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A I&DT em 2020 e os Desafios para Portugal

Nesta apresentação vou começar por partilhar alguma informação sobre a evolução da I&D empresarial
e seus resultados. Os seus avanços são ainda pouco conhecidos, ofuscados por informações
desactualizadas e “ideias feitas”. De seguida irei propor alguns temas para reflexão tendo por referência
a data proposta do fim da década.

A I&D empresarial alcançou a maioria.

Vemos no gráfico acima como a despesa em I&D das empresas ultrapassou em 2008 a dos outros
sectores institucionais, culminando um processo de crescimento acelerado que se intensificou
particularmente a partir de 1995.

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Crescimento da I&D Empresarial: 1995-2008
Empresas com I&D 1995 2008 2008/95

Nº de empresas 240 2.313 10


Pessoal Investigação(ETI) 1.917 14.510 8
Despesa de I&D (M€) 96 1.295 13

Nº de trabalhadores 120.449 383.505 3


C/ Formação Superior 11.152 83.923 8
Pedidos de Patentes -via nac (a ) 147 666 5
Pedidos de Patentes -via Intern (a ) 26 272 10
Exportações Balança Tecnológica 164 1.290 8
Fonte: AdI, GPEARI, QPMT; (a)Patentes:Pordata, 1995-09;

No quadro junto sintetizamos a evolução no período de 1995 a 2008 de um conjunto de indicadores que
medem o crescimento do investimento na I&D empresarial, mas também dos seus resultados.

O número de empresas com actividades de I&D cresceu 10 vezes. O que equivale a um crescimento a
uma taxa média anual superior a 19% durante estes treze anos.

Por sua vez o investimento em I&D cresceu 13 vezes, desenvolvido por recursos humanos dedicados à
investigação, cujo número foi multiplicado por 8.

Mas também os indicadores que medem os resultados já cresceram a um ritmo muito significativo. Por
exemplo o número de patentes requeridas pelas vias internacionais cresceu 10 vezes, e as exportações
de serviços contabilizados na Balança Tecnológica viram o valor multiplicado por oito. O que possibilitou
que o emprego das empresas com I&D crescesse para o triplo do valor em 1995, em particular o dos
trabalhadores com formação superior que viram o emprego criado crescer oito vezes, empregando em
2008 quase quatrocentos mil licenciados e bacharéis.

Relevância da I&D Empresarial

Empresas Trabalhadores Vol Neg 2008 Export 2008

1000 Maiores 08 + PME Lider 08 6.179 789.810 180.114.808.508 34.485.647.647

% das Empresas com I&D 12% 36% 42% 52%


Fontes: Cálculos AdI. Amostra 1.000 maiores e PME Lider 08

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Como resultado deste boom da I&D empresarial, as empresas com actividades de I&D já assume uma
importância relevante no tecido empresarial. Considerando como referência um conjunto muito
significativo do nosso tecido empresarial, constituída por mais de 6.000 empresas, que integra as 1.000
maiores e as PME líder, responsáveis por mais de noventa por cento das nossas exportações,
constatamos que embora em número, as empresas com I&D sejam minoritárias (12%), assumem uma
importância significativa em termos de emprego (36%), volume de negócios (42%), ou mesmo já
maioritária em termos de exportação (com 52%). Sendo ainda de considerar, numa perspectiva de
mudança, que o papel das empresas com I&D é maior nos sectores de maior intensidade tecnológica.

As empresas com actividades de I&D cresceram muito e já assume uma importância relevante. Devemos
encarar estes números, não como sendo já o resultado directo deste esforço I&D, mas como um reforço
da nossa capacidade para responder a outros problemas e desafios.

Quando falamos dos factores de produção e de desenvolvimento esquecemo-nos frequentemente da


variável o tempo, de importância incontornável para construir uma economia assente no
“conhecimento” em que as variáveis são cumulativas e têm implícita uma função de rendimentos
crescentes, com o efeito aprendizagem.

Os fundos comunitários não permitiram comprar o “tempo passado” mas permitiram acelerar a
mudança.

Muitos dos nossos actuais problemas não decorrem tanto do que não fizemos, mas da rapidez com o
que fizemos comprimindo as mudanças, com tempos de maturação e retorno diferenciados.

Os resultados estão aí. Com mais ou menos ajustamentos podemos tirar partido deles para responder a
novos desafios, ou sermos mais exigentes com antigos desafios.

1º - Articular o combate à crise com a prossecução dos objectivos estratégicos

Neste período de crise, o nosso espaço de manobra futura joga-se na nossa capacidade de a vencer,
articulando as políticas com objectivos imediatos de combate à crise, com a da prossecução dos
objectivos estruturais de continuação da aposta na formação e na capacidade C&T nacional. Trinta anos
atrás, o pacote do FMI de medidas para debelar a crise de então, acabou por ter efeitos negativos na
perspectiva da mudança estrutural, nomeadamente decorrentes da desvalorização. Trinta anos volvidos
o País está mais bem preparado para responder à crise acelerando a mudança estrutural. Não se trata só
de manter o esforço de investimento com objectivos de longo prazo, mas de tomar medidas que tirem
partido da capacidade tecnológica já existente para ajudar a superar a crise, criando simultaneamente
oportunidades de mercado para resultados da inovação tecnológica que estão a chegar ao mercado.

Há muitos produtos inovadores novos, que tendo ultrapassado com sucesso o risco tecnológico têm
ainda pela frente o risco de mercado, nomeadamente os mais inovadores que se dirigem para mercados
novos. Ajudar a aceleração nesta fase é fundamental para viabilizar uma nova geração de produtos
inovadores na exportação. Muitos destes produtos e serviços inovadores podem ter um papel em
iniciativas especificas para superar a crise. Três exemplos:

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Há unanimidade na sociedade portuguesa sobre a necessidade de viabilizar os investimentos na
recuperação de edifícios, havendo também consenso sobre o seu impacto directo e indirecto na
criação de emprego. Foram entretanto desenvolvidos novos materiais de construção, que
melhorarão o isolamento das casas, e novos matérias de revestimento que permitem
simultaneamente a captação de energias renováveis. Estão também disponíveis novos sistemas
para as redes eléctricas, de domótica, etc. Se os investimentos na recuperação urbana utilizarem
estes resultados da inovação, ajudarão a acelerar a sua chegada ao mercado nacional e
internacional.
De modo semelhante, em muitos casos a melhoria dos equipamentos e infra-estruturas podem
ser conseguidas sem necessidade de investimentos novos, de raiz. São os chamados
investimentos de “retrofitting”, por exemplo nas redes de energia eléctrica, ou nas frotas de
veículos, convertendo-os para energias mais baratas e menos poluentes, como sejam a gás ou a
electricidade, o que tem ainda a vantagem de reduzir as importações, diminuindo o
endividamento internacional.
Por outro lado é preciso racionalizar as despesas públicas de modo a diminuir o deficit do
Estado. Há uma nova tendência nos projectos para que serviços “de proximidade”, não
transaccionáveis, se transformem em actividades intensivas em conhecimento, passíveis de
exportação. Os sistemas que permitem melhorar o diagnóstico, antecipando-o, de doenças com
custos significativos, podem diminuir a despesa pública com os subsídios futuros nos remédios,
ao mesmo tempo que permite melhorar a prestação dos serviços de saúde à população, e vir a
dar origem a novos produtos competitivos nas exportações. O mesmo se passa em relação à
possibilidade de monitorização dos doentes com sistemas que permitem que possam ser
acompanhados em casa, ou o uso de kits para diagnósticos especializados na altura das
consultas.

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2º - Absorver o dualismo que divide a sociedade e a economia portuguesas

Uma das consequências “laterais, da forma acelerada e concentrada na população em idade escolar,
com que se procurou recuperar o atraso secular da formação dos portugueses, foi o de acentuar o
dualismo na sociedade e na economia portuguesa.

Ressalta do quadro que embora o grau de formação da população portuguesa ainda continue a ser
inferior à da média dos países da OCDE, essa diferença já é muito menor na população mais jovem do
que nos escalões etários mais velhos.

Esta diferença na formação entre gerações tem mesmo vindo a aumentar quer se trate de trabalhadores
em geral quer dos “empregadores”.

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Este dualismo na formação dos próprios “empregadores” acaba por ter um efeito induzido, pelas
práticas diferenciadas de contratação, limitando o potencial de melhoria da competitividade das
empresas, e o alcance das políticas públicas numa grande parte do tecido empresarial nacional.

Como ressalta do quadro, as camadas da população com menor grau de formação têm mais
dificuldades, por exemplo, no acesso às actividades de formação profissional ou na utilização da
internet, que seriam duas das vias para atenuar as deficiências de partida na formação.

As empresas do país “mais antigo” afectam a competitividade da economia não só porque a sua
produtividade é inferior, mas porque essa diferença não está a diminuir, porque como se constata no
quadro abaixo, a diferença das produtividades é ainda maior nas empresas de criação mais recente.

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Os casos de sucesso do país mais moderno, não são assim massificáveis por imitação das empresas mais
bem sucedidas. No entanto, as empresas mais avançadas podem ajudar a superar este fosso, utilizando
as tecnologias mais avançadas para desenvolver novas soluções para esses sectores. Estão em curso
desenvolvimentos que vão nesse sentido, por exemplo para a pastorícia ou a fruticultura. Mas já no
passado recente esta abordagem ajudou ao sucesso de sectores tão tradicionais e pulverizados como o
sector leiteiro e o calçado.

Este tipo de abordagem destes problemas acabará por ser útil na exportação para economias
emergentes, em geral atravessadas também por fenómenos de dualismo, em geral mais graves do que o
nosso.

3º - Acelerar a mudança do modelo de competitividade

O aumento da I&D empresarial vai permitir mudar a tónica da estratégia de competitividade, que tem
estado muito centrada na redução de custos, no quadro de um posicionamento de mercado em
relações de subcontratação. A política seguida foi muito polarizada pela tentativa de up-grading deste
mesmo modelo, mas passando dos sectores “low tech”, para os sectores de média e mesmo alta
intensidade tecnológica. Mas este modelo já mostrou uma enorme vulnerabilidade no quadro da
globalização. O aumento da capacidade C&T torna mais viáveis estratégias de aumento de
produtividade mais centradas no aumento do Valor. O perfil de formação avançada dos nossos
recursos humanos não tem concentração que permita tirar partido de economias de escala /
especialização, mas tem a variedade da pluridisciplinaridade que pode ser potenciada pelo
desenvolvimento de novas soluções sobre a forma de novos produtos, serviços ou mesmo sistemas, que
pode suportar modelos produtivos de integração para segmentos de mercado. A globalização trouxe
aumento da concorrência, mas também se fez com a emergência de novos actores, possibilitando outras
alianças, comerciais e tecnológicas. O que remete para um desafio central desta década.

4º - Reposicionamento estratégico da economia portuguesa

O desafio central da próxima década vai ser o do alargamento do seu “espaço de manobra” com o
reposicionamento estratégico da economia portuguesa. É preciso inserir a economia portuguesa nas
correntes mais dinâmicas da economia mundial. Nas últimas décadas não fomos capazes de
reposicionar a nossa economia face às grandes mudanças geo-estratégicas que o mundo atravessou. É
verdade que o nosso perfil de especialização não era favorável para aproveitar as mudanças no
enquadramento externo. Tentámos ajustar-nos ao aumento da concorrência mas não fomos capazes de
tirar partido das procuras emergentes.

O ajustamento do aparelho produtivo e o desenvolvimento da capacidade C&T entretanto acumulada,


permite-nos encarar com maior capacidade, 20 anos depois da reunificação alemã, as oportunidades de
reposicionamento estratégico que entretanto se perfilam. O alargamento do Canal do Panamá
permitindo, a partir de 2014, a passagem dos grandes navios porta contentores, é favorável ao Porto de
Sines, reforçando por articulação, a competitividade de outros portos nacionais, nomeadamente na
relação com a Europa de portos do extremo Oriente e da costa oeste americana. A melhoria da nossa

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competitividade nos transportes e logística internacional, criará decerto melhores condições para tornar
o território nacional mais competitivo para a atracção de alguns tipos de investimento industrial.

O desenvolvimento da capacidade C&T empresarial veio criar condições para um reposicionamento da


oferta portuguesa em sectores com maior valor acrescentado, maior dinamismo da procura, não só
capazes de suportar a concorrência das economias emergentes como de abrir caminho para esses
mercados mais dinâmicos. O facto de a maioria do esforço de I&D empresarial ser protagonizado por
empresas dos sectores de “meios de produção” é um aspecto favorável para abordar esses mercados,
comparativamente com os bens de consumo de massas. Essas economias emergentes querem
desenvolver as suas próprias indústrias, e têm argumentos para isso, nomeadamente os que advêm da
dimensão dos seus mercados, o que é importante para indústrias de escala. Para isso vão precisar de
tecnologia e “meios de produção” para o que não estarão tão bem preparados em termos relativos,
nomeadamente por as vantagens da escala já não serem tão relevantes.

5º - Balanço dos resultados para melhorar as políticas

Vimos que a I&D empresarial alcançou a maioria. Para consolidar e continuar a reforçar o seu papel é
preciso que atinja a “maioridade” em termos institucionais e de instrumentos e meios de política.

Alcançámos um novo patamar. É preciso fazer o balanço do caminho percorrido para repensar os
instrumentos de política adequados aos novos desafios.

É preciso introduzir mais clareza e rigor no balanço dos resultados das políticas, ultrapassando as
análises “redondas”, em que todos os objectivos foram mais ou menos atingidos, e que tudo teve
aspectos negativos e positivos, diferenciando o que correu bem do que correu mal, e nestes o que
correu mal mas é corrigível, do já é irreversível. Passados quatro QCA os resultados já devem fazer
diferença.

No balanço dos próprios projectos de I&D há que substituir a avaliação burocrática da despesa, com o
falso rigor do controlo ao cêntimo, pela cultura da avaliação dos resultados e com prémio ao sucesso.
Avaliação dos resultados face aos objectivos e não obviamente avaliação “ex-post” dos pressupostos das
candidaturas.

A necessária avaliação das medidas, dos instrumentos e das instituições, deve também ser feita
centrada no seu contributo para esses resultados efectivos. Só melhorando os instrumentos poderemos
prosseguir objectivos mais ambiciosos. O que é particularmente crítico nesta conjuntura de crise em que
a economia tem de se fazer valer do melhor que tenha para oferecer.

Lino Fernandes

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