pertinentes à omissão, imprudência,

negligência ou imperícia. Faz-se indispensável estabelecer, para apuração

da responsabilidade, a relação de causa e efeito entre o dano e a falta do


18

médico, para que se possa efetivamente agir e se for necessário,

buscar-se procedimento judicial Civil e Criminal.

Engatinha-se, ainda, no Brasil na necessidade de fazer valer os

direitos do paciente; o problema começa na letra ilegível na receita do

médico, que coloca em risco a vida do docente e a carreira do profissional

de saúde que vende o remédio. Podemos citar também o direito do

paciente de saber quem o está tratando: aquela pessoa de branco é pai-

de-santo, açougueiro, pipoqueiro ou médico? Qual seu nome? Informar

isso, por meio de um simples crachá, dará mais responsabilidade ao

médico.

Outro fator a considerar é a necessidade de dar cópia do

prontuário ao paciente, a qual, ele tem direito. Não é favor ter seu

histórico médico à mão. Na negativa da cópia do Prontuário cabe Medida

Cautelar, que será concedido para assegurar a existência de um direito

Garantido em Lei, para pessoa do impetrante.

De posse destas informações poder-se-ia se evitar que outro

médico que viesse a tratar o doente fosse mal informado e induzido a

erro; o prontuário permitiria que o médico tomasse conhecimento da

doença já diagnosticada e de sua evolução. Dispensando a repetição de

exames, haveria não só economia com o dinheiro da saúde, mas,

também, maior rapidez no tratamento. E também, frente à relatividade do

consentimento do paciente ou, no caso do óbito, da insuficiência do

exame necroscópico, o prontuário médico teria papel decisivo na

apuração da prova.

É preciso considerar tanto a possível ignorância das testemunhas

frente aos procedimentos técnicos como o espírito de classe de peritos e

assistentes, portanto, a preocupação com tal documento procede pois, às


19

vezes seria esta a melhor defesa da Casse Média desde que haja

coerência nos registros feitos no prontuário.

A obtenção de tal documento, não raras vezes tem se revelado

extremamente dificultosa, mormente a possibilidade da exibição judicial e

a produção antecipada, à vista de alegações de sigilo profissional,

considerando-se os arts. 11, 107 e 108 do Código de Ética Médica.

Para minimizar esta óbice, a jurisprudência tem abraçado a tese

da inversão do ônus da prova, cabendo portanto ao médico e demais

responsáveis solidários a forma de sua obtenção.

Outra boa alternativa é buscar no histórico do tratamento clínico,

em documentos tais como atestados médicos, fragmentados da atividade

profissional que revelem a ousadia médica, imprudência ou, até mesmo,

ignorância grosseira.

Temos também que observar com muito cuidado a formalização

do contrato de serviços, que se revelam nos “termos de

responsabilidade”, nos quais o paciente ou familiar autorizam o médico e

o corpo clínico “a fazer os procedimentos que julgam necessários,

oportunos e convenientes para o tratamento”– vê-se logo, “TERMOS” de

validade duvidosa.

A análise da prova nas lides judiciais em que se discute o erro

médico, tem se tornado tão melindrosa quanto a apuração do quantum

destinado à satisfação do dano moral sofrido, e devemos AFASTAR a

hipótese de que a análise judicial em última análise demandaria em

inibição da atividade médica, devendo, portanto, “ser mais branda”: não

pode a justiça subsistir com o dano irreparado, principalmente com

aqueles que dizem respeito à vida. Por trás da falta de discussão do

assunto, há um jogo de poder, no qual o médico tenta se manter senhor


20

absoluto da situação. Mas já chegou a hora de o paciente ser mais

impaciente.

O desconhecimento de seus direitos, ceticismo em relação à ação

do CRM e sofrimento emocional, são alguns dos motivos alegados pelos

pacientes para não levar adiante reclamações contra médicos.

Temos que mudar a opinião de que não vale a pena “criar caso”

por causa da falta de informações sobre seu tratamento, é de que não

adianta reclamar ao conselho de medicina.

O que leva o paciente a este ceticismo é o fato de que houve no

ano passado 2.931 denúncias que estão sendo analisadas pelo CRM. Nos

últimos três anos, o número de queixas só vem aumentando. Passou de

1.207 em 93 para 1.473 em 94 e subiu para 1.509 no ano de 95. Do total

de denúncias que chegam ao conselho, pouco mais de 10% se

transformam em processos.

Nos últimos 11 anos, 749 médicos paulistas foram e 374

receberam algum tipo de punição. Na população de 75 mil médicos do

Estado, os condenados são exceções. O trâmite dos processos demora

entre dois e três anos. A grande maioria não se refere a erro médico, nem

a violência. São denúncias que envolvem falhas na relação médico-

paciente, má prática por conta das atuais condições de trabalho, e uso

pouco criterioso da tecnologia.

Temos que buscar uma relação responsável e de confiança entre

médico e paciente para que o médico não seja visto como Deus ou como

bandido. O Médico é um ser Humano igual a todos nós, e por isso é

essencial que o elo de confiança seja restabelecido.

E se as queixas e ações contra médicos cresceram,

especialmente nos últimos cinco anos, por conta do espaço que os


21

direitos do paciente garantam na mídia, aconselho a quem acha que

teve o seu direito desrespeitado, a procurar o PROCON, o CRM e até um

advogado, pensando em iniciar uma ação.

Para encerar ou para efetivamente começarmos a discutir o

assunto gostaríamos de apresentar o que chamamos de CARTILHA DA

CIDADANIA:

Direito à Saúde

Caso você, precise consultar um médico ou internar-se em um

hospital conveniado, saiba que:

 A saúde está garantida na Constituição como um direito de

todos, em qualquer situação: prevenção, cura ou hospitalização. É o

Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com os artigos 196 a 200 da

Constituição Federal e maioria das Constituições Estaduais;

 Portanto, o atendimento deverá ser totalmente gratuito,

nenhuma taxa deverá ser cobrada. Se isso acontecer Denuncie e procure

orientação!

 Nas Defensórias Públicas;

 Nos Conselhos Regionais de Medicina;

 Nos Conselhos Estaduais de Saúde;

 Nos Conselhos Municipais de Saúde.

Se não estiver instalado em sua cidade, remeta sua denúncia

para o Conselho Estadual, ou no interior, ao promotor de Justiça no Fórum

local.

Caso você, conheça pessoas ou se foi vítima de erro médico,

ajude-o a procurar seu direitos para, identificar o ERRO MÉDICO ou as


22

NEGLIGÊNCIAS e tudo mais que lhe possa causar danos físicos durante

o atendimento médico- hospitalar.

Organize-se!

Para fazer valer os seus direitos é necessário pressionar e

organizar-se. Caso haja necessidade de maiores esclarecimentos, ou que

você queira manifestar-se, fique a vontade para nos contactar.

Procuramos com esse artigo dar subsídios para uma discussão a

nível nacional, motivar o debate fértil, criativo e democrático, que nos

permita chegar a um consenso sobre as relações de saúde. A partir deste

consenso, cabe a cada um de nós engajarmos ativamente no esforço de

tornar a saúde do Brasileiro, livre, justa e digna para todos.


23

7. Auditoria e Erro Médico

O erro médico para o Auditor Médico não é apenas aquele que

resulta em morte e atinge as páginas de notícias e a mídia em geral. Erro

médico também existe, por exemplo, nas indicações de exames em

excesso, onde o pedido pelo médico é muito mais que o esperado para

aquela especialidade, internações mais prolongadas que o necessário,

tempo de espera maior que o aceitável, piorando o quadro geral do

paciente, enfim toda e qualquer forma de desperdício de recursos sempre

carentes e qualquer queda na qualidade da atenção à saúde.

O erro médico assim conceituado deverá sofrer um processo de

análise que permitia garantir a sua eliminação, com redução dos custos. A

Auditoria Médica é indispensável neste contexto, e tem um papel

educacional importantíssimo. Os erros administrativos encontrados

devem ser levados a uma comissão da especialidade, para que, em

conjunto, seja achada uma solução. As decisões não podem ser

corporativistas, e por isso é indispensável que haja um genericamente

que leve em conta todos os fatores envolvidos, inclusive de preços

honestos, disponíveis, disponibilidades efetivas e eliminação das causas

fundamentais pesquisadas (freqüentemente falta de treinamento, onde o

Auditor deve propiciar meios para que a educação seja ministrada).

O Auditor que comprove um erro sem solução deve levá-lo a

Comissão de Ética totalmente constituída, onde deve começar o processo,

e depois, se não houver solução, ao CRM. Desta forma a moderna

Auditoria Médica poderá um dia vir a ser uma Especialidade Médica, mais
24

que uma atividade de abnegados colegas, perplexos como todos os

brasileiros, a tudo quanto está acontecendo. O Departamento Virtual de

Auditoria Médica pretende ocupar este espaço inexistente no Brasil, mas

já bastante difundido com outros nomes nos países centrais, e marchar ao

lado das iniciativas principalmente do setor jurídico e do setor jornalístico,

na luta para encontrar uma solução do Erro Médico.


25

8. Transplante Cardíaco Neonatal e Infantil

Objetivo – Apresentar a experiência de três anos de transplante

cardíaco em crianças portadoras de cardiopatias complexas e

cardiomiopatias à terapêutica convencional, no Instituto do Coração –

HCFMUSP.

Métodos – A metodologia constituiu-se em critérios de indicação

para transplante e viabilidade do doador, manuseio pós- operário,

imunossupressão, prevenção e tratamento de potenciais complicações.

Resultados – De novembro/92 a novembro/95, 11 crianças

transplantadas com idade de 12 dias a seis anos (média 2,5 anos); 60%

do sexo masculino; peso de 3,5 17,8 (média 10,3) kg. Os doadores foram

de 21 dias a 10 anos (média 4,4 anos); 80% do sexo masculino e peso

variando de 3,8 a 20 (média 14,3) kg. A sobrevida foi de 91%, sendo que

10 crianças encontram-se em classe funcional I. O tempo de seguimento

foi de um mês a três anos (média 16 meses). As principais complicações

foram hipertensão arterial sistêmica, rejeição aguda e infecção. O número

de rejeições por paciente foi de 3,5 episódios e de infecção 4,7 episódios.

Conclusão – O transplante cardíaco constituiu-se em promissora

opção terapêutica com sobrevida de 91% a médio prazo.


26

A aplicação do transplante cardíaco na área pediátrica tem

possibilitado sobrevida e melhora da qualidade de vida em um grupo de

crianças portadoras de cardiopatias complexas e cardiomiopatias

refratárias.

O primeiro transplante cardíaco entre humanos foi realizado por

Barnard em 1967 e, no mesmo ano, relatado o 1º transplante neonatal,

quando Kantrowitz tentou, sem sucesso, o transplante em recém- nato

portador de anomalia de Ebstein. Somente com a introdução da

ciclosporina, como droga imunossupressora de base, houve novo alento,

motivando vários grupos a reiniciarem seu programas, até então

suspensos, pela dificuldade no manuseio da rejeição.

A aplicação clínica do transplante, principalmente no período

neonatal, deve-se ao pioneirismo de Bailey que, em 1994 realizou o

primeiro xenotransplante em criança portadora de síndrome de hipoplasia

de coração esquerdo (SHCE) e, um ano após, realizou o primeiro

transplante em recém-nato com a mesma cardiopatia, sendo que a

criança encontra-se bem até os dia atuais.

Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência, a médio

prazo, iniciada em 1992 com transplante em recém-natos, no INCOR.

Métodos

Entre novembro/92 a novenbro/95, 11 crianças com idades

variando entre 12 dias a seis anos (media 2,5 anos) foram submetidas a

transplante ortotópico de coração. Sete eram do sexo masculino. O peso

variou de 3,5 a 18 (média 10,3) kg.

A indicação para transplante foi motivada por cardiopatia

congênita em dois casos (SHCE e atresiapulmonar com septo íntegro e


27

circulação coronária dependente do ventrículo direito), em oito, por

cardiomiopatia dilatada e em um por cardiomiopatia restritiva.

O neonato portador de SHCE encontrava-se clinicamente em bom

estado geral, hemodinamicamente estável, em uso de prostaglandina E1.

O portador de atresia pulmonar canal dependente com sinusóides, que

comunicavam amplamente o ventrículo direito (VD) à circulação

coronária, foi submetido a cirurgia paliativa de Blalock- Taussig, com 14

dias de vida, ficando liberado para transplante e metendo-se em bom

estado geral, com cianose discreta.

As crianças portadoras de cardiomiopatia apresentava-se em

insificiência cardíaca refratária, em uso de medicação anti-congestiva. O

ecodopplercardiograma (ECO – Doppler) revelou uma fração de

encurtamento entre 10 a 14%. No estudo hemodinâmico, em condição

basal, o índice de resistência vascular pulmonar variou entre 1,2 a 4,9

unidades Woods.

Os doadores apresentaram idade variável de 21 dias a 10 anos

(media 4,4 anos), com peso de 3,8 a 30 (média 14,3) kg. As causas de

morte encefálica foram: traumatismo crânio encefálico (cinco casos);

tumores cerebrais (dois); mal convulsivo (um); anoxia neonatal (um).

Os critérios da inclusão do receptor foram: crianças na avaliação

do receptor foram necessários o conhecimento dos seguintes parâmetros:

tipagem sangüínea e dos antígenos de histocompatibilidade (HLA); painel

imunológico (PRA), hematológico (hemograma, coagulograma), sorologia

(HIV, hepatite b, c, sífilis, Chagas, toxoplasmose, citomegalovírus, Ebstein-

Barr); tomografia de crânio, eletrogardiograma (ECG), ECO- Doppler,

estudo hemodinâmico, ventriculografia radioisotópia e cintilografia com

gálio 67.
28

Quanto ao doador, uma vez apresentando tipagem sangüínea e

peso compatíveis com o receptor (tipagem sangüínea concordante com o

sistema ABO e o peso de doador até 250% superior ao do receptor),

continuou-se a investigação para confirmação e morte encefálica através

de angiografia cerebral ou eletroencefalograma.

Do ponto de vista cardiovascular, os doadores apresentam

radiografia de tórax normal, ECO- Doppler com fraçãop de encurtamento

> 25% e ausência de defeitos congênitos. Avaliou-se o doador do ponto

de vista infeccioso através de hemograma, sorologia para HIV, sífilis,

Chagas, toxoplasmose, citomegalovírus. Realizou-se o cross-match em

todos os casos (prova entre células do doador e plasma do receptor, cuja

positividade excluía a possibilidade de utilização do órgão).

A relação de peso do doador foi em média > 140% ao do

receptor. O painel imunológico do receptor virou de zero até 5%. Todos

apresentaram prova de cross- match negativa. Quanto a sorologia HIV,

hepatite b, c, Chagas, sífilis foram todas negativas, tanto nos receptores

quanto nos doadores. No manuseio perioperatório, confirmando-se a

viabilidade do doador, deixou-se o receptor em jejum, iniciando-se a

ciclosporina enquanto aguardava-se o resultado da sorologia do doador e

o do cross- match. Imediatamente antes do transplante foram

administrados solumedrol e antibiótico profilático. Todos os derivados

sangüíneos que foram utilizados no receptor foram lavados e irradiados.

No manuseio pós-operatório (PO), a monitorização hemodinâmica

consistiu na avaliação dos parâmetros: temperatura, freqüência cardíaca

(FC) e respiratória, pressão arterial sistêmica (PAS), venosa central, de

átrio esquerdo (AE) e pressão média de artéria pulmonar. As principais

drogas utilizadas foram: dubotamia, isoproterenol e nitroprussioto de


29
sódio em 100% dos casos; epinefrina e norepinefrina em 10% e,

nitroglicerina em 30%. O tempo de uso de drogas vasoativas foi de 24

dias em crianças menores que seis meses e de seis dias em crianças

maiores.

As medidas profiláticas, quanto aos processos infecciosos, foram

isolamento reverso, imunoglobulina humana e antibioticoterapia até

retirada dos drenos. O ganciclovir foi administrado quando a sorologia do

receptor era negativa e a do doador positiva para o citomegalovírus,

quanto a toxoplasmose, quendo a sorologia do receptor foi negativa e a

do doador positiva, empregou-se o esquema prolifático de pirimetamina.

A nistatina oral foi administrada após retirada do tubo endotraqueal para

profilaxia de cadidíase oral.

Do ponto de vista laboratorial, foram estudados os eletrólitos

(sólido, potássio, cálcio, magnísio), a dosagem s;erica da ciclosporina, o

hemograma, a avaliação da função renal (níveis de uréia, creatinina e

claereance de creatinina) e a função hepática. Outros exames como a

radiografia de tórax, o ECG, ecocardiograma (ECO) e a cintilografia com

gálio 67 foram realizados em intervalo variável, conforme o estado clínico

dos pacientes.

A profilaxia da rejeição consistiu na utilização imediata da

ciclosporina e azatioprina como drogas imunossupressoras básicas,

empregando-se, paralelamente, o sulomedrol e linfoglobulina de coelho. A

dose da ciclosporina foi controlada de acordo com seu nível sérico através

do método de radioimunoensaio, mantendo-se o nível entre 300 a 400

mg/ml. A dose da azatioprina variou de 1 a 3 mg/kg/dia, conforme o

número de leucócitos em nível de sangue periférico, sendo suspensa

quando o diagnóstico de rejeição aguda baseou-se no quadro clínico, ECG,


30

ECO-Doppler e cintilografia com gálio 67. A biópsia endomiocárdica foi

utilizada nos pacientes onde houve necessidade de estabelecer o

diagnóstico diferencial com processos infecciosos miocárdicos. Para o

tratamento dos quadros agudas de rejeição foi utilizada a pulsoterapia

(metilprednisolona nas doses de 125 mg de 12 em 12h., durante quatro

dias, até 10 kg de peso da criança; 250 mg de 12 em 12h. quando o peso

foi entre 10 a 20 kg e 500 mg de 12 em 12h. quando > 20 kg) e,

dependendo da gravidade do quadro, associada à linfoglobulinas.

Após a alta hospitalar, as crianças sem adequadas condições

sócio-econômicas permaneceram na Associação de Assistência à Criança

Transplantada do Coração, entidade filantrópica que proporciona

habitação, alimentação e acompanhamento psicológico e social, criada

especialmente para possibilitar o desenvolvimento do transplante ness

grupo populacional.

O acompanhamento ambulatorial foi realizado através de duas

avaliações por semana nos primeiros cinco meses, quinzenalmente nos

seis meses seguintes e, aumentando-se o intervalo das consultas para

mensais ou trimestrais, conforme a evolução de cada criança.

Resultados

Dez (91%) das crianças que foram submetidas ao transplante

cardíaco ortotópico apresentam-se clinicamente em classe funcional I

(NYHA). A mortalidade foi de 9%, isto é, houve um óbito por rejeição

aguda moderada 40 dias pós-transplante.

desenho

As principais complicações no período PO foram: hipertensão

arterial sistêmica (HAS), infecção e rejeição aguda em 100%; das

infecções, as mais freqüentes foram as bacterianas (82%), virais (11%) e


31

protozoários (7%). Entre as bacterianas, assinalam-se coma as mais

freqüentes, as pulmonares, seguidas das bacteremias primárias, tanto no

PO imediato, como no tardio.

No seguimento evolutivo, as crianças apresentaram, do ponto de

vista hematológico, série vermelha com hemoglobina entre 8, 6 a 12,9g %

(média 10,7g%) e hematócrito de 26 a 38%. Quanto à avaliação da

função renal, os níveis de uréia variaram de 25 a 91 mg/dL (média 53

mg/dL). Os níveis séricos de ciclosporina analisados pelo método

monoclonal variaram de 286 a 555 ng/mL (média 381 ng/mL).

A função hepática revelou níveis de aspartato aminotransferase

(TGO) entre 5 a 29U/L (média de 17,9U/L) e de alanina aminotransferase

(TGP) entre 6 a 29U/L (média 14,3U/L). A avaliação do ECG seriado PO

mostrou morfologia de distúrbio de condução do ramo direito em 100%

dos casos. O índice cardiotorácico avaliado pela radiografia de tórax

mostrou valores normais, variando entre 0,5 e 0,66 (media 0,58). A

função ventricular avaliada pelo ECO mostrou fração de encurtamento

entre 31 a 43 % (média 35, 5 %).

No diagnóstico de rejeição aguda, os elementos clínicos

presentes foram: alterações de humor (60%), anorexia (42%), febre

(34%), insuficiência cardíaca congestiva (23%), alterações do trato

intestinal (8%), arritmias (2,6%). A queda do somatório do complexo QRS

no ECG esteve presente em 90% dos casos. Esta queda variou de 7 a 48%

(média 24,8%). No ECO-Doppler observou-se no momento diagnóstico da

rejeição: derrame pericárdico em 21%, aparecimento de insuficiências de

valva atrioventriculares em 31,5% e aumento da medida do septo e

parede posterior do ventrículo esquerdo em 21 % dos casos. Durante a

evolução clínica pós-operatória, foram realizados 90 estudos com a


32

cintilografia com gálio 67 nas crianças transplantadas. Cinco estudos

apresentaram resultado positivo. Nestes pacientes a biopsia confirmou o

quadro de rejeição aguda. Nos pacientes que tiveram estudos de gálio 67

negativos houve correlação clínica com ausência de sinais sugestivos de

rejeição.

Os quadros de rejeição aguda foram controlados com

pulsoterapia, linfoglobulina de cavalo e de coelho em 80% dos casos. Em

um caso foi necessário o emprego de metrotrexate para que a criança

melhorasse da complicação e, no outro, a criança faleceu no 2° dia de

pulsoterapia por rejeição aguda moderada observada no estudo

histopatológico.

tabela

O transplante cardíaco tem possibilitado às crianças portadoras

de cardiopatias congênitas complexas e de cardiomiopatias dilatadas

irreversíveis à terapêutica convencional, oportunidade única de sobrevida,

que pode chegar a 85% no 1º ano pós transplante, sendo que,

controlando-se as possíveis variáveis perioperatórias, chega-se a 95%.

Cerca de 10% das cardiopatias congênitas são consideradas complexas.

Acredita-se que nos EUA por volta de 3.000 recém-natos, anualmente,

poderiam se beneficiar com o transplante, desde que os potenciais

receptores identificados obtivessem, em tempo hábil, doadores

adequados.

figura

O manuseio pré-operatório assume importância fundamental pois

a mortalidade dos receptores é de, aproximadamente, 60% no nosso


33

meio, enquanto se aguarda o transplante. Os fatores de risco descritos

incluem instabilidade hemodinâmica, acesso venoso central, suporte

ventilatório, hipertensão pulmonar.

Sabe-se que, de acordo com a cardiopatia, a criança irá se

beneficiar com determinado tipo de terapêutica pré-operatória , enquanto

se aguarda o transplante.

Os critérios de inclusão do receptor são importantes pois deles

dependerão o sucesso ou não do transplante: idade gestacional >36

semanas e peso de nascimento >2.200g, estabilidade metabólica e

hemodinâmica, ausência de quadros sépticos, neurológicos, renais e

anormalidades cromossômicas, bem como ausência de distúrbios

psiquiátricos nos responsáveis da criança. Quanto à hipertensão

pulmonar, preconiza-se índice de resistência vascular pulmonar. No

manuseio PO, preconiza-se monitorização hemodinâmica através da FC e

respiratória, da PAS, venosa central, de AE e da média de artéria

pulmonar. A pressão em artéria pulmonar e atrial direita são úteis quando

há evidências de falência ventricular direita por hipertensão pulmonar.

Nestes casos, as drogas de escolha são prostaglandina E1,

vasodilatadores sistêmicos não seletivos, como nitroprussiato de sódio

e/ou inalatório pulmonar seletivo como óxido nítrico. Em casos extremos

de falência ventricular está: indicada a oxigenação extracorpórea (ECMO),

porém, esta técnica requer anticoagulação, o que implica em aumento do

risco de sangramento. A disfunção ventricular direita por hipertensão

pulmonar ocorreu em 20% de nossos casos, com melhora após

vasodilatadores não seletivos como o nitroprussiato de sódio.

As drogas vasoativas de escolha foram cronotrópicas, como

isoproterenol em baixas doses, uma vez que o coração é denervado;


34

inotrópicas como dobutamina, dopamina, amnrinone, sendo que a

epinefrina e norepinefrina foram indicadas, somente em casos de

acentuado baixo débito. O emprego de inotrópicos foi, em geral, por

período curto de tempo, principalmente em crianças maiores que seis

meses. A epinefrina e noradrenalina foram utilizadas apenas em um caso,

pelo baixo débito em decorrência de fístulas arteriovenosas pulmonares,

após cirurgia de Blalock-Taussig, em criança portadora de atresia

pulmonar com sinusóides, submetida a este procedimento paliativo no

período neonatal. Estas fístulas observadas no PO imediato, através da

angiografia pulmonar, foram embolizadas, melhorando, assim, o baixo

débito, possibilitando a retirada lenta e progressiva das drogas

vasoativas.

O "desmame" do suporte ventilatório e retirada do tubo foram

cogitados a partir da estabilização hemodinâmica, minimizando as

infecções pulmonares e permitindo a administração por via oral de drogas

imunossupressoras, o que de fato ocorreu nestes pacientes. Esta mesma

atitude de desmame ventilatório precoce tem sido optado em outros

centros.

Do ponto de vista infeccioso, na nossa experiência, as medidas

profiláticas tomadas, como o isolamento reverso, imunoglobulina humana

e cefazoline até retirada dos drenos, não foram suficientes para evitar

uma incidência elevada de eventos infecciosos (4,5 eventos/paciente). No

entanto, esses quadros puderam ser controlados com a medicação

específica.

O ganciclovir profilático foi utilizado apenas quando o receptor

apresentava sorologia negativa para o citomegalovírus e o doador

conversão sorológica. O mesmo acontecendo com a toxoplasmose,


35

quando o receptor apresentou sorologia negativa e o doador títulos de

conversão sorológica, o esquema profilático foi com pirimetamina.

Nessa casuística o número de pacientes que necessitou de

profilaxia para CMV e toxoplasmose foi 20% e 30%, respectivamente, e os

casos que apresentaram soroconversão foram 30% e 40%. A evolução foi

satisfatória em ambos os casos. É importante salientar que tanto o

citomegalovírus como a toxoplasmose acarretam infecções graves se não

diagnosticadas e tratadas precocemente, podendo levar a criança a óbito.

Quanto aos protocolos de imunossupressão na literatura existem

diversos esquemas empregados desde monoterapia até triplos

(ciclosporina, azatioprina e corticóide. A ciclosporina constitui-se na droga

clássica principal, atuando na inibição da proliferação de linfócitos T,

sendo que o nível sérico pode ser controlado através de vários métodos,

como radioimunoensaio, ou através da fluorescência indireta. 0 método

optado foi o radioimunoensaio por dosar, preferencialmente, a

ciclosporina sérica e não os metabólitos. Na nossa experiência, tivemos

problemas com a administração oral da ciclosporina em dois casos, um

paciente necessitou de altas doses da medicação e, o outro, a

administração da ciclosporina endovenosa por via oral para atingir os

níveis séricos preconizados.

A azatioprina, a 2ª droga imunossupressora que atua bloqueando

a proliferação de linfócitos, é convertida a mercaptopurina que inibe a

síntese e utilização de precursores de RNA e DNA, podendo ser

administrada por via oral ou endovenosa. O seu principal efeito colateral e

hematológico. A profilaxia da rejeição iniciou-se no PO imediato com as

duas drogas citadas, utilizando-se paralelamente metilprednisolona e

linfoglobulina. Ha grupos que utilizam a corticoterapia como parte do


36

esquema de imunossupressão de base, por tempo indeterminado, no

entanto, ha controvérsias, principalmente, no que diz respeito ao

aumento do risco de processos infecciosos e em distúrbios de

crescimento, por fechamento precoce dos núcleos de ossificação. Nessas

crianças, a imunossupressão de base consistiu em esquema duplo:

ciclosporina e azatioprina.

As linfoglobulinas foram utilizadas na profilaxia, logo no PO

imediato quando não houve presença de efeitos colaterais, como

plaquetopenia e coagulopatia. Chinnock e Col, em estudo comparativo

entre grupo de crianças que utilizou a linfoglobulina de coelho como

profilaxia nos primeiros cinco dias e grupo controle, mostraram uma

diminuição no número de rejeições, aparecimento tardio do primeiro

episódio de rejeição aguda no grupo que recebeu a profilaxia quando

comparado com o controle. Na nossa casuística a rejeição aguda ocorreu

principalmente nos primeiros quatro meses de transplante, sendo seu

diagnóstico precoce e tratamento essenciais para a boa evolução.

Os principais sinais clínicos observados nos pacientes estudados

foram desde alterações do ritmo cardíaco de base (aumento da FC,

arritmias, bradicardia, presença de 3ª bulha) sinais de insuficiência

cardíaca e sinais inespecíficos (irritabilidade, anorexia, alteração de

humor). No ECVG notou-se queda do somatório das voltagens do QRS

>20%. No ECO-Doppler foram avaliados a função ventricular, o diâmetro

das cavidades, a medida da espessura do septo e parede posterior,

presença de insuficiência das valvas atrioventriculares e derrame

pericárdio.

A cintilografia com gálio 67 na rejeição aguda publicada em

nosso meio por Meneguetti e Col, foi realizada periodicamente no PO e


37

auxiliou em muito no diagnóstico da rejeição. A biopsia endomiocárdica,

apesar de fornecer o diagnóstico de certeza, apresenta riscos, daí ter sido

indicada apenas quando houve positividade da cintilografia com gálio, nos

casos de diagnóstico diferencial com processos infecciosos miocárdicos,

como citomegalovírus e toxoplasmose.

O tratamento da rejeição aguda dependeu do quadro

hemodinâmico da criança. A pulsoterapia isolada foi utilizada em 100%

dos casos e sua associação com linfoglobulinas foi em 28%. O controle da

rejeição foi possível em 91% dos casos, sendo que houve um óbito por

rejeição aguda moderada no 1º caso operado, apesar do tratamento com

pulsoterapia ter sido iniciado há dois dias.

A linfoglobulina de escolha quando necessário foi a de cavalo

(atgam), sendo o aumento da dose controlado através do número de

linfócitos T ao nível de sangue periférico, pela citometria de fluxo. O

emprego de linfoglobulina de coelho ocorreu, quando não houve resposta

na utilização do atgam, observada através do quadro clínico, parâmetros

eletrocardiográficos e ecocardiográficos, bem como ausência de queda

adequada do número de linfócitos em nível de sangue periférico.

A criança transplantada necessita de ser acompanhada

ambulatorialmente após a alta hospitalar, no sentido de prevenção e

tratamento de potenciais complicações. As principais complicações

descritas, ao longo da evolução, na literatura são a rejeição aguda,

processos infecciosos, HAS, coronariopatia, insuficiência renal e doença

linfoproliferativa. Nessa casuística, as principais complicações foram além

da rejeição aguda, os processos infecciosos e HAS, sendo que esta última

foi comum no PO imediato, controlada através de vasodilatadores, como

nitroprussiato de sódio, apresoline, nifedipina e captopril. Essa


38

complicação ocorreu em 100% desses casos e apresentou boa evolução

que culminou com suspensão da medicação após os primeiros três meses.

Quando aos processos infecciosos, s pulmonares foram os mais

freqüentes, tanto no PO imediato quanto no tardio, sendo que as

bacteremias primárias foram a segunda causa. Os agentes oportunistas

mais freqüentes foram citomegalovírus, toxoplasmose, tuberculose. A

coronariopatia, insuficiência renal e doença linfoproliferativa não foram

observadas nesses pacientes.

Através deste estudo, acreditamos que o transplante cardíaco

apresente resultados mediatos favoráveis, embora seja importante

salientar que um período maior de evolução clínica, obviamente, é

necessário para que se possa aceitá-lo, como mais uma opção

terapêutica, com mais segurança e melhores perspectivas.


39

9. Serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas

Histórico

Inicialmente, o serviço dedicou-se primariamente à realização de

TMO (Transplante de Medula Óssea) alogênicos entre indivíduos

aparentados e HLA- idênticos, obtendo-se enxerto através da técnica

clássica de aspiração das cristas ilíacas por agulha. Em março de 1994, foi

realizado nosso primeiro transplante alogênico de células- tronco

hematopoiéticas do sangue periférico. Neste tipo de transplante, as

células são obtidas através de leucaférece, poupando o doador do

desconforto causado pelas múltiplas punções ósseas e anestesia geral. A

técnica, até então uma inovação no cenário do TMO alogênico mundial,

teve seus resultados preliminares publicados na revista Bone Marroe

Transplantation (Bone Marrow Transplant 1995; 16: 647-653).

Atualmente, prossegue no serviço um estudo randonizado, comparando

os resultados a longo prazo de ambas as técnicas.

Outra inovação introduzida por nosso serviço foi o uso de baixas

doses de ganciclovir para a profilaxia de infecções pelo citomegalovírus

nos receptores de TMO, cujos resultados preliminares foram

apresentados, na 2ª Reunião da Sociedade Européia de Hematologia (Br.

J. Haematol 1996,93 (supp.2): p250).

Temos utilizado a reinfusão de leucócitos do doador, precedida

de quimioterapia ou não, para o tratamento de recidivas pós- TMO de

neoplasias hematológicas. Sete pacientes já receberam esse tipo de

imunoterapia.

Em junho de 1997, realizamos nosso primeiro autotransplante de

células-tronco hematopoéticas de sangue periférico, como parte do


40
protocolo de autotransplantes em Linfomas Não-Hodgkin e Doenças de

Hodgkin.

Atualizado em 27.06.97.

10. TMO – Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea

A Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO)

foi fundada em 15 de abril de 1996 e encontra-se devidamente registrada

e congrega representantes de todos os Centros de Transplante de Medula

Óssea do país.

A criação do SBTMO resultou dos anseios da comunidade

envolvida nesta vasta área de conhecimento, no sentido de organizar-se e

ter uma representatividade formal no desenvolvimento, na educação

continuada e na política de governo, no que se relaciona aos

procedimentos utilizando células progenitoras hematopoéticas, hoje

ampliada e denominada de terapia celular. Esta área abrange o uso de

medula óssea, células progenitoras de sangue periférico, seleção positiva

de células CD34, células de cordão umbilical, infusão de linfócitos,

podendo, ainda, serem de origem autóloga, alogênica aparenta e não

aparentada.

O crescimento dos conhecimentos nesta área é vertiginoso e a

sua aplicação clínica expande-se em proporção geométrica, resultando,

felizmente, em um número maior de vidas salvas.

Compreendendo a complexidade do procedimento, o impacto e

as repercussões no ambiente hospitalar, a demanda crescente e o seu


41

auto custo e as implicações financeiras que os envolve, esta Sociedade

tem o maior interesse em colaborar na solução destas questões.

Poderão associar-se à SBTMO os médicos interessados em

assuntos de transplante de medula óssea, que tenha demonstrado esse

interesse pelo prazo mínimo de 3 anos, com atividade, trabalhos e

publicações sobre esta atividade.

Poderão ser Sócios Honorários os especialistas nacionais ou

estrangeiros, que de forma relevante contribuem para o desenvolvimento

do transplante.

Poderão, ainda, ser Membros Associados aos profissionais não

médicos, interessados no assunto e que tenham demonstrado este prazo

mínimo de 3 anos, bem como as pessoas jurídicas que exerçam

atividades na área de transplante.

Havendo interesse em se tornar associado, entrar em contato

através do fone (041) 2626665, fax: (041) 2645472 ou ainda Mail para a

Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea.

A atual Diretoria Executiva da SBTMO é por:

Dr. Ricardo Pasquini – presidente

Dr. Carlos Roberto de Medeiros – vice- presidente

Dra. Vanda S. Ogasawara – tesouraria

Dr. Marco Antônio Bitencourt – secretário


42

11. Serviços Cadastrados para Realização de Transplantes – SUS

Por Estado – 1996


Regiões POPULAÇÃO % RENAL MED. ÓSSEA FÍGADO CORAÇÃO PULMÃO TOTAL GERAL

NORTE % % % % % %
AC 463.814 0,29
AP 334.595
AM 2.369.802
PA
RO
RR
TO
TOTAL

NORDESTE .
AL
BA
CE
MA
PB
PE
PI
RN
SE
TOTAL

CENTRO
OESTE
DF
GO
MT
MS
TOTAL

SUDESTE
ES
MG
RJ
SP
TOTAL

SUL
PR
RS
SC
TOTAL
TOTAL
GERAL
43

12. Hospitais Cadastrados para Realização de Transplantes – SUS

Por Natureza – 1997


TRANSPLANTES
ESTADO SUBTOTAL
PRIV. FED. FILAN. EST. MUN. UNIV.

NORTE
AC 0 0 0 0 0 0 0
AP 0 0 0 0 0 0 0
AM 1 0 0 0 0 0 1
PA 0 0 0 0 0 0 0
RO 0 0 0 0 0 0 0
RR 0 0 0 0 0 0 0
TO 0 0 0 0 0 0 0
TOTAL 1 0 0 0 0 0 1

NORDESTE
AL 1 0 1 0 0 0 2
BA 0 0 3 0 0 1 4
CE 1 0 0 0 0 2 3
MA 0 0 0 0 0 0 0
PB 1 0 0 0 0 0 1
PE 0 0 1 1 0 1 3
PI 2 0 0 0 0 1 3
RN 0 0 0 0 0 0 0
SE 1 0 1 0 0 0 2
TOTAL 6 0 6 1 0 5 18

CENTRO OESTE
DF 0 0 0 0 0 1 1
GO 0 0 1 0 0 0 1
MT 0 0 0 0 0 0 0
MS 0 0 0 0 0 1 1
TOTAL 0 0 1 0 0 2 3

SUDESTE
ES 2 0 0 0 0 1 3
MG 7 0 7 0 0 7 21
RJ 0 1 0 0 0 4 5
SP 4 0 10 1 0 11 26
TOTAL 13 1 17 1 0 23 55

SUL
PR 7 0 5 0 0 4 16
RS 4 0 7 0 0 9 20
SC 2 0 1 0 0 1 4
TOTAL 13 0 13 0 0 14 40

TOTAL GERAL 33 1 37 2 0 44 117


44

13. Transplantes Realizados – SUS

Por Estado – 1996


CENTRAIS DE
REGIÕES RENAL MEDULA FÍGADO CORAÇÃO PULMÃO
TRANSPLANTE
NORTE
AC 0 0 0 0 0 0
AP 0 0 0 0 0 0
AM 1 0 0 0 0 0
PA 0 0 0 0 0 0
RO 0 0 0 0 0 0
RR 0 0 0 0 0 0
TO 0 0 0 0 0 0
TOTAL 1 0 0 0 0 0
NORDESTE
AL 1 0 0 1 0 1
BA 4 0 0 0 0 1
CE 3 0 0 0 0 0
MA 0 0 0 0 0 0
PB 1 0 0 0 0 0
PE 3 0 0 1 0 1
PI 3 0 0 0 0 0
RN 0 0 0 0 0 0
SE 1 0 0 1 0 0
TOTAL 16 0 0 3 0 3
CENTRO OESTE
DF 1 0 0 0 0 1
GO 1 0 0 0 0 0
MT 0 0 0 0 0 0
MS 1 0 0 0 0 1
TOTAL 3 0 0 0 0 2
SUDESTE
ES 3 0 0 0 0 0
MG 21 1 1 1 0 1
RJ 4 2 0 0 0 1
SP 25 8 2 4 2 2
TOTAL 53 11 3 5 2 4
SUL
PR 16 1 1 0 0 1
RS 18 1 2 1 1 1
SC 4 0 0 0 0 1
TOTAL 38 2 3 1 1 3
TOTAL GERAL 111 13 6 9 3 12
45

14. Centrais de Transplantes

1. Alagoas

Nome: Central de Transplantes de Órgãos

Coordenador: Dr. Fernando M. da Ressurreição

Endereço Rua Goiás, nº 800 – Farol – Maceió (AL) CEP 57050.090

Telefone (082) 981.2428 351.6199 351.6210

2. Bahia

Nome: Central de Transplantes do Estado da Bahia

Coordenador: Dr. Paulo Porciuncula

Endereço Hospital Roberto Santos, Estrada do Saboeiro s/n – Cabula

Salvador (BA) CEP 41180.780

Telefax (071) 371.2418

3. Distrito Federal

Nome: RIT – rede Integrada de Transplantes

Coordenador: Sr. João Batista Teixeira Pinto

Endereço Setor Hospitalar Sul, Quadra 301 Brasília (DF) CEP 70334.000

Telefone (061) 325.5055

Fax 225.7250

4. Mato Grosso do

Sul

Nome: Central de Captação de Órgãos

Coordenador: Thaís Maria Vendas e Tânia Mara Bertto Lobo

Endereço Hospital Santa Casa – R. Eduardo Santos Pereira, nº 88 - 5º

andar – Campo Grande (MS)

Telefone (067) 721.8877 721.5151 Ramal 2104


46
Fax (067) 382.7424

5. Minas Gerais

Nome: MG Transplantes

Coordenador: Dr. Herculano Mourão Salazar

Endereço Av. Afonso Alfredo Balena, nº 400 7º andar – Centro Belo

Horizonte (MG) CEP 30130.100

Telefone (031) 273.4248 273.4425

Fax (031) 239.9260

6. Paraná

Nome: Central de Transplantes do Paraná – CET

Coordenador: Dr.a Cristina Von Glehn

Endereço Travessa João Prosdócimo, nº 145 – Alto da XV – Curitiba (PR)

CEP 80060.220

Telefone (041) 263.3322

Fax (041) 262.8267

Endereço Internet SESATRAN@CELEPAR.GOV.BR

7. Pernambuco

Nome: Central de Transplantes de Pernambuco

Coordenador: Dr.a Tereza Miranda

Endereço R. Henrique Dias s/n – Prédio Sede do IPSEP – Derby Recife

(PE)

Telefone (081) 231.3939 421.1311

Fax (081) 231.3939

8. Rio de Janeiro

Nome: Programa Rio Transplantes

Coordenador: Dr. José Cavaliere Sampaio

Endereço Hospital Pedro Ernesto – R. 28 de Setembro, nº 77 – 3º andar

Rio de Janeiro (RJ)


47
Telefone (021) 5877.6111 587.6444

Fax (021) 587.6464

9. Rio Grande do

Sul
Nome: Central de Transplantes do Estado do Rio Grande do Sul

Coordenador: Dr. Roberto Schlindwein

Endereço Avenida Bento Gonçalves, nº 3722 - Partenon Porto Alegre

(RS) CEP 90000.000

Telefone (051) 228.9474

Fax (051) 336.1568

10. Santa Catarina


Nome: TRANSCAP – Central de Captação e Transplantes de Órgãos

Humanos de Santa Catarina

Coordenador: Dr. Rogério Paulo Moritz

Endereço Hospital Celso Ramos – R. Irmã Benwarda, nº 297 – Centro –

Florianópolis (SC) CEP 88015.270

Telefone (048) 224.0566 Ramal 2299 224.1679

Fax (048) 224.0680

11. Joinville (SC)


Nome: Coordenadoria Regional de Notificação e Captação de Órgãos

e Tecidos

Coordenador: Dr.a Luciene Mônica Deboni

Endereço Rua Blumenau, nº 123 Centro – Joinville (SC) CEP

89204.250

Telefone (047) 451.3400

Fax (047) 451.3358

12. Ribeirão Preto

(SP)
Nome: SPIT – São Paulo Interior Transplantes
48
Coordenador: Dr. Agenor Spallini Ferraz

Endereço Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto/USP – Monte Alegre –

Campus Universitário – Ribeirão Preto (SP) CEP 14048.900

Telefone (016) 633.0907 633.7054

Fax (016) 633.3048

13. São Paulo


Nome: Central de Captação de Órgãos para Transplantes

Coordenador: Dr. Agenor Spallini Ferraz

Endereço Av. Dr. Arnaldo, nº 351 – 6º andar, sala 31 Cerqueira César –

São Paulo (SP) CEP 01246.901

Telefone (011) 883.3942


49

15. Lei n° 9.434 de 4 de fevereiro de 1997

Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano

para fins de transplante e tratamento e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte

Lei:

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇDES GERAIS

Art. 1° – A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do

corpo humano, em vida ou post mortem, para fins de transplante e

tratamento, é permitida na forma desta Lei.

Parágrafo único – Para os efeitos desta Lei, não estão

compreendidos entre os tecidos a que se refere este artigo o sangue, o

esperma e o óvulo.

Art. 2° – A realização de transplantes ou enxertos de tecidos,

órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser realizada por

estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-

cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão

de gestão nacional do Sistema Único de Saúde.

Parágrafo único – A realização de transplantes ou enxertos de

tecidos, órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser autorizada após


50
a realização, no doador, de todos os testes de triagem para diagnóstico

de infecção e infestação exigidos para a triagem de sangue para doação,

segundo dispõe a Lei n° 7.649, de 25 de janeiro de 1988, e regulamentos

do Poder Executivo.

CAPÍTULO II

DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, ÓRGÃOS

E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE

Art. 3º – A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do

corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser

precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por

dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante,

mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por

resolução do Conselho Federal de Medicina.

§1º – Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os

laudos dos exames referentes aos diagnósticos de morte encefálica e

cópias dos documentos de que tratam os arts. 2°, parágrafo único; 4º e

seus parágrafos; 5°, 7º, 9º, §§ 2º, 4º, 6º e 8º, e 10, quando couber, e

detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos, serão

mantidos nos arquivos das instituições referidas no art. 2° por um período

mínimo de cinco anos.

§ 2° – As instituições referidas no art. 2° enviarão anualmente um

relatório contendo os nomes dos pacientes receptores ao órgão gestor

estadual do Sistema Único da Saúde.

§ 3º – Será admitida a presença de médico de confiança da

família do falecido no ato da comprovação e atestação da morte

encefálica.
51
Art. 4° – Salvo manifestação de vontade em contrário, nos

termos desta Lei, presume-se autorizada a doação de tecidos, órgãos ou

partes do corpo humano, para finalidade de transplantes ou terapêutica

post mortem.

§ l ° – A expressão "não-doador de órgãos e tecidos" deverá ser

gravada, de forma indelével e inviolável, na Carteira de Identidade Civil e

na Carteira Nacional de Habilitação da pessoa que optar por essa

condição.

§ 2° – A gravação de que trata este artigo será obrigatória em

todo o território nacional a todos os órgãos de identificação civil e

departamentos de trânsito, decorridos trinta dias da publicação desta Lei.

§ 3° – O portador de Carteira de Identidade Civil ou de Carteira

Nacional de Habilitação emitidas até a data a que se refere o parágrafo

anterior poderá manifestar sua vontade de não doar tecidos, órgãos ou

partes do corpo após a morte, comparecendo ao órgão oficial de

identificação civil ou departamento de trânsito e procedendo à gravação

da expressão "não-doador de órgãos e tecidos".

§ 4° – A manifestação de vontade feita na Carteira de Identidade

Civil ou na Carteira Nacional de Habilitação poderá ser reformulada a

qualquer momento, registrando-se, no documento, a nova declaração de

vontade.

§ 5° – No caso de dois ou mais documentos legalmente válidos

com opções diferentes, quanto à condição de doador ou não, do morto,

prevalecerá aquele cuja emissão for mais recente.

Art. 5° – A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do

corpo de pessoa juridicamente incapaz poderá ser feita desde que


52
permitida expressamente por ambos os pais ou por seus responsáveis

legais.

Art. 6º – É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou

partes do corpo de pessoas não identificadas.

Art. 7º – VETADO

Parágrafo único – No caso de morte sem assistência médica, de

óbito em decorrência de causa mal definida ou de outras situações nas

quais houver indicação de verificação da causa médica da morte, a

remoção de tecidos, órgãos ou partes de cadáver para fins de transplante

ou terapêutica somente poderá ser realizada após a autorização do

patologista do serviço de verificação de óbito responsável pela

investigação e citada em relatório de necropsia.

Art. 8° – Após a retirada de partes do corpo, o cadáver será

condignamente recomposto e entregue aos parentes do morto ou seus

responsáveis legais para sepultamento.

CAPITULO III

DA DISPOSIÇÃO DE TECIDOS, ÓRGAOS E PARTES DO CORPO HUMANO

VIVO PARA FINS DE TRANSPLANTE OU TRATAMENTO

Art. 9° – É permitida À pessoa juridicamente capaz dispor

gratuitamente de tecidos, órgãos ou partes do próprio corpo vivo para fins

de transplante ou terapêuticos.

§ 1º – (VETADO)

§ 2º – (VETADO)
53
§ 3º – Só é permitida a doação referida neste artigo quando se

tratar de órgãos duplos, de partes de órgãos, de tecidos ou partes do

corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar

vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave

comprometimento de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause

mutilação ou deformação inaceitável, e corresponda a uma necessidade

terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa receptora.

§ 4º – O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e

diante de testemunhas, especificamente o tecido, órgão ou parte do

corpo objetivo da retirada.

§ 5º – A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos

responsáveis legais a qualquer momento antes de sua concretização.

§ 6º – O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade

imunológica comprovada, poderá fazer doação nos casos de transplante

de medula óssea, desde que haja consentimento de ambos os pais ou seu

responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco para a

sua saúde.

§ 7º – É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de

seu corpo vivo, exceto quando se tratar de doação de tecido para ser

utilizado em transplante de medula óssea e o ato não oferecer risco à sua

saúde ou ao feto.

§ 8º – O autotransplante depende apenas do consentimento do

próprio indivíduo, registrado em seu prontuário médico ou, se ele for

juridicamente incapaz, de um de seus pais ou responsáveis legais.

CAPÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES


54
Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o

consentimento expresso do receptor, após aconselhamento sobre a

excepcionalidade e os riscos do procedimento.

Parágrafo único. Nos casos em que o receptor seja juridicamente

incapaz ou cujas condições de saúde impeçam ou comprometam a

manifestação válida de sua vontade, o consentimento de que se trata

este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais.

Art. 11. É proibida a veiculação, através de qualquer meio de

comunicação social, de anúncio que configure:

a) publicidade de estabelecimentos autorizados a realizar

transplantes e enxertos, relativa a estas atividades;

b) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou

parte do corpo humano para pessoa determinada, identificada ou não,

ressalvado o disposto no parágrafo único;

c) apelo público para a arrecadação de fundos para o

financiamento de transplante ou enxerto em benefício de

particularidades.

Parágrafo único. Os órgãos de gestão nacional, regional e local do

Sistema Único de Saúde realizarão periodicamente, através de meios

adequados de comunicação social, campanhas de esclarecimento público

dos benefícios esperados a partir da vigência desta Lei e de estímulo à

doação de órgãos.

Art. 12 (VETADO)

Art. 13. É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde,

notificar, às centrais de notificação, captação e distribuição de órgãos da


55
unidade federada onde ocorre o diagnóstico de morte encefálica feito

em pacientes por eles atendidos.

CAPÍTULO V

DAS SANÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS

SEÇÃO I

DOS CRIMES

Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoas

ou cadáveres, em desacordo com as disposições desta Lei:

PENA – reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-

multa.

§ 1º – Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de

recompensa ou por outro motivo torpe:

PENA – reclusão, de três e oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-

multa.

§ 2º – Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o

oferecido:

I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta

dias;

II – perigo de vida;

III – debilidade permanente de membro, sentido ou função;

IV – aceleração de parto:

PENA – reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-

multa.

§ 3º – Se o crime é praticado em pessoa viva , e resulta para o

ofendido:

I – incapacidade permanente para o trabalho;


56
II – enfermidade incurável;

III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função;

IV – deformidade permanente;

V – aborto.

PENA – reclusão, de quatro a doze anos, e multa, de 150 a 300

dias- multa

§ 4º – Se o crime é praticado em pessoa vivas e resulta em

morte: PENA – reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-

multa.

Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo

humano:

PENA – reclusão, de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-

multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem promove,

intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com a transação.

Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos

ou partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido obtidos em

desacordo com os dispositivos desta Lei:

PENA – reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-

multa.

Art. 17. Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do

corpo humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo

com os dispositivos da Lei:

PENA – reclusão, de seis meses a dois anos, e multa, de 100 a

250 dias- multa.


57

Art. 18. Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o

disposto no art. 10 desta Lei e seu parágrafo único:

PENA – detenção, de seis meses a dois anos.

Art. 19. Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto

condigno, para sepultamento ou deixar de entregar ou retardar sua

entrega aos familiares ou interessados:

PENA – detenção, de seis meses a dois anos.

Art.20. Publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o

disposto no art. 11:

PENA – multa, de 100 a 200 dias- multa.

SEÇÃO II

DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS

Art. 21. No caso dos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16 e 17, o

estabelecimento de saúde e as equipes médico- cirúrgicas envolvidas

poderão ser desautorizadas temporária ou permanentemente pelas

autoridades competentes.

§ 1º – Se a intuição é particular, a autoridade competente poderá

multá-la em 200 360 dias- multa e, em caso de reincidência, poderá ter

suas atividades suspensas temporárias ou definitivamente, sem direito a

qualquer indenização ou compensação por investimentos realizados.

§ 2º – Se a intuição é particular, é proibida de estabelecer

contratos ou convênios com entidades públicas, bem como se beneficiar


58
de créditos oriundos de instituições governamentais ou daquelas em

que o Estado é acionista, pelo prazo de cinco anos.

Art. 22. As instituições que deixarem de manter em arquivo

relatórios dos transplantes realizados, conforme o disposto no art. 3º, §

1º, ou que não enviarem os relatórios mencionados no art. 3º, § 2º, ao

órgão de gestão estadual do Sistema Único de Saúde, estão sujeitas a

multa, de 100 a 200 dias- multa.

§ 1º – Incorre na mesma pena o estabelecimento de saúde que

deixar de fazer as notificações previstas no art. 13.

§ 2 º – Em caso de reincidência, além de multa, o órgão de gestão

estadual do Sistema Único de Saúde poderá determinar a desautorização

temporária ou permanente da intuição.

Art. 23. Sujeita-se às penas do art. 59 da Lei nº 4.117, de 27 de

agosto de 1962, a empresa de comunicação social que veicular anúncio

em desacordo com o disposto no art. 11.

CAPÍTULO IV

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 24 (VETADO)

Art. 25. Revogam-se as disposições em contrário, particularmente

a Lei nº 8.489, de 18 de novembro de 1992, e o Decreto nº 879, de 22 de

junho de 1993.
59
Brasília, 4 de fevereiro de 1997; 176º da Independência e 109º da

República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Nelson A. Jobim

Carlos César de Albuquerque

16. Decreto nº 2.268

Decreto nº 2.268, de 30 de junho de 1997. DOU 123, de 01.07.97.

Regulamenta a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que

dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano

para fins de transplantes e tratamento, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o

artigo 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº

9.434, de fevereiro de 1997,

DECRETA:

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º – A remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano

e suas aplicações em transplantes, enxertos ou outra finalidade

terapêutica, nos termos da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997,

observará o disposto neste Decreto.

Parágrafo Único – Não estão compreendidos entre os tecido a que

se refere este Decreto, o sangue, o esperma e o óvulo.


60
CAPÍTULO I
DO SISTEMA NACIONAL DE TRANSPLANTE – SNT
SEÇÃO I
DA ESTRUTURA

Art. 2º – Fica organizado o Sistema Nacional de Transplantes –

SNT, que desenvolverá o processo de captação e distribuição de tecidos,

órgãos e partes do corpo humano para finalidades terapêuticas.

Parágrafo Único – O SNT tem como âmbito de intervenção as

atividades de conhecimento de morte encefálica verificada em qualquer

ponto do território nacional e a determinação do destino dos tecidos,

órgãos e partes do corpo.

Art. 3º – Integram o SNT:

I – O Ministério da Saúde;

II – As Secretarias de Saúde dos Estados e do Distrito Federal ou

órgãos equivalentes;

III – As Secretarias de Saúde dos Municípios ou órgãos

equivalentes;

IV – Os estabelecimentos hospitalares autorizados;

V – A rede de serviços auxiliares necessários à realização de

transplantes.

SEÇÃO II

DO ÓRGÃO CENTRAL
61

Art. 4º – O Ministério da Saúde, por intermédio de unidade

própria, prevista em sua estrutura regimental, exercerá as funções de

órgão central do SNT, cabendo-lhe, especificamente:

I – Coordenar as atividades de que se trata este Decreto;

II – Expedir normas a regulamentos técnicos para disciplinar os

procedimentos estabelecidos neste Decreto e para assegurar o

funcionamento ordenado e harmônico do SNT e o controle, inclusive

social, das atividades que desenvolva;

III – Gerenciar a lista única nacional de receptores, com todas as

indicações necessárias à busca, em todo o território nacional, de tecidos,

órgãos e partes compatíveis com as suas condições orgânicas;

IV – Autorizar estabelecimentos de saúde e equipes

especializadas a promover retiradas, transplantes ou enxertos de tecidos,

órgãos e partes;

V – Avaliar o desenvolvimento do SNT, mediante análise de

relatórios recebidos dos órgãos estaduais e municipais que o entregam;

VI – Articular-se com todos os ingredientes do SNT para a

identificação e correção de falhas verificadas no seu funcionamento;

VII – Difundir informações e iniciativas bem sucedidas, no âmbito

do SNT, e promover intercâmbio com o exterior sobre atividades e

transplantes;

VIII – Credenciar centrais de notificações, captação e distribuição

de órgãos, de que trata a Seção IV deste Capítulo;

IX – Indicar, dentre os órgãos mencionados no inciso anterior,

aquele de vinculação dos estabelecimentos de saúde e das equipes

especializadas, que tenha autorizado, com sede ou exercício em Estado,


62

onde ainda não se encontre estruturado ou tenha sido cancelado ou

desativado o serviço, ressalvado o disposto no § 3º do artigo seguinte.

SEÇÃO III

DOS ÓRGÃOS ESTADUAIS

Art. 5º – As Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios ou órgãos equivalentes, para que se entreguem ao SNT,

deverão instituir, na respectiva estrutura organizacional, unidade com o

perfil e as funções indicadas na Seção seguinte.

§ 1º – Instituída e unidade referida neste artigo, a Secretaria de

Saúde, a que se vincular, solicitará ao órgão central o seu credenciamento

junto ao SNT, assumindo os encargos que lhes são próprios, após

deferimento.

§ 2º – O credenciamento será concedido por prazo indeterminado,

sujeito a cancelamento, em caso de desarticulação com o SNT.

§ 3º – O Estados poderão estabelecer mecanismos de cooperação

para o desenvolvimento em comum das atividades de que se trata este

Decreto, sob coordenação de qualquer unidade integrante do SNT.

SEÇÃO IV

DAS CENTRAIS DE NUTRIÇÃO, CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ÓRGÃOS –

CNCDOS

Art. 6º – As centrais de notificação, captação e distribuição de

órgãos – CNCDOs – serão as unidades executivas das atividades do SNT,

afetas ao Poder Público, como prevista neste Decreto.


63

Art. 7º – Incumbe às CNCDOs:

I – Coordenar as atividades de transplantes no âmbito estadual;

II – Promover a inscrição de potenciais receptores, com todas as

indicações à sua rápida localização e à verificação de compatibilidade do

receptivo organismo para o transplante ou enxerto de tecidos, órgãos e

partes disponíveis, de que necessite;

III – Classificar os receptores e agrupá-los segundo as indicações

do inciso anterior, em ordem estabelecida pela data de inscrição,

fornecendo-se-lhes o necessário comprovante;

IV – Comunicar ao órgão central do SNT as inscrições que efetuar

para a organização da lista nacional de receptores;

V – Receber notificações de morte encefálica ou outra que enseje

a retirada de tecidos, órgãos e partes para transplante, ocorrida em sua

área de atuação;

VI – Determinar o encaminhamento e providenciar o transporte

de tecidos, órgãos e partes retirados ao estabelecimento de saúde

autorizado, em que se encontrar o receptor ideal, observando o disposto

no inciso III deste artigo e em instruções ou regulamento técnicos,

expedidos na forma do artigo 28 deste Decreto;

VII – Notificar o órgão central do SNT de tecidos, órgãos e partes

não aproveitáveis entre os receptores inscritos em seus registros, para

utilização dentre os relacionados na lista nacional;

VIII – Encaminhar relatórios anuais ao órgão central do SNT sobre

o desenvolvimento das atividades de transplante em sua área de atuação;

IX – Exercer controle e fiscalização sobre as atividades de que se

trata este Decreto;

X – Aplicar penalidades administrativas por infiltração às

disposições da Lei nº 9.434, de 1997;


64

XI – Suspender, cautelamente, pelo prazo máximo de 60 dias,

estabelecimentos e equipes especializadas, antes ou no curso do

processo de apuração de infiltração que tenham cometido, se, pelos

indícios conhecidos, houver fundadas razões de continuidade de riscos de

vida ou de agravos intoleráveis à saúde das pessoas;

XII – Comunicar a aplicação de penalidade ao órgão central do

SNT, que a registrará para consulta quanto às restrições estabelecidas no

§ 2º do art. 21 da Lei nº 9.434, de 1997, e cancelamento, se for o caso, da

autorização concedida;

XIII – Acionar o Ministério Público do Estado e outras instituições

públicas, competentes para reprimir ilícitos cuja apuração não esteja

compreendida no âmbito de sua atuação.

§ 1º – O Município considerado polo de uma região administrativa

poderá instituir CNCDO, que ficará vinculada à CNCDO estadual.

§ 2º – Os receptores inscritos nas CNCDOs regionais, cujos dados

tenham sido previamente encaminhados às CNCDOs estaduais, poderão

receber tecidos, órgãos e partes retiradas no âmbito de atuação regional.

§ 3º – Às centrais regionais aplica-se o disposto nos incisos deste

artigo, salvo de infrações e a aplicação de penalidades.

§ 4º – Para o exercício da competência estabelecida no inciso X

deste artigo, a CNCDO observará o devido processo legal, assegurado ao

infrator o direito de ampla defesa, com os recursos a ela inerentes e, em

especial, as disposições da Lei nº 9.434, de 1997, e, no que forem

aplicáveis, as da Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, e do Decreto nº

77.052, de 19 de janeiro de 1976.

CAPÍTULO II
65

DA AUTORIZAÇÃO

SEÇÃO I

DAS CONDIÇÕES GERAIS E COMUNS

Art. 8º – A retirada de tecidos, órgãos e partes e o seu

transplante ou enxerto só poderão ser realizados por equipes

especializadas e em estabelecimentos de saúde, públicos ou privados,

prévia e expressamente autorizados pelo Ministério da Saúde.

§ 1º – O período de autorização poderá ser formulado para uma

ou mais atividades de que se trata este regulamento, podendo restringir-

se a tecidos, órgãos ou partes especificados.

§ 2º – A autorização será concedida, distintamente, para

estabelecimentos de saúde, equipes especializadas de retirada e de

transplante ou enxerto.

§ 3º – Os membros de equipe especializada poderão integrar a de

outra, desde que nominalmente identificados na relação de ambas, assim

como atuar em qualquer estabelecimento de saúde autorizado para os

fins deste Decreto.

§ 4º – Os estabelecimentos de saúde e as equipes especializadas

firmarão compromisso, no pedido de autorização, de que se sujeitam à

fiscalização e ao controle do Poder Público, facilitando o acesso de seus

agentes credenciados a instalações, equipamentos e prontuários,

observada, quanto a estes a necessária habitação, em face do caráter

sigiloso destes documentos, conforme for estabelecido pelo Conselho

Federal de Medicina.
66

§ 5º – A autorização terá validade pelo prazo de dois anos,

renovável por períodos iguais e sucessivos, verificada a observância dos

requisitos estabelecidos nas Seções seguintes.

§ 6º – A renovação deverá ser requerida 60 dias antes do término

de sua vigência, prorrogando-se automaticamente a autorização anterior

até a manifestação definitiva do Ministério da Saúde.

§ 7º – Os pedidos formulados depois do prazo fixado no parágrafo

precedente sujeitam-se à manifestação ali prevista, ficando sem eficácia a

autorização a partir da data de expiração de sua vigência e até a decisão

sobre o pedido de renovação.

§ 8º – Salvo motivo de força maior, devidamente justificado, a

decisão de que trata os § § 6º e 7º será tomada no prazo de até sessenta

dias, a contar do pedido de renovação, sob pena de responsabilidade

administrativa.

SEÇÃO II

DOS ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE

Art. 9º – Os estabelecimentos de saúde deverão contar com

serviços e instalações adequados à execução de retirada, transplante ou

enxerto de tecidos, órgãos ou partes, atendidas, no mínimo, as seguintes

exigências, comprovadas no requerimento de autorização:

I – Atos constitutivos, com indicação da representação da

instituição, em juízo ou fora da dele;

II – Ato de designação e posse da diretoria;


67

III – Equipes especializadas de retirada, transplante ou enxerto,

com vínculo sob qualquer modalidade contratual ou funcional, autorizadas

na forma da Seção III desde Capítulo;

IV – Disponibilidade de pessoal qualificado e em número

suficiente para desempenho de outras atividades indispensáveis à

realização de procedimentos;

V – Condições necessárias de ambientação e de infra-estrutura

operacional;

VI – Capacidade para a realização de exames e análises

laboratoriais necessários aos procedimentos de transplantes;

VII – Instrumental e equipamento indispensáveis ao

desenvolvimento da atividade a que se proponha.

§ 1º – A transferência da propriedade, a motivação da razão

social e a alteração das equipes especializadas por outros profissionais,

igualmente autorizados, na forma da Seção seguinte, quando

comunicadas no decêndio posterior à sua ocorrência, não prejudicam a

validade da autorização.

§ 2º – O estabelecimento de saúde, autorizado na forma deste

artigo, só poderá realizar transplante, se, em caráter permanente,

observar o disposto no § 1º do artigo seguinte.

SEÇÃO III

DAS EQUIPES ESPECIALIZADAS

Art. 10 – A composição das equipes especializadas será

determinada em função do procedimento, mediante integração de

profissionais autorizados na forma desta Seção.


68

§ 1º – Será exigível, no caso de transplante, a definição, em

número e habilitação, de profissionais necessários à realização do

procedimento, não podendo a equipe funcionar na falta de algum deles.

§ 2º – A autorização será concedida por equipes especializadas,

qualquer que seja sua composição, devendo o pedido, no caso do

parágrafo anterior, ser formalizado em conjunto e só será deferido se

todos satisfazerem os requisitos exigidos nesta Seção.

Art. 11 – Além da necessidade habilitação profissional, os

médicos deverão instruir o pedido de autorização com:

I – Certificado de pós-graduação, em nível, no mínimo, de

residência médica ou título de especialista reconhecido no País;

II – Certidão negativa de infração ética, passada pelo órgão de

classe em que forem inscritos.

Parágrafo Único – Eventuais condenações, anotadas do

documento a que se refere o inciso II deste artigo, não são indutoras do

indeferimento do pedido, salvo em caso de omissão ou de erro médico

que tenha resultado em morte ou lesão corporal de natureza grave.

SEÇÃO IV

DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES

Art. 12 – O Ministério da Saúde poderá estabelecer outras

exigências, que se tornem indispensáveis à prevenção de quaisquer

irregularidades nas práticas de que trata este Decreto.

Art. 13 – O pedido de autorização será apresentado às Secretarias

de Saúde do Estado ou do Distrito Federal, que o instruirão com relatório


69

conclusivo quanto à satisfação das exigências estabelecidas neste

Decreto e em normas regulamentares, no âmbito de sua área de

competência definida na Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990.

§ 1º – A Secretaria da Saúde diligenciará junto ao requerente para

a satisfação de exigências acaso não cumprida, de verificação a seu

cargo.

§ 2º – Com manifestação favorável sob os aspectos pertinentes à

sua análise, a Secretaria de Saúde remeterá o pedido ao órgão central do

SNT, para expedir a autorização, se satisfeitos todos os requisitos

estabelecidos neste Decreto e em normas complementares.

CAPÍTULO III

DA DOAÇÃO DE PARTES

SEÇÃO I

DA DISPOSIÇÃO PARA POST MORTEM

Art. 14 – A retirada de tecidos, órgãos e partes, após a morte,

poderá ser efetuada, independentemente de consentimento expresso da

família, se, em vida, o falecido a isso não tiver manifestado sua objeção.

§ 1º – A manifestação de vontade em sentido contrário à retirada

de tecidos, órgãos e partes será plenamente reconhecida se constar da

Carteira de Identidade Civil, expedida pelos órgãos de identificação da

União, dos Estados, e do Distrito Federal, e da Carteira Nacional de

Habilitação, mediante inserção, nesses documentos, da expressão “não-

doador de órgãos e tecidos”.

§ 2º – Sem prejuízo para a validade da manifestação de vontade,

como doador presumido, resultante da inexistência de anotações nos


70

documentos de pessoas falecidas, admitir-se-á a doação expressa para

retirada, após a morte, na forma prevista no Decreto nº 2.170, de 4 de

março de 1997. e na Resolução nº 828, de 18 de fevereiro de 1997,

expedida pelo Conselho Nacional de Trânsito, com a anotação “doador de

órgãos e tecidos” ou ainda, a doação de tecidos, órgãos ou partes

específicas, que serão indicados após a expressão “doador de...’.

§ 3º – Os documentos de que se trata o § 1º deste artigo venham

a ser expedidos, na vigência deste Decreto, conterão, a pedido do

interessado, as indicações previstas nos parágrafos anteriores.

§ 4º – O órgãos públicos, referidos no § 1º, deverão, incluir, nos

formulários a serem preenchidos para a expedição dos documentos ali

mencionados, espaço a ser utilizado para quem desejar, manifestar, em

qualquer sentido, a sua vontade em relação à retirada de tecidos, órgãos

e partes, após a sua morte.

§ 5º – É vedado aos funcionários dos órgãos de expedição de

documentos mencionados neste artigo, sob pena de responsabilidade

administrativa, induzir a opção do interessado, salvo a obrigatoriedade de

informá-lo de que, se não assinar qualquer delas, será considerado

doador presumido de seus órgãos para a retirada após sua morte.

§ 6º – Equiparam-se, à Carteira de Identidade Civil, para os

efeitos deste artigo, as carteiras expedidas pelos órgãos de classe,

reconhecidas, por lei, como prova de identidade.

§ 7º – O interessado poderá comparecer aos órgãos de

identificação civil e de trânsito, que procederão à gravação de sua opção

na forma dos § § 1º e 2º deste artigo, em documentos expedidos antes da

vigência deste Decreto.


71

§ 8º – A manifestação de vontade poderá ser alterada, a

qualquer tempo, mediante renovação dos documentos.

SEÇÃO II

DA DISPOSIÇÃO DO CORPO VIVO

Art. 15 – Qualquer pessoa capaz, nos termos da lei civil, pode

dispor de tecidos, órgãos e partes de seu corpo para serem retirados, em

vida, para fins de transplante ou terapêuticos.

§ 1º – Só é permitida a doação retirada neste artigo, quando se

tratar de órgãos duplos ou partes de órgãos, tecidos ou partes, cuja

retirada não cause ao doador comprometimento de suas funções vitais e

aptidões físicas ou mentais e nem lhe provoque deformações.

§ 2º – A retirada nas condições deste artigo, só será permitida, se

corresponder a uma necessidade terapêutica, comprovadamente

indispensável e inadiável, da pessoa receptora.

§ 3º – Exigir-se-á ainda, para a retirada de rins, a comprovação

de, pelo menos, quatro compatibilidades em relação aos antígenos

leucocitáriso humanos (HLA), salvo entre cônjuges e consangüíneos, na

linha reta ou colateral até o terceiro grau inclusive.

§ 4º – O doador especificará, em documento escrito, firmando

também por duas testemunhas, qual tecido, órgão ou parte do seu corpo

está doando para transplante ou enxerto em pessoa que identificará,

todos devidamente qualificados, inclusive quanto à indicação de

endereço.

§ 5º – O documento de que trata o parágrafo, em duas vias, uma

das quais será destinada ao órgão do Ministério Público em atuação no


72

lugar de domicílio do doador, como protocolo de recebimento na outra,

como condição para concretizar a doação.

§ 6º – Excetua-se do disposto nos § § 2º, 4º e 5º a doação de

medula óssea.

§ 7º – A doação poderá ser revogada pelo doador a qualquer

momento, antes de indicado o procedimento de retirada da do tecido,

órgão ou parte por ele especificado.

§ 8º –A extração de parte da medula óssea de outra pessoa

juridicamente incapaz poderá ser autorizada juridicamente, com o

consentimento de ambos, os pais ou responsáveis legais, se o ato não

oferecer risco para a sua saúde

§ 9º – A gestante não poderá doar tecidos, órgãos ou partes de

seu corpo, salvo da medula óssea, desde que não haja risco para a sua

saúde e a do feto.

CAPÍTULO IV

DA RETIRADA DE PARTES

SEÇÃO I

DA COMPROVAÇÃO DA MORTE

Art. 16 – A retirada de tecidos, órgãos ou partes poderá ser

efetuada no corpo de pessoas com morte encefálica.

§ 1º – O diagnóstico de morte encefálica será confirmado,

segundo os critérios clínicos e tecnológicos definidos em Resolução do

Conselho Federal de Medicina, por dois médicos, no mínimo, um dos quais

com título de especialidade em neurologia, reconhecido no País.


73

§ 2º – São dispensáveis os procedimentos previstos no

parágrafo anterior, quando a morte encefálica decorrer de parada

cardíaca irreversível, comprovada por resultado incontestável de exame

eletrocardiográfico.

§ 3º – Não podem participar do processo de verificação de morte

encefálica médicos integrantes das equipes especializadas autorizadas,

na forma deste Decreto, a proceder a retirada, transplante ou enxerto de

tecidos, órgãos e partes.

§ 4º – Os familiares, que estiveram em companhia do falecido ou

que tenham oferecido meios de contato, serão obrigatoriamente

informados do início do procedimento para a verificação da morte

encefálica.

§ 5º – Será admitida a presença do médico de confiança da

família do falecido no ato de comprovação e atestação da morte

encefálica, se a demora de seu comparecimento não tornar, pelo decurso

do tempo, inviável a retirada, mencionando-se essa circunstância no

respectivo relatório.

§ 6º – A família carente de recursos financeiros poderá pedir que

o diagnóstico de morte encefálica seja acompanhado de médico indicado

pela direção local do SUS, observado o disposto no parágrafo anterior.

Art. 17 – Antes da realização da necropsia, obrigatória por lei, a

retirada de tecidos, órgãos ou partes poderá ser efetuada se estes não

tiverem relação com a causa mortis, circunstância a ser mencionada no

respectivo relatório, com cópia que acompanhará o corpo à instituição

responsável pelo procedimento médico- legal.


74

Parágrafo Único – Excetuam-se do disposto neste artigo aos

casos de morte ocorrida sem assistência médica ou em decorrência da

causa mal definida ou que necessite de ser esclarecida diante de suspeita

de crime, quando a retirada, observadas as demais condições

especializadas neste Decreto, dependerá de autorização expressa do

médico patologista ou legista.

SEÇÃO II

DO PROCEDIMENTO DE RETIRADA

Art. 18 – Todos os estabelecimentos de saúde deverão comunicar

à CNCDO do respectivo Estado, em caráter de urgência, a verificação em

suas dependências de morte encefálica.

Parágrafo Único – Se o estabelecimento de saúde não dispuser de

condições para a comprovação da morte encefálica ou para a retirada de

tecidos, órgãos ou partes, segundo as exigências deste Decreto, a CNCDO

acionará os profissionais habilitados que se encontrarem mais próximos

para efetuarem ambos os procedimentos, observando o disposto no § 3º

do art. 16 deste Decreto.

Art. 19 – Não se efetuará a retirada, se não for possível a

identificação do falecido por qualquer dos documentos previstos nos §§ 1º

e 6º do artigo 14 deste Decreto.

§ 1º – Se dos documentos do falecido constarem opções

diferentes, será considerado válido, para interpretação de sua vontade, o

de expedição mais recente.


75

§ 2º – Não supre as exigências deste artigo o simples

reconhecimento de familiares, se nenhum dos documentos de

identificação do falecido for encontrado.

§ 3º – Qualquer rasura ou vestígios de adulteração dos

documentos, em relação aos dados previstos nos § § 1º e 6º do art. 14,

constituem impedimento para a retirada de tecidos, órgãos e partes,

salvo se, no mínimo, dois consangüíneos do falecimento, seja na linha

reta ou colateral até o segundo inclusive, conhecendo a sua vontade,

quiserem autorizá-la.

§ 4º – A retirada de tecidos, órgãos ou partes do cadáver de

pessoas incapazes dependerá de autorização expressa de ambos os pais,

se vivos, ou de que lhes detinha, ao tempo da morte, o pátrio poder, a

guarda judicial, a tutela ou curatela.

Art. 20 – A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo vivo,

será precedida da comprovação de comunicação ao Ministério Público e

da verificação das condições de saúde do doador para melhor avaliação

de suas conseqüências e comprovação após o ato cirúrgico.

Parágrafo Único – O doador será prévia e obrigatoriamente

informado sobre as conseqüências e riscos possíveis da retirada, de

tecidos, órgãos ou partes de seu corpo, para doação, em documento

lavrado na ocasião, lido em sua presença a acrescido de outros

esclarecimentos que pedir e, assim, oferecido à sua leitura e assinatura e

de duas testemunhas, presentes ao ato.

SEÇÃO III

DA RECOMPOSIÇÃO DO CADÁVER
76

Art. 21 – Efetuada a retirada, o cadáver será condignamente

recomposto, de modo a recuperar, tanto quanto possível, sua aparência

anterior, com cobertura das regiões com ausência de pele e enchimento,

com o material adequado, das cavidades resultantes da ablação.

CAPÍTULO V

DO TRANSPLANTE OU ENXERTO

SEÇÃO I

DO CONSENTIMENTO DO RECEPTOR

Art. 22 – O transplante ou enxerto só se fará com o

consentimento expresso do receptor, após devidamente aconselhado

sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento.

§ 1º – Se o receptor for juridicamente incapaz ou estiver privado

dos meios de comunicação oral ou escrita ou, ainda, não souber ler ou

escrever, o consentimento para a realização do transplante será dado por

um de seus pais ou responsáveis legais, na ausência dos quais, a decisão

caberá ao médico assistente, se não for possível, por outro modo, mantê-

lo vivo.

§ 2º – A autorização será aposta em documento, que conterá as

informações sobre o procedimento e as perspectivas de êxito ou

insucesso, transmitidas ao receptor, ou, se for o caso, às pessoas

indicadas no parágrafo anterior.

§ 3º – Os riscos considerados aceitáveis pela equipe de

transplante ou enxerto, em razão dos testes aplicados na forma do art.

24, serão informados ao receptor que poderá assumi-los, mediante


77

expressa concordância, aposta no documento previsto no parágrafo

anterior, com indicação das seqüelas previsíveis.

SEÇÃO II

DO PROCEDIMENTO DO TRANSPLANTE

Art. 23 – Os transplantes somente poderão ser realizados em

pacientes com doenças progressiva ou incapacitante, irreversível por

outras técnicas terapêuticas, cuja classificação, com esse prognóstico,

será lançada no documento previsto no § 2º do artigo anterior.

Art. 24 – A realização de transplante ou enxerto de tecidos,

órgãos ou partes do corpo humano só será autorizada após a realização,

no doador, de todos os testes para diagnóstico de infecções,

principalmente em relação ao sangue, observando-se, quanto a este,

inclusive os exigidos na tiragem para doação, segundo dispõem a Lei nº

7.649, de 25 de janeiro de 1988, e regulamento do Poder Executivo.

§ 1º – As equipes de transplantes ou enxertos só poderão realizá-

los se os exames previstos neste artigo apresentarem resultados que

afastem qualquer prognóstico de doença incurável ou letal para o

receptor.

§ 2º – Não serão transplantados tecidos, órgãos e partes de

portadores de doenças que constem de listas de exclusão expedidas pelo

órgão central do SNT.

§ 3º – O transplante dependerá, ainda, dos exames necessários à

verificação de compatibilidade sangüínea e histocompatibilidade com o

organismo de receptor inscrito, em lista de espera, nas CNCDOs.


78

§ 4º – A CNCDO, em face das informações que lhe serão

passadas pela equipe de retirada, indicará a destinação dos tecidos,

órgãos e partes removidos, em estrita observância à ordem de receptores

inscritos, com compatibilidade para recebê-los.

§ 5º – A ordem de inscrição, prevista no parágrafo anterior,

poderá deixar de ser observada, se, em razão da distância e das

condições de transporte, o tempo estimulado de deslocamento do

receptor selecionado tornar inviável o transplante de tecidos, órgãos ou

partes retirados ou se deles necessitar quem se encontre em iminência de

óbito, segundo avaliação da CNCDO, observados os critérios estabelecidos

pelo órgão central do SNT.

SEÇÃO III

DOS PRONTUÁRIOS

Art. 25 – Além das informações usuais e sem prejuízo do disposto

no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.434, 1997, os prontuários conterão:

I – No do doador morto, os laudos dos exames utilizados para a

comprovação da morte encefálica e para a verificação da viabilidade, nas

finalidades previstas neste Decreto, dos tecidos, órgãos ou partes que lhe

tenham sido retirados e, assim, relacionados, bem como o original ou

cópia autenticada dos documentos utilizados para a sua identificação;

II – No doador vivo, o resultado dos exames realizados para

avaliar as possibilidades de retirada e transplante dos tecidos, órgãos ou

partes doados, assim como a comunicação, ao Ministério Público, da

doação efetuada de acordo com o disposto nos §§ 4º e 5º do art. 15 deste

Decreto;
79

III – No do receptor, a prova de seu consentimento, na forma do

art. 22, cópia dos laudos dos exames previstos nos incisos anteriores,

conforme o caso e, bem assim, os realizados para o estabelecimento da

compatibilidade entre seu organismo e o do doador.

Art. 26 – Os prontuários, com os dados especificados no artigo

anterior, serão mantidos pelo prazo de cinco anos nas instituições onde

foram realizados os procedimentos que registram.

Parágrafo Único – Vencido o prazo previsto neste artigo, os

prontuários poderão ser confiados à responsabilidade da CNCDO do

Estado de sede da responsabilidade pelo responsável pelo procedimento

a que se refiram, devendo, de que qualquer modo, permanecer

disponíveis pelo prazo de 20 anos, para eventual investigação criminal.

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 27 – Aplica-se o disposto no § 3º do art. 19, à retirada de

tecidos, órgãos e partes de pessoas falecidas, até seis meses após a

publicação deste Decreto, cujos documentos também tenham sido

expedidos em data anterior à sua vigência.

Art. 28 – É o Ministério da Saúde autorizado a expedir instruções

e regulamentos necessários à aplicação deste Decreto.

Art. 29 – Enquanto não for estabelecida a estrutura regimental do

Ministério da Saúde, a sua Secretaria de Assistência à Saúde exercerá as

funções de órgão central do SNT.


80

Art. 30 – A partir da vigência deste Decreto, tecidos, órgãos ou

partes não poderão ser transplantados em receptor não indicado pelas

CNCDOs.

Parágrafo Único – Até a criação das CNCDOs, as competências

que lhes são cometidas por este Decreto, poderão pelo prazo máximo de

um ano, ser exercidas pela Secretaria de Saúde dos Estados e do Distrito

Federal.

Art. 31 – Não se admitirá inscrição de receptor de tecidos, órgãos

e partes em mais de uma CNCDO.

§ 1º – Verificada a duplicidade de inscrição, o órgão central do

SNT notificará o receptor para fazer a sua opção por uma delas, no prazo

de quinze dias, vencido o qual, sem resposta, excluirá da lista a mais

recente e comunicará o fato à CNCDO, onde ocorreu a inscrição, para

igual providência.

§ 2º – A inscrição determinada CNCDO não impedirá que o

receptor se submeta a transplante ou enxerto em qualquer

estabelecimento de saúde autorizado, se, pela lista sob controle do órgão

central do SNT, for o mais indicado para receber tecidos, órgãos ou partes

retirados e não aproveitados, de qualquer providência.

Art. 32 – Ficam convalidadas as inscrições de receptores

efetuadas por CNCDOs ou órgãos equivalentes, que venham funcionando

em Estados da Federação, se atualizadas pela ordem crescente das

respectivas datas e comunidades ao órgão central do SNT.

Art. 33 – Caberá aos estabelecimentos da saúde e às equipes

especializadas autorizados a execução de todos os procedimentos


81
médicos previstos neste Decreto, que serão remunerados segundo os

respectivos valores fixados em tabela aprovada pelo Ministério da Saúde.

Parágrafo Único – Os procedimentos de diagnóstico de morte

encefálica, de manutenção homeostática do doador e da retirada de

tecidos, órgãos ou partes, realizados por estabelecimento hospitalar

privado, poderão, conjunta ou separadamente, ser custeados na forma do

caput, independentemente de contrato ou convênio, mediante declaração

do receptor, ou, no caso de óbito, por sua família, na presença de

funcionários da CNCDO, de que tais serviços não lhe forem cobrados.

Art. 34 – Este Decreto entrará em vigor na data de sua

publicação.

Art. 35 – Fica revogado o Decreto nº 879, de 22 de junho de

1993.

Brasília, 30 de junho de 1997; 176º da Independência e 109º da

República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Carlos César de Albuquerque

“Não adianta haver doadores se não há locais para o transplante dos

órgãos.”

Médico Elias David-Neto


82

“É preciso uma lei mais ágil, que propicie a realização de um maior

número de transplantes.”

Senador Lúcio Alcântara

“O destino desses órgãos que não são doados é sempre a putrefação.

Eles não salvam vidas.”

Médico Silvano Rais, ex-Secretário da Saúde (SP)


83

17. Comentários à Constituição

Artigo 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

INICIATIVA PRIVADA E ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Não ocorre no País a socialização da medicina em seu conjunto. O

sistema único de saúde, embora gerido pelas várias esferas

governamentais, também contra à participação da livre iniciativa privada,

sabendo-se, sobretudo, que no País os serviços previdenciários de saúde

deixam muito a desejar.

§ 1º – As instituições privadas poderão participar de forma

complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes deste,

mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferências as

entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

CONTRATO DE DIREITO PÚBLICO OU CONVÊNIO ENTRE O PODER

PÚBLICO E AS INSTITUIÇÕES PRIVADAS NA PARTICIPAÇÃO DO SISTEMA

ÚNICO DE SAÚDE.

A iniciativa privada pode participar de forma complementar do

sistema único de saúde, porém seguindo as suas diretrizes. Um

instrumento adequado é o contrato de direito público ou convênio. As

entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos têm preferência.

§ 2º – É vedada a destinação de recursos públicos para auxílio ou

subvenções às instituições privadas com fins lucrativos.


84

PROIBIÇÃO DE AUXÍLIOS OU SUBVENÇÕES ÀS INSTITUIÇÕES PRIVADAS

COM FINS LUCRATICOS

Ficaram vedados os recursos para investimento em instituições

privadas de saúde com fins lucrativos. O governo, contudo, pode alugar

leitos ou internar doentes nas ditas instituições, desde que pague os seus

custos.

§ 3º – É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou

capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo os casos

previstos em lei.

PROIBIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS OU

CAPITAIS ESTRANGEIROS NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE

Ficou proibida a participação direta ou indireta de empresas ou

capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, exceto nos casos

previstos na lei ordinária. Lei ordinária a ser editada deve também

verificar a remessa dos lucros de laboratórios estrangeiros.

§ 4º – A lei disporá sobre as condições e os requisitos que

facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins

de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta,

processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado

todo tipo de comercialização.

TRANSPLANTE

Só ultimamente desenvolveu-se a técnica médica de transplante

de órgãos de pessoas vivas ou mortas para efeito de uma cura em outras


85

pessoas. Os transplantes não são em questão médica, mas dele advém

implicações sociais, éticas, psicológicas e jurídicas.

O direito brasileiro carecia de normalidade sobre a questão dos

transplantes, especialmente em face dos progressos da ciência médica

estrangeira.

No começo eram efetivados transplantes de vivo a vivo, pedaços

de ossos, da pele, e excepcionalmente de órgãos duplos, como rins. No

que dizia respeito aos cadáveres, apenas se retiravam ossos, artérias,

córneas, sem obrigatoriedade feita de imediato após o falecimento.

Em 1967 no mês de dezembro, foi feita a primeira operação de

transplante de coração de uma pessoa recente falecida a uma outra

pessoa viva. Depois disso, muitos ocorreram, a maioria com resultados

fatais ou prazos de sobrevivência incertos.

Surgiu daí a necessidade de o direito regular a matéria, o que foi

feito sistematicamente no Brasil pela Lei Federal nº 5.479, de 10.08.68

buscando incluir na sua disciplina não apenas transplantes de tecidos de

órgãos do cadáver, como ainda de quaisquer órgãos humanos.

Esta lei preocupou-se, sobretudo em um de seus artigos, o art. 2º

e seus parágrafos, em determinar métodos técnicas para verificar quando

a sua pessoa está realmente morta, exigindo sobretudo como

comprovação do falecimento a ausência, por mais de cinco minutos, dos

batimentos cardíacos.

A legislação também estabeleceu muitas cautelas sobre a

retirada de órgãos do corpo humano post mortem, a saber:

a) A exigência da prova incontestável do fato da morte;

b) O reconhecimento da capacidade decisória aos parentes do

defunto;
86

c) A proibição do transplante se o paciente-receptor tiver

condições de melhora por cirurgia ou tratamento médico;

d) A proibição da extração de partes do cadáver, por força de lei

à necrópsia ou à verificação do diagnóstico causa mortis, sem

autorização de médico legista;

e) A proibição do transplante quando houver suspeita de o

disponente ser vítima de um crime.

II

A prova da Morte

A extração de parte do corpo humano só pode ser efetivada após

a comprovação cabal da morte (Lei nº 5.479/68, art. 2º).

A preocupação da lei é como dados acertados da morte, sobre o

que a lei tem havido bastante controvérsia e também porque na extração

de órgãos para transplante o aproveitamento do material está

condicionado a um fator tempo, um time-factor, tempo em que alguns

casos se torna bastante curto se não houver um extirpação quase

simultânea com a morte.

Os três parágrafos vetados no art. 2º da Lei nº 5.479 trouxeram

complicações para soluções do assunto. Os aludidos parágrafos vetados

exigiam para a comprovação da morte a “ausência de batimentos

cardíacos por mais de cinco minutos”, bem como o atestado de óbito

firmado por uma equipe de três médicos que não fosse a equipe

autorizada para fazer a operação de retirada e enxerto.

Há ainda determinados casos previstos pela legislação de todo o

mundo. Inclusive em nosso CPP, prescrevendo, em seu art. 162, que “a

autópsia será feia pelo menos seis horas depois do óbito”.


87

Surge então o dilema: deve-se utilizar a ausência de batimentos

cardíacos por mais de cinco minutos para o transplante de determinadas

vísceras. Que é tido com prazo bastante longo? Ou ainda a segunda ponta

do dilema: Para saber se um prazo inferior, a cinco minutos pode

comprovar a morte de todo incontestável.

É o caso do coração, pois a fibra cardíaca tem de estar viva para

a possibilidade do transplante; do contrário este será inútil.

Atualmente a ciência médica e a doutrina biológica procuram

verificar um critério de comprovação cabal da morte, qual seja, a morte

cerebral, explica Munir Karam: “Tal essencial função vital reside no

sistema nervoso central, donde a equação: morte do homem = a morte

cerebral “. O aludio escritor adverte porém que o critério da morte

cerebral não tem recebido consenso unânime.

III

Transplante de órgãos de pessoas vivas

A lei de transplante, em seu art. 10, permite que a pessoa possa

dispor de órgãos e partes do seu próprio corpo vivo, tanto para fins

humanistas como terapêuticos.

Ela exige, ao permitir a extração, o seguinte: a autorização do

disponente especificando o tecido, órgãos ou parte objeto da retirada (art.

10, § 1º que se trate de órgãos duplos ou tecidos, vísceras ou partes, que

não se provoque prejuízo ou mutilação grave para o disponente; que haja

necessidade terapêutica tida como indispensável para o paciente receptor

(art. 10, § 2º).


88

IV

Direito de dispor do futuro cadáver

O cadáver é corpo sem vida, especialmente o ente nacional, o

homem. Geralmente dá-se aos cadáveres uma destinação específica:

imunação simples. imunação após embalsamamento, imunação após

necrópsia, ossários, cremação, enterro, havendo por toda parte o culto

dos mortos.

Atualmente se reconhece ao homem o direito de dispor de seu

futuro cadáver, é o direito ao cadáver. Entretanto, durante larga porção

de tempo, em épocas anteriores, dele não se podia dispor.

Na idade presente é permitida a utilização pacífica do corpo

humano, como salienta Nelson Hungria desde que seja para fim lícito e

não imoral, tal como para a preservação da vida e da saúde de terceira

pessoa, para fins didáticos ou científicos.

A lei permite a disposição gratuita de parte do corpo. O ato de

dispor e gratuito, porque o cadáver não é coisa que se possa ser objeto de

comércio.

Preceitua o art. 1º da Lei nº 5.479:

a) A disposição gratuita de uma ou várias partes do corpo post

mortem para fins terapêuticos é permitida na forma da lei”.

O paciente receptor deve atender a uma necessidade

terapêutica; assim o futuro cadáver não pode ser disposto para ser

aproveitado em experiência industriais ou químicas.

A dita Lei de transplante, em seu art. 3º, inciso I, II, determina as

seguintes condições permissivas do uso de cadáveres:

a) Manifestação expressa do disponente;


89

b) Manifestação de vontade, mediante instrumento público, nos

casos de disponentes relativamente incapazes e de

analfabetos.

No que diz respeito aos absolutamente incapazes, como os

menores, eles não podem dispor de seus corpos, nem se lhes pode suprir

o consentimento mediante substituição da manifestação de tutores,

curadores e de seus pais.

Os terceiros e a disposição do cadáver

Quando o disponente não autorizou o aproveitamento do seu

corpo e de partes do mesmo, depois da morte, esta autorização pode ser

dada por escrito pelo cônjuge ou ainda sucessivamente por descendentes,

ascendentes ou colaterais, ou afinal pelas corporações religiosas ou civis

responsáveis pelo destino dos despojos, conforme o art. 3º inciso III, da lei

dos transplantes.

A lei veda a utilização comercial do cadáver ou de suas partes; só

pode ser feita para fins terapêuticos.

Faltando o consentimento dos responsáveis pelo cadáver, nos

casos determinados em lei, a retirada pode ser feita mediante autorizada

do diretor da instituição onde ocorreu o óbito (lei dos transplantes arts. 3º

e 4º).
90

18. Anexos

I. Não-doador vai ter RG diferente

O projeto de lei que torna todos os brasileiros doadores

potenciais de órgãos prevê que quem não quiser doar deverá deixar essa

vontade expressa na carteira de identidade ou na de motorista. O texto

deverá dizer: “Não- doador de órgãos e tecidos”.

Diz o texto do projeto que a retirada de órgãos só poderá ser feita

após confirmada a morte cerebral. Ele fixa pena de dois a oito anos de

prisão para transplantes irregulares e tráfico de órgãos.

O projeto é um substitutivo do senador Lúcio Alcântara (PSDB –

CE). Para elaborá-lo, Alcântara reuniu projetos dos senadores Darey

Ribeiro (PDT – RJ). Benedita da Silva (PT – RJ) e José Eduardo Dutra (PT –

SE).

Ele foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado

em 22 de junho. Agora, será examinado pelo plenário do Senado e depois

vai para a Câmara. Se for aprovado, ainda precisa ser sancionado pelo

Presidente Fernando Henrique Cardoso para virar lei.

Projeto semelhante aprovado pela Câmara Municipal de São

Paulo – que tornara doadoras todas às pessoas que morressem na cidade

– foi vetado pelo prefeito Paulo Maluf.


91

Pela lei federal em vigor, para uma pessoa doar seus órgãos,

ela precisa ter manifestado em vida essa intenção. Se não houver essa

manifestação é preciso autorização da família para a retirada.

Há 10 mil pessoas na fila para um transplante de rim em São

Paulo. A espera média é de cinco anos. A saída para os pacientes é a

hemodiálise. O tratamento, que faz a filtragem do sangue por um

aparelho, é desagradável.

A pessoa precisa ir ao hospital três vezes por semana. Cada

seção de hemodiálise dura 4 horas, em média.

Para transplante de córneas, a fila é de 5.000 pessoas e a espera

chega a um ano.

O “disque- saúde” (telefone 1520), da Secretaria da Saúde de

São Paulo, recebe inscrições de pessoas interessadas em doar seus

órgãos.
92

II. Vontade de doar órgãos cai com nova lei

A nova lei sobre doação de órgãos está atrapalhando mais do que

ajudando a causa. Pesquisa feita mostrou que caiu a intenção de ceder

órgãos e pior de permitir que órgãos de um familiar sejam retirados após

a morte dele.

Diminuiu para 63% o percentual dos que hoje cederiam seus

órgãos espontaneamente. Em 95, apuraram que 75% tinham vontade de

doar.

Agora, 54% disseram que autorizariam a retirada de órgãos de

um familiar – contra 69% registrados há dois anos e meio.

Pela nova legislação, todo brasileiro é considerado doador, a

menos que se tenha manifestado contra, fazendo documentos pessoais

com a inscrição “não- doador”.

Um levantamento indica que a lei criou um novo problema e não

resolveu aquele que pretendia combater.

Pela regra anterior, eram doadores os que tivessem manifestado

esse desejo em vida, mas as pessoas diziam não saber como fazer isso –

informação de 63% dos entrevistados em 95, quanto estava sendo

discutida a lei sobre o tema na Câmara de São Paulo.

A retirada de órgãos também podia ser autorizada pela família,

após a morte do paciente.

Hoje a lei permite a retirada compulsória. Só que, por questões

éticas, os médicos continuam pedindo o consentimento da família.

Em resumo: a nova lei trocou uma situação em que a dificuldade

de doar em vida era contornável pela autorização da família, por outra em

que a família continua tendo a palavra final, só que agora com maior

rejeição à doação.
93

A intenção de doar ou permitir a retirada de órgãos de uma

familiar voltou ao patamar apurado em pesquisa de 90. Porém, hoje há

maior rejeição, pois parte dos que antes não tinham opinião formada,

agora se declaram contra a doação.

Novo Documento

Embora não digam ser contrários à nova lei (só 24% são

totalmente contra a 13%, em parte), os entrevistados defendem o método

previsto na regra antiga.

A maioria relativa (41%) acredita que a doação deveria ser

autorizada pela pessoa em vida ou por seus familiares, após a morte. A

nova sistemática foi defendida por apenas 18% dos entrevistados.

A população tomou conhecimento da mudança legal na área

(70%), mas não pretende mudar sem documento para não ser doador

(64%). Apenas uma em cada cinco pessoas pretende fazer uma nova

identidade ou habilitação.

Os entrevistados aprovaram a postura dos médicos, de consultar

a família, mesmo que a lei não exija o consentimento dela (82%).


94

III. RG de não-doador começa a ser expedido

A partir de hoje, pessoas maiores de 21 anos que não quiserem

doar seu órgãos deverão fazer constar essa ressalva na Carteira de

Identidade e na Carteira Nacional de Habilitação. Quem já tem essas

carteiras, terá que solicitar segundas vias se não quiser ser doado.

Os documentos deverão trazer a expressão “não- doador de

órgãos e tecidos”, gravada de forma “indelével e inviolável”.

Os institutos de identificação de todo o país já estarão fazendo as

“gravações” nas carteiras de identidade a partir de hoje. Enquanto o

programa de computador dos institutos não for adaptados, a ressalva

será datilografada ou carimbada no lado direito do documento.

Os DETRANs – Departamentos de Trânsito dos Estados – estarão

acrescentado a expressão “não- doador” nas carteiras de habilitação a

partir de amanhã.

Dentro de 15 dias – quando entra em vigor a Lei 3.934, de 4 de

fevereiro passado –, quem não providenciar essa ressalva nos

documentos se transformará num doador de órgãos e tecidos.

Quem estiver tirando a primeira via desses documentos e não

quiser doar os órgãos, deverá pedir que a ressalva seja colocada na

carteira. Geraldo Almeida, delegado superior das unidades de

identificação do Estado, diz que o solicitante deverá informar sua

condição de não-doador no espaço do formulário reservado a anotações.

Com relação às carteiras de motoristas, aqueles que não

quiserem doar os órgãos deverão solicitar uma segunda via e encaminhar

uma declaração por escrito ao diretor do DETRAN.

No Estado de São Paulo, a portaria 424, assinada pelo diretor

Orlando Miranda Ferreira e que será publicada amanhã, estabelecer que a


95

declaração será juntada ao prontuário e a expressão “não- doador”

gravada no novo documento.

Uma segunda via da carteira de identidade pode demorar entre

15 e 30 dias. A segunda via da carteira de motorista pode ser obtida em

dois ou três dias.

A lei sancionada pelo Presidente da República estabelece

também que a vontade expressa nesses documentos pode ser mudada a

qualquer tempo, desde que a pessoa solicite uma nova via.

No caso de os documentos trazerem opções diferentes,

prevalecerá – em caso de morte –, aquele “cuja emissão for mais

recente”.

A 2ª VIA DO RG LEVA DE 15 A 30 DIAS PARA FICAR PRONTA;

A CARTEIRA DO MOTORISTA PODE SER OBTIDA EM 2 OU 3 DIAS.


96

IV. Para Igreja, projeto prevê expropriação

A Igreja Católica é contra o projeto de lei aprovado pela Comissão

de Assuntos Sociais do Senado que transforma todo brasileiro em doador

potencial de órgãos.

A opinião foi manifestada pelo padre Fernando Altemeyer Júnior,

38, vigário de comunicação da Arquidiocese de São Paulo.

“Toda a pessoa é corpo. Ela não apenas possui seu corpo, que é

uma parte essencial da liberdade humana. Vivo ou morto, o corpo merece

respeito”, diz.

O padre afirma que a Igreja reconhece os efeitos benéficos da

doação de órgãos. “Mas deve ser uma doação e não uma expropriação.

Se você não pode decidir o que fazer com seu órgãos, a doação vira

expropriação”, afirma.

Segundo Altemeyer, a lei é arbitrária por estabelecer “o reverso

do que deveria reger a doação de órgãos”. “Em vez de a pessoa dizer que

quer doar, ela precisa dizer que não quer doar”.

Evangélicos

A lei também não encontra apoio entre os evangélicos. “Somos

contra a obrigatoriedade”, diz o pastor Orlando Marinheiro dos Santos, da

Igreja Pentecostal Deus é o Amor, que tem cerca de 350 mil fiéis em todo

o Brasil.

A Deus é Amor desaconselha a doação de órgãos em geral. A

igreja só admite a doação de sangue. Mas, segundo Santos, não proíbe os

fiéis de doar órgãos.

“Deus deu a cada um de seus órgãos. Mesmo que alguém tenha

problemas em um rim, o Senhor pode dar a vida, ainda que a pessoa não

tenha o rim”.
97
Judaísmo

Representantes da região judaica se dizem receosos com a lei.

Segundo o rabino Yehuda Busquila, 65, da Congregação Israelita de São

Paulo. “O judaísmo não é contra a doação de órgãos”.

“Mas a doação deve ser feita sob regras muito claras para definir

bem quando uma pessoa pode ser considerada morta e evitar que a

extração dos órgãos venha a prejudicar o doador”, afirma.

Segundo ele, “existem casos de hipotermia em que a pessoa

pode deixar de viver por até 23 minutos a depois acordar”. Em caso

como esse, diz Busquila, a pessoa poderia ter seus órgãos extraídos sem

estar realmente morta.

“Quem vai decidir que o doador está morto? Um médico sem

capacidade pode atestar a morte de uma pessoa que realmente não

morreu. O coração pode ser retirado e a pessoa ainda estar viva”.


98

V. Faltam estruturas médica e hospitalar

Não faltam órgãos no país, falta estrutura médica e hospitalar

capaz de aproveitá-los. Só na cidade de São Paulo, ocorre cerca de 40

mortes violentas por dia.

Entre 10% e 15% destas vítimas são doadores em potencial. No

Brasil todo, são registradas cerca de 100 mil mortes violentas por ano.

São, teoricamente, 10 mil corações, fígados e rins disponíveis.

Os cálculos são do médico José Osmar Medina Pestana, do

Hospital São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Transplante

de Órgãos. A dificuldade – afirma – está na implantação e no

financiamento de uma estrutura capaz de aproveitar esses órgãos.

Segundo Medina, existem no Brasil 110 centros cadastrados para

transplante de rins. Se cada um fizesse 50 por ano, seriam 5.500

transplantes anuais. “Seria o bastante para atender aos doentes renais

crônicos que necessitam de transplante”, diz. “Mas o país só faz 1.600 por

ano”.

Na fila de espera da central de transplantes da Secretaria de

Estado da Saúde de São Paulo, 2.600 pacientes aguardam um rim. A lista

do coração e do fígado são menores, por uma razão dramática: os

candidatos morrem na fila.

Na fila da secretaria há 419 pacientes aguardando por um fígado

e 114 por um coração. Medina estima que mais de 80% dos que esperam

por esses órgãos acabam morrendo antes do transplante.

A complexibilidade e o alto custo dos procedimentos poderiam

justificar o pequeno número de transplantes de fígado e coração. Menos

de 10 centros no país têm condições de realizá-los.


99

Não é o que acontece com o rim, cujo transplante pode ser

feito por mais de 100 equipes. A explicação envolveria uma vontade

política, de fundo econômico. De acordo com entidades que reúnem os

renais crônicos, o custo de um ano de hemodiálise pagaria um

transplante. O paciente retomaria suas atividades ganharia sobrevida.

No entanto, há entre 25 mil e 30 mil pacientes sobrevivendo por

meio de diálises em todo o país. Medina estima que metade desses renais

crônicos poderia se beneficiar de um transplante.


100

VI. Homem pode receber rim de porco

O Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo em Ribeirão

Preto (HC – RP) vai sediar um congresso sobre transplante de órgãos em

setembro. O encontro vai reunir especialistas de vários países, onde o

sistema de lista única já foi organizado.

Entre os países participantes está a Espanha, onde a legislação

prevê até o bloqueio de estradas para o transporte de órgãos.

Médicos franceses também estão convidados para comparecer ao

evento. A França é outro país com tecnologia de transplante considerada

avançada.

O simpósio está previsto para acontecer nos dias 12 e 13 de

setembro.

Segundo Agenor Spalinni Ferraz, do HC – RP, o congresso vai

mostrar novas técnicas clínicas para a realização de transplante e

apresentar novas soluções para problemas nos transplantes fora das salas

de cirurgia. O transporte de órgãos está entre os principais.

O congresso vai mostrar os avanços obtidos com a técnica do

xenotransplantes, transplante de órgãos de animais para o homem.

“Nos Estados Unidos, já existem fazendas de porcos criados com

alterações genéticas para que seus rins possam ser usados em homens. O

porco é o animal com rim mais compatível ao ser humano”, diz Ferraz.

Segundo ele, esse tipo de transplante ainda não está autorizado

nem nos EUA, pioneiros na experiência, mas pode representar uma

solução para a escassez de órgãos.


101

Conclusão

A Lei nº 9.437, de 04 de fevereiro de 1997, dispondo sobre a

remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de

transplante e tratamento, assim como a lei anterior que dispunha sobre

este assunto e por estar revogada, surgiu com a benção do art.199, § 4º,

da Constituição Federal, com o intuito de resolver um grande problema no

âmbito da saúde nacional: a falta de órgãos disponíveis que poderiam

salvar muitas vidas.

A aludida legislação oferece uma séries de condições para que os

órgãos sejam retirados, porém outras medidas de segurança contra a

possibilidade de comercialização de órgãos devem ser tomadas.

Além de tudo parece que é uma lei completamente voltada a

realidades peculiares, pois todos sabemos os difíceis caminhos

percorridos pela tecnologia nos hospitais do Brasil, que na maioria das

vezes não possuem condições, em termos de aparelhos, necessárias a

realização de transplantes.

A falta de pessoal suficiente para formar os grupos médicos de

remoção de órgãos é outro problema a ser resolvido. Não é qualquer

médico que possui habilidade para realizar tal procedimento, fato que

ocasionará, com certeza, a falta de correspondência com relação a

demanda.

Podemos citar, no contexto das dificuldades, a cultura latino-

americana que é fortemente marcada pela influência da igreja. Parece

absurdo, para qualquer pessoa, que um cadáver passe pela remoção dos
102

órgãos ou partes do corpo sendo, logo em seguida recomposto e

devolvido à família para o sepultamento, pois certamente esta sentirá que

está sepultando em ente querido “condicionado”, tendo que passar por

cima de todas as tradições religiosas que acreditava serem corretas.

Essa idéia se torna menos absurda quando pensamos que a

doação objetiva mudar vidas e renovar esperanças. Entretanto, surgem

algumas dúvidas: Quem garante que meus órgãos não serão

comercializados ao invés de servirem a uma causa nobre? Quem garante

que um ente querido será realmente desconfigurado para ajudar a viver?

A Lei?

A lei existe para determinar o que deve ser feito e, justamente,

porque existe possibilidade de conduta social contrária ao que determina.

Só existe lei porque existe infração, assim como existe sombra há luz.

Não defendemos a anarquia, pelo contrário, as leis são

necessárias nesse assunto de transplante, mas leis que visem prevenir as

infrações da forma mais eficaz possível. A pena é apenas o combate à

conseqüência, sendo que a solução está em criar formas de prevenção a

essas infrações.

A publicidade também é um ponto muito bem abordado pela

referida lei.

A maior polêmica parece ser com relação ao controle

administrativo deste sistema pelo SUS, o qual não se tem certeza quanto

a eficiência de fiscalização do processo de doações. Quantos não poderão

ter seus órgãos retirados sem devida autorização? Será que os órgãos

responsáveis pela emissão de nova identificação terá condições de

realizar o recadastramento de todos os cidadãos, no prazo previsto na lei,

de forma correta informando corretamente seus funcionários e cidadãos


103

leigos quanto aos ditames da nova lei, ou apenas emitirão carteiras

com a expressão “doador de órgãos e tecidos”? O Estado tem o direito de

constranger alguém que seja contrário a lei e colocar a expressão “não

doador de órgãos”, caso seja essa a escolha?

Talvez a melhor solução seja trabalhar numa mudança na forma

de pensar da população, incentivando o espirito de solidariedade para

que todos saibam que podem salvar uma vida, mesmo após morrer. Isso

seria bem melhor do que substituir uma lei do “oito ou oitenta”. Todos

nós um dia, podemos precisar de um órgão que não vem, ou ter algum

familiar nessa condição terrível, em que a morte pode chegar a qualquer

momento. É isso que deve ser levado até à população e não imposto aos

cidadãos.

Se pudermos ajudar alguém a sobreviver após nossa morte,

assim como antes dela, é claro que assim o faremos, porém com

garantias para todos, doadores e receptores.


104

Bibliografia

1. ALMANAQUE ABRIL 98. Abril Multimídia. São Paulo, 1998.

2. INTERNET. :

Doação de Órgãos

Doação de Órgãos – Decreto 2.268

Órgãos e Tecidos para Transplante

Rotary Marília – Lei de Doação de Órgãos

Saúde e Vida On Line

Transplante Cardíaco Neonatal e Infantil

3. FOLHA DE SÃO PAULO

4. O ESTADO DE SÃO PAULO


105

Anexo

O que pode ser

doado:

Vous aimerez peut-être aussi